Glauco Mattoso BOOTLICKER
São Paulo
Bootlicker © Glauco Mattoso, 2025
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
Fotografia: Claudio Cammarota
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
BOOTLICKER / Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2025
164 p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
Que tenho obra podolatra abundante bem sabem meus leitores. Mas me pedem alguma anthologia abbreviada de themas especificos: as botas lambiveis, por exemplo. Organizei, por isso, um voluminho de poemas diversos, não appenas de sonnettos. Espero que elle instigue, sinão uma sessão masturbatoria, ao menos uma leitura posterior, mais abbrangente, da minha vasta lyra, que não só se liga a taes fetiches, mas abborda assumptos os mais varios, com enfoque nos typos que, inferiores e explorados, são victimas, nem sempre voluntarias, do sadomasochismo omnipresente no campo social, sinão mental.
DISSONNETTO SOLADO [0015]
A sola da botina do bandido é o typo do logar mais baixo e sujo. Alli nem mesmo a lingua dum sabujo acceita o desprazer de haver lambido.
O couro ja gastou, de tão battido, e um furo areja o pé do dicto cujo. Mas desse panorama é que eu não fujo, pois faço jus à fama de fodido.
Occorre que estou cego e callejado de tanta humilhação no dia-a-dia, que bem acceitaria a putaria maior, a qual jamais tem me ennojado.
Um gajo desses bem que poderia gozar da minha cara de coitado: não só na minha bocca ter mijado como pisar na lingua que o lambia.
DISSONNETTO FUTURISTA [0023]
George Orwell diz que imagem do futuro é bota numa face, eternamente, e a nitida afflicção que a gente sente é de vivermos ja num tempo escuro.
O Burgess, egualmente, foi bem duro quando pegou seu joven delinquente e o converteu num ser subserviente que só lambia sola, robô puro.
O Glauco aqui, que vive do passado, saudoso duma phase de oppressão, lembrando de seu timido tesão de ser pelos moleques abusado…
É o mesmo Glauco agora, e lambe o chão pisado pelo mesmo typo sado que sempre tem seus sonhos visitado, Só que antes enxergou, e agora não.
DISSONNETTO ROCKEIRO [0059]
O rock’n’roll podolatra excancara! Um classico é, no genero, exemplar, dizendo “Você pode me jogar no chão e pisar bem na minha cara”.
Num outro, a vocalista ja declara que as botas foram feitas para andar e qualquer dia desses vão passar por cyma de você todinho, cara!
Agora que estou cego, só me occupo curtindo som em meio a muita bronha, mellando o meu lençol, babando a fronha, sonhando ser o roadie de algum gruppo.
Prefiro um gruppo punk, um que me ponha, ouvindo sua vaia, seu apupo, debaixo do cothurno, emquanto chupo na sola seus excarros de maconha.
DISSONNETTO EMPOEIRADO [1067]
O auctor de “Papillon” falla a verdade, pois narra o que a si proprio accontesceu: appós ser preso, em solo ‘inda europeu, contesta a lei que impera attraz da grade.
De prompto o carcereiro o dissuade dizendo: “Quem aqui manda sou eu! Você vae apprender! Quero que o meu cothurno limpe e faça o que me aggrade!”
Agentes de prisão são como um bando de sadicos, sem pena dum culpado: Obrigam-no, algemado, a, rastejando, lamber, por cyma, um couro ja enrugado.
E, em baixo, uma borracha. No commando, o guarda se diverte e dá o recado: “Peor p’ra sua lingua vae ser quando, na America, houver lama em meu solado!”
SONNETTOS DO PERVERSO SEM REMORSO (7/8) [1127/1128]
(7)
Mudou-se, tambem. Fico sem a escrava. Fazer o que? Descompto e vandalizo o muro, o elevador… “Não tem juizo? Moleque semvergonha!” A bronca é brava.
Quem falla é o zelador, mas eu estava na minha: {Cala a bocca! Só lhe adviso que aqui sou seu patrão! Ainda piso na sua bocca!} E foi mandado à fava.
Joguei na sua cara o que eu sabia de podre a seu respeito. Elle se dobra: “Você ganhou! Você manda, chefia!”
E teve que provar: se fez de cobra e fiz que rastejasse. A serventia da lingua é minha bota: mãos à obra!
(8)
Primeiro, elle hesitou: “Não! Isso não! Não lambo essa botina! Tenha dó!” {Não lambe? É bom lamber, ou vae ver só! Si o syndico souber, é demissão!}
Só falta elle chorar! Meus pés estão bem perto do seu rosto. Vendo o pó do couro, elle recua. {Vae, bocó! Engraxa a bota! E sirva de licção!}
Emfim a lingua sordida se espicha e molha a superficie do calçado. Poeira grossa adhere àquella lixa.
De nada addeantou ter se humilhado, pois foi mandado embora: sua ficha sujou, mas nada sobra pro meu lado.
DISSONNETTO DA LICÇÃO DE CASA [1138]
É sempre assim: o cego só sossega depois que cumpre aquillo que eu lhe disse: {Emquanto eu não voltar, não desperdice o tempo: use bem essa lingua cega!}
{Engraxe a minha bota!} Elle se nega, de inicio; logo appós, como si ouvisse a voz do Alem, percebe que é tolice descrer que um cego é bicho e, então, se entrega.
Assim que eu saio, toma-se de insano impulso de fazer tudo que eu queira. Fareja a bota, a encontra. Cheira o cano por dentro. Beija o couro da biqueira.
O labio sente o pó do meio urbano. A lingua vae e vem nessa poeira até que limpe tudo e, antes que o “mano” regresse, ja lambeu a bota inteira!
DISSONNETTO DA BOTA BATTIDA [1142]
Usei, por algum tempo, uma botina com sola de “peneu”, que dava um cheiro damnado nos meus pés. O dia inteiro na rua andei calçado, era a roptina.
De volta, pego o cego que, na exquina, pediu esmolla, e embolso-lhe o dinheiro. Chegando em casa, mando que, primeiro, descalce-me. O restante elle imagina.
Relucta, mas eu cuspo-lhe na cara, na bocca, e meu excarro o persuade: engole o desafforo e se prepara. Tirada a bota, ponho-me à vontade:
Sandalias hawaiianas, que eu deixara jogadas, são mais trampo que o degrade. Terá que, tambem ellas, lamber para que percam, quasi nada, a sujidade.
DISSONNETTO DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO [1204]
O couro preto enruga-se e, dos pós que a bota ja batteu, ainda resta um pouco accumulado em cada fresta da sola, gasta e grossa como noz.
Biqueira arredondada e varios nós aptados no cadarço dão a esta especie de cothurno um ar de festa de gala, ornando ilhoz appós ilhoz.
Não é, porem, um reco quem a calça, aquelle que marchou como “ordinario”, e sim um punk, o symbolo contrario do orgulho militar. A gala é falsa.
Não marcha: pulla e chuta. De operario é a perna que elle, irado, aos ares alça; é o pé, chato e calloso, que uma valsa jamais dansou. Seu cheiro é meu themario.
DISSONNETTO DA LINGUA VENENOSA [1321]
A lingua, ao se dobrar, mostra ser grossa, rachada, callejada na aspereza. Pudera! Pouco menos indefesa está sob o solado e sob a troça!
Saliva, que ja chega a formar poça, excorre das ranhuras. Sem surpresa, quem lambe acha migalhas que da mesa cahiram e adheriram, nas quaes roça.
Alem dos farellinhos, na borracha ja gasta da botina a lingua suja exfrega-se, vasculha os vãos, babuja, particulas communs nos pisos acha:
Poeira, cuspe, bosta e, de lambuja, aquillo que achará quem se capacha: o sangue de outra lingua, menos macha que a minha, esta que a todas sobrepuja!
DISSONNETTO DA BOTA QUE NÃO DESBOTA [1416]
Emquanto o dum soldado é de cor preta, do dum paraquedista, que em nó cego passou todo o cadarço, e na sargeta evita se sujar, eu me encarrego.
Marron, este cothurno na punheta sonhei que lamberia, isso não nego. Porem nunca suppuz que alguem remetta, no bojo duma caixa, o tal burzego.
Só quando esse pacote desembrulho (e mão não ha mais soffrega que a minha), appalpo o couro gasto. Ah, quanto orgulho calculo que seu dono delle tinha!
Da sola, ‘inda o relevo sulcos guarda, aos quaes meu cego dedo se encaminha. Suppondo que era verde aquella farda, na bota passo a lingua vermelhinha.
DISSONNETTO DA TORTURA BASEADA [1536]
Na base de Guantánamo, segundo aquelles que la passam temporada, isola-se do resto deste mundo a victima, suspeita ou accusada.
Si adepta é do terror, não me approfundo no caso, mas, ainda que culpada, será que com tortura o mais immundo dos crimes é punido, e a voz calada?
Duvido: só nos contam que, la dentro, ao som de chibatadas e correntes, o preso appanha e arrasta-se no centro da roda de soldados sorridentes.
Recebe ponctapés e lambe botas dos guardas, dos curiosos, dos agentes, até que falle e entregue uns idiotas, ou morra, sem a lingua e sem os dentes.
DISSONNETTO DA TORTURA FUNDAMENTADA [1537]
No Irak, a de Abu Ghraib a fama ganha de ser prisão-modello da tortura mais sadica e pornô! Ninguem se accanha de nos contar o que é que se procura:
Appenas humilhar! Não foi extranha, portanto, aquella scena que ja dura um tempo na internet e que tamanha offensa provocou numa cultura:
Sabendo que no Islam jamais a sola se lambe, beija ou toca, tem quem ache aquillo divertido. Quem controla os carceres questão faz dessa praxe:
De cada mussulmano o americano faz graça até que disso o bicco rache e exige, mais que o bicco, mais que o cano, que passe no solado a lingua e engraxe.
DISSONNETTO DO OBVIO PROGNOSTICO [1705]
“Si queres uma imagem do futuro, é um cothurno pisando um rosto humano…”, diz Orwell pela bocca do mais duro carrasco, que a seu preso inflige o damno.
Si Winston entendeu, um tanto obscuro paresce, mas o poncto orwelliano mais nitido reside neste puro conceito, que o carrasco impõe, uffano:
“Um mundo de pisar ou ser pisado…”, sem chances, antagonico, binario. Assim será o futuro baseado em odio e humilhação! Que a gente encare-o!
Não faz o auctor nenhuma prophecia. De facto o vejo, caso aqui compare-o, parelho: ja o passado offerescia exemplos do poder totalitario.
DISSONNETTO PARA ALEX [1770]
Aquelle Alexandrinho teve seu momento mais famoso emquanto estava num palco: do espectaculo o apogeu é quando o filme em close a scena grava.
A fim de demonstrar que se rendeu e deve obedescer, o joven lava, usando sua lingua, o que um plebeu nojento e sem escrupulos mandava:
“Tá vendo essa botina? Limpe a sola!” No livro o tal solado oppressor fede e sobre sua bocca a bota colla, depois que, ja prostrado, o joven cede.
Em jubilo, a platéa delle ri, pois rir dum desgraçado nada impede, emquanto Anthony Burgess faz alli que um ser humano o automato arremede.
DISSONNETTO PARA UMA SECRETA RECIPROCIDADE [1881]
Podolatra em segredo, elle recebe um gajo do trabalho no seu lar. Disfarsa a excitação quando percebe que o gajo tira os tennis ao sentar.
Conversa vae, conversa vem, se bebe cerveja: o gajo logo quer mijar e vae até o banheiro. Elle concebe, então, o que fazer naquelle par.
Os tennis cheira e lambe, ecstasiado, curtindo o chulezão, feliz da vida, emquanto, no banheiro, por seu lado, o gajo olha a botina alli exquescida.
Ironico! Esse gajo tambem é podolatra em segredo: convalida o mythico fetiche e deixa um pé de bota até molhado na lambida…
DISSONNETTO PARA UMA COMPRADORA COMPROMETTEDORA [2094]
Numa sapataria, a mulher chega para experimentar lustroso par de botas ponctudissimas. “Que nega gostosa!”, quem a attende está a pensar.
Notou o funccionario que era grega a forma, do dedão ao calcanhar, do pé da mulatona… a qual foi pega por elle a lhe lançar extranho olhar.
Suando frio, o gajo pasmo fica. Podolatra, o coitado reconhesce na moça aquella mestra… Não se exquesce das botas que lambeu num certo clube.
Emquanto pulsar sente sua picca, nervoso, experimenta-lhe o calçado. De subito, nos labios empurrado por ella, vê que ha sola que o derrube.
DISSONNETTO PARA UMA ENCOMMENDA RECEBIDA [2149]
Chegou hoje uma caixa, que o correio tardou para entregar e, quando enfurno la dentro as mãos curiosas, o que veiu percebo ser velhissimo cothurno.
Mattheus é o remettente. Foi recheio daquelle burzegão o pé soturno que leguas caminhou: imaginei-o bem punk, a andar num calçadão nocturno.
Ja foi novinha. Muito tempo rolla. Agora a bota está toda fodida. Por isso mesmo a beijo: e ella convida que eu lamba e que remova o pó da sola.
Nas lidas da lambida sou de eschola. Me ponho, sem demora, a fazer isso, mas eis que, interrompendo-me o serviço, o labio dóe, a lingua se me exfolla.
DISSONNETTO PARA O GRUPPO GRIEVANCE COMMITTEE [2181]
A banda americana era incorrecta. Em seu vinyl, cruel prazer denota naquella canção-titulo que affecta a todos que escutaram: “Lamba a bota!”
A turma chuta um cara e lhe decreta que, sendo indesejavel, pague a quota fatal de humilhação: elle projecta a lingua para fora e ouve a chacota!
Seria aquelle disco o meu chodó. Na cappa, a photo em close: a lingua rubra trabalha sob a sola, até que cubra seus sulcos com saliva e limpe o pó.
Me vejo performando o tal totó. Paresce dirigida, a lettra abjecta, a algum pornô podolatra: o poeta, na certa o mais pisado, alli, sem dó.
DISSONNETTO PARA UM PISANTE ANTIDERRAPANTE [2374]
Eu, mesmo cego, e sem usar a mão, capaz sou de dizer qual, no solado da bota que me pisa, é o ja surrado desenho do relevo, que orna o chão.
A lingua é minha esponja, e meu sabão a baba. Emquanto lavo o pó grudado nos vãos e nas ranhuras, o traçado percorro na borracha, como um cão.
A bota é militar, de treinamento na selva ou area bem irregular: dentado, seu contorno medir tento. Terei que trabalhar bem devagar.
Pisou, talvez, terreno lamacento. Do centro se irradiam, para dar um ar brutal, os sulcos que vou, lento, lambendo, da biqueira ao calcanhar.
DISSONNETTO PARA UM IDOLO DA JUVENTUDE [2638]
Ninguem é mais cacique nessa aldeia! Bom mesmo é o Eduardo, esse Araujo que usava o cabellão na testa e cujo carrão era vermelho, elle allardeia.
Botinha, que um playboy usa sem meia, o Edu tambem a tinha: fica sujo o couro de poeira, si um sabujo qualquer não o lamber, quando passeia.
Da festa o dono sempre se penteia sem uso dum espelho, e faz successo. Egual peguei um gajo em minha teia e cujo pé tão grande é, que nem meço.
Si a seu chulé não faço cara feia, quer elle impressionar e, quando peço que tire a bota, o cheiro me tonteia. Fanatico por elle me confesso.
DISSONNETTO PARA UMA BOTA NA BOCCA [2639]
Garota “pappo firme” foi aquella que tudo elogiava no Roberto. O que o playboy usasse, estava certo: cabellos longos, terno sem lapella.
Porem, para a Candinha, é mattuschella o joven que se mostra tão aberto às modas mais malucas. Eu ja allerto que estava a fofoqueira dando trella.
Achava que era a bota “extravagante”, mas tinha, na verdade, algum fetiche secreto por tal typo de pisante, embora quem o calce não capriche.
Que botas o playboy use, que encante e, mesmo que com isso o Rei se lixe, insiste a fetichista… Mas, durante a noite, a bota impede que ella a piche.
DISSONNETTO SOBRE UM METALLEIRO MOTOQUEIRO [2816]
Tambem de sapatão fiz collecção, tal qual a Ritta Lee, mas só pisante usado por quem batta o pé bastante no baile funk ou neste, de rockão.
Aqui vou reparando que quem não calçou o maior numero garante calçar quarenta e quattro e que, durante a dansa, em quem se accerca dá pisão.
Então vou me chegando e ja me deixo chutar, levar uns coices com o salto e, quando caio ao chão, um pé no queixo, alem da bocca, sempre isso resalto.
Detalhes mais podolatras enfeixo depois, propondo ao gajo: si mais alto não for o preço, eu compro, e nem me queixo, a bota que elle ralla pelo asphalto.
DISSONNETTO SOBRE UM MARTELLO BATTIDO [2987]
Na hora do leilão, o leiloeiro loteia tudo quanto está no prego: “Mulata, violão, samba… Eu entrego trez terços do thesouro brazileiro!”
Seguindo seu exemplo, eu, por dinheiro, penhoro aqui a fortuna que carrego. Do cofre dum podolatra que é cego, trez peças todo mundo quer primeiro:
A bota dum soldado que ‘inda serve nas forças do sertão e do cerrado. Nem dou mais pormenor: só pelo estado da sola, se vê como o pé lhe ferve!
A meia do soldado, sujo o lado de fora e ‘inda, por dentro (Que conserve o cheiro, bom seria!), alguem observe, suada! E o proprio pé, tambem suado!
A CASA DO CARALHO [3235]
Distante, esse logar que quero achar! Por que será que o Judas perdeu la as botas? Antes: onde ficará? Será qu’inda acharei esse logar?
Ser clara a gente deve. Então, realço questões não respondidas: quem seria o Judas, neste caso? Elle descalço ficou, a procurar onde as enfia?
Quem sabe eu as encontro, ou si fui eu aquelle que as roubou? E como são taes botas? De ammarrar ou sem chordão? Serão das de playboy ou de plebeu?
Farejo-as quando ao ar o nariz alço. Surradas, como estão, no dia-a-dia, apposto (e o raciocinio não é falso) que devam ter chulé… Ninguem sentia?
Ao menos quero um pé, si não o par. Não sendo pessimista, ainda dá p’ra achal-as, elle incluso, aonde eu va, pois delle sempre estou no calcanhar.
DELICADO MIMO [3441]
De presente uma botina eu ganhei, pelo correio, mas você não imagina como aquella peça veiu.
Bem battida, quem defina que cor tinha não ha, creio. Sua sola, nada fina, um buraco tem no meio.
Mal eu abro e appalpo a caixa, minha cara ja se abbaixa, e da bocca a lingua salta, no fetiche que se exalta.
Tem poeira o cano, o bicco, mas, tristonho, eu verifico que o chulé, por dentro, falta, dum leitor que foi peralta.
INDELICADO CALÇADO [3724]
Quem levar um ponctapé, que na bocca accerte, não chegaria a dizer “é meu prazer e meu tesão”.
Mais gostoso é o cafuné, a massagem, ou então ir battendo bronha até exporrar na propria mão!
Mas, querendo ou não, aquella bocca, agora até banguela, sem que berre nem discuta, beija a bota de quem chuta!
E o mais leve e fino traço physiognomico abre espaço, sem protesto nem disputa, ao poder da força bruta!
UNCOMMON PEOPLE [4013]
Pensei aqui commigo: si a Rainha me visse agora, assim, eu, com a mão, comendo e lambuzando-me, o que não diria aquella dama tão mesquinha?
“No manners! Common people! No class!” Minha imagem estaria la no chão!
Não fosse eu um daquelles que não dão a minima si alguem nos expezinha!
Até pelo contrario: si, alem della, o Principe tambem me expezinhar, usando de cothurnos bello par, ahi, sim, que meu nivel se revela!
Nem uso as mãos: me ponho a abboccanhar, na poncta, as suas botas, e lh’as mella, com toda aquella baba, a lambidella da minha lingua, até no calcanhar!
INFECTO AFFECTO
(1)
(1/10) [4471/4480]
Um distincto cavalheiro cujo nome foi Oscar tem teor do qual me inteiro neste affan particular:
Theatrologo maneiro, conseguiu elle aggradar o burguez mais costumeiro e o povinho mais vulgar.
Para gregos e troianos elle tinha sempre planos que rendiam mais successo.
Frequentando as altas rodas, e trajando novas modas teve um poncto em que me meço.
(2)
Pormenor interessante foi de Oscar o seu tesão por um pé, por um pisante masculino, eis a questão.
Que um famoso auctor se encante por sapato ou pé ja não causa expanto, porem ante sujas botas, virou cão:
Deleitava-se ao lambel-as, dar-lhes brilho: via estrellas, lingua ardendo, mas gozava!
Procurava, então, rapazes operarios que, qual nazis, querem forra em lingua escrava.
(3)
Aos mais sordidos peões dava Oscar bom pagamento e, ao babar em seus pezões botinudos, foi sedento.
Entendendo-lhe as razões, eu mal delle não commento. Outras foram as questões pertinentes que eu lamento:
Quiz Oscar manter sigillo, pois achava que attingil-o a má fama poderia.
E lustrou cada botina poeirenta na surdina. Foi assim, até que, um dia…
(4)
Sem escrupulos achou nosso Oscar um, certa vez. Encontrou-o appós um show, na sahida, e offerta fez:
“Quer que eu limpe a bota? Dou boa grana! Sou freguez bom de lingua! Que tal? Vou lhe pagar por todo um mez!”
Viu a chance o tal rapaz de tirar proveito e más intenções foi planejando.
Para Alfredo, não bastava desfructar de bocca escrava nem ter breve voz de mando.
(5)
Pretendia ter Alfredo mais polpudo resultado. Foi lambido, mas, sem medo, quiz Oscar chantageado:
{Ou me paga, ou este dedo eu apponcto pro teu lado!}
Diz Oscar: “Não! Eu não cedo! Caia fora, seu folgado!”
Alfredinho, que não era de blefar, chance tivera de roubar-lhe uns documentos.
Eram provas de sujeira bem maior do que a poeira de sapatos poeirentos.
(6)
Feito o escandalo, eis Oscar diffamado e, na justiça, encrencado: vae parar na cadeia e o caso enguiça.
A prisão disciplinar não permitte que preguiça ninguem tenha. Trabalhar deve o preso, e o guarda attiça:
{Mais depressa! Vamos, metta mãos à obra! A piccareta tá pesada? Azar o seu!}
Soffre Oscar, que sempre fora delicado: em que oppressora carceragem se metteu!
(7)
Num paiz que a gente queira “de direito”, um prisioneiro nunca enfrenta uma pedreira muito tempo e o tempo inteiro.
Sahirá, dessa maneira, livre Oscar? Porem, primeiro, vae lamber, tambem, poeira no que calça um carcereiro.
O engraçado é que o rapaz reconhesce Oscar e faz mais questão de expezinhal-o:
{Vae, veado! Limpa a minha bota! Vamos! Engattinha! Tá lembrado do meu callo?}
(8)
Oscar olha e reconhesce o rapaz, cujo descalço pé lambera! Ah, si tivesse evitado um passo em falso!
Tem agora (e nem a prece vae salval-o) que no encalço ir da bota. A lingua cresce bocca affora e leva o calço:
É pisada sob a sola grossa, asperrima, que exfolla e provoca sangramento.
Lambe Oscar o que no chão se accumula: a podridão do solado mais nojento.
(9)
Muita coisa contamina no chão sujo, o que se gruda numa sola de botina e a sciencia nem estuda.
E, em prisão de disciplina, nem ha medico que accuda, nem antidoto ou vaccina contra febre assim aguda.
Logo, Oscar arde e definha numa cella, e se adivinha que final isto terá.
Ninguem nada diagnostica e mais outro preso estica as cannellas, claro está! (10)
Oscar teve merescido fim, allega a lingua má do povão, mas eu duvido que tal caso findo é ja.
De outros homens a libido mais bizarra accabará por fazer dum encardido bute ou tennis bafafá.
Minha lingua se resente das lambidas que, imprudente, ando dando em sola suja…
Mas não ponho, não, de molho minha barba, nem me encolho: do que tempta tem quem fuja?
HUMILDE TRABALHADOR [4681]
Sentado, do engraxate, na cadeira, um hooligan sorri, mandando: “Engraxa ahi! Mas com a lingua!” Elle se aggacha. E os outros vendo, em volta, a brincadeira.
O velho abbaixa a cara, beija, cheira o couro da botina. Cruel acha aquillo, mas dos jovens, ja, bollacha levou. Engraxará, queira ou não queira.
A lingua, sob o olhar de todos, passa saliva na biqueira, na beirada da sola que pisou suja calçada de barro. E os marmanjões achando graça:
“Capricha ahi, peão!” E dão risada. Não ha cão que melhor aquillo faça. Lambida a bota toda foi. Na praça, ninguem ousa intervir, ninguem faz nada.
GANCHO GAUCHO (1/3) [4778/4780]
(1)
Exsiste, em Porto Alegre, uma lojinha minuscula, no centro da cidade. Alli quem acha tudo que lhe aggrade é um gajo que amizade não tem minha.
Nazista irreductivel, elle vinha reliquias procurando: botas, a de soldado da Wehrmacht, esse que invade paizes europeus e os expezinha.
Contou-me outro gaucho, este um amigo querido, de rockeiras adventuras, que o nazi algo teria a ver commigo.
“Commigo? Nada disso!”, dou-lhe as duras. Explica elle: {Não, Glauco, só te digo que o cara calça a bota que procuras…}
(2)
Começo a interessar-me: “Mas você bem sabe que jamais eu compartilho idéas aryanas, né? Sou filho de anarchos, de italianos, cê não vê?”
{Sim, Glauco, eu sei! Mas, caso um nazi dê na tua cara aquelle pisão, filho, tu lambes o solado?} “Ah, meu! Me humilho bonito! Lambo mesmo, pequepê!”
Dialogo maluco, esse que rolla por phone, entre um gaucho e um paulistano! Conforme o que disser, me descontrola!
Sabendo disso, o amigo pelo cano entrar me faz, lembrando-me da sola da bota militar… E eu que me damno!
(3)
“Escute aqui, meu caro! (então revido) Você não tem, tambem, o seu fetiche por botas femininas? Não me pixe, então! Meu fracco é bota de bandido!”
“De sadico, de nazi…” Si a libido da gente nos instiga, que se lixe o resto! Si alguem gosta que eu capriche, de lingua, na engraxada, eu me convido!
Accaba concordando o meu attento collega fanzineiro: o que interessa na vida é approveitarmos o momento.
Si surge alguma chance que nem essa, da bota que me pise, eu me contento que o macho, em mente e corpo, pouco meça.
PASSIVO E REFLEXIVO [5008]
Momentos ha na vida em que confesso bastar-me, não por causa duma excolha, pois vejo-me tal como a secca folha, cahida, e ja do galho me despeço.
Mas faço, solitario, algum progresso naquillo que me basta, caso encolha a perna e do pé passe a mão na bolha formada no trajecto que attravesso.
À guisa de punheta, pelo meio dos dedos me tacteio, de “molambo qualquer” me chamo, e até de nome feio. Às vezes, me enthusiasmo, fico bambo.
E quasi caio, nesse meu recreio. A musica conforme, eu valso ou sambo: meu proprio pé, cansado, massageio e minha propria bota, afflicto, lambo.
ORDEM DO DIA (1/2) [5109/5110]
(1)
Às tropas discursando, o general nipponico que occupa, na Koréa, a aldeia, da victoria deu a idéa mais practica: dominio sexual!
{Soldados! Isto é nosso, agora! Aval nos deu o Imperador! E então, qual é a devida recompensa? Que a plebéa nos sirva como puta, em sexo oral!}
{As femeas chuparão nosso caralho! Os machos limparão a nossa bota com suas linguas! Eis o seu trabalho! Assim um prisioneiro se devota!}
Ao menos eu, na lyra, à funcção calho! Symbolica rhetorica? A derropta foi sordida: dos homens eu detalho que sujo foi o trampo e dura a quota. (2)
No Irak, o americano ordens escuta, tambem, dum general: {Homens! Agora é nosso este paiz! Ou collabora comnosco o povo, ou soffre a força bruta!}
{Serão como cachorros! Quem os chuta e pisa bem fará! Quem “Passa fora!” e “Lambe a bota!” grita-lhes melhora a propria estima e vale o que desfructa!}
Levaram os soldados tão ao pé da lettra esse discurso, que a prisão de Abu Ghraib assistiu demais, até: as photos para sempre mostrarão.
Abbaixo da mais infima ralé, de quattro, o irakiano lattiu, não ouviu sinão risadas, sua fé no Islam viu sob a sola, e até o Corão!
MACHIAVELLICO PODER BELLICO [5240]
Estupro, às vezes, arma numa guerra se torna. Emquanto o exercito entra e occupa, abbatte-se o moral e, na garuppa dos tanques, de alegria a tropa berra.
Civis, mulheres, homens, dessa terra nativos, são refens. Quando se aggruppa a tropa numa casa, a mulher chupa, seu homem lambe botas e se ferra.
O quadro jus faria a Satanaz. Na frente do marido, a soldadesca humilha a esposa, mette-lhe por traz, na bocca… e a scena torna-se grottesca.
Lambendo sem parar, elle a um rapaz extranho está subjeito, e sua fresca memoria ao que, na esposa, um outro faz, curtindo uma alegria assaz momesca.
SONNETTOS
DUMA MONSTRUOSA DEMONSTRAÇÃO (1/2) [5440/5443]
(1)
Fui cobrado, num debatte, sobre como lambo a bota poeirenta. Ha quem me tracte por mendaz! Mas que idiota!
Duvidaram que este vate ralle a lingua! Acham chacota! Pois lhes provo! Alguem que batte uma photo o assumpto exgotta:
Rachaduras fundas, fendas pela lingua, são horrendas evidencias das lambidas.
“Queres prova? Então exfolla tua lingua numa sola, como eu fiz! Inda duvidas?”
(2)
Ja lambi chulé tão forte que a platéa até duvida. Não acceitam que eu supporte das frieiras a ferida.
Minha lingua ja tem corte por lamber, caso me aggrida, uma bota cujo porte modas classicas transgrida.
Quando, sceptica, a platéa me contesta, dou idéa do que faço, alli, na hora.
Chamo um punk; elle dá bolla; delle lambo a suja sola e tem gente que até cora!
MISCELLANEA SUPPEDANEA [5935]
Com minha propria lingua (assim eu brado) suppuz ser puxasacco, dando um tracto debaixo duma sola de sapato usado por politico saphado.
Tambem com minha lingua (Não me evado da culpa: sou masoca, assim constato!) dei tracto, qual cachorro num pé chato, debaixo duma bota de soldado.
Com minha lingua, ainda, fiz eu cada sessão de lambeção (Não é bravata!) na sola dum artista da mammata adepto! Mas ninguem por mim dá nada!
De lingua até farei a deslavada cunnette num pastor que desaccapta Jesus e de Satan é diplomata, mas sei que elle prefere bruxa… ou fada.
LINGUA PENDENTE [5949]
Às vezes não se explica bem o caso. Quem lambe botas pode ser que lamba com nojo, mas nem sempre se descamba de todo na sujeira, no mais raso.
Daquelle que lambeu eu me comprazo não só quando por cyma, appenas, bamba se mostra, mas tambem quando (Caramba!) achou o que se deva achar no vaso.
Lamber um couro liso, bem lustrado, é muito differente da lambida na bosta, ainda fresca ou resequida, grudada no relevo dum solado.
É tudo relativo. Me degrado mais caso um borzeguim limpo decida lamber, ou quando lambo uma encardida botina de quem viva sem peccado?
MEMORIAS DO CARCERE [6093]
Lamber o chão? Fazer alguem usar a lingua nessa sordida funcção? No Orkut era commum alguem, na mão de sadicos, passar por tal azar.
Nas redes é possivel encontrar imagens em que todo um sujo chão terá que ser lambido. Risos são ouvidos. As prisões são bom logar.
Na nossa dictadura, diz Gabeira, assim se torturou. O preso tinha que limpo deixar onde se caminha com botas militares. Ha quem queira?
Às vezes algemado, de colleira em volta do pescoço, foi a minha lembrança que excitou a punhetinha: Nas botas se lambeu, tambem, sujeira.
MEME DA LINGUA MORDIDA [6106]
Você fallou, Glaucão, que si eu tivesse razão você lambia a minha bota!
Você me poz em duvida, chacota fez, como si de tudo ja soubesse!
Mas Deus não attendeu à sua prece: cegou sua visão! Sim, quem arrocta palpite quebra a cara! Sua quota levou, se invalidou! Bem que meresce!
Agora viu você quem tem razão!
Pagou por sua lingua palpiteira!
Pagar vae mais: alem dessa cegueira, vae ter que me lamber o burzegão!
Eu vou me divertir! Comece, então! Comece salivando na biqueira!
Depois va para a sola, mas não queira parar logo: prolongue meu tesão!
MEME DA BALLADA [6111]
“É na sola da bota”, a gente escuta. “É na palma da mão”, diz a canção dansante e sertaneja que o sallão anima. Ahi que um sadico desfructa.
Si vale a bofetada para a puta, tambem vale ao escravo que, no chão, rasteja sob a bota do peão que um riso põe na cara, pisa e chuta.
Questão será de como se interpreta a palma, a sola, a sadica risada. Ao sadomasochista não ha nada melhor que desviar da dansa a setta.
Apponcte para a cara de pateta do servo ou duma puta a quem se brada: “De quattro! Rastejando!” Vez mais cada assanha-se este aqui, que se punheta.
HASHTAG CADÊ A GRAVAÇÃO [6132]
Conversa não tem, Glauco! Quero prova! Eu quero ver imagem! Você diz que tudo foi filmado quando quiz alguem vel-o lamber ou levar sova!
Allega que lambeu bota, que nova nem era, mas bem suja; que gentis os gajos nunca foram; que infeliz foi nisso. Pois vejamos si comprova!
E então? Que lhe dizia quem filmou? O filme não tem audio? Ora, Glaucão! Puzeram no logar uma canção com lettra que incentiva quem pisou?
Assim não addeanta! Tambem dou risada de você, seu bobalhão!
E todos gargalhadas mais darão si virem seu papel triste no show!
FLATTEST FEET IN THE WORLD [6142]
Não tens pé chato, Glauco? Pois eu tenho! Pé chato, mesmo! Um arco tão cahido que mais paresce tabua! Até duvido que exsista alguem no mundo com tal lenho!
Alem de chato, largo! O desempenho é falho para andar, si for comprido demais algum trajecto, ou si decido usar bota appertada, como venho!
Hem, Glauco? Quanto calças? Isso, appenas? Trez numeros a mais é meu tamanho! Calculas por que botas eu me accanho de usar maiores? Opto por pequenas!
E mesmo si pequenas, causam scenas ridiculas! Ah, Glauco! Um dia banho darás em mim, de lingua! Sim, me assanho com isso! Mas e tu? Não me condemnas?
HASHTAG SOU MESMO [6155]
Sim, sou bozonazista, Glauco! Quero usar arma, formar milicia! Adoro foder meus inimigos! Commemoro ao vel-os na agonia! Admiro Nero!
“A sola do gabola” considero seu maximo poema! Até decoro! Espero ver suar por cada poro, de medo, os “exemptões”! Não exaggero!
Você bem sabe, Glauco, como nós gostamos de pisar! Sim, humilhar aquelles que da bota militar teem nojo! Desses quero ser algoz!
Hem, Glauco? Ja pensou? Virus nos pós adhere, não adhere? Quem passar a lingua no solado vae pegar! Cruel, não acha? Adoro ser atroz!
PHILANTHROPIA [6199]
O quadro “Lingua”, authentica aquarella de Dennis Azambuja, leiloado foi para angariar algum trocado e dar adjuda a quem por pão appella.
No meio de tal crise, eis que essa tela até que conseguiu bom resultado, Glaucão! Fallando franco, desaggrado me causa, mas a ti seria bella.
Irias te encantar com a figura bem nitida dum typico solado de bute, emborrachado, ja rallado na rua suburbana da amargura!
Em close, essa linguona que procura lamber o pó da sola tem causado comparações comtigo! Mas cuidado! A bota symboliza a dictadura!
AO RÉS, AOS PÉS [6241]
Te quero descrever, Glaucão, a scena que vi numa veraz photographia. Foi n’Africa do Sul, quando valia o rigido regime em sua pena.
Do preso o queixo roça na terrena poeira. Até o pescoço la se enfia o corpo. Na cabeça, à luz do dia, o forte sol luz batte nada amena.
Dois jovens guardas pisam na cabeça, que está das sujas botas ao alcance. Teem elles, quanto queiram, boa chance de tudo fazer nella que envilesça.
Pisar, chutar, mijar, mandar a advessa e secca lingua achar que rolle e danse na sola das botinas. De relance, notar pude. Suppuz que o pau lhes cresça…
DERRADEIRA SAPATEIRA [6243]
Indago-te, Glaucão, mais uma vez, depois de tantos annos: colleccionas ainda aquelles pares de grandonas botinas das quaes foste tão freguez?
Ainda colleccionas, dos michês de pés tamanho maximo, de lonas surradas ou de couros que nas zonas batteram, esses tennis de burguez?
Ainda colleccionas, dos punkões da antiga, aquelles fetidos burzegos nos quaes tu tacteavas com teus cegos carinhos e teus humidos beições?
Será que ‘inda nas sujas solas pões a lingua ja rachada, qual si pregos houvessem-n’a rasgado? Ora, te entrego os meus velhos -- e de velhos -- chinellões!
VACILLÃO [6341]
Você fica fallando que se exgotta de tanto versejar e dar recado explicito de escravo dedicado. Agora vae lamber a minha bota!
Você jura ser docil, mas adopta postura vacillante, sem ter dado um brilho de verdade em meu calçado. Agora vae lamber a minha bota!
Você reconhesceu sua derropta e fica a lamentar-se por cegado estar, mas sente medo si sou sado. Agora vae lamber a minha bota!
Você escutou a Nancy, ja se nota, mas nunca excappará de ser pisado. Eu calço bota para que, saphado? É para pisar, Glauco! Lamba a bota!
AQUELLE SACANA ALLI [6478]
Glaucão, não sou blogueiro qualquer, não! Eu tenho um incommum perfil, que faz veridicos prognosticos, que as más e sujas linguas chamam de “illação”!
Magina! Sou prophetico! Serão ferrados todos quantos do rapaz aqui fallarem merda! Sou mordaz, fodaz! Sou perspicaz paca, Glaucão!
Prevejo que você, que ficou cego por pura sacanagem do Destino, terá que punhetar-se! Vaticino que irá phantasiar com meu burzego!
Não seja, não, por isso! Me encarrego de baba lhe causar, pois imagino você lambendo o bute do menino aqui, que rasgou linguas como um prego!
EJACULAÇÃO OCULAR [6605]
Filmei no cellular, Glauco! Um bandido fugiu appós roubar uma senhora edosa, coitadinha! Ah, sem demora, pegaram-no! Foi muito divertido!
Um guarda civil (bruto, não duvido) tractou de segural-o! O gajo chora, dizendo-se innocente, mas agora é tarde! Ja ficou, no chão, rendido!
Ahi foi que curti! Lhe poz na cara o guarda a suja bota! Gravei tudo! Aquelle pezão largo, botinudo, pisando firme! Eu tenho nisso tara!
Não, Glauco! Dum bandido que se azara não fico no logar! Eu só me illudo com essa phantasia! De velludo é minha pelle! Não, nem se compara!
SALIVA PROACTIVA [6796]
Gastar eu não irei minha saliva tentando convencer quem não respeita a minha auctoridade, Glaucão! Eita! Eu faço appenas uma tentativa!
Saliva vou gastar com quem se exquiva dum pappo cordial? Jamais! Acceita conversa quem quizer! Uma desfeita não topo receber na defensiva!
Perder minha saliva não irei com gente intolerante que se isola na sua burra bolha! Não! Boiola não sou para aguentar, pô! Não sou gay!
Só gasto uma saliva quando sei que está bastante suja alguma sola de bota no pezão de quem controla meu tosco masochismo! Me expliquei?
FOOTPRINTS IN THE TONGUE [6817]
Glaucão, eu te conhesço! Tu querias ter lingua do tamanho dum capacho, não negues! Alem disso, vate, eu acho que solas tu não queres tão macias!
Entendo-te! Tambem eu, nestes dias, andei me perguntando: si sou macho de facto, por que, sempre que me aggacho, me chuta a mulher? Temos, sim, manias!
A tua, todavia, mais extranha será, pois imaginas uma sola de bota, que te marca, que te exfolla a lingua, te machuca, lesa, arranha!
Si tu tivesses lingua assim tamanha, teu sonho nem serias quem controla e sim algum demonio, que em ti colla, tentando usufruir da tua sanha!
PALADAR PARA ASCO DAR [6898]
Sou cego tambem, Glauco! Mas sozinho eu tenho que estar sempre, pois não tenho nenhum accompanhante no ferrenho suor do meu battente tão mesquinho!
Assim que fui barrado no caminho, senti que me ferrava, pois me embrenho em vias de malandros que lhe venho, agora, descrever bem direitinho!
Diziam que eu não ia me exquescer mais delles, e sorriam! Lambi suas surradas botas, sujas, pelas ruas, de bosta de cachorro, um desprazer!
Do gosto não me exquesço! Que poder o trauma tem na gente! Chupei duas pirocas, mas peor que rollas nuas é solas sujas termos que lamber!
RECUANDO NO COMMANDO [6920]
Michê? Sim, fui michê, Glauco! Sim, é verdade: dos clientes que attendi, alguns beber quizeram meu chichi, mas todos, sim, lamberam o meu pé!
Quarenta e trez eu calço… Chega até a ser quarenta e quattro, pois aqui e alli varia a bota que insisti a fim de que lambesse, essa ralé!
Sim, tenho o pé bem chato! Um gringo disse que é “fallen arch” o typico defeito, mas isso nem importa, pois suspeito que instigue nos freguezes a sandice!
Você, sim, lamberia, caso o visse, meu pé! Lambia as unhas, todo o peito, a sola grossa… Ahi, Glaucão, acceito que lamba meu chinello na velhice!
DESENGRAXANTE [6935]
Ouviu fallar, Glaucão? “Desengraxante” é um typo de limpeza agora à venda! Darei exemplo, para que se entenda: si a lingua lustra, “engraxa” algum pisante!
Mas, quando um botinão está bastante grudento, enlameado, com horrenda camada de cocô, que não dependa de brilho, mas de esponja deslisante…
Ahi funcciona a lingua qual solvente de tincta gordurosa: limpa a bosta do bicco, do solado… Quem não gosta de bosta, lamber botas que não tente!
Assim, “desengraxante” chama a gente a lingua dum podolatra que encosta a bocca no cocô! Qual a resposta da sua lyra a isto? Prazer sente?
MAU JUIZO SOBRE O PISO [6991]
Maluco ficou? Isso não se faz! Ainda que você seja masoca e cego chupador, ninguem colloca na bocca a bota suja do rapaz!
Não sabe que essa sola, Glauco, traz innumeros microbios? Elle soca no barro, na poeira da malloca, aquella bota! Não, por Satanaz!
Não, mesmo que elle mande, você não devia pôr a lingua num solado tão porco, com cocô secco grudado, com vomito de bebado, Glaucão!
Chupar a rolla delle, ter tesão comendo sua merda… até levado serei a tolerar! Mas um surrado cothurno lamber… é tal qual o chão!
ESSA NÃO VALEU [7033]
Me diga, menestrel, si foi azar ou não! Obedesci, dum subjeitinho bem sadico, ordens dadas com damninho intento! Me ferrei! Vou lhe contar:
O gajo, que (depois de caminhar por tudo quanto é sujo ou mau caminho) borrou a sua bota, direitinho me fez lamber a sola, devagar!
Lambi, Glauco! Lambi bosta grudada, chiclette, excarradella, mas tambem achei uma gillette presa bem no sulco da borracha! Que roubada!
Sangrei a minha lingua! Não aggrada fallar disso, concordo, mas ninguem dirá que tive sorte, porra! Nem siquer tive prazer! Não valeu nada!
ESSA VALEU [7034]
Me diga, trovador, si foi má sorte ou não! Dum gajo sadico cumpri as ordens mais brutaes: bebi chichi, comi cocô, sim! Nada que comforte!
Mas elle quiz, tambem, só por esporte, fazer-me de capacho! “Lamba aqui!”, mandou. Na sua sola percebi as manchas de sujeira, alem dum corte!
Senti, Glauco, na lingua aquelle gosto amargo da poeira no soalho, mas, em compensação, o meu trabalho rendeu algo docinho: o sangue exposto!
Talvez você não curta, mas, no posto de escravo, para tudo quebro o galho! Serviu de curativo nesse talho a minha baba! Até manchei meu rosto!
COTHURNOLATRIA [7089]
Mania que se expalha, Glaucão, é aquella que mais vemos hoje em dia! Não sabes qual? Direi: essa mania de botas lamber, rusticas, até!
Não lambem, não, qualquer descalço pé, tal como outro podolatra lambia!
Preferem a botina que seria mais propria dum milico da ralé!
Nem bota de major, nem de tenente, só dessas de sargento ou de recruta, mais sujas e pesadas, de quem chuta e pisa com mais força, dessa gente!
Mas tu, que não ficaste indifferente ao facto, não extranhas tal conducta?
Entendo… Quanto mais filho da puta quem usa, mais masoca alguem se sente!
PAPEIS INVERTIDOS [7117]
Um manda, outro obedesce, ja dizia aquelle general que lambe a bota dum reles sentinella, mas adopta postura auctoritaria quando chia…
Conhesço um desses, Glauco! Todo dia, pedia a um ordenança a sua quota de chutes e pisões, fora a chacota que seu subordinado lhe fazia!
Extranha servidão, Glaucão! Não acha? Em vez de commandar, o official se prostra aos pés dum joven que ‘inda mal sahiu da adolescencia e o bicco racha!
Mas tinha que rir, mesmo, pois se aggacha alguem na sua frente, que animal se torna, a lamber bosta sobre a qual pisou a grossa sola de borracha!
POLICIA MONTADA [7145]
Lambi bosta na bota dum soldado da audaz cavallaria, da mineira policia militar, caso ‘ocê queira saber, vate! Eu aos quattro ventos brado!
Me gabo disso, vate! Elle foi sado a poncto de exigir, por brincadeira, que bosta de cavallo, com poeira grudada, lhe tivesse eu bem limpado!
Ainda no quartel, pisou num monte! Chegando em minha casa, foi fallando: “Agora, veadinho, no commando estou! Ouviu?” O resto quer que eu conte?
Só conto que não, nada que ammedronte me impede de gozar! Um gosto brando não tinha aquella bosta, mas Fernando foi um entre mil homens em Belzonte!
TAÇA SUADAÇA
(1)
(1/3) [7211/7213]
Cantores sertanejos cantam para um publico podolatra, sabia? Verdade, Glauco! O pé, que ja fedia, tirou alguem da bota! Ahi vem tara!
No bute elle despeja a menos cara cachaça do pedaço! Uma gurya ao palco sobe e bebe -- Quem diria? -aquelle coquetel de especie rara!
Hem? Pinga com chulé, Glauco! Você bebia aquelle exotico licor na bota dum vaqueiro cantador? Apposto que conhesce esse buquê!
No tennis, caso um bebado lhe dê um gole, seja la que merda for aquillo, você toma? Fingidor de nojo nem será, logo se vê!
(2)
Tomar até champanhe dentro duma suada bota appenas não será fetiche sertanejo, claro está, pois mesmo entre pilotos se costuma!
A chance você logo, cara, arrhuma no podio, quando todos elles ja estão commemorando! Um delles dá um gole, a quem quizer, da tal espuma!
Glaucão, você podia approveitar, si fosse da corrida animador! Em scena, até diria que sabor extranho degustou, fazendo um ar!
Depois, se gabaria à bessa por ter tido o privilegio de invulgar chulé de quem pilota appreciar, embora seja mixto o tal odor!
(3)
Um acchocolatado pé descalça a bota de borracha para nella cerveja ser servida, numa bella filmagem que não tem nada de falsa!
Glaucão, você exporrar irá na calça!
O pé desse peão chulé revela, concreto, colorido! Forma aquella geléa, vista quando os dedos alça!
Appós aquelle pé mostrar-se em scena, dinheiro offerescido será a quem beber cerveja nessa bota bem curtida! A apposta achou que vale a pena?
Entendo… no logar dessa pequena façanha, quer você lamber bem, sem nenhum nojo, o pezão do cara, alem das coisas que a censura ja condemna!
MANIFESTO INCONFORMISTA (1/2) [7930]
(1)
{Sim, Glauco! Sou pacifico! Me adapto a tudo que é normal, que é justo ou certo! Appenas me rebello contra toda politica abusiva, auctoritaria! Agora, por exemplo, vejo bota por tudo quanto é lado, para la e para ca, querendo nos impor regrinhas de conducta! Mas nem quero saber! Gente de bota, para mim, é tudo a mesma coisa: militar! Governo militar é dictadura! Você gosta de bota, que eu sei, mas bem sabe que é synonymo de força, poder, auctoridade, Glauco! Onde é que fica a nossa livre excolha? Tudo virou quartel, agora, Glauco? Porra!}
(2)
-- De bota gosto. Nunca fui cordato com golpes e jamais estive perto de despotas, comtudo. Que se foda eu quero um dictador! Mas arbitraria é sua parca analyse. Quem vota aguente! Eu não votei, nem em Allah, nem Christo, nem Javeh! Nosso Senhor não acho ninguem! Logo, não venero quem cego me tornou! Bom ou ruim, divino ou não, recuso-me a pagar pedagio a tal fiscal da moral pura! As botas, em si mesmas, não são más. Calçadas são por gente má. Quem torça por uma livre excolha, algum chulé concorda que excolhi. Nunca me illudo com mythos, mas meu gozo que não morra!
DESCRIPTA SCENA SAUDITA (1/5) [8043]
(1)
Relatam-me: na Arabia, actualmente, a practica sunnita recrudesce. Quem pensa que internet é livre para protestos, condemnado será como qualquer outro sacrilego. Será, em publico filmado, flagellado.
(2)
Até turistas filmam. Quanta gente diverte-se com isso! Si estivesse alli, tambem eu, logico, filmara: a todos os demais nisso me sommo. Me dizem que, entre aquelles que vêem, ha quem queira, até, nas botas ser babado!
(3)
Explica-se: o punido tem, na frente de todos, que lamber, antes da prece e dumas chibatadas, com a cara nas botas do carrasco ou, num assommo da parte deste, lambe quem está appenas assistindo como sado.
(4)
Não posso me fazer de indifferente perante tal castigo. Me enduresce a picca quando um cego se compara à victima. Meu gozo não embromo e digo que desejo lamber ja o tennis dum turista mais folgado.
(5)
Um arabe que livre pense e tente ser, logo saberá, caso não cesse seus memes de postar, que quem se azara é elle. Provará do amargo pomo na sola da botina. Provará aquillo que provei ao ser cegado.
INFINITILHO DO AMMARRILHO (1/3) [8128]
(1)
Eu tenho um cothurninho, miniatura daquelle de soldado, mas marron é sua cor, não preta, a mais commum. Um ex-paraquedista foi quem fez a mim tal presentão, cujo cadarço tem nós, um por ilhoz, um ammarrilho de estylo ornamental, bem caprichado.
(2)
Me disse o “pequedê” que quem procura servir alli de elite quer ser, com orgulho superior a qualquer um. O proprio capitão, por sua vez, passou pelo uniforme, que de março um trinta e um nos lembra, mas me pilho pensando noutra coisa, aqui excitado.
(3)
Sim, tracta-se do trote, que tortura commum foi nos quarteis. Novato bom lustrou com sua lingua, sim, algum cothurno marronzão. Fiquei freguez daquella phantasia. Mais esparso agora, tal tesão como gattilho não serve si lembrou chefes de estado.
ODE TRIUMPHAL (1/6) [8156]
(1)
A scena foi fiel ao que relata a grande midia, quando não a dicta historia scientifica. Na data da guerra, koreano casal grita, supplica, pede para que não batta em ambos o soldado que se irrita. Debalde, si o nipponico os maltracta e os leva até detraz duma guarita.
(2)
Appenas a mulher iria, mas consente o japonez que seu marido va juncto. Sim, terão ambos, por traz dos muros do quartel, logo servido à tropa como escravos. Ella faz chupeta no capricho e divertido serviço faz seu homem: dum rapaz qualquer lambe o cothurno, bem lambido.
(3)
Destinam um quartinho à fellatriz, que attende à soldadesca no privado. Em publico, o “engraxate” seus servis deveres exercita. Si um soldado entrar para foder, outro, feliz, à porta fica. Filmam-no sentado num banco, emquanto ao velho ordena e diz que lamba, koreano desgraçado!
(4)
Ao joven japonez, o koreano maduro faz papel dum inimigo vencido a ser zoado! Desde o cano até o solado gasto, bem consigo
suppor como o coitado lambe e irmano a minha lingua à delle no castigo difficil de cumprir! Paresce um panno de chão, esse linguão! Sei o que digo!
(5)
“Mulheres de comforto” dictas são as mães, irmans, esposas que papel farão de putas para que o tesão do raso soldadinho saiba a mel. Mas “homem de comforto” não é tão commum de se encontrar. Serve elle, ao bel prazer do folgazão, como um truão, especie de palhaço do quartel.
(6)
O macho deshonrado foi actor dum filme bem veridico que vi. Chupou, sua mulher, dum oppressor freguez, o sujo pau, bebeu chichi, até. Mas o marido sentiu dor maior, no seu orgulho, si o gury que accaba de fodel-a agora for fazel-o de engraxate e lhe sorri…
ODE AUTOCRITICA (1/3) [8172]
(1)
Puxar pela memoria requeria o facto. Eis que puxei o quanto pude. Requinctes de sadismo, no regime cubano, uns escriptores no detalhe relatam, como aquelle em que o subjeito, sabendo que irá, para trabalhar, ao campo de forçados, antes é levado frente ao publico risonho a fim de confessar o seu delicto: de idéas discordar. Reconhescendo seu “erro”, pedirá perdão ao povo, que ri da sua cara, pois aquillo em nada reduzir vae sua pena.
(2)
Então eu dou palpite que riria melhor a tal platéa si a attitude do preso, mais humilde, ante seu crime, tivesse que ser. Maximo acchincalhe seria que lambesse elle, no peito e até na sola, a bota popular de cada cidadão dessa ralé. Achando ser delirio o que supponho, appenas eu commento que me excito com esse panorama tão horrendo. É quando perguntar si me commovo alguem vae, pois me informam que, ao estylo daqui, sadicos entram mesmo em scena:
(3)
“Mas, Glauco, isso occorreu no dia a dia da nossa dictadura! Alguem se illude com falsas negativas? Todo um time bem craque em torturar (Mas não expalhe,
sinão vae dar idéa!) tinha feito que cada prisioneiro, ao implorar perdão, lambesse os tennis ou o pé descalço dum cagueta cujo sonho ter era tal prazer! Acha bonito, Glaucão, tudo o que estava accontescendo?” Respondo que, bonito, não. De novo, porem, eu lhes affirmo que tranquillo me sinto. Ter tesão ninguem condemna.
ODE CONSEQUENTE (1/5) [8179]
(1)
Na bota, que tem sola de borracha, a lingua que lamber vae, como flecha se estica, sae da bocca, a poncta espicha. Quem calça a bota zomba, ri, debocha do cego, cuja lingua virou bucha.
(2)
O gordo, que é baixote, a rir excracha do cego a posição. Elle desfecha commandos humilhantes, pois, sem rixa, dum cego faz escravo, que a galocha lambeu e, com os labios, chupa, puxa.
(3)
Tirada a bota, appós ser baba a graxa, na chata sola o cego, que se vexa, pejado do vexame, lambe e lixa chulé de casca grossa. Alli se attocha a lingua, que mais lava que uma ducha.
(4)
Ao gordo, superior que, claro, se acha, um cego meresceu levar a pecha de macho deshonrado. O algoz só picha a falta da visão e, rindo, arrocha quem beija mais sujeiras que uma bruxa.
(5)
Só mesmo sendo cego alguem relaxa a poncto tal a lyra, que lhe fecha com aurea chave, e euphorica, a mais micha das odes, pois jamais o bardo brocha si mesmo o astral mais baixo desembucha.
ODE AO BOOTLICKING (1/6) [8187]
(1)
Na cara das mulheres ou dum macho, a bota rebaixando vae, a cada pisão, a condição duma coitada na cella, alli detida sem relaxo.
(2)
No carcere argentino, por debaixo da sola de borracha, se degrada a lingua da detenta, até que invada a sua bocca a rolla que lhe encaixo.
(3)
Suppuz-me carcereiro, mas não acho prazer algum na rolla a ser chupada por victimas daquella quartelada sangrenta, ainda quando rende excracho.
(4)
Mais quero no logar dalgum muchacho estar, na phantasia desvairada, lambendo toda a bota empoeirada do guarda que me faça de capacho.
(5)
Tirado sou da cella. Ja me aggacho e engattinhando chego, onde me brada que lamba, àquelle typo de folgada risada, em cuja sola a lingua racho.
(6)
Regimes militares são o tacho raspado bem a fundo na surrada leitura fetichista, mas ja nada impede que retorne o mau despacho.
BALLADA EMBALLADA (1/4)
(1)
[8194]
Diversos cartunistas teem a bota pinctado como thema de servis imagens: para fora a lingua bota o fan do capitão e, mui feliz, lambendo o cothurnão, fervor denota. Que mais sobre esse assumpto o povo diz?
(2)
Reynaldo, criticando o Sergio Moro, apponcta puxasaccos os mais vis, que engolem do ministro o desafforo e engraxam os sapatos do juiz usando a lingua, faltos de decoro. Que mais sobre esse assumpto o povo diz?
(3)
Os crentes mais devotos da pastora lhe beijam o pezinho, pedem bis, até querem lamber, como si fora o pé do proprio Christo. Quem não quiz pagar nem viu o pé da seductora. Que mais sobre esse assumpto o povo diz?
(4)
Eu proprio, nesse emballo, quiz a minha linguinha à prova pôr e questão fiz duns pés lamber de quem a mais mesquinha noção tem dos podolatras, nariz erguendo para um cego que engattinha. Que mais sobre esse assumpto o povo diz?
RHAPSODIA ORWELLIANA (1/5) [8365]
(1)
Dois classicos britannicos me dão materia prima para muita prosa e verso: Anthony Burgess e George Orwell. A scena de LARANJA em que uma sola lambida foi em publico e serviu de prova da lavagem cerebral será sempre emblematica, mas ‘inda mais tragica foi outra, quando a bota pisando um rosto humano representa aquillo que o futuro nos reserva.
(2)
Foi Winston doutrinado sobre quão total pode uma causa desastrosa ser para algum fanatico que absorve idéa auctoritaria, em que se isola do mundo mais plural, como se viu agora num Brazil eleitoral. Jamais a lucta civica se finda nos termos dum mandato, mas quem vota na bota, militar ou poeirenta, de exercito ou milicia, tem caterva.
(3)
Caterva tem quem vota em capitão mandando em general, quem vota em rosa menina e azul menino, em quem promove laranjas na mechanica gaiola de cegos assuns pretos, em quem psiu faz para Satanaz, na virtual intriga, aos bastidores, só, bemvinda. Caterva tem quem segue um idiota que os outros xinga assim, tem quem sustenta projecto que a lei magna não observa.
(4)
Tem isso quem caterva na nação colloca, pelo voto ou pela glosa das redes sociaes, prova dos nove da frivola fofoca, que só colla aos trouxas, cuja puta que os pariu accolhe quantos della fallam mal. A rede inexoravel é: quem brinda ao odio, odio terá. Quem patriota se julga mas advoga a violenta sahida, nem conserva, nem preserva.
(5)
Prefiro ter pacifica noção das coisas. A maneira mais gostosa de solas lamber, caso alguem me sove, é o gozo controlar de quem controla o nosso gozo, como descobriu um sadomasochista que em total cegueira mergulhou e aquella linda imagem colorida ja nem nota. Quem lambe, como lambo, o que nos tempta excusa vicio em fogo, jogo, ou herva.
PÉ CHATO DE GALOCHA (1/13) [8442]
(1)
Na fazenda do papae o filhinho de “filhão” é chamado e ninguem vae contestal-o, pois, sinão, soffrerá maus tractos. Ai de quem seja pobretão!
(2)
E é tão chato o filho, tão exhibido! Conta até piadinha e acha que vão dar risada todos! É cara a roupa delle, são delle as botas, o bonné…
(3)
Reparando no seu pé vive o filho dum colono, pobrezinho de marré, que de nada não é dono. E o filhão do “coroné” falla como um rei no throno:
(4)
“Minha bota eu não detono, mas teu tennis podre fica! Teu pae perde, eu sei, o somno por ser pobre, mas é rica minha casa! No abbandono ficas tu, é tua zica!”
(5)
O rapaz se mortifica ao ouvir do outro a chacota. Ja se sente uma titica e postura humilde adopta, esperando pela bicca que levar vae duma bota.
(6)
O menino rico nota que ao mais pobre o que fascina é o pisante que alta nota custa. Então, sua botina apponctando, banca bota quando ordena uma faxina:
(7)
“Anda, lustra a bota fina! Não tens panno? Usa a camisa!” O outro assim se subordina porque sabe que precisa ter respeito, é sua signa. Com seu trappo o couro allisa.
(8)
Depois disso, serve, à guisa de engraxate, ao joven rico sempre que este chega, pisa firme, exhibe o fino bicco da botina e, rindo, frisa que o mais fracco paga o mico.
(9)
Mas agora eu lhes explico o motivo por que tracto como “chato” esse impudico mimadão: por ter pé chato, inclusive. Eis o fuxico que correu da villa ao matto:
(10)
Certo dia, foi, de facto, mais ousado o meninão, pois chovia e seu contacto com o “servo” deu tesão. Sem a bota, o pé de pato de galocha andava, então.
(11)
Obrigou elle, mandão, que o submisso o descalçasse para não sujar o chão e fará que se embarace quem pegar com sua mão de plebeu num pé de classe.
(12)
Ruboriza-se na face o peão que do “amo” tira a galocha, pois lhe nasce um tesão que não sentira jamais antes, como um passe de feitiço ou ziquizira.
(13)
O chulé que eu trago à lyra é fortissimo e debocha de quem cheira e quem delira. Gozam ambos. Quem não brocha sabe: eu fallo, sem mentira sobre um chato de galocha.
SEXTINA PARA UMA BOTINA (1/7) [8443]
(1)
De André Vallias nunca lambi bota nem sei si pé pesado ou si pé leve tem elle, ou si teria de mim pena. O facto é que elle entrou na minha toca propondo algo que panno dá p’ra manga: fazer o que não é da minha compta…
(2)
Ou seja, uma sextina! Alguem me conta que é molde meio archaico e fé não bota no genero: prefere algum que leve mais rhymas e trabalho peça à penna. Eu proprio, pela parte que me toca, nem ligo e arregaçando vou a manga.
(3)
Chupei ja tantas coisas! Chupei manga, sorvete, pirolito… Perco a compta de quantas vezes lambo a mesma bota! Sonnetto, ja fiz muito! O Demo leve tal calice e dum cego tenha pena! Dansar vou outra musica que toca!
(4)
No rhythmo da sextina, só me toca palavras repetir. Si o leitor manga daquelle que assim age, leve em compta que sempre ovaes os ovos são, que bota a pata ou a gallinha, e sempre leve é sua penna, egual à minha penna!
(5)
Si pena tem André da minha pena, lhe peço que, ao sahir da minha toca,
empreste-me a botina que, qual manga, chupar eu tentarei, vezes sem compta, até que brilho ganhe e que outra bota não brilhe tanto e tracto egual não leve!
(6)
Emfim, que uma sextina breve e leve me tome o tempo e occupe um tanto a penna, é fardo que me calha e que me toca. Si deste resultado André ja manga e a todos feias coisas de mim conta, que importa? Na ferida o dedo bota!
(7)
Ninguem dum cego conta que lhe bota na cara o pé que o toca e delle manga, sextina sem que leve desta penna!
SOMMELIER DE BOTAS (1/6) [8571]
(1)
No facebook, em charge a mim descripta por Sylvio, o cearense, mostra Adão, attento cartunista, como são lambidas umas botas e me incita.
(2)
É bota militar que, na perita linguinha de fazer degustação, desperta alguns resaibos que me vão lembrando os que senti na cuja dicta:
(3)
Marron coloração si bota for dalgum paraquedista que, collega dum certo capitão, foi na refrega com elle e conservou egual sabor.
(4)
Aroma auctoritario, de suppor será. A perita lingua tambem pega as notas de censura, alem da cega noção do “retrogosto” repressor.
(5)
Emfim, cothurno typico da classe, daquelles que lambi quando enxergava e quando minha lingua mais escrava foi desse “pequedê” de brava face.
(6)
Agora que estou cego, quem entrasse no meu appartamento só se dava commigo si calçasse bota brava, que pela paz, não guerra, battalhasse.
EXCAPPATORIA [8636]
Flagrada a trahir, ella se sahiu com esta: “Ah, meu querido! Si você por causa disto deixa de me ter amor, então estamos conversados e basta abbandonar-me! Estou correcta? Agora, si você me tem amor ainda, appesar disto que flagrou, fará por mim maiores sacrificios! Estou correcta? Ahi, vou lhe pedir que lamba as botas delle, em minha propria presença! Que prefere, meu querido?” Contou-me isso um amigo, o que supponho veridico, pois muito me excitou. Que pena! Me exquesci de perguntar que excolha a fazer veiu o meu amigo!
ULTIMA GERAÇÃO [8652]
Você no cellular apperta, por enganno, uma teclinha qualquer. Prompto! Levou mais um preju. Não, não terei, jamais, um cellular. Mas ‘inda sonho que exsista technologica maneira, um dia, para a gente empregar uma tranqueira dessas tendo só prazer. Apperto uma teclinha virtual e chega à minha casa aquelle boy de moto, me trazendo uma adoravel e celere encommenda: a propria bota usada pelo gajo, que eu descalço e posso desfructar pelos sentidos do olfacto ou paladar, alem da meia, do pé suado, tudo que se espera dum desses apparelhos advançados.
SOLA GASTA [8657]
Um ex-paraquedista me contava, depois de ter sahido do quartel: {Marron, nosso cothurno differia do preto dos demais. Um “pequedê” elite era das tropas. Si na rua andavamos em dupla, alguem notava o orgulho no marron da nossa bota. Um dia, adjoelhamos um veado que estava a nos olhar e lhe impuzemos que, ja de quattro, um brilho com a lingua nos desse nesse couro tão selecto. Faltou à bicha appenas abbannar o rabo. Contentamo-nos a trez. Agora que só tennis uso, o fresco de compta faz que nunca me encontrou.} Pensei commigo: o mundo voltas dá. Alguem procurará na sapateira aquella bota antiga, que precisa de novo dum bom brilho. Um orgulhoso veado ja saudoso ficará dos tempos em que, em transe, engattinhou.
TRETAS ENTRE TRIBUS [8882]
Glaucão, você escreveu sobre skinheads, com elles umas cervas ja tomou, em Londres, e enxergava ainda a cara amiga, mesmo falsa, das pessoas! Por isso ja não bebe essa cerveja que traga alguma má recordação? Confesse, Glauco! Um punk era amigão mais intimo, na sua vida toda, jamais um desses hooligans! Concorda? Você só desejou delles a bota lamber! Não é verdade? Então confesse! OK, estamos quites! Ja podemos brindar com este vinho de segunda, do typo que nenhum punk enjeitou!
DESORDEM DO DIA [8902]
Quem gosta de lustrar cothurnos com a lingua certamente commemora de março o ultimo dia. Assim fallou Reynaldo, o “Thio Rey”, para accrescentar que gente democrata não celebra nenhuma data contra a liberdade. Tambem eu não celebro. Todavia, lustrei muito cothurno com a lingua. Mais ponctos exclaresço: de direita não sendo, nem siquer sem militares impondo uma aggressora dictadura, ainda assim não deixo de lamber a bota que, por cyma, tenha couro brilhante, mas, por baixo, uma borracha bem suja, poeirenta, até de lama ou merda recoberta desde sempre.
DESNUDADO E INTERPELLADO [8962]
Mas, Glauco, convenhamos! Nenhum lider, siquer quando o regime militar aqui nos governou, fallou a lingua do povo como o nosso Capitão! O povo quer um lider firme e forte, que seja auctoritario, sim, senhor! Ninguem quer no governo um bananão! Você, si coherente for, terá que botas lamber, Glauco, de qualquer que seja appoiador do Capitão, jamais dum democrata bunda molle! Assuma, cara! Assuma a sua antiga tendencia masochista, caso queira assim chamar a authentica missão na vida dum ceguinho perdedor! Assuma que quem manda, que quem tem direito de mandar, é justamente quem gosta de mandar: o Capitão! Somente quem appoia assim tal lider a bota appoiar pode sobre sua poetica boccarra, cara! Assuma!
LINGUA
RACHADA [9205]
Estou curioso, Glauco! Me exclaresça! Difficil é, sei disso, conseguir lamber o pé dum rapper, mas é mais difficil caso seja de skinhead o masculo pezão dentro da bota que nunca algum ceguinho descalçou! E então, Glaucão? Você ja conseguiu? É mesmo? Puxa, até que faz sentido! Carecas sempre foram de LARANJA MECHANICA fans! Isso bem explica que curtam obrigar alguem a solas lamber, como na scena culminante! Então eu accredito quando diz você que sua lingua tão rachada ficou por causa disso… Só que não!
GAUCHO? [9336]
Disseste tu que, em Porto Alegre, ja lambeste botas, Glauco, com platéa presente! Estive la, vi muitas botas em cyma duma mesa, quando tu estavas palestrando, mas não vi lamberes uma bota que estivesse calçada, ainda, Glauco! Ora, não vale que lambas sem nenhuma testemunha, embora tu nos jures que lambeste!
BEATLEMANIACO? [9353]
Você, na adolescencia, Glauco, usou aquellas taes botinhas que dos Beatles o typico desenho copiavam?
Lambeu a propria bota, até, suppondo que fosse, não dum Beatle, mas dum fan ainda mais fanatico, com pincta, cabello, rosto joven e risonho?
De facto, somos ambos, menestrel, da mesma geração de botinudos…
FANFARRÃO? [9425]
Seria, Glauco, um fan? Foi fanfarrão aquelle que ligou para você dizendo-se skinhead e lhe exigindo que fosse lamber umas botas, para ver como um gay meresce ser tractado? Ainda não cheguei a conclusão alguma, pois supponho que esses jovens carecas o que querem é zoar, mas morrem de vontade de ver seus caralhos bem chupados por um gay!
TRIPUDIADO? [9569]
Nem sei o que é peor, Mattoso: ser de guerra prisioneiro para, appós ir para aquelles campos de trabalho, pisado ser por botas militares ou ter de chupar rolla de soldado! Tu podes calcular o degradante papel de quem, debaixo de pés brutos, terá que lamber solas de borracha? Calculas o sabor amargo duma sujissima piroca de recruta?
Me explica, pois, Mattoso: Teus sonnettos descrevem verdadeiros sentimentos de quem pisado foi e quem chupou?
SABBATINADO? [9698]
Si fosse interrogado, um palestino na certa allegaria que lambeu, um dia, as botas sujas dum soldado judeu! Quer appostar, Glaucão? Ja vi a photo dum alegre israelense pisando no pescoço dum civil nas ruas de qualquer poncto de Gaza! Por isso um palestino diz que quer fazer o mesmo, Glauco! O que? Você queria ser um delles, si por baixo ficasse, menestrel? Que idéa absurda!
FICCIONAL? [9980]
Até posso suppor que exsista alguem capaz de, emquanto cego, lamber uma botina toda suja de poeira appenas por ter ordens recebido, mas isso numa trama de ficção! Ainda não consigo crer, Glaucão, que tenha você, nestes meus sapatos sujissimos da rua dado tantas lambidas, na real, pois nada como a vida, que imitar consiga a lenda!
DIA DO SOLDADO DESCONHESCIDO [10.246]
Lambi, Glaucão, a bota dum soldado que estava no quartel, de sentinella! Verdade, meu! Passei a lingua nella emquanto o rapagão estava armado!
À noite, ninguem nota si elle errado estava procedendo… Sim, dei trella tambem à chupetinha! A gente fella com gosto, mas olhando cada lado!
Assim que elle gozou, seu nome disse ser Angelo Miguel, mas eu duvido, pois nunca mais o vi! Que vigarice!
Por elle perguntei quando o lambido foi outro, mas ninguem que conseguisse fallar achei! Sumiu? Não faz sentido!
DIA DE USAR BOTA [10.332]
Eu sempre estou de tennis, Glauco, mas às vezes uso bota. Algum cliente me pede, implora, para que eu lhe tempte um vicio de podolatra, fugaz.
O gosto delle é ver-se, dum rapaz, debaixo dum solado que se sente bem aspero na lingua. Assim, a gente de tudo, para aggrado delle, faz.
Lhe piso, melhor digo, pisoteio o corpo todo, o rosto, sem ter pena. Até que um joven sadico me creio!
Você diz que tem, Glauco, delle plena inveja? Ah, meu querido! O preço cheio nem cobro, si você somente enscena!
OUTRO DIA DO SOLDADO DESCONHESCIDO [10.371]
Jamais reencontrei, Glauco, o rapaz que estava, aquella noite, de serviço na porta do quartel. Por causa disso sonnetto outro compuz, tambem veraz.
Ninguem delle sabia, pois ja faz um tempo que pergunto. Um compromisso com elle nunca tive, mas cobiço, em vão, outro que tenha tanto gaz!
Aquelle sentinella me fodeu a bocca ferozmente, como um jegue, depois que me pisou, qual num lebreu!
Narrei, ja, que lambi (nem que elle negue) a sua bota, alem de chupar seu cacete… Mas achal-o, quem consegue?
DIA DE NATAL [10.625]
Ainda pequenino, crer ousei nalgum Papae Noel, um que me desse ao menos uns brinquedos. Minha prece jamais seria acceita, agora sei.
Ainda adolescente, achei que lei divina havia. Vivo si estivesse, suppuz ser um adulto que pudesse ver, mesmo peccador, descrente e gay.
Ainda algo comptando, não extranho que em casa não receba a minha quota de brindes, mesmo minimo o tamanho.
Mas hoje, que não creio na remota promessa de visão, delle nem ganho siquer aquella podre e escrota bota.
DIA DO PHOTOGRAPHO [10.720]
Você ja foi filmado, Glauco, quando lambia a bota suja dum extranho que, como commentavam, nem de banho gostava. Continuam commentando.
Mas, quando foi você, sob o commando dum sadico photographo, sem ganho nenhum, photographado com tamanho pau dentro da boccarra, achei nefando!
Não, Glauco! Que você chupe caralho, que lamba alguma bota, até que entendo! Mas photos não! Aquillo só dá galho!
Horrivel eu achei! Achei horrendo! Prometto que taes photos não expalho nas redes, mas ja todos estão vendo!
DA CAVALLARIA MILITAR [10.731]
Historia bem curiosa aquelle meu amigo mineirinho me narrou. Escravo se tornou elle (isso dou por facto verdadeiro) dum plebeu.
Plebeu esse que, experto, se metteu na farda da policia: se tornou perfeito cavalleiro! Deu seu show de como ser um sadico, oh, si deu!
Fazia meu amigo lamber sua immunda bota, a sola com cocô do seu proprio cavallo, pela rua!
Difficil uma scena mais pornô, na qual cocô de equino substitua o proprio pó do chão! É punk, hem? Pô!
PECULIAR PEOPLE DAY [10.733]
Você se considera differente, Glaucão? Pois eu tambem me considero! Lhe digo mesmo, para ser sincero, que julgo differente toda a gente!
Nós somos, cada qual, intelligente ou burro, joven, velho, trans, hetero, no banco tendo mil ou tendo zero, alguem inconfundivel, simplesmente!
Si fossemos robôs, um capitão qualquer nos mandaria lamber seu cothurno! Mas não lambo o delle, não!
Só lambo o do sargento que, plebeu mas sadico, me pisa, alli no chão! Só que esse, que eu excolho, me excolheu!
DIA DA NEVE [10.811]
Morei no Canadá, Glaucão! Só deve estar de brincadeira quem está achando tanto charme si por la está tudo coberto pela neve!
Fechado tudo fica, qual si em greve la todos estivessem! Você ja viu como são as botas que usam? Bah! A roupa la, de hinverno, não é leve!
Alem do mais, as botas dão chulé, Glaucão, mas um chulé fedido paca! Quem é que quer morar alli? Quem é?
Hem? Como? Ocê queria tal inhaca cheirar e degustar? Hem? Curte pé fedido? Ora, me poupe, seu babaca!
DIA DA LOJA DE CALÇADOS USADOS [10.817]
Vendemos, sim, senhor! O que deseja? Sapatos com chulé? Nós temos, sim! Hem? Tennis num estado bem ruim? Sem duvida! Lhe trago de bandeja!
Observe este Rainha! Quem esteja calçando um destes passa, para mim, por esse escroto typo dum chinfrim pivete que, duns crimes, não se peja!
Prefere este cothurno com biqueira ja toda carcomida? Até que, um dia, foi elle preto! Ou fallo uma besteira?
Saber quem os calçava? Ah, poderia saber, sim, claro! Caso o senhor queira, lhe passo os phones! Quanto pagaria?
DIA DO CHULÉ DE BOTINA [10.889]
Glaucão, essas de elastico uso para andar no dia a dia! De borracha teem sola! Dão chulé, você não acha? Pisei, sim! Ja pisei alguem na cara!
Pisei calçado, vi que se compara ao cão quem solas lambe! Se capacha assim quem é masoca, mas relaxa a gente, e nos diverte sua tara!
Passei a tarde toda, certa vez, pisando um cara desses, mas não só calçado! Do meu cheiro o fiz freguez!
Cobrei caro, não tive mesmo dó! Lambeu meus pés descalços, sim! Vocês, podolatras, os faço de totó!
DIA DO CHULÉ DE COTHURNO [10.890]
Cothurnos não são faceis de calçar, tampouco de tirar do pé! Portanto, com elles fico um tempo! Lhe garanto, Glaucão, que dão chulé! Só tenho um par!
Tá velho, tá fedido, mas usar a lingua dum podolatra, que sancto não seja, me deleita! Sem expanto, eu vejo que elle lambe devagar!
Tirado um pé da bota, a meia fica grudada num suor tão chulepento que mesmo um cego porco foge à zica!
Excepto você, Glauco! Só lamento que tenha recusado minha picca no rabo, p’ra chupar meu pé nojento!
DIA DA POSTVERDADE [11.058]
O que interessa à midia, Glaucão, é appenas a versão que ficará depois dum facto. O que interessa, ja, ao bardo nem será digno de fé!
Que importa si elle possa ser até chamado de impostor? O que elle dá por coisa verdadeira não está nos factos objectivos à ralé!
Por isso você pode exaggerar em tudo que verseja, phantasia propor, de reaes factos no logar!
Você pode contar que comeria cocô, que lamberia, a rastejar, a bota mais immunda: é poesia!
DIA DO NEUROTICO DE GUERRA [11.200]
Conhesço um gringo, Glauco, que luctara na guerra americana, mas doente voltara para a America. Se sente o cara assaz culpado duma tara…
Remorsos sente, claro, pois foi, para diversos prisioneiros, inclemente na sadica tortura, a ferro quente, a faca, a choque electrico… Humilhara!
Lamberam suas botas todos, antes de serem mortos nessa atroz tortura. Agora, nem mais usa taes pisantes…
Prefere, só de tennis, à procura sahir dos seus clientes, os amantes do chute e do pisão… Tudo tem cura!
ONE HIT WONDER DAY [11.293]
Da filha do Sinatra não conhesço nenhum outro successo, mas aquella canção foi o bastante para que ella brilhasse no scenario, com appreço.
As botas andarão, cobrando o preço do frouxo macho typico, sequela deixando no seu corpo, o que revela o fragil sexo visto pelo advesso.
O macho que permitte pisoteio das botas da mulher, por sobre seu inerme corpo, sabe, como sei-o:
Quem pode, manda. Aquella que lhe deu pisão, alem da chota, alem do seio, tem bota no pezinho, um tesão meu.
DIA NACIONAL DO NÓ CEGO [11.439]
É pedra no sapato, você! Dó não sinto, pois um cego que, na lyra, a todos incommoda, que delira em loucas phantasias, nos é nó!
Não, Glauco! Você falla que no pó da nossa bota passa a lingua, vira e mexe, rollas chupa! Ora, quem fira o bom tom bem meresce ficar só!
Você podia a todos aggradar tocando num assumpto mais sublime, mas teima nessa lyrica vulgar!
Verseje sobre o pé que nos opprime, a bota do oppressor, do militar, daquelle que practica, mesmo, o crime!
DIA MUNDIAL DA CANINIDADE [11.441]
De tanto que versejo o mundo sujo daquelles que pó lambem numa bota, um motte essencial a gente nota: em outra encarnação fui um sabujo.
Da pecha de podolatra não fujo, porem, como tampouco da chacota que envolve, entre os ceguetas, nossa quota circense. Mas a todos sobrepujo.
Supero qualquer cão que se submetta aos chutes do seu dono, pois, na lyra, chafurdo sempre em fetida sargeta.
Talvez haja poeta que prefira a lyrica mentira, a pura peta, embora a lamentar a ziquizira.
DIA NACIONAL DO EXERCICIO ESPIRITUAL [11.499]
Me deixe imaginar que imaginava você que minha lingua salivosa lhe lambe, lenta, as solas e lhe lava os callos, que com isso você goza!
Me deixe imaginar, suave escrava, suave como petala de rosa, a lingua, que a cegueira mais deprava, causando sensação deliciosa!
Assim imaginando, você bota um cego no devido logar, onde rasteja quando, rispido, responde!
Emvolta de pés rudes que elle ronde e, para que o castigo se arredonde, a lingua lavará, tambem, a bota!
SONNETTO EMILIANO [11.608]
{Fallar dum paulistano uffano ousou Emilio de Menezes num sonnetto bastante precioso, mas estou convicto de que seja algo obsoleto.}
{Não creio que, Glaucão, gaffe commetto, mas digo: o bandeirante ja virou figura dephasada si o coretto de Sampa bagunçar elle tentou.}
{Diz elle que o subjeito ja nem bota mais usa, que ficou, sem ouro ou pratta, na dura pindahyba! Fez chacota!}
-- Emilio sempre bota, a gente nota, alguma lenha aqui. Mas si se tracta de bota, a mim me cabe ser quem bota.
SONNETTO DA LINGUA PENDENTE [11.657]
Às vezes não se explica bem o caso. Quem lambe botas pode ser que lamba com nojo, mas nem sempre se descamba de todo na sujeira, no mais raso.
Daquelle que lambeu eu me comprazo não só quando por cyma, appenas, bamba se mostra, mas tambem quando (Caramba!) achou o que se deva achar no vaso.
Lamber um couro liso, bem lustrado, é muito differente da lambida na bosta, na poeira dum solado.
É tudo relativo. Me degrado mais quando lambo um limpo, ou encardida botina de quem viva sem peccado?
SONNETTO DA LINGUA MORDIDA [11.716]
Você fallou, Glaucão, que si eu tivesse razão você lambia a minha bota! Você me poz em duvida, chacota fez, como si de tudo ja soubesse!
Mas Deus não attendeu à sua prece: cegou sua visão! Sim, quem arrocta palpite quebra a cara! Sua quota levou, se invalidou! Bem que meresce!
Agora viu você quem tem razão! Pagou por sua lingua palpiteira! Vae ter que me lamber o burzegão!
Eu vou me divertir! Comece, então! Comece salivando, mas não queira parar logo: prolongue meu tesão!
SONNETTO
DA BALLADA SERTANEJA [11.720]
“É na sola da bota”, a gente escuta. “É na palma da mão”, diz a canção dansante e sertaneja que o sallão anima. Ahi que um sadico desfructa.
Si vale a bofetada para a puta, tambem vale ao escravo que, no chão, rasteja sob a bota do peão que um riso põe na cara, pisa e chuta.
Questão será de como se interpreta a palma, a sola, a sadica risada. Ao sadomasochista, que é que aggrada?
Aggrada mais a cara de pateta do servo ou duma puta a quem se brada “De quattro! Rastejando!” na ballada…
SONNETTO DA PROVA INCONCLUSIVA [11.738]
Conversa não tem, Glauco! Quero prova! Eu quero ver imagem! Você diz que tudo foi filmado quando quiz alguem vel-o lamber ou levar sova!
Allega que lambeu bota, que nova nem era, mas bem suja; que gentis os gajos nunca foram; que infeliz foi nisso. Pois vejamos si comprova!
E então? Que lhe dizia quem filmou? O filme não tem audio? Ora, Glaucão! Puzeram no logar uma canção!
Assim não addeanta! Tambem dou risada de você, seu bobalhão! E todos gargalhadas mais darão!
SONNETTO DOS PÉS CHATISSIMOS [11.747]
Não tens pé chato, Glauco? Pois eu tenho! Pé chato, mesmo! Um arco tão cahido que mais paresce tabua! Até duvido que exsista alguem no mundo com tal lenho!
Alem de chato, largo! O desempenho é falho para andar, si for comprido demais algum trajecto, ou si decido usar bota appertada, como venho!
Hem, Glauco? Quanto calças? Isso, appenas? Trez numeros a mais é meu tamanho nas justas botas! Opto por pequenas!
E mesmo si pequenas, causam scenas ridiculas! De lingua davas banho, um dia, nos meus pés? Não me condemnas?
SONNETTO PARA QUEM ASSUME [11.758]
Sim, sou bolsonarista, Glauco! Quero usar arma, formar milicia! Adoro foder meus inimigos! Commemoro ao vel-os na agonia! Admiro Nero!
“A sola do gabola” considero seu maximo poema! Até decoro! Espero ver suar por cada poro, de medo, os “exemptões”! Não exaggero!
Você bem sabe, Glauco, como nós gostamos de pisar! Sim, humilhar quem nojo tem da bota militar!
Hem, Glauco? Ja pensou? Virus nos pós adhere, não adhere? Quem passar a lingua no solado vae pegar!
SONNETTO
DA PHILANTHROPIA [11.794]
O quadro “Lingua”, authentica aquarella de Dennis Azambuja, leiloado foi para angariar algum trocado e dar adjuda a quem por pão appella.
No meio de tal crise, eis que essa tela até que conseguiu bom resultado, Glaucão! Fallando franco, desaggrado me causa, mas a ti seria bella.
Irias te encantar com a figura bem nitida dum typico solado de bute, emborrachado, ja rallado…
Em close, essa linguona que procura lamber o pó da sola tem causado comparações comtigo! Bem lembrado…
SONNETTO DA GLOBALIZAÇÃO [11.811]
Joelho no pescoço, Glauco! Mais cruel, só mesmo bota no pescoço! Ninguem assim pisado, velho ou moço, consegue respirar em horas taes!
Alheia ao mais agonico dos ais, a bota de solado rude e grosso suffoca quando pisa! Nem esboço siquer de reacção houve jamais!
Rollava no Vietnam: americanos pisavam no pescoço do inimigo num interrogatorio, ou por castigo!
Mas quando, Glauco, um desses negros manos pisado for assim, eu só lhe digo: Um dia alguem reage, eis o perigo…
SONNETTO AO RÉS, AOS PÉS
[11.835]
Te quero descrever, Glaucão, a scena que vi numa veraz photographia. Foi n’Africa do Sul, quando valia o rigido regime em sua pena.
Do preso o queixo roça na terrena poeira. Até o pescoço la se enfia o corpo. Na cabeça, à luz do dia, o forte sol luz batte nada amena.
Dois jovens guardas pisam na cabeça, que está das sujas botas ao alcance. Teem elles, quanto queiram, boa chance:
Pisar, chutar, mijar, mandar a advessa e secca lingua achar que rolle e danse na sola das botinas… Rude lance!
SONNETTO DA DERRADEIRA SAPATEIRA [11.837]
Indago-te, Glaucão, mais uma vez, depois de tantos annos: colleccionas ainda aquelles pares de grandonas botinas das quaes foste tão freguez?
Ainda colleccionas, dos michês de pés tamanho maximo, de lonas surradas ou de couros que nas zonas batteram, esses tennis de burguez?
Ainda colleccionas, dos punkões da antiga, aquelles fetidos burzegos nos quaes tu tacteavas, olhos cegos?
Será que ‘inda nas sujas solas pões a lingua ja rachada, qual si pregos houvessem-n’a rasgado? Os pés, exfrego-os…
SONNETTO DO MICHÊ BOTINUDO [11.887]
Meu pae me ensignou! Elle, que me fez dormir, ja, de cothurno, prompto para a guerra, fez tambem, na minha cara, vergonha que eu tivesse, essa altivez!
Mas, em compensação, vejam vocês, ganhei um chulezão que se compara ao cheiro dum gambá! Só quem tem tara podolatra se torna meu freguez!
A vida me ensignou a ser michê, na falta dum emprego mais decente. Mas sempre encontro, soffrego, um cliente.
Um cego masochista, que não vê faz tempo, tão sozinho ja se sente que minha visitinha quer, frequente.
SONNETTO DA POLARIZAÇÃO [11.905]
Só vejo violencia, divisão e polarização! Ninguem mais dá bom dia, boa noite! Venha ca: O mundo ficou chato, Glauco! Não?
Ja não se dialoga! Todos são convictos, radicaes! Pappo não ha que seja cordial! Como será a nossa vida, assim? Diga, Glaucão!
Você ja bem lembrava: Não são só dois lados! Pelo menos num quadrado estamos, ou num cubo, typo um dado!
Extremos se provocam, mas o pó das botas todos lambem quando um gado desforra no rival mais desarmado!
SONNETTO DO VACILLÃO [11.926]
Você fica fallando que se exgotta de tanto versejar e dar recado explicito de escravo dedicado. Agora vae lamber a minha bota!
Você jura ser docil, mas adopta postura vacillante, sem ter dado um brilho de verdade em meu calçado. Agora vae lamber a minha bota!
Você reconhesceu sua derropta e fica a lamentar si está cegado. Agora vae lamber a minha bota!
Você escutou a Nancy, ja se nota, e não excappará de ser pisado. Sim, quero pisar, Glauco! Lamba a bota!
SONNETTO DO GESTO HUMILDE [11.979]
Os olhos arregala, labios crispa a bispa, no sermão, e cada crente o pé lhe beija, appós pagar, contente, seu dizimo. Oh, quão bello o pé da bispa!
Mas, Glauco, reparei que ao templo chispa um bando de podolatras! Attente você para o pezinho que essa gente procura, a torcer para que se dispa!
Pezinho, não: pezão! E de quem é? Do guardacostas della! Agora attina você? Querem beijar uma botina!
Sabendo disso, o gajo ja seu pé por grana até concorda, até se inclina, na casa, a descalçar! Quem recrimina?
SONNETTO DA SALIVA PROACTIVA [12.347]
Gastar eu não irei minha saliva tentando convencer quem não respeita a minha auctoridade, Glaucão! Eita! Eu faço appenas uma tentativa!
Saliva vou gastar com quem se exquiva dum pappo cordial? Jamais! Acceita conversa quem quizer! Uma desfeita não topo receber na defensiva!
Perder minha saliva não irei com gente intolerante que se isola na sua burra bolha! Aqui não colla!
Só gasto uma saliva quando sei que está bastante suja alguma sola de bota num pezão que me controla!
SONNETTO DA LINGUA DESDOBRADA [12.356]
“Palhaço da Alvorada”! Assim chamado foi nosso presidente, Glauco! Um puta insulto, um desrespeito! Quem escuta tal coisa fica mesmo revoltado!
Não faço parte, Glauco, desse “gado” que appoia a auctoridade! Essa conducta não tenho, mas é muito mais fajuta a lingua que expalhou tão bruto brado!
Quem falla aquillo morre de vontade de emprego dar à lingua, na verdade, nas botas de quem tenha auctoridade!
Desdenha quem comprar quer! E quem ha de negar que militares fans de Sade serão e irão vingar-se de quem brade?
SONNETTO DAS PEGADAS NA LINGUA [12.368]
Glaucão, eu te conhesço! Tu querias ter lingua do tamanho dum capacho, não negues! Alem disso, vate, eu acho que solas tu não queres tão macias!
Entendo-te! Tambem eu, nestes dias, andei me perguntando: si sou macho de facto, por que, sempre que me aggacho, me chuta a mulher? Temos, sim, manias!
A tua, todavia, mais extranha será, pois imaginas uma sola de bota, que te marca, que te exfolla…
Si tu tivesses lingua assim tamanha, teu sonho nem serias quem controla e sim algum demonio, que em ti colla…
SONNETTO DO FADO DE CASADO [12.388]
Flagrei minha mulher com outro, vate! De menos isso seja: de mim ella ha muito desfazia! Ah, que cadella! Mas ‘inda foi maior o disparate!
Não basta que de corno ‘ocê me tracte! Terá que me chamar de escravo della e delle! Sim, palhaço sou em bella comedia! Fui, de inicio, um engraxate!
Mandou ella que eu desse logo um brilho nas botas do Ricardo que, mandão, quiz mesmo com a lingua! Ah, si me humilho!
Eu, nesses casos, fico puto, rilho os dentes, mas me rallo pelo chão… Me inveja? Pois se case, então, meu filho!
SONNETTO DO CEGO TRAUMATIZADO [12.443]
Sou cego tambem, Glauco! Mas sozinho eu tenho que estar sempre, pois não tenho nenhum accompanhante no ferrenho suor do meu battente tão mesquinho!
Assim que fui barrado no caminho, senti que me ferrava, pois me embrenho em vias de malandros que lhe venho, agora, descrever bem direitinho!
Diziam que eu não ia me exquescer mais delles, e sorriam! Lambi suas surradas botas, sujas pelas ruas!
Do gosto não me exquesço! Que poder o trauma tem na gente! Chupei duas pirocas! Me ennojei de rollas nuas!
SONNETTO DO MICHÊ REPUTADO [12.463]
Michê? Sim, fui michê, Glauco! Sim, é verdade: dos clientes que attendi, alguns beber quizeram meu chichi, mas todos, sim, lamberam o meu pé!
Quarenta e trez eu calço… Chega até a ser quarenta e quattro, pois aqui e alli varia a bota que insisti a fim de que lambesse, essa ralé!
Sim, tenho o pé bem chato! Um gringo disse que é “fallen arch” o typico defeito, mas isso nem importa, ja suspeito…
Você, meu, lamberia, caso o visse, meu pé? Lambia as unhas, todo o peito, a sola grossa? Ahi, Glaucão, acceito!
SONNETTO DO DESENGRAXANTE [12.478]
Ouviu fallar, Glaucão? “Desengraxante” é um typo de limpeza agora à venda! Darei exemplo, para que se entenda: si a lingua lustra, “engraxa” algum pisante!
Mas, quando um botinão está bastante grudento, enlameado, com horrenda camada de cocô, que não dependa de brilho, mas de esponja deslisante…
Ahi funcciona a lingua qual solvente de tincta gordurosa: limpa a bosta do bicco, do solado… Quem desgosta?
Assim, “desengraxante” chama a gente a lingua dum podolatra que encosta a bocca no cocô! Dada a resposta?
SONNETTO DO MAU JUIZO SOBRE O PISO [12.533]
Maluco ficou? Isso não se faz! Ainda que você seja masoca e cego chupador, ninguem colloca na bocca a bota suja do rapaz!
Não sabe que essa sola, Glauco, traz innumeros microbios? Elle soca no barro, na poeira da malloca, aquella bota! Não, por Satanaz!
Não, mesmo que elle mande, você não devia pôr a lingua num solado tão porco, com cocô secco grudado!
Chupar a rolla delle, ter tesão comendo sua merda… até levado serei a tolerar, si for dum sado…
SONNETTO
DO QUE NÃO VALEU [12.574]
Me diga, menestrel, si foi azar ou não! Obedesci, dum subjeitinho bem sadico, ordens dadas com damninho intento! Me ferrei! Vou lhe contar:
O gajo, que (depois de caminhar por tudo quanto é sujo ou mau caminho) borrou a sua bota, direitinho me fez lamber a sola, devagar!
Lambi, Glauco! Lambi bosta grudada! Achei uma gillette presa bem no sulco da borracha! Que roubada!
Sangrei a minha lingua! Não aggrada fallar disso, concordo, pois ninguem dirá que deu prazer! Não valeu nada!
SONNETTO DA COTHURNOLATRIA [12.615]
Mania que se expalha, Glaucão, é aquella que mais vemos hoje em dia! Não sabes qual? Direi: essa mania de botas lamber, rusticas, até!
Não lambem, não, qualquer descalço pé, tal como outro podolatra lambia!
Preferem a botina que seria mais propria dum milico da ralé!
Só dessas de sargento ou de recruta, mais sujas e pesadas, de quem chuta e pisa com mais força, dessa gente!
Mas, Glauco, não extranhas tal conducta? Entendo… Quanto mais filho da puta quem usa, mais masoca alguem se sente!
SONNETTO DOS PAPEIS INVERTIDOS [12.643]
Um manda, outro obedesce, ja dizia aquelle general que lambe a bota dum reles sentinella, mas adopta postura auctoritaria quando chia…
Conhesço um desses, Glauco! Todo dia, pedia a um ordenança a sua quota de chutes e pisões, fora a chacota que seu subordinado lhe fazia!
Em vez de commandar, o official se prostra aos pés dum joven que ‘inda mal sahiu da adolescencia e o bicco racha!
Está na sua frente esse animal prostrado, a lamber bosta sobre a qual pisou a grossa sola de borracha!
SONNETTO DA POLICIA MONTADA [12.682]
Lambi bosta na bota dum soldado da audaz cavallaria, da mineira policia militar, caso ‘ocê queira saber, vate! Eu aos quattro ventos brado!
Me gabo disso, vate! Elle foi sado a poncto de exigir, por brincadeira, que bosta de cavallo, com poeira grudada, lhe tivesse eu bem limpado!
Chegando em minha casa, foi fallando: “Agora, veadinho, no commando estou! Ouviu?” O resto quer que eu conte?
Lembrar me faz gozar! Um gosto brando não tinha aquella bosta, mas Fernando foi um entre mil homens em Belzonte!
SONNETTO DA BOTA SERTANEJA [12.725]
Cantores sertanejos cantam para um publico podolatra, sabia? Verdade, Glauco! O pé, que ja fedia, tirou alguem da bota! Ahi vem tara!
No bute elle despeja a menos cara cachaça do pedaço! Uma gurya ao palco sobe e bebe -- Quem diria? -aquelle coquetel de especie rara!
Hem? Pinga com chulé, Glauco! Você bebia aquelle exotico licor na bota dum vaqueiro cantador?
No tennis, caso um bebado lhe dê um gole, seja la que merda for aquillo, você toma? Fingidor!
SONNETTO DA BOTA DE PILOTO [12.726]
Tomar até champanhe dentro duma suada bota appenas não será fetiche sertanejo, claro está, pois mesmo entre pilotos se costuma!
A chance você logo, cara, arrhuma no podio, quando todos elles ja estão commemorando! Um delles dá um gole, a quem quizer, da tal espuma!
Glaucão, você podia approveitar, si fosse da corrida animador! Em scena, até diria: Que sabor!
Depois, se gabaria à bessa por ter tido o privilegio de invulgar chulé de quem pilota appreciar!
SONNETTO DA BOTA DE PEÃO [12.727]
Um acchocolatado pé descalça a bota de borracha para nella cerveja ser servida, numa bella filmagem que não tem nada de falsa!
Glaucão, você exporrar irá na calça! O pé desse peão chulé revela, concreto, colorido! Forma aquella geléa, vista quando os dedos alça!
Dinheiro offerescido será a quem beber cerveja nessa bota bem curtida! A apposta achou que vale a pena?
Entendo… Quer você lamber bem, sem nenhum nojo, o pezão do cara, alem das coisas que a censura ja condemna!
São Paulo 2025