Viver 157 - Novembro 2020

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VIVER conecta COM PAULA ABBAS

O revival do encasulamento

A

casa tornou-se o centro da vida da maioria dos habitantes do Planeta: escola dos filhos, home office, lugar onde exercitar-se, cozinhar e limpar. O lugar do cuidado, sem descanso, com a saúde e bem-estar dos entes queridos. Não podemos controlar as ruas, mas podemos controlar tudo o que acontece dentro de nossos lares, pelo menos assim pensamos ultimamente. O termo cocooning, que significa “escasular-se”, foi usado pela pesquisadora de tendências Faith Popcorn, nos anos 80, para falar de uma macrotendência que começou no pós-guerra e foi ganhando corpo com o desenvolvimento das metrópoles. Cocooning é o movimento de recolher-se em casa, ou em locais fechados, na busca por proteção contra a violência das cidades. Quanto mais medo, maior o recolhimento. A casa se desenvolve como espaço de acolhimento e segurança para as relações sociais. Como resquícios desse tempo, os imóveis ganham áreas íntimas cada vez mais compartimentalizadas e individualizadas, e áreas sociais cada vez mais integradas. No fim dos anos 2010, no Brasil diversos grupos jovens lideraram movimentos de retomada dos espaços públicos, em resposta ao excesso de encasulamento. Encapsular-se, foi se tornando cada vez mais uma opção, sendo exercitada juntamente ao direito de desfrutar de momentos de ócio ao ar livre, em praças públicas e na liberdade das ruas da cidade. Mas de repente, em resposta à pandemia, fomos chamados a nos

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encapsular novamente. E assim, a casa tornou-se um bunker. Segundo Popcorn, “a segurança é apenas um aspecto do encasulamento. Ele tem a ver com a família; com o conforto e o sentimento de que no lugar onde moramos somos aceitos tal como somos. Um lugar que até é decorado da maneira como gostamos. Essa é a tendência que fala de conforto, segurança, e também de estar só, mas sentindo-se bem e plenamente identificado consigo mesmo.” Tempos difíceis geram necessidade de afeto. A casa como lugar de afeto, hoje, se estabelece como macrotendência. Isso significa que a relação com a casa será cada vez mais psicológica e pessoal. Símbolos tradicionais de status, dão lugar a relações muito mais sensuais com móveis e utensílios domésticos. A casa precisa estar preparada para abraçar, para dar a cada um dos habitantes lugar para contemplar, se recolher, se expandir, e se relacionar. A maioria das casas ainda não estão preparadas para atender aos novos modelos de trabalho, de convivência, de estudo, e de individualidade, que surgem com a era pós-industrial e que se aceleram com a pandemia. Qual o papel da tecnologia nesse momento? Qual a função dos móveis? O que é necessário para socializar ou estar sozinho e bem em casa? A casa está se transformando, um espaço por vez. Repense cada aspecto de sua vida, ressignifique, olhe com carinho para o que já mudou, e busque ajustar em sua casa um cantinho para cada pedaço de você.

Paula Abbas pesquisadora de tendências e consultora em design estratégico. Trabalha com projetos de inovação para empresas, pessoas e cidades.

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