O grilo das asas de oiro

Page 1

Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto Tel.: 225 365 750 geral@editora.salesianos.pt www.editora.salesianos.pt

CASSIANO GUIMARÃES O GRILO DAS ASAS DE OIRO

“Se fosse um rouxinol as fadas fada­ vam-no para ser o rouxinol mais ­melodioso de todos os rouxinóis; a ­ ssim como foi um grilo fadaram-no para ser o grilo mais bonito de todos os gri­ los. E nasceram lhe duas asas de oiro, tão lindas e refulgentes que vence­ riam em beleza a pérola mais linda da mais rica de todas as princesas deste ­ mundo. E cantava deliciosa­ mente! ­Pelas noites quentes de Julho, ­quando as papoilas e os malmequeres ­dormiam nos braços das espigas, era um encanto ouvir as serenatas que o grilo das asas de oiro cantava!...”

O GRILO DAS ASAS DE OIRO CASSIANO GUIMARÃES


Titulo: O Grilo das Asas de Oiro © 1959 Cassiano Guimarães Copyright desta edição: © 2022 Edições Salesianas Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto | Tel: 225 365 750 www.editora.salesianos.pt geral@editora.salesianos.pt Capa e Paginação: Fundação Salesianos Imagem Capa: Freepik.com 1.ª edição: A 1.ª edição desta “novela de fantasia” foi feita em 1959 na Escola Salesiana de Artes e Ofícios do Funchal, Ilha da Madeira 2ª edição: Maio 2022 2022 - A reedição deste conto foi feita pelas Edições Salesianas com autorização da família do autor e da Congregação Salesiana (Província Portuguesa da Sociedade Salesiana) ISBN: 978-989-8982-92-6 Depósito Legal: 498526/22 Impressão e acabamento: Totem Reservados todos os direitos. Nos termos do Código do Direito de Autor, é expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio, incluindo a fotocópia e o tratamento ­i nformático, sem a autorização expressa dos titulares dos direitos.


O GRILO DAS ASAS DE OIRO

CASSIANO GUIMARÃES



ÍNDICE 05

Da sugestão à concretização

07

Capítulo Primeiro

15

Capítulo Segundo

25

Capítulo Terceiro

43

Capítulo Quarto

49

Capítulo Quinto

55

Capítulo Sexto

59

Capítulo Sétimo

65

Capítulo Oitavo

67

Capítulo Nono

71

Capítulo Décimo

73

Capítulo Décimo Primeiro

78

Questionário de escolha múltipla sobre a compreensão da leitura deste conto

84

Parábola sinfónica sobre a ambição, em vários andamentos


CASSIANO GUIMARÃES

5

DA SUGESTÃO À CONCRETIZAÇÃO No dia 19 de novembro de 2007, por ocasião das comemorações do 80.º aniversário do nascimento de Cassiano Guimarães, ao sermos convidados para essas comemorações, promovidas pela Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, decidimos apresentar uma comunicação sobre “O Grilo das Asas de Oiro”. Ao concluirmos a nossa dissertação sobre esta “novela de fantasia” como a considerou o seu autor, afirmamos em estilo de desafio: “Desconhecido da maioria dos estudantes portugueses, este conto, pela beleza literária que encerra, pelos variados recursos expressivos que o autor foi aplicando ao longo da sua narrativa e pelos valores que pretende transmitir, este conto, dizia, bem mereceria uma maior divulgação junto das nossas escolas, a começar pelas escolas deste Município e pelos colégios Salesianos. Esperamos que esta homenagem ao autor do “Grilo das Asas de Oiro” seja um pretexto para que tal venha a acontecer. Observando o que está legalmente estipulado sobre direitos de autor, atrever-me-ia a sugerir que esta Câmara viabilizasse uma nova edição


6

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

desta obra, mais que não fosse, para assinalar o Cinquentenário da morte do poeta, que ocorrerá a 26 de Março de 2013.” É, pois, com muita satisfação que vemos concretizada essa nossa sugestão, através das Edições Salesianas, que decidiram fazer a 2ª edição desta obra, quando são passados 95 anos depois do ­n ascimento de Cassiano Guimarães, a 19 de novembro de 1927, em Santa Marta de Penaguião e 60 anos após a sua morte, a 26 de março de 1963, em Bagaúste, na freguesia de Poiares, Peso da Régua, apenas com 35 anos de idade. Esta nova edição melhorada é enriquecida, no final do conto, com um questionário de escolha múltipla para a auto-avaliação da compreensão da sua leitura, terminando com um pequeno estudo analítico sobre esta “novela de fantasia” cuja reedição pretende continuar a perpetuar, não só a arte literária de Cassiano Guimarães, como também os valores que, através dela, ele sempre quis veicular junto dos seus leitores. José Cerca



CASSIANO GUIMARÃES

7

CAPÍTULO PRIMEIRO Nasceu numa noite de luar em que a Lua era grande e enchia o silêncio dos campos com os mistérios da sua Luz. Teve a sorte de nascer à beira dum castanheiro muito velho que já vira passar gerações e gerações no caminho velhinho e santo que ligava as aldeias em redor num abraço de bondade. Era esse castanheiro uma árvore respeitada com veneração supersticiosa por todos os habitantes daqueles sítios. Diziam por ali que as raízes do castanheiro iam dar a uma mina muito funda. Nunca ninguém a vira; mas em noites de lua cheia, precisamente ao ressoar da última badalada da meia-noite, saíam do tronco da gigantesca árvore uns sons estranhos, como de fontes a gemerem num mundo de distância. Diziam aquilo, mas nunca ninguém o experimentara, quer porque ninguém se dava ao incómodo de lá ir escutar os segredos do castanheiro à última badalada da meia-noite de lua cheia, quer porque ninguém se aventurava a afrontar as maldições que as fadas reservavam para todos os que tentassem fazê-lo. Era realmente uma árvore sagrada, a mais respeitada de todas as árvores dos montes e dos vales.


8

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

Ora o nosso grilo teve a sorte de nascer ao pé do castanheiro sagrado e exatamente ao soar da última badalada da meia-noite de uma noite fantástica de lua cheia. Como o lugar era habitado por esses seres misteriosos a que a imaginação do povo se habituou a chamar fadas, tudo o que por ali nascia no fatídico momento da última badalada da meia-noite de uma noite de lua cheia, nascia protegido ou malfadado por algum desses espíritos misteriosos que ninguém vira mas de que todos tinham medo de sentir as influências. Ratazanas do monte que por ali andavam sem rabo, sapos sem olhos, coelhos sem dentes, pássaros sem bicos, raposas sem orelhas, toda a sorte de calamidades e defeitos que até sobre as plantas tinha caído, era a consequência dos terríveis anátemas e sortilégios que as fadas do castanheiro ditavam a quem nascesse ao soar da última badalada da meia-noite de uma noite de lua cheia. Era para onde lhes dava. Se nessa noite de lua cheia o vento soprava do Sul e trazia cheiro de alecrim selvático, as sortes eram felizes. Mas se o vento soprava do Norte e trazia cheiro de murta as sortes eram de desgraça. Pobre de quem nascia nessas desventurosas noites. Seria um infeliz por toda a vida. Ora o nosso grilo viu a luz numa dessas noites em que o vento trazia cheiro de alecrim. E as fadas fadaram-no bera. Se fosse um rouxinol, as fadas fadavam-no para ser o rouxinol mais melodioso de todos os rouxinóis; assim, como foi um grilo, f­ adaram-no para ser o grilo mais bonito de todos os grilos. E nasceram-lhe duas asas de oiro, tão lindas e refulgentes que venceriam em beleza a pérola mais linda da mais rica de todas as princesas deste mundo. E cantava deliciosamente! Pelas noites quentes de Julho, quando as papoilas e os malmequeres dormiam nos braços das espigas, era um encanto ouvir as serenatas que o grilo das asas de oiro cantava!... Quando, entre o estridor dos ralos e o grito dos sapos e mitibós, rompia, como


CASSIANO GUIMARÃES

9

de um mundo estranho, a voz do nosso grilo, tudo se calava. E o timbre sonoro do seu gri gri ecoava pela noite deserta com um não sei quê, de tão especial que até a bica da fonte emudecia para o escutar... Era a voz dum grilo, e ao mesmo tempo a voz de um ser estranho que jamais ecoara por aqueles sítios. E até os rouxinóis que cantavam nos choupos escuros dos arredores calavam as suas elegias, e a noite repetia no silêncio do Vale do Castanheiro: gri gri... gri gri... nasci aqui... nasci aqui... E o que é mais de estranhar, é que, até em noites de inverno, quer o vento assobiasse em gemidos, quer a neve caísse em nortadas de gelo, quem por ali passasse poderia ouvir, como em noites de verão, a mesma voz timbrada do nosso grilo: gri gri... gri gri... eu não morri... eu não morri... E de facto, embora a vida dos grilos seja curta, a voz do grilo das asas de oiro já havia anos que, todas as noites, de verão ou de inverno, primavera ou outono, atraía a admiração de todos os que passavam, a horas mortas, por aquele vale. Nasciam os rebentos da primavera, tombavam as folhas amarelas do outono… e o grilo das asas de oiro sempre com a mesma voz de mocidade: gri gri... eu não morri... eu não morri... Vinham os calores de estio, caíam as nevadas de inverno, e sempre a mesma voz no Vale do Castanheiro: gri gri... eu não morri... eu não morri... Já tinha corrido a voz que no Vale do Castanheiro havia um grilo encantado. E não era sem um certo medo supersticioso que os viandantes passavam, noite velha, por esses sítios. E a fantasia de muitos não ficava por aqui. Pensavam em cavernas misteriosas onde as fadas teciam à lareira com novelos de luar... E o grilo cantava enquanto elas teciam... Ora a notícia chegou aos ouvidos do Rei. E na corte ficaram todos com desejo de ouvir e de ver o tal grilo encantado. E o rei mandou voz por toda aquela região que, quem lhe apresentasse vivo o


10

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

grilo encantado, dar-lhe-ia, de prenda, uma saca de libras em oiro. Podeis imaginar a ganância de toda aquela gente! Todos se deitaram à procura do grilo encantado. Uma saca de libras em oiro! Para quem apanhar um grilo! Quem não se aventuraria? Naqueles dias não se falava de outra coisa. Nos palácios dos ricos e nos casebres dos pobres, na rua e na taberna, por toda a parte falavam da promessa do rei. Mas ninguém se aventurava a ir de noite ao Vale do Castanheiro! Receavam que as fadas se vingassem de tamanha ousadia! E para mais, ninguém sabia ao certo se existia o tal grilo. Que havia uma voz que de noite cantava de grilo, isso todos sabiam. Mas agora que tal grilo existisse, isso ninguém o dava por certo! Muitas vezes os pastores da região, que andavam a guardar o gado por aqueles campos, fizeram pesquisas e mais pesquisas... Rebuscaram todos os buracos, perscrutaram todas as tocas, farejaram em todos os cantos, bateram todas as ervas (e tudo à luz do dia, porque tinham medo de noite) e nada! Não houve meios de lhe darem com o rasto! Nem sombra de grilo! E o certo é que de noite lá estava ele. E todos o podiam ouvir. Os dias iam passando... Não se falava de outra coisa. E à força de falarem do grilo já se inventam mil e uma histórias... Diziam uns que tinham visto ao pino do meio dia uma coisa a brilhar, a modo que duas asas, ao pé do castanheiro, mas, quando se iam aproximar ouviram uma gargalhada misteriosa e o brilho sumiu-se na caverna do tronco... Outros, que ambicionavam passar por valentões, afirmavam aos mais receosos que tinham feito buscas durante a noite no Vale do Castanheiro. Chegaram mesmo a tocar com os pés onde ele cantava... Mas, num repente, sentiram um formigueiro pelas pernas acima e... deitaram a fugir empurrados por um vento misterioso.


CASSIANO GUIMARÃES

11

Havia versões de todos os sabores e feitios! Quem dizia que o tinha agarrado e, quando o trazia para casa, numa curva do caminho lhe apareceram as bruxas que lho roubaram... Quem afirmava que levara duas bofetadas valentes ao bater da meia noite no carreiro do Calvário que rodeava o Vale do Castanheiro... e sem saber quem lhas dera!... Cada noite que passavam era uma aventura que diziam. E o caso já dava para rir. Mas a mais engraçada era a dum moleiro que, passando com o burro carregado de farinha, noite adentro, pelo Vale do Castanheiro, ouvira o grilo a cantar: gri gri... estou aqui... estou aqui... Emocionado até aos ossos, prendeu o burro a uma oliveira e ­foi-se atrás da voz: gri gri... estou aqui... estou aqui... – Desta vez não escapas, – dizia ele, desnorteado pelo brilho da saca das libras que o rei prometera. E avançou em direção ao Castanheiro. Cego pela esperança de agarrar o grilo nem se lembrou das fadas... gri gri... estou aqui... estou aqui... Dessa vez a voz saiu-lhe dos pés. Bêbado de alegria, agachou-se para o apanhar. Nunca o tivesse feito! Apanhou tamanho murro nos queixos que ficou com a cara empanada por um mês! Mas o pior é que, ao chegar à beira do burro, nem burro nem nada viu. Tinha-lho roubado uma quadrilha de gatunos que andavam assolapados por aqueles sítios a ver se conseguiam agarrar também o grilo. Nessa noite agarraram mas foi 6 arrobas de farinha. O burro a­ pareceu-lhe um dia na loja, às tantas da madrugada, magro como um cão. Nunca mais lhe apeteceu fazer caçadas noturnas. Disseram-me mais tarde que andou meio ano sem passar pelo Vale do Castanheiro... e depois, quando perdeu a sensação daquela terrível noite, não era ainda sem se benzer sete vezes que passava em frente do castanheiro sagrado... Como ia dizendo, as façanhas e lendas daquele vale soturno ­iam-se multiplicando dia a dia. Todos queriam a saca das libras! Mas


12

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

ninguém conseguia pôr os olhos em cima do grilo. E todavia o grilo cantava todas as noites: gri gri gri... já quanto me ri... já quanto me ri... Quem não se ria era o Galhetas, o sacristão mais velho daqueles lugares. Ao princípio ainda começou a encontrar graça aos acontecimentos, mas, depois que uma bruxa lhe foi pedir em segredo uma garrafa de água benta para esconjurar uns espíritos que apareciam em forma de porco à entrada de uma mina, o Galhetas começou de andar sério e meditabundo. Quem o visse passar, corcunda, arrimado à bengala de lodo, com dois olhos de toutinegra, logo diria, pelos jeitos que levava, que alguma coisa andava a ruminar lá no fundo da sua noite silenciosa... E andava mesmo. Uma noite agarrou na opa e na caldeirinha com um raminho de alecrim bento, e foi-se, quando toda a aldeia dormia a sono solto, até ao Vale do Castanheiro. O Caniçadas, que naquela noite fazia de guarda a um talhão de melancias, foi quem deu pela sombra do Galhetas... Lá ia ele, trup-ca-trup, trup-ca-trup, com a opa enrolada no braço esquerdo. Apertado pela curiosidade, ficou à espreita. E lá o viu deslizar como um fantasma que a própria noite enchia de terror a qualquer ruído, para o campo do grilo... Lá no fundo, o castanheiro encantado levantava-se na solidão da noite como a torre medonha dum castelo a dominar a amplidão soturna do vale... Metia medo a quem quer que fosse. E o Galhetas tinha-o. Mas o brilho do oiro cegava-o. Aquela saca de libras!... A lua redonda e grande embalava a noite num lençol branco de luar... Tudo dormia... Só lá no fundo, como trombeta da noite silenciosa, o grilo cantava: gri gri... quem vem aí... quem vem aí... O Galhetas, que já tinha sido coveiro nos tempos de rapaz, estava habituado a conversar com as sombras dos cemitérios, mas naquela noite... cortava-as. Embora a noite fosse de verão, corriam-lhe da cara bagas de suor frio... E se não fosse a bengala de lodo teria caído, dobrado pelo meio. Parou umas trinta vezes antes de chegar ao lugar


CASSIANO GUIMARÃES

13

donde lhe vinha a voz timbrada do fatídico grilo. A cada passo que dava rezava o ato de contrição... O castanheiro lá estava, erguido e medonho... E ele sentia-se um átomo de pó diante desse gigante de ramagem negra! A cada passo que dava, as ervas gritavam-lhe: não avances! Mas ele lá ia... A saca das libras!... E a voz do grilo que ecoava no deserto da noite: gri gri... estou aqui... estou aqui... Tinha-o perto... Sentiu-o a dois passos... Arrepiou-se todo... Poisou a tremer a caldeirinha, desdobrou com toda a cautela a opa com medo de o assustar, enfiou-a nos ombros, de olhos arregalados para o castanheiro silencioso... Benzeu-se três vezes, atabalhoadamente, a tremer como um epilético, molhou o ramo de alecrim na água benta, e, com uma cruz espasmódica, borrifou o luar da noite com a fórmula solene do exorcismo: eu... vos... esconjuro (e tremeu dos pés à cabeça)... espíritos do mal!... O Caniçadas, que o via de um monte de urgueiras, ria como um perdido... Mal o Galhetas acabou a maldição de sua boa-fé, o grilo deitou-se a cantar com mais ardor: gri gri... morres aqui... morres aqui... O Galhetas tremeu como um vulcão em atividade! Viu a noite vermelha! E o grilo a cantar: morres aqui... morres aqui... Fantasia ou realidade?... Compreendeu que tinha feito uma ação de importância transcendental, fora do comum, um ato a que a solenidade da noite e do lugar emprestava qualquer coisa de medonho e de sobre-humano. E o grilo a cantar cada vez com mais força, numa voz cada vez mais timbrada, cada vez mais sonora, cada vez mais insistente, cada vez mais terrível, cada vez mais longe de todas as vozes que os seus ouvidos ouviram! Estarrecido, de olhos esbugalhados, recuou três passos, ficou um momento como um esqueleto paralisado, virou devagar as costas… e deitou a fugir… a fugir... a fugir... a fugir com toda a


14

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

velocidade que as pernas lhe davam!... O Caniçadas ria como um doido! Veio-lhe a tentação de gritar “alto” quando o viu passar a uns 10 metros do caminho. Mas não o fez. Limitou-se a atirar-lhe com um torrão que, por erro de cálculo lhe assentou mesmo na marreca! Nunca o tivesse feito! O Galhetas perdeu-se. Sob o impulso daquele murro misterioso, deu quanto pôde, desnorteado e cego. O Caniçadas, ao ver a sombra do Galhetas de opa desfraldada, aos pulos como uma raposa manca, pelo campo fora, rebentou numa gargalhada espontânea e forte! Foi o pior que pôde fazer! O Galhetas que, apesar de tudo, ainda levava os ouvidos abertos, sentiu nessa gargalhada misteriosa que a noite dava, um tiro certeiro! Vacilou... fez três ziguezagues... e zumba! estatelou-se na ribanceira e caiu aos reboleirões para o caminho!... O Caniçadas abriu a boca para não arrebentar. Alongou o pescoço de cegonha, esquadrinhou a ribanceira e viu o Galhetas de papo para o ar à borda do caminho. Julgou-o morto. Sentiu um calafrio de pressentimento sinistro. “Morreu!”, pensou com ele. E deitou a fugir antes que a madrugada o denunciasse como assassino. Ao outro dia não se falava de outra coisa! Os almocreves que faziam o caminho daquelas paragens levaram a nova para as vizinhanças. Ninguém falava senão no Galhetas de Palmude. Andou um mês para se restabelecer do susto! As trindades da noite, nunca mais se aventurou a tocá-las sozinho. Ia sempre acompanhado do filho. E era o único ofício que desempenhava, que o resto não o quis o prior. Bastava vê-lo de opa e caldeirinha nas cerimónias para quebrarem a seriedade do ambiente. Lembravam-se todos da manhã em que o trouxeram em braços para a aldeia e foram dar com a caldeirinha no campo do grilo...


CASSIANO GUIMARÃES

15

CAPÍTULO SEGUNDO Já tinha passado ano e meio desde os primeiros rumores do fatídico vale. O rei, que não havia meio de sossegar com o pensamento do grilo misterioso, dobrou a promessa e mandou publicar em todos os jornais que faria conde quem lhe apresentasse o famoso animal! Apesar da promessa ser realmente aliciante, tentadora, pouco interesse despertou. Depois de tantas aventuras e provas sem resultado, quem se atrevia a procurar ainda o malfadado bicho? Só algum avarento que estivesse disposto a tudo, até a vender a alma, por amor de cinco réis! E foi mesmo o Pica-Pau, um célebre avarento que vivia nos arredores de Palmude, quem se aventurou ainda. De nariz dobrado, como um arco, sobre um bigode de penugem de ratazana, magro como um cão a quem a fome deixou só dois olhos e o faro, dava pela presença de um tostão a cinco léguas! Raramente o viam à luz do dia. Fechado a sete trancas no casebre, quando saía, quer de verão quer de inverno, era embrulhado num sobretudo ruço de mangas estreitas onde apenas cabiam


16

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

os dois tocos de pau que lhe moviam nervosamente duas mãos inquietas de cinco tenazes compridas, com unhas retorcidas cheias de verdete. Todos o conheciam por aqueles lugares! Corria fama que passava o dia na toca como um pica-pau (foi daí que lhe veio o nome) a cantar e a recontar as moedas que tinha enterradas em buracos nas paredes. Só ao cair da noite é que lhe viam a cabeça com dois tufos de pelo grisalho, a tossir ao postigo como quem se levanta de manhã a ventilar a traqueia! Depois ficava a noite toda de olhos fosforescentes, espetados numa fenda da parede a perscrutar os ruídos e as sombras! Todo o mundo conhecia o avarento de Palmude! Já ninguém lhe pedia esmola. Se lha pediam, olhava cinco vezes para os olhos do mendigo, media-o todo, metia as mãos às cavernas do sobretudo e, com um sorriso arrogante, dava um tostão. Mas para ele, dar era a mesma coisa que receber: e pedia dois de troco! Ora o Pica-Pau que andava a par de todos os altos e baixos do câmbio internacional e de todas as especulações da bolsa e capitais de empresa, leu a notícia da promessa real. A perspetiva de um dia vir a ser conde... brilhou-lhe com tanta intensidade que o cegou. Ficou cego! Meditou por uma semana na empresa. Todos os dias a quem passava pelo carreiro sobre o qual dava o postigo do casebre, perguntava novas do grilo. Ninguém o apanhara ainda. Ficava para ele. Seria ele o primeiro a pôr-lhe os olhos, o primeiro a agarrá-lo, o primeiro a mirá-lo e a remirá-lo nas mãos, o primeiro a beijá-lo centenas e centenas de vezes como à joia mais preciosa de um tesouro! Assim o esperava e assim procurou fazê-lo. Uma noite não sei como se aventurou a tanto. Depois de ficar de vigia na fenda a perscrutar as pulsações do coração dos montes e caminhos... todos os ruídos e todas as vozes, todos os pios e todas as sombras, quando viu que nada se mexia, que nada respirava, que só o silêncio dormia nos cobertores da noite, abriu uma janela de grades duplicadas que ficava rente ao solo, esgueirou-se


CASSIANO GUIMARÃES

17

como uma enguia através do buraco, fechou-a com uma chave de três voltas, embrulhou-se bem no sobretudo ruço... e foi-se. Ninguém o vira... ninguém o via... ninguém o havia de ver. E lá foi com umas alpercatas de lã pelo carreiro menos frequentado que levava ao Vale do Castanheiro. Como já quase ninguém se importava do grilo, os terrores que as fadas despertavam foram-se perdendo... diluindo. Quando pisou a terra sagrada do misterioso Vale, afiou os olhos na escuridão, e enxergou, não sem um certo terror instintivo, a sombra ereta do castanheiro encantado. Lá estava ele de sentinela, negro como a sombra de um demónio, a quem bastava abrir os dentes para mirrar de espanto o homem mais corajoso deste mundo! Fitou os ouvidos como uma lebre perseguida, e, lá ao fundo, a dominar a majestade da noite, a voz fatídica do grilo: gri gri... vem até aqui... vem até aqui... O Pica-Pau estremeceu! Era a primeira vez que o grilo modulava uma nova rima: vem até aqui... vem até aqui... Espanto e coragem, receio e animação, não sabia qual era o mais forte! Decidiu-se! Pressentiu ingenuamente naquele gri gri, um convite que jamais o grilo dirigira a ouvidos humanos! Vem até aqui... vem até aqui... Seria um convite benévolo ou um desafio descarado? Nunca fizera mal a ninguém! E a consciência palpitou-lhe felicidade! Vamos para a frente! E foi. A noite era escura. Uma noite de novembro, fria e calada... Fria e calada como os cemitérios! Não havia um rasto de lua no firmamento. Um rasto de luz no universo!... Lá no fundo, como sentinela do silêncio, a voz do grilo: gri gri... vem até aqui... vem até aqui. Aventurou-se e foi mesmo. Afinal o grilo, se existia, devia ser seu amigo. Se não existia, a voz e o castanheiro não deviam passar de uma fantasia popular. Para quê ter medo?... Para o Pica-Pau só contavam os ladrões que lhe farejavam o cofre e os bolsos! Levou a mão à algibeira, tirou uma garrafinha e engoliu um decilitro de cachaça bagaceira.


18

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

Aqueceu e decidiu-se! Procurou convencer-se de que o grilo era um bicho real, um grilo como os outros... Cantava de outro modo, sabia mais cantigas de cor, e era tudo! Como havia génios entre os homens porque não admitir génios entre os grilos?... E, pé ante pé, e­ squeceu-se das fadas e do castanheiro, e foi-se mas é ao grilo. E o grilo lá estava a cantar na solidão do vale: gri gri... vem por aqui aqui... Estranhou a mudança da cantiga, mas como pensava que o grilo era um génio, acomodou-se facilmente à nova variante. Só o impressionava a bondade do grilo que até lhe indicava o caminho: vem por aqui... vem por aqui... Está bem! Lá por isso vou. Estava-lhe à direita, talvez a uns 12 passos. Puxou do isqueiro, agachou-se bem, colou o ouvido na direção da voz, e, com pés de veludo, sem pestanejar, foi avançando, avançando devagarinho, devagarinho, com medo de o assustar! E o grilo sempre a cantar: estou aqui... estou aqui... Cantava-lhe mesmo debaixo dos pés! Leve como uma sombra, o Pica-Pau dobrou-se por completo sobre a erva. E o grilo mesmo debaixo do nariz: gri gri... estou aqui... estou aqui... Desta vez não me escapas, disse o Pica-Pau a tremer de comoção. Fitou os olhos na relva... esquadrinhou durante meia hora três palmos do campo... Nada! Estava escuro... Por mais que arregalasse os olhos, nada! Não via nada. E o grilo a cantar-lhe debaixo do nariz: gri gri... estou mesmo aqui... estou mesmo aqui... Só faltava dizer que o apanhasse! O Pica-Pau danou-se! E se acendesse o isqueiro? Mas o grilo poderia fugir. Amarrou-se mais. Com toda a cautela chegou mesmo a roçar o bigode pelas ervas... E ficou lá, sem respirar... debruçado como uma raposa a farejar a toca de algum láparo. E o grilo a cantar-lhe debaixo do bigode: gri gri... estou mesmo aqui... estou mesmo aqui... “Ladrão!”, dizia o Pica-Pau, com a fantasia quente da bagaceira, “que me estás a dar mais trabalho que o que mereces!”


CASSIANO GUIMARÃES

19

E o grilo sempre a cantar, a cantar-lhe a mesma cantilena: estou mesmo aqui... estou mesmo aqui... O grilo a cantar e o Pica-Pau a esperar... Tanto esperou embalado na cantilena monótona do grilo, que, sem o querer, deixou-se adormecer devagarinho... Estava mesmo a fechar os olhos quando lhe passou pelo bigode não sei o quê. – É ele! Meio atabalhoado pela comoção, agarrou com uma mão um tufo de ervas para o não deixar escapar, e com a outra riscou no isqueiro. Esquadrinhou daqui... esmerilhou dalém... esbugalhou os olhos quanto pôde... Nada! E o grilo a cantar-lhe debaixo do nariz, à frente dos olhos: gri gri... eu não fugi... eu não fugi... Pica-Pau começou a ter medo. Demónio de grilo! Não é como os outros! Julgando que se tinha metido pelas mangas do sobretudo, começou a inspecioná-las com avidez, encafuando nariz e isqueiro nas mangas do capote. E o grilo sempre a cantar: gri gri... não é aí... não é aí... E o Pica-Pau cada vez se admirava mais. Deram uma risada ao longe. Nem deu por ela. Dianho de grilo! Apurou os ouvidos. E o grilo a cantar: já ando aqui... já ando aqui... A voz parecia-lhe vir do bolso do capote. E lá se meteram nariz e isqueiro: um a farejar, e o outro a sondar, a rebuscar o fundo daqueles bornais. Ao longe, outra gargalhada mais forte. O Pica-Pau assustou-se. Arrebitou as orelhas, ficou a farejar o norte por uns leves momentos... e continuou a tarefa. Fora impressão. E o grilo a cantar: gri gri... subi para aqui... subi para aqui... A voz vinha agora do alto. Cantava-lhe mesmo por cima da cabeça. O Pica-Pau alegrou-se: Agora não me engano; anda no chapéu, disse consigo, num sorriso feliz de esperança. Tirou com toda a cautela


20

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

o chapéu, arregalou os olhos ansiosamente, aproximou o isqueiro e... uma solene risada ao longe e o grilo a cantar a uns cinco metros de distância: caí para aqui... caí para aqui... Desta vez o Pica-Pau ouviu a gargalhada distintamente. Ouviu-a e desconfiou. Quem andaria por ali àquelas horas? Era gente ou eram bruxas?...Fadas ou demónios?... Almas do Purgatório ou do Inferno?... E ficou de olhos e ouvidos alerta, perdidos no silêncio que só o grilo cortava: gri gri... anda p’ra aqui... anda p’ra aqui... E ficou assim, sem arredar passo, hirto como um fantasma, com a mente confusa... Não se mexeu por um quarto de hora. E não foi capaz de desentranhar ruído algum do silêncio da noite. O Pica-Pau acalmou. Acalmou mas ficou sempre de ouvido desconfiado. Suava por todos os poros. O bicho dava-lhe mais trabalho que o que valia! E a noite ia avançando, e ele tinha medo que o primeiro vislumbre da madrugada o apanhasse naqueles sítios. E o grilo a cantar-lhe com mais insistência que nunca: anda p’ra aqui... anda p’ra aqui…. A tentação era forte demais. Decidiu-se outra vez e... foi. Foi porque ele, afinal, acreditava no grilo. Tinha-lhe andado no sobretudo; subira-lhe para o chapéu... e, agora, talvez longe da toca, ser-lhe-ia difícil esconder-se. De isqueiro na mão, agachou-se quanto pôde, e começou a vasculhar, de gatas, erva por erva. Mas o grilo tinha o demónio no corpo. Quando Pica-Pau o sentiu a um palmo de nariz, sorriu! Mal tinha amarfanhado as ervas com o chapéu a ver se o caçava debaixo, já o grilo lhe cantava atrás das costas: estou aqui... estou aqui... Enganei-me. E virou-se para trás, de repente. Assestou os ouvidos e o grilo a cantar-lhe da outra banda: gri gri... vira p’ra aqui... vira p’ra aqui... Eram dois ou um?... O Pica-Pau danou-se. Ia a virar-se e já o grilo de novo do outro lado: gri gri... olha p’ra aqui... olha p’ra aqui...


CASSIANO GUIMARÃES

21

Fulo como um cão danado, virou instintivamente a cara na direção da voz. E já ela a cantar-lhe do outro lado: gri gri... não é p’ra ali... mas é p’ra aqui... O Pica-Pau perdeu a paciência. – Fica para aí! O demónio te leve! E ergueu-se, que já lhe doíam os lombos, não sem antes ter espirrado 11 vezes, que era a conta dele! Reprimiu-se quanto pôde, mas o fumo do isqueiro tinha-lhe envenenado os brônquios, e precisava de espirrar! E espirrou a conta certa embora tentasse abafar o ruído dentro do chapéu amolgado. Quando acabou, teve medo. Tê-lo-iam ouvido? Porque não se tinha deitado na erva e abafado os espirros no chão? Era já tarde. Se alguém o ouvira, ouvira-o! Acabou-se. Não havia remédio. O que interessava é que não vissem quem era. E seria difícil vê-lo. A noite era negra e o isqueiro para mais apagara-se com a primeira rajada de vento que lhe saíra impetuosamente das narículas! Por precaução, afundou os olhos em todas as direções, escutou bem e... nada! A noite era a mesma: silenciosa e funda... Até o grilo se calara. Achou o caso estranho porque não era costume. Metera-lhe medo ou esmagara-o com algum espirro?... Estava nestas considerações quando sentiu alguma coisa p ­ assar-lhe pelo tornozelo direito. Sobressaltado, riscou atabalhoadamente o isqueiro, e... surpresa medonha! A três dedos da alpercata viu o grilo que se escondia na erva. É ele! E disse-o até em voz alta pelo entusiasmo que o inundou! Afinal é um grilo! E deitou-se avidamente sobre o pedaço de chão onde o vira, abraçando com o braço esquerdo a maior porção que podia, e com o direito remexendo aflito a erva. E o grilo a cantar-lhe mesmo debaixo do bigode: olha p’ra aqui... p’ra aqui... E quanto mais ele olhava menos o via. Olhava para a direita, cantava-lhe à esquerda; olhava para a esquerda, cantava-lhe à direita! Mas ele estava lá! Vira-o! Era um grilo, afinal!


22

O GRILO DAS ASAS DE OIRO

E manteve-se lá uns bons dez minutos a virar a cara para a direita e para a esquerda. Já lhe doía o pescoço. Estava numa posição desastrada! Mas aguentava. Tinha-o ali. Vira-o! E o grilo a cantar-lhe como dentro dos ouvidos: olha p’ra aqui... olha p’ra aqui... Demónio de grilo! Não havia jeito de lhe pôr os olhos. Procurava à direita, procurava à esquerda, nas folhas e nos caules... e... nada! Diabo te leve! E ia-se a levantar. Oh felicidade! Naquele momento, mesmo debaixo dos olhos, quase a roçar-lhe pelas pestanas, viu a figura do grilo. Não lhe deitou a boca porque teve medo de o engolir. Mas deitou-lhe a mão. E tão precipitadamente o fez que lançou o isqueiro para o chapéu e daí a pouco era uma labareda de S. João! Que se interessava ele? Tinha o grilo nas mãos! O resto não contava. Às cegas, na escuridão, arrancou ervas e terra que a forquilha ávida dos dedos tinha abrangido! Não se enganara! Oh felicidade! O grilo cantava-lhe no punho cerrado! Gri gri gri... estou preso aqui... estou preso aqui... O Pica-Pau não morreu de contentamento por um triz. Tão alegre ficou que lhe ia dando um desmaio! Embrulhou a erva e o grilo num lenço grande, agarrou-o bem agarrado e largou a fugir pelo campo fora. Dava quanto as pernas lho permitiam. Uns restos de superstição e de medo empurravam-no ainda mais! Levava um grilo, mas na voz desse grilo ia alguma coisa de estranho... alguma coisa de misterioso... E fugia... fugia pela noite fora. Estava morto por chegar a casa para ver o famoso grilo que toda a gente procurava. Só ele tivera a sorte de o achar! Ia a sorrir para a saca das libras, vestido de conde, rodeado de criados, quando, ao meter para o atalho que levava ao casebre, um barulho medonho na boiça das carrasqueiras o estacou meio morto! Ficou sem fala, sem respiração! Passou-lhe pelas orelhas uma pedra a zunir! Aterrado, deitou a correr como um perdido! Uma segunda saraivada


CASSIANO GUIMARÃES

23

ressoou pelos ramos verdes dos carrascos, às costas dele. Bufava e suava! O capote protegia-o. O que tinha medo era da careca! Se lhe acertavam uma, da maneira como ia a ferver, abriam-na ao meio! Ia nestes pensamentos de terror quando uma pancada oca como na barriga dum bombo lhe desfez nas costas meia arroba de terra! O Pica-Pau roncou como um porco ferido e caiu, de bruços, num charco! Por felicidade que tinha pouca água. Rápido como um gato escaldado, levantou-se como pôde, sujo de lodo, e continuou a carreira. Nem para trás olhava! Só pensava no grilo. E o grilo lá ia: gri gri... cá vou aqui... cá vou aqui... Quando se viu em casa, atirou-se desfalecido, a suar em bica, para cima da cama. À luz duma vela de sebo desdobrou trémulo, sofregamente, o guardanapo em que trazia o grilo. Desilusão! Entre as ervas do Vale do Castanheiro estava um enorme escaravelho! Caiu para trás e ficou a dormir... Ao outro dia já toda a gente dos arredores falava e ria da aventura do avarento de Palmude!...


Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto Tel.: 225 365 750 geral@editora.salesianos.pt www.editora.salesianos.pt

CASSIANO GUIMARÃES O GRILO DAS ASAS DE OIRO

“Se fosse um rouxinol as fadas fada­ vam-no para ser o rouxinol mais ­melodioso de todos os rouxinóis; a ­ ssim como foi um grilo fadaram-no para ser o grilo mais bonito de todos os gri­ los. E nasceram lhe duas asas de oiro, tão lindas e refulgentes que vence­ riam em beleza a pérola mais linda da mais rica de todas as princesas deste ­ mundo. E cantava deliciosa­ mente! ­Pelas noites quentes de Julho, ­quando as papoilas e os malmequeres ­dormiam nos braços das espigas, era um encanto ouvir as serenatas que o grilo das asas de oiro cantava!...”

O GRILO DAS ASAS DE OIRO CASSIANO GUIMARÃES


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.