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década da revista
JOGO DE CENA
O multipremiado ator, diretor, poeta, crítico, escritor e, ufa!, homem chegado a dar seus pitacos na psiquiatria, Fauzi Arap foi um dos grandes nomes no apogeu do teatro nacional
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por fabio dutra
Quem nunca viu corre pro YouTube: Maria Bethânia bem novinha sentada no centro de um palco a declamar: “Eu vou te contar que você não me conhece! / E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve / A sedução me escraviza a você / Ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que eu criei / E não a mim”, e aí emendando lindamente a canção “Um Jeito Estúpido de Te Amar”. O poema é de Fauzi Arap, que, além de rabiscar os versos, é também o grande responsável por criar as antológicas apresentações de Bethânia: mais saraus do que meros shows musicais. Em 1971, foi ele quem concebeu o espetáculo Rosa dos Ventos, trampolim da cantora para o reconhecimento nacional. Mas a essa altura Fauzi Arap já era bamba: protagonista do apogeu das artes cênicas tupiniquim, tinha encantado plateias como ator em montagens históricas no Oficina e no Teatro de Arena. Ele saiu da frente das cortinas precocemente, aos 29 anos, para se dedicar exclusivamente à direção em textos como Dois Perdidos Numa Noite Suja e Navalha na Carne, petardos de Plínio Marcos, sucessos estrondosos nos incendiários anos 1960. E como ser pioneiro na direção de espetáculos musicais, ator e diretor não parecesse suficiente, a partir dos anos 1970 também passou a escrever peças e pensatas sobre o teatro nacional: mais uma tonelada de aplausos. Mas as cortinas sempre descem: Fauzi Arap morreu em 2013. Foi-se o homem, fica a obra. E a lembrança de que ele foi pura poesia. n
FOTO REPRODUÇÃO