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e as dicas do mês

ESTANTE O fotógrafo Bob Wolfenson não se considera um leitor inveterado. “Tem gente que lê muito mais do que eu”, reconhece. Mas, é claro que, para chegar a ser considerado um dos maiores nomes da fotografia de moda, retratos e nus, a coisa não aconteceu assim, por mágica. Ele teve de destrinchar páginas e mais páginas de densa teoria fotográfica de Susan Sontag e Roland Barthes. Ou se deleitar com a intensidade dos enquadramentos do fotógrafo americano Richard Avedon – que está para os Estados Unidos assim como Wolfenson está para o Brasil: ambos clicaram as personalidades mais expressivas de seus países. Diferentemente do habitual, Wolfenson não tem o costume de ler à noite. “Só leio antes de dormir se estiver muito ligado no assunto, porque eu costumo dormir muito rápido.” Os fins de semana, pela manhã, são seus momentos preferidos para ler sobre fotografia, teoria e criação artística. Leituras que ele intercala com história do Brasil, outro assunto que adora. “Tenho o hábito de ler vários livros ao mesmo tempo, pois descanso de um no outro”, explica. O fotógrafo tem se dedicado atualmente a leitura de Brasil: Uma Biografia, de Heloisa Maria Murgel Starling e Lilia Schwarcz – obra baseada em vasta documentação original com a proposta de uma nova história nacional. As autoras tentam ir além de fatos oficiais e se debruçam sobre o cotidiano, as minorias, arte e cultura. Paralelamente, lê a biografia de seu fotógrafo preferido, Richard Avedon, (Avedon: Something Personal) escrita por sua exsecretária Norma Stevens em parceria com o editor Steven Aronson. Além disso, seus gostos literários também têm uma parcela identitária. De ascendência judia, Bob Wolfenson é grande fã do escritor americano Philip Roth, cuja ficção é celebre pelos personagens de famílias judaicas. Filho de pai stalinista, devoto ao “Partidão”, ele cresceu em um ambiente influenciado por ideais comunistas das décadas de 1950 a 1970. Logo, outra questão que o interessa são os desdobramentos dos sistemas totalitários, que seu pai não teve oportunidade de ver.

POR ALINE VESSONI

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A CIDADE E AS SERRAS –

EÇA DE QUEIRÓS

É um livro muito bem escrito. É curioso, porque é um retrato do começo do século 20 que se tornou atemporal, já que ele poderia ser usado para descrever a sociedade contemporânea, sua sede por tecnologia e as dicotomias entre as cidades e o campo. É tão factual que transcende.

SOBRE FOTOGRAFIA – SUSAN SONTAG; A CÂMARA CLARA – ROLAND BARTHES

Para todo mundo que faz fotografia que não seja apenas profissional, esses livros são fundamentais. Para entender que você não está lá só apertando botão.

O HOMEM QUE AMAVA OS CACHORROS – LEONARDO PADURA

Esse título não faz jus ao livro. São três histórias que se cruzam no fim que ficcionalizam a trajetória de Leon Trotsky e de seu assassino. Ele desnuda as crenças ideológicas, esmiúça o totalitarismo e mostra a maldade dos sistemas totalitários.

AVEDON: PHOTOGRAPHS, 1947 - 1977 – RICHARD AVEDON

Esse livro me marcou muito quando foi lançado nos anos 1970. Eu passei a conhecer esse fotógrafo que é o maior nome da moda de todos os tempos. Ele era sinônimo de elegância, determinava o que era o bom e o ruim, o belo e o feio desse métier, e fotografou as grandes modelos da época.

A MARCA HUMANA – PHILIP ROTH

Roth é um dos escritores que mais amo. Ele é judeu, como eu, e tem muito sobre identidade judaica no livro. É sobre a história de um cara que começa branco e termina negro. Além das transformações que suscitariam alguém mudar de cor, é muito bem escrito. É uma obra sobre o absurdo e o absoluto.

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