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PRESERVAÇÃO
CEMITÉRIO JUDAICO DE 150 ANOS É TOMBADO EM PARINTINS, AMAZONAS
Reportagem e foto por Hudson Lima
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A primeira matzeivá (lápide) de uma sepultura judaica é da senhora Donna Cohen, falecida em 29 de abril de 1886. Em seguida, do judeu Isaac S. Benjo, falecido em 26 de janeiro de 1887, que seria um grande comerciante judeu que ajudou muito a comunidade de conterrâneos.
Odia 21 de dezembro de 2021 foi mais uma página na história da saga dos judeus na Amazônia. O cemitério judaico de Parintins foi tombado. No Estado do Amazonas existem 5 cemitérios israelitas, contabilizando 455 sepulturas. O cemitério judaico fica localizado ao lado do cemitério São José, atrás da Catedral de Nossa Senhora do Carmo.
Na solenidade de tombamento estiveram o doutor David Israel, Presidente do Comitê Israelita do Amazonas e a doutora Anne Benchimol, Diretora da Confederação Israelita do Brasil. Além deles, o publicitário Leão Azulay e o médico doutor Jacob Cohen.
Cemitério Israelita de Parintins – AM
“Este cemitério acredita-se ter sido fundado em 1850; lá há lápides de judeus que aqui viveram, datadas de 1860. Este cemitério é uma relíquia do judaísmo no Brasil. No dia 21 de dezembro foi colocada uma placa comemorativa ao tombamento”, informa em mensagem, o publicitário Leão Azulay.
Sobrenomes de pessoas sepultadas no cemitério judaico de Parintins:
É possível encontrar Salama, Dray, Levy, Benjo, Salom, Zagury, Cohen, Assayag, Gagy, Pazuelo, Sicsu, Serrulha e Mendes. “O cemitério está totalmente preservado graças ao interesse da Prefeitura em mantê-lo em perfeita ordem. Lá, entre alguns parintinenses famosos, estão sepultados o Sr. Elias Assayag e Pichita Cohen, além do Dr. Marcos Zagury, que foi assassinado dentro do fórum de Parintins e tem seu nome no Tribunal do Júri, além de outros imigrantes judeus que aqui vieram desde 1850, procedentes do Marrocos”, prossegue Leão Azulay.
Segundo Azulay, a maioria dos primeiros imigrantes judeus trabalhava como regatão, comprando e vendendo produtos nos mais distantes lugares, nos “beiradões”. As principais festas importantes do judaísmo, como Rosh Hashaná (Ano Novo judaico), Iom Kipúr (O dia do Perdão) Pêssach (Páscoa), assim como o próprio Shabat (Sábado), eram promovidos na residência da família Cohen, em Parintins.
Os judeus também ajudaram a fundar em Parintins no ano de 1903, a Loja Maçônica União, Paz e Trabalho. O judeu Jayme Baruel foi o primeiro venerável da loja, o venerável presidente.
Matzeivá da senhora Donna Cohen
A última lapide registrada como sepultamento é de Elias Assayag, nascido em 21 de fevereiro de 1909 e falecido em 14 de fevereiro de 1980. O maior Ginásio de Parintins, localizado próximo ao Bumbódromo, leva o nome de Elias Assayag. A família Assayag é considerada a mais numerosa do Amazonas e tem como patriarcas os irmãos Isaac Abraham Assayag e Simão Abraham Assayag.
Marcus Zagury
“Aqui repousa o talentoso e íntegro promotor público Marcos S. Zagury, vil e traiçoeiramente abatido pelas balas de um perverso, na tarde de 23 de Agosto de 1938. Victima da rectidão de seu carácter e do cumprimento do dever o seu sangue innocente derramado, clama aos Céus justiça”, está escrito na sepultura do promotor, que hoje concede nome ao Fórum de Justiça.
Primeiro sepultamento em 1886 e o último em 1980
A primeira matzeivá (lápide) de uma sepultura judaica é da senhora Donna Cohen, falecida em 29 de abril de 1886.
Em seguida, do judeu Isaac S. Benjo, falecido em 26 de janeiro de 1887, que seria um grande comerciante judeu que ajudou muito a comunidade de conterrâneos.
Matzeivá de Marcus Zagury
Pichita Cohen, o judeu da alegria
Matzeivá de Pichita Cohen
O comerciante judeu Pichita Cohen, como era chamado, tinha como nome verdadeiro Pin-has Salomão Cohen. É tido como grande incentivador da cultura na Ilha de Tupinambarana, fazia a alegria das crianças, na época do Natal e no carnaval. Seu Pin-has Cohen faleceu em 19 de setembro de 1975. Hoje foi eternizado no parque infantil “Cidade da Criança Pichita Cohen”.
Em Parintins, assim como em outras cidades do Pará e do Amazonas, a imigração foi feita por judeus marroquinos, que são chamados de “sefarditas ou sefaradins”, um grupo descendente de judeus espanhóis e portugueses que chegou a partir de 1850 em Parintins, Tefé, Manacapuru e Itacoatiara. Depois, alguns se mudaram para Manaus.
Segundo a leitura de Bentes (1987) e Benchimol (2008), a imigração judaica aparece nos dois autores associada à economia da borracha, à liberdade de culto e às expectativas que foram criadas com relação à região.
David Vidal Israel, atual Presidente do CIAM Placa afixada à entrada do Cemitério Israelita de Parintins – AM, na cerimônia oficial de tombamento.
DEPOIMENTO DE DAVID VIDAL ISRAEL, ATUAL PRESIDENTE DO CIAM – COMITÊ ISRAELITA DO AMAZONAS
Otombamento do Cemitério Israelita de Parintins já vinha sendo solicitado há bastante tempo, principalmente pelo CIAM, por Leão Azulay, por meu tio Jacob Cohen e também por minha prima Soraya Cohen quem, lá pelos idos de 2015, ficou bastante preocupada, temendo que o Cemitério Municipal, adjacente ao nosso, tomasse uma área dele que ainda estava livre.
Foram então feitos diversos contatos com o Patrimônio Histórico. Mais recentemente, em meados de 2021, Leão Azulay e Jacob Cohen me levaram ao prefeito da cidade para ver o andamento do processo de tombamento. E, para minha surpresa, quando cheguei lá, não só o processo havia avançado, como já havia sido sancionado pela Câmara de Deputados. Foi até engraçado, porque quando solicitamos saber do andamento, o prefeito procurou saber do processo, que foi trazido e já estava sancionado por ele, que já nem se lembrava.
O fato também nos chamou a atenção para a necessidade de colocar no local uma placa informando do tombamento.
E assim, no final do ano passado nós, Leão Azulay, Jacob Cohen, Soraya Cohen e várias outras pessoas, colocamos a placa e concedemos, em nome do CIAM, certificados às pessoas e autoridades que participaram do processo, tais como o autor da lei, o Presidente da Câmara e o prefeito.
O CIAM segue empenhado no tombamento de outros cemitérios no estado do Amazonas. Para tanto, seguimos contando com o apoio do Leão Azulay. Um levantamento da situação de outros cemitérios está sendo feito e várias tratativas com políticos do estado para que nos ajudem no que for necessário.