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CANTO DE PODER
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POR ALINE VESSONI FOTOS BEATRIZ CHICCA
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NA DIANTEIRA O edifício de tijolo à vista tem quatro alas de salas e escritórios, em formato quadrangular, arrematado por um belo jardim central. Para chegar à diretoria da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo é preciso atravessar um corredor com as fotos de todos os diretores que passaram pela direção da faculdade. O cargo hoje é ocupado pela professora Liedi Bernucci – primeira mulher em 124 anos a desempenhar tal função. Trata-se de uma pessoa sem medo de romper paradigmas: quando ela escolheu estudar na Poli, apenas 4% dos estudantes eram mulheres. Esse percentual hoje quintuplicou, mas continua pequeno. “Eu não imagina
1. Mesa de trabalho da nova diretora da Poli, Liedi Bernucci; 2. Reproduções de quadros famosos de Gustav Klimt, Henri Rousseau e Pablo Picasso para serem pendurados; 3. Um Gustav Klimt que já encontrou seu espaço no ambiente; 4. Artesanato; 5. Vista para o jardim em que se destaca uma primavera; 6. e 7. Lembranças de ex-alunos
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va o quanto uma mulher na direção poderia significar para as engenheiras e professoras, para as mulheres em geral. Assim, eu entendo que tenho um novo desafio, o de deixar um bom exemplo. É uma tarefa que eu não acho pesada, mas de muita responsabilidade”, diz a professora.
Comandar a Poli não afastou Liedi das salas de aula, um lugar que ela diz sempre fazer questão de estar. E para dividir seu tempo entre o ensino e a administração, ela contabiliza entre 50 e 60 horas de trabalho semanalmente. Sim, sempre tem um artigo ou outro que precisa ser corrigido em casa. Das 7h30 às 10h, a professora se dedica a seus alunos, dali em diante à diretoria. Sua sala é simples, com boa divisão de espaço entre uma mesa de reuniões, uma escrivaninha em que fica o computador, um armário com livros e um sofá pequeno usado pela professora para leituras mais longas. As paredes são revestidas de madeira escura e decoradas com quadros, alguns deles de temática religiosa. Embora não frequente templos, a
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professora gosta de iniciar seu dia de trabalho com uma oração. “Acho muito importante ter fé e acreditar que as coisas vão dar certo. Gosto de olhar pelo ângulo positivo e valorizar as coisas boas. O meu dia começa com uma oração, em que eu sempre peço para ser justa com as pessoas.”
Além da fé e da pitada de otimismo, o que não pode faltar em seu ambiente de trabalho são flores. Um vaso aqui, outro ali, e uma vista incrível para o jardim – em que uma primavera rosa carregada é a grande estrela. Os pouquíssimos registros fotográficos emoldurados foram todos presentes de alunos. A explicação é um dos “bons exemplos” que Liedi teve em sua vida, seu orientador. “Ele era suíço e adorava estudar [Carl Gustav] Jung e o comportamento humano. E todas as vezes em que se deparava com uma tese em que o autor colocava uma foto de si na contracapa, ele achava estranho do ponto de vista psicológico. Para ele, isso significava que o autor gostava mais de si próprio, e, para ser um bom engenheiro, era preciso gostar do mundo”, diverte-se ela. n