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FIEL À ESSÊNCIA

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VERSALHES CARIOCA

VERSALHES CARIOCA

Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas da Granado, é um bom exemplo do perfil do líder dos novos tempos. Ela faz questão de ouvir o time, é empática, está sempre de olho nas tendências e acredita que o sucesso está intimamente ligado à sustentabilidade e à colaboração. Tudo isso somado à paixão que tem pelo que faz e por olhar o trabalho com leveza para que todos atuem com mais satisfação. “Claro que há prazos, compromissos e metas, mas tento levar as coisas de forma mais tranquila e positiva”, diz. Conhecida por ter um papel determinante na modernização e no aumento do faturamento da empresa, que em 2021 alcançou R$ 804 milhões e deve fechar o ano com R$ 961 milhões, ela faz questão de dizer que o mérito não é só dela. “Acabo ganhando muito o mérito, mas foi um processo. Quando meu pai comprou a companhia, em 1994, investiu muito em automação e logística, lançou novas linhas e articulou parcerias. Sem esse trabalho, não teríamos capacidade de sustentar a demanda atual”, conta.

Filha do empresário inglês Christopher Freeman e de uma brasileira, Sissi nasceu nos Estados Unidos e veio para o Brasil aos 8 anos. Apesar de gostar de cosméticos e, de certa forma, se envolver com a empresa dando palpites e testando produtos, o início de sua carreira foi longe do negócio familiar. Até porque seu pai sempre fez questão de separar muito bem as coisas. Sissi se formou em ciências políticas na Georgetown University, nos Estados Unidos, trabalhou em bancos de investimento e depois seguiu na área de marketing e vendas em startups de maquiagem e cosméticos em Nova York. Mas, em 2004, a proposta de seu pai para um projeto de seis meses na Granado, mudou toda a sua rota profissional. “Ele tinha acabado de comprar a Phebo e a diretora de marketing estava saindo. O convite foi para tocar a transição por seis meses. Dezoito anos depois, estou aqui”, diz.

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Com a gestão de Sissi, a Granado alcançou outro patamar. A empresa, que abriu as portas em 1870 como uma botica de manipulação de produtos com extratos de ervas, de plantas e de flores brasileiras, é atualmente uma das maiores companhias de beleza e higiene pessoal do Brasil. São 88 lojas espalhadas pelo país e 1.895 colaboradores. A marca também tem presença internacional: há espaços na Liberty London, na Inglaterra; e na Inno, que fica na Bélgica; além de pop-up stores no SoHo e nos Hamptons nos Estados Unidos. E em maio deste ano, a empresa ganhou o Prêmio Prata na 12ª edição do Brasil Design Award, promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Design pelo pop-up desenvolvido especialmente para a Galeries Lafayette Champs-Élysées, em Paris. Sete meses depois, em dezembro de 2022, mais um salto com a inauguração de uma loja no Chiado, um dos bairros mais famosos de Lisboa.

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A atuação de Sissi para fazer a Granado crescer começou com um rebranding. “A ideia foi entender a fundo o diferencial da marca”, diz. Com isso em mãos, a empresária iniciou um trabalho de mudança ou adaptação em cada produto e embalagem. “O objetivo foi inovar sem perder a essência, o que torna a marca única: sua história. Temos itens que são centenários e a fórmula continua a mesma como o polvilho; e outras que foram se atualizando. O segredo foi achar es- se equilíbrio”, conta. Um ponto alto da gestão de Sissi foi a entrada no mercado de perfumes e, consequentemente, a abertura dos espaços de venda.

Foi uma tacada de mestre. Atualmente, as lojas representam 25% das vendas e são um bom exemplo de como a empresa se modernizou, mas sem perder as raízes. Basta entrar em um dos estabelecimentos para entender como isso foi feito. O piso é de ladrilho hidráulico e o mobiliário foi todo pensado para levar tradição, mas com um toque de modernidade. A iluminação é indireta com lâmpadas amareladas e há peças vintage, como as balanças usadas na época em que a Granado foi fundada. Para o desenvolvimento das fragrâncias, o investimento do Puig, grupo espanhol que atua com moda e perfumes e é dono de marcas como Carolina Herrera e Paco Rabanne, foi crucial. “Eles nos ajudaram com perfumistas internacionais e a linha despontou, sendo a que mais cresce, entre 25% e 30%”, afirma Sissi.

Esg No Radar

Parte do sucesso do negócio está atrelado à sustentabilidade, como ressalta Sissi. “É o DNA da marca. O fundador tinha um sítio em Teresópolis onde cultivava ervas e plantas e estudava seus benefícios. A farmacopeia brasileira foi feita na Granado”, revela. O tema segue firme na companhia que, em 1998, foi a primeira empresa brasileira a banir o uso de parabenos (produtos químicos muito utilizados em cosméticos que são prejudiciais à saúde) na composição dos produtos; em 2006 adotou a política de não realizar testes em animais e, desde 2021, está trocando todas as bisnagas plásticas por similares de resina. Segundo Sissi, todos os pilares da empresa levam o ESG em conta. Do desenvolvimento de produtos e gestão interna ao cuidado com as comunidades e o meio ambiente.

Em 2021, a empresa desenvolveu, em parceria com a SOS Mata Atlântica, uma linha de produtos chamada Folha Imperial em que 5% do total das vendas é destinado à ONG

De Pai Para Filha

“No começo, era mais difícil convencer meu pai de alguma mudança. Eu tinha 24 anos e muitas ideias, mas não sua ampla bagagem profissional. Ele era mais receoso em criar produtos diferentes, por exemplo”, conta Sissi. Porém, com os anos e os projetos dando certo, a dupla estabeleceu uma relação de confiança e parceria. “Hoje, ele brinca que só sabe de um produto novo quando lançamos ou está na linha de produção ou em um relatório. Antes qualquer coisa que fossemos lançar tinha que ter o seu aval. Agora temos liberdade e autonomia”, afirma. Sissi reforça também a importância da complementaridade de perfis para o sucesso da empresa. “Meu pai é mais voltado para a contabilidade, a parte financeira; eu tenho um lado mais criativo e vendedor”, exemplifica.

que reflorestou uma área em Itu, no interior paulista. Outro exemplo? Durante a pandemia a empresa doou em torno de 150 mil produtos de higiene pessoal a comunidades, hospitais e asilos, ultrapassando R$ 200 mil, além de R$ 201 mil revertidos em 2.421 cestas básicas em parceria com o Instituto Ekloos e Instituto Phi. “Não existe sucesso sem responsabilidade social”, completa Sissi. A diversidade está sempre em pauta. A maioria das gerências, por exemplo, é tocada por mulheres. Falando nelas, Sissi consegue equilibrar bem carreira e maternidade. Mãe de Helena, de 8 anos, de Luíza, que tem 7, e de Laura, que está com 1 ano, ela faz questão de ser um exemplo para as filhas. “Quando lançamos o perfume de caju, minha filha do meio adorou e logo disse: ‘Você podia fazer um de manga, que é minha fruta favorita’”, conta. O produto passou um ano em desenvolvimento, com Sissi levando as amostras para as filhas palpitarem, e será lançado em breve. “Vira e mexe, elas vão à empresa comigo, compartilham do meu trabalho”, conta. Mas ela ressalta que a rede de apoio que possui é essencial. “Tenho uma babá que é mais do que meu braço direito, e meu marido ajuda muito também. Não temos que ter vergonha de pedir ajuda. Esse suporte nos permite realizar tudo com mais tranquilidade.” n

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