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CAPÍTULO 18

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CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 17

No dia seguinte, ele não saiu da casa e, de fato, passou a maior parte do tempo no seu quarto, adoecido com um medo feroz de morrer e, ainda assim, indiferente à vida em si. A convicção de que era caçado, capturado, perseguido começara a dominá-lo. Se a tapeçaria balançava com o vento, ele estremecia. As folhas mortas que eram sopradas contra as vidraças enclausuradas pareciam-lhe suas próprias resoluções desperdiçadas e seus arrependimentos desgovernados. Quando fechava os olhos, via novamente o rosto do marinheiro espiando através do vidro manchado pela névoa, e o horror parecia uma vez mais pousar a mão sobre seu coração. Mas talvez tenha sido apenas sua imaginação que chamara a vingança através da noite e colocara aquelas horrendas formas de punição diante dele. A vida real era caótica, mas havia algo terrivelmente lógico na imaginação. Foi ela que criou o remorso para correr atrás do pecado. Era ela que fazia com que cada crime gerasse sua deformada prole. No mundo ordinário dos fatos, os maus não eram punidos, nem os bons recompensados. O sucesso era concedido aos fortes e o fracasso era impelido aos fracos. Isso era tudo. Além disso, se algum estranho estivesse rondando a casa, ele teria sido visto pelos criados ou pelos caseiros. Caso alguma pegada tivesse sido encontrada nos canteiros de flores, os jardineiros teriam lhe comunicado. Sim, tinha sido apenas sua imaginação. O irmão de Sibyl Vane não voltara para matá-lo. Ele partira em seu navio para naufragar em algum mar gelado. Com relação a ele, de qualquer forma, estava seguro. Ora, o homem não sabia quem ele era, não poderia saber. A máscara da juventude salvara-o.

Mas, mesmo tendo sido uma mera ilusão, como era terrível pensar que a consciência pudesse despertar fantasmas tão terríveis, dando-lhes formas visíveis e fazendo-os mover-se diante de nós! Que tipo de vida ele teria se, dia e noite, as sombras de seu crime espreitassem-no de cantos silenciosos, caçoassem dele de lugares secretos, sussurrassem em seu ouvido enquanto ele participava de um banquete, despertassem-no com dedos gélidos enquanto ele dormia! À medida que esse pensamento lhe penetrava no cérebro, ele empalidecia de terror, e o ar parecia-lhe tornar-se subitamente mais frio. Ó, em que hora de loucura descontrolada ele matara o amigo! Como era horrorosa a mera lembrança daquela cena! Ele reviu tudo mais uma vez. Cada horrendo detalhe voltava-lhe à mente com horrores adicionais. Da negra caverna do tempo, terrível e envolta em escarlate, erguia-se a imagem de seu pecado. Quando Lorde Henry adentrou o quarto, às seis horas, encontrou-o chorando como alguém cujo coração estava prestes a despedaçar-se.

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Foi apenas no terceiro dia que ele se aventurou a sair. Havia algo no ar límpido com odor de pinho daquela manhã de inverno que parecia lhe trazer de volta sua alegria e seu entusiasmo pela vida. Mas não foram apenas as condições físicas do ambiente que lhe causaram tal mudança. Sua própria natureza revoltou-se contra o excesso de angústia que procurava mutilar e arruinar a perfeição de sua tranquilidade. Isso sempre acontece com temperamentos sofisticados e finamente trabalhados. Suas fortes paixões devem ferir ou subjugar-se. Ou elas matam o homem ou a si mesmas. Dores e amores superficiais continuam vivos. Os grandes amores e as grandes dores são destruídos pela própria plenitude. Além disso, ele estava convencido de que fora vítima de uma imaginação acometida pelo terror e agora olhava para seus medos do passado com um pouco de dó e bastante desprezo.

Depois do café da manhã, ele caminhou com a duquesa no jardim por uma hora e então atravessou o parque para juntar-se

ao grupo de caça. A fria geada caía como sal sobre a grama. O céu assemelhava-se a uma xícara de metal azul de cabeça para baixo. Uma fina camada de gelo rodeava o lago raso e repleto de junco.

Em um canto do bosque de pinheiros, ele avistou Sir Geoffrey Clouston, o irmão da duquesa, retirando dois cartuchos usados de sua arma. Ele saltou da charrete e, depois de mandar o cavalariço levar a égua de volta, foi até seu hóspede através das samambaias ressecadas e do mato irregular. — Tem tido uma boa caçada, Geoffrey? — perguntou ele. — Não tão boa, Dorian. Acho que a maior parte dos pássaros foi para céu aberto. Ouso dizer que será melhor depois do almoço, quando formos para outro terreno.

Dorian caminhou ao seu lado. O ar penetrante e perfumado, as luzes marrons e vermelhas cintilando no bosque, os gritos roucos dos batedores ressoando de tempos em tempos, seguidos dos estalos agudos das armas, tudo isso fascinava-lhe e enchia-o de uma deliciosa sensação de liberdade. Ele dominou-se pela desatenção da felicidade, pela forte indiferença da alegria.

Subitamente, de um amontoado de grama velha a cerca de vinte metros à sua frente, com as orelhas de pontas pretas eretas e avançando sobre os longos membros traseiros, surgiu uma lebre. Ela disparou rumo a um bosque de amieiros150. Sir Geoffrey colocou a arma no ombro, mas havia algo no movimento gracioso do animal que encantou Dorian Gray de uma forma tão inusitada que ele gritou imediatamente: — Não o mate, Geoffrey. Deixe-o viver. — Que tolice, Dorian! — riu seu companheiro e, enquanto a lebre saltava para dentro do bosque, ele atirou. Ouviu-se dois

150 Árvore típica da Europa, do sudoeste da Ásia e do norte da África. (N. do T.)

gritos, o grito de dor de uma lebre, que é terrível, e o grito de um homem em agonia, que é ainda pior. — Por Deus! Acertei um batedor! — exclamou Sir Geoffrey. — Que espécie de idiota se colocaria na frente das armas? Parem de atirar aí! — ordenou o mais alto que pôde. — Um homem está ferido.

O líder dos guarda-caças veio correndo com uma vara na mão. — Onde, meu senhor? Onde está ele? — gritou. Ao mesmo tempo, os tiros haviam cessado por toda a linha. — Aqui — respondeu Sir Geoffrey com raiva, correndo na direção do bosque. — Por que diabos você não mantém seus homens na retaguarda? Acabou com a minha caçada pelo resto do dia.

Dorian observava-os enquanto eles mergulhavam no bosque de amieiros, afastando os galhos mais frágeis, agitados pelo vento. Em alguns instantes emergiram de volta arrastando atrás de si um corpo para a luz do sol. Ele virou-se horrorizado. Teve a impressão de que a desgraça o acompanhava por onde quer que fosse. Ouviu Sir Geoffrey perguntar se o homem estava realmente morto e a resposta afirmativa do guarda-caças. Subitamente, o bosque parecia ter ganhado vida, ficando repleto de rostos. Ouviu o pisotear de uma multidão de pés e o zumbido baixo de vozes. Um imenso faisão de peito acobreado veio voando entre os galhos acima dele.

Depois de alguns instantes — que lhe pareceram, dado seu estado transtornado, como horas infindáveis de dor —, ele sentiu uma mão pousada em seu ombro. Tomou um susto e olhou ao redor. — Dorian — disse Lorde Henry —, é melhor que eu lhes diga que a caçada será interrompida pelo resto do dia. Não seria apropriado continuar. — Gostaria que fosse interrompida para sempre, Harry — respondeu, com amargor. — A coisa toda é hedionda e cruel. O homem está...?

Ele não pôde terminar a frase.

— Receio que sim — retrucou Lorde Henry. — Recebeu todo o impacto do tiro no peito. Deve ter morrido quase que instantaneamente. Venha; vamos para casa.

Caminharam lado a lado sem falar nada, na direção da alameda, por quase cinquenta metros. Então Dorian olhou para Lorde Henry e disse, com um longo suspiro: — Isso é um mau presságio, Harry, um péssimo presságio. — O quê? — perguntou Lorde Henry. — Ah, esse acidente, presumo. Meu querido amigo, não há o que fazer. Foi culpa do próprio homem. Por que ele se meteu na frente das armas? Além disso, não temos nada a ver com isso. É bastante embaraçoso para Geoffrey, claro. Não é de bom tom alvejar batedores. As pessoas vão pensar que se tem uma péssima pontaria. E não é o caso de Geoffrey; ele é um excelente atirador. Mas é inútil falar sobre esse assunto.

Dorian balançou a cabeça. — É um mau presságio, Harry. Sinto como se algo horrível fosse acontecer com algum de nós. Comigo, talvez — acrescentou, passando a mão sobre os olhos, com um gesto de dor.

O homem mais velho riu. — A única coisa horrível no mundo é o tédio, Dorian. Esse é o único pecado para o qual não há perdão. Mas não é muito provável que soframos disso, a não ser que esses sujeitos continuem tagarelando sobre isso no jantar. Direi-lhes que tal assunto deve tornar-se tabu. Quanto aos presságios, eles não existem. O destino não nos envia arautos. Ele é sábio demais, ou cruel demais, para tanto. Além disso, que diabos poderia acontecer com você, Dorian? Você tem tudo que um homem pode desejar no mundo. Não existe ninguém que não adoraria trocar de lugar com você. — Não há ninguém com quem eu não trocaria de lugar, Harry. Não ria assim. Estou lhe dizendo a verdade. O camponês miserável que acabou de morrer está melhor do que eu. Não tenho medo da morte. É a aproximação da morte que me apavora. Suas asas monstruosas parecem girar no pesado ar ao meu redor. Meu Deus! Você

não vê um homem movendo-se atrás das árvores ali, à espreita, esperando por mim?

Lorde Henry olhou na direção indicada pela mão enluvada e trêmula. — Sim — disse ele, sorrindo —, vejo o jardineiro esperando por você. Suponho que ele queira perguntar-lhe que flores gostaria de ter na mesa esta noite. Como você está ridiculamente nervoso, meu querido amigo! Você deve ir ver meu médico quando voltarmos para a cidade.

Dorian suspirou aliviado ao ver o jardineiro aproximando-se. O homem tocou o chapéu, olhou por um momento para Lorde Henry com certa hesitação e, então, revelou uma carta, entregando-a a seu patrão. — A senhora pediu-me para esperar por uma resposta — ele murmurou.

Dorian colocou a carta no bolso. — Diga à senhora que já vou entrar — disse friamente. O homem virou-se e avançou com rapidez na direção da casa. — Como as mulheres apreciam fazer coisas perigosas! — riu Lorde Henry. — É uma de suas qualidades que mais admiro. Uma mulher flertará com qualquer pessoa no mundo, contanto que outros estejam olhando. — Como você aprecia dizer coisas perigosas, Harry! Na situação presente, você se encontra bastante enganado. Gosto muito da duquesa, mas não a amo. — E a duquesa o ama muito, mas não gosta tanto de você, o que faz de vocês uma combinação perfeita. — O que você está dizendo é uma infâmia, Harry e, nesse caso, não há nenhum motivo para infâmia. — A base de toda infâmia é uma certeza imoral — disse Lorde Henry acendendo um cigarro.

— Você sacrificaria qualquer um, Harry, em prol de um epigrama. — O mundo encaminha-se para o sacrifício por conta própria — foi a resposta. — Gostaria de poder amar — exclamou Dorian Gray com uma profunda nota de compaixão em sua voz. — Mas pareço ter perdido a paixão e esquecido do desejo. Estou concentrado demais em mim mesmo. Minha própria personalidade tornou-se um fardo para mim. Quero fugir, ir embora, esquecer. Foi tolice minha ter vindo para cá. Acredito que deva enviar um telegrama para Harvey pedindo-lhe que apronte o iate. Em um iate, estamos a salvo. — A salvo de que, Dorian? Você está com problemas. Por que não me diz do que se trata? Sabe que eu o ajudaria. — Não posso lhe dizer, Harry — ele respondeu com tristeza. — E ouso afirmar que é apenas minha imaginação. Esse lamentável acidente perturbou-me. Tenho um terrível pressentimento de que algo do tipo pode acontecer comigo. — Que tolice! — Espero que seja, mas não consigo evitar essa sensação. Ah, aí está a duquesa, parecendo Ártemis151 em um vestido feito sob medida. Pode ver que já voltamos, duquesa. — Fiquei sabendo de tudo, sr. Gray — ela respondeu. — O pobre Geoffrey está terrivelmente aborrecido. E parece que você lhe pedira para não atirar na lebre. Que curioso! — Sim, foi muito curioso. Não sei o que me levou a fazê-lo. Algum capricho, suponho. Ela parecia a mais adorável das criaturinhas vivas. Mas sinto que tenham lhe contado sobre o homem. É um assunto tão horrível.

151 Deusa da caça, da Lua, da castidade, do parto e dos animais selvagens. É uma das mais veneradas divindades da mitologia grega e, na mitologia romana, é chamada de Diana. (N. do T.)

— É um assunto desagradável — interrompeu Lorde Henry. — Mas não tem absolutamente nenhum valor psicológico. Agora, se Geoffrey tivesse atirado de propósito, como seria interessante! Gostaria de conhecer alguém que tivesse cometido um assassinato de verdade. — Que horrendo de sua parte, Harry! — exclamou a duquesa. — Não é, sr. Gray? Harry, o sr. Gray está adoentado novamente. Está a ponto de desmaiar.

Dorian endireitou-se com esforço e sorriu. — Não é nada, duquesa — murmurou ele; — meus nervos estão terrivelmente descontrolados. Apenas isso. Receio ter caminhado até muito longe esta manhã. Não ouvi o que Harry disse. Ele foi muito mau? Deve me dizer alguma outra hora. Acho que devo ir deitar-me. A senhora vai perdoar-me, não vai?

Haviam chegado ao grande lance de escadas que levava da estufa ao terraço. Quando a porta de vidro fechou-se atrás de Dorian, Lorde Henry virou-se e olhou para a duquesa com seus olhos sonolentos. — Está muito apaixonada por ele? — ele perguntou.

Ela ficou alguns instantes sem responder, apenas admirando a paisagem. — Gostaria de saber — disse, afinal.

Ele balançou a cabeça. — A certeza pode ser fatal. É a incerteza que nos encanta. Uma névoa torna tudo maravilhoso.

— Mas pode-se perder o caminho. — Todos os caminhos levam ao mesmo ponto, minha querida Gladys. — E que ponto é esse? — A desilusão.

— Foi como iniciei minha vida — ela suspirou. — Ela veio-lhe com um título.

— Estou cansada de folhas de morango152 . — Elas tornam-se sua identidade.

— Apenas em público. — Você sentiria falta delas — disse Lorde Henry. — Não vou desfazer-me das pétalas. — Monmouth tem ouvidos.

— Os velhos estão fartos de ouvir.

— Ele nunca sentiu ciúmes?

— Quem dera tivesse.

Ele olhou ao redor como se procurasse algo. — O que está procurando? — ela perguntou. — A ponta do seu florete153 — respondeu ele. — Você a deixou cair.

Ela riu.

— Mas ainda tenho a máscara.

— E ela torna seus olhos ainda mais encantadores — foi sua resposta.

Ela riu novamente. Seus dentes à mostra pareciam sementes brancas em um fruto escarlate.

No andar de cima, em seu próprio quarto, Dorian Gray estava deitado em um sofá, com cada fibra de seu corpo formigando de terror. Subitamente, a vida tinha se tornado um fardo muito horrível de suportar. A pavorosa morte do batedor infeliz, abatido em um matagal como um animal selvagem, parecia-lhe prever sua própria morte. Ele quase desmaiou ao ouvir o que Lorde Henry dissera com um tom casual e cínico de chacota.

152 Símbolo do ducado e, por extensão, de um duque ou duquesa. (N. do T.) 153 Uma das três armas utilizadas na esgrima. (N. do T.)

Às cinco horas, ele tocou a sineta chamando o criado e deu-lhe ordens para arrumar sua bagagem para o expresso noturno rumo à cidade e aprontar a carruagem para partir às oito e meia. Estava determinado a não dormir nem mais uma noite em Selby Royal. Era um lugar de mau agouro. A morte caminhara por ali em plena luz do sol. A grama da floresta fora manchada com sangue.

Então escreveu um bilhete para Lorde Henry dizendo-lhe que iria para a cidade consultar seu médico e pedindo-lhe que entretivesse seus convidados na sua ausência. Enquanto o colocava no envelope, alguém bateu à porta e seu criado informou-lhe que o líder dos guarda-caças queria vê-lo. Ele franziu a testa e mordeu o lábio. — Mande-o entrar — murmurou ele, após alguns instantes de hesitação.

Assim que o homem entrou, Dorian tirou seu talão de cheques de uma gaveta e estendeu-o à sua frente. — Suponho que tenha vindo para tratar do infeliz acidente desta manhã, Thornton — disse, tomando uma caneta. — Sim, senhor — respondeu o guarda-caças. — O pobre rapaz era casado? Havia pessoas que dependiam dele? — perguntou Dorian, parecendo entediado. — Se houver, não gostaria que fossem abandonados à própria sorte e irei enviar-lhes qualquer quantia em dinheiro que você achar necessária. — Não sabemos quem ele é, meu senhor. Por isso tomei a liberdade de vir falar com o senhor a esse respeito. — Não sabem quem ele é? — disse Dorian, com indiferença. — O que quer dizer? Ele não é um de seus homens? — Não, senhor. Nunca o vimos antes. Parece um marinheiro, senhor.

A caneta caiu da mão de Dorian Gray e ele sentiu como se o coração houvesse parado subitamente de bater.

— Um marinheiro? — ele exclamou. — Você disse um marinheiro?

— Sim, senhor. Ele parece ter sido alguma espécie de marinheiro; tem tatuagens nos dois braços e todo esse tipo de coisas. — Foi encontrada alguma coisa com ele? — disse Dorian, inclinando-se para a frente e olhando para o homem com olhos perplexos. — Algo que possa revelar seu nome? — Algum dinheiro, meu senhor, não muito, e um revólver de seis tiros. Não havia nenhuma identificação de nenhuma espécie. Um homem com aparência decente, mas rude, meu senhor. Acreditamos ser algum tipo de marinheiro.

Dorian pôs-se de pé imediatamente. Uma terrível esperança tremulou à sua frente. Agarrou-se nela loucamente. — Onde está o corpo? — exclamou ele. — Rápido! Devo vê-lo imediatamente. — Está em um estábulo vazio na sede da fazenda, meu senhor. O povo não gosta de ter esse tipo de coisa em suas casas. Dizem que um corpo traz azar. — Na sede da fazenda! Vá para lá imediatamente e o encontrarei em seguida. Diga a um dos cavalariços para trazer meu cavalo. Não. Não há necessidade. Vou eu mesmo para o estábulo. Ganhará tempo.

Em menos de quinze minutos, Dorian Gray estava galopando pela longa alameda tão rápido quanto podia. As árvores pareciam passar por ele como uma procissão fantasmagórica e sombras furiosas atiravam-se em seu caminho. Em certo momento, a égua virou bruscamente em direção a uma porteira branca, quase arremessando-o ao chão. Ele a chicoteou no pescoço com seu açoite. Ela partiu o ar sombrio como uma flecha. As pedras voavam de seus cascos.

Por fim, chegou à sede. Dois homens estavam sem fazer nada no pátio. Ele saltou da sela e jogou as rédeas para um deles. No estábulo mais distante, uma luz tremia. Algo parecia dizer-lhe que o corpo estava ali, e ele correu para a porta, colocando a mão sobre o trinco.

Parou por um instante, sentindo que estava a ponto de descobrir algo que iria refazer ou arruinar sua vida. Então, abriu a porta com um empurrão e entrou.

Sobre uma pilha de sacos no canto oposto estava o cadáver de um homem vestido com uma camisa ordinária e calças azuis. Um lenço manchado fora colocado sobre o rosto. Uma vela grosseira, presa a uma garrafa, crepitava ao seu lado.

Dorian Gray estremeceu. Sentiu que não poderia ser a sua mão a tirar o lenço e chamou um dos empregados da fazenda. — Tire essa coisa do rosto dele. Quero vê-lo — disse apoiando-se no batente da porta.

Quando o empregado afastou o lenço, ele deu um passo à frente. Um grito de alegria irrompeu de seus lábios. O homem que fora atingido no bosque era James Vane.

Ele ficou ali por alguns minutos olhando para o corpo inerte. Ao cavalgar de volta à casa, seus olhos encheram-se de lágrimas, pois sabia que estava seguro.

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