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Hipomenes e Atalanta
Que história incrível a de Atalanta! Assim que nasceu, por ser mulher, foi rejeitada pelo pai, o rei Esqueneu, que a abandonou na floresta. Sobreviveu amamentada por uma loba e criada por caçadores. Cresceu livre, correndo pelas matas e montanhas. Aprendeu a caçar, tornando-se exímia com a lança. Na corrida ninguém a vencia. Dizem que nem Hermes, o mais veloz dos deuses, seria capaz de competir com ela.
Já moça, a deusa Ártemis, a quem era muito dedicada, aconselhou-a a não se casar, pois estava escrito que o casamento seria sua ruína. Passou a evitar os candidatos que a procuravam, atraídos por sua beleza enigmática. Tinha um rosto marcante, muito forte para uma mulher. E vivia sozinha, ajudando Ártemis na caça.
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Ganhou fama quando salvou o reino da fome, matando com sua lança e pontaria perfeita um enorme javali selvagem enviado pelos deuses para destruir as plantações. Vingavam-se do rei, que tinha se esquecido de cumprir o dever de oferecer a primeira colheita do ano a eles. Foi uma proeza que os mais valentes nobres, convocados pelo rei para abater o animal, não haviam conseguido. Logo ela que, por ser mulher, havia sido motivo de piada quando disse que venceria.
O pai, orgulhoso da coragem da filha, reconheceu- -a e a levou para o palácio. Logo quis casá-la para lhe dar herdeiros. Os pretendentes apareciam, e ela recusava todos eles. Até que, pressionada pelo rei, Atalanta lhe revelou a profecia da deusa. Pai e filha fizeram um acordo. Ela se casaria com quem a vencesse na corrida. Se o pretendente perdesse, seria morto. Era uma forma de desanimar os rapazes. Só que não adiantou, e os melhores do reino foram morrendo, um após o outro.
O jovem Hipomenes tinha sido o juiz de todas as disputas. Achava aquilo insensato e julgava Atalanta uma tola pretensiosa. Até que um dia ele a viu se preparar para mais uma prova. Maravilhou-se com o corpo perfeito, exuberante e cheio de graça. Seu amor crescia a cada prova, vendo a moça correr, os cabelos soltos e os pés descalços que pareciam ter asas.
Um dia, num impulso, se apresentou à princesa e disse que seria seu adversário. Na véspera da prova,
percebeu que faria uma loucura, porém não tinha mais jeito: se voltasse atrás, ficaria desonrado. Então pediu a Afrodite, deusa do amor: “Eu lhe imploro, me ajude, em nome do amor de Atalanta que me inspirou”. Afrodite se compadeceu e lhe deu três maçãs de ouro, orientando-o como usá-las.
Ainda no início da corrida, com Atalanta na dianteira, Hipomenes começou a perder terreno, com dificuldade até para respirar. Seguindo as instruções de Afrodite, jogou uma maçã de ouro perto de Atalanta, que, admirada, parou para pegá-la. Foi a deixa para Hipomenes passar à frente. A jovem se recuperou e o deixou para trás de novo. Hipomenes jogou a segunda fruta. Nossa heroína caiu mais uma vez na armadilha. Voltou logo à disputa e já ia ultrapassar o rival quando ele jogou a última maçã de ouro. Pronto, a distração levou-a a perder a corrida.
Ela não ficou triste, porque também se apaixonara. Ele era um belo rapaz, ousado e corajoso que a impressionou. Casaram-se e, felizes demais, esqueceram-se de agradecer a Afrodite. Ela ficou ofendida e pediu a Cibele, deusa que punia a ingratidão, que os castigasse. Atalanta foi transformada em leoa e Hipomenes, em um leão. Atrelados ao carro da deusa, podem ser vistos em várias representações, de esculturas a pinturas. Os dois continuaram juntos, mas a profecia se cumpriu: o casamento foi a ruína de Atalanta.