PATRONO MADRAGOA
Glauco Mattoso
PATRONO MADRAGOA
São Paulo
Patrono Madragoa
© Glauco Mattoso, 2024
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
Fotografia: Akira Nishimura
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
PATRONO MADRAGOA / Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024
80 p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
Este livro é dedicado aos meus confrades da Academia Brasileira de Sonetistas (ABRASSO) na pessoa de seu presidente Paulino Lima e também ao antecessor na cadeira 35 Rafael Santos Ferreira
NOTA INTRODUCTORIA
Foi Alexei Bueno quem mais diffundiu, no Brazil, a personalidade maldicta do Lobo da Madragoa (1730-1787), esse lendario precursor de Bocage na poesia fescennina. Graças ao pioneirismo da ANTHOLOGIA PORNOGRAPHICA: DE GREGORIO DE MATTOS A GLAUCO MATTOSO (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004), organizada por Alexei, o publico daqui tomou conhescimento duma selecção de sonnettos sem pappas na linguagem obscena e satyrica. Com base nesse recorte me decidi a compor alguns sonnettos e dissonnettos que dialogassem com o discurso madragoano, até que, em agosto de 2023, fui eleito para a cadeira 35 da Academia Brazileira de Sonnettistas (ABRASSO), cujo patrono é justamente o famigerado Lobo, o que me motivou a glosar mais sonnettos a elle attribuidos. O proprio Alexei commenta: {Com Antonio Lobo de Carvalho, o “Lobo da Madragoa”, chegamos talvez ao apogeu do genero em lingua portugueza, apogeu que se manterá até Bocage. Delle reproduzimos diversos poemas, sobretudo sonnettos que nada devem aos do grande Manuel Maria. É necessaria uma seria reedição das obras desse fabuloso poeta fescennino, vergonhosamente pouco conhescido, e uma investigação mais accurada em sua muito obscura biographia, como ja o dissera Natalia Correa, para devolver-lhe a posição a que faz jus como um dos maiores poetas satyricos e licenciosos da lingua portugueza.}
A referida Natalia é auctora de outra fundamental compilação, a ANTHOLOGIA DE POESIA PORTUGUEZA EROTICA E SATYRICA: DOS CANCIONEIROS MEDIEVAES À ACTUALIDADE. Meu exemplar é da terceira edição (Lisboa, Antigona/Phrenesi, 2000). Vejamos o que diz ella do nosso personagem:
{Lobo de Carvalho, chamado “Lobo da Madragoa”, appellido que lhe veiu da rua onde viveu e morreu numa agua-furtada, no anno de 1787, nasceu em Guimarães, provavelmente em 1730. Muito embora uma nota biographica (REV. UNIV. LISB., vol. VI, nº 43) informe ter elle tomado grau de bacharel em Coimbra, é este facto posto em duvida pelo editor que lhe prefacia a obra, assim como a sua problematica permanencia em Macau deduzida de um sonnetto considerado apocrypho pelo mesmo editor. Certo, é ter-se elle envolvido em questões que o levaram a exsilar-se no Porto, a fim de fugir às malhas da justiça, permanescendo ahi algum tempo, durante o qual escreveu grande parte das suas poesias. Regressado à capital, o seu feitio turbulento, talvez coadjuvado pelo desforço das victimas das suas diatribes satyricas, valeulhe mais do que uma vez a reclusão na cadeia da cidade. Era, effectivamente, implacavel para os proprios mecenas e amigos mais intimos, como João Xavier de Mattos, a quem estava estreitamente ligado e que nem por isso poupou à lamina do seu excarneo. Muito embora fosse contemporaneo da Arcadia Ulyssiponense, vivendo em Lisboa ao tempo em que aquella confraria litteraria ainda subsistia sustentada por um ou outro rasgo prestes a exstinguir-se, o seu nome não apparesce entre os Arcades em cuja assembléa destoaria o estro popular e a desbragada incomplacencia do Lobo da Madragoa. Exclusivamente satyrico, coube ao poeta a fortuna e o reverso desta sua condição. Emquanto vivo, gozou de grande popularidade, sendo as suas producções, quasi todas sonnettos, avidamente decoradas e successivamente copiadas. Uma vez morto, e desapparescidas as personagens que a sua desappiedada chacota convertia em “fabulas do povo”, o seu nome foi exquescido, até que em 1852 o valioso peculio poetico do Lobo de Carvalho é reunido e publicado integralmente pela primeira
vez em volume intitulado POESIAS JOVIAES E SATYRICAS DE ANTONIO LOBO DE CARVALHO COLLIGIDAS E PELA PRIMEIRA VEZ IMPRESSAS, como sendo edição de Cadiz, mas realmente feita em Lisboa. Lobo de Carvalho não só meresce um logar de especial destaque entre os satyricos portuguezes, como deve o seu nome, obscurescido pela ignorancia ou pelo preconceito dos chronistas litterarios, figurar na galleria dos relevantes poetas portuguezes, posto que, pelo quilate poetico, superou a circumstancialidade da satyra. Raramente o excarneo fescennino teve ao seu serviço um engenho formal e uma imaginação satyrica em tão perfeito equilibrio. O lyrismo negro portuguez é-lhe credor das melhores paginas do genero que se não desbrilham quando confrontadas com a de Bocage, offerescendo um cunho mais popular onde o cantor de A MANTEIGUI revela um maior arrebattamento poetico.}
Quasi todos os sonnettos que compuz como releitura do Lobo, posteriores ao meu decimo milhar, foram incluidos no livro COROA DO CARALHO E OUTROS
SONNETTOS (São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024) e todos aqui incluidos são precedidos dos originaes madragoanos. Desnecessario salientar que o anticlericalismo, tambem presente em Bocage e em outros pornographos lusos, foi a tonica thematica, mas não passa despercebida a homophobia, commum à epocha, manifestada pelo intolerante critico de costumes, bem como, por outro lado, sua antipathia às auctoridades, militar e policial, alem da ecclesiastica, assumptos para ulteriores considerações theoricas.
[1] SONNETTO DO PUTANHEIRO VAGABUNDO [XXV]
[a João Xavier de Mattos, namorando por grosso e mehudo quantas mulheres ha em Lisboa]
Appenas vês deixada da costura
Por traz da adufa a timida donzella, Como um raio, João, com os olhos nella {c’os}
Lhe encampas reverente uma mesura:
Sapha-se a moça, e o pae que porventura
Vem chamar o aguadeiro da janella, Repara então que a filha se accautela
Dessa tua scismatica ternura.
Por amante basbaque a bom capricho
Te apponcta ao dedo o ginja furibundo, Si é que prompta não tem a pá de lixo:
Casa-te, amigo meu, e logra o mundo;
Que é descanso maior ser corno fixo, Do que andar putanheiro vagabundo.
SONNETTO DA DOIDEIRA NO GALLINHEIRO [10.073]
O corno, quando lambe da mulher aquella bocetona molhadaça, sciente está de que por ella passa alheio caralhão, sempre que der.
Será que é preferivel, no mester da foda, ter linguona mais devassa e chotas chupar varias, nem que faça papel egual ao tal do Xavier?
Segundo o Lobo, quando um garanhão comeu por ahi todas, corno foi dos outros garanhões. Hem? Não foi não?
Talvez seja melhor ser dum só boi o otario ja casado, do que, em vão, comer tanta gallinha! Alloprei, oi!
[2] SONNETTO DO TEMPLO [XXXI]
[parodiando o sonnetto em que João Xavier de Mattos descreve o templo d’Amor, “No templo entrei d’Amor, e ‘inda gelado”]
Fui uma vez de Amor à sacristia, que era um quarto interior do Talaveiras, eu vi trinta milhões de alcoviteiras, inculcando a saphada putaria:
De chichisbéus a tropa alli se via encrespando os anneis das cabelleiras, e descendo-lhe o vinho às algibeiras davam cada facada, que extrugia:
O manso corno então se vae embora, de Albarda o chichisbéu vi, que trabalha por servir como burro a uma senhora:
No tecto estava Amor de escudo e malha, com seis vintens na mão, e a picca fora mijando em toda aquella vil canalha.
LOGAR DE GALLA [10.074]
Ficou demais confuso o thema accyma exposto, Glauco! Quando um putanheiro procura putas, acha no puteiro aquella que, com “foda”, “roda” rhyma.
Por foda rotativa tem estima quem acha que fodendo por dinheiro encontra algum tesão mais prazenteiro que em casa ter mulher que muito o mima.
Portanto, ninguem pode reclamar de estar, à bessa, sendo corneado por todo o pessoal do lupanar.
Você, que nem mulher tem do seu lado, palpite não dê, Glauco! O seu logar é mesmo o dum ceguinho mal amado!
[3] SONNETTO DO SYPHILITICO [CXXIII]
[ao Paca do Rio de Janeiro, indo de Lisboa são, do muito gallico que trouxe]
Putaria do sul, gentinha fracca, comvosco fallo, cagaçaes do Rio; que vendo ao longe as vergas de um navio altos vivas cantaes ao vosso Paca:
Não tarda muito, vae numa sumaca que em horror do pirata e do gentio, no tope leva um piçalhão de brio, que o vento açouta ao modo de matraca:
Vista a senha, rapae todas a crica, que o duro battedor, que nunca enjoa, la no signo de virgo em terra fica:
Que para exfrega de uma moça boa sararam-lhe os colhões, cresceu-lhe a picca por milagre das deusas de Lisboa.
SONNETTO DA PRAGA VENEREA [10.075]
Um caso de hygiene em trappos é a historia desse podre putanheiro que putas visitou o tempo inteiro enchendo-lhes os cus de gonorrhéa.
Sim, Glauco, via anal! Essa plebéa doença pelo penis, eu me inteiro, começa, mas termina num trazeiro de puta se expandindo! Que tetéa!
O gajo, cujo queijo obrava cheiro ja muito fedorento, um tesão tinha: que putas degustassem tal chiqueiro.
A lenda ja correu e ja adivinha você que esse caralho sem chuveiro nem fede tal qual uma bocetinha.
[4] SONNETTO DO CONFEITEIRO MORTO [CXXXVII]
[à morte do Cannavetta, confeiteiro, que se finou de gallico]
Aqui jaz gallicado (e quem diria
Que tão pouco durasse!) o Cannavetta; Ja o rabo elle extendeu, porque a punheta
Este pedaço de asno abhorrescia:
Si acaso a alguem da fanchonice ouvia Louvar qualquer, ou expressão discreta, Ardia logo, e à custa da boceta
Por dois bollos que dava é que fodia:
Morreu o bruto emfim de mal de amores, E para horror da crica a sua pelle
De exemplo ha de servir aos fodedores:
Ninguem de putas entendeu mais que elle; Mas putas nobres, putas de tambores: Agora ahi o teem, pois caguem nelle!
SONNETTO DA PUTARIA NA CONFEITARIA [10.076]
Morreu o confeiteiro “gallicado”, ou seja, syphilitico, nos diz o Lobo num sonnetto. Esse infeliz amava bocetinhas um boccado.
Fallava mal, é claro, de veado, mas nunca dessas putas, tão gentis, que, emquanto bem são pagas, muito bis promettem ao machão mais arrectado.
Morreu o gallicado confeiteiro que, dizem as más linguas, exporrava no bollo, no puddim, no brigadeiro.
Protesta algum padeiro que as mãos lava, mas sou cabreiro. Pelo que me inteiro, na scisma a nossa lingua sempre trava.
[5] SONNETTO DO SOLDADO RETRACTADO [CXXXIX]
[a um sargento-mor de Alcacer, por nome Pedro de tal, que mandava o seu retracto à sua noiva]
Um olho cor de esponja, outro albacento, cinco dentes fronteiros putrefactos, casaca, veste, e todos os mais fatos tudo roupa de preso, assaz nojento:
A peruca, de pello de jumento; a bolsa, ninho de um casal de rattos, as tombas sempre avulsas nos sapatos, as meias besunctadas com unguento:
Este o Pedro primeiro gallicado, que tem sido da historia para adorno do exercito de putas attaccado:
Com que, Phyllis, fallemos sem suborno: veja você, depois de estar casado, si um traste destes deixa de ser corno!
RHAPSODIA MADRAGOANA [5914]
Fallou Antonio Lobo de Carvalho, com caustico desdem, do militar pinctado como um typo de vulgar e sordido perfil: demais bandalho.
Na lyra, nem as putas do serralho mais reles se deixavam fornicar por esse soldadinho, cujo par de meias ou sapatos dá trabalho.
Digamos que, em logar da noiva, faça papel obediente este ceguinho. Daquelles pés tractando com carinho, sou quem na sua sola a lingua passa.
Frieiras? E dahi? Minha devassa boccarra chupará cada artelhinho!
Chulé? Por isso mesmo é que escrevinho rhapsodias, ora! Ahi que mora a graça!
SONNETTO DO SOLDADO CARICATURADO [10.077]
Fallou Antonio Lobo de Carvalho, com caustico desdem, do militar pinctado como um typo de vulgar e sordido perfil: demais bandalho.
Na lyra, nem as putas do serralho mais reles se deixavam fornicar por esse soldadinho, cujo par de meias ou sapatos dá trabalho.
Digamos que, em logar da noiva, faça papel obediente este ceguinho. Sou quem na sua sola a lingua passa.
Frieiras? E dahi? Minha devassa boccarra dellas tracta com carinho! Chulé tem? Ora, ahi que mora a graça!
[6] SONNETTO DO FRADE MALCREADO [CXLIII]
[a um frade destes chamados Borras, que descompoz sua mãe por lhe não dar o dinheiro que elle queria para levar à sua menina]
{Aqui del-rey! Não ha quem me soccorra!}
(Certo frade arreitado à mãe dizia)
{Valha-me a rua Suja, ou Cotovia, Antes que martyr do tesão eu morra!}
Larga a mãe um tostão ao frade borra, Mas elle, que acha pouco, assim porfia:
{Veja la, mãe, si acaso gramaria
Por tão pouco “d’argent” tão grande porra?}
Fica a sancta mulher toda atturdida, Não tendo nunca visto, nem tocado
Porra tão grossa, porra tão comprida.
Que fará, vendo o filho em tal estado?
Papel appara, toma-lhe a medida, Vae levar a bitola ao seu prelado.
SONNETTO DO MOLEQUE INHIBIDO [10.078]
Ai, Glauco! O meu menino tem edade, ja, para fornicar com a putada todinha que transita na calçada, affora as mais grahudas da cidade!
Eu, como mãe tenaz, clamo: Quem ha de dar jeito no moleque? Elle tem cada colhão maior que nadega implantada! O pau você suppõe que enormidade!
Mas elle é muito timido, Glaucão! Cabaço não perdeu ainda, não! Você não poderia algo tentar?
Sim, claro! O pezão delle é grande e chato! Ai, Glauco! Ocê dá jeito? Mais sensato ninguem jamais é, neste lupanar!
[7] SONNETTO DO ALFERES [CL]
[a certo Alferes, cuja mulher tinha mais maridos]
Não quero me calar, sinão abbafo: Eu declaro quem és, oh bode humano, Que da cobiça vil no altar prophano Sacrificando estás de injuria gafo:
Eu declaro quem és, eu ja te estaffo, E com raivosas satyras te exgano; Depois mijando em ti, cuco magano, Deixo os cabrões, e com os tafues me sapho:
Não posso me conter, e sem suborno Digo que és dos alferes lixo e borra, Oh tu, que trazes militar adorno!
Ora quero appromptar antes que morra
Dois mimos; -- para ti corno, e mais corno; Para tua mulher porra, e mais porra.
ARES SECULARES [10.014-B]
Vivesses tu na phase em que Lisboa não tinha nem transporte em dois andares nem lampadas electricas, quaes ares verias? Os do Lobo, o Madragoa!
Não penses que teus versos coisa à toa seriam! Hoje em dia, si empregares em livro os mais vulgares linguajares, não vejo quem se importe e quem se doa…
Alli, serias preso! Na cadeia maus tractos soffrerias! Ouvirias risadas de quem versos taes odeia!
Mas, Glauco, tu terias honrarias que, posthumas, dariam, de mão cheia, um premio ao teu biographo! Sabias?
SONNETTO DO MILICO CORNO [10.079]
Conhesço, Glauco, um corno que é milico. Na rua todos sabem quando sua mulher, com os malandros, arde e sua na foda, cujo officio não é bicco.
Emquanto o militar sonha com rico porvir e em quarteladas continua mettendo o seu bedelho, sua nua esposa com os pobres não dá mico.
A trama dos golpistas nunca dá em nada, mas insiste essa cambada. Na cama, a mulher delle dando está.
Por isso digo, Glauco: Não ha nada melhor, para sabermos quem será governo, que escutar a molecada.
[8] SONNETTO DOS SODOMITAS ENCASTELLADOS [CLII]
[contra o fanchonismo que, invadindo esta corte, ammeaça convertel-a em outra nova Sodoma]
Das tartareas masmorras o Diabo trouxe nos cornos a brutal punheta; jurando anniquilar com manha e treta delicias feminis, por quem me babo:
Corre Lisboa do principio ao cabo; inspira em corja vil que exquive a greta, que ao gosto singular da mamma e teta, hoje a mão substitua, a bimba, o rabo:
Lavra o prazer bastardo; eis Madragoa, eis Taipas, Cotovia em abbandono, rara picca nas bordas ja se assoa:
E perdeu tanto a voga o pobre conno, que até certo taful viu em Lisboa um gatto sodomita, um cão fanchono!
DISSONNETTO DOS BICHANOS FANCHONOS [1644]
O Lobo, em seus sonnettos, não perdoa naquelles cortezãos a veadagem. Ao ar palaciano de Lisboa critica os fricoteiros que assim agem.
Se queixa de que ja não se appregoa o corpo feminino e que a linhagem dos grandes fodedores mais se doa ao ver desmunhecar do padre ao pagem.
Até em cachorro e gatto, se lamenta o bardo pornographico, a nojenta e torpe fanchonice augmenta e grassa, emquanto o secular momento passa.
Somente pau e cu se valoriza, alem da mão, é claro, pois à guisa de bronha é que os poetas acham graça, expondo podres satyras na praça.
SONNETTO DA CHUPETA QUE FALTOU [10.080]
Notei que, mesmo quando um portuguez poeta falla accerca dum veado, assim como de putas tem fallado, é sempre embaixo o sexo do freguez.
É conna, cu, caralho, mas vocês, leitores, não lerão, nesse legado de cunho pornographico, o que enfado ou asco causa a auctores do jaez:
Que sacco! Nem Bocage em sexo oral tocou, nem esse Lobo, que o valeu! No maximo, uma bronha acham normal!
Mas nunca a chupetinha! Aqui vou eu, portanto, preencher essa abyssal lacuna, pois chupar é tesão meu!
[9] SONNETTO DOS SODOMITAS EXPULSOS [CLIII]
[na occasião em que se mandaram fechar os theatros e se degradaram varios comicos por queixas de certas fidalgas etc.]
Punhetas vis, que saciando as piccas De fanchonos crueis desenfreados, Fizestes sobre enormes mil peccados Que de fome estallassem tantas cricas:
Abrir mais não vereis as bolsas ricas, Donde sacaveis sempre os bons cruzados, Nem ja vereis com os dedos besunctados {c’os} O puro semen a correr em biccas:
Recta justiça, que a ninguem perdoa, Vos virou da fortuna a leve roda, Este o pregão que na cidade soa:
“Ja dos fanchonos se accabou a moda, Ja la vão os sacanas de Lisboa, É mais cara a punheta do que a foda.”
DISSONNETTO DA MORTE DO LOBO DA MADRAGOA [1787]
Chamado Antonio Lobo de Carvalho, tornou-se Madragoa pela rua aonde foi morar, e seu trabalho tornou a putaria ‘inda mais nua.
Advante de Bocage, nesse galho elle macaqueou até que sua má fama o retirasse do borralho para a cadeia… Alguem o substitua!
Auctor de “Poesias joviaes”, o Lobo criticava até demais os “fanchonos crueis desenfreados”, chamados que são, hoje, de “veados”.
“Ja dos fanchonos se accabou a moda”, allardeava elle, contra a foda das bichas versejando, em altos brados, seus casos com masocas e com sados.
SONNETTO DO VEADO MAL INTERPRETADO [10.081]
Às bichas se refere esse poeta tal como si battessem só punheta, alem de dar o rabo. Ora, que peta! Ahi foi mal o vate e nos affecta.
Affecta ao fellador, que bom estheta se julga caso grossa rolla metta na bocca. A fellação, tambem chupeta chamada, si tem arte, é minha meta.
Os cegos indianos, por exemplo, se exmeram nesse emprego millennar da bocca, até esculpido, ja, num templo.
Por isso não me canso de fallar: Si lusos não contemplam, eu contemplo, na lyra, a melhor arte de chupar.
SONNETTO AO PATRONO DO MEU THRONO [10.099]
Por causa do calão mais rude e franco estava Antonio Lobo de Carvalho, bem antes de Bocage, em seu serralho no bairro Madragoa, abrindo o flanco.
Soffreu as consequencias. Hoje, eu banco thematicas eguaes, às quaes bem calho. Fiel ao sonnettista, sempre expalho meus casos, sem que nada deixe em branco.
Viu elle meretriz em cada freira e em cada artista algum corno ou fanchono, fazendo, talvez, delle essa caveira.
Não julgo si elle proprio um caso beira de illustre enrustidão. É meu patrono, mas sou mais cru, à minha atroz maneira.
SONNETTO
DA PUNHETA LISBOETA [11.899]
Poetas portuguezes queixa à bessa faziam do Demonio, que teria Lisboa mergulhado na follia das bichas, situação que lhe interessa.
O proprio Madragoa se confessa furioso com os gays, pois sodomia preferem à boceta. Que seria da femea sem seu macho, ora? Sem essa!
Occorre que Satan sempre incentiva punhetas, pois ha muita phantasia na mente do onanista, a mais lasciva.
E quanto ao cu, ninguem jamais se exquiva de nelle salivar, ja que essa via tributa ao “beijo negro” tal saliva.
[10] SONNETTO ETYMOLOGICO [CLXIII]
[etymologia da palavra “cagaçal” que se havia modernamente introduzido no regimento do Verde]
Uma moça à janella (isto é verdade)
Em mangas de camisa, com as guedelhas {co’as}
Parte nos olhos, parte nas orelhas,
Pinctada de azarcão e de alvaiade:
Lavando à pressa a immunda porquidade
Dos lenços roptos, e das fitas velhas,
Ou pondo ao cantho alli das sobrancelhas
Bollas de seda preta em quantidade:
Armada assim a infausta basilisca
Té que na mão a chelpa lhe não ruja
A quantos vão e veem accena e pisca.
Pois eis aqui (quem ha que lhe não fuja?)
No systema da tropa verderisca
O que é um cagaçal da rua Suja.
SONNETTO DOS USOS E DESUSOS [10.082]
Emquanto da palavra “cagaçal” procura algum emprego o Madragoa, a mim esse vocabulo não soa mais como uma expressão tão usual.
Prefiro, pois, fallar duma cabal palavra, aos trovadores de Lisboa tão cara, que não ha quem não se doa si falta a algum caralho o que é normal:
Boceta, com certeza. Mas por la assim não é commum de se dizer, pois dizem “conno”. Ou “conna”, alguem dirá.
Lembremos “cunnilingua”. Tal prazer aggrada à mulherada. Mas não ha quem queira, accerca disso, por la ler.
[11] SONNETTO DO SERMÃO [CLXIV]
[exhortação moral, em que o auctor persuade aos putanheiros a evitar os perigos a que andam expostos, e que vão descriptos neste]
A baixa prole da ralé nojenta, Envolta em restos de setim barato, Armada a van cabeça de apparato, Sobre aberta janella se appresenta:
A escada trepa a velha rabugenta, A quem falta o taccão ja no sapato; Battendo à porta do lascivo tracto Um pincto mais à pobre casa augmenta:
O lucro gyra sempre confundido Pelas mãos dos adelos desbastado, E do dextro garoto appercebido:
Fuja das moças todo o homem honrado, Que alem do jimbo e credito perdido, Não quer de vivo azougue ser minado.
SONNETTO DO CONSELHO GRATUITO [10.083]
O Lobo conselheiro se pretende naquelle seu sonnetto onde da puta maldiz a sempre estupida conducta e julga acconselhavel o que entende.
{Das putas, rapaz, fuja! A puta vende prazer só momentaneo! Não discuta commigo, pois eu tenho rolla astuta! Jamais vi mulher, dessas, que se emende!}
Tambem Bocage falla de puteiro infecto, miseravel, que impressão não pode causar, boa, ao putanheiro.
Mas digo ca commigo: Um dinheirão gastou com a “modello” um “conselheiro” que está com SIDA agora. Alguem é são?
[12] SONNETTO DAS MOÇAS CORTEJADAS [CLXVI]
[a certas moças, que traziam engodados os basbaques, que por ellas se deixavam cardar]
Ha certas semiputas nesta terra, A quem certos basbaques fazem tolas; Que vivendo de ganchos e gaiolas, Às honradas pretendem fazer guerra:
As Daphnes (por exemplo) andam na berra Entre quattro affectados mariolas, Que expertas devem ser, mas são pattolas, Que a sagaz cambadinha em vida enterra:
Quem as vê lambisgoias, falladoras, O chiste ja sediço repetindo, Si é bolonio, elle crê que são doutoras:
O laberco porem, que está medindo Quanto dista de putas a senhoras, Caga nellas, e dellas se vae rindo.
SONNETTO DOS MODISMOS SOCIAES [10.084]
Das putas mal fallou o Lobo, mas tambem das “semiputas”: são aquellas que todos acham finas, acham bellas e cultas, mas que linguas teem mordaz.
São damas que, por terem linguas más, fofocam a respeito das cadellas vulgares que (ellas dizem) não são ellas, mas outras, as mais pobres, aliaz.
Tão só por frequentarem certa roda de elite, ja se julgam bem accyma da quenga que esses ricos incommoda.
Inutil, pois ao povo o que se estima ser puta só depende duma foda que, paga bem ou mal, com moda rhyma.
[13] SONNETTO DO VELHO POTENTE [CLXVII]
[a certa moça, chamando velho ao auctor, que ainda se não tinha por tal]
Não te escondo a guedelha encanescida, nem da rugosa fronte a cor ja baça; conhesço que o meu lustre, a minha graça foi por duros Janeiros destruida:
Confesso, ainda, que é bem conhescida, que a edade minha dos cincoenta passa; mas juro que ‘inda tenho grossa maça, qual teso mastaréu a pino erguida:
Si és hydropica mestra fodedora, daquellas que procuram com trabalho lanzuda porra, porra atterradora:
Minhas cans não te sirvam de expantalho; põe à prova o teu conno, e sem demora verás então si é velho o meu caralho.
SONNETTO DA LEITORA DESDENHOSA [10.013]
Chamado “velho”, o Lobo, que cincoenta ja tinha, a certa moça deu resposta, dizendo ser bem dura, ainda, a posta de carne que, esponjosa, se sustenta.
Não, molle não seria a ferramenta daquelle madurão, para quem gosta do typo. No teu caso, nem disposta estou a conferir si está sebenta.
Tu sabes, Glauco, como sou doidinha por queijo de caralho, mas precisa estar a picca prompta à chupetinha.
Mulheres não te servem, meu, à guisa de estimulo ao tesão? Desculpa a minha franqueza: nem com homens teu pau bisa.
[14] SONNETTO DO VELHO IMPOTENTE [CLXVIII]
[sendo o auctor admittido à presença de uma senhora com quem se propunha a grandes empresas, teve affinal de retirar-se “in albis”, como se vê do seguinte]
Este que vês aqui, formosa dama, entre molles testiculos pendente, ja foi em outro tempo raio ardente, hoje é pavio que não solta chamma:
Este que vês aqui, ja foi o Gama dos mares onde navega tanta gente; {mar’s} hoje é carcassa velha, que somente dos estragos que fez conserva a fama:
Este que vês aqui, foi do trabalho o maior soffredor (quem tal dissera?), hoje de amor é languido expantalho:
Este que aqui vês, na ardente esphera, ja foi flor, ja foi luz, ja foi caralho; mas hoje não é ja quem dantes era.
SONNETTO MADRAGOANO [10.020]
Caralho tive rijo, que exporrava até sem ser por minha mão tocado, no orgasmo solitario. Hoje, do lado esquerdo, pende e manda a bronha à fava.
Caralho tive, em bocca mais escrava ao gozo sempre prompto, si fellado. Mas hoje desse sexo oral me evado, temendo que elle imponha à porra a trava.
Caralho tive, em lubrica boceta capaz de penetrar, dalli sahindo depois de trez ou quattro. Não é peta!
Caralho tenho, flaccido, que lindo não acho. Mas, em sonho, que eu o metta supponho no orificio mais bemvindo.
[15] SONNETTO DO CORNO MANSO [CLXIX]
[a um destes, que se perdem por estas minhas senhoras, que lh’a pregam na menina do olho]
Que o Grego cauteloso à solta vella
Sulcando os mares va, e affronte a morte, Bem o deve fazer, porque a consorte Tem tanto de leal, quanto de bella.
Que qualquer miseravel por aquella Que entende o tracta desta mesma sorte, Constante as afflicções sempre supporte, Té que venha a morrer emfim por ella:
“Vade in pace”; pois quem tem a pachorra, E quer fazer de heroe nestes combattes Deve então subjeitar-se, ou viva, ou morra:
Mas quem faz semelhantes disparates Por mulher, que levou mais de uma porra, Meresce ir para a casa dos orates.
SONNETTO DO CORNO AMMANSADO [10.057]
Glaucão, aquelle Lobo ja appregoa o puta azar dum corno que se entrega à sua amada, nessa paixão cega por uma mulher linda, ardente e “boa”.
Mas, desse corno manso, o Madragoa appenas levemente no pé pega, pois falla que é maluco… Olhe, collega, meu caso desses typicos destoa!
Não, manso não fui nunca! Mas na marra aquelle que é da minha esposa amante me força a acceitar essa suja barra!
Por isso digo: caso nos supplante alguem que é bem mais macho, o cara excarra no chão, pisa… E lhe lambo, até, o pisante!
[16] SONNETTO DA FREIRA SANGRADA [CLXX]
[a uma freira, que se fazia sangrar por lenitivo das comichões que soffria nas antipodas da bocca]
Põe-se a toalha, chega-se a bacia, A lanceta na mão, pé na agua quente, Assustado o barbeiro, e reverente Para a freira voltado assim dizia:
“Si dá licença vossa senhoria… Picco?…” -- Sim, lhe diz ella, e tão valente
Que parescia só estar doente
Por picca lhe faltar naquelle dia!
À sangria o barbeiro então se applica, E cuidando ao piccar a freira morra, Ella lhe diz valente: “Picca, picca:
E verás nesse sangue quando corra, Que me fora melhor no que elle indica, Si em logar de lanceta fosse porra!”
SONNETTO DUMA INCOMMODA COMICHÃO [10.058]
Queixando-se, no cu, duma coceira terrivel, ao doutor um coroinha vae, para algum allivio, uma mezinha, talvez, pois a loucura -- Ai! -- elle beira.
Tal como o Madragoa diz da freira, o medico licença pede: “Minha missão é vasculhar si aqui se anninha algum oxyuro que se exgueira…”
O dedo do doutor, que em cada prega exbarra, vae entrando devagar e, em busca dos taes vermes, excorrega.
É quando o joven acha que exporrar irá. Falla ao doutor: {Mais fundo! Pega o bicho, ou elle pode te excappar!}
[17] SONNETTO DA MULHER ENDIABRADA [CLXXI]
[à regente do recolhimento do Anjo na cidade do Porto, a mais endiabrada mulher que viram os nossos tempos]
Regente do Anjo mau, quão gran regente Foras da Netta a seres mais cachopa! Vem reger, vem, as subditas da “Estoppa”, Que esse logar ahi não te é decente:
Deixa os tarecos a qualquer servente, Sarilho e fuso, que isso em pouco topa; E em chegando ao Arsenal com vento em popa {ars’nal} Que mais queres que estar com a tua gente? {co’a}
Que diluvio de abbraços, que tormenta De beijos não darão aquellas sanctas Nessa tua boquinha fedorenta!
Oh não queiras tardar, que às tuas plantas Só de putas aqui tens mais de oitenta; Mas em tu vindo crescem outras tantas.
SONNETTO DA INFLUENCIADORA VAGINAL [10.059]
Fallando da “mulher endiabrada” o Lobo diz que inspira a phantasia de todas as devotas, hoje em dia, que querem agir como lhes aggrada.
Tambem a mim me inspira. Não ha nada no mundo que eu não faça. Quando cria coragem, a mulher ardente enfia la dentro o que estimule. Coisa cada!
Não, Glauco, não é phallo de cavallo, nem fallo de consolos ou quetaes. Eu metto umas serpentes no gargalo!
Sim, cobras, isso mesmo! Ocê jamais ouviu fallar? Um dia, comproval-o irei, no seu cu! Posso ouvir seus ais!
[18] SONNETTO DO PUTANHEIRO CAPPADO [CLXXII]
[a um figurão mui putanheiro, que em premio de suas laboriosas proezas teve a picca deceppada]
De foder sujos connos ja cansado
De Almeida appodresceu o membro enorme; Parou emfim a machina triforme, Que tinha immensas cricas arrombado:
Soou por toda a parte o grosso brado
Do tremendo marsapo ingente e informe; Mas (desgraça cruel!) em cinza dorme, Por ammolados ferros decotado:
A ver o triste funeral correram
Mais de mil putas, que ao fatal estrago
Cobrindo os olhos com as mãos gemeram:
Temei, casadas, o venal affago:
Olhae que vis michellas concorreram
Para ficar de Nize o conno vago.
SONNETTO DO DESIMPLANTE [10.060]
Contou-nos Madragoa accerca duma caceta que, de tanto penetrar bocetas infectadas, deu azar: Dum macho o pau tirar não se costuma.
Tirou-se, neste caso. Mas ja rhuma a technica actual a patamar tão novo, que você pode tirar ou pôr, caso outros generos assuma.
E então, Glaucão? Cansou da sua picca? Está muito mollenga, assaz capenga? Pois facil é trocal-a! Accaba a zica!
Cansou dessa tambem? Eis que estrovenga mais nova ainda a troca justifica, tal como de bocetas troca a quenga!
[19] SONNETTO DO CONFESSIONARIO [CLXXIV]
[dialogo entre um penitente freiratico e um confessor casmurro]
A um fradalhão bojudo e rabugento
Seus crimes confessava um desgraçado, E entre tantos dizia ter peccado
Com uma sancta freira num convento:
Grita o frade: “Não tardam num momento Raios mil, que subvertam tal malvado;
Que as esposas de Christo ha prophanado
No sancto asylo seu, casto apposento!
Ora diga, infeliz, como ousaria
Tal crime confessar, e acções tão brutas
A Jesus Christo, la no extremo dia?”
{Padre, deixemos pois essas disputas; Si elle me perguntasse, eu lhe diria: Quem vos manda, senhor, casar com putas?}
SONNETTO DA CONFIDENCIA [10.061]
Aquelle jogador de futebol queixava-se de estar o seu contracto suspenso, só por causa dum ingrato azar que lhe impedia ver o sol.
Logar ja, no melhor time hespanhol, perdera. “De repente, ‘inda constato que minha namorada, que é, de facto, lindissima, applicou-me vil anzol!”
“Alem de me imputar o que não fiz, ja contra mim depoz, e se exsecuta a minha prisão, ordem do juiz!”
“Tão linda, a tal modello! Na disputa insiste por que?” Então fallar eu quiz: {Mas, porra, quem mandou casar com puta?}
[20] SONNETTO DO CORNO CONSOLADO [CLXXV]
[ao inventor do famoso expediente, que segura a honra dos maridos e a virtude das mulheres]
Maroto vil, que forjas uma chave Da Mulher para o cofre gadelhudo, Dize, caffre, tão mau é ser cornudo? Não é cornuda tanta gente grave?
Aquelle orgam somente é duma clave, Tem um registo só, e um só canudo; Si as mãos lhe deixas livres para tudo O mais, que se presume, ella bem sabe:
Vestes-lhe a pança emfim! Bom desenfado; Por menos foi Acteon, não com degredo, Com uma torre de cornos castigado: {c’uma}
Ora, amigos, fallemos em segredo: Não lhe ponhas fuzis, nem cadeado, Põe-lhe o nariz no cu, na crica o dedo.
SONNETTO DO CORNO ORAL [10.063]
Glaucão, de castidade qualquer cincto inutil sempre fora, convenhamos. Podia até tapar, daquelles amos, as chotas das escravas a algum pincto.
Tambem os cus tapava, até consinto. De escravas e de esposas nós fallamos, pois, dellas todas, todos os reclamos e choros não teriam tom distincto.
Mas, Glauco, suas boccas não tapava nenhum cincto, nem fecho semelhante! Qual pau não quer foder bocca de escrava?
Ao corno maridão, nada garante que, mesmo quando sua mulher lava a bocca, não beijou a rolla amante!
[21] SONNETTO DAS PUTAS DESPREZADAS [CLXXVI]
[fructos do desenganno, colhidos na convivencia das putas, e patenteados ao mundo no seguinte]
Putedo de Lisboa, oh gente fracca, Comvosco fallo, cagaçaes maldictos, Comvosco, a quem caralhos infinitos Teem battido no cu, sem ser matraca;
Vós, que fazeis meiguices qual macaca, Que suspira uma vez, outra dá gritos;
Vós que fazeis morrer bolsas e esp’ritos, Sem que para isso useis punhal ou faca:
A todas sem excepção conjuro, attesto, {‘cepção}
O ter-lhes hoje advante odio fatal, Pois caricias fingidas ja detesto:
Accreditem os homens em geral, Que à risca seguirei quanto protesto, Pois com putas não gasto ja real.
SONNETTO DO PUTANHEIRO GROSSEIRO [10.064]
Eu, quando ouço fallar duma mulher por todos só chamada de “modello”, ja desde sempre em pé tenho o cabello, Glaucão, diga a mulher o que disser!
Com uma dessas nunca algum affair terei, mesmo que digam que eu no zelo me excedo! Vão dizer? Podem dizel-o! Que diga que sou grosso quem quizer!
Disseram que fallei com preconceito, que emprego uma linguagem assaz bruta accerca da “modello”! Ora, bem feito!
Alguma que commigo não discuta! Quem manda serem putas? Não me deito com puta que não diga que é, sim, puta!
[22] SONNETTO DA FREIRA DESCHARTADA [CLXXVII]
[a uma freira do Porto, com quem teve amores na sua mocidade]
Puta dum corno, dos diabos freira, eu me ausento, por mais não atturar-te; tu ca ficas, ca podes exfregar-te com quem melhor te pague essa coceira:
Ultima tu serás, sendo a primeira que de mangar em mim se achou com arte; mas eu nisso mijei, que em toda a parte bem se sabe quem é Clara-Ribeira:
Vae-te, surrão, injuria das mulheres, vae fornicar na praia, e não se diga que não achas colhões quantos quizeres:
Tanta luxuria os ossos te persiga, que ‘inda os mesmos boccados que comeres se convertam em porras na barriga.
SONNETTO DUMA PUTA DE QUEM CHUTA
[10.065]
Eu, quando jogador era de bolla, fodi, Glaucão, com uma mulher dessas que chamam de “modello”. Mas não peças que eu conte boa coisa, pois não rolla!
A puta só mantinha na cachola a gana de roubar-me, pois às pressas fodia! Mal chupava! Não confessas que gostas tu de pés de rapazola?
Pois ella nem lambeu meu pé! Não quiz siquer provar o sebo do meu pau! Assim craque nenhum será feliz!
Eu craque não fui nunca, mesmo, Glau! Troquei-a por qualquer dessas gentis rampeiras feias! Orra, Glauco! Uau!
[23] SONNETTO DA FREIRA INSACIAVEL [CLXXVIII]
[à mesma freira do sonnetto 177]
Ah! quem me dera ao menos um milheiro
De porras de gigante para dar-te, Para ver si podia assim fartar-te
Esse voraz, faminto parrameiro!
Porem tu queres porras, e dinheiro
Sinão eu só podia contentar-te;
Dize-me, e pode a tença só chegar-te
Para comprar velludo um anno inteiro?
Dizem que aos sodomitas la no Averno Põem os diabos sobre um alto throno, Com um caralho no cu de fogo eterno: {c’um}
A ti hão de tambem pregar-te o mono; Ficarás nas profundas do inferno
Com uma piça de riço nesse conno. {c’uma}
SONNETTO DAS RAMEIRAS INTERESSEIRAS [10.066]
Não, Glauco, não joguei em clube rico! Só time de terceira divisão, no maximo! Por isso putas não peguei, dessas “modellos”, nenhum mico!
São putas de politico ou milico e, quando um jogador lhes cae na mão, só querem sua grana, meu irmão! Por isso com “modellos” eu implico!
Vocês, que são gays, Glauco, teem mais sorte, pois vivem na suruba! Só castigo terão, esse infernal, depois da morte!
Nós, machos, somos victimas (e eu brigo por causa disso) dessas que meu forte chulé detestam! Vida dura, amigo!
[24] SONNETTO DA FREIRA ENDIABRADA [CLXXIX]
[a outra endiabrada freira do Porto, muito conhescida por suas laboriosas proezas]
Olha, si eu fora tu, minha Terencia, O meu quarto forrava de embrechado, De porras todo, que ‘inda no pinctado
Quizera-as ter à minha obediencia:
Do Martinho esculpira em toda a ardencia
Por traz do leito o membro asselvajado, E no tecto, com vulto desmarcado, Trinta porras de burro em competencia:
De caralhos meões, e alguma picca
De rapaz, bastaria obra de um sacco
Para algum vão, que no embrechado fica:
E entre os bilros do catre num buraco
Mandava pôr, para coçar a crica, Um par de caralhinhos de macaco.
SONNETTO DA PUTA QUE SE REPUTA [10.067]
Eu era, sim, modello, Glauco! Porra, não sei por que é que implicam com a gente! Ainda que fofoca a plebe invente, ha sempre quem por nós d’amores morra!
Não falta passarella à qual concorra aquella de corpão mais attrahente!
Inveja a mulherada toda sente da gente! Mas me chamam de cachorra!
Me chamam de cadella! Dor profunda me causam, Glauco! O povo me tortura! Rancor abunda! A raiva, a birra abunda!
Meu quarto decorei com a figura da minha (Ah, puz implantes!) bella bunda! Assim me vingo dessa arenga dura!
[25] SONNETTO DA FREIRA RETRACTADA [CLXXX]
[à mesma freira do sonnetto 179, mandando retractar-se pelo Glama, celebre pinctor do Porto]
Mandou Terencia chamar Glama um dia
Para que o seu retracto lhe fizesse, Porem que de tal sorte a descrevesse, Que Venus descambasse em bizarria:
O pinctor, que o seu genio conhescia, Por que o empenho melhor satisfizesse,
Pinctou-a fornicando, mas paresce
Que ‘inda mais expressivo o pretendia:
Vae elle, pincta um frade franciscano, Vermelho qual um frade de Arrochella, Com uma porra maior que o Vaticano; {c’uma}
Pincta a freira adorando-a da janella, O “non plus ultra” escripto sobre o cano, “Ad perpetuam rei memoria” nella.
SONNETTO DA PUTA QUE SE REFUTA [10.068]
A puta, animadissima na cama, famosa fica pela habilidade na foda, por fazer tudo que aggrade a muitos coroneis de suja fama.
Assim que se tornar primeira dama, porem, outra versão ja na cidade circula: a de evangelica. Quem ha de dizer que de “modello” um cabra a chama?
Agora, não! Jamais a tal pastora fodeu como uma typica cadella de rua! Não, jamais cadella fora!
Limparam sua ficha. Ainda della se lembra, todavia, quem quer pôr a caceta numa bocca que bem fella.
[26] SONNETTO DA FREIRA PUTA [CLXXXI]
[à mesma freira do sonnetto 179]
Que és puta provarei, minha Terencia, puta, e mais puta do que as mesmas putas; tu és freira, e aquelloutras, bem que innuptas, siquer voto não teem de continencia:
Si ellas para mil fodas teem potencia, tu em cem mil punhetas as commutas; tu com o frade na grade em secco luctas, {c’o} és putissima tu, por consequencia.
Putissima! Inda mais; muito bem podes levar de reputissima o lettreiro. Replicas? É melhor que te accommodes.
Ellas levam a porra do brejeiro, do negro, do lacaio, e tu? -- tu fodes com o retracto da porra um dia inteiro. {c’o}
SONNETTO DA PUTA INIMPUTAVEL [10.069]
Putissima me chamam, Glauco, só por causa desta fama de “modello” bonita, sensual, mas ninguem pelo olhar profissional me tem xodó!
O povo de mim falla, aqui, sem dó! Não posso ser culpada si meu grelo enorme todas querem e, sem tel-o, inveja sentem! Fallem da vovó!
Não posso fazer nada si, trepando ou não, meu furor nunca satisfaço! Não, nesse meu corpão sou eu que mando!
Pudesse eu enfiar todo o meu braço la dentro, Glauco! Um dildo, um pau quejando, não serve, si é meu bimbo tão devasso!
DIA DAS MONJAS DE CLAUSURA [10.338]
Fallou, da Madragoa, aquelle Lobo famoso das putissimas freirinhas. Eu duvida não tenho disso. Minhas questões aqui são outras. Não sou bobo.
Conhesço um cidadão que se diz probo mas, como cafetão, as ladainhas do ramo manja. Sabe das mesquinhas manias dessas monjas, pelo globo.
As lusas cobram caro uma chupeta. Estão as hespanholas callejadas de tanta lambidella na boceta.
Ja todas, pelo mundo, são taradas por uma colleguinha que commetta as mesmas putarias, mas privadas.
[27] SONNETTO DA FREIRA FIGURADA [CLXXXII]
[à mesma freira do sonnetto 179]
Levantou-se figura ao nascimento de Terencia; o Alfaqui que a levantava viu, que de nuvens negras se formava, ao longe no ar a forma dum convento:
De cor de fogo estava o firmamento, um dragão com uma puta fornicava, {c’uma} e depois que a funcção finalizava eis apparesce logo outro portento:
Surge um mono, que a si faz a sacana; um monstro hermaphrodita em forma bruta, com porra de artificio deshumana:
Do prognostico à força se reputa ser o frade o dragão, o monstro a mana. E ser Terencia o mono, mais a puta.
SONNETTO DO SONHO DA PUTA [10.070]
Terrivel pesadello uma modello tivera. A mim revela a tal cadella: {Ai, Glauco! De pensar meu corpo gela! Sonhei que, Deus me vendo, pude vel-o!}
{Não era Deus, depois, e notei, pelo corpão todo pelludo que na tela surgia, ser Satan quem de donzella chamava-me, querendo ver meu grelo!}
{Ahi fui deflorada por Satan, de cujo cu senti, tambem, o gosto num beijo que valeu pela maçan!}
Então eu dei resposta, a contragosto da puta: -- Ah, mas seu sonho scena van será! Virgem nem és! És meu encosto!
[28] SONNETTO DO CORNO GORDO [CLXXXVI]
[a certa Messalina dos nossos tempos, a quem se pode applicar o que Juvenal dizia da romana: “Lassata viris, necdum satiata recessit.”]
Essa altiva mulher, cara de borra, Alta, magra, amarella, tola e feia, Casada com um ourives que laureia, {c’um} Tenue dote comendo à tripa forra:
Tambem ninguem duvida que lhe excorra Pelas pernas humor de gonorrhéa; É tão puta, que diz à bocca cheia Que jamais se accolheu farta de porra:
Si a não fartou do Braga um caralhote De vinte, nem de arrobas um caralho, Nem outras porras mil, todas de lote;
Como ha de sacial-a o seu paspalho, Que tendo uma barriga como um pote, Tem a piça menor que um dente de alho?
SONNETTO DO GORDO CORNO [10.071]
Glaucão, aquelle corno tem barriga enorme e pequenissimo caralho que, como diz o Lobo, um dente d’alho paresce. Mas alguem ahi nem liga.
Pudera! A mulher delle encontra viga mais grossa num amante que, paspalho não sendo, tira sarro do grisalho gorducho: “Ora, masoca duma figa!”
O gordo, que total gordophobia assume pela sua condição submissa, aos pés do sado se vicia.
É como você, veja só, Glaucão, que, cego, numa atroz podolatria encontra algum restinho de tesão.
[29] SONNETTO DO FRADE FOLGADO [CLXXXVIII]
[à boa e descansada vida que levam os nossos fradespios, digna de inveja por todas as considerações]
Desde que nasce o sol até que é posto Governa o lavrador o curvo arado, E de annos o soldado carregado Pelleja, quer por força, quer por gosto:
Crystallino suor allaga o rosto Do barqueiro, do remo callejado; Do cascavel ao dente envenenado Anda o rude algodista sempre exposto:
Trabalha o pobre desde a tenra edade; O dextro pescador lanços saccode Para excappar da fome à atrocidade;
Todos trabalham, pois que ninguém pode Comer sem trabalhar; somente o frade Come, bebe, descansa e depois fode.
SONNETTO DO GIGOLÔ FOLGAZÃO [10.072]
Politico tem fama de saphado. Modello, de cadella disfarsada. Trampar ao funccionario não aggrada em sendo vitalicio o concursado.
Até ser general quer um soldado, pois sonha com a nova quartelada. Até quem pede esmolla na calçada tem gente philanthropica a seu lado.
Comtudo, mais folgado um gigolô é que esses vagabundos todos, por motivo o mais cruel e mais pornô:
É quando o cara abusa de escriptor que é cego, com edade para avô ser delle, eis que explorou bom chupador.