Contos + Mensagem - Histórias para refletir

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Contos mensagem

Pequenas histórias para reflectir

2ª edição

PEDROSA FERREIRA
SALESIANOS EDITORA +

Copyright desta edição:

CONTOS+MENSAGEM

© 2004 Pedrosa Ferreira

© 2023 Salesianos Editora

Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto | Tel: 225 365 750 geral@editora.salesianos.pt www.editora.salesianos.pt

Capa: Paulo Santos

Paginação: Salesianos Editora

1ª edição: 2004

2ª edição: Fevereiro 2023

ISBN: 972-690-458-7

Depósito Legal.: 511790/23

Impressão e acabamento: Totem

Reservados todos os direitos. Nos termos do Código do Direito de Autor, é expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio, incluindo a fotocópia e o tratamento informático, sem a autorização expressa dos titulares dos direitos.

CONTOS+MENSAGEM

Pequenas histórias para reflectir

APRESENTAÇÃO

Gosto de colecionar contos breves com mensagem. As fontes são os muitos livros que existem por aí, no nosso país e no estrangeiro, e também na internet.

Este livro está na sequência dos outros, pois mais uma vez os contos são reelaborados e apresentados tendo em vista uma atividade pedagógica. Destinam-se sobretudo a ser utilizados em grupos juvenis, embora este livro fique muito bem, por exemplo, sobre a mesa-de-cabeceira.

Maisumavezafirmoqueoscontosnãosãomeus.Algunspertencem à tradição popular. Peguei neles e redigi-os ao meu gosto, pondo-osgeralmenteemdiscursodireto,abreviando-osouacrescentando pormenores. Exceptuando alguns de Sérgio Bocchini, de Mamerto Menapace, e de outros autores mencionados, desconheço quem são os autores da maioria.

Escolhi contos com mensagem mais ou menos evidente. Através de uma forma literária tão do agrado de toda a gente, e que já os Evangelhos utilizam, dizem-se verdades que, mesmo com o passar dos anos, conservam a sua frescura.

Desnecessário será dizer que, ao apresentar o conto a um grupo, esta narração se faça com uma grande força comunicativa, dando vida às personagens e deixando que o ouvinte se sinta interpelado a perceberamensagem.

Sugerimos uma das muitas formas de utilizar estes contos em grupos juvenis. Alguns deles podem servir de inspiração para uma excelente dramatização.

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Como utilizar estes contos?

1. Ler o conto em voz alta

Convém que todos tenham a fotocópia do texto. Antes da leitura, o animador anunciará que faz de narrador e indicará quem são as pessoas que incarnam o papel das personagens.

2. Reconstituir o conto

Se necessário, as pessoas são convidadas a pôr o texto de lado e a reconstituir todo o conto em todos os seus pormenores. O animador orienta esta reconstituição, sublinhando aspectos importantes.

3. Grupos: Descobrir a mensagem

Os grupos são convidados a dizer qual a mensagem que o autor do conto quis transmitir. Em todos os contos estão algumas linhas que podem ajudar as pessoas nesta descoberta.

4. Plenário: Partilha e compromisso

Os relatores resumem, em plenário, o que disse cada grupo. No final, pode inventar-se uma breve frase ou um slogan mensagem, tendo em vista um compromisso de vida.

5. Oração

No caso de se tratar de um grupo cristão, pode concluir-se com uma oração, suplicando ao Senhor que nos dê o seu Espírito para sermos pessoas com qualidade de vida e felizes.

6. Canção final

Quando um grupo juvenil se reúne, o normal é que alguém pegue numa viola e juntos cantem uma canção conhecida de todos, e que servirá de conclusão do encontro.

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1 Eleições na selva

Quando o leão morreu, os animais da floresta reuniram-se para eleger um novo chefe. Nos últimos tempos, havia muita anarquia na selva: o velho rei, adoentado e sem forças, já não conseguia fazer respeitar a lei e quase todos os animais se tinham aproveitado para fazer o que lhes apetecia.

Foi então que o rinoceronte, erguendo altivo a sua grande cabeça, disse:

– Chegou a hora de restabelecer a ordem na selva. Não se pode consentir que cada qual faça o que quer.

Decidiram então marcar eleições para eleger o novo rei da selva. O convite foi enviado a todos os animais com direito de voto.

O urso bocejando, disse:

– Pensarei nisso no fim do letargo. Voltou-se para o outro lado e continuou a ressonar.

O javali pensou que não valia a pena gastar tempo com essas coisas. Enquanto procurava no chão algo para comer, resmungou:

– São todos uns ladrões e aproveitam-se do poder para enriquecer.

O pai e a mãe lobo andavam muito atarefados a cuidar da sua ninhada e não ligaram a isso de eleições.

O castor, muito ocupado na construção da sua casa, não estava para perder tempo para ir votar.

O elefante que, como se sabe, tem uma memória formidável, lembrou-se das fraudes cometidas nas últimas eleições e decidiu não se deixar de novo enganar.

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A altiva e aristocrática girafa, que aproveitava toda a ocasião para expressar o seu desprezo pela democracia, olhou de alto para baixo e disse:

– Não quero misturar-me com o povo sujo e ignorante! Por causa de tudo isto, no dia das eleições, apresentaram-se junto da urna apenas duas macacas, um rinoceronte, um velho camelo e uma raposa tagarela que convenceu os poucos eleitores a votar na sua amiga hiena, prometendo vantagens e benefícios pessoais.

Deste modo, a hiena foi democraticamente eleita, por maioria absoluta, rainha da selva.

Já era demasiado tarde quando os outros animais se deram conta de que tinham escolhido como chefe um animal repugnante e sem escrúpulos, orgulhoso e estúpido, pior que o velho rei leão.

(AdaptadodeSérgioBocchini)

Reflexão

Chega o tempo das eleições. Os candidatos fazem a campanha eleitoral e cada qual afirma que o seu programa de governo é o melhor para o país.

Por parte dos cidadãos há, geralmente, um sentimento de desilusão. As promessas de melhor saúde, melhor ensino e tantas outras promessas.

Ir votar ou não ir votar? O mais cómodo é ficar em casa e deixar que os outros escolham por nós. Quando se vê que ganha o pior de todos, já é tarde.

Compromisso

Votar com responsabilidade é um direito e um dever de todos os cidadãos.

Mesmo que o sistema democrático não seja perfeito, é o melhor de todos.

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2 O mocho Ernesto

O mocho Ernesto era considerado por todos os animais do bosque como sábio e com autoridade. De facto, durante muitos anos, tinha estudado em muitos livros. Ocupava seu tempo a ler e a consultar manuais e enciclopédias de todo o género.

Tinha, porém, um mau carácter: era intratável, antipático, lamentava-se de tudo e andava sempre irritado. Por isso, preferia estar fechado no seu velho tronco e ninguém o podia incomodar.

Um dia, decidiu escrever a «Grande Enciclopédia do Bosque», aquela que ninguém tinha ousado compilar: um elenco pormenorizado e aprofundado de tudo o que vivia no bosque. A sua intenção era descrever todas as espécies de plantas, flores e árvores. Depois, os animais, vertebrados e invertebrados, catalogando minuciosamente os insectos presentes. A sua enciclopédia devia retratar fielmente a realidade do bosque, objectiva e cientificamente, mas fazendo também saborear ao leitor a paz e a tranquilidade do bosque.

Para começar, pôs por fora da porta um cartaz que dizia: «Não incomodar!» Depois fechou a porta e pôs-se a trabalhar sem descanso no seu minucioso projecto.

Começou com a letra «A»: Abeto. Escreveu a terminologia em latim, as várias classificações, descreveu as várias espécies de abetos, as formas, as cores, os tipos de tronco, a multiplicidade de folhas. Depois passou a descrever o ambiente em que vivem as várias espécies de abetos, as cores que adquirem conforme a luz e a altitude, e tantas coisas mais.

Quando chegou à página 1000 parou, mas deu-se conta que nem sequer tinha chegado a meio. Apesar de todas aquelas palavras escritas, não tinha sequer conseguido dar uma ideia «real» do abeto. De facto, não tinha ainda escrito nada acerca da luz e do calor do sol,

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das nuvens e da chuva, do ar e da poluição, do ambiente e da vida...

Não tinha enfrentado o problema de como tinha nascido o primeiro abeto, se era fruto do acaso ou obra de Deus.

O mocho Ernesto percebeu então que aquela sua ideia não era «realista». Abandonou o ambicioso projecto, abriu a porta da casa e pôs-se a contemplar o grande abeto que tinha em frente. Permaneceu dias e dias em silêncio, depois começou a rir-se.

Aquele velho ria-se tanto que todos os animais do bosque foram perguntar-lhe.

– Por que é que estás hoje tão alegre? Nunca te vimos assim!

O mocho respondeu:

– Rio-me de mim próprio, pensando como fui soberbo e estúpido, ao ponto de pretender encerrar este abeto tão alto e lindo num miserável livro. Agora percebi o que é a realidade e como é importante olhar intensamente para tudo o que nos rodeia. Com palavras não aprendemos senão palavras.

Reflexão

Podemos consultar todos os livros de botânica para conhecer tudo o que os cientistas escreveram acerca das muitas e variadas espécies de plantas.

Podemos contemplar os melhores documentários da televisão, que nos tentam explicar tudo o que de belo existe na natureza criada.

Nem as palavras nem as imagens, por abundantes que sejam, conseguem dispensar o contacto com a realidade. Só assim há conhecimento real.

Compromisso

Sai da tua casa e parte à descoberta de tudo o que de belo existe na natureza. Toca nas árvores, contempla a sua folhagem, saboreia os seus frutos.

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3 A trama da vida

Carlota, a aranha um pouco ingénua, há muito que contemplava extasiada o cartaz luminoso da loja que estava mesmo em frente do charco. Podia ler-se: «A loja dos desejos».

Um dia, enchendo-se de coragem, entrou e pediu a uma velha tartaruga que estava do outro lado do balcão:

– Desejava felicidade, saúde e sucesso em grande quantidade.

A sábia tartaruga, depois de ter ajustado os óculos, olhou para ela fixamente e retirou-se lentamente para dentro.

Os minutos passavam e a tartaruga nunca mais aparecia, embora se ouvisse que lá dentro havia movimento.

Finalmente, apresentou-se com um conjunto de fios de várias cores e um pequeno tear. Entregou tudo à aranha e disse-lhe: – Aqui tens.

A aranha respondeu: – Mas que faço eu com todos estes fios coloridos? A tartaruga continuou:

– Não sejas ingénua e superficial: observa bem. Na vida tudo está por construir. Cada coisa terá de ser feita com as várias cores que formam a realidade.

Aqui tens o fio branco. Este é o principal que servirá de base. É o quotidiano, o querer construir, dia após dia.

Aqui tens o fio castanho. Este é pouco atraente mas robusto: indica esforço, empenho, suor, constância e paciência.

Aqui tens o fio vermelho. Recorda-nos o sangue, a luta, a paixão, o sofrimento, o sacrifício da própria vida.

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Aqui tens o fio azul. Recorda o céu, a serenidade, a convivência, a alegria do estar juntos.

Aqui tens o fio cor de laranja. Indica a capacidade de se renovar, de enfrentar as coisas, de um modo novo.

Aqui tens o fio roxo. É a cor da reflexão, do silêncio, da meditação, do encontro consigo próprio.

Aqui tens o fio de oiro. É a cor do sucesso, do bem-estar, do pão abundante que é partilhado cada dia.

Aqui tens o fio negro. É o fio do fracasso, da morte. Sim, também isto faz parte da vida e não deve ser ignorado.

Aqui tens o fio verde. É a cor da natureza, da esperança, da ressurreição... da VIDA.

Pega em todos estes fios que te dei e com eles procura tecer a trama da vida. Não penses que será simples e nem sequer fácil ou que te ocupará pouco tempo. O tapete terminará apenas com a tua vida, mas é na sábia combinação destes fios que encontrarás o que sempre desejaste. E agora, bom trabalho, amiga Carlota.

(AdaptadodeSérgioBocchini)

Reflexão

Cada pessoa é um ser em construção. Ajudado por uns e estorvado por outros, será cada qual a construir a sua personalidade e a sua história.

Cada pessoa encontra, ao longo dos seus dias, muitas realidades, simbolizadas neste conto com as várias cores. Cada uma delas tem a sua conotação. É com todas elas que cada pessoa deverá ir fazendo a tramada vida, tal como uma tecedeira utiliza os fios de várias cores para fazer uma obra de arte.

Compromisso

Se somos seres em construção, empenhemo-nos em ir desenvolvendo tudo o que em nós é bom, belo, perfeito, portador de felicidade.

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4 A cerejeira impaciente

Numa colina de uma simpática aldeia, havia umas cerejeiras. A Primavera ainda estava longe, mas os habitantes esperavam ansiosos por verem desabrochar as delicadas flores brancas coloridas de rosa. Eram a alegria de toda a gente.

Junto à cerejeira maior havia outra, ainda muito nova, mas que tinha crescido com pressa e impaciente por ver todas as suas flores e mostrar os seus frutos. Perguntava muitas vezes à mais velha:

– Quando posso florir?

A mais velha respondia-lhe sempre:

– Tens de ter paciência, minha cara amiga. Na natureza há leis que ninguém pode infringir. Espera pelo teu tempo; verás que terminado o Inverno vais florir também tu e produzirás muitas cerejas. Mas por agora não sejas impaciente: aprende a respeitar os tempos de crescimento!

A jovem cerejeira, embora lhe custasse muito ouvir tais conselhos de uma árvore adulta, suspirava:

– Está bem!...

Um dia, em fins de Fevereiro, quando estava uma linda tarde de sol e o Inverno parecia que tinha acabado definitivamente, perguntou à velha cerejeira:

– Posso já florir? Ela respondeu: – Não, ainda é muito cedo. Por enquanto não é Primavera. É provável que ainda regressem os dias de frio e de gelo.

A nova cerejeira, indisposta, disse:

– Uff! Vós, os grandes, sois sempre assim! Só sabeis dizer que não, que é preciso esperar, ter paciência, e assim sucessivamente. Basta!

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Está calor e tenho direito a fazer as minhas opções. Serei eu a mandar em mim. Estou farta dos vossos conselhos e vossos medos!

E foi assim que dos seus botões despontaram belíssimas flores. Esta jovem cerejeira era muito admirada; as pessoas vinham ver as suas maravilhosas flores brancas coloridas de rosa, fazendo festa a este início de Primavera precoce.

Ela era feliz: pavoneava-se diante de toda a gente, contemplandose e exaltando a sua beleza.

Mas, como tinha dito a velha cerejeira, aquilo era apenas o anúncio da Primavera. E, de facto, esses dias de sol duraram pouco tempo. Passados alguns dias, veio de novo o frio e também o gelo, queimando todas as suas flores.

Reflexão

A jovem cerrejeira não tinha paciência, aguardando a Primavera com as suas flores.

Esta árvore não é mais do que uma parábola que recorda a vida humana, que tembém exige paciência.

Isto acontece no campo da sexualidade. O amor é muito belo, que não deve ser banalizado, mas deve aguardar a maturidade.

Compromisso

A paciência não está muito na moda. Mas a realidade é que há na vida do homem um momento para semear e um tempo para colher. Importa esperar.

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01. Eleições na selva 7 02. O mocho Ernesto 9 03. A trama da vida 11 04. A cerejeira impaciente 13 05. O hipopótamo e o colibri 15 06. Degrau a degrau 17 07. Cicatrizes de amor ...................................... 19 08. O voo do falcão .......................................... 21 09. Anjos viajantes ............................................. 23 10. Vendem-se cachorros .................................... 25 11. A história do Sonho ................................... 27 12. As três peneiras ............................................ 29 13. Pobres mas ricos .......................................... 31 14. Aquela janela ................................................ 33 15. O violinista Paganini ................................. 35 16. Os teus amigos ............................................ 37 17. A árvore generosa ........................................ 39 18. Problema de coração ................................... 41 19. O sábio Avicena 43 20. A cidade dos poços 45 21. O magnífico diamante 47 22. O lenhador e o machado 49 23. Vinho saboroso 51 24. O melhor retrato 53 25. Sementes 55 26. As cordas do violino 57 27. As guitarras afinadas 59 28. A fita branca ................................................ 61 29. As jovens pretendentes ............................... 63 30. A chave de casa ............................................ 65 31. Uma estranha doença 67 32. O presente do pai 69 33. O escravo romano 71 34. As letras mágicas 73 35. O banquete dos fortes 75 36. Discussão religiosa 77 37. O grilo diferente 79 38. A cruz escolhida 81 39. O alpinista solitário ................................... 83 40. A vendedora de maçãs................................ 85 41. O esforço humano...................................... 87 42. Os cogumelos .............................................. 89 43. Os dois irmãos ............................................ 91 44. O relojoeiro da aldeia ................................. 93 45. Filhos transviados ....................................... 95 46. O bando de perus ....................................... 97 47. A lágrima da noiva ..................................... 99 48. Uma sopa especial..................................... 101 49. O principezinho e o espelho .................. 103 50. Muita terra ................................................. 105 51. O cofre dos vidros .................................... 107 52. Conservar o garfo 109 53. A cana de bambu 111 54. O coelho na lua 113 55. Os autênticos 115 56. Eu queria nascer 117 57. O horizonte 119 58. A visita diária 121 59. A árvore triste 123 60. A chávena de barro 125 ÍNDICE

Sessenta contos, recolhidos de várias fontes, redigidos num estilo simples e direto. Dirigido a grupos juvenis, este livro pretende, através do conto, conduzir à reflexão dos valores e atitudes essenciais à construção do Reino. No final de cada história, propõe-se uma “Reflexão” e um “Compromisso”. Analisando a mensagem do texto conseguimos, assim, que ele tenha uma forma prática de se realizar na nossa vida.

Da mesma coleção:

Tutti frutti

Pequenas histórias para saborear

Boas noites

Pequenas histórias para o espírito

Alegre manhã

Bons-dias em oração

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