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CAPITULO XXIX - A ZIQUIZIRA QUE DELIRA 167/172
CAPITULO XXIX A ZIQUIZIRA QUE DELIRA
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Às margens não nasceu do São Francisco Raymundo, mas do nosso Tietê, e implora ao Bom Jesus que forças dê a um homem pobre... É sempre o mesmo disco! Eu, sceptico e descrente, não me arrisco de novo a confiar no que você confia, seu bobão! Então não vê que temos um destino advesso e arisco? Raymundo quer voltar a Pirapora, pedir alguma adjuda a alguem da terra natal, mas eu adviso que estou fora! E fico por aqui, na lucta. A guerra perdi, mas não me rendo, e esse caypora se illude, indo e voltando: às tontas, erra.
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Retorna até mais pobre do que estava e encontra-me onde sempre estou agora: na praça da Republica. Peora seu panico, meu panico se aggrava. Sahir não posso desta zica brava, a menos que me accuda alguem que adora lamber uma botina, mas outrora mais facil era achar essa alma escrava. Doente como estou, debilitado e magro, qual burguez deseja a minha botina poeirenta ter beijado? Ninguem contracta um cara que definha a cada dia, e lingua em meu solado nenhuma dá siquer a lambidinha.
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Eu ando delirando! Então, de dia, recuo à Paulicéa que, num anno antigo, só sobrados tem no urbano perimetro, e nem tem peripheria. Mas vejo o Martinelli! Aquella exguia babel de trinta andares é um insano projecto e bem podia, até me uffano, estar em Nova York... Ou não podia? Eu subo até o telhado, que em mansarda converte-se, tal como o casarão que a nitida memoria ainda guarda. Dalli de cyma, vejo, em direcção a mim, um zeppelin! Quem se accovarda não entra nelle! Eu entro... e venho ao chão!
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Não tinha o nosso velho casarão mansarda versalhesca... Elle não tinha telhado assim tão cheio de torrinha, egual ao das mansões que restarão: Da Dona Veridiana, do Haroldão (a casa que é das rosas)... Da que vinha chamada sendo, às vezes, de "casinha do Almeida", ou "Guilherminha", tem feição. Não lembro si, por dentro, o nosso estava de modo semelhante dividido, mas basta-me a fachada, a mente grava. Tambem, no meu delirio, me decido, trepado na mansarda, a vir à fava e pelo zeppelin sou abduzido.
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Eu de categoria não subi a poncto de pedir um zeppelin assim como quem, indo ao lanternim dum predio, pede um taxi e sae daqui. Tambem não me egualei tanto ao zumbi que, aqui na Crackolandia, a ver eu vim vagando, em bando... Entanto, estou assim sentindo-me, franzino qual saguy. Deliro, pois, nas horas em que o somno me leva, e me transporto, em dirigivel, ao topo do predião do qual sou dono. Dalli, desse terraço em alto nivel, chamado de "italiano", me abbandono, olhando um panorama indescriptivel.
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Um typico delirio, com riqueza, eu tenho, de detalhes: allagada de todo pela chuva, vejo cada das quadras dos Elyseos sem defesa. As ruas são canaes, como em Veneza. De barco nós andamos: a fachada dos predios foi submersa até que invada o liquido um segundo andar... Surpresa? Paresce até possivel, no meu sonho. Si é tudo realidade, e si sou eu daqui um novo prefeito, me envergonho. Não passo, no delirio, dum plebeu, humillimo municipe, e proponho appenas umas gondolas... Valeu?