Viver 157 - Novembro 2020

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VIVER conecta COM JEAN SIGEL

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Não fomos feitos para ficar parados

eu avô me dizia: não fomos feitos para ficar parados. Ele empreendedor, contador de histórias e curioso pelo mundo. Junto com minha avó, viajaram o planeta e chegavam a sair de casa por 120 dias em jornadas épicas pelos continentes. Suas histórias até hoje ecoam. Venho de uma família viajante, desde meu bisavô imigrante até minhas filhas que já experimentaram vários destinos. Viajar e se mover sempre fez parte de nossa história e minha avó sempre dizia que viagem não é despesa, é investimento. Mas o que isso tem a ver com o momento atual, em que todos, ou muitos de nós,estamos vivendo enclausurados em casa e não podemos viajar? Tivemos que aprender a não ficar parados dentro da nossa própria casa para podermos nos adaptar. E a viajar de dentro para fora. Afinal, o espírito humano precisa da viagem, do desafio, do movimento. Evoluímos assim. Quando a pandemia nos obrigou ao recolhimento em nossa casa, pensei: temos uma boa casa, num bairro tranquilo, um jardim e um cachorro. Somos gratos por isso. Mas após 30 dias, resolvemos nos movimentar, não por tédio, mas pela necessidade e oportunidade de explorar algo novo, mesmo com restrições dentro da rotina. Fomos a São Francisco do Sul – SC e decidimos morar por alguns dias na pequena e quase deserta praia de Ubatuba. Acabamos ficando 80 dias. Minhas filhas estudando online, e eu e minha esposa com nossos trabalhos remotos. Logo depois nos movimentamos de novo. Fomos para a Ilha do Mel, num pequeno refúgio da minha família, para continuar nossa quarentena na ativa. Já são 4 meses nesse novo modo de viver. Quando partimos, levamos pouca roupa, pois a ideia era apenas alguns dias. Fomos ficando e vimos que a pouca roupa, era mais que suficiente. Um bom wi-fi era tudo que precisávamos para o trabalho e estudos. Não tínhamos o conforto de nossa casa em Curitiba, uma TV smart, os aplicativos de facilidades instantâneas, nem os mercados com variedade

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Jean Sigel é pai de duas meninas, empreendedor por natureza e Co-fundador da Escola de Criatividade. Autor de O Melhor da Vida Simples e de Graça – e um dos autores do O Grande Livro da Criatividade

enorme de produtos. Mas tínhamos praia livre, pedras e trilhas, pássaros, siris, peixe fresco, silêncio e pôr do sol todo dia, escancarado e belo. Nos adaptamos maravilhosamente a essas novas “casas”. Tudo por aqui é mais barato, mais simples, mais saudável e mais belo. O tempo das coisas é outro, mas mesmo assim a tecnologia nos permite falar com o mundo. Aí você deve pensar, “ahhh mas na Ilha do Mel? Até eu!” Morar em lugares paradisíacos, pode ser bem complexo para a maioria das pessoas. É preciso disciplina e disposição para viver e trabalhar no paraíso. Na ilha então, não há carros, grandes mercados e para tudo é preciso caminhar ou pedalar. Além disso, não estamos de férias. Afinal, as contas chegam, os clientes esperam e as responsabilidades continuam com os estudos das filhas e nosso trabalho. Paraíso, estudo e trabalho, tudo ao mesmo tempo era novidade também pra gente. Mas temos tirado de letra. Talvez porque sempre nos movimentamos e em família já fomos a lugares que para muitos seria roots demais para levar os filhos. Ajustamos horários e definimos regras e tarefas para que todos colaborem. Cumprimos metas e reuniões de trabalho online, mas também temos tempo de ver o nascer do sol, correr na praia deserta entre uma call e outra e nos permitirmos ajudar a puxar a rede de pesca no meio do dia. Quando nômades, seres humanos se movimentavam, des-


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