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PREFÁCIO

Oartista é um criador de coisas belas. Revelar a obra e ocultar o artista é o objetivo da arte. O crítico é aquele que consegue traduzir, de outra maneira ou para um novo material, sua sensação das coisas muito bonitas.

A crítica, tanto a mais elevada quanto a mais baixa, é uma forma de autobiografia. Aqueles que encontram significados feios em coisas belas corrompem-se sem serem encantadores. Isso é um defeito.

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Aqueles que encontram significados belos em coisas belas são cultos. Para eles, há esperança. São os eleitos, para quem as coisas belas denotam apenas beleza.

Não existem livros morais ou imorais. Livros são bem escritos ou mal escritos. Isso é tudo.

A antipatia do século XIX pelo Realismo é a raiva de Caliban1 ao ver a própria face no espelho.

A antipatia do século XIX pelo Romantismo é a raiva de Caliban ao não ver a própria face no espelho. A vida moral do homem faz parte do tema do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista deseja provar nada. Até mesmo coisas verdadeiras podem ser provadas. Nenhum artista tem afinidades éticas. Uma afinidade ética em um artista é uma presunção de estilo imperdoável. O artista nunca é mórbido. O artista pode expressar qualquer coisa. Para ele,

1 Caliban (ou Calibã) é um escravizado selvagem e disforme, personagem da peça A Tempestade (1610), de William Shakespeare. (N. do T.)

pensamento e linguagem são instrumentos de uma obra. Vício e virtude são, para o artista, materiais para uma obra. Do ponto de vista da forma, o arquétipo de todas as artes é a arte do músico. Do ponto de vista da emoção, o ofício do ator é o arquétipo. Toda arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Aqueles que vão além da superfície fazem-no por sua própria conta e risco. Aqueles que leem o símbolo fazem-no por sua própria conta e risco. É no espectador, e não na vida, que a arte se espelha. A diversidade de opiniões a respeito de uma obra de arte revela o quão nova, complexa e vital ela é. Quando os críticos discordam, o artista está de acordo com sua essência. Podemos perdoar um homem por fazer alguma coisa útil, contanto que ele não a admire. A única desculpa para se fazer uma coisa inútil é admirá-la intensamente.

Toda arte é completamente inútil.

Oscar Wilde

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