

GORDOPHOBIA
Glauco Mattoso
GORDOPHOBIA
São Paulo
Casa de Ferreiro
Gordophobia
© Glauco Mattoso, 2025
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
Fotografia: Claudio Cammarota
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
GORDOPHOBIA / Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2025
110 p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
Como obesophobia ja tambem ficou tal preconceito conhescido. Àquelles que são victimas do seu pequeno ou muito grande sobrepeso compuz uns dissonnettos e poemas de generos diversos. Uma ammostra aqui vae registrada, que se somma a varias collectaneas dedicadas ao velho ou à creança, pelo olhar adverso que despertem nas pessoas “normaes” mais pharisaicas e insensiveis. Abusos que, veridicos, me inspiram são fonte incontornavel duma lyra tão crua quanto firme e realista. Que cada leitor leia como queira, mas cheio de empathia me colloco, pois, cego, me irmanei aos opprimidos.
DISSONNETTO METALINGUISTICO [0228]
Um causo na memoria se me grava. Collega meu na eschola era um gordito branquello e carequinha, mas bonito. Pyrolitho Salgado se chamava.
Seu nome quer dizer pedra de lava, mas pode ser tambem meteorito. “Pirólito”, mas nunca “pirolito”, sinão o gajo ja mandava à fava.
Um dia, a sós com elle, perguntei si o pae era um astronomo erudito. “Que nada! Delegado! Elle é da lei!” Então improvisamos um districto.
Fingi ser um detento e lhe chupei o pincto auctoritario até o palito. Ninguem alli brincou de ser um gay. Appenas admitti: na marra, admitto.
DISSONNETTO GORDO [0328]
Emilio de Menezes approveita a lenda de seu porte arredondado. Com brilho, trocadilhos tem bollado e às vezes os limites não respeita.
De bonde viajando, certa feita, sentou no mesmo banco, lado a lado com outro typo gordo advantajado, mas tanto peso o assento não acceita.
“Primeira vez que vejo”, disse, “um banco quebrando, não por falta, por excesso de fundos!”, no seu tom jocundo e franco. Que gordo! Como gordo, foi confesso!
Tão critico desdem eu não desbanco!
Sem duvida, o segredo do successo do gordo é não deixar passar em branco a chance de gozar seu proprio sesso.
DISSONNETTO MAGRO [0329]
Coitado de quem teme ser obeso, pois vive se privando dum bom pratto, comendo só ração, porções de matto, escravo dos limites do seu peso.
À estupida dieta o cara é preso. Magerrimo, paresce estar, de facto, num campo de exterminio, sob ingrato regime de castigos e desprezo.
Costellas tem à mostra, e ainda se acha saudavel! Si mulher, belleza pura, vaidosa duma assaz fina cinctura, do seu cholesterol medindo a taxa!
Babaca! Emquanto malha na tortura, comendo dietetica bollacha, seu sabio e nedio medico relaxa e vae se empanturrando de frictura!
DISSONNETTO EMPANTURRADO [0641]
Segundo o quadrinhista, uma “O” submissa ao lado do marido um restaurante visita. À mesa, o gordo accompanhante. Emquanto come, a femea elle cobiça.
Cochicha algo ao marido. Este lhe attiça o lubrico appetite quando deante do amigo despe o seio provocante da esposa. Ao gordo cresce a gorda piça.
Se ausenta do apposento o esposo corno, deixando a sós o gordo e a bella dama. Na mesa ainda sobra a carne ao forno. A femea se adjoelha e nem reclama/ /do rango: de outra carne o molho morno degusta e se lambuza emquanto mamma. A scena só me causa algum transtorno por não ser eu quem leva a suja fama.
DISSONNETTO REGORDADO [0642]
Chupando, adjoelhada, a grossa rolla do gordo, “O” julga ser do mesmo cara que ha tempo, no castello, a chibatara até, fracca, acceitar na bocca pol-a.
No traço de Crepax, a femea tola e docil foi treinada a levar vara na frente e attraz, cumprindo a regra clara que a torna mais escrava que a creoula.
Um gruppo de devassos, entre os quaes seu proprio esposo, ao carcere a conduz, e o mais obeso é quem a açoita mais. Ainda que se occultem no cappuz/ /e queiram-na vendar nas bacchanaes, o gordo a lembrará dos corpos nus. Em sonho, sou quem chora tantos ais, pois sob os pés dos sadicos me puz.
DISSONNETTO BESUNCTADO [0643]
Os outros desfructavam-na por traz, de quattro, ou pela frente, em frango-assado. O gordo só queria ser chupado. Sentava-se, e a mulher fez o que faz:
Appós sessões de açoite, ainda traz no corpo o cru vergão de humano gado. Aguenta a dor, joelho ja dobrado, e serve o algoz no vicio pertinaz.
Começa pelo escroto, que é lambido até que mais saliva que suor o banhe. Então, a lingua alça o sentido. Alcança a glande e sente-lhe o sabor/ /do pegajoso e fetido residuo. Chupou, mas fallou antes: “Sim, senhor!” Lamento não ser meu esse gemido de escravo, dum pau sujo o chupador.
DISSONNETTO PHANTASIADO [0657]
{Você tem que fallar: “Sou seu porquinho! É só mandar e eu faço o que quizer!”
A sua mina é minha, uma qualquer, que serve p’ra chupar sem ter carinho!}
Assim o gordo ouviu de seu vizinho, a quem seu masochismo é de colher, pois fal-o mais galan pruma mulher e o phallo lhe envaidesce até o sebinho.
O gordo ao outro inveja e se submette. Empresta a namorada que nem tinha, se aggacha, accapta, e esse outro pincta o septe. O cara até bellisca-lhe a mamminha.
E o porco lambe o pé, paga boquette a um macho que só o é quando expezinha alguem que tem inveja dum pivete mais magro, mais baixote e mais gallinha.
DISSONNETTO DO FRIGIR DOS OVOS [0769]
A vida sem frictura não é vida! Vegeta quem se priva do ovo fricto, do bife à milaneza ou, no palito, dalgum petisco em mesa bem fornida.
Sem crostas empanadas, a comida não vale uma salada de palmito nem vence o paladar mais exquisito do aspargo numa sopa repetida.
Torresmos, mandiopans, não ha o que os batta, excepto uma sardinha mais crocante que a propria (estou na duvida) batata! Perguntem ao freguez do restaurante!
Não ha, no paladar, medida exacta. Bollinhos, nunca servem-me o bastante, de carne ou bacalhau! Si o que não macta engorda, viva o charme do elephante!
DISSONNETTO DO ANONYMATO [0824]
João Bafodeonça é meu bandido mais intimo e querido. Me recordo de vel-o, com o Mickey, sempre a bordo de incriveis adventuras, que hei relido.
Seu queixo era redondo, e divertido seu gordo corpanzil, que mais engordo lembrando vagamente. Não concordo que exsista alguem mais fofo e incomprehendido.
Bandidos, hoje em dia, são sem graça: estupidos, drogados, não teem charme nem Mickey que o papel rival lhes faça. Sem outro que saudades possa dar-me,/ /contento-me em suppor que o Bafo passa na rua sem quem note e dê o allarme. Por falta de villões, minha devassa boquinha chupa a rolla dum gendarme.
DISSONNETTO DA DESOBESIDADE MORBIDA [1206]
Engordam as mulheres: na cinctura que foi de tanajura ja não cabe aquella calça justa, e alguem que babe por ellas não encontra quem procura.
Na lipoadspiração um doutor jura que exsiste solução, mas ninguem sabe dos riscos: só tem credito quem gabe a magica que extrae toda a gordura.
Mas, quando um intestino é perfurado e a chance de salvar-se é ja nenhuma, ou varias infecções mactam mais uma, se mostra a midia attenta ao “outro lado”.
Desistam, vaidosinhas! Quem se arrhuma soffrendo em traje superappertado, pensando na elegancia, tá ferrado! Só ganha quem com banha se accostuma!
DISSONNETTO DA CREATURA MAIS FOFA [1328]
Ser gordo é complicado! No avião, não pode se sentar naquelle espaço!
Os gordos tambem penam quando vão à festa sem provar nenhum pedaço!
Dos gordos me approximo: restricção a typo ou porte physico não faço. Mas sei que rejeitados elles são, tractados como anomalo ou palhaço.
A gorda é mais coitada: ninguem ama a moça, seja Cass ou seja Mama, ainda que sympathica e elegante. Charmosa não será, mesmo, o bastante?
Eu ja não penso assim: a cachorrinha bassê das mais gorduchas foi a minha, na falta, por mascotte, do elephante ou bicho mais fofinho, mais gigante.
DISSONNETTO DA DIETA POETICA [1531]
Voltava do escriptorio. Na estação encontra um velho amigo, que não via mais gordo desde os tempos, que la vão, da postgraduação em theoria.
Agora magro, o amigo explicação theorica dá para o que seria motivo da magreza: a reducção daquillo que practica em poesia.
Seu verso, que era longo, alexandrino, tornou-se redondilha, e o pequenino formato da quadrinha agora adopta, no qual um thema anodyno se exgotta.
Sonnetto, nem pensar! Nesse regime, parou de ver tragedias e redime o espirito na minima anecdota, de baixa caloria, a menor quota.
DISSONNETTO DO HOMEM PREVENIDO [1557]
O gordo, na vitrine, vê o quindão que está em offerta. Leva, não resiste. A esposa, appós curar-lhe a indigestão, lhe passa até sabão, de dedo em riste.
O magro, que não cae em temptação, raciona ao passarinho até o alpiste. Accusa os paes que aos filhos tudo dão e diz “Não!” à doceira si ella insiste.
No bicho o gordo joga. Às vezes ganha. Jamais jogou o magro: acha tamanha a chance de perder, que nunca arrisca, ainda quando a sorte, emfim, lhe pisca.
Da vida o que se leva é só o momento: melhor ter aos quindins olhar attento que regras, em jejum, seguir à risca, negando-se a morder a isca arisca.
DISSONNETTO PARA UMA GORDA GULOSA [1762]
Marcara uma consulta a gorda dama com seu cardiologista renomado. De novo a examinando, elle reclama que não tem seus conselhos accaptado.
A gorda, exparramada sobre a cama do chique consultorio, com enfado reage à reprimenda e o doutor chama de “duro dictador” e “bitolado”.
Dalli sahindo, corre para a loja de finos chocolates e se arroja na caixa do bombom que mais convide a gula a degustar. Assim decide.
Mais da metade come duma vez. Mas ja não contará, como antes fez, ao medico esse gesto de revide. E tome roupa nova no cabide!
DISSONNETTO PARA UM PETISCO ARISCO [1774]
Está na lanchonette a gorda, impada em seus collares, brincos, roupa cara, saboreando aquella enorme empada que a casa em toda parte annunciara.
“Nossa especialidade!” Custa cada, accyma da azeitona, olhos da cara. Appenas ricas damas a elevada quantia gastam rindo… e olhando para…
Mal pode accreditar no que está vendo: no meio do recheio, aquelle horrendo pedaço de baratta, a perna, a antenna! Hem, gente? Que nojeira! Não! Que scena!
Vomita sobre a mesa a gorda: chama de todos a attenção! Depois reclama que a prova se perdeu por ser pequena. Ninguem, por causa disso, se envenena.
DISSONNETTO PARA UM REGIMEN DICTATORIAL [1781]
“Ballança mentirosa!”, a gorda exclama. “Só pode estar desregulada, a joça!” Amigas, condoidas de seu drama, lhe dão, para comer, o que ‘inda possa.
Cortado o sal, ja quasi nada addoça. Temperos reduziu e, a cada gramma a mais no pratto, alguem se expanta: “Nossa!” Patrulham a coitada até na cama.
Se queixa o namorado, outro gordão, que ja nem sobra espaço no colchão e que ella rhoncha feito uma leitoa. Se queixa, vejam, duma coisa à toa!
“Assim não dá! Me chamam de baleia e, emquanto não estão de pança cheia, mais alto é o rhoncho que, la dentro, echoa… Ainda querem, mesmo, que eu me doa?”
DISSONNETTO PARA UMA INCOMPATIBILIDADE DE PESOS [1784]
Coitada! Com a gorda o gordo briga por pura intolerancia! É como a cega brigando com o cego, hem? Eu que o diga! Ou velho discutindo com collega.
No caso dos dois gordos, a barriga foi pomo da discordia. A gorda offega, nervosa, mas bem sabe do que a amiga mais intima fallou sobre a refrega:
“A sua é bem maior que a delle, linda! Elle se julga magro! Você ainda duvida? Qualquer hora você dansa! Melhor fincar seu olho na ballança!”
De nada addeantou ser prevenida, pois, sempre que se falla de comida, é foco dos olhares sua pança. Mas, ‘inda assim, nos comes ella advança.
DISSONNETTO PARA A ANATOMIA DA BARRIGA [1794]
Num gordo por inteiro, ella a harmonia mantem. Pernas rolliças, pulso grosso, bochechas rechonchudas, tudo cria perfeita syntonia nesse esboço.
Mas quando o cara é magro, se advalia que, sendo tão estreito seu pescoço, destoa essa cinctura que se amplia da cannellinha fina, appenas osso.
A calça, um canudinho, fica extranha: por cyma, aquella taça de champanha que só com suspensorio se sustenta. Se nota mesmo quando o cara senta.
O cara é como a pera que, espetada em dois palitos, fica equilibrada, mas equilibrio falta à vista attenta. Nenhuma roupa nelle bem assenta.
DISSONNETTO PARA UMA VIAGEM PHANTASTICA [1872]
A gorda está, coitada, sem o carro, deixado no mechanico. Terá que, agora, pegar omnibus… Que sarro tiraram os moleques della, ja!
Na porta ella mal passa… Seu bizarro e molle corpanzil colher de cha não dá si, logo attraz, eu nella exbarro: Na proxima freada, aguento eu ca?
Aguenta a turma toda? Aguenta nada! Passar pela catraca? Outro problema! Se expreme, se contorce e, com extrema difficuldade, está desentallada.
Emfim, gente surgiu, civilizada! Alguem cede o logar, mas, quando senta, empurra a magra velha rabugenta de encontro à janellinha ja trincada.
DISSONNETTO PARA UMA VIAGEM ROPTINEIRA [1873]
O carro do conserto sae! Feliz, a gorda pode andar com seu cigarro na bocca, seus bombons, e dar-se um bis sem que ninguém se importe ou tire sarro.
A mim mais me preoccupa si o catarrho lhe vem garganta accyma e, por um triz, a sua cusparada não aggarro nos ares, si a mão ergo e fugir quiz.
Não só nas expressões fica a piada. Não só, pela janella, lança a baba: tambem joga emballagens, quando accaba a balla, o chocolate, a bananada.
A gorda deixa a gente embananada! No banco, ella se expalha e, com seu charme, poder tem de attrahir-me e fascinar-me, alem do que impressiona a molecada.
DISSONNETTO PARA UMA DISCORDANCIA PHILOSOPHICA [1875]
Commigo essa mulher jamais concorda si piso, de proposito, em seu callo e mesmo si, innocente, alguem a abborda, não perde a gorda a chance de attaccal-o.
A quem lhe recommenda que não morda siquer um chocolate, ella faz phallo do dedo medio em riste: com a gorda ninguem se metta a besta, nem a gallo!
Mas tem seu lado meigo, a creatura, e sabe ser, commigo, uma fofura nas horas em que a levo ao restaurante sem nunca nós comermos o bastante.
Lombinho com farofa é seu pedido; o meu é torresminho, mas decido no lombo accompanhal-a e ser galante. Sem ella, não ha nada que me encante…
DISSONNETTO PARA UM DIVAN REFORÇADO [1876]
A gorda um analysta, até, procura, pois anda adzucrinada. Saber quer si assim tão problematica a gordura seria… E seja la o que Zeus quizer!
Explica o therapeuta: tudo é pura encucação, ao homem e à mulher. Embora o caso nunca tenha cura, adjuda um tractamento no que der.
Desconfiada, a gorda ‘inda pergunta si a coisa com o magro é differente, si, na magreza, ha tanta coisa juncta que em nada a obesidade o drama augmente.
Responde o gajo que, no magro, o drama não passa duma duvida da mente, é coisa mais de cuca que de cama, mas menos se convence a paciente.
DISSONNETTO PARA UMA THERAPIA DOS PÉS À CABEÇA [1877]
Acconselhada, a gorda augmentar tenta a mythica autoestima: ao pedicuro vae rapido e confessa, mal se senta, que nos pés o que sente é tesão puro.
Pragmatico, o callista applica lenta massagem nos redondos e nos (Juro!) bellissimos pezinhos da opulenta fregueza: o resultado foi seguro!
Ja leve e relaxada, a gorda sae dizendo que voltar ammanhan vae, de tanto que a massagem lhe fez bem. Melhor, quem massageia? Não, ninguem!
Feliz, o pedicuro lhe garante que mais ‘inda fará, dalli por deante, agora que ja sabe o que ella tem. Me vejo no logar delle, tambem.
DISSONNETTO PARA UM CHA LITTERARIO [1878]
No centro de São Paulo, a gorda mora num vasto appartamento com lareira e porta almofadada. Quem decora as sallas? Ella mesma, que é caseira.
Cadeiras e poltronas, corrobora quem senta, são enormes e, a quem queira deitar, são os sofás de tal maneira macios, que cochila sem demora.
Alli tomo meu cha, que ella accompanha com bollinhos de chuva, emquanto a banha no assento comfortavel accommoda. Nenhum thema pornô o pappo nos poda.
Pois, claro, rolla só litteratura, ainda que, thematica, a gordura jamais possa ficar fora de moda, nem mesmo quando tenha a ver com foda.
DISSONNETTO PARA UMA PAQUERA PACHYDERMICA [1879]
No Clube das Gordinhas ella fora amigos procurar. No baile, dansa de forma desenvolta e animadora: olhares sobre a moça alguem ja lança.
Ganhou, não um, mas uma admiradora que, embora tendo, em mesmo porte, a pança, da mesma sympathia detentora não é… E de dar-lhe em cyma não se cansa.
Hesita a nossa gorda entre um gordinho e a lesbica que a tinha, num canthinho, cantado abertamente e sem rodeio. Não ponho o meu dedinho, não, no meio.
Decide, emfim, que o gordo é com quem fica. Raivosa, a sapatona identifica o gajo: um enrustido, burro e feio. De dar opinião tenho receio…
DISSONNETTO PARA UMA POLTRONA DE CLASSE [1880]
Brechós frequenta a gorda e, na pesquisa, achou, capitonada, uma poltrona. Levou-a por impulso, pois precisa comprar quando por algo se appaixona.
Não resta quasi espaço na sallona e a gorda pensa um pouco, ‘inda indecisa. Decide, emfim, e ao lado a posiciona da estante que comprou da poetiza.
Agora, si a visito, ella me affunda naquelle poltronão, e a propria bunda em outra, ‘inda maior, ao que imagino. Com essa scena sinto que combino.
Alli, lê para mim o que combina com moveis desse estylo: a fescennina poetica de Belli e de Aretino. Suggiro-lhe meus versos, quando opino.
DISSONNETTO PARA UMA CAMA DE CASAL [1898]
A gorda resolveu: cansou de ser sozinha e um cachorrinho agora quer. E exsiste melhor raça para ter em casa que o bassê? Si alguem souber…
Que bom! Ja não exsiste o desprazer da volta para casa: uma mulher quer ser papparicada! Esse dever faz parte, no bassê, do seu mester.
Rolliço, salsichudo, elle contrasta com ella, que é uma bolla, mas não basta appenas, lado a lado, andar na rua. Historia assim em casa continua…
Então, é sobre a cama que mais rolla o encaixe da salsicha com a bolla, estando o cão sem somno e a gorda nua. Não ha melhor historia que essa sua…
DISSONNETTO PARA UM CHARDAPIO REMEDIADO [1917]
Appós uma consulta, a gorda explica à amiga a situação pela qual passa: “triglycerite aguda (diagnostica), doença provocada pela massa…”
“Cortar meu maccarrão, foi essa a dica que o medico me deu… Ora, tem graça?” A gorda se revolta: “É muita zica!” Ficar sem a lasanha ha quem a faça?
Aquelle prattarrão de cannellone, de gnocchi ou de spaghetti, não tem clone saudavel que compense uma dieta, nem diva, nem actriz a mais esbelta.
Agora a gorda, practica, tem tido appenas um cuidado: o comprimido tornou-se a sobremesa predilecta. Não, medico nenhum seu pratto veta!
DISSONNETTO PARA UM MANNEQUIM ADVANTAJADO [1919]
Comprar roupa de gordo é fogo, gente! Medidas inexsistem: si a cinctura é justa quando a gorda experimente a calça, o comprimento desmesura.
“Customizar” é o jeito: só na frente de espelho e fita metrica assegura a gorda a roupa certa, que desmente a lenda de que um gordo não se appura.
Chiquerrima, charmosa, ella na festa irrompe de repente e, até modesta, até com um pouquinho de desdem, responde aos que “Arrasou!” gritar lhe veem… {vêm}
“Bondade de vocês!”, rindo, ella exclama. “A gente arrasa, mesmo, só na cama, logar onde ninguem se veste bem nem fama de exhibir-se ninguem tem…”
DISSONNETTO PARA A MAIS ALTA COSTURA [1920]
Achou um costureiro de talento a gorda, que elogios não lhe poupa: “Incrivel! Elle accerta cem por cento na hora de fazer a minha roupa!”
Mas logo elle resalva: {Só lamento que digam “costureiro”… La na Europa me chamam de “estylista”…} Alguem exempto dirá que elle é “modista”. Elle não topa.
Chamada a dar palpite, a gorda opina que nem “figurinista” é o que defina um gajo tão prendado e competente, capaz de costurar tão lindamente.
“P’ra mim, elle é uma fada! Só uma fada faria esta roupinha tão transada, bem vista pelas costas ou de frente, que usei quando arrasei no baile, gente!”
DISSONNETTO PARA QUEM ESTÁ REDONDAMENTE
ENGANNADO [2249]
Reserva a lei de Murphy, aos que à dieta pretendem dedicar-se, a mais frustrante das considerações. Quem carnes veta e come só verduras, não se expante:
Verdura, appenas, come um elephante! Quem peixes quer comer e como meta tem logo emmagrescer, antes que jante seu pratto de pescado, isto lhe affecta:
Baleias comem peixe, appenas peixe!
Retruca um optimista: “Ora, não deixe que um pappo de humorista o dissuada!” Na physica, de extranho não ha nada.
Pois faça como queira o natureba: da morte nada excappa, nem ameba, por causa da ração que foi mudada. A physica previu a marmellada.
DISSONNETTO PARA UM LENTO ATTENDIMENTO [2295]
Godinho foi ao medico. Quizera jamais necessitar duma consulta! Mas sente-se pesado: ora, pudera! Não é do seu problema a causa occulta.
Assim como em qualquer salla de espera, naquella a lei de Murphy logo advulta na mesa das revistas: nem a Vera na cappa em algo orgastico resulta.
Tal como a bella actriz, que já não é novinha, as taes revistas são até mais velhas do que um satyro impotente. Tesão sentir por ellas? Alguem tente!
O gordo se chateia: elle terá bastante que esperar, pois alli ja estão outros gordões na sua frente e inquieto Godofredo ja se sente.
DISSONNETTO PARA OUTRO CONGRAÇAMENTO CARNAVALESCO [2398]
Nos palcos ao ar livre, a enscenação de actores voluntarios tem mostrado um Christo bem gordinho que, pellado, estraga certas scenas da Paixão.
Alguem se importaria? Eu, mesmo, não. Mas outros que escutei teem allegado que, si um rei Momo magro é um attemptado à logica, Jesus não é leitão.
E agora? Que fazer? Si é magro o Momo, dirão que contra o gordo ha preconceito, que estão discriminando o tal subjeito. Si gordo o Christo, entende um magro como?
Pensando christanmente, dá-se um jeito, dizer não poderão que eu os embromo: Jesus carnavaliza e morde o pomo. Perdão o Momo pede, e bom proveito!
DISSONNETTO PARA O GRUPPO BAD MANNERS [2469]
Fats Domino, mais Chubby Checker, são a dupla referencia da gordura na scena “roquenrollica”. Segura a taça a Mama Cass, com mais razão.
E as bandas? Quem será o maior gordão das decadas recentes? Me affigura ser Buster, dos Bad Manners, quem perdura no topo da parada, ha ja um tempão.
Alem de rechonchudo, é botinudo e punk aquelle cara: eu imagino que numero elle calça, e não me illudo. Ainda, para cumulo, o suino/ /dum genero dansante entra no entrudo: o ska, sua paixão desde menino. Seu numero de bute é bem grahudo, calculo, si na bronha aqui culmino.
DISSONNETTO PARA O OBVIO REDUNDANTE [2641]
O que? Rei Momo magro? Que besteira! Papae Noel, rei Momo, Buddha… são gordões! Não me appresente uma invenção de moda, que a trambique a coisa cheira!
Que embarque, na Bahia, quem la queira na nova alternativa, mas eu não acceito um magro Momo! E o barrigão do Buddha não combina com caveira!
Respeito à tradição, é o que se espera, e não “revisionismos” de improviso, do typo que infernize o Paraiso, achando alguem que a historia recupera!
Exfregue o barrigão: quanto mais liso, mais sorte o Buddha dá! Jamais chimera será da gente a fé! Não é por mera crendice que taes gordos causam riso!
FLAGRANTES FRAGRANCIAS [3108]
Quando é que Beto, o Gordo, desconfia que aquelle seu chulé ninguem aguenta?
Sentir um fedor desses pela venta não dá, nem p’ra allegar podolatria!
Cheirar gaz venenoso até seria melhor, menos mortifero! A nojenta e grossa meia, aquelles tennis… Tempta o Beto um só podolatra, hoje em dia.
Si fede, ‘inda calçado, o seu Rainha ou Nike, então calculem o que não será quando o tirar! Quem adivinha? Só mesmo eu para dar-lhe esse tesão!
Quem mais tal phantasia ainda tinha?
Ja sei: vocês pensaram que o Gordão não passa de mais uma idéa minha! Erraram: dos Toy Dolls isso é canção!
CHEIINHO DE SI [3113]
Um outro gordo está, todo pimpão, feliz por ser amado. Canta o Billy: “Nenen, estou de volta! Nem vacille e corra para mim, para o seu pão!”
A Deus elle aggradesce por ser tão charmoso, irresistivel: num desfile, na certa batteria quem depille a perna e se bronzeie, alto e magrão!
“É molle? Que garota Deus me deu! Doçura de menina! E ella aggradesce a Deus por ter seu gordo, que sou eu! Até que a prece della e a minha prece/ /parescem combinar! Quem me entendeu notou que ella tambem não emmagresce… Nem sou la tão galan quanto o Romeu, mas, com a Julietta, quem paresce?”
JOGO DE CINCTURA [3119]
Mulheres cadeirudas, quando assaz largonas nas cadeiras, mais azedo o humor que ellas destillam! Tanto faz casadas ou solteiras: dão-nos medo!
Andando, ellas rebollam. O rapaz, que lhes caminha ao lado, dum enredo pathetico apparenta estar por traz, no qual foi envolvido desde cedo.
A coisa até meresce attento estudo. Emquanto namoravam, a menina ainda era magrinha: até combina a imagem dum casal tão certo em tudo.
Mas nadegas teem porte bem bojudo. Depois que ella foi tendo maior anca, por pouco o namorado não expanca, berrando a todo instante, e o gajo mudo.
ANTES QUE ME ALMOSSES, TE JANTO! [3548]
Um amigo, que é gordão, decidiu: caso o doutor diagnostique que elle não dura muito, vae se impor.
“Vou comer, seja o que for, à vontade! E comer tão fartamente que, sem dor, morrerei de indigestão!”
“Para o cancer, nem vae dar tempo habil: em logar de soffrer, me satisfaço!”
Isso mesmo! O meu abbraço!
Dou razão ao meu amigo: tambem como e pouco ligo si me empacha um prattarraço sem siquer, vago, um espaço!
A VOLTA DO CASAL IDEAL [3566]
Quando engorda na cinctura, para um homem tudo muda: o tesão, que menos dura, vae ficar como o do Buddha.
Na mulher gorda, é tortura, pois se torna cadeiruda e ella delle nada attura sem mostrar-lhe a lingua aguda.
Si caminham lado a lado, faz careta ella de enfado e elle exhibe expressão triste. Nem ha riso que despiste.
Si elle opina, ella lhe attalha, mais loquaz do que uma gralha, e o coitado nem insiste. À gorducha alguem resiste?
PESADO
(1)
MASOCHISMO
(1/2) [3813/3814]
Na cueca, elle tem mancha das mijadas. Mija em pé, mas se senta e se excarrancha si é chupado. Elle quem é?
Um gordão, que, quando engancha seu pau sujo (E que filé!) na boquinha duma fancha, se deleita, baba, até!
A bichinha, que é masoca, faz boquette na piroca com total dedicação.
Mas mal cabe a rolla grossa no orificio! Oxalá possa conseguir penetração!
(2)
O tal gordo, que traz mancha na cueca, e que da bicha fode a bocca, tem tal prancha que seus tennis não são ficha!
A bichinha se desmancha e elogios à salsicha do gordão faz, mas tem cancha, para o cego, o pé que espicha.
O ceguinho, outro masoca, ouve a bicha e se colloca ao dispor do amo gabola.
Este, agora, tem quem lamba seu pezão e diz: “Caramba! Um na rolla, outro na sola!”
ICONICO NIPPONICO [3927]
Só fico imaginando si um sumoka famoso vae cagar, accocorado: alguem sempre está prompto, alli do lado, limpando-lhe o cuzão, de grana em troca.
A mim, porem, a scena que mais toca é aquella do tesão: elle pellado, sem chance de trepar, sendo chupado, por bocca bem treinada, na piroca.
Meu sonho é no logar estar da gueixa que o chupa: a gorda rolla, com a lingua que nunca de saliva fica à mingua, lavar, si junctou sebo e elle desleixa.
Abrindo bem a bocca, a urina eu pingo-a na lingua que, bem limpa, a glande deixa daquelle esmegma fetido que empeixa e, caso engasgue, humilde, nunca xingo-a.
TROTE RURAL [3993]
Inventaram um “rodeio de gordinhas”: o estudante uma excolhe e monta em cheio no seu lombo, triumphante.
A collega, no recreio, se revolta contra o guante do rapaz, que ao chão só veiu porque a “rez” saltou bastante.
“Pulla, vacca! Pulla, gorda!” Antes que ella a mão lhe morda, grita, sadico, o rapaz, que de bom actor se faz.
Ja mordido, elle se vinga: de “dentuça” agora a xinga, e ninguem a deixa em paz. Quem evita as linguas más?
RODIZIO DE EMBUTIDOS [4134]
A bunda occupa todo o assento e sobra dos lados: elle é gordo, mesmo, e caga, aos poucos, a linguiça! Quando vaga o recto, mais se allarga cada dobra.
Debaixo da privada na qual obra, o gordo escuta a surda voz, a praga raivosa que ella solta, rouca, gaga, que o paio emmudesceu mas se recobra.
Na bocca, que pragueja e que se cala a cada salsichão a mais que desça, salame entrou, tambem, para tapal-a. Augmenta a pilha, cresce, então. Que cresça!
Peidando, o gordo faz sobre a cabeça do preso que, no vaso oval, se entalla, um ultimo chouriço: que padesça! Que soffra alli, sem follego, sem falla!
O CAUTO CAUSO DA GORDINHA [4136]
À eschola as trez meninas vão de van e trocam confidencias. Uma diz que espera ser modello. Outra feliz seria si, no esporte, campean.
Comtudo, a mais gordinha algum galan deseja conquistar. Dos mais gentis da classe, namoral-a nenhum quiz ainda, mas não acha a espera van.
As moças o leitor que não confunda! Modello não será, mesmo, a primeira, pois logo engorda. Esporte, que a segunda adora, exsiste algum que obesas queira?
Nenhuma em depressão, porem, affunda. Actriz vira a primeira. Outra é doceira. Casou-se, a “gorda”, e é delle a maior bunda. Sim, bunda do marido. Foi certeira.
UM GRAMMA DE GRAMA [4184]
Si houver consummação, pode o consumo ficar muito mais caro em minha mesa. Si o pratto consumido é da franceza cozinha, me abhorresço e me consumo.
Pois facto consummado é que, si o rhumo for esse de evitar a pança obesa, porções sempre menores, com certeza, virão, e as refeições nunca eu consummo.
Terei, portanto, o estomago vazio, quer seja o preço baixo ou elevado, ao fim de cada almosso onde o boccado não chega! E, quando passo fome, eu chio!
O duro é pagar caro e, consummado o assalto ao bolso, sem nem dar um pio ao ver a compta, achar que me enfastio por só ter consumido um grão piccado!
MOTIVO DECISIVO [4589]
Encontram-se, ellas duas. Cadeiruda, lamenta-se a primeira: “Meu marido nem ganha barriguinha e eu, aqui, lido com esta cincturona, que não muda!”
A amiga, que tem pança, ja, de Buddha, concorda: {Meu marido tem vencido até concurso, pode? E eu não decido si quero emmagrescer! Nada me adjuda!}
“Querida, precisamos é tomar, depressa, uma attitude, pois, sinão, ficamos sem moral no nosso lar! Mais tarde, ja razão não nos darão!”
{Sim, vamos pôr as coisas no logar! Não é, querida? O jeito é mesmo, então, usarmos nossa força! Vou sentar o braço! Elle que banque o valentão!}
VIAJANDO
NO DESEJO [4789]
Num omnibus lotado, o punk attraz está do funccionario engravatado, no meio dos que estão em pé. Do lado direito deste está mais um rapaz.
Do lado esquerdo, a gorda que está faz diversos movimentos: seu gingado instiga o punk, a poncto de, assanhado, ficar de picca rigida, sem paz!
Tentando approximar-se da gorducha, o punk exbarra, erecto, no subjeito de terno que, num ecstase, extrebucha! Tambem outro desfructa, nesse estreito/ /espaço, da pistola, ou da garrucha do punk, e quer, em sonho, o ter no leito… Me contam e commigo penso: Puxa! Será que isso contaram-me direito?
RENDENDO GRAÇAS [4798]
Voltando do seu medico, o gorducho deixou-se desabar numa poltrona: “Caralho! Que desanimo! Funcciona algum remedio? Nada! E eu encho o bucho!”
Queimou, assim, um ultimo cartucho: tentar emmagrescer com “putazona”, “tripina”, “penical”… Depois da nona caixinha, não aguenta elle o repuxo.
Jamais terá perfil mais leve e fino! É tanto comprimido para nada!
Ser cada vez mais gordo é o que o destino reserva a quem comer maccarronada!
Que seja! O obeso admitte: “Eu não domino meu peso e meu estomago, mas cada prattão de maccarrão acho divino! Cortar não vou aquillo que me aggrada!”
NORTISTA OPPORTUNISTA [4803]
Que calor! Sob o sol forte, a gorducha, que passeia na calçada, acha, por sorte, a padoca, que está cheia.
Sem um medico que corte seus desejos, ella anxeia por sorvete! Alguem do Norte suggeriu: caju na veia!
Si caju, de facto, dá, oubebida bem gelada ou sorvete, a gorda la não está tão preoccupada…
Suadaço, o que ella sente na padoca assaz lotada é um aroma differente de sovaco, que lhe aggrada…
QUANTO ENCANTO! [4822]
Quer a gorda vestir jeans appertados, mas não dá. As medidas são ruins e o tecido caro está.
Uns machucam os seus rins, outros entram fundo la. Mais parescem ser mirins os tamanhos… Mas será?
Costureira mais nenhuma para a gorda uns jeans arrhuma que lhe sirvam, sabe agora. Qual padrão, emfim, vigora?
Affinal, ella desiste e nem fica assim tão triste si, pellada, alguem a adora. É o que importa, né, senhora?
ESPELHOS DIFFERENTES [4879]
Charmosissima, a gorducha tenta achar um namorado. Acha magros, só: de bruxa seu poder tem fracassado.
Quer um gordo, a gorda, e puxa dum o sacco, mas, coitado, de afflicção elle extrebucha, pois é um typo complexado.
“Tão charmosa! Ella não vae me dar bolla, jamais! Ai! Com certeza um magro quer… Impossivel meu affair!”
Diz comsigo assim o tal gordo timido, que egual nem percebe-se à mulher. Accredite quem quizer.
RESTOS VITAES [4880]
Coitadinha! A adolescente se acha feia! Ella quer ser bem mais magra, pois se sente gorduchinha! Que fazer?
Todo espelho lhe desmente a impressão, mas sem poder de fazer com que essa mente se convença e ache prazer.
Vez mais cada magra fica: das “modellos” pega a dica sobre como se emmagresce. Pobrezinha! Ah, si soubesse!
Nesse assumpto eu não me metto! Que se eguale ao eskeleto! Mais um pouco, à cova desce, a pedir, dos vivos, prece.
DIANA, A FREUDIANA [4961]
Dormido mal tem ella, mas agora scismou de interpretar os sonhos. Diz que tudo tem sentido e as infantis vontades voltarão a qualquer hora.
Accorda, ‘inda durante a noite, e chora: accaba de sonhar que virou miss e o medico a prohibe de, feliz, comer o bomboccado que ella adora!
Horrivel pesadello! Afflicta, sonha que, quando der uminha, uma dentada no doce, engordará qual cheia fronha! No sonho, ella mordeu: ficou inchada/
/na hora! Um analysta a fez tristonha, dizendo o que é real: “Qual miss, qual nada! Você tem que tomar é mais vergonha na cara, ver si espelha a má fachada!”
CIRURGIA BARIATRICA [5067]
O medico advisou: “Moço, o caminho é facil! Seu estomago eu reduzo!”
O obeso concordou: {Ja não abuso, comendo, e perdi peso! Estou fininho!}
{Não chego a passar fome, não definho de fracco, mas, confesso, estou confuso! Passei de mais papel a fazer uso! Ficou o meu cocô mais fedidinho!}
{Ficou mais concentrado, mais curtido… Bom, para ser sincero, ficou bem mais fetido, ficou até fedido demais! Eu não aguento, nem ninguem!}
{E agora? Não tem jeito? E si eu decido voltar attraz? De novo opero? Alguem garante que o fedor é revertido? Mas cheiro… Ora, as cagadas sempre teem!}
ODE AO IRRUMADOR
[5578]
Diego me provoca novamente, dizendo que, no video, o gordo fode do cego a bocca à força, bem sciente de como se engasgar o otario pode.
Eu fico ouriçadissimo! Na mente bem sinto dos pentelhos no bigode o odor forte de mijo, repellente, mas preso sou nas mãos do obeso bode.
Um penis só supporta, tão premente, um cego ou travesti, dizer accode à verve do Diego que, inclemente, instiga a que, na bronha, ja me açode.
Só penso nisso: um cego ja se sente inerme e sem excolha. Alguem que rode com elle de joguete, de repente é feio, mau e sujo: um thema à ode.
MISCELLANEA DOS SUBESTIMADOS [5822]
Noutros versos, com clareza, eu do gordo dei a dica. A pessoa, sendo obesa, mais versinhos justifica.
Ponho as chartas sobre a mesa: quando um gordo deprê fica, que se espelhe em quem é presa da atrophia: aquillo é zica!
Versejei eu, em defesa do alleijado. Mais titica ventilar vou e tem vez a voz do vate que edifica.
Sei que alguem de rolla tesa fica quando verifica que entre os cegos a tristeza é maior si chupam picca.
REDONDAMENTE ENGANNADA [6460]
Me lembro, Glauco! Eu era a garotinha mais agil e magrella! Pullei chorda, gymnastica fiz, tive minha horda de vandalas, pirralha fui, pestinha!
Mas hoje nada posso! Ganhei minha barriga, não de gravida: de gorda, obesa mesmo! Querem que eu me morda de inveja? Ah, das amigas, do que eu tinha!
Teem ellas o corpinho rectilineo que tive! Por que, Glauco, só commigo rollou? Será missão? Será castigo? Explique-me qual é seu raciocinio!
Não! Serio? Tem certeza? Tal declinio tambem ellas enfrentam? Nem consigo notar, só contemplando o meu umbigo? Ai, Glauco! Deus lhe dê luz! Illumine-o!
MULHER GORDA [6564]
(para Beatriz Goldonut)
Eu, gorda? Ah, vão tomar no cu! Chamar-me de gorda foi demais, Glaucão, demais! Ai, Glauco, só você para meus ais ouvir, saber por que dou esse allarme!
Será que não percebem quanto charme tem uma moça fofa? Ah, são os taes “gordophobos”! São antinaturaes!
Será que, ainda, tenho que explicar-me?
Mulher muito magrella, muito sem contorno, sem trazeiro, sem nem seio, é coisa pathologica! No meio politico, jamais pinctou alguem!
Não, Glauco! Porra! Quando um gajo vem com essa de “gordinha”, não me freio!
Você ja não está de sacco cheio ouvindo “Oi, cego!”, typo um nhenhenhem?
GORDURA OU SOLTURA [7188]
Você toma remedio que emmagresce, poeta? Não? Melhor é não tomar, sinão, alem de magro não ficar, cagar irá nas calças! Quem meresce?
Quem tem prisão de ventre faz a prece de praxe, vella accende num altar, mas nunca caga molle! Elementar, meu caro menestrel! Ou deu, ou… desse!
Um gajo que conhesço tomou certo remedio que indicaram e na moda esteve, trovador! Esse foi foda! Borrava-se ao peidar! Por isso allerto!
Commigo o jogo sempre foi aberto! Prefiro ficar gordo! Não me engoda nenhuma propaganda! Se incommoda alguem? Quer ficar magro? Fique experto!
MANIFESTO DETALHISTA (1/2) [7968]
(1)
{Você disse que curte muito um video pornô que exhibe um gordo copulando na bocca dum ceguinho, o qual engulha. Notei que, quando param de chupar, as lubricas actrizes que lhes foda a bocca ao macho pedem: “Fuck my face!” Não dizem “Fuck my mouth!” e sim o rosto. O macho então começa a, para dentro da bocca das garotas, socar sua caceta até gozar. É sempre assim. Pergunto-lhe, Glaucão: Do que mais gosta, ainda, chupar pau ou chupar pé? Acaso ja deixou alguem foder a sua bocca, typo lhe bombar o pau sem que você mexa a cabeça? Consegue aguentar firme, sem engulho?}
(2)
-- Qualquer um quer foder, caso convide-o, a bocca delle, della, a seu commando. Se chama “irrumação” quando algum pulha se deixa pelo macho penetrar. Ja fui, sim, penetrado. Quasi toda a rolla affundou, quinze, dezeseis centimetros. O cara foi com gosto! Sim, quasi vomitei. Mas me concentro bem nessas horas. Quasi que recua a gente, mas aguenta. Para mim, difficil foi, pois, cego, dar resposta não posso, negativa. Melhor é lamber, num pé, chulé sem responder negando, mesmo quando o calcanhar tem grossa casca preta, a sola espessa camada de sujeira. Até me orgulho…
FLATULENTO FLA-FLU (1/2) [8003]
(1)
Sahiu silencioso o peido. O staff começa a perceber. Todos de terno, sentados ao redor. O proprio chefe sentiu, forte, o fedor e ja se abbanna. Augmenta a fedentina. Alguem offega. “Caralho!” - um assessor deixa excappar. De facto, o odor offende. Não se evitam olhares ao gordinho que, coitado, tambem se abbanna, sua, constrangido. O chefe se levanta da cadeira, respira fundo, tosse, pigarreia e todos logo imitam o seu gesto, incluso o gordo. Expreitam-se de esguelha o gringo, o contador de causos, um sobrinho do patrão. Que malestar!
(2)
Peor que commetter alguma gaffe no pappo é peidorrar nesse moderno e aseptico escriptorio. O mequetrefe capaz de fazer isso, rindo, enganna a todos. É o coppeiro que, ao collega, la fora, gaba-se. Indo ao paladar do chefe, seu café faz que repitam a dose e approvem, como que do aggrado geral. Ah, si soubessem quão fedido é o peido do rapaz, que bem se exgueira servindo à mesa! Solta, volta e meia, seus gazes e dalli se evade, presto! Nem sempre os solta. Só si der na telha. “Meu time perdeu? Sintam o meu pum!” -com seus botões diz, antes de ir cagar.
IMAGEM E SEMELHANÇA
(1/3) [8005]
(1)
Ao verem o pornô video que linko, mostrando a irrumação dum cego por um gordo pelladão, amigos meus estão inconformados: “Glauco, porra, aquelle gordo é um nojo, um horroroso exemplo de sadismo! O cego está debaixo da barriga desse cara, fodido até no fundo da garganta, e está você curtindo ainda a scena?”
Respondo que o gordão ja não seria objecto de repudio si vestido se achasse e não gozasse num ceguinho.
(2)
Explico-lhes que, em verso, jamais brinco em falso quando almejo um fodedor gozando-me na bocca. De meus breus quem tira sarro, em ampla e total zorra, nem sempre é gordo. Pode em mim ter gozo um manco, um magricella, alguem gagá, feioso, fedidão, voz de taquara rachada, leporino labio, tanta mazella quão possivel, mas é plena a minha sensação de serventia. Importa-me, masoca, que a libido preencha quem me nega algum carinho.
(3)
Si cego sou, com todo o meu affinco demonstro-me incapaz ou inferior. Só tenho utilidade aos philisteus, inerme e fragil, caso não recorra a Deus emquanto fode-me gostoso o mais fraccote delles, que fará soffrer qualquer Sansão que escravizara. Por isso o meu leitor ja nem se expanta si algum desses amigos me condemna. Cuidado teem commigo, mas eu ia dizendo que em punheta é que consigo servir a algoz tão proximo ou vizinho.
PHAROLEIRO MOTOQUEIRO (1/2) [8082]
(1)
{Você, que é meu vizinho, não escuta aquella moto chata que circula sem rhumo pelo bairro, Glauco? Não escuta a barulheira? Pois sabia que disso o proprietario não é boy filhinho de papae nenhum, mas sim um velho, gordo, comico baixote? Pilota a Harley Davidson, Glaucão, só para se exhibir! Só dando volta se expõe no quarteirão! Tenho certeza que seja complexado, corno, brocha e tenha pau pequeno! Não, só pode! Glaucão, calcula a raiva que me dá?}
(2)
-- Escuto, sim, até mandei à puta o dono da tranqueira. A gente fula da vida fica. Aquelle barulhão irrita mesmo. Logico seria que fosse dum playboy. Mas quem remoe rancor do cara appenas por ruim de cama ser, faltar-lhe melhor dote erotico, não creio que razão meresça. Revelar sua revolta podia parescer, tambem, burgueza inveja, não podia? De galocha é chato o gajo. Poncto. Mas se fode quem pensa só na grana. Xa p’ra la!
ODE CONFESSIONAL (1/4) [8162]
(1)
Preciso confessar! Guardei segredo durante quattro decadas! Ninguem iria accreditar si, mesmo quando abri meu fetichismo, eu confessasse mais cedo. Nos septenta, com Villaça privei. Antonio Carlos, o gordão que banho não tomava, sobre o qual diziam que fedia. Eu lhe trocava a fita para a machina, battia um pappo no seu quarto. Não somente…
(2)
Ganhei delle Cesario Verde, enredo de muitas bronhas. Delle foi tambem presente o diccionario Aurelio. O pando chronista gargalhava, a rubra face brilhando de suor! Quão suadaça seria a sua sola? Meu tesão trahiu-me e me propuz a ser pedal callista delle. Minha lingua escrava lavava o vão dos dedos, se mettia por entre o que salgado mais se sente…
(3)
Sujeira accumulava-se entre o dedo mindinho e seu vizinho, que o vae-vem da lingua removia. Até chupando as unhas eu fazia que ficasse mais limpa aquella fetida carcassa. De quando em vez, chamava-me elle, tão depressa retornasse ao imperial hotel, ao casarão onde morava a gente, então num Rio que phobia não tinha duma guerra permanente…
Agora septentão quasi, ja cedo às minhas conjecturas de que, sem pudores, posso, até num tom mais brando, fallar de sacanagem, sem que passe appenas impressão, que às vezes passa, de ser masturbatoria perversão. Contaram-me que alguem, fallando mal do cheiro delle, escreve e lança. À fava quem falta com respeito à nostalgia que sinto do escriptor, sempre presente!
ODE AO DEDO DURO (1/2) [8173]
(1)
Relatam nossos proprios torturados detalhes do papel que desempenha o typico cagueta no odioso regime militar. Em livro, o preso nos conta que informante, no paiz, jamais faltava: algum discreto moço podia ser quem ia, ao “entregar” suspeitos, convidado ser por um agente do DOI-CODI a, si quizesse, sessões presenciar. Um delles deu resposta a tal pergunta nestes termos: -- Ahi, quer assistir? Quer ver um show legal de pau de arara? Foi você que o caso dedurou. Quer assistir? -- Uau, si quero! Posso mesmo? Uau!
(2)
Narrou o preso: Foram muito usados os methodos banaes nessa ferrenha usina de tortura. Tinha gozo maior que o dos carrascos um obeso baixote, delator dum infeliz vizinho communista. Num pau grosso ficou dependurado, com um par de fios connectados ao bumbum, ao sacco, ao penis, para rezar prece, o tal de “subversivo”. Se fodeu bonito, como achou, si nós soffrermos a curra, tal gordinho, a quem eu sou egual ao torturado, que mal vê o pé que em suas fuças insistir irá, pisando como num degrau.
ODE CONSEQUENTE (1/5) [8179]
(1)
Na bota, que tem sola de borracha, a lingua que lamber vae, como flecha se estica, sae da bocca, a poncta espicha. Quem calça a bota zomba, ri, debocha do cego, cuja lingua virou bucha.
(2)
O gordo, que é baixote, a rir excracha do cego a posição. Elle desfecha commandos humilhantes, pois, sem rixa, dum cego faz escravo, que a galocha lambeu e, com os labios, chupa, puxa.
(3)
Tirada a bota, appós ser baba a graxa, na chata sola o cego, que se vexa, pejado do vexame, lambe e lixa chulé de casca grossa. Alli se attocha a lingua, que mais lava que uma ducha.
(4)
Ao gordo, superior que, claro, se acha, um cego meresceu levar a pecha de macho deshonrado. O algoz só picha a falta da visão e, rindo, arrocha quem beija mais sujeiras que uma bruxa.
(5)
Só mesmo sendo cego alguem relaxa a poncto tal a lyra, que lhe fecha com aurea chave, e euphorica, a mais micha das odes, pois jamais o bardo brocha si mesmo o astral mais baixo desembucha.
AUDIODESCRIPÇÃO DA IRRUMAÇÃO [8461]
Um video me descrevem como sendo dos cegos prototypico: o subjeito, vendado, engole um penis. Eu me vendo e sinto penetrado, com effeito. O cego não excolhe: seu horrendo breu tolhe os movimentos. Eu me deito de costas appoiadas e vou tendo a bocca a lhe servir de furo estreito. Gorducho, o fodedor diz: “Me deleito assim, entrando fundo!” E me segura os braços, as orelhas. Seu proveito eguala-se ao da foda simples, pura. Bombando, movimenta-se. “Bem feito!”, escuta o cego e um “Foda-se!” da dura voz ouve. Na garganta me subjeito ao gozo. A porra engasga-me e amargura. Vendar, na enscenação, faz a figura mais sadomasochista ter funcção didactica. Outros videos à postura recorrem e descriptos tambem são. Me cabe, como cego que sem cura ficou, compenetrar-me dessa tão veridica filmagem. Quem me fura os olhos tem o olhar dum olho são.
LICÇÃO DE RUA [8566]
A gorda, que perdeu recentemente os olhos, é bonita, mas bobinha.
Andando na calçada, ella apporrinha, com sua bengalinha, muita gente.
Ainda que medir os passos tente, não sabe caminhar em recta linha.
Dois brutos marmanjões, que ella ja tinha trombado, vão parar na sua frente. Fingindo offerescer adjuda, dão o braço, mas a levam a local fechado, onde estupral-a acham “legal”, pois querem que ella “apprenda uma licção”.
Na bocca a fodem fundo, gozação fazendo: “Engole, cega! Ahi, que tal?”
A gorda, adjoelhada, grunhe e mal consegue, mas curtindo os dois estão.
Na rede virtual, a dupla posta o video que gravou, no qual a gorda se fode. Todos acham bom expor da coitada a bocca cheia. A turma gosta.
A cara lembra alguem que comeu bosta. Os jovens, sem deixar que a cega morda a rolla que lhe mettem, ao sabor da sucção junctam sebinho, em grossa crosta.
PESO DOS ANNOS [9064]
Hem, Glauco? Mano, veja que injustiça! Estou ja prompto para apposentar-me, mas negam-me esse liquido direito! Disseram que estou gordo demais para alguem que só na roça trabalhou!
Disseram que quem colhe e planta queima bastante caloria, não teria nem como um trampo desses engordar! Disseram que trabalho braçal tem que sempre emmagrescer qualquer peão!
Magina, Glauco! Um monte de empregado na terra, num commercio ou numa fabrica, daquelles que conhesço, sempre foram ballofos, barrigudos e pesados!
Appenas os politicos gorduchos são mesmo vagabundos, como os magros da mesma actividade, por signal!
Estou inconformado, Glauco! Ouviu você fallar alguem dum caso desses?
Maior gordophobia nunca vi!
SOLIDARIEDADE DE CLASSE [9228]
Fizeste referencia ao colleguinha gorducho que, depois das aulas, era bem sadico comtigo, menestrel. Será que todo gordo quer um jeito de em cyma dum magrella desforrar? Pergunto porque tive tambem um collega gordo, sadico, que em cyma de mim descomptou toda a frustração. Fazia-me chupar rolla, lamber chulé, beber urina, como narras tu nesses versos superexcitantes. Eu acho que estás certo quando dizes que, quanto mais revolta alguem remoe, mais sadico será quando tiver a chance de vingar-se de si mesmo.
GORDO?
[9328]
Piadas sobre gordos podem ser contadas sem problema, ainda, Glauco? Azar si não puderem, pois eu vou contal-as à vontade, eis que sou gordo! Logar de falla tenho, tanto quanto você, que, sendo cego, sempre conta seu caso masochista, appós um bullying do qual sahiu poeta, alem de escravo.
PHANTASIADO? [9657]
Os gordos, si masocas, soffrem paca, concordo com você. Mas, quando são os sadicos, Glaucão, ah, sae de baixo! Escravo fui dum gordo! Como dava trabalho para aquelle cu limpar com minha lingua, Glauco! Ocê queria estar no meu logar? Acho que não!
SOBREPEJO POR SOBREPESO [10.034]
Glaucão, vou descrever para você o lance instagrammavel, como o vejo, dum publico banheiro, o malfazejo effeito, nas narinas, do buquê.
De merda a fedentina ninguem vê, mas borra as rachaduras do azulejo. Sentar alli? Tal coisa não desejo a alguem: que se segure emquanto dê!
Sem agua, aquella verde e gratinada camada de cocô quasi transborda do vaso. Um gajo obeso se recorda:
“Que nojo, meu!” As fezes, ao redor da bacia toda, fazem quem engorda sentir-se qual leitão que em lodo nada!
DIA DE COMBATTE À OBESIDADE [10.360]
Com medo da ballança, fica a gente tentando não pensar nesse quindim que está na padaria, no puddim de leite, temptador, à nossa frente.
Desculpa a gente inventa. Tem o dente mais carie, tem o sangue essa ruim porção de glycemia, augmenta assim, assado, o peso… Gordo, quem se sente?
Não quero nem saber, emfim eu penso. Ao demo o diabetico perigo! Comer irei aquelle doce immenso!
Aquelle doce enorme, em que me instigo! Aquelle doce falso que eu, ja tenso, me privo de provar, como castigo!
DIA DO CONTROLE DE PESO [10.525]
Coitado de quem vive, na ballança, com medo de engordar, medindo o seu supposto peso certo! Quem perdeu na certa ganhará, maior, a pança!
Sou gordo desde sempre, Glaucão! Dansa bonito quem quizer ser magro, meu! Um dia me illudi! Que phariseu meu medico foi, tendo vida mansa!
Vivia me cobrando que perdesse mais peso, que comesse menos, esse patife! E elle comia até bem mais!
Mas, Glauco, não tardou que se fodesse! Morreu subitamente! Ninguem nesse pappinho caia desses radicaes!
DIA DA BAILARINA [10.581]
Eu bem dansava, mestre! Era magrinha, levinha, super agil, que só vendo! Agora, mestre, engordo! Não entendo! Estou perdendo toda a minha linha!
A bunda me cresceu, ficou fofinha, redonda demais, mestre! Estou perdendo aquella agilidade! Está crescendo tambem minha barriga! Antes não tinha!
Eu era bailarina, mestre, bem quotada nos theatros mundiaes! Hem, mestre? Que farei nos palcos? Hem?
Melhor não pensar nessas coisas mais? Serei o que? Drag queen? É mesmo! Quem diria? Accabarei com estes ais!
DIA DO ATHLETA [10.595]
Glaucão, és tu poeta, mas athleta sou eu, com todo o orgulho que me cabe! É justo, menestrel, que eu ca me gabe de, em tudo, manter ficha assaz completa!
Nas provas de gymnastica, da recta não fujo! Numa quadra, ninguem sabe jogar assim! Conhesço quem se babe de inveja, mas fofoca não me affecta!
Disseram que eu sou perna de pau! Pode? Affirmam que não venço nem torneio de eschola! Mas ninguem, Glaucão, me fode!
Tu queres ver? Appalpa aqui! Bem cheio não achas que sou? Algo que incommode tambem tu tens, no teu mesquinho meio!
DIA DO PIZZAIOLO E DO PASTELLEIRO [10.745]
Passou o pizzaiolo pela feira e, vendo o japonez que, na barraca, vendia seus pasteis, maluco paca ficou por elle! Sim, sem brincadeira!
Deixou-lhe seu chartão… Na sexta-feira, pinctou na pizzaria, de resaca, o japa, appaixonado tambem! Saca você quem mais comeu, a noite inteira?
Naquelle casal lindo não exsiste motivo para crise de ciume, Glaucão, ja que ninguem alli resiste!
Gordissimos ficaram! O costume da mesa antes da foda muito chiste gerou, mas a razão ninguem assume…
DIA DA ESTATUETA DO BUDDHA [11.065]
Ouvi fallar, Glaucão, que a estatueta do Buddha dará sorte caso a gente lhe mexa na barriga! Realmente, aquelle barrigão é bem porreta!
No meio do umbigão, caso alguem metta o dedo, vibrações bemvindas sente! Precisa approveitar essa corrente astral, estando o Buddha de veneta!
Você ja sei, Glaucão, que preferia passar a mão na sola, que é gorducha, da mystica esculptura! Ahi, confia!
Ja teve sorte desse jeito? Puxa! Buddhista nem sou, mesmo, mas, por via das duvidas, não acho fria ducha…
DIA DE COMBATTE À ANTIOBESIDADE [11.381]
Entendo que será gordophobia dizerem que ninguem deve engordar. Por isso defendi gordos, no bar, battendo um bello pappo, certo dia.
À mesa, gorduchinha, a minha thia commigo concordou. Commemorar quizemos e pedimos, no logar do tiragosto, muita porcaria.
Comemos, de torresmo, uma bandeja inteira. A pheijoada mais completa pappamos, regadissima a cerveja.
Aqui neste boteco, ninguem veta, siquer meu doutor, caso o gajo veja, que eu peça a sobremesa predilecta…
Me lembro, Glauco! Eu era a garotinha mais agil e magrella! Pullei chorda, gymnastica fiz, tive minha horda de vandalas, pirralha fui, pestinha!
Mas hoje nada posso! Ganhei minha barriga, não de gravida: de gorda, obesa mesmo! Querem que eu me morda de inveja? Ah, das amigas, do que eu tinha!
Teem ellas o corpinho rectilineo que tive! Por que, Glauco, só commigo rollou? Será missão? Será castigo?
Não! Serio? Tem certeza? Tal declinio tambem ellas enfrentam? Nem consigo notar, só contemplando o meu umbigo!
SONNETTO DUMA MULHER GORDA [12.123]
Eu, gorda? Ah, vão tomar no cu! Chamar-me de gorda foi demais, Glaucão, demais! Ai, Glauco, só você para meus ais ouvir, saber por que dou esse allarme!
Será que não percebem quanto charme tem uma moça fofa? Ah, são os taes “gordophobos”! São antinaturaes! Será que, ainda, tenho que explicar-me?
Mulher muito magrella, muito sem contorno, sem trazeiro, sem nem seio, é coisa pathologica, até, creio!
Não, Glauco! Porra! Quando um gajo vem com essa de “gordinha”, não me freio! Você tambem está de sacco cheio?
SONNETTO
DA VIDA MANSA [12.594]
Até que não estou tão chateada! Perdi meus paes, perdi meu irmãozinho… Havia aquella pedra no caminho… O carro cappotou, rollou na estrada!
Perdi tambem, Glaucão, meu camarada nas luctas tão heroicas que, cedinho, travamos no paiz -- que, coitadinho, morreu nas mãos daquella vil cambada!
Perdi todo o dinheiro duma herança deixada por vovô… Perdi tambem a fé que mamãe teve num Alem!
Jamais perdi, comtudo, minha pança… Mas, em compensação, eu como bem!
Azia nunca tive! Eu estou zen!
SONNETTO
DA GORDURA E DA SOLTURA [12.703]
Você toma remedio que emmagresce, poeta? Não? Melhor é não tomar, sinão, alem de magro não ficar, cagar irá nas calças! Quem meresce?
Quem tem prisão de ventre faz a prece de praxe, vella accende num altar, mas nunca caga molle! Elementar, meu caro menestrel! Ou deu, ou… desse!
Remedio me indicaram que na moda esteve, trovador! Esse foi foda! Borrava-me ao peidar! Por isso allerto!
Prefiro ficar gordo! Não me engoda nenhuma propaganda! Se incommoda alguem? Quer ficar magro? Fique experto!
CYCLO “O PUNK E A GORDA” [1921/1930]
SONNETTO PARA UM DESENCONTRO DE INTENÇÕES [1921]
Até que o punk attrae uma garota: embora maltractado, é bem bonito. O instincto maternal que nella brota explica-se no esthetico conflicto:
Cabello arrepiado, immunda bota, olhar menos cholerico que afflicto, até quando elle cospe, ou quando arrocta, provoca nessa fan quasi que um grito.
Não é (Mas que ironia!) a tal menina quem vidra esse rapaz, quem o fascina, e sim uma gorducha, feia até.
Mas esta, mais madura, não quer nem saber dum punk ainda joven, bem magrello, que na certa tem chulé.
SONNETTO PARA UM PLATONISMO EXQUISITO [1922]
E o punk, o que viu nella? Ha como vermos? Talvez seu jeito meigo, sua voz macia, advelludada, que, aos enfermos carentes, é a da mãe de todos nós.
E fica aquelle impasse: para termos melhor noticia desse drama atroz, vejamos, por exemplo, quaes os termos usados pelo punk, estando a sós.
Escreve elle, coitado, em seu caderno, num tom entre o grottesco, o rude e o terno: “Leitoa! Leitoinha! Sou seu lobo!”
Bilhetes, escreveu o punk alguns, mas nunca os entregou, e seus jejuns de sexo lhe dedica, feito um bobo.
SONNETTO PARA UMA CONFUSÃO MENTAL [1923]
Na frente da tevê, delira o punk ao ver o MUPPET SHOW: mal a Miss Piggy revira os olhos, faz com que elle arranque do peito outro suspiro e mais se ligue.
Ouviu fallar da Mama Cass, um tanque de amor, jamais de guerra… Não ha guigue, porem, gravada ao vivo, que lhe extanque o choro, tanto quanto o amor lhe instigue.
Costuma ouvir Ramones, cuja “Sheena” lhe traz recordações, mas a menina que a lembra agora é coisa do passado.
Depois que viu a gorda, o punk exquesce as outras referencias: tudo cesse quanto cantava a Musa, o rock e o fado.
SONNETTO PARA A INSEGURANÇA JUVENIL [1924]
Amor adolescente é sempre assim. Diariamente o punk encontra a amada, mas nunca se declara… Todo “teen” planeja muita coisa e não faz nada.
Pensou em lhe dar flores, um puddim, bombons, em convidal-a p’ra ballada, prum show ou prum cinema… MISTER BEAN lhe occorre: elle que, então, se dissuada.
Se julga um desastrado, um trouxa, um fracco. Decide desistir, mas no seu tacco confia novamente quando a vê.
Precisa dum pretexto para à gorda mostrar o quanto é serio quem a abborda e que não quer ser della só o bebê.
SONNETTO PARA UM JOGO DE SEDUCÇÃO [1925]
E quanto à gorda? É socia numa loja da qual o nosso punk é mensageiro. É claro que notou que elle se arroja, fanatico, aos pés della o tempo inteiro.
O joven, propriamente, não a ennoja, mas é-lhe pueril e bagunceiro. Quando, porem, das roupas o despoja na mente, ella o vê macho verdadeiro.
A si mesma, ella admitte: joga charme em cyma do rapaz… {Tem de fallar-me, sinão não tiro a duvida jamais…}
Aquella quente voz quasi sussurra no ouvido delle, como quem da surra gostou e pede: “Batte! Batte mais!”
SONNETTO PARA UM PAPPO DECISIVO [1926]
Emfim pincta uma chance, quando a entrega duma nova encommenda elle alli faz.
A gorda, ao recebel-a, a mão lhe pega e falla olhando os olhos do rapaz:
{Menino, que mão fria! Cê não nega aquelle dicto, né?} E a mão lhe traz mais para perto. Arisco, elle excorrega, mas cede, aggradescendo a Satanaz.
“Que dicto?”, elle pergunta. {Ora, mão fria, coração quente! Ou acha que eu não ia notar, hem, malandrinho?} E elle desmonta.
“Que coração? Um punk então tem disso?”, tentando defender-se, mas submisso, retruca, ja levando a fava em compta.
SONNETTO PARA UM PROGRAMMA BURGUEZ [1927]
Marcaram um cinema. Elle apparesce vestido de maneira até discreta.
A gorda faz que nem o reconhesce, brincando, mas depois é bem directa:
{Ah, va, sei que você não se abhorresce com minhas brincadeiras, nem se affecta si digo o que pensei, né? Cê meresce um beijo, meninão!} E alcança a meta.
Vão ver o filme CRIMES DE PAIXÃO, do Russell, e com ella o joven não se furta a commentar o que lhe veiu.
Depois, um restaurante, quando o cara procura comportar-se, e ella repara que até palita o dente e nem faz feio.
SONNETTO PARA UM REPETECO DO CLOSE [1928]
Na cama, elles reprisam uma scena na qual a falsa puta o tennis tira do cara e o pé lhe chupa. Nada amena achou ella a fragrancia que respira.
Ao ver na sola a lingua, não pequena, da gorda, o punk até diz que é mentira, tamanho seu prazer: nem vale a pena pensar que seu chulé ninguem prefira.
Depois, as posições do corpo são tão variadas quanto as que a sessão lhes tinha suggerido de maroto.
Naquelle mar de carne, o punk está achando que encontrou seu Shangri-La, seu Eden, seu Inferno e seu Exgotto.
SONNETTO PARA UM CONFLICTO DE EXAGGERAÇÕES [1929]
Começam um romance singular: o punk anda mais calmo e pouco chia; a gorda, por seu turno, quer pullar o pogo e está fallando de anarchia.
Si tentam, um ao outro, bajular, verão que a barra forçam, pois um dia o joven prestará vestibular e a gorda ja cansou dessa follia.
A phase vae passando e, logo logo, a gorda diz, sem follego: {Não pogo!} e o punk então responde “Que se foda!”
Termina de repente, no cinema: emquanto ella quer ver o THEOREMA, quer elle um TOMMY, com a chorda toda.
SONNETTO PARA UM DESFECHO EM ABERTO [1930]
Restou-lhes a amizade, é claro: ainda a gorda acha seu punk o mais pezudo e o punk ‘inda acha a gorda muito linda, fofinha e appetescivel… Mas é tudo.
Virou elle estudante. Ella é bemvinda no seu appartamento, mui mehudo, porem acconchegante. Assim que finda outra semana, exquesce-se do estudo.
Tambem, de vez em quando, elle a visita naquella comfortavel e bonita casinha geminada alli na villa.
Àquelles que perguntam quando sae casorio, ambos respondem que não vae sahir, mas nem por isso alguem se grilla.

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