POESIA EXPERIMENTAL

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POESIA EXPERIMENTAL

Glauco Mattoso

POESIA EXPERIMENTAL

São Paulo

Casa de Ferreiro

Poesia experimental © Glauco Mattoso, 2024

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

Fotografia: Akira Nishimura

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

POESIA EXPERIMENTAL / Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024

176 p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

Um pouco de pesquisa accaba sendo, aos bardos, o pretexto necessario a alguma poesia disruptiva em termos dumas tantas normas dictas formaes e rigorosas. Mas sejamos sinceros: dá vontade, vez por outra, na gente de chutar, de facto, o balde. Eis como, nesta breve collectanea, junctei alguns exemplos desse typo, ao lado duns requinctes de exercicio barroco, ou rococó, como chamemos algum laboratorio creativo.

À parte, em OFFICINA FESCENNINA, exponho uns casos tanto ou mais didacticos nas artes de compor em verso fixo. Divirtam-se, si forem tão esthetas a poncto de gozarem com os olhos.

CARNE QUITADA (1) [0000]

DISSONNETTO CENSURADO [0009]

Sabendo que a censura não me trava, pediram-me um sonnetto sem calão pralguma anthologia de sallão que o tal do {censurado} organizava.

Queriam até tonica na oitava, porem sem recorrer ao palavrão. Usei de ingredientes mais à mão, mas, sempre {censurado}, não passava.

Desisto. Quanto mais remendos metto, mais ropto vae ficando o {censurado}. Poema não é texto de pamphleto p’ra ter que se estampar todo truncado!

Não! Esse {censurado} de sonnetto que va p’ra {censurado}! Por meu lado, não quero um {censurado}. Não submetto mais nada ao {censurado} {censurado}!

SONNETTO BOCAGICO-CAMONICO [0133]

Ó luz, ó forma, ó cor que te partiste, tão cedo, te fazendo em mim ausente! Repouso ja não tenho, eternamente, e vivo, rosto em terra, sempre triste.

E tu, que vês, e sobre mim subiste, si ainda teu capricho assim consente, não te exquesças da minha bocca ardente que sob o teu solado duro viste.

E si vires que pode merescer-te alguma coisa a dor, que me ficou na lingua, temerosa de perder-te, me fode, si teu pau não encurtou, até o fim da garganta, que, sem ver-te, com sebo e porra sabe o que levou.

DISSONNETTO CARINHOSO [0149]

Piau, catiripapo, belliscão, rasteira, tranco, tapa, bofetada, sopappo, cacetada, bordoada, biaba, peteleco, pescoção.

Trompaço, murro, soco, saphanão, tabefe, trolha, cocre, trauletada, pattada, coice, latego, porrada, cotovellada, relho, repellão.

Pisão, solada, chute, ponctapé, sensorialização, cama-de-gatto, mordaça com funil, merda no pratto, do-in, xodó, massagem, cafuné.

Bolinação, erotico contacto, relaxamento, tractos de polé, orgia, bacchanal, auto de fé, dor, estrangulamento, assassinato.

DISSONNETTO DISSONNETTADO [0233]

Ja li Lope de Vega e li Gregorio, pois ambos sonnettaram do sonnetto, seara na qual minha foice metto, tentando fazer algo meritorio.

Não quero usar o mesmo palavrorio, mas pilho-me, no meio do quartetto, montando a anatomia do eskeleto. No oitavo verso, o allivio é provisorio.

Comptagem regressiva: faltam cinco. Mais quattro, e fico livre do problema. Agora faltam trez… Deus, dae-me affinco! Com dois accabo a porra do poema.

Caralho! Só mais um! Até ja brinco! Gozei! Mactei a pau! Que puta thema! Mas, sendo um dissonnetto, ja não linko tal compta à conclusão. Novo dilemma.

DISSONNETTO CACOEPICO [0343]

É má cacophonia “heroico brado”, que faz o nosso hymno ser por cada macaco no seu galho de piada motivo, mytho presto prophanado.

Galhofo quando grapho “deputado”, um réu por cuja mãe a patria brada e cuja nota tem que amar mellada a puta que a recebe de ordenado.

Por ti gela meu pincto, e por ti são meus bagos exmagados qual sardinha em latta, e eu mofo dessa ladainha, ó lingua de tão baixo palavrão!

Dos cacos que cuspi, calou Caminha, que tracta só de expor raça à nação.

A mim toca, comtudo, uma questão: Si ja Camões fez caca em “Alma minha”.

SONNETTO SOLETTRADO [0375]

Deciphre um abecê no abracadabra. Deduza o delta errado do programma. A formula se grapha com o gamma. Veado tem hiato na palavra.

John Kennedy deu bode; o Lampe é cabra. Mamãe ammammentando, o nenê mamma.

Do opiparo quitute o aroma chama.

O russo arreda o rico e a roça lavra.

Um esse se assemelha ao saxophone.

O tu, segundo o verbo, é uma pessoa.

“Vê dábliu” é rei plebeu, sem quem desthrone.

O xiz paresce a cruz, que se abbençoa.

Tem cara de forquilha o pissilone.

O zê ziguezagueia, zurze e zoa.

DISSONNETTO TATIBITATE [0387]

A aranha arranha a aranha, e o ratto roe a roupa rococó do rei de Roma. Trez tristes tigres trepam em Sodoma. A plebe applaude o pleito do playboy.

Mammão maduro mancha a mão que o moe. A dama do masoca o soca e doma. Glaucomatoso é o globo com glaucoma. O dedo do detento é duro e dóe.

Bilu, tetéa, pincto, pingolim. Escubidu, Banzé, Pluto, Cappeto. Em lista dessas só bassês não metto. Esnupe, Rintintim, Milu, Tintim.

Só sinto somno si me sae sonnetto. Pirlimpimpim p’ra mim é pó marfim e paus podem ser Pés Papaes p’ra mim, pois o peito do pé do Pedro é preto.

SONNETTO MONOTONO ou SONNETTO EM TÉ MAIOR [0411]

Remedio contra o tedio não exsiste. No maximo uma tela de cinema, a sopa, um banho tepido, um enema, o jogo, um livro tetrico, um bom chiste.

Batter na mesma tecla é muito triste. Ninguem aguenta, eterno, um só systema, mas homem que seu termino não tema é raro nesta terra quem adviste.

Que fiz, como architecto dos meus dias, a fim de com esthetica occupal-os, excepto obrar até pornographias?

Virei fellador technico de phallos. Fui prodigo em materia de manias. Agora cuido, em these, só dos callos.

SONNETTO REFORMADO (1) [0420]

Se chama

Gil Gama.

Foi commandante dum centro de tortura em tempo não muito distante.

Tirou do guerrilheiro a confissão. Da esposa, filha e irman tirou a candidez. Capacho de outros rostos brincando elle fez. E deu por encerrada a sua missão.

Agora não ha o que levante sua picca outrora dura.

Veste elegante

pyjama na cama.

SONNETTO PANORAMICO [0421]

Meu quadro de São Paulo é o duma ilha que quanto mais se attulha mais brilha.

É vasta e de longe se advista, mas de perto tem a face dupla, multipla, mixta.

Quem topa suar tem campo à pampa, pois Sampa trampa do sol ao luar.

Na avenida Paulista trombadinha quando nasce contrasta com torres, contrista.

No centrão a janella faz pilha, muralha ante a gentalha maltrappilha.

SONNETTO TORRESMISTA [0426]

Não basta a dictadura que ja dura e vem a dictadura antigordura!

Sahimos do regime militar, cahimos no regime do regime. Censuram-nos até no paladar!

Trabalho, horario, imposto, compromisso. Orgasmo não se tem como se quer. Só sobra o bom do garfo e da colher e os nazis nariz mettem até nisso.

Maldicta seja a midia, sempre a dar espaço à medicina que reprime! Gestapo da “sahude” e “bemestar”!

Resista! Coma! Abbaixo a dictadura! A lucta tem um symbolo: FRICTURA!

DISSONNETTO TORRESMISTA [0426]

Diversas dictaduras nos farão pensar si temos, mesmo, ou não, razão. Não basta a dictadura que ja dura e vem a dictadura antigordura!

Pensei aqui commigo: Só fodi-me! Sahimos do regime militar, cahimos no regime do regime. Censuram-nos até no paladar!

Trabalho, horario, imposto, compromisso. Orgasmo não se tem como se quer. Só sobra o bom do garfo e da colher e os nazis nariz mettem até nisso.

Acaso bem comer seria crime? Maldicta seja a midia, sempre a dar espaço à medicina que reprime! Gestapo da “sahude” e “bemestar”!

Não, medico nenhum me será tão fodão que imponha alguma restricção! Resista! Coma! Abbaixo a dictadura! A lucta tem um symbolo: FRICTURA!

SONNETTO PREGUICISTA [0427]

Não basta a dictadura da injustiça e vem a dictadura do magriça!

Cahimos no regime do exercicio, egressos do regime militar. Censuram a poltrona como vicio!

Dever, serão, cobrança, obrigação. Mal temos um tempinho de lazer e os nazis o nariz querem metter, impondo-nos esporte e malhação.

O tempo é precioso. Desperdice-o! Sinão a gente ainda vae parar num eito, num presidio ou num hospicio!

Resista! Durma! Assuma esta premissa: A lucta tem um symbolo: PREGUIÇA!

DISSONNETTO PREGUICISTA [0427]

Diversas dictaduras, hoje em dia, nós temos que encarar, na correria. Não basta a dictadura da injustiça e vem a dictadura do magriça!

Ninguem mais tem direito de engordar! Cahimos no regime do exercicio, egressos do regime militar. Censuram a poltrona como vicio!

Dever, serão, cobrança, obrigação. Mal temos um tempinho de lazer e os nazis o nariz querem metter, impondo-nos esporte e malhação.

Não, nada disso! Quero descansar! O tempo é precioso! Desperdice-o!

Sinão a gente ainda vae parar num eito, num presidio ou num hospicio!

Quem antes prohibiu pornographia agora a minha folga, até, vigia? Resista! Durma! Assuma esta premissa: A lucta tem um symbolo: PREGUIÇA!

DISSONNETTO VICIOSO [0500]

Poema lembra amor, que lembra charta, que lembra longe, e longe lembra mar, que lembra sal, e sal lembra dosar, que lembra mão, e mão alguem que parta.

Partir lembra fatia e mesa farta; fartura lembra sobra, e sobra dar; dar lembra Deus, e Deus lembra addiar, que lembra carnaval, que lembra quarta.

A quarta lembra trez, que lembra fé; fé lembra vida nova, eterno thema que lembra fecundar, que lembra gemma. A gemma lembra bollo, e este o café.

Café lembra Brazil, que lembra um lemma: progresso lembra andar, que lembra pé, que lembra verso, e o verso, si não é sem metro, a gente lembra do poema.

DISSONNETTO CONTRARIADO [0541]

Por ser o cedo tarde e o tarde cedo; por ser tarde a manhan e a noite dia; por ser gostosa a dor, triste a alegria; por serem odio amor, coragem medo;

Si o plagio é mais invento que arremedo; si exprime mais virtude o que vicia; si nada vale tudo que valia; si todos ja conhescem o segredo;

Por ser duplipensar barroco a lingua; por nunca atter-se alguem ao seu mester; por menos ter aquelle que mais quer; si a falta excede e tanto abunda a mingua;

Por nunca estar o nexo onde estiver e nunca a dor partir donde for ingua, desdigo o que fallei e a vida xingo-a de morte, si é cegueira luz qualquer.

DISSONNETTO PALINDROMICO [1145]

A lingua inverte exemplos tão mundanos que, como no palindromo “É, de fato, {“fato” por “facto”} xoxota fede” (até mais que um sapato) ou “Sapata ama a tapas”, poupam pannos.

Alguns me intrigam, como “Até cubanos mettem só na buceta”, onde constato que muito genital pincta-se um acto de foda: sempre a vulva e nunca um anus.

Gustavo, um joven sadico, varia e allude a mim: “Ô, dá-me, Glauco, o cu, algemado!”, provando que sabia, alem de definir-me, expor-me a nu.

O bom palindromista a poesia achou, por traz me pondo seu peru. Palindromos, portanto, quem os cria não pode respeitar nenhum tabu.

DISSONNETTO DO ADOLESCENTE COMMEDIEVAL [1207]

Serei, de agora em deante, vosso rei, vassallo masochista! Eia, humilhae-vos! Perdei, de vosso orgulho, quaesquer laivos! Meus tennis descalçae, e os pés lambei!

De agora em deante, vosso rei serei! A subdito meu serdes condemnae-vos!

De orgulho, de quaesquer laivos livrae-vos! Lambei meus pés, que os tennis descalcei!

Vós fostes cavalleiro, e agora sois forçado a me tractar como deveis! Portanto, seguireis as minhas leis! Augmenta a hierarchia entre nós dois!

Tractar adolescentes como reis vos cabe! Mandarei agora, pois! Curvae-vos! Não deixeis para depois meu beijapés! Ja tenho dezeseis!

DISSONNETTO DA DEVASSA VASSALLAGEM [1208]

Sim, joven, eu serei vosso vassallo! Tractar-vos-ei com maxima humildade! Sollícito, farei tudo que aggrade ao vosso pé: calçal-o e descalçal-o!

Lamber vossa frieira e vosso callo é minha obrigação! Vossa vontade farei até que, um dia, ella se enfade da lingua que na vossa sola rallo!

Si tendes dezeseis, ao que mandaes terei de obedescer, pois sobre mim podeis bem mais que sobre vossos paes e nada poderei achar ruim!

Podeis vós dar risada dos meus ais! Fui, hontem, cavalleiro e espadachim, mas hoje sou, dos jovens joviaes, o servo masochista que a ser vim!

DISSONNETTO TRANSSUBSTANCIAL [1223]

Rimbaud quer que a vogal tenha uma cor, mas vejo, na cegueira, que o logar das vocalizações é o paladar e busco, si as degusto, seu sabor.

Tambem as consoantes podem pôr tempero na palavra e alimentar matizes nesse molho elementar que não tem só papel decorador.

“A” lembra “sal”, e o “L” lambe o labio. “E” sabe a “mel”, e o “M” mella a mão. O “Q” quer ser só “queijo”, mas pimpão.

“I” vê na “lima” o amargo, e a lingua sabe-o.

“O” tem sabor azedo, qual “limão”. Um “S” é “sopa” e pede que alguem gabe-o.

“U” prova que o poeta, como um sabio, faz “uva” virar vinho, e verso, pão.

DISSONNETTO DO SOBRENOME FAMILIAR [1378]

Gonçalves, Alves, Nobrega, Sylveira, Rodrigues, Albuquerque, Valladares, Fonseca, Magalhães, Abreu, Ferreira, Medeiros, Guimarães, Queiroz, Linhares…

Sampaio, Sylva, Souza, Sa, Siqueira, Limeira, Telles, Tavora, Tavares, Antunes, Borges, Lopes, Oliveira, Almeida, Castro, Fontes, Vaz, Soares…

Na lista telephonica procuro um nome aleatorio. Assim, no escuro, folheio, pullo paginas, a esmo. Aos poucos, tenho menos enthusiasmo.

O dedo, emfim, excolhe. Faço um risco abbaixo e, quando o numero ja disco, percebo que liguei para mim mesmo e vejo que perdi mais um orgasmo.

DISSONNETTO DO PESADELLO BIBLICO [1435]

Às margens do Mar Morto está Sodoma. Gomorrha fica perto. De má fama são ambas: quem não quer que alguem lhe coma o cu, la seus poemas não declama.

Um bardo que conhesço e, de glaucoma ja cego, tem visões, cahiu da cama sonhando que la chega e logo toma no rabo, chupa rolla e nem reclama.

Poemas recitou, só sobre thema sacana, que fetiches não sublima. Se expoz, accreditando que alguem tema um bardo bom de metro e bom de rhyma.

Inutil! Suas glosas, de uma em uma, vaiaram! Não havia, mesmo, um clima… Agora, si lhe peço que resuma a historia, diz: “Gozei, ‘inda por cyma!”

DISSONNETTO DO ORGULHO REVOLTADO [1500]

Brazil lembra floresta, e esta a bandeira. Bandeira lembra clube, e clube a bolla, que lembra pé, que lembra o que elle cheira, que lembra queijo, e queijo o gorgonzola.

O queijo lembra um doce, e este a doceira, que lembra assucar, e este o que o controla: dieta lembra a gorda e a terça-feira, que lembra feriadão, que lembra eschola.

Eschola lembra livro; o livro, a cappa, que lembra a nossa patria tão servil, que lembra quem nos rouba e quem excappa, que lembra um muro e um tiro de fuzil.

Fuzil lembra uma balla, e esta uma agulha. Agulha lembra a aguda, a vil, subtil inveja dalgum gringo que se orgulha e orgulho é o que mais falta no Brazil.

DISSONNETTO DO RATTO GRATO [1573]

Nojeiras são, em these, o lixo e seu fedor. No estomago o que pese mal faz, seja a quem for.

Si exsiste quem despreze morango com bolor e azeda mayonnaise, ao ratto faz favor.

Não ha, no Nickel Nausea, materia má que cause a repulsa, algo grottesco, nem thema a lhe dar asco.

Mas bem que elle approveita si a boia está bem feita, com tudo limpo e fresco, assim como eu a tasco!

SONNETTO DA MULA PRETA [1587]

Pediu-me um molecote que eu faça-lhe um sonnetto {sic} fallando, este é meu motte, do pé que tem… Prometto!

Agora cumpro: o dote no qual meu nariz metto fará com que eu adopte humor, não negro, preto!

Occorre que seu pé é longo, mais até que o penis que ora engulo.

E como é dum cavallo o penis, vou cantal-o depois do pé do mulo.

SONNETTO DO HEROICO QUEBRADO [1588]

Chamado de “quebrado”, o heroico só tem meia no pé, mas figurado é o termo que o nomeia.

Seis syllabas é o dado que põe à prova a veia poetica, coitado, do bardo, que isso odeia!

Emfim, fazer o que, si aquelle que me lê não quer meu deca cheio?

Só resta calcular do artelho ao calcanhar e ver si exsiste um meio.

SONNETTO DO TRIMETRO ANAPESTICO [1601]

Quem tem nove tem sempre um a menos na comptagem do deca-padrão. Mas quem disse que versos pequenos significam menor proporção?

Si Bilac até nesses terrenos conseguiu exaltar o pendão, “menor arte” nem só nos amenos uffanismos terá minha mão.

Basta um unico thema, que move meu sonnetto e, na prova dos nove, mostrarei como o pé me controla.

Basta um pé chulepento de macho e verão como ja me despacho com a lingua, medindo-lhe a sola.

SONNETTO DO DIMETRO DIJAMBICO [1602]

Mais facil é chamar, então, “tetrametrão”, si é jambo o pé, mas o que faço num pezão nem só comptinha dessas é.

Em vez de achar occasião para fallar da minha fé, do meu amor ou da nação, sou fescennino, chulo até.

São oito as syllabas, mas dois os pés do verso todo, pois quebrado o sapphico redunda.

Mas o que importa é que a serviço dalgum pezão vou usar isso, quando lamber-lhe a sola immunda.

DISSONNETTO DA COMPTA REDONDA [1603]

Septe e septe são quattorze, que não rhyma com mais nada, a não ser que a gente force uma rhyma approximada.

Mas quattorze, a gente torce que complete esta forçada tentativa, que distorce uma rhyma, mas aggrada.

Redondilhas são molleza e uma trova temptação quando a gente faz defesa do mais sordido calão:

Merda, porra, cu, caralho, bronha, mijo, cagalhão, pau, boceta… e meu trabalho ja accabou! Se foder vão!

SONNETTO DO PAR VALSANDO [1604]

Differente daquillo que se faz quando o deca nos permitte scindil-o, este verso não pecca.

Si quebrado, é tranquillo percebermos que a breca leva o rhythmo: mas fil-o mais veloz, mais sapeca.

Está dando este pé impressão, creio até, que uma valsa assim fosse.

Quando a lingua lhe for degustar, o sabor será duplo, agridoce.

DISSONNETTO PARA UMA CONFISSÃO PERDOAVEL [2353]

Ai, padre…! (a peccadora diz) Eu fiz besteira! {Então, que foi que você fez?}

Xinguei o meu marido, desta vez!

{De que?} De corno manso! {Que me diz?!}

{Só isso?} Sabe, padre? Eu tambem quiz mactar o meu gattinho siamez…

{Por que?} Quebrou meus potes de patês!

{Que mais?} Bem… practiquei uns actos vis…

{Quaes actos?} Eu… trepei com um rapaz…

{Rollou tudo?} O senhor mesmo deduz…

{Então foi pela frente e foi por traz? O gajo comedor será de cus?}

Perdão eu peço pelo obsceno, mas…

Até na bocca, padre! {Oh, meu Jesus!

Peccou demais, menina! Va em paz, mas volte à noite: eu deixo accesa a luz…}

DISSONNETTO SOBRE UM RISO RASO E UMA FENDA FUNDA [2882]

Eu quero ser o riso e ser o dente. Eu quero ser o dente e ser, tambem, a faca, a faca e o corte, um corte bem profundo, bem vermelho e sorridente.

Sou raiva, sou vaccina, sou somente o espaço entre o que é sem e o que contem, a briga do que vae com o que vem, de espelho e luz, de passaro e semente.

Meu berço, eu faço e fiz na viração. Na tempestade, appenas, addormesço. Descanso só si estou no furacão. Não tenho nem patrão, nem endereço.

Não faço nem poema, nem canção. Fazer, no som, nonsense, tem seu preço. Alguns ja me entenderam, outros não. Um dia, eu vingo, eu cresço, eu apparesço.

DISSONNETTO SOBRE UMA PONCTUAÇÃO REVISADA [2922]

Amor como o teu {virgula}, ó rapaz, é foda {exclamação}! Original não foste {poncto e virgula}; banal {virgula}, todavia não serás!

És {interrogação}? Sei que és capaz de amar-me “pacas” {aspas}, mas de tal amor, remunerado a vil metal, estás de sacco cheio, não estás?

Parei e (entre parentheses: fiz bem) com essa michetagem {reticencias}… pois ando, ultimamente, sem vintem. Parei {poncto final}. Ha divergencias

no modo de transares, pois tu nem me pisas! Frustras minhas preferencias!

Disseste {travessão} -- Estou eu sem um puto! Todos nós temos carencias…

DISSONNETTO SOBRE UM IMPOSTOR QUE FOI EXPOSTO [3015]

No alexandrino uma canção eu vou compor, esse compasso em que um sambista foi o tal, para contar que elle jamais se sahiu mal quando fingiu que tinha fama de pinctor.

Sim, simulando arte moderna, foi expor todo seu genio original na capital. Pinctou triangulos redondos, um oval quadrado, e um quadro pagou caro o embaixador.

Fez as pincturas só por fora da moldura, usou só cubos, allegou que, assim, mais “sente” e impressionou desde a madame ao presidente. Ganhou prestigio, que em Brazilia ‘inda perdura.

A conclusão é das mais simples: muita gente manja o malandro, mas a farsa não dedura nem desmascara, nos “modernos”, tal postura para às vanguardas parescer intelligente.

A FALTA DA MALFADADA [3025]

Tormento indescriptivel é compor uns versos sem emprego do primeiro dos signos do Occidente, o tempo inteiro fugindo si elle surge, esse oppressor!

O cerebro se expreme, sente dor. No exforço, o desespero eu, tenso, beiro: nem quero ser do molde prisioneiro, nem posso me eximir desse fervor.

O minimo dos dedos, o que escreve no poncto extremo e esquerdo em que eu digito, me impede de querer ser um perito, se ommitte do serviço… Entrou em greve!

Concordo, é bem difficil ser bonito um mero poemetto, mesmo breve, um simples verso, sem o limpo, leve som dentro, porem nisso é que eu me excito!

SONNETTO SOBRE OUTRA DUPLA IDENTIDADE [3030]

Bem vão: teem chão. Sem mão, quem são? Nu, tu és, pois, dois pés!

SONNETTO SOBRE O PASSO DO ELEPHANTINHO [3031]

Não farás, Satanaz, por minha mão, a versão que a gente faz sem medidas más daquelle palavrão!

Um poetico elephante não incommoda muita gente, a menos que manque, expanque e expante.

Um passo attraz e dois à frente, a metrica advança, claudicante, inconstitucionalissimamente.

A DONA E O DONO ou A MASOCHISTA E O CONCRETISTA [3085]

da merda merda merda merda mer ta bosta bosta bosta bosta bos o algoz o algoz o algoz o algoz o algoz ga enxerga enxerga enxerga enxerga enxer

mulher mulher mulher mulher mulher ta gosta gosta gosta gosta gos ta apposta apposta apposta apposta appos que quer que quer que quer que quer que quer

coprophaga coprophaga copro comida comidinha comidona phaga a mulher lhas herda contra e pro

coprophaga e masoca o cu sem do comi-lho o milho humilho o milho a conna fodi-lha e fi-lha a filha como a avo

BODE DADO [3154]

No martello aggalopado é decimal o metro. No galope à beiramar, onze ninguem extranha. Perguntaram-me, porem, si alguem propoz façanha mais exotica e dos treze quiz deter o sceptro.

Respondi: “Tá louco? Treze? Cruzes! Vade retro!” Mas depois fiquei pensando: “Não é tão tamanha empreitada que um bom bardo não domine a manha sem perder de vista o thema nem temer o espectro.”

Eis aqui, pois, Pedro Ornellas, como a gente pode conseguir com treze syllabas mostrar que cabe quasi tudo num sonnetto e, num barraco, um bode.

Si faltou alguma coisa, não farei que accabe o tercetto decisivo sem dizer que fode mais gostoso quem na decima terceira o enrabe!

DURO DE DAR DÓ [3241]

Fiz mais de mil, bem mais, mas não fiz um com tal pé, dum som só, que nem um pum!

Pois bem: si ter tal voz não me for tão bom, ah, não vou mais ter que dar de mim, tal qual um clown sem par, dois, trez, em vão!

Por mais que eu vil va ser, tal pé não vae dar dor num par de mãos sem dó nem lei. Quiz eu ser mais que um “pós”, sim, mas não sei si fiz tão bem qual fez dos “prés” um pae.

Va la, não foi tão mau ter, qual um cão, um pé nu, p’ra me dar taes ais, e eu vim a ser, aos boys, quem mais lhes deu um chão.

Mas tem que ter um fim, e bom tom dum vou dar, si, em vez do cu, der meu bumbum!

VOCALICA VOCAÇÃO [3366]

Questão mais alphabetica não ha: aberta é que a vogal idéa dá daquillo que na foda incluso está? Resposta promptamente tenho ja:

A foda se contenta e cabe em si. Curriculo da puta e do michê, o erotico é, tambem, do travesti: chardapio de quem coma ou de quem dê.

Exerce o mesmo officio, si é pornô, a lyra que um ephebo exhibe nu, comendo uma boceta, enchendo um cu de porra, ou qualquer bocca de cocô.

No affan sadomasô, proponho aqui: chupar pau é dever de quem não vê, mas, antes, lambe um cego o que eu lambi: artelhos, si o chulé for seu buquê.

Linguagem corporal jamais é má nem boa, appenas tactil beabá. Officio do orificio, a foda irá, fechando e abrindo, aonde a vogal va.

FELIZES DESLISES, PERIGOSO GOZO [3383]

Fugir à temptação é tentativa inutil, si o peccado nos diz sim. Pudera! De Satan ninguem se exquiva! Não ha mysterio nisso, para mim.

Malgrado um crucifixo, uma agua benta, Satan temptar-nos tenta, e elle consegue!

Quem tenta se exquivar, si o Demo o tempta, percebe onde ammarrou, ja tarde, o jegue!

Por mais que esteja attento ao attemptado mortal que nos expreita em todo cantho, não tarda e, da sereia, attende ao canto aquelle que exquivar-se tem tentado.

Nenhuma norma sancta se sustenta! Um cego asceta, mesmo que renegue a tactil temptação, suja e nojenta, irá para o Diabo que o carregue!

Não ha, para quem pecca, alternativa: poupar-se de peccar é que é ruim! Ou prova o que deprava, ou só se priva aquelle que prevê do mundo o fim.

AUTO PRO MOÇÃO [3409]

Meu coração por ti gela! Meus affectos por ti são! Ja que não posso amar ella, ja nella não penso, então!

Ja beijei a bocca della, que me disse: “Ja que tão pouca fé, depois, revela teu amor, tu me tens não!”

Francamente, eu acho peta que uma mão não se prometta nesse pappo tão sincero! Por que, então, ser tão severo?

Crê-me: ja passei por cada revés! Si excappei da amada, eu ca agora a ti, só, quero! Vaes-me ja deixar de lero!

OTORIDADE, MEU CUMPADE! [3723]

Uns exigem “coroné”, outros querem “seu dotô”: ser chamado elle não “qué” de titica ou de cocô.

Pode ser um lheguelhé, pode estar borocochô: num cacique ou num pagé elle tem tataravô.

Rico como um marajah, no poder o cabra está desde sempre, e herança ja deixa ao filho no bahu.

Folgadão desde gury, do povão o junior ri e, si a Lei diz “Venha aqui!”, falla “Va tomá no cu!”

ARITHMETICA METRICA (1/10)

(1)

[3901/3910]

Um é unico: o problema da unidade é que não basta. No algarismo está um dilemma: suppõe zero e, assim, contrasta.

Um é pouco: o dicto é thema preoccupante à mulher casta. Si ter filhos ella tema, casará com pederasta.

Handorinha só, não faz verão, reza o dicto, mas Elvis fez carreira solo…

Nas paradas, foi primeiro, mas ninguem o tempo inteiro se mantem, de polo a polo.

(2)

Dois é dupla e faz duetto. Dois, casando, geram vida.

Dois é cor, num branco-e-preto. Dois é peso e egual medida.

Dois é disticho e, em folheto, dá pelleja, caso aggrida.

Dois dá doce e, si é “Julieto com Roméa”, a troca é rida.

Dois dá rhyma e, si é parelha, no tercetto se acconselha, mas differe só na chave.

Si um é pouco, dois é bom. Eu, portanto, encerro com redondilha em verso grave.

(3)

Trez é numero, na Egreja, da Trindade, mas demais será, caso a compta esteja num dictado, entre casaes.

Trez é numero que enseja, na politica, os fataes “trez poderes”. Ha quem veja, forte, um quarto, nos jornaes.

Deu Patetas, Mosqueteiros… Deu, no podio, os trez “primeiros”, mas ninguem quer ganhar bronze…

Caso a lista tenha dez, se compara a alguem que aos pés não chegou, ficando em onze.

(4)

Quattro musicos dão banda. Quattro ponctos dão sentido. Quattro pedras tem quem manda todo mundo ser fodido.

Quattro gattos, propaganda si fizerem, são partido. Um quartetto, caso expanda seu som, Beatles quer ter sido.

Quattro estrophes, quattro rhymas: para tantas obras-primas esta formula se approva.

Mas, alem de, no sonnetto, commettel-a, outra eu commetto quando enquadro um thema em trova.

(5)

Quinctessencia, em poesia, não está numa quinctilha: o poeta sentencia que o que importa é a redondilha.

Preferencias, todavia, a menor não compartilha: da maior a maioria se utiliza e, nella, brilha.

Os sentidos foram cinco, mas eu choro, emquanto brinco, ja que um cego só tem quattro.

Dos infernos, vou ao quincto quando, em verso, horror eu sinto, ja que a dor não é theatro.

(6)

Meia duzia de pés tem um insecto alexandrino.

Por semestre compta quem cursa algum nivel de ensigno.

Sexta-feira, quando vem, dos azares me previno: triplicado, o seis alguem representa em meu destino.

Si os sentidos são só cinco, alguns cegos, com affinco, desenvolvem outro, o sexto.

No sonnetto ou na sextilha, um poeta que se humilha sempre encontra algum pretexto.

(7)

Septe notas toca a lyra. Septe pecca o mais cappeta. Septe é compta de mentira. Septe pincta quem diz peta.

Septe pragas quem attira joga o Egypto na sargeta. Septe anões ninguem confira nem na lenda se intrometta.

Os peccados capitaes não são septe: é muito mais! A peccar quem não me pilha?

Quanto às artes, é medida que, no verso, mais convida um poeta: a redondilha.

(8)

Ou é oito, ou seja oitenta: ou é decima, ou foi trova. Quem com menos se contenta faz oitava e põe-se à prova.

Uma oitava se sustenta só num epico! E uma nova epopéa alguem inventa assim facil? Uma ova!

Si serei octogenario, eu talvez, no anniversario, oito mil sonnettos tenha.

Hoje a verve me sobeja, mas, então, talvez não seja minha fé la tão ferrenha.

(9)

Nona foi a symphonia mais famosa, disse alguem de Beethoven fan. Se ouvia outra musica, porem.

Valsas, polkas, melodia facil tinham a quem tem pouco ouvido e se sacia com qualquer som que lhe deem.

Noves fora, o que nos resta dentre as artes, é o que presta, quer biscoito, quer bollacha.

No sonnetto, a mesma merda: no futuro, alguem nos herda os peores e bons acha.

(10)

Dez nos lembra mandamento. Decasyllabo, ao invés, não nos cobra cem por cento: dez artelhos dão dois pés.

Não! Dez mil eu não aguento sonnettar! Mas, attravés dos que fiz, eu, a contento, ja fiz muito e tirei dez.

Si na decima se glosa e em dez cantos Camões goza seu prestigio nas oitavas,

eu, agora, septe emprego, pois mais syllabas um cego não precisa: vão às favas!

BOLLANDO AS TROCAS [3995]

Quando o abscreto está contracto, faz dideio o que é rorecto. Si eu converto os dois, instato que ao intrario os conterpreto.

Si eu returo, num mixlato, um secabulo volecto com um bardido e sorato, sae inneto o socorrecto.

Quando as trocas alguem bolla, o deslão se cacontrola e o cacopato campheia na malavra, si for feia.

Desse leito, eu dou jogar, num expecime esemplar, a falavra até mais peia. Quem não laca que não seia!

ORAÇÃO DO PAGÃO [4117]

Satan, que estaes no Inferno, seja o vosso prophano nome egual a zero e esteja bem longe o vosso reino desta egreja na qual rezo, desfeita, ja, em destroço!

Pão fresco, todo dia, não vos posso pedir, que não me venha, de bandeja, aquelle que ammassastes, nem cereja no bollo pedirei, Padrasto Nosso!

Tambem não vou pedir que perdoeis as dividas que temos pactuado ha seculos, por meu antepassado, tamanha a temptação que offeresceis!

Só peço, ó Satanaz, estar zerado: livrar-me de cumprir as vossas leis; trocar, por meia duzia, seis seis seis; quitar, ficando cego, o meu peccado!

GRAPHISMO LYRICO, LYRISMO GRAPHICO [4519]

Magnetica prancheta eu tenho. Nella adherem do alphabeto as lettras. Cada qual forma seu relevo. O que me aggrada é que ella ao meu concreto senso appella.

É como si eu pudesse ver, na tela dum micro, o que digito e, digitada, surgisse uma palavra que, trocada por outra, inversa idéa desse e bella.

Limita-me e não dá quasi nenhum recurso: poucas lettras se repetem. Nem gothicas nem gregas ha, que affectem. Só posso armar o minimo e o commum.

Compuz, sem que mais metricas me vetem, “Versinho decasyllabo fiz um”.

Desdenho de quem, critico, faz “Hum!” e deixo que os leitores me interpretem.

TOSSE SECCA [4551]

Padesce dessa tosse que não passa o cego, esse estressado! Elle que engrosse a voz esganniçada, se alvoroce tossindo e sossobrando na desgraça!

Assim, passando susto, elle que faça exforços successivos quando a tosse subir, nos seus accessos, caso coce, em secco, a chorda sordida e devassa!

Sim, desassossegado estou à bessa, sciente do que disso ouço, possesso: Que soffra! Que soccorro o cego peça ao sancto, si quizer, mas sem successo!

Nos surtos dessa tosse que não cessa, não fosse essa fumaça que, confesso, só serve de consolo, a safra dessa soltura me assoprava pelo sesso!

BELLEZA SEM DEFESA [4661]

A linda poetiza não tem pejo de, errada, fazer rhyma, de usar “pau” rhymando com “gruppal”. Tem ella o mau costume de rhymar “beijo” e “desejo”.

Faz critica o jornal: não perde ensejo de nota dar-lhe baixa, ao menor grau. Bonita nem a achei, nem disse “Uau!” ao vel-a, nem tão má de lyra a vejo.

São tantos os que rhymam “bocca” e “louca”! Somente ella não pode, no canil, cadella ser tambem? Até “viril” ja rhymam com “chibiu” na voz mais rouca!

Eu acho que é despeito! O feminil perfil provoca hostil ardil e pouca justiça. Quem não dorme, emfim, de touca rhymou “Brazil” com “puta que o pariu”.

VERBALIDADE REVERBERADA [4677]

Si um phallo fella e falla que fellando esteve, o travesti tem tara escrava. Em trevas, quem se attreve a achar que estava fellando é o mais fallante do seu bando.

Comer cocô costuma, no commando, fazer o philisteu, mandando à fava quem queira questionar que elle deprava o escravo que, coprophago, está amando.

No verso, quem tem verve vê proveitos. Palavras parallelas, para lel-as, farei paronomasticos effeitos phoneticos, tal como ouvir estrellas.

No fundo, se confundem os conceitos e tudo tem taes tinctas. Tento tel-as em tela, ao ver nonsense em sons suspeitos, mas elles escapolem frestas pelas.

COISAÇÃO

COISISTA

[4777]

Que coisa! Quando a coisa está coisada, ninguem acha que as coisas coisarão. Deixemos, pois, as coisas como estão, que é coisa de um tantinho assim, mais nada.

Estou coisando tudo e, em breve, cada coisinha coisarei. Por isso, não preciso que me coisem. A questão é como descoisar a coisarada.

Melhor coisificarmos a coisinha que pormos a perder a coisa toda. Eu mesmo não descoiso muito a minha, sinão ja vão dizer que a “cousa” é “douda”.

Bem antes que essa coisa toda exploda, descoiso o que coisei! Alguem ja tinha coisado coisa assim tão coisadinha? Coisissima nenhuma! Que se foda!

IMPROSTITUCIONALISSIMAMENTE [4981]

Ficou fodidamente emputescida, putissima ficou, vaginalmente fallando! E, si a mulher puta se sente, inexporradamente não revida!

Revida, pois, no exporro e, caso aggrida o macho, machucado elle, analmente, não fica inenrabavel! Sae da frente, portanto, quem com femeas lindas lida!

Aquella de quem fallo, a mais ferrenha das antiphallocraticas, não deixa barato e, emmachescida, desce a lenha, pois superpredicados mil enfeixa!

Não ha quem “propudor” com ella tenha! Si, immasculinamente, o homem se queixa, mettido a desmetter, depois não venha recaralhalizar, pois perde a gueixa!

JOGANDO O JOGO DO JUGO [4999]

Bem antes que o glaucoma cause estrago total e que meu olho deixe cego, com outras morbidezas eu me pego ja desde cedo e dellas trauma trago.

Myopia, astigmatismo… Quando cago, o exforço até me engasga! Tusso, offego, e às vezes nada faço! Não sossego à noite e, pela casa, insomne, eu vago.

Disseram-me: ser cego é meu castigo. É these dos espiritas, que eu logo abbraço, masochista, ca commigo e, como menestrel, tambem advogo.

Missão toda cegueira traz comsigo. Si a regra desse jogo é dura, eu jogo com ella. Pago o preço, mas me obrigo a solas lamber: gozo, emquanto rogo.

CRENÇA SUSPENSA [5024]

Na roça, um céu de estrellas é bonito. Novella sem estrellas não tem graça. Bilac, ouvindo estrellas, tempo passa. Rennó lê nas estrellas algo escripto.

David, pelas estrellas, foi bemdicto. De esquerda, enchem estrellas uma praça. Natal exige estrellas: que Elle nasça! Maldicto, em más estrellas accredito.

Estou cego, não posso mais revel-as, mas lembro-me das ultimas que vi: brilhavam, scintillantes, taes estrellas e tinham brilho proprio, de per si.

As minhas, foi Satan quem, rindo, fel-as. Chamadas de “escotomas”, bem aqui, no fundo do meu olho, as vi: foi, pelas fugazes, breves luzes, que em Deus cri.

SI ALGUEM SONDA, HA QUEM RESPONDA (4) [5039]

Um joven saradão, que lucta e malha, fallou si para alguma coisa eu valho: “Verdade, Glauco? Alguns chupam caralho melhor por serem cegos?” E gargalha.

“Concordo! É mesmo, Glauco, é o que mais calha a quem ja não enxerga, esse trabalho: aos pés se adjoelhar do mais bandalho, cahir de bocca frente ao mais canalha!”

“Mas, Glauco, ja pensou? Fede o pentelho a mijo, fede a sebo o pau do filho da puta! E o cego, ou chupa, ou leva relho!” Graceja o garotão, e mais me humilho.

Sabendo que não fica nem vermelho emquanto, a rir, do dia goza o brilho, um cego não será, jamais, parelho dum normovisual, eis o estribilho.

RELENDO

CLAUDIO MANUEL DA COSTA (1) [5147]

Si Claudio Manuel da Costa é tido por grande sonnettista, não duvido. Consegue elle gastar todo um comprido sonnetto em thema quasi sem sentido.

Pretende elogiar o mais querido olhar que ja fictou e, no ruido de plasticos vocabulos, partido tomar quer desses olhos, commovido.

Depois de dois quartettos ter usado só nisso, dois tercettos, sem enfado, ainda vae usar, no thema dado, o grande menestrel appaixonado.

Ficou, no seu desejo, mais desnudo. Podia, todo o tempo, ficar mudo, mas falla e, no final, conciso e agudo, a estrellas os compara: disse tudo.

RELENDO VICENTE DE CARVALHO (2) [5162]

Tractando por “vós” sua ingrata amada, dizer nos vem Vicente que não muda jamais de opinião a cabeçuda, que batte o pé, que teima vez mais cada.

Vicente não appella ao chulo. Nada impede que eu appelle, porem. Muda não fica a minha lingua si “Caluda!” escuto de mulher bella e mimada.

“Caralho! No cu vosso tomar ide! Que vos pariu à puta deveis ir! Pensaes que sois quem tudo aqui decide? Pensaes que irei tal coisa permittir?”

“Sois, porra, menos util que cabide! Sois burra como a peste! Eu, que fakir não sou, vos não supporto! Meu revide será, vereis, foder-vos! E vou rir!”

PARECHEMA QUEIMADO [5262]

Quem acha chato um echo collocado no meio do meu verso, vê que, em bando, se aggruppa parechema, machucando o proprio prioritario do recado.

Começa a caçar syllabas que, ao lado de eguaes, possam sambar, barrando e errando, por todo o contehudo do que eu ando compondo, e todo o angu terá queimado.

Ha nisso só som sonso que me encuque? Bobagem! Gente grande dedos mette em emphases sonoras, sem que o truque seus versos prejudique e o senso affecte!

Não temo moda alguma que machuque um verbo bonitinho! Na internet não ha vate teclando ao Facebook. Só sobra um estrambotte tête à tête.

EXAME DE CONSCIENCIA [5280]

Pae nosso, que no Inferno estaes, que nome vos posso dar? De sancto, não, é claro! Não venha o vosso reino a nós, meu caro Papae, si infernal fogo vos consome!

Vontade, caso seja a vossa fome de sadicas vinganças, eu declaro que tenho medo della! Não é raro topal-a pela frente! E o bicho come!

Aqui na terra, a gente pede pão e leva pau no rabo! Eu devo o cu e os olhos, propriamente, em termo cru, mas, quando vos imploro, choro em vão!

Cahir em temptação virou tabu! Peccar não tem siquer a redempção! Que faço, então? Vos peço algum perdão? Ou mando-vos dar rabo a Belzebuth?

CONCUPISCENTE EXORCISMO [5564]

Foi sadico! Foi tetrico! Foi tão erotico, grottesco! Foi funesto! Peor que um fratricidio, que um incesto! Foi hallucinação! Foi possessão!

Delirio. Pesadello. Uma sessão espirita. No leito, o mortal resto fodendo-se, fedendo de indigesto banquete diabolico, ou pagão.

Erecto cajadão. Funebre foice. Carnal, lubrico, lugubre caixão. Cadaver. Eskeleto. Assombração. Sepulchro. Tumba. Cova. Alcova. Alcoice.

Um corpo. Um corno. Um caso. Um casco. Um coice. Maccabra gargalhada. Voz dum cão.

Um ai! Um eia! Um murro. Um urro. Um não. Me venho! Vou gozar! Finou-se! Foi-se!

“SAPATA AMA A TAPAS” [5576]

E tu, quando umas lesbicas mencionas, chamal-as quererás de sapatonas? Si p’ra diversidade os olhos tapas, por certo não são ellas tuas chapas.

Amigas minhas duas são e connas teem ambas. Entre si, não são mandonas. Porem, os que na lingua não teem pappas as chamam de sapatas. Não excappas.

Aquella imagem dura de amazonas nem todas teem, nem todas valentonas são, como no palindromo. Más nappas mau cheiro tambem sentem nas priapas.

Nem mesmo certas putas, pelas zonas, imagem teem da nympha que ambicionas. Portanto, um ideal que nem nos mappas está, tão facilmente tu não pappas.

“É,

DE FATO, XOXOTA FEDE!” [5577]

Dos jogos palindromicos quem for adepto certamente corrobora a phrase repellente e sem pudor que expoz as genitaes duma senhora.

Até mesmo quem cheiros maus adora concorda que a boceta tem fedor terrivel, si cheirada bem na hora fatal, naquelles impetos de amor.

Quem for da cunnilingua fan suppor irá que nada altera nem peora aquillo que se espera do sabor lambido, a peixe podre egual, embora.

Porem, na má graphia que vigora agora, na “chochota” xiz foi pôr quem “facto” grapha “fato”. Os erros fora, fazer não vou juizo de valor.

“OH! NO PÉ ME PONHO!” [5579]

Em termos de palindromo, o poeta dispõe de mathematico instrumento que pode, eventualmente, dar sustento a ambiguo senso ou synthese indirecta.

Assim, aqui tal phrase se interpreta nos dois sentidos: nobre, quando eu tento suppor que num pé metrico me assento, e pobre si em postura baixa, abjecta.

No caso principal, o que me affecta somente se refere ao movimento syllabico, si estou ao rhythmo attento, e tenho o molde fixo como meta.

Porem, quando colloco-me em completa e reles submissão a um chulepento pezão, me torno o bardo que, a contento, performa a perversão feito um estheta.

“E SUBA, E ME ABUSE!” [5580]

Subir, neste palindromo, podia ser, para mim, pisar minha cabeça, mostrar ao cego aquillo que meresça alguem que se dispõe à putaria.

No “trampling” este gesto propicia completa submissão de alguem que desça à baixa posição, duma travessa solinha ou dum solão sob a follia.

-- Em cyma de mim suba! Ande na via recurva do meu corpo! Pela advessa e torta direcção, me torne espessa camada de soalho ou lage fria!

-- Abuse de mim! Faça a allegoria da phrase ser verdade, que accontesça um acto que jamais o vate exquesça! Transforme esse vil motte em poesia!

ODE COPROCTAL [5581]

Palindromos me excitam. Um me toca: “O cu toco! Cocô cotuco!” O odor no dedo fica. Alguem, claro, se choca. Estou é nem ahi. Sou chulo auctor.

Si cego ja fiquei, que perco a cor saber me basta. Aqui na minha toca trancado, algum prazer é de suppor que eu tenha, si o leitor não for boboca.

Portanto, curto, quando não a coca, o coco ou outro doce de sabor guloso, o meu cocô mesmo, que, em troca, me brinda com seu typico fedor.

Aquelle que boboca aqui não for na certa percebeu que quem colloca o dedo no cu cheira do Senhor a Sua melhor obra, que Elle invoca.

“ELLE PODE, POR ACASO, SACAR O PÉ DO PELLÉ?” [5582]

Pelé não tem dois eles. Acho chato. Palindromos dependem da graphia errada, a reformada. Mas eu tracto de pol-os, mesmo assim, na poesia.

Saquei, sim, do Pelé seu pé. Formato normal tem elle, embora a Xuxa ria dum pé que diz ser torto. Desaccapto paresce-me: despeito da tithia.

Garrincha, sim, teria, ao que constato, pé torto. Porem Elza nunca chia. Estive, ja, com ella. Que contacto bacchana que foi! Tive essa alegria!

Contou-me Elza: cortava de seu gatto as unhas do pezão. Talvez um dia eu corte as do Chulapa… Mas, de facto, somente em sonho o lance rollaria…

“É

PEOR A TARA DA RATA: ROE PÉ!” [5583]

Bem, “ratta” lettra dupla tem. Porem, precisa, no palindromo, ter uma, appenas, pois sinão a coisa sem effeito vae ficar, se desarrhuma.

Mas vamos ao que importa. Fallou quem que pé roer é tara? Coisa alguma, não é tara! Magina! Não é nem siquer um abnormal fetiche, em summa.

Eu mesmo tenho tara que desdem maior, muito peor, se me advoluma na critica academica: me vem o orgasmo quando um pé sobre mim rhuma.

Tesão, ao meu, egual, bem poucos teem. Daquelle que, pisando-me, se appruma, eu lambo o calcanhar, o dedão, em total transe… Ora, a ratta que se assuma!

ODE À SATYRIASE [5584]

Palindromos propondo, um ja se gaba: “O Zé dá dez, ó!” -- falla, muito affoito. Indago-lhe: {O tio Zé dará dezoito?} O satyro tem fama alli na taba!

Ignoro si Thio Zé tambem enraba ou molha só de frente seu biscoito. É facto que erecção elle tem braba, daquellas que supportam muito coito.

Caralho! Tal tesão, que nunca accaba, eu sonho ter tambem, porem me ammoito, sabendo que não é qualquer vagaba que quero que pernoite onde pernoito.

Sem phallo onde expalhar a minha baba, às vezes sou eu mesmo que me açoito. Mas basta do Thio Zé levar biaba, que eu abro o meu cabaço e não me accoito.

ODE À BOCCA PEQUENA [5585]

Dizendo “Roda, cu de educador!” Alguem fez um palindromo que nua porá a reputação do professor que em meio a seus alumnos se insinua.

Será verdade? Pode alguem suppor um mestre tão discreto, que vem sua materia leccionando com louvor, o cu vulgarizando pela rua?

Duvido. Talvez seja só rumor. Algum alumno senta-lhe tal pua, quem sabe, reprovado… Mas a dor desforra quem os outros prostitua?

Não posso prejulgar. Vae que, si for olhar bem direitinho, o cara actua tal como eu proprio actuo: chupador sou, mas dou sim, tambem, si estou de lua.

QUADRO DESEMMOLDURADO [5933]

Repenso, ao ver-me em lapides vazias, o pulpito que os passaros comforta. Na cama quente, a vibora ja morta dos tympanos rodeia as flores frias.

Tricyclos e charrettes fugidias percorrem a afflicção da rua torta. Talvez a confusão seja o que importa nos casos de fraternas cantorias.

Na salla, sobre as cinzas da terrina, scintilla a verde perola madura. Jamais transparesceu tanta amargura dos rollos de papel sem margarina.

Mas eis que, devolvendo o que rumina, o velho camponez ja se segura no throno dos afflictos e, com pura tinctura de morango, o show termina.

MISCELLANEA DA PASSAGEM [6012]

Na Terra a gente passa. Alguem se salva? Pensando no Neil Diamond, tambem faço a minha lista branca neste espaço. Mas fica a Terra, fica a Estrella d’Alva.

Lamarca, Lampeão, Senna, Tancredo, Chacrinha, Tiradentes, Golbery, Golias, Calabar, Noel, Loredo, Dolores, Irman Dulce, Hebe, Dercy…

Millor, Filinto Müller, Azevedo, Elis, Nara, Raul, Satan, Fleury, Getulio, Janio, Plinio, Figueiredo, Garrincha, Ary, Vavá, Jobim, Didi…

Cazuza, Padim Ciço… cada, a dedo listado, de passagem por aqui, seu prazo consummou, mais tarde ou cedo. Inglorio ou não, meu tempo não perdi.

PARES [6242]

“Amar é…” Ja pensaste, Glauco, nessa questão? Ja completaste a reticencia? Qualquer menestrel classico que vence a pieguice encontrará resposta à bessa!

Só vale responder o que interessa a amantes, namorados: “paciencia”, “saber ouvir”, “lembrar não só na ausencia”, “fallar logo; pensar, porem, sem pressa”…

Tu, Glauco, que és poeta, certamente virás com um conceito breve e bello. Que tarde ‘inda, a ti nesta lyra appello: Não deixes de brindar, com graça, a gente!

Somente isso, Glaucão? Ficas contente com outra phrase nesse teu martello: “chulés compartilhar num só chinello”? Mas como? Quantos pares tens em mente?

PIMPOLHO BEM CREADO [6509]

Disseram, caro Glauco, que não valho um puto, que não passo dum pentelho! Não achas um insulto que parelho não ha para xingar alguem, caralho?

Concordas que não posso de paspalho chamado ser, carissimo? Um fedelho qualquer, que nem siquer se vê no espelho, me insulta assim? Se toque, esse pirralho!

Eu, quando offendo um gajo, bem excolho os nomes que não causem tal engulho aos cerebros distinctos! Eu vasculho a lingua, sou cultissimo pimpolho!

Portanto, meu querido, si de filho da puta me chamares, meu orgulho tu feres! Dormirei com tal barulho? Jamais! Por um cegueta não me humilho!

CERTIDÕES DE BAPTISMO [6521]

Terá nome ideal um veadão?

Cacophato não houve mais feliz: Jacintho Pincto Aquino Rego, diz quem queira baptizar pelo calão!

Em sendo um alpinista, à mente vem o nome que estaria apprimorando a sua profissão: Caio Rollando da Rocha, campeão como ninguem!

No martello, colloco o motorista condizente: Prudente Passos Dias Aguiar, que confirma as theorias mais fataes de quem vive pela pista.

Si for decorador, pelo Natal, que cuide dos presepios, se deduz: Armando Nascimento de Jesus! Glaucão, meu trocadilho ornou? Que tal?

REPALINDROMIZANDO [6871]

Mais este bom palindromo se somma a alguns que de mim deram testemunho, agora pelo Fabio Aristimunho: “Amo cu! Alguem ama meu glaucoma?”

Não digo que desejo que me coma alguem por via anal, nem com o punho penetre-me, mas nunca me accabrunho com certas allusões neste idioma.

{Gustavo, um joven sadico, varia e allude a mim: “Ô, dá-me, Glauco, o cu, algemado!”, provando que sabia, alem de definir-me, expor-me a nu.}

{O bom palindromista a poesia achou, por traz me pondo seu peru!}

Assim sonnetizei eu, certo dia… De novo o cu quebrar vem um tabu!

THESE DE MESTRADO [6969]

Jamais com a cegueira se preoccupa aquelle que não lia com a lupa até perder a vista. Aqui se aggruppa, das suas ordens, uma catadupa:

A perda foi total, Mattoso? Chupa! Os olhos sem defeito os tenho! Chupa! Sentiste? Tem fedor meu lenho? Chupa! Os cegos me despertam gozo! Chupa!

Teus olhos eu quiz ser quem vaza! Chupa! Qual rolla mais fedeu que a minha? Chupa! Achaste essa missão damninha? Chupa! Farás o que, Glaucão, me appraza! Chupa!

Ceguinho que melhor se preze… chupa! Os cegos eu, com gosto, os lanho! Chupa! Darás de lingua, Glauco, um banho! Chupa! Ficou bem demonstrada a these? Chupa!

FÉ DEMAIS NOS ABNORMAES, FÉ DE MENOS NOS AMENOS [7136]

Em Deus Pae creio, todo poderoso, da Terra creador, do Céu tambem, alem dos ares putridos que tem qualquer corrego urbano malcheiroso!

Num Filho delle creio, que tem gozo sabendo que soffrer à Terra vem e tenta accreditar que, num Alem futuro, o seu viver será gostoso!

Que estamos mergulhados num total inferno de cocô, feito um exgotto a céu aberto, creio tambem, ropto nas vestes, por signal lavadas mal!

Emfim, creio num feio mappa astral e, como nunca fui um bom garoto, não creio que peidar, soltar arrocto, cuspir no chão, e tal, seja abnormal!

O BRADO DO BARDO [7199]

Eu grito quando estou sentindo dor. Mas pode este meu grito dar logar ao verso, ferramenta de esculptor. Com arte tambem posso reclamar.

Eu grito quando os outros luz e cor enxergam e ‘inda curtem meu azar. Não é que da dor seja fingidor. Dor sinto ouvindo um outro gargalhar.

Eu grito por perder esse prazer de ver, mas tambem grito por quem grita por seus direitos basicos perder. Meu verso não sou eu só quem recita.

Eu grito por não ter tanto poder de mando quanto quem meus versos cita. Mas rio, ca por dentro, por não ter cagado o que elle come na marmita.

LIMEIRIQUE [7821]

De fazer uma twitteratura limeiriques se prestam à altura. Si comptar characteres for aquillo que queres, tens aqui cento e vinte. Arte é pura?

MANIFESTO COPROPHAGICO (1/6) [7870]

“Mierda que te quiero mierda” (García LOCA)

(1) a merda na latrina daquelle bar da exquina tem cheiro de batina de botina de roptina de officina gazolina sabbatina e serpentina

(2)

bosta com vitamina cocô com cocaina merda de mordomia de propina de hemorrhoida e purpurina

(3)

merda de gente fina da rua francisca michelina da villa leopoldina de therezina de sancta catharina e da argentina

(4)

merda communitaria kosmopolita e clandestina merda metrica palindromica alexandrina

(5)

ó merda com teu mar de urina com teu céu de fedentina tu és meu continente terra fecunda onde germina minha independencia minha indisciplina

(6) és advessa foste cagada da vagina da america latina

MANIFESTO ESCATOLOGICO (1/11) [7871]

“Eh! Home, bosta de Deus!” (Mario de Andrade)

(1)

O homem é o unico animal que caga por vontade propria.

(2)

Cagar é uma das quattro finalidades do ser humano. Não me lembro de quaes são as outras trez.

(3)

Os direitos humanos chamam-se, pela ordem, fome, caganeira, tesão e somno. A liberdade de pensamento vem depois, isto é, no dia seguinte.

(4)

A merda e o pensamento são a materia da philosophia.

(5)

Em verdade, em verdade, vos digo: a merda é branca, porque tudo é branco.

(6)

No principio, era a merda.

(7)

La mierda es como la luz: una y varia; y como la naturaleza: una y fecunda; y como Dios: una y inmensa.

(8)

A merda é doce e amarga. Quando é doce, offende. Quando é amarga, excita.

(9)

Cagar é uma actividade do espirito. Porem, como o pensamento, não passa duma reacção chymica.

(10)

O mechanismo do pensamento é constituido de dados encyclopedicos: a repleção do colon sigmoide é seguida de uma invaginação deste no recto.

Ha a abertura do esphincter recto-sigmoideano e evacuação sigmoideana no recto.

O peristaltismo rectal envia as fezes para o esphincter anal.

Ha, concomitantemente, augmento da pressão intraabdominal por contracção do diaphragma e dos musculos abdominaes. Commando nervoso.

Reflexo: o estimulo é a distensão rectal.

Centro: medulla sacra e assoalho do quarto ventriculo. Fibras motoras.

Parasympathico hypogastrico.

Mas o reflexo pode ser controlado pela vontade.

(11)

Assim na terra como no cu.

POEMANIFESTO DA ANTIGYMNASTICA PREGUICISTA [7873]

Não basta um “viva e deixe viver”! Tem que haver detalhamento do bordão!

Tambem um “coma e deixe comer” vem ao caso, quando o medico diz não!

Talvez um “beba e deixe beber” bem se applique, quando alguem é beberrão!

Mais vale um “durma e deixe dormir”, sem barulho, quando o insomne tenta em vão!

Mas durma quem quizer e beba alguem aquillo que quizer! O comilão que coma, a gosto, quanto lhe convem!

Si alguem quizer viver, mesmo que pão lhe falte, seu direito tem! Porem, mactar-se poderá ser sua opção!

Emfim, ninguem por outrem vive, nem por outrem come ou obra o cagalhão!

Aquillo que é saudavel ao recem formado doutorzinho, ao ancião talvez mais sacrificio imponha! Zen nem todo mundo almeja ser! O Cão nem sempre é o mais malvado alli no Alem!

Em vez dum Zeus tyrannico e mandão, Prefere o satanista ser refem de alguem que sim lhe diga e mais razão encontra no peccado, ou mais obtem no vicio, que no medo ou no perdão!

Um outro diz a Juppiter amen!

Saudavel seja a mente em corpo são, mas quando alguem faz disso um nhenhenhen achando que sahude é malhação, um trouxa perde nisso algum vintem e ganha algum experto outro tostão!

Portanto, um movimento, ou dez, ou cem, ja faço tendo um garfo em minha mão ou mesmo sem talheres, pois susteem

dois dedos da comida uma porção!

Ao coppo que levanto é que se attem a quota de exercicio à refeição!

Não busco num bordel ou num harem o orgasmo que procura meu irmão! Jamais minha semente faz nenem, mas basta algum pezão ao meu tesão! Appenas esta insomnia me mantem poeta e preguicista, sem visão…

MANIFESTO RELATIVISTA [7892]

Na hora de dormir, a minha thia fervia alguma coisa a mais no cha. Si quero despertar, a luz do dia não pode me livrar da noite má. Não ha, como mamãe sempre dizia, bebê que nunca cague na babá. Quem come, nos botecos, porcaria cocô muito mais molle cagará.

Vovó dizia: “A gente deveria comer muita castanha do Pará!”

Mas come boia fria quem não pia tudinho em delação no Paraná. Alguem que na politica confia somente em trahidores votará.

Ninguem que com hypocritas se allia dirá que um senador está gagá. Censura, por aqui, não prohibia, em vez de “camarada”, “camará”. Mas como prohibir pornographia, si fosse “p’ra caralho”… “pacará”?

Quem pecha de incorrecto repudia não falla dum “mulato sarará”. Refere-se, porem, a quem sacia seu vicio como alguem que ao Cão irá.

Sahuda cortezmente e diz “Bom dia!” quem pode se expressar com um “Olá!” Mas, entre certos cultos, ficaria melhor para saudar um “Saravá!”

Não peçam que a qualquer enfermaria, nem para visitar alguem, eu va! Enganna-se quem, duma Academia fallando, diz que, emfim, me viu por la!

Tem gente que, sem sorte, da magia desfaz, dum talisman, dum patuá. Eu tenho um amuleto: putaria.

Não salva, mas mais damno não fará. Ja li muito gibi quando ‘inda lia. Akira lê mais livro que mangá. Aquelle que de mim biographia fizer, como pornô me pinctará. Guerreiros, nos momentos de euphoria, divertem-se jogando caxangá.

Escravos ja perderam a mania e nunca mais um delles jogará. Um dia, quem na moda se vestia usou seu chapeuzinho Panamá.

Mas hoje nem bonné tem serventia.

Topete toda gente exhibirá.

Melhor é ter choffer que ter um guia.

Peor é ter patrão que ter crachat. Mais vale ser “modello” que “vadia”. Quem hoje me derruba, cahirá. Quem soffre duma arachnophobia não pode viajar a BH.

Quem teme escorpiões depararia com tantos como nunca se verá!

Carnivoro jamais se delicia com nabo, rhabanete, nem cará. Vegano vi, comtudo, uma fatia comer de mortadella, às vezes, tá? O velho pescador, na pescaria, se serve de canniço e samburá. Quem pega peixe em rio podre enfia no sacco o que, ja morto, pegará. Faminto, uma panella achei vazia. Pipoca não achei, só piruá.

De gente sei que, farta, se enfastia de tanto comer verme, içá, gambá… Cocô por chocolate passaria. Urina ser bem pode guaraná. No sadomasochismo, de bacia si feita for a bocca, se encherá. Café, para excitar-me, é o que eu bebia e, para me accalmar, maracujá.

De rubro uma bandeira coloria, mas hoje nem siquer sei si é grenat.

Achei, ja, vinagrette na Bahia, em vez, no acaragé, do vatapá!

Recheio de maçan não caberia no frango, ou alho em bollo de fubá! Na secca do sertão, não haveria cadaver que não coma um carcará.

Si gosta de buchada, todavia, o povo, ora, não façam bafafá! Quem pensa numa facil utopia creou seu paraiso ou Shangri-La. Ninguem de seu paiz se ausentaria sobrasse pheijãozinho com jabá.

Diria quem conhesce economia que nada muito caro nem está.

Porem, quem caviar hontem comia agora nem mais come mungunzá.

Ganhar salario minimo queria quem ganha commissão de marajah? Querer vae quem só teve mordomia perder essa mammata? Kakaká!

Um sitio, a mim, nenhuma companhia jamais, em Atibaya, doará.

Si, um dia, commandar esta anarchia, apê nunca terei no Guarujá. Ankara capital é da Turquia, emquanto é, da Colombia, Bogotá. Mas para que saber geographia si um cego no seu mundo morrerá? Alguns encontrarão philosophia nas phrases do marquez de Maricá.

Maior curiosidade poderia causar o magistral FEBEAPÁ. Judeus, para affectar sabedoria, estudam o Talmud ou a Torah. Catholicos teem muita liturgia, que pouco, la no inferno, adjudará. O povo mussulmano, na follia,

tolera as brincadeiras com Allah. Mas pede ao Padre Ciço quem expia peccados, p’ra chover no Ceará. Segundo diz Jesus, theologia é para a grana a Cesar darmos ja. De accordo com Bilac, a poesia jamais para as paixões molde achará. Não creio que, na midia, a maioria se importe com tamanho blablablá. Certeza tenho: falta não fazia a logica na lyrica dadá.

Que possa algum poeta allegoria fazer! Um grande cedro ou baobab plantei, pois o poder da prophecia meu verso obra menor não creará. No Velho Testamento, antipathia dá para ter até por Jehovah. Ouvindo Rolling Stones, sympathia até por Satanaz para ter dá. Satan, de quem practica bruxaria, exige sacrificio no Sabbath.

Mas beija cus sem nojo quem phobia não tem do satanismo, p’ra nós ca! Na mente dum atheu, questão não ia fazer ninguem de Exu nem de Oxalá. Quem fé põe no zumbi, da cova fria nem perto chega! À noite, que dirá! De lobo quem, cagão, se refugia affirma ser crendice o boytatá. Quem teme lobishomens diz que mia la fora mero gatto, um angorá.

Na compta do Sacy, mythologia razão não dá si perna a menos ha. Nos versos do Mattoso, phantasia só vale si de sobra pés terá. Preferem uns caminha bem macia. Uns dormem na poltrona, no sofá. O cego vive insomne, em agonia que o tumulo, somente, encerrará.

Dispenso o funeral. Mais me cabia alguem que celebrasse um “Ulalá!” Não quero, juncto à tumba, a prece pia alli no cemeterio do Arassá.

LERDA EPHEMERDA (1/2) [8020]

(1)

Juninas festas sempre evocam minha cegueira, pois sou Pedro e sou nascido no dia desse sancto festejado. Mas meu anniversario me trazia maior preoccupação: quanto faltava p’ra que eu ficasse cego? Quantos annos ainda, até que eu macte em mim o drama? É muito melancholica a lembrança. Costumo conversar com quem me assiste, o espirito que, anonymo, é chamado de Pedro por mim mesmo. Quem será? Não disse, mas suspeito que elle seja tambem um menestrel. Fallo commigo tal como si com elle conversasse. Si alguem mais alto ouvindo nos está, por elle fallará, que escutarei, ficando o suicidio ‘inda addiado.

(2)

Serão juninas festas o meu lado sombrio mais sombrio, pois eu sei que estão a festejar como si ja pudessem advistar de Deus a face. Não sabem que vem delle só o castigo, que nada commemora quem festeja. Um cego certamente invejará aquelle que, feliz, não foi cegado. Um cego certamente está mais triste no dia de São Pedro, pois creança não é para sorrir. Hoje na cama eu temo o pesadello, temo os damnos que n’alma me provoca a treva brava. Espero o inferno astral, esta agonia passar, mas jamais passa algum passado emquanto não, emfim, me suicido. Por ora, aqui cheguei ao fim da linha.

ODE AO AEDO (1/6) [8154]

(1)

Alguem pode ignorar si foi amado. Bastante é que um amante ame em segredo. Nem sempre satisfiz minha libido si alguem me está fodendo ou si alguem fodo. Amor pode ser cego, surdo ou mudo.

(2)

Nem sempre é o melhor verso o mais agudo. Mais alto é um canto grave, mas nem todo. Às vezes mais aggrido sem ruido.

Mudez coragem pode ser, ou medo. Um grito não ouvido é mudo brado.

(3)

Surdez é como ouvir somente um lado. Cegueira é si erro vejo mas não cedo.

Não li si só decoro o que foi lido. Mais rico, mais se affunda alguem no lodo si lucro só procura sempre em tudo.

(4)

Utopico sou quando ja me illudo achando que alguem pode, sem engodo, entrar para a politica, partido fundar e se eleger. Enganno ledo! Pragmatico sou della si me evado!

(5)

Perguntam-me si quero ser lembrado mais como um menestrel ou um aedo, um bardo, um trovador, mas não duvido que o verso, seja ao lyrico ou rhapsodo, só vale como espada, não escudo.

Humor, parodia, satyra, desnudo principio teem: eu mesmo ponho appodo, num cego que perdeu, de alguem “fodido”.

Assim posso apponctar a Deus o dedo e ao mundo que creou, o desgraçado!

ODE CONSEQUENTE (1/5)

(1)

[8179]

Na bota, que tem sola de borracha, a lingua que lamber vae, como flecha se estica, sae da bocca, a poncta espicha. Quem calça a bota zomba, ri, debocha do cego, cuja lingua virou bucha.

(2)

O gordo, que é baixote, a rir excracha do cego a posição. Elle desfecha commandos humilhantes, pois, sem rixa, dum cego faz escravo, que a galocha lambeu e, com os labios, chupa, puxa.

(3)

Tirada a bota, appós ser baba a graxa, na chata sola o cego, que se vexa, pejado do vexame, lambe e lixa chulé de casca grossa. Alli se attocha a lingua, que mais lava que uma ducha.

(4)

Ao gordo, superior que, claro, se acha, um cego meresceu levar a pecha de macho deshonrado. O algoz só picha a falta da visão e, rindo, arrocha quem beija mais sujeiras que uma bruxa.

(5)

Só mesmo sendo cego alguem relaxa a poncto tal a lyra, que lhe fecha com aurea chave, e euphorica, a mais micha das odes, pois jamais o bardo brocha si mesmo o astral mais baixo desembucha.

ODE KABBALISTICA [8180]

O dia accorda pessimo? Bom dia! O trem descarrilhou? Diz que na linha está tudo normal a companhia! Vae mal a poesia? A culpa é minha! Quem rouba não roubou? Abusaria das leis quem condemnou? Quem ia vinha? Um jegue é professor? Philosophia lecciona? Palavrão é ladainha? Nazismo foi de esquerda? Putaria virou sermão de padre? Que gracinha! Villão virou heroe? Academia de lettras de politicos se appinha? Morreu o communismo? Viveria um Elvis ou Bin Laden agorinha? O medium negou tudo? Não confia nas midias sociaes a vovozinha? Beethoven bem ouviu sempre? Estaria fingindo o Alleijadinho? Do Caminha a charta foi apocrypha? Seria amarga a rapadura, azeda a vinha? Melhor duplipensar pensou quem cria prazer do masochismo? Me expezinha quem quer me elogiar e eu nem sabia? Feliz dia da falsa pegadinha!

ODE INNUMERICA (1/10) [8181]

(1)

Em ode kabbalistica, por um começa a nossa formula. Depois espero que resulte em deca algum.

(2)

É falso o dualismo? Por que dois extremos, ou oppostos, si trez fez um Dante, para darmos nome aos bois?

(3)

Santissima Trindade? Si são trez os deuses, transformemos em theatro o templo, Baccho ouçamos duma vez!

(4)

Quartettos são perfeitos? Mas si quattro quizermos, sem effeito fica o affinco e inutil esta estrophe, este obrar atro!

(5)

Menor a redondilha? Si só cinco as syllabas num verso eu medir, eis que perco um decasyllabo, outro brinco!

(6)

Sextilhas não são nobres? Mas teem seis versinhos os chordeis, que ja confetti merescem, si mais justas são as leis!

(7)

Septilhas tambem valem? Versos septe se incluem num folheto! Foi affoito quem disse haver auctor que a compta vete!

(8)

Oitavas teem tom epico? Mas oito eu uso até na satyra! Me prove alguem que, em oito, é feio o gozo e o coito!

(9)

Dos nove pedem prova? Ponho nove num verso, syllabando com trez pés, si quero que o formato se renove!

(10)

Mas, sendo franco, optei mesmo por dez comptadas syllabinhas no commum e mero deca, desse estro ao invés!

ODE AMBULATORIAL (1/24) [8189]

(para Loudon Wainwright, meu idolo no folk rock)

(1)

Ao medico vou. Elle diz: “Menino, quietinho fique, emquanto eu examino! Eu acho que não deve ser problema…”

(2)

Ao medico vou. Elle diz: “Meu joven, coisinhas desse typo se removem! Não fique preoccupado! Não exprema!”

(3)

Ao medico vou. Elle diz: “Moleque, melhor é que tão duro não defeque, sinão vae complicar todo o systema!”

(4)

Ao medico vou. Elle diz: “Garoto, você não vae perder o seu escroto! Pensou que é fim do mundo um apostema?”

(5)

Ao medico vou. Elle diz: “Pirralho, você não vae perder o seu caralho, mas nunca mais o prenda com algema!”

(6)

Ao medico vou. Elle diz: “Rapaz, eu acho que você tem muito gaz ainda! Falta, aos poucos, mas não tema!”

(7)

Ao medico vou. Elle diz: “Seu moço, será bem reduzido o seu almosso! Retorne à minha clinica em Moema!”

(8)

Ao medico vou. Elle diz: “Meu filho, vae tudo bem, não vejo um empecilho maior, mas volte, cuide desse edema!”

(9)

Ao medico vou. Elle diz: “Irmão, problemas de sahude communs são! Jamais desistir, sempre foi meu lemma!”

(10)

Ao medico vou. Elle diz: “Amigo, depois do seu exame é que eu me intrigo, mas jeito dá, não pense que é um dilemma!”

(11)

Ao medico vou. Elle diz: “Parceiro, seu drama até que é caso costumeiro! Nenhum mal faz o leite, nem a gemma!”

(12)

Ao medico vou. Elle diz: “Não, mano! Tão serio não paresce ser o damno! P’ra tudo tem a gente estratagema!”

(13)

Ao medico vou. Elle diz: “Querido, Não creio que será tão dolorido! Doendo, bastará um telephonema!”

(14)

Ao medico vou. Elle diz: “Meu chapa, não tema, porque desta você excappa! Motivo não será para que trema!”

(15)

Ao medico vou. Elle diz: “Meu caro, olhando o seu exame é que eu reparo que pode ser mais grave esse emphysema!”

(16)

Ao medico vou. Elle diz: “Patrão, não fique no local passando a mão! Assim ninguem resolve um erythema!”

(17)

Ao medico vou. Elle diz: “Cumpade, do caso ja advisei da gravidade! Porem contra a corrente você rema!”

(18)

Ao medico vou. Elle diz: “Collega, é tanta anomalia que se pega! Nem queira saber dessa mais extrema!”

(19)

Ao medico vou. Elle diz: “Você ficou chocado? Credito não dê às coisas que você vê no cinema!”

(20)

Ao medico vou. Elle diz: “Senhor, provoca, sim, a droga alguma dor, mas nada que tão alto o senhor gema!”

(21)

Ao medico vou. Elle diz: “Não, thio, tão grave não será, pois eu confio que nada vae furar o meu eschema!”

(22)

Ao medico vou. Elle diz: “Poeta, percebo que você não faz dieta! Verdade é o que contou no seu poema?”

(23)

Ao medico vou. Elle diz: “Ceguinho, eu acho que não resta algum caminho mais facil neste nosso duro thema!”

(24)

Ao medico vou. Elle diz assim: “Não chore! Tudo sempre tem um fim! Do corpo nada fica! A gente crema!”

RHAPSODIA CASTRIANA (1/6) [8368]

(1)

No baile do navio, o açoite estalla. Sorrindo, o capitão é quem lhes falla à noite, em pleno mar: “Gozemos destes negros prisioneiros! Vibrae rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dansar!”

(2)

Castro Alves diz que é sonho tal visão do algoz chicoteando os que alli estão dansando pela noite. Mas elle reconhesce que a viagem é longa. Divertindo-se, assim agem os brancos, tendo o açoite.

(3)

Alem de, num porão infecto, por semanas, viajar, ser do feitor joguete do chicote será fatal ao negro quando em terra chegar, ja que esse baile não se encerra naquelle naval trote.

(4)

Tambem no pellourinho o escravo iria dansar, quando a platéa de alegria vibrasse, gargalhando, Pois cada chicotada provocava na bunda rebollados. Bunda escrava, que usada foi, a mando.

(5)

Depois de a ter usado, o branco quiz censura ao carnaval, neste paiz, por ordem lhes impor.

Agora os negros mandam neste baile.

Só o cego, revoltado contra o braille, escravo é, sem ter cor.

(6)

O braille é como o tronco, o pellourinho, que nunca permittir o que escrevinho iria, si eu o usasse.

A bunda não rebollo, mas pé batto emquanto nestas teclas desaccapto a mesma rica classe.

RHAPSODIA

PESSOANA [8372]

Foi Alvaro de Campos quem fez essa maritima, terrivel ode, embora tambem calma, nostalgica, na qual o bardo vae, no porto, divagando. Tambem vou divagar. Elle começa navios descrevendo, dos de agora. Aos poucos, retrocede ao infernal dominio dos piratas, nem sei quando. Importa-me tocar no que não cessa, cruel, de incommodar-me: o que vigora no codigo dos mares e fatal se torna a quem refem foi do desmando. Commum, a quem os mares attravessa, é o berro de quem perde a vista. Chora, ou, como diz o Campos, uiva, tal e qual cachorro uivando, quando em bando. Gostavam os piratas, rindo à bessa, duns olhos arrancar, arrancar fora das orbitas, appenas pelo mal que, em gozo, practicavam… É nefando! Calculo, ca commigo, si interessa tal coisa pesquisar. Barasch ignora, tal como outros auctores, o gruppal prazer de quem estava no commando. Appós tomar, pilhar, não ha quem meça a sanha desses sadicos. Affora demais crueis supplicios, ritual virou enuclear, ver nego urrando. Cegados, os coitados ja sem pressa vagueiam a gemer. Nada melhora o quadro. Ja correram, carnaval fizeram. O scenario ficou brando. Depois, implorarão. Numa promessa qualquer ‘inda crerão. Alguem explora aquella vil cegueira. Sexo oral

alguem exigirá, delles gozando. Assim os interpreto, pois processa meu verso o que o leitor, sem culpa, adora da culta lyra: a abjecta bacchanal que Campos suscitou e que eu expando.

KALEIDOSCOPIO (1) [8417]

Relendo chartas com olho unico.

Delenda Carthago com olho punico.

Lenda escripta com olho runico.

Lente elliptica com olho conico.

Mente espirita com olho cynico.

Demente hysterica com olho clinico.

Semente hermetica com olho cyclico.

Serpente heretica com olho biblico.

Sentença enclitica com olho obliquo.

Substancia lithica com olho liquido.

Sciencia critica com olho logico.

Verdescencia cryptica com olho glauco.

Experiencia optica com olho cego.

DE DUVIDA (1/3) [8421]

“and there are no truths outside The Gates of Eden.” (Dylan)

(1) o dedo a forma o dedo mas a forma o debil dedo mas a fossil forma o sim do debil dedo mas o não da fossil forma da forma o não do dedo do dedo o sim da forma o sim o não o deformado deforma o centro o dedo, embora a fossil forma morre do lado de fora e o debil dedo vive do lado de dentro das Paredes do Craneo (2) a vida a grade a vida mas a grade a vigil vida mas a gracil grade o sim da vigil vida mas o não da gracil grade da grade o não da vida da vida o sim da grade o sim o não a gravidade gravita o centro a vida, embora a gracil grade morre do lado de fora e a vigil vida vive do lado de dentro das Paredes do Craneo

o dedo a vida a forma a grade a livre prisioneira a presa liberdade o circumscripto centro omnivolente, embora a realidade morre do lado de fora mas a verdade vive do lado de dentro das Paredes do Craneo

OITAVA PARA UMA ESCRAVA [8437]

Beber eu não exijo, como a merda que alguem comer mandei (e minha merda faz bollo secco e rijo), e ja que a merda me sabe ao que ja sei (pois de outrem merda comi ja), que meu mijo (e não a merda da qual me julgo rei) tu bebas (merda de mim que a custo allijo), tu, que és merda!

Eu mesmo o beberei! Ah! Puta merda!

SEXTINA PARA UMA BOTINA (1/7) [8443]

(1)

De André Vallias nunca lambi bota nem sei si pé pesado ou si pé leve tem elle, ou si teria de mim pena. O facto é que elle entrou na minha toca propondo algo que panno dá p’ra manga: fazer o que não é da minha compta…

(2)

Ou seja, uma sextina! Alguem me conta que é molde meio archaico e fé não bota no genero: prefere algum que leve mais rhymas e trabalho peça à penna. Eu proprio, pela parte que me toca, nem ligo e arregaçando vou a manga.

(3)

Chupei ja tantas coisas! Chupei manga, sorvete, pirolito… Perco a compta de quantas vezes lambo a mesma bota! Sonnetto, ja fiz muito! O Demo leve tal calice e dum cego tenha pena! Dansar vou outra musica que toca!

(4)

No rhythmo da sextina, só me toca palavras repetir. Si o leitor manga daquelle que assim age, leve em compta que sempre ovaes os ovos são, que bota a pata ou a gallinha, e sempre leve é sua penna, egual à minha penna!

(5)

Si pena tem André da minha pena, lhe peço que, ao sahir da minha toca, empreste-me a botina que, qual manga, chupar eu tentarei, vezes sem compta, até que brilho ganhe e que outra bota não brilhe tanto e tracto egual não leve!

(6)

Emfim, que uma sextina breve e leve me tome o tempo e occupe um tanto a penna, é fardo que me calha e que me toca.

Si deste resultado André ja manga e a todos feias coisas de mim conta, que importa? Na ferida o dedo bota!

(7)

Ninguem dum cego conta que lhe bota na cara o pé que o toca e delle manga, sextina sem que leve desta penna!

PHALLUX [8464]

Dedão da mão é “pollex”. A botina apperta um “pollex pedis”, que nomina, portanto, o “pollegar pedal”, useira maneira de dizer. Porem, na feira formal da anatomia, predomina o termo proprio, “hallux”, voz latina que calha ao grande artelho. Outra dedeira: “pé grego”. Que expressão alvissareira! Mais curto, o pollegar que me hallucina inspira a poesia fescennina. “Hallucido” me torno na cegueira si appalpo tal dedão num pé que queira provar minha massagem. Quem ensigna a technica que, holistica, elimina estresses, é um podologo que arteira mão usa, da mais ludica maneira. Não usa, todavia, a medicina podal a mão, appenas, pois na China tal reflexologia a fé ja beira, buddhista. Minha acção mais prazenteira será si, alem dos dedos, a supina funcção da lingua à practica se affina da tactil therapia. Mais inteira se torna a acção si os labios dão parceira adjuda à lambeção. A lingua mina saliva, lubrifica a pelle fina ou grossa duma sola que a canseira precisa alliviar num pé que cheira fortissimo chulé. Dessa divina hypothese me nutro e minha signa de cego massagista faz carreira. Mais chata a planta, quanto mais frieira se alloje entre os artelhos, mais canina e docil minha lingua se imagina que seja. Ah! Si o dedão tem verdadeira

e phallica figura, mais certeira seria a fellação que se destina ao cego, eis que abboccanho, na doutrina proposta, aquella analoga, primeira e logica accepção, bem “chupeteira”.

CONSOANTE ALGARISMO [8467]

Si um verso meu for fora do commum, poeta não serei eu qualquer um.

Si lyra for punheta, só depois do gozo sae melhor que feita a dois.

Si faço o que ninguem ainda fez, mais versos sahirão, em tempos trez.

Si desde que ceguei não fiz theatro, mais versos nus farei, a trez por quattro.

Si nunca neste officio perco o affinco, sentidos provarei ter mais de cinco.

Si em verso dos demonios sigo as leis, jamais prendo o meu pacto aos seis, seis, seis. Si a musa mais pedir que eu me punhete, mais pecco e, dos peccados, pincto os septe.

Si um normovisual me fode em coito oral, versos lhe estropho, de oito em oito.

Si manda a musa sadica que eu prove meu estro, ja terei prova dos nove: lamber, em decasyllabo, os seus pés dará, para meus versos, nota dez.

CLARIVIDENTE ESPIRITISMO [8473]

Constancio, de Bocage concorrente na fama audaz do verso fescennino prenome teve egual, Pedro José, ao meu, que sou da Sylva mas na frente Ferreira tenho. Como me defino, burguez não sou, tampouco da ralé, mas, sendo menestrel irreverente, me sinto um burguezinho pequenino. Ha Pedros e Josés de sobra. Até aqui, nada abnormal que se appresente. Comtudo, o cangaceiro nordestino mais celebre e cruel por todos é chamado Lampeão. Esse, egualmente, Ferreira foi, da Sylva. Virgulino, seu nome de baptismo, ponho fé que posso supprimir. Que tenho em mente? Supponho de Constancio, por destino, ser reencarnação que pelo pé trocou a tara, appenas. Evidente que, torpe e masochista tendo tino, do sadico sou parte e, marcha à ré fazendo num passado mais recente, um Lampe eu reencarno. Assim, assigno meu nome e sobrenome de Mané.

RESILIENTE MYSTICISMO (1/4) [8477]

(1)

Deu raiva quando a lampada appagada ficou a noite inteira, porque a luz cortaram de repente. Irado, nada rhymado no papel, à mão, compuz naquella escuridão accidental!

(2)

Deu medo, à tarde, quando os olhos nus mais nuvens viram negras e o trovão a chuva annunciou, fazendo jus à fama de Satan, de quem sou tão refem na escuridão do temporal!

(3)

Coragem deu, durante um appagão total sobre o paiz. Tanto perdura a força do regime como são meus versos transgressivos à censura emquanto a escuridão foi nacional!

(4)

Tristeza dá, passada tanta agrura e tanta insegurança superada, na hora de dormir, pois ninguem cura a gente da descrença, van mais cada vez, quando a escuridão é mais escura!

ATTENUANTE SCEPTICISMO [8486]

Não creio que você não accredite que disso não sabia nem estava até participando o tão amado gestor em exercicio do mandato! Ninguem que represente tal elite está por fora disso que se aggrava! Ainda que elle allegue ser do lado contrario, é responsavel por seu acto! Você diz que duvida que permitte o proprio tudo aquillo? Manda à fava tamanhas evidencias? Pois eu brado aos quattro ventos: Seja mais sensato! Talvez com o seu bolso esteja quite a sua consciencia, mas não dava mais para disfarsar o que do estado ganhou quem deu o clique em que eu não batto! Portanto, não me venha com palpite furado nem me faça cara brava! Fake news é só pretexto exfarrappado! Foi cumplice quem soube e riu do facto!

DESLUMBRANTE DESKABBALISMO (1/3) [8488]

(1)

Sessenta e seis, quarenta e quattro. Edade que tenho, que tem elle. Differença de vinte e dois anninhos. Quem não ha de curtir tal kabbalismo? Mas dispensa agora minha mente a paridade.

(2)

Nem numeros redondos, nem a crença nos pares me seduz o racional pendor, pois ha nos impares a tensa pendencia, a incompletude, ou intotal noção de nenhum prazo que se vença.

(3)

Quebrar o quadradismo me dá mal estar, mas algo nisso ha que me aggrade.

Pudera! Envelhescer é numeral comptado dia a dia, nem metade nem todo, unicamente, nunca egual.

CROCANTE TURISMO [8490]

Amigo meu contou que pode a gente fartar-se da melhor batata fricta do mundo só na Belgica. Contente não fico ao saber disso, si interdicta está toda viagem a quem sente saudade da visão. Mas me permitta o amigo suggerir que experimente achar em qual paiz quem accredita num optimo ovo fricto, consistente na gemma e torradinho na bonita crostinha da beirada! Não! Ninguem te faz esta gostosura, que a marmita de todos nós ja teve! Nem na mente dum genio gastronomico a bemdicta frictura se affigura! Simplesmente é pratto brazileiro, ja que incita a gente a recordar da nossa ausente mãezinha, que ninguem no mundo imita!

INTRANSIGENTE METEORISMO [8501]

Caralho! A gente peida, peida, peida… e nada de cagar! Vontade dá na gente de mandar que a merda va à puta que pariu, como fallei da cegueira ao me foder! Porra, não ha desgraça ja bastante? Quem está cagando bem que ria! Em vez de Eneida, Iliada, Odysséa, resta a má sahude intestinal ao bardo ca da casa do caralho! Como o Almeida faria si o sargento queixa ja tivesse do cocô que cagará só quando Zeus quizer? Segundo a lei da historia litteraria, não é la tão serio o auctor que caga sem um “Ah!”, mas quero me gabar do que caguei, da… quelle grosso!

SYNTHETICA DIALECTICA [8512]

Si contra mim está quem, à direita, appenas um deus biblico respeita…

Si contra mim está, por outra, quem, à esquerda, fé num lider atheu tenha…

Si contra mim estão os apollineos, naquelle estado sobrio que define-os…

Si contra mim está, por outro lado, do vinho o dionysiaco soldado…

Si contra mim está, na bolla, quem quer ver a selecção jogando bem…

Si contra mim está quem ja commum perder acha o Brazil de septe a um…

Si contra mim está quem a cadeia propague e em tolerancia zero creia…

Si contra mim está quem quer o crime ver livre e que eu a armar-me não me anime…

Si contra mim estão os que na vida eterna, kardecistas, teem sahida…

Si contra mim estão os que o peccado sustentam que aqui mesmo é castigado…

Si contra mim está quem mais critica, num musico, uma lettra menos rica…

Si contra mim está quem vê virtude nas lettras dum auctor que não estude…

Si contra mim está quem dó não sente dum cego ou de qualquer deficiente…

Si contra mim está quem quer que um cego se inclua, se supere e erga seu ego…

Si contra mim está quem só me cobra mais rosas para alguem que quer ter obra…

Si contra mim está quem só deseja que a lyra dum maldicto suja seja…

Que contra mim estejam, pois convicto me vejo de estar certo, sem conflicto!

MEDIADOR DE CEGOS EGOS (1/7) [8527]

(1)

Nós trez pappo battiamos, um dia, accerca do melhor metro e do rhythmo. A minha Voz Poetica queria appenas heptasyllaba ser. Primo que é nosso, meu Eu Lyrico phobia tem dessa redondilha que eu estimo, prefere alexandrinos. Poesia depende disso, ou basta quando eu rhymo? Ficamos, eu com elles, numa fria tardinha, a discutir. Nisso, me animo:

(2)

-- Lyrinho, meu priminho, cê não acha que o verso muito longo desperdiça palavras? Ser biscoito ou ser bollacha faz tanta differença, ou é preguiça que tenho de esticar essa borracha? Vozinha, que cê pensa da premissa?

(3)

-- Mattoso, meu primão, vou te fallar bem franco: teu pobre decasyllabo tem compta manca, si, em cinco ou seis, metade disso eu nunca arranco! Mas doze, sim, eu posso dividir e branca jamais a estrophe fica, nem de solavanco claudica meu compasso, que ninguem desbanca!

(4)

-- Mattosão, posso fallar? Eu estou é chateada com vocês, pois popular é meu verso e sempre aggrada aos que querem só cantar ou narrar por empreitada.

(5)

-- Vozinha, minha amiga és tu! Serei veraz, porem: chordel nem livro poderá ser, ora! Nem para em pé na estante! Differença faz meu livro, com lombada, que enche e até decora, dourando a pratteleira! Nem Glauco é capaz de egual ter seu livrinho a um tomo meu, por fora!

(6)

-- Ah, Lyrinho, preconceito tem você! Litteratura não depende só de effeito visual nem cappa dura! Dum bom livro eu approveito o que vale e o que perdura!

(7)

Ouvindo ambos os lados, me convenço da technica funcção do alexandrino: ser bello no discurso mais extenso, alem de compor livro jamais fino. Razão dou à Vozinha, ja que immenso valor a redondilha tem, dum hymno à lettra de forró, no lato senso. Serei, por exclusão, pelo que opino, o meio termo: assim, acho que venço a briga, si de extremos me previno.

LANÇA-FARTUM (1/2) [8530]

(1)

No tempo dos entrudos, reza a lenda, jogava-se agua suja de chichi na roupa do burguez. Quem mais se offenda meresce ser mijado, disse alli, naquella phase, o Momo dessa agenda anarchica, segundo o que ja li. Progride o carnaval? Peor emenda!

(2)

Agora, muito bloco, muita banda supera aquella eschola que o vovô curtia nos desfiles. Quem commanda a festa é o proprio povo, mais pornô e porco, sem cheirinho de lavanda que exguicha de frasquinhos. De cocô, tambem, eis a fragrancia, nada branda!

AMOR CORRESPONDIDO [8534]

Daquelle que tomou a nossa vaga puxemos-lhe o tapete, la na frente!

O amigo desleal foi com a gente?

Amor é com amor que a gente paga!

Em nós um inimigo joga praga?

Em dobro ganha a praga de presente!

Duvida do poder da nossa mente?

Amor é com amor que a gente paga!

Àquelle que zombou da minha chaga, que riu duma visão deficiente, fallei: “Ficarás cego de repente!”

Amor é com amor que a gente paga!

Dum gordo outrem gozou da falla gaga?

Um filho este terá, bem mais doente!

Ninguem testar o azar experimente!

Amor é com amor que a gente paga!

As luzes o appagão fascista appaga?

Censuram o meu verso irreverente?

As trevas passarão, e eu brilho, ardente!

Amor é com amor que a gente paga!

Politico corrupto que desbraga tentou pedir meu voto? Elle que tente!

Na bocca lhe exporrei minha semente!

Amor é com amor que a gente paga!

Um medico o prazer da gente estraga mandando vegetaes comer, somente?

Pois minto-lhe e na carne metto o dente!

Amor é com amor que a gente paga!

Na pizza, de mostarda si a bisnaga me expreme um carioca, eu boto o dente dum alho cru no seu cachorro-quente!

Amor é com amor que a gente paga!

Em campo, si attaccante sou e a zaga me para com carrinho, o delinquente fará gol contra sempre que me enfrente!

Amor é com amor que a gente paga!

Na fila, si a bichona que divaga espeta-nos um olho com seu pente, careca ficará precocemente!

Amor é com amor que a gente paga! Si, um puto sem, estou naquella draga damnada e um puto nega-me, insistente, o amigo, morre pobre brevemente!

Amor é com amor que a gente paga! Aquelle que bom vinho sempre traga e só nos offeresce uma aguardente barata, vae ter ulcera pungente!

Amor é com amor que a gente paga! O estupido ao garçon manda que traga, mais rapido, outro pratto, e bem mais quente?

Em vez vem, da cerveja, agua fervente!

Amor é com amor que a gente paga! Em verso, o auctor do “Canto do Piaga” tortura o curumim? Si for valente, desforre no pagé o adolescente!

Amor é com amor que a gente paga!

De cyma o encanamento nos allaga o apê? Fica o vizinho indifferente? Irá ficar, de mijo, incontinente!

Amor é com amor que a gente paga!

O carro do bossal vizinho exmaga seu cão de estimação? Ah, nem exquente! Vae delle a mãe morrer desse accidente!

Amor é com amor que a gente paga! Alguem do seu emprego, rindo, indaga sabendo que o perdeu recentemente?

Na rua elle estará, como indigente!

Amor é com amor que a gente paga! Chegando um arrivista doutra plaga, que tome meu logar alguem consente?

Em breve, faltará quem os aguente!

Amor é com amor que a gente paga! Fofocas sobre mim você propaga?

Choquei? Pode expalhar! Invente! Augmente!

Xodó sou do povão maledicente!

Amor é com amor que a gente paga!

Alguem que desmeresça a minha saga me chama de auctor sordido e indecente?

Seu filho me lerá, concupiscente!

Amor é com amor que a gente paga!

Um critico me attacca, apponcta a adaga? Meu verso um cathedratico desmente?

Irão morrer, mas vivo eu longamente!

Amor é com amor que a gente paga! Mas, mesmo quando a sorte está aziaga, e pisa-nos na cara um prepotente mandão, compensação ha que se invente!

Amor é com amor que a gente paga!

Si os pés dum inimigo a gente affaga será por masochismo, unicamente.

Gozou elle? Tesão a gente sente!

Amor é com amor que a gente paga!

Na bocca alguem mais sadico nos caga?

Quem diz que bosta come e gosta, mente! Mas, quando revidei, fiquei contente!

Amor é com amor que a gente paga!

EXSILIO NA MORGADO (1/5) [8538]

(1)

Aos homens bons que achei, si me comparo, percebo que serei dos menos maus. Si em termos affectivos fui avaro, subi, na raça humana, alguns degraus. Recluso, si no escuro vejo claro, la fora meu paiz recae no chaos.

(2)

Imponho-me, a mim mesmo, o mais severo exsilio na Morgado de Mattheus. Amigos me convidam, mas não quero cruzar, no quarteirão, com phariseus. Ouvindo Stones, penso não ser mero passivo observador dos dias meus.

(3)

Supposta humanidade em que me inspiro, a minha, ao menestrel, faz infeliz. Sou franco attirador só quando attiro meus versos, mas não macto quem eu quiz. Quem vejo da janella, ao dar um gyro geral, são outros pariahs do paiz.

(4)

Nem tudo, todavia, só deploro. Irei sobreviver, annos appós. Aquillo que suei por cada poro será, depois de morto, minha voz. Jamais, como immortal, me condecoro, mas honro a voz que herdei de meus avós.

Emfim, commigo mesmo não sou duro a poncto de rasgar o que compuz. No maximo, direi talvez impuro ter sido, mas não fodo tantos cus. Ao menos a libido eu asseguro que, em sonho, libertei de alguns tabus.

GOTHICO FLAMMEJANTE (1/9) [8550]

(1)

Trez videos eu guardei. Trez versões são, contando do corcunda aquella saga romantica que occorre em Notre Dame.

(2)

O gothico me empolga. As chammas não serão nada que estraga nem appaga um quadro que não vejo quem não ame.

(3)

Nos gargulas obscena posição da bocca ja não vejo. Ja não paga boquette quem christão quer que se chame.

(4)

Rosacea, arcobotante, ogival vão… Catholico nem sendo, como adaga me fere esse incidente. Exige exame.

(5)

Na Biblia, na Torah nem no Corão não ha, nem pode haver nenhuma praga que explique um attemptado tão infame.

(6)

À parte o terrorismo, um predio tão historico missão tão aziaga não pode ter sem disso quem reclame.

(7)

Si fosse no Brazil, a appuração seria dalgum typo que não traga nenhuma conclusão ao rame-rame.

(8)

Aqui, museu nós tinhamos. Questão nem faz hoje quem mente e só divaga accerca dos motivos do vexame.

(9)

Na Sé, como em Westminster, num clarão as cores dos vitraes idéa vaga me deram. Notre Dame que se affame!

“Ó, DÁ-ME, GLAUCO, O CU,

ALGEMADO!” [8551]

Às vezes é preciso que eu mais um pé metta, achando o decasyllabo até pequenino, ainda que este rhythmo manque qual perneta. Por isso usando estou o verso alexandrino. Occorre que um palindromo, dos de proveta, causou-me especie. É o thema, claro, fescennino: “Até cubanos mettem só na buceta.” Mas nelle comptei onze syllabas, previno. Importa pouco aqui tal metrica faceta, porem, pois quero atter-me ao caso feminino e ao coito vaginal, que chamo de careta, si formos comparar àquelle que imagino. É neste justo poncto que um rapaz cappeta chegou e no palindromo mostrou ferino tesão, pois me brindou com um bordão porreta, daquelles que me calham por fatal destino. Masoca que sou, cego servo da punheta, na mente projectei caralho nada fino na marra me enrabando appós ter na chupeta me feito fellador do sadico menino.

PARNASO DE AQUEM TUMULO [8554]

Pretendo requerer um attestado de bardo, mas Estado nenhum emitte aquelle documento. Quem sabe si eu não tento pedir à Academia Brazileira de Lettras? De maneira nenhuma, me responde alguem de la. Será porque não ha padrão pro documento, ou porque não meresço a distincção?

Em todo caso, quero ver si ganho cadastro do tamanho da minha competencia ainda em vida, provando que quem lida ha tempos com o verso trabalhado faz jus a um attestado de eximio soprador de bolha ao vento. Appenas eu lamento que mais ninguem agora saber queira da lyra punheteira que outrora a tantos bardos fama má legou e que fará da nossa maldicção um pantheão das luctas do povão… De comptas affinal, eu não me accanho por ser aquelle extranho ceguinho que leitores seus convida a rir duma soffrida cegueira, pois entendo que meu brado será recompensado, ainda que somente pelo lado esthetico estudado.

KALEIDOSCOPIO (2) [8589]

Mais cor quer quem vê bem mas só com um.

Com um só vou ler bem mais mas sem luz.

Sem luz não vou ter nem mais um só dom.

Só dom vou sem um tom ver com mais luz.

Mais luz não vae dar vez nem deu meu gaz.

Meu gaz quem deu foi quem me fez tão bom.

Tão bom foi ter mais luz faz ja tempão.

Tempão foi um só mas emfim ja deu.

Ja deu para sentir que vou ver mal.

Ver mal não pode ser como cegar.

Cegar será peor si for de vez.

De vez está meu tempo de compor.

Compor sem pôr mais syllabas não dá.

Não dá para advistar nada mais não.

Mais não posso compor sem ser com cor.

Com cor kaleidoscopica assim vi.

BENZA ZEUS! (2) [8901]

Me livre Zeus da vida que me macte!

Me traga a Musa a vida que me inspire! Bebida haja na vida que me dope!

De sobra haja comida que me farte!

Me venha asno qualquer que me carregue, jamais qualquer cavallo que derrube!

Me pague quem me deva a moedinha, mas nunca de roubal-a alguem cogite!

Meus versos reconhesça alguem que compte e premios ganhe eu sempre emquanto viva!

Que eu sonhe com alguem com quem conviva e evite pesadellos ter com outrem!

Que eu dor menor na vida às vezes sinta, não uma dor eterna que infernize!

Que eu sempre dumas cores bem recorde e exquesça as trevas densas que me cerquem!

Que todos que me invejem ja me exquesçam!

Somente quem me queira bem me siga!

Ninguem mais viva a vida que me cegue!

DESATTRAVESSANDO BILAC [10.209]

{Flor ultima do Lacio, inculta e bella, a um tempo és exsplendor e sepultura, nativo ouro que, em sua ganga impura, a mina entre os cascalhos, bruta, vella!}

{Assim, desconhescida, te amo, obscura, clangor de tuba, lyra a mais singella, que tens o trom e o silvo da procella e o arrollo da saudade e da ternura!}

Bilac errou no rhythmo, pois accyma deviam os quartettos ter ficado. Errou, mas de proposito, se estima.

Si eu fosse rigoroso, para aggrado de mestres mais cricris, até na rhyma mudava alguma coisa. Mas me enfado.

DIA DO OPPOSTO [10.472]

Contrario dos contrarios, quem é mais?

Aquelle que cobrar quer e mais paga?

Aquelle que cagar vae e se caga?

Aquelle que é careta mais que os paes?

Quem só quadrinhos busca nos jornaes?

Quem abre e não preenche nunca a vaga?

Quem herva fuma mas chulé não traga?

Quem chora alheios, rindo dos seus ais?

Poetas, com certeza, contradizem ainda mais a vida, pois só fazem é drama! Meus leitores que pesquisem!

Os bardos que com graça a dor não casem que venham me pisar! Venham, me pisem! Confrades masochistas que me embasem!

DIA DA CACOPHONIA [10.508]

Cuspi ca gay sentença a você, Glauco, dizendo: “Deixo o par do meu chinello mais velho, pois topei, do que mais bello havia, do par novo! Me desfalco?”

“Jamais! Meu professor, doutor Vadauco, fallou que por meu corpo tão bem zelo que irei por cada poro rhymar! Mello si, fofo de suor, estou no palco!”

Depois desse nonsense, fui fallar das coisas de comer, da refeição que, em pouco, comerei com paladar!

Mas, como de tão baixo palavrão não paro de expor rapido radar, melhor deixar a vacca ganhar pão…

DIA DO ADVALIADOR [10.530]

Tu queres saber? Ora, a poesia que fazes não me vale grande cousa! Discordas? Então olha aqui na lousa! Teus versos são é grossa porcaria!

Sinão, vejamos: “beijo” rhymaria um bardo com “desejo”? Ora, quem ousa? Mas meu quinau só nisso não repousa: Rhymaste “doce” e “trouxe”! Que heresia!

Com “bocca” tu rhymaste “louca”! Viste? “Brazil” tu com “partiu” rhymaste! E pé quebrado tem teu verso, não resiste!

Então, como tu queres que eu dê fé naquillo que reputo horrivel? Chiste me queres fazer? Chamas-me Mané?

DIA DO ACROSTICHO [10.700]

Qualquer um que christão se diz na vida

Um penis não chupou, nem chupará! Eu mesmo não chupei, ja que não ha Maneira de engolir coisa fedida!

Quem gosta de ter nojo que decida

Usar a bocca para aquella má

E porca acção! Eu, nunca! Sae p’ra la!

Razão não tenho, porra? Alguem duvida?

Mas gosto de fazer alguem chupar!

Então deixo o meu penis ensebado!

Uau! Você que tenha paladar!

Pau sujo tem de queijo o cheiro… Um dado Adjuda a perceber em que logar Um trouxa se colloca: adjoelhado!

DIA DA BOSSA NOVA [10.830]

Verso portuguez quero utilizar, como nos Lusiadas, neste dia meio official, que nos lembraria a bossa que, nova, perde logar.

Sim, fica difficil para alguem dar cara decasyllaba à melodia dum tal hemistichio que, em theoria, segue, de Camões, caso singular.

Sendo bossa nova, fica bonito, para se escandir, este blablablá, feito um besteirol, oco, que eu recito…

Ninguem musicar vae, mas claro está que este bom refrão fica bem inscripto: Sabadabadá! Sabadabadá!

DIA DO CONTRADICTORIO [10.832]

Emquanto duplipenso, me questiono accerca dum sentido controverso. Seria certo usar, em cada verso, um erro de expressão que tenha abbono?

Cachorro tem tutor, ou elle é dono do humano ser? Está nosso universo ja multi, ja até mini, tão disperso que practicas noções eu abbandono.

Contrario dum orgasmo será só a maxima dor physica? Será difficil dum escravo sentir dó?

Orgasmo só mental, então, não ha? Emquanto não virarmos mero pó, será que para amar alguem não dá?

DIA DOS QUADRINHOS [10.860]

Marcatti desenhou o GLAUCOMIX e caricaturou meu “dirty sex”, tal como satyriza a “dura lex” romana aquella dupla do Asterix.

Mas são tambem quadrinhos, em xerox, aquelles dos fanzines, sem Lubrax nenhum no patrocinio. Menos tracks de rock ouço em sessões de “dirty sox”.

Mas, hoje, virtuaes são os destaques mais sujos dos quadrinhos. Deu uns toques extremos o Tagame aos mais basbaques.

Ninguem, nas HQs, de “não me toques” mais pode se gabar. Quem tenha attaques de nojo e leu Marcatti, levou choques.

DIA DO PALINDROMO [10.875]

Palindromo? O melhor que ja foi feito ficou assim: “Ô, dá-me, Glauco, o cu, algemado!” O sentido põe a nu aquillo a que eu devia estar subjeito.

Fizeram varios. Outro que eu acceito refere-se tambem ao tal tabu anal, inevitavel, ja que é cru e indica masochismo. Sim, perfeito.

“Amo cu! Alguem ama meu glaucoma?” Não fallo contra alguem que no cu toma nem contra quem cu dá… Mas não sou esse.

Não fujo dos palindromos. Me coma ou ceda quem quizer, si lettras somma. Melhor -- Hem? -- si na bocca me fodesse…

DIA DO DUPLIPENSAR [11.060]

Amor só significa, Glaucão, odio. Si digo paz eu quero dizer guerra. Mentira quer dizer que ninguem erra si inventa algum incrivel episodio.

Regime militar ha que incommode o povão? Jamais, Glaucão! Somente emperra a livre ladainha de quem berra nos foros da politica, que é podio!

O povo quer ser livre, mas deseja regimes de excepção! Quer ser atheu, mas gosta de contar que vae à egreja!

O povo contradiz-se, que nem eu! Você tambem, Glaucão! Quem quer que seja politico o contrario ja apprendeu!

NATIONAL BOLOGNA DAY [11.333]

Não é só pobre que ama a mortadella, nem todo rico gosta tanto della. Mas, sendo um italiano quem appella ao thema, seus bons habitos revela.

A boa mortadella, diz aquella zelosa thia minha, não dá trella aos pessimos modismos da parcella mais chique da cozinha agora em tela.

Alguns famosos chefes criam bella imagem dum sanduba, mas quem zela por prattos populares não se pella.

Prefiro nem entrar nessa querella, mas, sendo ou não um rango de barrella origem, me deleito, sem sequela.

DIA MUNDIAL DO SONNETTO RECYCLASSICO [11.444]

Qual molde mais sublime, em versos, ha que possa meu amor expor, com fé nos classicos, àquella que mais é amada loucamente, embora má?

Somente no sonnetto me será possivel expressar na forma, até no fundo, um sentimento que -- Evohé! -não orna a quem beber appenas cha.

Por Baccho! O vinho tincto que bebi me trouxe inspiração! Porem, sem dó, a minha amada disse: “Inepto és tu!”

Ouvindo taes palavras de quem ri da lyra alheia, penso mesmo só na phrase exacta: {Vae tomar no cu!}

SONNETTO SUPPEDANEO [11.644]

Com minha propria lingua (assim eu brado) suppuz ser puxasacco, dando um tracto debaixo duma sola de sapato usado por politico saphado.

Tambem com minha lingua (Não me evado da culpa: sou masoca, assim constato!) dei tracto, qual cachorro num pé chato, debaixo duma bota de soldado.

Com minha lingua, ainda, fiz eu cada sessão de lambeção (Não é bravata!) na sola dum adepto da mammata!

De lingua até farei a deslavada cunnette num pastor que desaccapta Jesus e de Satan é diplomata!

SONNETTO DUM PIMPOLHO BEM CREADO [12.069]

Disseram, caro Glauco, que não valho um puto, que não passo dum pentelho! Não achas um insulto que parelho não ha para xingar alguem, caralho?

Concordas que não posso de paspalho chamado ser, carissimo? Um fedelho qualquer, que nem siquer se vê no espelho, me insulta assim? Se toque, esse pirralho!

Eu, quando offendo um gajo, bem excolho os nomes que não causem tal engulho aos cerebros! A lingua, aqui, vasculho!

Portanto, meu querido, si de filho da puta me chamares, meu orgulho tu feres! Dormirei com tal barulho?

SONNETTO DUM CASO REPETIDO [12.289]

{Ahi, Glauco! Repita aqui commigo: O cego tá fodido!} O cego tá fodido! {Boa! A foda lhe será castigo!} Lhe será a foda castigo!

{Não, Glauco! Não inverta! Quando digo que deve chupar rolla, você ja repete: “chupar rolla”! Não, não dá p’ra ser “rolla chupar”, sinão eu brigo!}

{Agora de Ray Charles eu assumo o posto! Vou fallando e você só repita assim: “Eu quero levar fumo!”}

Eu quero levar fumo! {Optimo! O rhumo do nosso pappo ouriça! Agora tó! Assim que eu gosto! Offegue, que eu irrumo!}

SONNETTO

DUMA CONVERSA PRIVADA [12.336]

Desculpe, Glauco! (rindo) Vou agora cagar, mas volto logo! (tempo) Prompto, voltei! Você notou que dou descompto de cinco minutinhos? Sem demora!

Você, para cagar, Glaucão, tem hora marcada? Soffre muito? Fica tonto de tanto se exforçar? (rindo) Ou affronto algum pudor si indago si cê chora?

Eu cago normalmente! (rindo) Mas desculpe novamente, pois preciso cagar outra vez! (tempo) Sempre biso…

Hem, Glauco? Ja cagou? (rindo) Cê faz tamanha força para nada? Quiz o destino que difficil seja, adviso…

SONNETTO REPALINDROMIZADO [12.427]

Mais este bom palindromo se somma a alguns que de mim deram testemunho, agora pelo Fabio Aristimunho: “Amo cu! Alguem ama meu glaucoma?”

Não digo que desejo que me coma alguem por via anal, nem com o punho penetre-me, mas nunca me accabrunho com certas allusões neste idioma.

{Gustavo, um joven sadico, varia e allude a mim: “Ô, dá-me, Glauco, o cu, algemado”, provando que sabia…}

{O bom palindromista a poesia achou, por traz me pondo seu peru!} Assim sonnetizei eu, certo dia…

SONNETTO DA THESE DE MESTRADO [12.510]

Jamais com a cegueira se preoccupa aquelle que não lia com a lupa até perder a vista. Aqui se aggruppa, das suas ordens, uma catadupa:

A perda foi total, Mattoso? Chupa! Os olhos sem defeito os tenho! Chupa! Sentiste? Tem fedor meu lenho? Chupa! Os cegos me despertam gozo! Chupa!

Qual rolla mais fedeu que a minha? Chupa! Achaste essa missão damninha? Chupa! Farás o que, Glaucão, te preze! Chupa!

Os cegos eu, com gosto, os lanho! Chupa! Darás de lingua, Glauco, um banho! Chupa! Ficou bem demonstrada a these? Chupa!

SONNETTO DO OUTRO SUBJEITO [12.568]

Mais tragica, ao ceguinho, qual inhaca? Casar-se com esposa que, sapeca, com outro gajo, macho paca, pecca na sua frente e tudo o cego saca!

Alem de ser chamado de babaca por elle, sente cheiro da cueca do cara, até da meia! Si defeca, tambem sente fedor da sua caca!

O cego foi chamado de boboca e, embora aquillo choque quem se choca, chupou do Ricardão a suja picca!

Eu mesmo! Nem você, que se colloca na pelle dum fatidico masoca, supporta, Glauco, um desses! Mas se explica!

CARNE QUITADA (2) [12.767]

Si {da vivida vida vi solvida a dívida que dividi na queda da quebradiça psique}, mais me enreda aquella à qual a morte me convida.

No plano mais concreto, um suicida, que nunca retirou, de facto, o pé da prevista cova, paga com moeda egual sua missão, assaz soffrida.

Do trauma que enfrentei sobrou appenas a nitida lembrança duma luz que guardo, colorida, a duras penas.

Em forma de sonnetto, se traduz por syllabas que brilham: são pequenas scentelhas ao redor da minha cruz.

Casa de Ferreiro

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