Viver 157 - Novembro 2020

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VIVER conecta COM MARCOS MEIER

Construa a sua fortaleza

A

casa da minha infância era de madeira. Infelizmente caindo aos pedaços, pois meu pai não ganhava quase nada com seu trabalho de fotógrafo de cidadezinha do interior. A gente era tão pobre que um dia uma vizinha, em situação financeira parecida, nos trouxe pão velho. A gente comia com margarina “raspada” no pão para que durasse mais dias. Uma pitada de açúcar em cima para ficar mais gostoso. Acho que naquela época nunca tive uma roupa nova, pois usava as do meu irmão mais velho quando nele não cabiam mais. E depois de mim ainda havia mais dois que as usariam. Minha irmã “se salvava”, pois não havia meninas mais velhas. Nossos brinquedos? Todos inventados, criados por nós mesmos. Latas amarradas em arame para brincar de “rolo compressor”, pipas feitas de jornal e cola de trigo, pois cola branca era coisa de rico. E éramos felizes. E o que mais me marcou naquela casa, era o que minha mãe fazia em dia de tempestade. Todos nós nos vestíamos para sair. Quem tinha tênis ou sapato tinha que colocar, os outros iam de chinelo mesmo. E sabe por que? Porque o risco de destelhamento era grande, chovia em todos os cômodos, goteiras enormes. Nós ficávamos embaixo da mesa da cozinha brincando. Ali era nosso lugar protegido. A gente via que a mãe estava tensa, preocupada correndo por todos os cantos colocando potes e panelas nas goteiras, mas a gente sentia paz. Não tínhamos medo, pois a mãe sabia o que fazer. Suas palavras nos acalmavam: “Logo passa, é só uma tempestade”. E passava.

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Marcos Meier é palestrante e escritor. Vale a pena conferir seu canal no Youtube

Quando vejo crianças em pânico porque não receberam o que queriam, ou que ouviram um “espere” e não suportaram, ou berrando numa tentativa de manipular os pais, fico pensando: “Esses pais ainda não aprenderam a criar um ambiente seguro para seus filhos”. E isso não tem nada a ver com o tamanho ou estado da casa, se tem um telhado forte ou não, se chove dentro ou não. Tem a ver com uma mamãe, ou papai, dizendo “Calma filho. Não tenha medo, eu estou aqui”. Ou “Não precisa gritar nem espernear, é “não e pronto!”. Essa segurança de pais que sabem o que estão fazendo, traz paz. E os filhos terão aquela doce sensação de que são amados de verdade.


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