SNEAKERLICKER

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SNEAKERLICKER

Glauco Mattoso SNEAKERLICKER

São Paulo

Casa de Ferreiro

Sneakerlicker © Glauco Mattoso, 2025

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

Fotografia: Claudio Cammarota

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

SNEAKERLICKER / Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2025

160 p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

Que tenho obra podolatra abundante bem sabem meus leitores. Mas me pedem alguma anthologia abbreviada de themas especificos: os tennis lambiveis, por exemplo. Organizei, por isso, um voluminho de poemas diversos, não appenas de sonnettos. Espero que elle instigue, sinão uma sessão masturbatoria, ao menos uma leitura posterior, mais abbrangente, da minha vasta lyra, que não só se liga a taes fetiches, mas abborda assumptos os mais varios, com enfoque nos typos que, inferiores e explorados, são victimas, nem sempre voluntarias, do sadomasochismo omnipresente no campo social, sinão mental.

QUATTROLHO OITAVADO (1/10, Canto Quarto)

IV:1 Pedrinho, que ao ridiculo se arrisca, expreita o vestiario do collegio. Seu faro ronda os tennis, que são isca cheirosa aos fetichistas, como rege o padrão das perversões, que segue à risca. Anxeia, attento, pelo privilegio de alguns delles cheirar, lamber por fora, por dentro, em cyma, embaixo, o bicco, a espora…

IV:2 Embora não confesse o facto em sua fugaz biographia, Pedro passa, alguma vez, por algo que o accua flagrado que foi quando, por mordaça, na bocca um tennis punha que, da rua, poeira accumulava e, suadaça, a meia dentro tinha, ammassadinha, pedindo que alguem cheire essa morrinha.

IV:3 O dono do pisante, de surpresa, pegou Pedrinho quando este suppunha estar alli sozinho: eis que, indefesa, a tara do rapaz tem testemunha sarrista que lhe flagra a rolla tesa! Pedrinho, o Sneaker Licker, ganha alcunha peor que a de Ceguinho ou de Veado, pois micos pagará, chantageado.

IV:4 Ouvindo, do marmanjo, a gargalhada, ainda tenta Pedro disfarsar. Inutil, pois agora não ha nada que possa allegar, para seu azar. Assume, vexadissimo, o que aggrada ao faro e ao paladar: a popular palavra, a sua “tara”, que daria ensejo a um pappo franco em putaria:

IV:5 -- Ahi, Quattrolho! Gosta de chulé? -- Pois é, cara, confesso que é meu fracco… -- Chupar rolla, cê chupa, tambem, né? -- Ja tive que chupar, mas acho um sacco… -- Então o seu negocio é chupar pé?

-- Por isso é que me escondo e nunca attacco… -- Não tem excolha! Ou paga em grana, ou paga chupando rolla, cego! É sua praga!

IV:6 Pedrinho o meio termo negocia com Claudio, que tem pé quarenta e trez e calça aquelles tennis que phobia provocam em quem seja mais freguez de talcos e perfumes que de orgia podolatra: dar, uma vez por mez, um troco e uma chupada em sua picca, mas outro poncto certo tambem fica.

IV:7 Consente Claudio, alem da fellação que Pedro lhe faria mensalmente e alem duma mezada em sua mão, que o cego o pé lhe lamba, mas na frente dos outros marmanjões, que exigirão identico tributo. Pedro, quente sentindo a orelha, a face, compromette a sua honra e em todos faz boquette.

IV:8 Do cego a fama corre, mas não dava mais tempo para a má reputação fazer maior effeito, pois estava o curso em seu final e, em breve, não poria o pau ninguem na bocca escrava. Talvez, porem, alguns delles terão do cego a mais ridicula lembrança, pois nunca de gozal-o alguem se cansa.

IV:9 O proprio Pedro lembra-se de quando nos tennis dos marmanjos dava um banho de lingua, a deslumbrar-se, babujando naquelles pés enormes, do tamanho de athletas do baskete ou de quejando esporte, embora a todos fosse extranho alguem que tem mania assim tão suja e em lanchas taes, sem nojo algum, babuja.

IV:10 Pedrinho viajou, por certo, nessa pirada phantasia, mas, em breve, terá mais uma chance, rica à bessa em typico sadismo, quando deve prestar vestibular e se confessa disposto a achar um curso bem mais leve que lettras ou direito: a profissão de bibliothecario excolhe, então.

DISSONNETTO CORRIQUEIRO [0264]

Andando de bengala na calçada, o cego passa em frente duma eschola na hora em que um inquieto rapazola tropeça-lhe na vara e esta é largada.

O joven cavallão se desaggrada: na vara pisa, e o cego, como esmolla, que tracte de abbaixar-se onde está a sola, emquanto outros moleques dão risada.

O cego appalpa o tennis do estudante. Só falta pôr a bocca sobre o couro. Offega e sente o cheiro do pisante. Que peso, o do vexame e do desdouro!

Lhe passa pela mente nesse instante: Ja velho, tem seu dia de calouro.

Não foi no Bandeirantes nem no Dante, mas vale o mau exemplo, o mau agouro.

DISSONNETTO ZOADO [0502]

Alguns adolescentes, divertidos, visitam a colonia dos forçados. Os guardas, se mostrando, em altos brados, dão ordens humilhantes aos bandidos:

“De quattro!” “Rastejando!” “Dê lattidos!” Levando ponctapés de varios lados, um delles é trazido até os solados dos jovens, que usam tennis encardidos.

A scena, para os sadicos, é bella, ainda que em pau duro não descambe. Sentados sobre o muro, o pé nivela a cara do detento, que ja lambe/

/emquanto o “teen” caçoa: “Ahi, cadella!” Ninguem bolla “esculaço” que excolhambe mais baixo que um marmanjo de favella pisado na prisão por um boy “Bambi”!

DISSONNETTO MATERIALIZADO [0572]

Na rua abbandonado, sujo e ropto, um pé de tênis brilha ao sol que nasce. Tamanho tem que um grande pé lhe entrasse, mas pode até ter sido dum garoto.

Está tão deformado que, canhoto, é como si ao direito se egualasse. Talvez tenha pisado alguma face, talvez seu par ja feda num exgotto.

Por dentro, sem palmilha, a sola grossa do dono deixou marca, que ‘inda cheira. Porem, que ninguem isso cheirar queira! Por fora, ‘inda o cadarço um laço esboça.

Por baixo, os traços gastos e a poeira de muitas adventuras, onde roça dum bebado o nariz, talvez por troça, talvez por fetichista brincadeira.

DISSONNETTO MANUAL [0914]

Sumiu um par de tennis que ficava jogado pelo chão do vestiario. Disseram que elles eram do Romario, mas são de quem um penalty ‘inda cava.

Faz tempo que seu couro não se lava, e a cor ja desbotou, dado o precario estado a que, trancados num armario, chegaram, e a catinga agora é brava.

Occorre-me o que tenho perguntado a todo fan da minha poesia: Quem foi que a mão passou no tal calçado, tão sujo que ninguem o calçaria?

Só pode ser proeza dum tarado! Vocês verão, mais dia, menos dia, vae elle apparescer, tendo passado, alem da mão, a lingua, que é mania!

DISSONNETTO RITUAL [1021]

A bocca do calouro serve para, alem do mais, tirar do veterano o tennis, como um cão. Trabalho insano, si um nó seu dente nunca desaptara!

Cadarços affrouxados, se prepara o “bicho” p’ra morder, sem causar damno, assim que o tennis sae, o grosso panno da meia que, suada, uncta-lhe a cara.

E quanto mais se exforça, mais o cheiro penetra-lhe a narina, ja que offega de cara contra as meias e se exfrega nos pés do outro rapaz o tempo inteiro.

Lamber, depois, a sola do collega paresce inevitavel, costumeiro pedagio de passagem, mas, primeiro, recua: a obediencia é quasi cega.

DISSONNETTO RESGATADO [1024]

Veridico, é o que consta, e não duvido do caso em que um casal cae na cilada. Com uns, a sacar grana, ella é levada emquanto outros manteem preso o marido.

Num sujo banheirinho elle é mantido no chão, mãos para traz, juncto à privada e, quando alguem vae dar uma mijada, respinga-lhe no corpo ja fedido.

Fará que seus lamentos se renovem a gangue, que rir sabe muito bem. Maconha fuma um delles, o mais joven, com cara até de filho do refem.

E é delle que os pisões mais fortes chovem. As solas dos pivetes se deteem no rosto e, antes que a lingua lhe comprovem na rolla, vae lamber tennis tambem.

DISSONNETTO DO FILME CASEIRO [1100]

O video mostra a cara do refem levando ponctapé dum tennis branco, emquanto uma botina dá-lhe o tranco de sola. Os pés que chutam vão e veem. {vêm}

Na bocca, o esparadrappo. A voz de alguem mais joven falla rindo: “Inda te arranco o zóio! Por emquanto só te expanco, seu trouxa!” Outro bandido ri tambem.

Curioso, ao jornalista mais sabido do caso perguntei. Me disse “Vige!” O tennis, que já está meio encardido, na bocca pisa. A victima se afflige.

E, em meio ao riso, escuta-se um grunhido. Fallando no resgate, a voz exige que paguem logo. E o tennis do bandido se affasta antes que alli o comparsa mije.

DISSONNETTO DO CHEIRO CHULO [1551]

Dos cheiros, o chulé bem mais distincto se faz, no corpo humano, que o cecê, aquelle do sovaco, ou o do pincto, com seu sebinho, ou outro acre buquê.

O pé, quando calçado, tem recincto fechado: não ha coisa que mais dê ensejo ao chulezinho que ora sinto, que um tennis bem podrão, creia você!

Ja comparei os typos de calçado, de estreita, de metallica biqueira, meu bute, meu cothurno detonado, meu velho sapatão… mas nenhum cheira!

Aquelle par de tennis, que foi branco um dia, antes da artistica carreira de punk, é o que me dá, para ser franco, maior tesão em toda a sapateira!

DISSONNETTO DO TENNIS [1600]

De borracha é seu solado, p’ra ser antiderrapante, mas, no resto, é variado esse typo de pisante.

Seja em panno ou couro, usado, elle fica tresandante a chulé forte, cheirado por um cego delirante.

Os de nylon tambem fedem, mais que porcos nos chiqueiros, mas prefiro os que arremedem os podrões dos basketeiros.

Da biqueira ao calcanhar, como tantos prisioneiros, vou lambel-o, até gozar o mais lubrico dos cheiros.

DISSONNETTO PARA UMA SECRETA RECIPROCIDADE [1881]

Podolatra em segredo, elle recebe um gajo do trabalho no seu lar. Disfarsa a excitação quando percebe que o gajo tira os tennis ao sentar.

Conversa vae, conversa vem, se bebe cerveja: o gajo logo quer mijar e vae até o banheiro. Elle concebe, então, o que fazer naquelle par.

Os tennis cheira e lambe, ecstasiado, curtindo o chulezão, feliz da vida, emquanto, no banheiro, por seu lado, o gajo olha a botina alli exquescida.

Ironico! Esse gajo tambem é podolatra em segredo: convalida o mythico fetiche e deixa um pé de bota até molhado na lambida…

DISSONNETTO PARA A SEGUNDA VIDA [2004]

No meu dublê de mundo, um avatar iria transitar pelo passado da vida parallela, alem de estar perdido num presente limitado.

Na machina do tempo viajar é forte temptação! Pois, si eu invado de novo minha infancia, qual logar melhor que os ponctos onde fui currado?

E quando reencontro o mesmo cara, de tennis ou descalço, que pisara meu rosto e me obrigara a usar a lingua, nem temo tal offensa, nem mais xingo-a.

Que posso lhe dizer? Direi que faço aquillo novamente, sem cagaço nem odio, pois com tara a tara vingo-a e nunca nessa bronha andei à mingua.

DISSONNETTO PARA UM CALÇADO COBIÇADO [2324]

Si Keds sempre foi marca, o pé thalludo do joven suburbano ja adoptara um “quédis” nacional, mas não tão cara versão dum importado mais “classudo”.

O adagio original diz que “quem tudo quer, nada tem”, mas eu, que tenho tara podolatra, recorro ao que compara calçados e alcançados, e então mudo:

“Quem tudo quédis, nada tennis” fica mais proximo daquillo que me occorre quando a imaginação sacana é rica. Até que, masturbando-me, eu exporre,

appalpo mentalmente, e Freud explica, centenas delles… Gozo… E o tesão morre. Pensar nelles applaca a minha picca: melhor que estar drogado ou tomar porre!

SONNETTOS PARA UM INFAME CERTAME (1/6) [2391/2396]

(1)

Cansei ja de fallar, mas pouca gente em mim accreditou. Agora um novo evento patenteia como o povo de la tem seu costume differente.

Refiro-me aos Esteites: nota urgente agita as redacções, e eu me promovo, pois, graças, de Colombo, a mais um ovo, estou, faz tempo, nisso experiente.

Consiste num concurso de chulé a exotica noticia que, aos jornaes daqui, foi facto extranho, mas não é.

Um joven (quinze anninhos) foi quem mais narizes convenceu de que seu pé meresce menos bronca de seus paes.

(2)

Ja desde a velha decada de oitenta que eu faço do torneio propaganda, mas custa, por aqui, que a coisa expanda seu nivel de interesse, e a marcha é lenta.

O patrocinador que, la, sustenta o evento é algum perfume de lavanda ou pinho, que o custeia e aos jovens manda que exhibam a chulapa chulepenta.

Moleques cujos tennis tenham cheiro mais podre, e que à distancia o jury o sinta, são fortes candidatos a primeiro.

Porem só ganha o premio quem la pincta disposto a ver seu pé cheirado, inteiro, por “velhos” que até tenham mais de trinta.

(3)

Quando é preliminar, julga a disputa um corpo de jurados bem menor, de appenas trez ou quattro, que o suor do joven acquilata em regra arguta.

Ja fui desses juizes: quasi chuta meu rosto um marmanjão, que era o peor chulé da California, um pé maior até que o dum adulto, e expressão bruta.

Na sola lhe fucei, e o cara ria emquanto entre seus dedos meu nariz metti, pois desse jeito se advalia.

Lhe dei ponctuação que o fez feliz e, appós ganhar o premio, elle queria até me dar seu tennis… E eu o quiz!

(4)

Guardei essa reliquia, e ainda a adspiro, mas ja perdeu o cheiro que ganhara o titulo local. Aquelle cara venceu mais campeonatos, virou “hero”.

A scena está bem viva: lhe retiro do pé, bem lentamente, a joia rara que à prancha do skatista se compara, tamanho o comprimento… E quasi piro!

Por dentro, aquelle tennis parescia a fossa destampada e envenenada que a gente ja cheirou, na vida, um dia!

Bem fundo cafunguei e, para cada quesito, constatei, com alegria, mais podre não haver, em jogo, nada!

(5)

Quem eram, me perguntam, os juizes que estavam, a meu lado, dando nota a um joven que descalça sua bota, seu tennis, seu sapato…? Astros? Actrizes?

Será que elles se sentem tão felizes e honrados quanto eu mesmo? Não denota nenhum delles pedir a quem lhe bota na cara a sola: “Quero que me pises!”

São mães, são pharmaceuticos, são, numa local communidade, quem lecciona, quem treina, e com “teenagers” se accostuma.

No meio delles, claro, está um cafona e sobrio funccionario, que não fuma, só vende seu Advanço ou seu Rexona.

(6)

No tempo do “Chiclette com Banana”, gibi no qual fui sujo columnista, fiz sobre o caso um texto, a que a revista deu optimo destaque e um ar sacana.

Lidissimo na zona suburbana, por toda uma gallera de skatista, rockeiro e fanzineiro, está na lista dos “classicos” o artigo que me uffana.

Por causa do relato, ainda sou, às vezes, convidado, mas ja não viajo: cego e triste, perco o show.

Anima-me, entretanto, que um pezão fedido ‘inda concorra, e agora estou torcendo pela nova geração…

DISSONNETTO PARA UMAS UNHAS ENCRAVADAS [2506]

O pé do meninão lhe cresce tão depressa, que elle pouco se dá compta que o tennis muito estreita tem a poncta e ja ficou pequeno, appertadão.

Quarenta e trez, o numero, mas não lhe serve mais. Zoado, elle descompta nos outros, quando alguem da turma apponcta seu pé, fazendo a mesma gozação:

“Quarenta e quattro? Eu não! Não calço, ainda! Quem calça ja cincoenta é aquelle alli!” Mal sabe elle que a lancha é tão bemvinda! As unhas dos dedões (eu sei, ja vi)

encravam! E o pezão inchado é linda imagem, feito um traço de gibi. Qualquer adolescente que me brinda com tennis deschartado, o louvo aqui.

FLAGRANTES FRAGRANCIAS [3108]

Quando é que Beto, o Gordo, desconfia que aquelle seu chulé ninguem aguenta? Sentir um fedor desses pela venta não dá, nem p’ra allegar podolatria!

Cheirar gaz venenoso até seria melhor, menos mortifero! A nojenta e grossa meia, aquelles tennis… Tempta o Beto um só podolatra, hoje em dia.

Si fede, ‘inda calçado, o seu Rainha ou Nike, então calculem o que não será quando o tirar! Quem adivinha? Só mesmo eu para dar-lhe esse tesão!

Quem mais tal phantasia ainda tinha? Ja sei: vocês pensaram que o Gordão não passa de mais uma idéa minha! Erraram: dos Toy Dolls isso é canção!

GOLPES DE ALTO A BAIXO [3275]

Feliz e sorridente, em seu plantão, chegou o carcereiro karateka e alguem irá servir-lhe de peteca, levando, entre outros golpes, o chutão.

O agente se diverte, rindo à bessa. Excolhe um prisioneiro e, mal da cella o leva para o pateo, ja começa a nelle practicar. O preso appella:

“Não batte muito forte, por favor!” Sorri-lhe o practicante, cujo tennis não deixa nem os dentes nelle indemnes, depois que a bocca chuta com vigor.

A surra, por instantes, até cessa. Ainda adjoelhado, appós aquella sequencia de pattadas, nem que peça arrego, mais recebe, ja banguela.

De novo os duros golpes dados são. Do tennis o solado até careca ficou: nem só no piso é que elle breca. Num rosto mais pisou do que no chão.

INTOLERANTES PISANTES [4012]

Collegas estudantes, da ballada voltando, na calçada da avenida exbarram num rapaz de colorida plumagem, que lhes passa uma cantada.

Aos jovens, que de machos não teem nada sozinhos, mas em bando levam vida bandida, não ha gesto que decida sinão logo partir para a porrada.

São varios contra um só, mas é preciso mostrarem-se uns aos outros: do contrario, terão cedido os cus por um sorriso. A surra, à turma, tem sabor hilario.

Ninguem ter necessita, alli, juizo. O tennis dum moleque, ha quem compare-o aos labios que se beijam, de tão liso, mas chuta, pisa e macta: é réu primario.

RAPIDO REPARO [4790]

Está trocando a lampada, trepado num banco, o zelador. Quem o chamara lhe fica ao lado e perto chega a cara do tennis encardido e detonado.

É um velho morador, que, alli do lado, disfarsa, finge estar olhando para a lampada. Podolatra, essa rara e breve chance curte, enthusiasmado.

Fingindo se abbaixar para pegar alguma coisa, o velho quasi encosta a cara no pisante de que gosta demais da compta: a chanca cavallar.

O cheiro que elle arrosta é duma posta de peixe podre! Pouco vê durar aquelle feliz jeito de alcançar seu ecstase: se accende a luz… Que bosta!

RESPEITAVEL PUBLICO [4920]

Coelho da cartola, elle não tira. Mas tira algumas outras coisas: meia usada, tennis velho… Aquella cheia cartola não paresce de mentira.

Os magicos se viram, e se vira aquelle desse jeito: presenteia podolatras com essa meia alheia, com tennis detonado… E alguem delira!

Sem circo em que trabalhem, elles são forçados a aggradar a freguezia tarada, que com pouco se sacia, usando o que tiverem mais à mão.

Eu mesmo, com certeza, pagaria por uma dessas meias, si o pezão capaz de me accalmar este tesão a usou e si é de alguem que ja me lia.

NOVAS TURMAS [5069]

Entrou o professor na salla. Estava a classe na algazarra. Ouviu risada em grossa voz, zoando, e viu que cada marmanjo se attrazava alli, na oitava.

Tentou se impor, fazendo cara brava, e nada: gargalhava a molecada. Zangou-se, ammeaçou, como aula dada, cobrar toda a materia que lhes dava.

Mas, antes que sahisse, uma rasteira prostrou-o. Viu os tennis ao redor da cara. Cafungou-lhes na biqueira. Sentiu, até, das meias o suor.

Aos olhos juvenis da classe inteira, notou que um pé daquelles bem maior seria que seu proprio. Esteve à beira da morte, aos pés dum bando “de menor”.

TENTANDO TEMPTAR [5515]

No clube, pouca luz estando accesa, performance uma bella mulher faz na frente dum casal ou dum rapaz sozinho. Olhares capta em cada mesa.

Vestida toda em couro, essa princeza pretende ser rainha, mas capaz terá que se mostrar. Intenções más obstenta. Não tem nada de indefesa.

Rasteja um masochista a seus pés. Nota a sadica platéa que ella pisa na cara do subjeito e finca a bota, que pode machucar, embora lisa.

Mas cada qual que pense em sua quota. Si estou presente, eu penso: nem precisa tamanha exhibição. Meu tesão brota si o tennis do rapaz meu rosto visa.

SMELLS LIKE A TEEN SNEAKER [5619]

Peralta adolescente, elle me narra, tomado de justissimo, orgulhoso fervor, que tem chulé tão malcheiroso a poncto de excitar qualquer boccarra.

Diz elle que, descalço, mal exbarra a sola no soalho, o pegajoso suor deixa pegadas. Tenho gozo suppondo que lhe lambo o pé na marra.

Respondo que esse odor adolescente me enleva, a levitar nesse nirvana, insisto que o fedor que delle emana me dopa, mas que eu lamba não consente.

Sarrista, só permitte que eu me sente aqui para cantar sua sacana mania de trollar quem só se damna nas dores da cegueira, descontente.

MEASURE YOUR FEET [5697]

Não dei tanta attenção antes, mas eis que pés medir me vale mais affinco. Embora não exsistam disso leis exactas, às da America me linko.

Medi, de brazileiro, um trinta e seis. De gringo ja medi quarenta e cinco. Mas, quando os pés medidos são de gays, tambem paus meço e até com elles brinco.

Tamanho documento não é, mas um pé cincoenta e cinco me impressiona. Seu tennis, quer de couro, quer de lona, si estou perto, jamais no lixo jaz.

Dezenas recolhi, muitos em más e feias condições. Nenhum desthrona aquelle de baskete que, na zona, ganhei dum cafetão que ja foi az.

FORA DE MODA [5774]

A moda do skatista, antigamente, um tennis incluia, que excarrancha na prancha seu pezão e faz a gente babar, lamber querendo aquella lancha.

Immenso, aquelle tennis grosso e quente produz um chulezinho que desmancha na bocca, salgadinho, docemente em ecstase, o fetiche duma fancha.

Não é que, de repente, muda a moda e fica pequenino o tal pisante?

Disseram do grandão que elle incommoda o pé, que mais comforto não garante…

O cego sae perdendo, pois a foda lhe falta. Masturbando-se, durante o tempo todo o faro podre engoda com esses botinões… E doradvante?

AROMA NO MOMA [5867]

Será que um museologo futuro consegue preservar vivo o chulé do tennis dum teenager, o mais puro odor dos nossos tempos? Faço fé!

Agora que vivendo vou no escuro, me resta recordar, com raiva até, aquelles que ficaram de pau duro gozando de quem cego foi ou é.

Quem sabe, para sempre, esse museu de cheiros possa, ao menos, preservar lembranças synesthesicas que meu passado deschartou nalgum logar…

Museu de cheiros! Onde é que fui eu achar essa noticia? Alguem doar irá seu tennis podre? Quem o seu cothurno, quem de meias o seu par?

RHAPSODIA MACHADIANA [5902]

Coitado do sapato social! Está, sempre engraxado, quasi sem ter uso, e pensa: “A bota, sim, mantem mais cheiro, mais battida que é!” Que tal?

Que inveja boba, né? Pois desse mal a bota tambem soffre: “Que desdem de mim tem o cothurno! Oh! Delle vem fortissimo chulé! Sim, sou banal!”

Por sua vez, o sujo cothurnão inveja tem do tennis encardido que cheiro bem mais podre e mais fedido exhala: “Aquelle, sim, pisou mais chão!”

O tennis se lamenta: “Muitos são contrarios ao meu cheiro! Só tem sido dum cego o meu chulé bom à libido! Pudesse eu ser sapato chique, então!”

MEME DA MENINA MALHADA [5937]

Sentou-se. Todo mundo olhou. A bella menina, da gymnastica voltando, descansa, suadaça, quando um bando de manos chega, vindo da favella.

A linda mina cruza a perna. Appella às jovens phantasias. Vae passando a mão no branco tennis. Gesto brando, que instiga quem massagem quer dar nella.

Emfim, o tennis tira. Tira a meia, mostrando seu pé liso, suadaço. Os manos fazem lingua de palhaço, os labios lambem, fingem bocca cheia.

A mina a propria sola massageia. Alguem que não se aguenta faz, devasso, o mesmo. Nisso, chego no pedaço e sinto o forte cheiro, que tonteia.

DISSONNETTO DESCHULEZADO [6088]

Não, Glauco! Não será porque estou nessa maldicta quarentena, que ficar irei tão chulepento, que meu par de meias federá na casa à bessa!

Não, Glauco! Eu hygienico sou! Peça que eu guarde meu pisante que cheirar mais forte e, sem laval-o, com tal ar lhe faça bom presente dessa peça!

Ahi você verá, digo, no cheiro terá certa noção de como tenho limpinhos os meus pés e que nem beiro o fetido padrão de punk engenho!

Mas, caso o seu olfacto, tão certeiro, de longe desmentir o meu ferrenho empenho por asseio, ahi, parceiro, meu tennis fedidão a dar-lhe venho!

FOFOCA DE MASOCA [6123]

Deixaram-me na salla. Foram para o quarto os dois, o mano com a minha menina desejada, que eu não tinha ainda nem beijado, cara a cara!

Notei que, no tapete, ella deixara as botas. Mas soffrida punhetinha batti sentindo o cheiro de morrinha nos tennis que o moleque descalçara!

Ah, Glauco! Que chulé forte, salgado! Soffri, claro, Glaucão! Foi humilhante, eu sei, mas accontesce que, durante o gozo, os dois gemiam bem ao lado!

Tambem gemi, baixinho, revoltado com essa trahição da minha amante platonica, babando no pisante do cara! Ao odial-o, me degrado!

MAIORIDADE [6273]

Seu Glauco, o senhor pode ter certeza de como o meu chulé de maior é! Talvez seja menor este meu pé, que pouco mede menos que o da mesa!

Mas posso garantir: de rolla tesa não fico si um adulto cafuné fizer no meu pentelho! Bote fé, creança não serei tão indefesa!

Seu Glauco, o meu chulé não me envergonha, mas delle nem tampouco sinto orgulho! Farei anniversario, agora em julho! Ja apperta todo tennis meu que eu ponha!

Com novos tennis todo joven sonha! Darei, sim, ao senhor aquelle embrulho de tennis velhos! Deixe, que eu vasculho meu quarto! Mas não vale batter bronha!

MIMOS [6290]

Meu filho, Glauco, deixa-me maluca! Eu mimo, mimo, mimo, mas de nada addeanta! Quem controla a molecada dos dias actuaes? Bagunça a cuca!

A gente faz de tudo! Veste, educa, dá tennis, calça, às vezes dá palmada, descalça, calça a meia! Quando usada ja lava! Mas é tudo uma sinuca!

Si nego uma coisinha, ah, meu amigo! Irado o molecão logo me fica! Me chuta com o tennis, me dá bicca na cara, até! Magoa-se commigo!

Si faço o que elle pede, ja perigo exsiste de querer griffe mais rica no tennis e nas roupas! Mas que zica! Ja adulto, elle ‘inda aqui quer ter abrigo!

MARRUDA GRAHUDA [6397]

Glaucão, ja te contei que professor deixei de ser? Tá louco! Sim, na salla cheguei a ser pisado por quem falla mais grosso com a gente! Vou depor:

Terriveis jovens! Ordem eu quiz pôr na classe, mas quem tenta controlal-a vê logo que só falta alguem a balla ao mestre reagir, Glauco! Um horror!

Cercaram-me e jogaram-me no chão! Vi perto dos meus olhos cada tennis enorme! E era menina quem infrenes impulsos exhibia de aggressão!

Pensaste? Cara, atturo humilhação até dum meninão! Não me condemnes, porem, si não te peço que me enscenes teus casos de pisões dum sapatão!

PAPPO DE SAPO [6426]

Te dar agua na bocca vou, Glaucão! Escuta só! Saquei que meu vizinho tambem era podolatra! Mesquinho fui, Glauco! Pedi grana! Fiz bem, não?

Devia ser emprestimo, mas tão maldoso fui, que desse dinheirinho o gajo se exquesceu! Aqui eu allinho aquillo que fallei! Aguenta a mão!

“Tirar posso o meu tennis? Meu chulé não vae te incommodar? Não? Então tira tu mesmo! Cheirar queres? Ah, te vira! Cafunga ahi na meia! Beija, até!”

“Te exbalda! Tira a meia! Chupar pé é tua preferencia? Ha quem prefira mais coisas! Mas si curtes e te pira lamber o vão dos dedos, lambe, ué!”

PAPPO DE PESCADOR [6458]

Não sou que nem você, Glauco Mattoso! Você gosta de pés, mas tá recluso! Não pode sahir! Fica ahi, confuso, no verso sublimando todo o gozo!

Eu, não! Eu vou à lucta! Acho gostoso correr riscos! Nenhum typo recuso! À noite, dirigindo vou, reduzo, circulo o Trianon, busco um cheiroso!

Aquelle que tiver mais encardido o tennis, eu convido, para casa o levo! Quero que elle se compraza pisando-me, calçado ou ja despido!

No seu caso, meu chapa, até duvido que tenha, alguma vez, puxado braza qualquer para a sardinha! Não lhe attraza o lado só na lyra achar libido?

FURIA CEGA (1) [6702]

Eu vou abrir o jogo, Glauco! Vão tomar no cu! Fizeram filme para mostrar que um heroe cego se compara a um outro qualquer! Não, commigo não!

O cego usa a bengala qual bastão, accerta a bordoada bem na cara daquelles que curtiam uma tara propicia dum cegueta à zoação!

Si eu fosse director daquella droga, fazia a turma toda revidar a audacia do cegueta! Ahi, azar do gajo, que perdão ja pede e roga!

A turma, ahi, mantem bem firme em voga a lei de quem mais pode! Irá beijar, lamber uns tennis, antes de esticar cannellas, esse cego que se arroga!

FASHIONISTA PAGA À VISTA [6719]

Sabia, Glauco? Quando você for comprar a sua roupa nova, agora é só por internet e, sem demora, excolhe seu padrão, numero ou cor!

Depois recebe em casa! Pode impor seu gosto ou preferencia! Simples, ora! Hem? Como? Quer você ver si vigora num tennis, que terá typico odor?

Entendo! Quer um tennis com chulé! Em summa, quer calçado bem usado, surrado, detonado! Do seu lado estou! Seu consumismo sei qual é!

Então eu mesmo posso do meu pé tirar e lhe vender o meu calçado!

De tennis novo o preço a ser cobrado será! Lhe vendo meia velha, até!

MY WALKING SHOES [6748]

Meu tennis não me serve mais, Glaucão! De tanto caminhar, ficou meu pé inchado demais! Logico, não é? Terei que comprar outro, meu irmão!

Eu era magro, Glauco! Nunca tão gordinho fiquei! Acho que eu até andei comendo menos! A ralé mais come do que eu, nessa condição!

A crise não tá facil, cego! Ja que tem você fetiche por pisante usado, um que chulé guarde bastante, que tal de mim compral-o, meu? Não dá?

Você me paga um novo! Então terá motivo para achar que se garante por muitas punhetinhas que, durante a sua quarentena, são mannah!

NEM NEM [6786]

Não, vate, eu nem trabalho, nem estudo! Agora lhe pergunto: para que, si tenho meus paes vivos? E você bem sabe que eu vou delles herdar tudo!

Si nesse meu character eu não mudo, não chego, veja, a ser como um bebê que fraldas suje e banho mamãe dê na bunda dum rapaz grande e barbudo!

Mas, Glauco, o caso é simples: disso nada impede que meu tennis um chulé exbanje, quando o tiro, que café nenhum supera aqui, meu camarada!

Nem ahi estou! Nós temos empregada que lava as minhas meias, lava até cuecas exporradas! Mas quem é que irá lavar meus pés? A namorada?

THE SHOELESS AND THEIR… CHULÉS [6819]

Sim, Glauco, reparei que americano descalço não andava. De chinello tampouco. Só de tennis. Mas foi elo, o tennis, do meu vicio tão insano…

Lambel-os foi a regra. No mundano submundo urbano, sempre exsiste bello scenario para aquillo, pois eu fello, mas antes pago um troco para o mano.

Sim, rolla. Rolla tudo, de bebida a droga, de farinha a baseado. Mas sexo rolla sempre. Eu, por meu lado, pagava, mas gozei muito na vida…

Ah, Glauco, que saudade! Quem decida escravo ser, dos manos de la, fado melhor não achará! Ter recordado taes cheiros é punheta que convida!

SNEAKER LICKER [6820]

Sim, rolla às vezes, Glauco, um caso mais curioso ou singular de lambedor de tennis, sem que seja chupador de rolla. Mas são menos usuaes.

Um gajo conhesci, que diz jamais lambido ter um mano si não for calçado. Sim, poeta, ha de suppor você que sejam tennis, os fataes…

Tamanhos, os maiores, Glauco! Um era dum joven basketeiro, longo cano, de panno, ja bem gasto no mundano e sujo territorio da gallera!

Sim, foi na faculdade que a paquera rollou. Elle lambeu daquelle mano a lancha até na lingua causar damno, mas para sempre lembra a feliz era!

BICHARADA NA BALLADA [6827]

Ballada de estudante é sempre bella baderna, a boa chance de babar nuns tennis, si um calouro der azar de ser o lambedor que paga aquella.

Mas pode ser a sorte de quem mella a sunga quando lambe cada par de tennis pobre e podre, em seu logar de typico masoca astral na tela.

Ahi junctou a fome com aquillo que dizem ser vontade de comer! Si todo veterano tem prazer de bichos ver zoados, é tranquillo!

Calouros masochistas a curtil-o, o tennis que mais facil foi lamber cor teve que é difficil de saber qual fora quando novo, ou qual estylo.

FETICHES E PASTICHES [6918]

Glaucão, eu normalmente vou attraz dum tennis velho que elles ja no lixo jogado tenham! Nunca a mão espicho pegando um ‘inda novo dum rapaz!

Occorre que esse gajo, Glauco, faz questão de me tractar peor que bicho! Desdenha de mim, falla que eu pasticho os classicos podolatras assaz!

Mas faço o que tu fazes! Idolatro pisantes chulepentos! Esse cara negou-me seus deschartes! Minha tara ridicularizou a trez por quattro!

Roubei-lhe, então, um novo! Meu theatro não fica sem aquillo que eu sonhara! Concordo, meu tesão nem se compara ao teu, si estás sonhando num breu atro!

CHUTES À PARTE [6923]

Será que nem exsiste mais, Glaucão, aquelle tennis Conga, que não tinha cadarço? Mas você me entende! Minha vontade era chulé ter de montão!

Assim eu poderia ser-lhe tão legal quanto você, que me escrevinha teclando, supportando uma excarninha postura minha, aqui na connexão!

Bem, vamos combinar assim: si fica bem podre este meu tennis, elle é seu, por preço dum amigo que é judeu mas nunca teve compta la tão rica!

Garanto-lhe um chulé, mais que titica, fedido! Porem, caso queira que eu lhe deixe me lamber como um lebreu, ahi custa mais caro, fora a bicca!

EPA! NOVA CEPPA! [6944]

A porra desse virus é mutante, Glaucão! Vae o bichinho, devagar, ou antes, depressinha, se expalhar com mais facilidade, doradvante!

Entrar pelo nariz não é bastante! O virus é podolatra! Grudar irá nalgum rachado calcanhar e, quando for lambido, se garante!

Tambem é boceteiro, sovaqueiro! Quem gosta de peixoto ou de cecê ja pega ao cafungar! Glaucão, você precisa se cuidar, meu companheiro!

Terá que, vez mais cada, punheteiro virar! Nem mesmo o tennis dum michê não lambe mais! Talvez appenas dê é para de si proprio sentir cheiro!

PUNHETA DE CAGUETA [6968]

“Quem quer assistir quando o preso for à salla do pau para se ferrar?” -- Eu! -- Eu! -- Dois caguetinhas seu azar quizeram ver, curtir a sua dor.

Vibravam ambos. Quiz o tennis pôr na cara do coitado um delles, ar fazendo, de carrasco, no logar, suppondo que será torturador.

Uns choques a levar, no pau de arara, a victima sentiu na bocca a sola do tennis do cagueta, que lhe exfolla o labio, se exfregando pela cara.

Jamais exquescerá. Bem que tentara! Aquella gargalhada a lhe echoar ficara na memoria. Sim, um par de meros informantes mostrou tara!

TORTURA JAPONEZA (2) [6972]

Em outro filme, está bem ammarrado o gajo que lynchado ja será! Da gangue japoneza alguem lhe dá innumeros pisões de todo lado!

Precisa ver, Glaucão! Do seu aggrado seria aquelle lance em que elle está de cara ante excarninho tennis, la não muito branco, um tanto detonado!

Em close, esse pisante era do cara que fora seu rival e namorara a mesma companheira! Assim, iria vingar-se e, ciumento, o cara ria!

Os chutes se succedem! Na agonia, aquelle condemnado viu a fria risada do rival, de cuja tara foi victima, ao beijar a sola amara!

O CEGO E A PROFESSORA [6973]

Em vez de, para cegos, uma eschola, aquella abriga alguns, os juncta ao dicto alumno “normalzinho”. {Não admitto que battam no ceguinho!} Quem controla?

Severa, a professora canta a bolla, pois basta que eu advirta a alguem: {Bonito não é batter num cego!} e logo incito um joven a fazer isso que rolla:

Pegaram o ceguinho na sahida: -- Então a professora fallou para a gente não zoar? Agora, cara, é mesmo que zoamos! Cê duvida?

E battem, chutam, pisam… Repetida, a phrase {Lamba ahi!} soou amara, pois tennis de moleque, se repara, é cheio das sujeiras da avenida!

O CEGO E SEU CHAPÉU [6989]

Aos cegos não suggiro usar bonné, não, Glauco! O vento o leva facilmente! Você não sabe disso? Ora, não tente teimar commigo! Foi bem feito, ué!

Bem feito! Foi cahir justo no pé daquelle molecão mais delinquente aqui da vizinhança! Dessa gente espera-se que seja má, não é?

Sahiu você no lucro! O cappetinha appenas lhe pisou no chapéu, certo? Podia ter chutado longe! Experto, prefere ver você como engattinha!

E então? Ficou de quattro? Claro, tinha que estar bem do seu jeito! Sei que perto ficou a sua bocca dum coberto de pó, surrado tennis, um Rainha!

O CEGO E SEUS OCULOS [6990]

Os oculos escuros fazem parte daquillo que um ceguinho usar precisa! Quem usa para todos bem advisa que nada vê! Previne qualquer arte!

A menos que elles queiram, sim, barrar-te o passo de proposito! Quem pisa num cego faz papel cruel, à guisa de experto gozador ou Malazarte!

Pois é! Quem faz taes coisas não se peja! Quebraram os teus oculos? Que mais? Mandaram rastejar? São animaes! Abusam caso o gajo nada veja!

Ah, não! Foste servido de bandeja? Lambeste tennis sujos? Que teus paes diriam de moleques tão brutaes? Tu nunca lhes contaste? Então… rasteja!

PODOLATRIA NO FUNK [7032]

No funk, em certos bailes, a gallera estava dividida: cada lado ficava attraz da chorda. Bem mostrado, erguido o pé mais alto, um tennis era.

Gostavam de exhibir solas. Pudera! O tennis, que tem griffe, foi comprado por quem ganhou, no traffico, um trocado e conta, ja, vantagem… Que se espera?

Espera-se que fique por ahi?

Qual nada! Si refem dalguns rivaes um joven la cahisse, de seus ais ninguem mais saberia, assim ouvi!

Mas, antes de morrer, levou chichi na cara, alem de, claro, dar fataes lambidas nesse tennis que jamais usou quem não andou em turma alli!

AZAR SELECCIONADO

(1)

(1/2) [7071/7072]

De quattro: sim, foi nessa posição que tive de ficar, logo de cara, na frente de dois homens. Um compara dois typos de cegueira. A rir estão.

“O cego de nascença (faz questão um delles de dizer) menos se azara que aquelle que perdeu a vista. Para mim, este satisfaz mais o tesão.”

“Mais curto humilhar este, que perdeu, (empurra a minha cara com o pé) pois mais no seu azar é que tem fé.” (nas minhas costas o outro põe o seu)

“Nem quero que elle seja tão atheu, (seu tennis minha fuça força até que eu sinta, attravés delle, seu chulé) pois pode me entender: sou philisteu.”

(2)

“Treinado foi o cego p’ra chupar com technica appurada? (appoia a sola na minha nucha) {Ah, claro! Teve eschola, chupou muito caralho cavallar!}

“Perfeito! Um cego deve seu azar saber que incluirá, no gorgonzola da rolla, degustar, como uma esmolla, aquillo que a cabeça accumular!”

Emquanto falla, appoia seu pezão nas costas, na careca, me pressiona a bocca com o bicco da lanchona, de leve dando um chute ou um pisão.

E eu penso que elle possa ter razão si excolhe cegos como quem, na zona, excolhe sua puta, a mais gluttona por rolla, a que perdeu sua visão.

ROSTO EXTRANHO [7083]

Você vae perceber, pelo tamanho do tennis, que quarenta e trez eu calço, até quarenta e quattro! Quando eu alço o pé, facil alcanço um nariz fanho!

Tambem vae perceber que eu, facil, ganho tamanho no meu penis! Não é falso que chupa bem a bocca que no encalço está dum pau que nunca toma banho!

Você vae, pelo faro, o meu buquê sentir, notar que cheiro de ralé eu tenho, de sebinho, de chulé, de povo! Que outra dica quer que eu dê?

Mas o melhor de tudo é que você não pode ver, saber não vae qual é meu rosto! Vae chupar meu pau, meu pé, no escuro! Que delicia! Nem me vê!

SADIA EMPATHIA (1/2) [7137/7138]

(1)

Vendei meus olhos, Glauco, pois queria sentir-me cego, estar no seu logar! Às tontas, comecei a tactear as coisas, a viver essa agonia!

Difficil foi, sem essa luz do dia, ou lampada, de noite, enveredar, em casa, pelos commodos, meu par achar duns simples tennis… Mas eu ria!

Sim, ria, pois sabia que podia tirar a venda a qualquer hora! Azar de quem não pode, né? Fui farejar, então, para achar algo que fedia!

Dos tennis ao invés, foi da bacia o cheiro de cocô que deu seu ar da graça! Mas pensei: tal paladar sentir não vou! Ao menos, ja allivia!

(2)

Tirei a venda, Glauco, pois ja tinha noção de como um cego passa appuro p’ra achar as coisas todas nesse escuro mundinho de vocês, nessa vidinha!

Ahi, pensei: Mas posso, para minha sadia diversão, impor um duro castigo a alguem que é cego! Gozei, juro, pensando numas penas nessa linha!

Primeiro, suas mãos eu aptaria, fazendo que precise adjoelhar ou mesmo rastejar, para meu par de tennis encontrar onde se enfia!

Depois, você no vaso cheiraria a minha merda, Glauco! Degustar aquillo punição mais exemplar seria, si eu quizesse essa alegria!

SENSORIAL MEMORIAL [7185]

Mandou que eu me deitasse no chão. Fiz o que elle quiz. De bruços, rastejei, cumprindo o que me impunha a sua lei. Mãos para traz, usei o meu nariz.

Ouvi que de mim ria, bem feliz por sua visão boa, disso sei. Aos poucos, a seus pés emfim cheguei. Provei-lhe que meus labios são servis.

Seus tennis, pelo cheiro, que encardidos estavam percebi. Senti poeira, alem daquella merda costumeira nas solas, duns excarros resequidos.

Mas tive que lamber e meus sentidos odores e sabores, com certeira memoria, registraram. Caso queira lembrar, serei fiel a taes libidos.

MOTTE GLOSADO [7578]

Do tennista me interessa mesmo appenas o calçado.

(1)

Um esporte mais sem graça não conhesço, mas, emfim, interesse algum a mim me desperta, embora excassa seja a chance, quando passa a partida, que parado eu me ponha, com enfado, frente à tela, chata à bessa. Do tennista me interessa mesmo appenas o calçado.

(2)

O pisante que elle calça, mesmo sendo sempre novo, se assemelha a algum que o povo usa para, não na valsa se exhibir, mas marca falsa obstentar. Para meu lado puxo a braza, ja que achado tenho alli chulé… Vou nessa!

Do tennista me interessa mesmo appenas o calçado.

MOTTE GLOSADO [7594]

Quando um rapper tira o tennis, o podolatra se assanha.

Quando eu via, tive amigo bandidão, que rap ouvia. Si eu pedisse, sem phobia descalçava-se, e lhes digo: sacanagem fez commigo! Não achava tão extranha essa tara, que arreganha meus instinctos mais infrenes. Quando um rapper tira o tennis, o podolatra se assanha.

FINAS AFFINIDADES (1/3) [8022]

(1)

Mostrava-me elle, quando o visitei, a sua collecção de tennis, botas, sapatos e chinellos. Sim, mas eram da rua recolhidos! Tennis sujo e todo detonado, sem lingueta… Botina de pedreiro, deschartada, furada, fedidissima… Que mais? Sapato de mulher, não vi nenhum, ainda bem! Só coisa que interessa a gente de selecto, fino gosto.

(2)

Faz tempo. Ja assumido como gay eu era, ja sem medo de chacotas daquellas que os podolatras esperam ouvir. O tal amigo, porem, cujo armario transbordava, até sargeta fuçava, procurando os tennis! Nada temia que pensassem, mas os taes sarristas o chamavam de bebum, de doido, de drogado. “Sim, (confessa o cara actualmente) eu sou de agosto!”.

(3)

“Nasci com esse fado vil, bem sei, mas hoje me curei, Glauco! Não notas?” Sim, noto, mas lamento, pois lhe zeram de lixo seus armarios. Delle fujo, agora que é “curado”. Não se metta, tambem, a me “curar”! Podia cada pé desses ter me dado! Quantos ais chorei! Jogou-os fora! Si em commum mais nada temos, fico triste à bessa e estou com elle, em gostos, indisposto.

(1)

NO SARRO (1/3) [8028]

Agora a cusparada virou moda nos videos pornographicos do typo curtido por podolatras: um cara mais velho dos mais jovens é cobaya, dos tennis lambe sola, de descalços pés lambe e cheira a typica sujeira. Na cara tapas leva, até biccuda. Mas uma coisa chama a attenção nossa: saliva abunda nessa bella scena.

(2)

Não usam nu frontal, nenhuma foda explicita alli rolla. Participo da scena mentalmente, pois compara a mim o personagem que então caia aos pés da molecada, sem os falsos pudores dos adultos que a cegueira só fingem proteger com sua “adjuda”. Careca, gordo ou oculos quem possa usar será pisado, pois, sem pena.

(3)

Alem de ser pisado, o que incommoda a victima é o catarrho. Si me grippo, excarro com frequencia. Minha tara si fosse egual à delles, ah, que saia da frente quem não queira, alem dos calços, levar a catarrhada! Mas quem queira gozar sendo cuspido, vê que gruda à bessa a baba nelle, espessa, grossa e erotica, si estamos nessa arena.

CATARRHO

INFINITILHO

(1)

ANDARILHO (1/2) [8135]

{Te lembras, Glauco, desse video? O gajo inglez, depois de estar horas na rua, commenta que seu tennis bem curtido ficou do bom chulé, segundo o teu criterio, obviamente! Então, que faz o perfido rapaz? Chega na salla na qual seu pae assiste a algum programma e, vindo-lhe por traz, colloca aquelle calçado chulepento no nariz do velho! Sacanagem, hem, Glaucão? Pensaste nisso? Sendo tu papae dum punk, office-boy, charteiro, moto taxista, si o moleque te faz isso? Passivo ficarias? Um exporro darias? Ou em ecstase tal acto iria te deixar? Que me commentas?}

(2)

-- Jamais andei assim, roupas não trajo de trampos taes, mas penso bem na tua idéa. Nesse caso… Bem, decido levar na brincadeira, pois, plebeu que fosse tal contexto, no rapaz o riso brotaria. Não se cala um pae deante daquillo, mas reclama sem muita convicção. No tennis delle daria a cafungada, como fiz em tantos outros casos de tesão podolatra. Ah, meu caro, si me cae nas fuças um daquelles! Eu o boto de encontro ao narigão e, num ouriço tão breve, me faria de cachorro sabujo que fareja algum sapato usado de seu dono… Oh, bentas ventas!

ODE ONIRICA (1/7) [8183]

(1)

No sonho recorrente que tem, ella odeia cegos. Fica tão irada com minha condição, que até congela a scena que sonhou. E conta cada…

(2)

Contou que, por exemplo, na calçada vem ella a correr. Corre com aquella folgada calça, Adidas no pé. Nada lhe pode estar na frente, que attropela.

(3)

E estou eu, bengalando. Vem a bella, trombando, derrubando-me, irritada, chutando-me, sem pena da sequela que pode me causar cada pattada.

(4)

Agora até diverte-se, eis que brada: “Ahi, ceguinho! Chora! À sancta appella!” Eu peço por favor, mas a damnada não para de chutar minha costella.

(5)

Detesto o que ella conta, que revela total intolerancia. Condemnada devia ser por isso, numa cella ficar por um bom tempo, desgraçada!

(6)

Faltou num pormenor tocar. A amada moçoila não correu pela viella sozinha, mas estava accompanhada do joven namorado, um magricella.

(7)

Occorre que o moleque refestela seu pé na minha cara alli na estrada, emquanto ella me chuta. Ja querella não faço deste caso. Ja me aggrada…

A SOLA DO GABOLA [8516]

Marrento, pelas redes, quem ja não diz “Chupa!” é o torcedor do Bozonaro, que imagens grava, alçando o seu pezão descalço, ou de cothurno, ou tennis caro, a camera ampliando a proporção da sola, a fazer pose. Em tom bem claro, o joven nos diz “Lambe!” e fica tão flagrante seu sadismo, que meu faro masoca aqui me impõe uma questão: Si pega a moda, tanto faz si ignaro ou douto, ou de que lado está o mandão! Nos manda que lambamos e eu comparo seu gesto ao dum funkeiro em pancadão, o tennis exhibindo ao ar em raro momento de victoria do peão que dansa emquanto os “home” não “chegaro”…

LOVE IS ALL AROUND [8537]

Os pés do adolescente americano são muito mais sensiveis ao amor. São como que uma antenna, pois, si emano fetiche, o joven capta quando eu for tocal-o nos artelhos. Todo uffano se sente de “his toes”. O adorador de pés maravilhado fica, insano até, com o que fazem presuppor as lettras dos rockeiros. Não me enganno: ouvi diversas vezes um cantor compor sobre “my toes”, quando o fulano preliba amor num gesto promissor, nalguma phrase, em lyrico ou mundano sentido. Seu suor e seu odor do sonho fazem parte e, si me irmano àquelle que assim sente, fingidor me torno desse jogo, desde o panno da meia ao tennis podre e ja sem cor.

SNEAKERHEAD [8621]

Fanatico fetiche enrustidaço tomou compta da moda adolescente: usar tennis de griffe. Não appenas pagar caro ou mais pares ter junctado. Saber curtir, dum idolo, o modello, tal como no baskete: eis o desejo dos jovens aggruppados pelas redes. Idéas trocam sobre cada marca ou typo que collocam nos seus pés. Exhibem o solado, o material, as cores predilectas, sempre em close, assim como, sorrindo, quem encosta, no proprio ou dum amigo, o pé no rosto. Não, isso, ora, não passa de fetiche podolatra! Ahi dizem que sou eu que estou me punhetando… Não é mesmo?

SAPATOS FEMININOS [8696]

Commadres commentando sempre vão, por mais que dona Deborah as odeie. {Magina, Glauco! Só porque eu doei sapatos para victimas de enchente, estão me tesourando! Mas eu não doei só meus sapatos, nem só roupas! Disseram que quem pisa nessa lama jamais vae precisar duns saltos altos! Maldade, Glauco! Pura má vontade!} Não quero me metter nessa celeuma. Sapatos não costumo doar, mas acceito doação de tennis velho que iria para a latta, sim, de lixo. Nenhum adolescente leva a serio, porem, o meu appello: jogam fora até tennis novinhos, só porque sahiram, ja, de moda. Ah, nesse caso, seriam, com certeza, si doados, mais uteis que sapatos femininos.

NESTE PONCTO [8740]

Quem sabe bem fazer pé de moleque é dona Deborinha, a viuvinha. Mas, como nunca teve filhos, ella, curiosa, me interpella, certa tarde: {É mesmo verdadeiro que esses pés descalços de moleques teem feridas que deixam cicatrizes, sem fallar nos callos, na aspereza dessas solas?}

Respondo que não passam de fofocas antigas as noticias dum pé desses. Agora todos elles usam tennis que, embora detonados, lhes protegem a pelle contra attritos. Entretanto, o odor delles se torna, assim, mais forte.

Estavamos à mesa, a degustar juninas guloseimas e, por isso, o pappo se interrompe neste poncto.

EIGHTEEN [8940]

Estou, Glaucão, fazendo meus dezoito, ouvindo um Alice Cooper antigão! Me sinto, sim, confuso… O meu espelho me mostra pellos numa cara, até agora ha pouco, lisa, de bebê! Eu quero ser adulto, mas, brincando, me sinto uma creança alegre, Glauco! Eu quero dar o fora aqui de casa, mas curto o meu quartinho, todo meu! Estou, Glaucão, confuso! O meu chulé me lembra que preciso, ja, dum tennis novinho, bem maior! Você não quer ficar com este velho, tão podrão? Pois é, Glaucão, me sinto bem confuso, mas, cada vez que batto uma punheta, eu gozo mais gostoso! Quer saber? Estou, nos meus dezoito, perturbado, mas bem que estou gostando disso, cara!

INSTINCTO DE SOBREVIVENCIA [9006]

Glaucão, estou fodido! Fodidaço!

Emprego ja perdi! Meu carro usei ja como motorista, trabalhei por um applicativo, mas não deu, por causa desses caros combustiveis!

Troquei por uma moto, ja virei aquelle entregador de pizza, até!

Tambem não deu, Glaucão! Fiquei a pé!

Agora batto perna, gasto tennis e tenho que comprar um novo, Glauco!

Será que esse meu tennis lhe interessa?

Está muito fedido, bem podrão, do jeito que você mais curte, Glauco! Lhe faço um preço honesto, si você depois for me indicando outros podolatras! Assim conseguirei sobreviver!

MEMORIA DA PERDA [9026]

Eu trampo, Glauco! Nunca achei dinheiro em arvore! Mas, quando joven, quiz comprar aquelle tennis que fazia successo! Todo mundo quiz ter um! Junctei a grana até poder pagar! Sahi pouco com elle, pois um dia ouvi “Perdeu, playboy!” e perdi tudo, dinheiro, cellular… até meu tennis! Senti mais foi a perda do calçado, embora aquelle mano me tivesse deixado o seu em troca! Agora ainda eu guardo o tennis velho do malandro, que, mesmo sem ter hoje nenhum cheiro, ao menos consolou-me na punheta! Ficou, Glaucão, com agua ahi na bocca?

RETOMADA POSTPANDEMICA [9058]

Depois de ter tomado, Glaucão, minha vaccina anticovidica, ja posso sahir a visitar amigos, para, quem sabe, descollar alguma grana! Você não disse que era taradão por cheiros fedorentos, o do pé, mormente? Então! Eu tenho um chulé forte da porra! Appenas uso um tennis bem surrado, que mais fede do que queijo mofado! Si quizer ficar com elle, você me paga, alem do programminha, um novo! Quer marcar, Glaucão? Garanto, fallando de queijinhos, que tambem irá curtir meu sebo! Porem desse eu deixo que desfructe sem cobrar nadinha a mais! É brinde! É cortezia!

FODA NA MODA [9082]

Aquelles tennis velhos que você comprou de mim, Glaucão, ja tão surrados, manchados, encardidos e podrões, fedendo um chulé forte do caralho, que para mil punhetas lhe serviram, lambidos e chupados que bem foram, aquelles tennis, Glauco, valem mais, mas muito, muito, muito mais dinheiro do que esse preço micho que lhe faço! Sim, Glauco! Hoje na FOLHA li que está na moda comprar tennis que simulam estarem nesse estado, mas que custam milhares e milhares de reaes! Os meus são sujos mesmo, de verdade! Daqui por deante, sua punhetinha mais cara ficará, meu caro Glauco!

CONCORRENCIA DESLEAL [9092]

De status mudarei, Glaucão! Agora um emprehendedor vou me tornar, um individual trabalhador, porem um empresario! Me entendeu? Em vez de vender tennis velhos para podolatras que irão trocar por novos aquelles meus pisantes ja podrões, prefiro os alugar por dois, trez dias, a preço de mercado, Glauco! Sim! Depois que meu chulé valorizado ficou nas plataformas digitaes, até palmilha alugo, si estiver ja preta pela marca do meu pé! Ahi, Glaucão! Ficou interessado? Mas como não? Agora descurtiu? Achou que está bastante inflacionado o preço desses tennis alugados? Prefere ‘inda comprar, bem baratinho, o tennis mais podrão ainda dum mendigo, um morador de rua? Porra, Glaucão! É covardia! Assim não posso com esses concorrer! Por mais chulé que eu tenha, longe estou desse ideal estagio de incensada perfeição!

CHEIRO CHULO? [9551]

Que typo de pisante dá chulé mais forte, Glaucão? Tennis? Eu concordo! Não uso, pois prefiro o meu chinello, em casa, alem da bota, ja macia de tanto que marchei por esta vida! O tennis do meu filho, todavia, ainda que novinho, fede tanto que deixa meu nariz ardendo, Glauco! Não, elle não leu sua poesia…

BRONHA SEMVERGONHA? [9552]

Punheta ainda, Glauco, você batte cheirando um tennis podre que ganhou dalgum amigo velho, ja, de guerra? Não? Elles ja não usam tennis? Ou se exquescem de você, depois de velho? Mas acho que você pode cheirar seus proprios tennis, Glauco! Chulé forte você não tem? Difficil de crer, mas entendo sua atroz solidão, mano!

MATERIALIZADO? [9572]

Você ja achou na rua, Glauco, um par de tennis deschartado, ou mesmo um pé, somente, bem podrão e detonado? Ja achei, sim, menestrel! Estava tão fedido que carniça parescia! Nem pude masturbar-me, em casa, com aquelle podre estimulo, por causa do nojo que senti! Você talvez gozasse, ja que está quasi na cova!

BAIXADO? [9700]

Jurado tu ja foste, Glauco, num concurso de chulé dentro de tennis usados só por jovens estudantes? Torneios desse typo são communs na America? Ah, tambem aqui serão! Talvez aqui mais fedam os pisantes, por causa do calor, sim, mas tambem por causa dos baratos materiaes dos tennis nacionaes! Não achas, Glauco?

CONGA? [9733]

Você fallou da dansa, mas eu só me lembro, com tal nome, dum barato calçado, um tennis pobre, sem cadarço, que dava chulé forte, menestrel! Tambem você se lembra, não é mesmo? Ah, vate! Era gostoso ser moleque! A gente nem ligava si fedessem os nossos pés! Até que nós curtiamos! Entendo por que tanta nostalgia você tem dessa noss’infancia, Glauco!

AVAREZA? [9835]

Glaucão, um avarento não é quem poupou cada centavo por ter pouco dinheiro, ou lhe faltar tudo na vida! Pão duro, mesmo, só quem tem sobrando e evita comprar tennis novo, mano! Eu, quando vendo um tennis que está ja podrão para você, não posso ser chamado de pão duro, pois me falta a grana que me paga aquelle tennis barato, o mais barato que eu achar!

MANUAL? [9914]

Um tennis do Romario? Perdidão num sujo vestiario qualquer, Glauco? Estavam é sonhando! O chulepento calçado, que ninguem reivindicou, no lixo foi parar! Mas eu vi, bem na hora que pegaram, quem com elle ficou! Foi um garoto usando uns oculos de fundo de garrafa! Sim, seria você, si em seu logar você estivesse!

PYRAMIDAL? [9988]

Não, Glauco, o meu dinheiro não vae para as pyramides, nem para as virtuaes moedas! Ja perdi muito dinheiro na Bolsa, com os titulos podrões que estavam no mercado, menestrel! Agora, de podrões, bastam os tennis que lambo, dos garotos de programma que custam mais barato que em acções a gente investir, Glauco! Faço bem?

DIA DO POVO DA RUA [10.242]

Amigo sou do padre, mano! Faço trabalhos com o fluxo que se expalha alli na Crackolandia, com a tralha que leva quem occupa aquelle espaço!

Preciso lhe contar! Ganhei abbraço dum desses usuarios! Quem trabalha com elles sempre ganha! Ahi, sem falha, notei que elle calçava um pisantaço!

Embora baixotinho, tinha pé quarenta e seis ou septe, mano! Juro! Direi que cincoentão calçava, até!

Na proxima, prometto! Sim, no duro! Eu pego o tennis delle, que seu é, garanto! Um chulezão, de facto, puro!

DIA DO SEQUESTRADO [10.260]

Emfim chegou meu dia de deixar aquelle captiveiro! Vocês não calculam como soffre um cidadão que caia, dos bandidos, no radar!

Appenas por calçar um caro par de tennis, dos de griffe, elegantão, raptaram-me e fiquei ao rés do chão, aos pés de quem quizesse me zoar!

Pisaram-me na cara, com Rainha, com Conga, até com Nike, por vingança! Adidas nos pezões, tambem, um tinha!

Depois me libertaram, mas quem dansa, no caso, sae descalço! Fica a minha versão: não lambi tennis de creança!

DIA DO TENNIS DE MESA [10.309]

Jogando pinguepongue estava aquella putinha que é podolatra, Glaucão! Conhesce? Sim, a propria! Pois então! Cheguei e me sentei, não longe della!

Você sabe, essa puta não é bella, mas chupa que só vendo! Ja a attenção tractei de lhe chamar, pondo o pezão na mesa, bem à moda da favella!

Assim que viu meu tennis encardido de sola a ella, appenas, dirigida, ficou perturbadissima, querido!

Parou de jogar, louca, ja, da vida e veiu se chegando! Só convido que lamba, a puta acceita! Alguem duvida?

DIA DE USAR TENNIS [10.330]

O tennis, si é de griffe e custou caro, a gente, em sociedade, ja tolera, fingindo que o mau gosto se supera por causa do dinheiro, fica claro.

Mas, si elle estiver sujo, eu ja reparo na hora! Finjo nojo mas, à vera, por dentro o meu thermometro se altera e ponho-me em allerta com meu faro!

Ahi, Glaucão, presinto que esse tennis chulé terá por dentro, forte, intenso, tornando os meus instinctos mais infrenes!

Por pouco, desse cara, aquelle immenso pezão alli não lambo! Não condemnes, Glaucão, si eu, enrustido, nisso penso!

DIA DA MINIREMINISCENCIA (1) [10.407]

Thaddeu, unico filho da vizinha, mimado da mamãe, não se mixtura. Brinquedos muitos lembro que elle tinha, mas não compartilhava: “São meus!”, jura.

Daquelles sobradinhos, essa minha lembrança ainda, lubrica, perdura: Sonhei com sua rolla, bem durinha, por mim sendo chupada… Que loucura!

Por todos o Thaddeu era zoado, mas, com nariz altivo, seu recado nos dava: “Seus cuzões! Não me mixturo!”

Commigo mesmo, quando uma punheta battia, pensei: Quero que me metta na bocca seu cacete esnobe e duro!

DIA DA MINIREMINISCENCIA (2) [10.409]

Depois fiquei sabendo porque tinha Thaddeu sido mimado pela mãe. Soffria de terrivel asthma. Appanhe alguem uma covid e ja adivinha!

Aquillo commoveu-me, eis que eu ja vinha pensando: Oh, como quero que eu lhe ganhe alguma confiança, não extranhe que eu queira até chupar sua bimbinha!

Morreu ainda joven, duma crise do typo. Fiquei mesmo na punheta. Mas acho memoravel que se frise:

Menino orgulhosinho, si é ranheta e esnobe, antes que morra de hemoptyse ou asthma, jus faria a tal chupeta.

DIA DA MINIREMINISCENCIA (3) [10.410]

Thaddeu tinha até tennis importado, daquelles de baskete americano, provavelmente “Kedis”, que tem cano bem alto, tamanhão grande e folgado.

Um dia, descalçou-se, bem ao lado do poncto onde eu estava. Quiz seu plano pezão coçar. Meu gesto foi insano: Cheirei o cano. Um cheiro defumado!

Por sorte, elle não teve reacção hostil. Appenas, rindo, tirou sarro: “Não acha meu chulé fraquinho, não?”

Cheirei-o novamente. Emquanto narro, erecto fico. Disse-lhe eu, então: -- Mais forte é o meu, mas, mesmo assim, me ammarro!

DIA DA MINIREMINISCENCIA (4) [10.415]

Fallei eu, varias vezes, dos que medo me davam, os pivetes do pedaço. Mas esses não moravam nesse espaço do bairro, os sobradinhos deste enredo.

Thaddeu, esse morava, desde cedo, no mesmo quarteirão em que me faço seu unico parceiro, pois “ricaço” os outros o chamavam, pondo o dedo.

Embora o mimadinho desdenhoso commigo tambem fosse, bem sabia que eu era, de seus tennis, fan zeloso.

Usava, assim, commigo de ironia, dizendo: “Sabe, Pedro? Tenho gozo sabendo o que você de mim queria…”

DIA

DA MINIREMINISCENCIA (5) [10.424]

Jamais me deu a chance de chupar, Thaddeu, sua piroca de menino mimado, mas é claro que imagino o quanto desejou me fornicar.

Mas elle contentava-se em seu par de tennis me exhibir. Meu faro fino de longe detectava algum suino chulé por dentro delles, no radar.

Por vezes, Thaddeuzinho os descalçava na minha frente, só para me ver afflicto, salivando. Me esnobava:

“Hem, Pedro? Você sabe que prazer eu tenho quando tiro o tennis?” Fava comptada: me manteve em seu poder.

DIA DA MINIREMINISCENCIA (6) [10.431]

Um dia, me deixou que descalçasse seu “Kedis”, porque estava “com preguiça”. Embora desejasse sua piça me impor, não superou aquelle impasse.

Assim, me limitei àquella classe de tennis cobiçar e fiz justiça ao nosso fetichismo. Quem cobiça deseja, ao menos, perto os ver da face.

De subito, Thaddeu quiz que eu na cara puzesse, dos pisantes, o solado, appenas a testar a minha tara.

É claro, não me faço de rogado em horas taes. Thaddeu, então, repara na lingua que exhibi, todo babado.

DIA DA MINIREMINISCENCIA (7) [10.432]

O “Kedis”, cano longo, na cor preta, solado de borracha cinza tinha, alem daquella cinza rodellinha, tambem, no tornozello. Bem porreta!

Inveja me causava que alguem metta nos pés um importado desses. Minha melhor e mais secreta punhetinha battida foi por esse tennis. Eta!

Mas elle estava gasto, de sujeira as marcas ja trazia. Que alguem queira naquillo pôr a bocca… Quem diria?

Thaddeu disse: “Pedrinho, você cheira meu tennis, mas chupar essa biqueira duvido que consiga…” Ao dizer, ria.

DIA DA MINIREMINISCENCIA (8) [10.433]

Total reminiscencia ainda tenho daquelle tão erotico momento. Si penso nos detalhes, me contento com meu masturbatorio desempenho.

Thaddeu ficou olhando. Meu engenho de escravo lambedor consiste em, lento, passar a lingua pela sola, attento aos grãos de pó no sulco onde me embrenho.

Lambi, primeiro, o tennis, poncta a poncta, depois abboccanhei, alem da compta, o bicco, feito glande que se fella.

Morreu Thaddeu bem cedo, mas remonta à mente que gozou a minha tonta maneira de gozar. Gozou com ella.

OUTRO DIA DO CATADOR DE MATERIAES RECYCLAVEIS [10.511]

Deschartam muitos tennis velhos por aqui, Glaucão! Sabia? Sim, motivo exsiste: um escholar centro esportivo bem perto se situa, trovador!

Mas eu os collecciono! Sim senhor! Chulés alguns conservam, um mais vivo, mais fracco um outro… Como compulsivo podolatra, provei cada sabor!

Achei de tudo: um Conga appodrescido, um fetido Rainha, até de Nike um unico pezão, tambem fedido!

Alguns foram usados p’ra, de bike, o joven pedalar… Até convido você para cheirar commigo… Vae que…

DIA DO DESEQUILIBRADO DESATTENTO [10.531]

Não, Glauco! O meu filhão não é maluco! Appenas retardado! Mas é leve o nivel do transtorno! Quem descreve bem isso me accalmou! Eu nem encuco!

Mas sabe, vate? Eu tento, fallo, educo, porem elle me ignora! Acho que deve ser coisa de somenos! Elle, em breve, será maior de edade e eu, ja, caduco!

O tennis delle fica alli, largado, fedendo um chulezão da porra, cara! E então? Algo fallei do seu aggrado?

Você não quer, Glaucão, que eu diga para meu filho o visitar? Quem sabe sado se torne com você, lhe entenda a tara…

DIA DA DYSODIA [10.568]

Não, Glauco! O meu pé fede demais! Nem você supportaria cafungar nas minhas meias sujas! Mas um par eu guardo, lhe prometto, custo sem!

Só que estes tennis velhos, que ninguem por elles dava nada, vou cobrar bem caro de você, si quer ficar com essas porcarias! Ouviu bem?

Incrivel! Um tal vicio por chulé jamais eu encontrei noutro freguez! Só mesmo um cego tão sem brios é!

Paresce que o destino, Glauco, o fez assim tão masochista, qual um Zé Mané, pelos refugos dos michês!

DIA DO MUSEOLOGO [10.584]

Museu interessante visitei, Glaucão! Você na certa adoraria! Mostrava só calçados! Cada dia sapatos differentes! Delirei!

De escravo, de politico, de rei, de esportes, profissões e (Quem diria?) até de michetagem, putaria, ou seja, attractivissimos ao gay!

Notei que, dum michê, se exhibem tennis maiores que dum desses basketeiros! Seria propaganda do seu penis?

Nenhum museu preserva, porem, cheiros daquelles tennis todos! Aos infrenes instinctos, Glauco, só mesmo os puteiros!

DIA DO COMPRADOR DE ULTIMA HORA [10.620]

Comprei, correndo, um tennis, pois estava a loja ja fechando, menestrel! De tolo, convenhamos, fiz papel, pois muito appertadão elle ficava!

Em vez de mandar esse par à fava, tentei calçar, usar, dar um miguel, fingindo que não tenho um tão revel pezão, cujo tamanho o drama aggrava!

Meu numero, no minimo cincoenta, não cabe nessa fôrma appequenada que nossa pobre industria vender tenta!

No lixo, pois, joguei a malfadada lanchona! Foi bem feito! Quem aguenta as compras de Natal? Quem não se enfada?

DIA DOS RITUAES DE ANNO NOVO [10.661]

Ouvi que, si eu vestir cor amarella, terei optima sorte financeira, Glaucão! Achei legal a brincadeira, pois tenho uma cueca e vou com ella!

Mas dizem que a cor branca é que revela mais sorte e, por mais crente que eu me queira, não tenho roupa branca! A sapateira só guarda um tennis velho! Que esparrella!

O tennis ja foi branco um dia, mas agora encardidissimo, nem dá idéa de pureza, mais, rapaz!

Ué, Glaucão! Você me diz que está bastante interessado? O que? Me faz offerta pelo tennis? Topo ja!

DIA DA DEVOLUÇÃO [10.665]

Ganhei, Glaucão, um par de tennis, mas não servem nos meus pés, é de suppor! Nem quero devolver, pois acho por demais deselegante, meu rapaz!

Não quer ficar com elles, Glauco? Faz um tempo que não vejo ‘ocê se expor, pedindo de presente, quando for alguem jogal-o fora, algum com gaz!

É claro que chulé não vae você achar num par novinho… Mas podia usal-o… No seu pé, quem sabe dê…

Entendo que não queira… Mas um dia um velho meu lhe dou, com meu buquê fedendo o meu melhor da dysodia!

MEASURE YOUR FEET DAY

[10.815]

Medi meus pés, Glaucão! Sim, são maiores que todas essas reguas que tu tens! Por isso os meus sapatos não são bens duraveis e nem compro dos melhores!

Por elles pedirei que não implores, pois dados não serão! Si tu me vens pagar por elles, sim, sem mais porens estão à venda! Prompto! Não, não chores!

Difficil foi achal-os, pois aquellas communs lojas meu numero nem teem! Na loja alleman, só, vi marcas bellas!

Meus velhos, caso os queiras, bom vintem te cobro! Si por tennis meus appellas, direi que valem elles bem mais, hem?

DIA DA LOJA DE CALÇADOS USADOS [10.817]

Vendemos, sim, senhor! O que deseja? Sapatos com chulé? Nós temos, sim! Hem? Tennis num estado bem ruim? Sem duvida! Lhe trago de bandeja!

Observe este Rainha! Quem esteja calçando um destes passa, para mim, por esse escroto typo dum chinfrim pivete que, duns crimes, não se peja!

Prefere este cothurno com biqueira ja toda carcomida? Até que, um dia, foi elle preto! Ou fallo uma besteira?

Saber quem os calçava? Ah, poderia saber, sim, claro! Caso o senhor queira, lhe passo os phones! Quanto pagaria?

DIA DO CHULÉ DE TENNIS [10.887]

Mas, Glauco, si for tennis o que calça a gente, nem precisa alguma meia usarmos! O chulé ja nos tonteia até quando uma griffe não é falsa!

Conhesço um molecão que, si ao ar alça aquelle seu pezão, não se refreia alli nenhum podolatra! Recreia seu pé muitas narinas, pois realça!

Alem de grande e chato, o pé do cara, que estava num dos tennis mais baratos, ao cheiro dum gambá ja se compara!

É certo que elle cobra, pois pés chatos e fetidos são pratto cheio para vocês, que pagam caro por taes actos!

DIA DO SURFISTA [10.919]

Você ja reparou, Glaucão? O pé daquelle que bem surfa não despista nas photos! Que tesão! Todo surfista tem chato o pé, Glaucão! Demais, até!

Alem de chato, noto, tambem é bem largo, expalhadão! Mais curto, dista dos outros o dedão! Isso conquista a gente, não conquista? Boto fé!

Talvez tenha, na prancha, mais firmeza a sola acchatadissima, sei la! Importa a nossa tara, sempre accesa!

Podolatras que somos, quem irá do preço reclamar, si é sobremesa seu tennis chulepento, camará?

DIA DO TENNISTA [10.994]

Os celebres tennistas calçam, claro, as marcas mais famosas, mas não eu, poeta, que não passo dum plebeu! Jamais pude comprar um tennis caro!

Na falta dum de griffe, me declaro adepto dum podrão, que ja perdeu a cor original! Você, em seu breu, nem sente differença pelo faro!

Aquelles que eu lhe vendo, ja não uso na quadra, porque estão tão detonados que servem para, appenas, um recluso…

Você, que se masturba com calçados usados, ja notou que eu nem abuso no preço, pois dó sinto dos coitados…

OUTRO DIA DA LINGUA PORTUGUEZA [11.106]

Tu fallas, menestrel, como quem és. Cultura tens, embora palavrões mui chulos uses. Fazes de Camões ainda teu modello: lés com crés.

Mas, como tu te inspiras nas ralés emquanto sonnettizas, expressões obscenas predominam nas sessões eroticas: são chulos mesmo os pés.

Não vejo nenhum drama maior nisso, excepto si desejas aggradar àquelles que te querem mais castiço.

Bem franco sou, Mattoso: tenho um par de tennis ja bem podres, mas sumiço não dou nelles só para te esperar.

DIA DA DEFESA DO CONSUMIDOR [11.108]

Não posso consentir que esse producto, lançado p’ra consumo das ralés, provoque, no odor fetido dos pés, effeito dum perfume! Isso eu discuto!

Assim que me informaram, fiquei puto, poeta! Como podem taes manés querer amenizar nossos chulés? Preju vejo nos tennis que permuto!

Sim, Glauco! Por um novo troco cada par podre que os pivetes offerescem! Não quero que perfumem os pés, nada!

Mas, menos mal, ainda que me dessem pisantes perfumados, molecada tal nunca perderá chulé, pois crescem…

DIA DO SKATISTA [11.168]

Poeta, antigamente, esse menino que skate está, nas ruas, practicando, um tennis usaria que eu vi, quando andava na cidade, sem destino!

Pesado, botinudo, o tennis fino não era, menestrel! Fedor nefando deixava nos artelhos! No commando, um delles fez commigo o que imagino!

Qualquer um que skatista, aqui, se diga bem saca que chulé, para quem é podolatra, a libido sempre instiga!

É claro que isso custa alguns, ué, alguns caraminguados! Quem se liga ja sabe: skate é business! Bote fé!

DIA NACIONAL DO “QUEDES” [11.432]

Nas redes, para a photo duma cappa, a marca pesquisei daquelle par antigo, vintageiro, que tem ar surrado: fixação que não me excappa.

Moleque, eu desejei metter a nappa (tambem a lingua) nesse elementar pisante dos playboys, mas recordar appenas posso de ter dado um tapa.

Naquella Zona Leste cincoentista pouquissimos moleques tinham quedes. Mal pude salivar, de longe, num.

Na cappa do meu livro, o que me pedes, leitor, é que eu recorde esse commum desejo, o primeirão da longa lista.

OUTRO DIA NACIONAL DO “QUEDES” [11.445]

O tennis que não tive e não terei te seduz, leitor? A mim sempre seduz. Por isso, hoje podendo, é que me puz aqui pensando em tel-o. Que deleite!

Mas, como ja não uso um que se adjeite no pé só com cadarços, uma luz accesa fica: posso, de pés nus, deixal-o pela salla, como enfeite.

Os Keds são dictos “quedes” ca na nossa linguagem popular, mas seu formato ninguem exquesce, com aquella bossa.

Cor preta, partes brancas, num pé chato ou cavo, uma ambição elle alvoroça ainda a qualquer pobre, em senso lato.

DIA NACIONAL DA LAMBEÇÃO DE CHÃO [11.460]

Na marra, aquelle inerme prisioneiro começa a rallamber o sujo piso interno do presidio, sob o riso do joven carcereiro, sobranceiro.

A lingua, rente ao tennis por inteiro filmado na sessão, faz indeciso e exquivo movimento. Tambem fiz o serviço, recolhendo cada argueiro.

Os ciscos adherindo vão à minha rallada lingua. A baba molha a lage pisada pelo tennis, que é Rainha.

Embora degradado pelo ultraje, não deixo de exbarrar, em recta linha, num tennis que combina com o traje.

DIA NACIONAL DA RHAPSODIA MACHADIANA [11.480]

Coitado do sapato social! Está, sempre engraxado, quasi sem ter uso, e pensa: “A bota, sim, mantem mais cheiro, mais battida que é!” Que tal?

Que inveja boba, né? Pois desse mal a bota tambem soffre: “Que desdem de mim tem o cothurno! Oh! Delle vem fortissimo chulé! Sim, sou banal!”

Por sua vez, o sujo cothurnão inveja tem do tennis encardido, que exhala. “Aquelle, sim, pisou mais chão!”

O tennis se lamenta: “Muitos são contrarios ao meu cheiro, não duvido! Pudesse eu ser sapato chique, então!”

DIA MUNDIAL DAS MEDIDAS DOS PÉS [11.586]

Não dei tanta attenção antes, mas eis que pés medir me vale mais affinco. Embora não exsistam disso leis exactas, às da America me linko.

Medi, de brazileiro, um trinta e seis. De gringo ja medi quarenta e cinco. Mas, quando os pés medidos são de gays, tambem paus meço e até com elles brinco.

Tamanho documento não é, mas dum pé cincoenta e cinco me impressiona o tennis, quer de couro, quer de lona.

Dezenas recolhi, muitos em más e feias condições. Nenhum desthrona, não, esse tennisão que se detona…

SONNETTO DA MENINA MALHADA [11.645]

Sentou-se. Todo mundo olhou. A bella menina, da gymnastica voltando, descansa, suadaça, quando um bando de manos chega, vindo da favella.

A linda mina cruza a perna. Appella às jovens phantasias. Vae passando a mão no branco tennis. Gesto brando, que instiga quem massagem quer dar nella.

Emfim, o tennis tira. Tira a meia. Os manos fazem lingua de palhaço, os labios lambem, fingem bocca cheia.

A mina a propria sola massageia, sorrindo. Nisso, chego no pedaço e sinto o forte cheiro, que tonteia.

SONNETTO DA LINGUA CALLEJADA [11.665]

Andaram commentando que no chão da rua cae o virus e que fica nas solas dos sapatos essa zica grudada ainda -- Cruzes! -- um tempão.

Tambem acconselharam: -- Vocês não terão appenas medo da titica sujando o seu soalho! Nossa dica é para redobrar a precaução!

Não saio. Si sahisse, todavia, o tennis não deixava ao pé da porta, tal como o que o bom medico me exhorta.

De tanto lamber solas, eu teria que estar immunizado. Me comforta que em minha lingua a praga caia morta.

SONNETTO DESCHULEZADO [11.700]

Não, Glauco! Não será porque estou nessa maldicta quarentena, que ficar irei tão chulepento, que meu par de meias federá na casa à bessa!

Não, Glauco! Eu hygienico sou! Peça que eu guarde meu pisante que cheirar mais forte e, sem laval-o, com tal ar lhe faça bom presente dessa peça!

Ahi você verá, digo, no cheiro noção de mim terá, ja que nem beiro o fetido padrão de punk engenho!

Mas, caso o seu olfacto, tão certeiro, desminta meu asseio, ahi, parceiro, meu tennis fedidão a dar-lhe venho!

SONNETTO DA FOFOCA DUM MASOCA [11.730]

Deixaram-me na salla. Foram para o quarto os dois, o mano com a minha menina desejada, que eu não tinha ainda nem beijado, cara a cara!

Notei que, no tapete, ella deixara as botas. Mas soffrida punhetinha batti sentindo o cheiro de morrinha nos tennis que o moleque descalçara!

Ah, Glauco! Que chulé forte, salgado! Soffri! Foi humilhante, pois, durante o gozo, os dois gemiam bem ao lado!

Tambem gemi, baixinho, revoltado, trahido, ja babando no pisante do cara! Ao odial-o, me degrado!

SONNETTO DA INGRATA PENSATA [11.783]

Queremos reclamar, Glauco! Tu tens que pôr as nossas queixas em formato de verso, commentar bem cada facto que expomos, realçar nossos porens!

Mas pouco caso fazes! São desdens as tuas attitudes! Só constato que quasi nem retornas o contacto que faço! A ninharias tu te attens!

A compta ja perdi de quantos pares de tennis velhos dei-te de presente! Por que não retribues dignamente?

Tá certo que apprecio umas vulgares e sujas anecdotas, mas mais mente a tua poesia que essa gente!

SONNETTO DA DERRADEIRA SAPATEIRA [11.837]

Indago-te, Glaucão, mais uma vez, depois de tantos annos: colleccionas ainda aquelles pares de grandonas botinas das quaes foste tão freguez?

Ainda colleccionas, dos michês de pés tamanho maximo, de lonas surradas ou de couros que nas zonas batteram, esses tennis de burguez?

Ainda colleccionas, dos punkões da antiga, aquelles fetidos burzegos nos quaes tu tacteavas, olhos cegos?

Será que ‘inda nas sujas solas pões a lingua ja rachada, qual si pregos houvessem-n’a rasgado? Os pés, exfrego-os…

SONNETTO DA MAIORIDADE [11.861]

Seu Glauco, o senhor pode ter certeza de como o meu chulé de maior é! Talvez seja menor este meu pé, que pouco mede menos que o da mesa!

Mas posso garantir: de rolla tesa não fico si um adulto cafuné fizer no meu pentelho! Bote fé, creança não serei tão indefesa!

Seu Glauco, o meu chulé não me envergonha, mas delle nem tampouco sinto orgulho! Farei anniversario, agora em julho!

Com novos tennis todo joven sonha! Darei, sim, ao senhor aquelle embrulho dos velhos, pois meu quarto ja vasculho!

SONNETTO DOS MIMOS [11.877]

Meu filho, Glauco, deixa-me maluca! Eu mimo, mimo, mimo, mas de nada addeanta! Quem controla a molecada dos dias actuaes? Bagunça a cuca!

A gente faz de tudo! Veste, educa, dá tennis, calça, às vezes dá palmada, descalça, calça a meia! Quando usada ja lava! Mas é tudo uma sinuca!

Si nego uma coisinha, ah, meu amigo! Irado o molecão logo me fica! Me chuta com o tennis, me dá bicca!

Si faço o que elle pede, ja perigo exsiste de querer griffe mais rica no tennis e nas roupas! Mas que zica!

SONNETTO DUM CASO DE FASHIONISMO FEETISHISTA (1) [12.241]

Sabia, Glauco? Quando você for comprar a sua roupa nova, agora é só por internet e, sem demora, excolhe seu padrão, numero ou cor!

Depois recebe em casa! Pode impor seu gosto ou preferencia! Simples, ora! Hem? Como? Quer você ver si vigora num tennis, que terá typico odor?

Entendo! Quer um tennis com chulé, surrado, detonado! Do seu lado estou! Seu consumismo sei qual é!

Então eu mesmo posso do meu pé tirar e lhe vender o meu calçado podrão! Lhe vendo meia velha, até!

SONNETTO

DUMA VELHA ABNORMALIDADE [12.258]

Irás tu te foder, Glauco! Si estavas, ja cego, preso em casa, vaes ficar ainda mais trancado nesse lar amargo, de mil trincos, de mil travas!

Amigos te mandaram para as favas ja desde que ficaste cego! O par de tennis que te deram deve estar sem cheiro, tanto faz si não o lavas!

Terás que masturbar-te sem signal de vida algum! Ninguem mais te visita! Ninguem te liga! Alguem diz que te evita!

Que esperas? Nem siquer teu funeral terá presença! Ah, tragica, maldicta missão, a tua, vate! És parasita!

SONNETTO DUM CASO DE FASHIONISMO FEETISHISTA (2) [12.270]

Meu tennis não me serve mais, Glaucão! De tanto caminhar, ficou meu pé inchado demais! Logico, não é? Terei que comprar outro, meu irmão!

Eu era magro, Glauco! Nunca tão gordinho fiquei! Acho que eu até andei comendo menos! A ralé mais come do que eu, nessa condição!

A crise não tá facil, cego! Ja que tem você fetiche por pisante usado, quer comprar um meu? Não dá?

Você me paga um novo! Então terá ja muitas punhetinhas que, durante a sua quarentena, são mannah!

SONNETTO AOS CHULÉS DOS SHOELESS [12.370]

Sim, Glauco, reparei que americano descalço não andava. De chinello tampouco. Só de tennis. Mas foi elo, o tennis, do meu vicio tão insano…

Lambel-os foi a regra. No mundano submundo urbano, sempre exsiste bello scenario para aquillo, pois eu fello, mas antes pago um troco para o mano.

Sim, rolla. Rolla tudo, de bebida a droga, de farinha a baseado. E rolla sexo. Fallo por meu lado.

Ah, Glauco, que saudade! Quem decida escravo ser, dos manos de la, fado melhor não achará! Foi bom achado!

SONNETTO DO TENNISISTA [12.371]

Bem, rolla às vezes, Glauco, um caso mais curioso ou singular de lambedor de tennis, sem que seja chupador de rolla. Mas são menos usuaes.

Um gajo conhesci, que diz jamais lambido ter um mano si não for calçado. Sim, poeta, ha de suppor você que sejam tennis mais banaes…

Tamanhos, os maiores! Glauco, um era dum joven basketeiro, longo cano, de panno, gasto nesse chão mundano…

Sim, foi na faculdade que a paquera rollou. Elle lambeu daquelle mano a lancha até na lingua causar damno!

SONNETTO DUMA BALLADA PARA A BICHARADA [12.378]

Ballada de estudante é sempre bella baderna, a boa chance de babar nuns tennis, si um calouro der azar de ser o lambedor que paga aquella.

Mas pode ser a sorte de quem mella a sunga quando lambe cada par de tennis pobre e podre, em seu logar de typico masoca astral na tela.

Ahi junctou a fome com aquillo que dizem ser vontade de comer, pois todo veterano tem prazer…

Calouros masochistas a curtil-o, o tennis que mais facil foi lamber cor teve que é difficil de saber…

SONNETTO DUM CASO DE FASHIONISMO FEETISHISTA (3) [12.461]

Glaucão, eu normalmente vou attraz dum tennis velho que elles ja no lixo jogado tenham! Nunca a mão espicho pegando um ‘inda novo dum rapaz!

Occorre que esse gajo, Glauco, faz questão de me tractar peor que bicho! Desdenha de mim, falla que eu pasticho os classicos podolatras assaz!

Mas faço o que tu fazes! Idolatro pisantes chulepentos! Esse cara negou-me seus deschartes, minha tara!

Roubei-lhe, então, um novo! Meu theatro não fica sem aquillo que eu sonhara! Ao teu o meu tesão bem se compara…

SONNETTO DUM CASO DE FASHIONISMO FEETISHISTA (4) [12.466]

Será que nem exsiste mais, Glaucão, aquelle tennis Conga, que não tinha cadarço? Mas você me entende! Minha vontade era chulé ter de montão!

Assim eu poderia ser-lhe tão legal quanto você, que me escrevinha teclando, supportando uma excarninha postura minha, aqui na connexão!

Si podre está meu tennis, elle é seu, por preço dum amigo que é judeu mas nunca teve compta la tão rica!

Está podrão, mas, caso queira que eu lhe deixe me lamber como um lebreu, ahi custa mais caro, fora a bicca!

SONNETTO

DO JAPONEZ CORTEZ [12.474]

Barraca de pastel costuma, sei bem disso, ser dum joven japonez que herdou tudo dos paes, por sua vez famosos pastelleiros. Um amei.

Contou-me o nipponjinho que freguez maduro não faltava, sendo gay o dono da barraca. Perguntei então si esta cantada alguem lhe fez:

“Hem, posso lhe lamber, suado, o pé?” {Sim, claro!}, respondeu o nipponjinho. {Usei, no trampo, um tennis bem podrinho…}

Tambem eu quiz lamber esse chulé, mas elle ja lavava com carinho a sua sola, agora que escrevinho…

SONNETTO DUMA PUNHETA DE CAGUETA [12.509]

“Quem quer assistir quando o preso for à salla do pau para se ferrar?” -- Eu! -- Eu! -- Dois caguetinhas seu azar quizeram ver, curtir a sua dor.

Vibravam ambos. Quiz o tennis pôr na cara do coitado um delles, ar fazendo, de carrasco, no logar, suppondo que será torturador.

A victima sentiu na bocca a sola do tennis do cagueta, que lhe exfolla o labio, se exfregando pela cara.

Aquella gargalhada a lhe echoar ficara na memoria. Sim, um par de meros informantes mostrou tara!

SONNETTO DO CEGO E DA PROFESSORA [12.514]

Em vez de, para cegos, uma eschola, aquella abriga alguns, os juncta ao dicto alumno “normalzinho”. {Não admitto que battam no ceguinho!} Quem controla?

Severa, a professora canta a bolla, pois basta que eu advirta a alguem: {Bonito não é batter num cego!} e logo incito um joven a fazer isso que rolla:

-- Então a professora fallou para a gente não zoar? Agora, cara, é mesmo que zoamos! Cê duvida?

A phrase {Lamba ahi!} soou amara, pois tennis de moleque, se repara, é cheio das sujeiras da avenida!

SONNETTO DO CEGO DESCHAPELLADO [12.530]

Aos cegos não suggiro usar bonné, não, Glauco! O vento o leva facilmente! Você não sabe disso? Ora, não tente teimar commigo! Foi bem feito, ué!

Bem feito! Foi cahir justo no pé daquelle molecão mais delinquente aqui da vizinhança! Dessa gente espera-se que seja má, não é?

O gajo lhe pisou no chapéu, certo? Podia ter chutado longe! Experto, prefere ver você como engattinha!

Esteve bem de jeito! Sei que perto ficou a sua bocca dum coberto de pó, surrado tennis, um Rainha!

SONNETTO DO CEGO DESOCULIZADO [12.532]

Os oculos escuros fazem parte daquillo que um ceguinho usar precisa! Quem usa para todos bem advisa que nada vê! Previne qualquer arte…

A menos que elles queiram, sim, barrar-te o passo de proposito! Quem pisa num cego faz papel cruel, à guisa de experto gozador ou Malazarte!

Pois é! Quem faz taes coisas não se peja! Quebraram os teus oculos? Que mais? Mandaram rastejar? São animaes!

Ah, não! Foste servido de bandeja? Lambeste tennis sujos? Que teus paes diriam de moleques tão brutaes?

SONNETTO DA PODOLATRIA NO FUNK [12.573]

No funk, em certos bailes, a gallera estava dividida: cada lado ficava attraz da chorda. Bem mostrado, erguido o pé mais alto, um tennis era.

Gostavam de exhibir solas. Pudera! O tennis, que tem griffe, foi comprado por quem ganhou, no traffico, um trocado e conta, ja, vantagem… Que se espera?

Espera-se que fique por ahi?

Qual nada! Si refem dalguns rivaes um joven la cahisse, quantos ais!

Mas, antes de morrer, levou chichi na cara, alem de, claro, dar fataes lambidas no pezão que se ergueu mais…

SONNETTO DO ROSTO EXTRANHO [12.609]

Você vae perceber, pelo tamanho do tennis, que quarenta e trez eu calço, até quarenta e quattro! Quando eu alço o pé, facil alcanço um nariz fanho!

Tambem vae perceber que eu, facil, ganho tamanho no meu penis! Não é falso que chupa bem a bocca que no encalço está dum pau que nunca toma banho!

Você vae, pelo faro, o meu buquê sentir, notar que cheiro de ralé eu tenho, de sebinho, de chulé…

Mas o melhor de tudo é que você não pode ver, saber não vae qual é meu rosto! Vae chupar meu pau, meu pé…

SONNETTO DUM SENSORIAL MEMORIAL [12.700]

Mandou que eu me deitasse no chão. Fiz o que elle quiz. De bruços, rastejei, cumprindo o que me impunha a sua lei. Mãos para traz, usei o meu nariz.

Ouvi que de mim ria, bem feliz por sua visão boa, disso sei. Aos poucos, a seus pés emfim cheguei. Provei-lhe que meus labios são servis.

Seus tennis, pelo cheiro, que encardidos estavam percebi. Senti poeira, alem daquella merda costumeira…

Mas tive que lamber e meus sentidos odores e sabores, com certeira memoria, registraram. Ha quem queira?

SONNETTO

DA SCENA CORTADA (2) [12.771]

No filme, eu, no papel dum lambedor de tennis encardidos, para fora espicho minha lingua: vou, agora, lavar com baba a sola, achar sabor.

Quem calça mais risada dá si for, em close, enquadradão. É quem adora ver cegos se rallando. Sem demora, demonstro que tambem sou bom actor.

A camera me enquadra na mais lenta lambida, attravessando uma ranhura da sola poeirenta. A gente tenta…

Comtudo, o director, que não attura excessos dramaturgicos, nojenta achou a scena. Achei que foi censura.

São Paulo 2025

Casa de Ferreiro

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