O grilo das asas de oiro

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CASSIANO GUIMARÃES

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CAPÍTULO PRIMEIRO Nasceu numa noite de luar em que a Lua era grande e enchia o silêncio dos campos com os mistérios da sua Luz. Teve a sorte de nascer à beira dum castanheiro muito velho que já vira passar gerações e gerações no caminho velhinho e santo que ligava as aldeias em redor num abraço de bondade. Era esse castanheiro uma árvore respeitada com veneração supersticiosa por todos os habitantes daqueles sítios. Diziam por ali que as raízes do castanheiro iam dar a uma mina muito funda. Nunca ninguém a vira; mas em noites de lua cheia, precisamente ao ressoar da última badalada da meia-noite, saíam do tronco da gigantesca árvore uns sons estranhos, como de fontes a gemerem num mundo de distância. Diziam aquilo, mas nunca ninguém o experimentara, quer porque ninguém se dava ao incómodo de lá ir escutar os segredos do castanheiro à última badalada da meia-noite de lua cheia, quer porque ninguém se aventurava a afrontar as maldições que as fadas reservavam para todos os que tentassem fazê-lo. Era realmente uma árvore sagrada, a mais respeitada de todas as árvores dos montes e dos vales.


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