Reflexões Educacionais Profissionais
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
Volume 2
ISBN 978-85-5953-037-7
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788559
530377
Daniele Fernanda da Silva (Organizadora)
ReflexĂľes Educacionais Profissionais Volume 2
Daniele Fernanda da Silva (organizadora)
2018
Copyright © 2018 – Todos os direitos reservados.
R3326r Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2 / organizadora: Daniele Fernanda da Silva. São Carlos, 2018.
90 p. ISBN 978-85-5953-037-7 1. Educação. 2. Educação Infantil. 3. Alfabetização. 4. Ensino. I. Org. II. Título. CDD 370
Revisão, Editoração, e-pub e impressão:
Rua Juca Sabino, 21 – São Carlos, SP (16) 3364-3346 | (16) 9 9285-3689 www.editorascienza.com.br gustavo@editorascienza.com
Sumário Sobre os Autores....................................................................................... 5 O Planejamento na Educação Infantil........................................................ 9
Ana Carolina Misale de Simone A Alfabetização e a Inclusão da Criança Autista no Primeiro Ano do Ensino Fundamental................................................................................ 11
Ana Cecília Vicenssote Bueno Como Identificar um Possível Autista na Educação Infantil...................... 13
Ana Lucia Soares Diversidade na Educação Infantil............................................................ 16
Andreia Aparecida Gonçalves Ramos Pra que rotina?....................................................................................... 18
Andrea Maria Alves Pinto Gomes Por Que e Como se Trabalhar com Projetos na Educação Infantil?.......... 21
Camila Cristina Barbosa Barros Piaget e o Desenvolvimento Infantil........................................................ 24
Carla Aparecida Conti Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade: Consequências para o Rendimento Escolar e para Vida Social................................................... 27
Carolina Balbino Inclusão e Diversidade na Escola............................................................ 31
Daiana Branco Manfio Ponce Jogos e Brincadeiras: Ensinando Conteúdos Matemáticos na Educação Infantil..................................................................................... 33
Eliane Cristina Martins de Castro A Importância da Leitura na Educação Infantil........................................ 38
Elizandra Aparecida Luiz A Contação de História e suas Etapas no Desenvolvimento da Criança da Educação Infantil..................................................................................... 42
Esleide de Cassia Rodrigues
A Importância do Projeto Político Pedagógico.......................................... 46
Flaviane Gomes da Costa A Reciclagem no Processo Educacional.................................................... 48
Janaina de Oliveira Vieira Feliciano A Abordagem de Reggio Emilia............................................................... 50
Jucimare Carina Pessan Pinheiro A Brincadeira e seu Processo Histórico.................................................... 54
Juliana Cristina Sgobe Guerreiro A Mordida na Educação Infantil.............................................................. 59
Karem Rodrigues O Papel Social da Educação Infantil........................................................ 61
Luciana Arruda Minuchelli Literatura na Educação Infantil................................................................ 63
Luciana Marcondes Cesar O Cuidar e Educar na Educação Infantil.................................................. 66
Marcia Elisa Canova Bedendo Educação Ambiental na Educação Infantil............................................... 71
Michele Yabuki Neurociência e Educação e Aprendizagem............................................. 74
Mirela Mayume Yabuki Pizelli Musicalização na Educação Infantil......................................................... 77
Renata Correa Dorta de Oliveira Um Pouco mais Sobre TDAH................................................................... 79
Shirley Gava O Autista e seu Direito Social.................................................................. 81
Solange dos Santos Pereira da Costa A Importância da Leitura na Educação Infantil........................................ 84
Vania Maria Piassi Pereira do Amaral Tipos de TDAH e como Proceder em Sala de Aula................................... 87
Wirley Regina Marchi
Sobre os Autores Ana Carolina Misale de Simone Licenciada em Pedagogia pelo Centro Universitário Central Paulista (UNICEP) e em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Educação Infantil pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Especialista em Psicopedagogia pela Universidade de Franca (UNIFRAN), Especialista em Ética, valores e saúde, com ênfase em epilepsia pela Universidade de São Paulo (USP). Ana Cecília Vicenssote Bueno Professora na rede municipal de Ensino de São Carlos desde 2004. Atualmente atuando no ensino Fundamental. Ana Lucia Soares Cursou Magistério, formada em Pedagogia, especialista em Psicopedagogia E Educação Escolar pelo Centro Universitário Paulista (UNICEP). Atua na rede Municipal de Ensino de São Carlos. Andreia Aparecida Gonçalves Ramos Formada em Pedagogia e Letras . Especialista em Psicopedagogia Institucional e Educação Ambiental. Atualmente lecionando na Prefeitura Municipal de São Carlos, educação infantil. Andrea Maria Alves Pinto Gomes Formada em Pedagogia pela Cenro Universitário Universidade UNICEP, atua como professora na rede Municial de São Carlos. Camila Cristina Barbosa Barros Pedagogia pelo Centro Universitário Central Paulista (UNICEP), Especialista em Educação Especial em Deficiência Intelectual pela Faculdade Campos Elíseos FCE. Carla Aparecida Conti Graduada em Letras e Pedagogia. Especialista em Educação Infantil. Formação inicial: Magistério. Atua na rede municipal de Ensino, São CarlosSP e na Rede Municipal de Descalvado – SP. Carolina Balbino Formada em magistério pelo CEFAM, graduada em Farmacêutica pela UNICEP, Ciências Físicas e Biológicas pela UNIFRAN, Especialista em Direito Educacional pela Faculdade São Luis, Especialista em Gestão Escolar pela UNICID. Atualmente atua como professora na Educação Infantil da rede Municipal de São Carlos. |5
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Daiana Branco Manfio Ponce Graduada em Pedagogia e História, realizou pós graduação em Psicopedagogia Clínica e Alfabetização e Letramento. Eliane Cristina Martins de Castro Formada em Pedagogia. Especialista em Educação Infantil e Psicopedagogia Institucional. Atualmente lecionando na Prefeitura Municipal de São Carlos, educação infantil Elizandra Aparecida Luiz Cursou CEFAM, formada em Pedagogia pela UNINOVE de Bauru, Letras realizado pela Universidade Paulista (UNICEP) São Carlos; Pós graduada em Administração Escolar, Psicopedagogia Institucional e Educação Infantil pela Faculdade São Luis de Jaboticabal. Atualmente cursando Licenciatura em História pelo Centro Universitário de Araras UNAR. Atualmente leciona na rede Municipal de São Carlos. Esleide de Cassia Rodrigues Pedagoga, Especialiste em Psicopedagogia, Direito Educacional e Gestão de Recursos Humanos em Educação, experiência profissional por 5 anos na ivisão de Educação para o Trânsito, 3 anos com o Gestora comunitária em Educação e professora de Artes no programa Mais Educação, Prefeitura Municipal de São Carlos. Flaviane Gomes da Costa Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Ciência e Letras (UNESP) e em Artes Visuais pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES). Especialista em Psicopedagogia Institucional pelo Centro Universitário Claretiano e em Educação infantil e Anos Iniciais e Alfabetização e Letramento pela Uniasselvi. Atua como professora de Educação Infantil na Prefeitura Municipal de São Carlos – SP. Janaina de Oliveira Vieira Feliciano Formada em pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos e Artes Visuais pela UNIMES. Minha especialidade se concentra atualmente na educação infantil, atuo como docente em uma unidade municipal que atende crianças de 0 a 3 anos, porém também sou professora na rede estadual de educação e trabalho nas séries iniciais do ensino fundamental, especialmente com alfabetização.
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Sobre os Autores
Jucimare Carina Pessan Pinheiro Formada em Pedagogia pela Universidade Paulista UNIP, pós graduada em Psicopedagogia com contexto Inclusivo, Educação Infantil e séries Iniciais e Alfabetização e Letramento pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI). Juliana Cristina Sgobe Guerreiro Formada no curso de Magistério. Graduada nos cursos de Letras e Pedagogia. Pós graduada em Educação Infantil, Cultura Africana e cursando Letramento. Atualmente atua como professora de Educação Infantil na rede municipal de São Carlos. Karem Rodrigues Cursou magistério, formada em Pedagogia e Educação Física. Realizou pós graduação em Psicopedagogia e Educação Infantil- Desafios e Perspectivas e Gestão Educacional em Educação Infantil. Luciana Arruda Minuchelli Cursou Magistério e Licenciatura plena em Pedagogia. Especialista em Supervisão Escolar e Educação Infantil, pós graduada em Didática e Tendências Pedagógicas e Educação para Relações Étnico Raciais no Brasil. Atualmente atua como professora na rede Municipal de Ensino de São Carlos. Luciana Marcondes Cesar Concluiu o Magistério (1991), realizou graduações em História (UNICEP) e Pedagogia (UNOPAR), pós-graduação em Educação Especial (Faculdade São Luís). Trabalhou como docente na rede Estadual e atualmente é professora concursada de Educação Infantil da Rede Municipal de São Carlos-SP. Marcia Elisa Canova Bedendo Formada em pedagogia – Licenciatura Plena pela Associação das Escolas Reunidas ASSER, atualmente leciona na Prefeitura Municipal de São Carlos. Michele Yabuki Formada em magistério pelo CEFAM, licenciada em Pedagogia pela Universidade Luterana do Brasil, com especialização em Gestão Escolar pelo Centro Universitário Barão de Mauá e Gestão Pública pela Universidade Federal de São Carlos. Atua como professora de Educação Infantil na Prefeitura Municipal de São Carlos-SP desde 2006.
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Mirela Mayume Yabuki Pizelli Formada em Biblioteconomia pela Universidade Federal de São Carlos, Pedagogia pela Universidade de Franca. Especialista em Educação Infantil pela Faculdade São Luis, Especialista em Neuropsicopedagogia pela Faculdade Campos Elíseos, Especialista em Arte e Educação pela Faculdade Campos Elíseos. Professora da Educação Infantil pela Prefeitura Municipal de São Carlos. Renata Correa Dorta de Oliveira Cursou Magistério na escola Edésio Castanho, Normal Superior pela Universidade de Araras, Especialista em Educação Ambiental, Educação Infantil Relações Étnico Raciais pela Faculdade São Luis. Atualmente professora na educação Infantil na rede Municipal de São Carlos e Ibaté. Shirley Gava Especialização em Gestão Escolar (Universidade Federal de São Carlos – 2013), Educação Infantil (Centro Universitário Central Paulista – 2005) Fisiologia do Exercício (Fundação Educacional de São Carlos – 1996). Formação em Pedagogia (2003) e Educação Física (1995) com atuação na rede pública municipal de São Carlos desde 1998 (prioritariamente com crianças de quatro a seis anos). Solange dos Santos Pereira da Costa Realizou Magistério pelo CEFAM, formada em Pedagogia pela Universidade Paulista (UNIP). Especialista em Psicopedagogia Institucional pela Faculdade São Luis. Atualmente professora de Educação Infantil pela rede Municipal de Ensino. Vania Maria Piassi Pereira do Amaral Realizou Magistério no Diocesano São Carlos, complementação pedagógica na Faculdade São Luis Jaboticabal, Educação Física na Fundação Educacional São Carlos e especialização em Didática e Tendencias Pedagógicas, Alfabetização e Letramento e Educação Especial pela Faculdade São Luis Jaboticabal. Wirley Regina Marchi Formada em Pedagogia, professora de educação infantil e EJA (educação de jovens e adultos)na prefeitura Municipal de São Carlos
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O Planejamento na Educação Infantil
O Planejamento na Educação Infantil Ana Carolina Misale de Simone
O trabalho de todo pedagogo parte de seus conhecimentos adquiridos durante seus estudos, sua prática diária e a sequência didática em que acompanha o currículo escolar. No processo de educação infantil, ao planejar suas aulas, deve-se considerar o desenvolvimento integral da criança estimulando suas capacidades físicas, psicológicas e cognitivas de forma lúdica que desperte o interesse da criança em querer aprender e buscar novos conhecimentos e formas de pensar e agir em situações diferentes. É necessário que o professor fundamente suas práxis em concepções que auxiliem no desenvolvimento integral da criança, de forma que a mesma tenha à sua disposição experiências para explorar, conhecer, imitar e criticar em cada atividade planejada, atendendo os objetivos dessa fase inicial paralelo a uma rotina estabelecida de acordo com as necessidades da criança. O desenvolvimento da criança varia de acordo com a forma em que lhe é exposto os conhecimentos e o meio social e cultural em que está inserida, suas experiências é que impulsionam seu desenvolvimento. Diante disso pode-se observar a importância da criança relacionar-se com o outro e interagir em um meio que apresente diversas propostas mediadas pelo professor em busca de estimular sua aprendizagem e seu desenvolvimento. É essencial a participação do pedagogo como o adulto mediador nesse processo inicial da aprendizagem com a função de estimular e oferecer para seus alunos diversificadas situações que promovam a assimilação de novos conteúdos e desenvolvimento. A organização do trabalho pedagógico para o desenvolvimento infantil é essencial para alcançar os objetivos estabelecidos, e deve-se levar em consideração o meio em que a criança vive, suas experiências socioculturais e familiares para que se possa estabelecer uma conexão |9
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com o aprendizado assistemático (fora da escola) e o sistemático (na unidade escolar). Segundo Aroeira: “Refletir sobre a educação pré-escolar implica levar em consideração a criança, como sujeito desejante, ativo, cognoscente, filiado a determinado grupo social e familiar e, portanto, um sujeito histórico, condicionado a determinantes socioculturais. Um sujeito singular em sua maneira de estar no mundo e de adaptar-se, ao mesmo tempo que precisa instrumentalizar-se para modificar e reconstruir sua própria realidade.” (AROEIRA; SOARES; E MENDES, 1996).
Ao planejar as atividades para a educação infantil, o professor deve levar em consideração que cada criança apresenta sua forma particular de pensar e agir, avaliar os avanços e dificuldades dos alunos de forma individual e em grupo; e buscar atividades que ajudem a evoluir o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo de forma lúdica em um processo natural para a criança. O planejamento é uma forma de refletir e avaliar se a metodologia utilizada está sendo eficaz ou não, analisando se o processo deve ser alterado para melhorar o desempenho das crianças e onde deve ser alterado para que isso ocorra. É uma forma de enriquecer e qualificar os projetos a serem realizados futuramente na educação infantil, identificando com as crianças se os objetivos estão sendo ou não alcançados; e a partir daí buscar melhorias para uma práxis efetiva que apresente resultados positivos no desenvolvimento infantil.
Referência AROEIRA, Maria Luísa Campos. Didática de pré-escola: vida criança: saber brincar e aprender/Maria Luísa C. Aroeira, Maria Inês B. Soares, Rosa Emília de A. Mendes. São Paulo: FDT, 1996.
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A Alfabetização e a Inclusão da Criança Autista no Primeiro Ano do Ensino Fundamental
A Alfabetização e a Inclusão da Criança Autista no Primeiro Ano do Ensino Fundamental Ana Cecília Vicenssote Bueno
A educação é um direito de todos assim como mostra a Constituição Federal de 1988, capitulo III, seção I: Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Apesar da Constituição garantir tal direito, as escolas devem se adaptar a fim de incluir os que necessitam do espaço educativo, mas é certo que as escolas e os educadores enfrentam muitos desafios. O autismo é uma síndrome que apresenta como principais características as dificuldades de comunicação e de interação social. Apesar dessa defasagem em relação à interação, esse aluno também tem o direito de desenvolver as suas potencialidades. O professor, tem o desafio inicial de elaborar situações de aprendizagem nas quais seja possível atender às necessidades individuais do aluno ao mesmo tempo em que irá proporcionar o contato e a interação com os demais. Quando além da inclusão se apresenta o desafio da alfabetização é essencial que o Professor e a equipe escolar estejam prontos para receber o educando, considerando a necessidade de que haja a adaptação e reflexão sobre o processo de alfabetização e letramento, já que, para interagir na sociedade o sujeito precisa dominar o código linguístico e é por meio dele que o sujeito se torna capaz de analisar as mais diversas situações de interação que ocorrem na sociedade, conseguindo analisar crítica e reflexivamente a sua realidade e modificá-la. | 11
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Acompanhando como docente a entrada de um aluno com TEA (transtorno do espectro autista) no primeiro ano do ensino fundamental, pude constatar que o educando apenas identificava as letras do alfabeto, tinha referências para elas e sabia contar até mais de 100, além de se comunicar um pouco na 3° pessoa e raramente se socializar com os colegas e professores. Após análise dos conhecimentos do aluno, seus potenciais e a aplicação de um Plano de Ensino Individualizado aplicado pela Professora da Sala e pelo Professor Colaborativo, o discente obteve avanços importantes e significativos; aumentou o vocabulário, começou a socializar mais com os colegas fazendo uso da comunicação em 1° pessoa com mais frequência, registrar suas atividades e a ler as palavras simples como: casa, boca, foca, lua. No segundo semestre o educando iniciou a leitura com compreensão inclusive lendo as silabas complexas. Ele produz pequenos textos de memória utilizando o “Computador” e realiza adição com material concreto. Finalizando, o educando em relação ao aspecto sócio afetivo passou a interagir com todos os atores da escola, em relação ao aspecto psicomotor ele é dependente, necessitando de um professor colaborativo na realização das atividades de aprendizagem e nas atividades da sua rotina. Por isso é de estrema importância que o aluno autista tenha um ensino diferenciado, que consiga auxiliá-lo na interiorização da linguagem social e exteriorização do pensamento, fazendo com que consigam comunicar-se e expressar-se socialmente, tornando-os sujeitos ativos.
Referências CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1989. CAPELLINI, Vera Lucia Messias Fialho. Avaliação das possibilidades do ensino colaborativo no processo de inclusão escolar do aluno com deficiência mental. 2004. 300 f. Tese (Doutorado em Educação Especial) – Programa de Pós-Graduação em Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004. CONSTITUIÇÃO (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
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Como Identificar um Possível Autista na Educação Infantil
Como Identificar um Possível Autista na Educação Infantil Ana Lucia Soares
O autismo vem se tornando presente cada vez mais na sociedade brasileira. Pesquisas realizadas comprovam que a cada sessenta e oito crianças, uma tem autismo no Brasil e a tendência é aumentar esse número sendo o índice de ocorrências maior para o sexo masculino. Também conhecido como Transtorno do Espectro Autista, é um transtorno que ainda não possui cura e pode causar problemas no desenvolvimento da linguagem, interação social e convivência com outras pessoas. Ainda não se sabe a causa certa do que pode provocar o autismo, porém diversos métodos de trabalho e estudos estão sendo desenvolvidos para auxiliar o portador em seu desenvolvimento para que possa se adequar as atividades sociais. O aluno autista pode ser diagnosticado assim que mudanças são percebidas em seu comportamento, por isso há necessidade de todo pedagogo receber em sua formação um estudo capacitando-o para reconhecer sinais logo cedo para que se possa comunicar os pais para encaminhar a um especialista e obter um diagnóstico, pois quanto mais cedo iniciar o tratamento melhor será o desenvolvimento com condições de se relacionar com as pessoas ao seu redor e garantir progressos em suas atividades. Alguns sinais que a criança pequena pode apresentar em seu comportamento são: 99 Audição seletiva (a criança responde apenas aos sons de seu interesse, por exemplo não atende o chamado de seu nome, mas ao ouvir musiquinhas infantis ela demonstra interesse); 99 Andar nas pontas dos pés, fazer movimentos repetitivos; 99 Não olhar nos olhos das mães ou responsável; 99 Choro e inquietação constante ou apatia; | 13
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99 Seus sentidos são afetados e podem se incomodar com sons, texturas ou materiais diversos; 99 Interesses restritos, fixos e intensos; 99 Crises de ansiedade e até mesmo agressividade.
Estes são apenas alguns dentre vários sintomas que podem ser apresentados. Na primeira infância, o professor da educação infantil deverá observar e se atentar aos sinais que podem ou não aparecer nesta fase. Por ser um assunto delicado, ao perceber que o aluno precisa ser avaliado, os pais devem ser comunicados com cautela, pois muitos pais não aceitam ou acreditam que é cedo para alegar que o filho tem algo; e, se for informado de qualquer maneira poderá compreender a notícia de forma negativa podendo obstruir algo que poderia ser trabalhado com antecedência. A escala M-Chat (Modified Checklist for Autism in Toddlers), criada por Diana Robins é um instrumento de rastreamento para identificar indícios do transtorno entre os 18 e 24 meses e pode auxiliar em caso de suspeita ao encaminhar para um profissional da área. Por favor, preencha as questões abaixo sobre como seu filho geralmente é. Por favor, tente responder todas as questões. Caso o comportamento na questão seja raro (ex. você só observou uma ou duas vezes), por favor, responda como se seu filho não fizesse o comportamento. 1. Seu filho gosta de se balançar, de pular no seu joelho, etc.? 2. Seu filho tem interesse por outras crianças? 3. Seu filho gosta de subir em coisas, como escadas ou móveis? 4. Seu filho gosta de brincar de esconder e mostrar o rosto ou de esconde-esconde? 5. Seu filho já brincou de faz-de-conta, como, por exemplo, fazer de conta que está falando no telefone ou que está cuidando da boneca, ou qualquer outra brincadeira de faz-de-conta? 6. Seu filho já usou o dedo indicador dele para apontar, para pedir alguma coisa? 7. Seu filho já usou o dedo indicador dele para apontar, para indicar interesse em algo? 8. Seu filho consegue brincar de forma correta com brinquedos pequenos (ex. carros ou blocos), sem apenas colocar na boca, remexer no brinquedo ou deixar o brinquedo cair? ©1999 Diana Robins, Deborah Fein e Marianne Barton. Tradução Milena Pereira Pondé e Mirella Fiuza Losapio.
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Como Identificar um Possível Autista na Educação Infantil 9. O seu filho alguma vez trouxe objetos para você (pais) para lhe mostrar este objeto? 10. O seu filho olha para você no olho por mais de um segundo ou dois? 11. O seu filho já pareceu muito sensível ao barulho (ex. tapando os ouvidos)? 12. O seu filho sorri em resposta ao seu rosto ou ao seu sorriso? 13. O seu filho imita você? (ex. você faz expressões/caretas e seu filho imita?) 14. O seu filho responde quando você chama ele pelo nome? 15. Se você aponta um brinquedo do outro lado do cômodo, o seu filho olha para ele? 16. Seu filho já sabe andar? 17. O seu filho olha para coisas que você está olhando? 18. O seu filho faz movimentos estranhos com os dedos perto do rosto dele? 19. O seu filho tenta atrair a sua atenção para a atividade dele? 20. Você alguma vez já se perguntou se seu filho é surdo? 21. O seu filho entende o que as pessoas dizem? 22. O seu filho às vezes fica aéreo, “olhando para o nada” ou caminhando sem direção definida? 23. O seu filho olha para o seu rosto para conferir a sua reação quando vê algo estranho?
Sim
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©1999 Diana Robins, Deborah Fein e Marianne Barton. Tradução Milena Pereira Pondé e Mirella Fiuza Losapio.
O professor em sala de aula deverá estar atento e procurar realizar um trabalho participativo, incentivando os pais a conhecerem seus filhos e observarem seu desenvolvimento. O trabalho em conjunto sempre será mais produtivo e proporcionará novas oportunidades aos pequenos autistas.
Referêcias MELLO, Ana Maria S. Rios. Autismo: guia prático. 7ª ed. São Paulo: AMA; Brasília: Corde, 2007.
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Diversidade na Educação Infantil Andreia Aparecida Gonçalves Ramos Vivemos em mundo cheio de culturas e crenças variadas que são carregadas há séculos nas sociedades e definem os meios de vida das pessoas e suas personalidades. A nacionalidade impõe a cada cidadão a forma em que o mesmo irá viver e designa suas práticas de acordo com o que lhe é emitido para adquirir seus conhecimentos e validar suas formas de agir e pensar. Fatores como raça, religião, linguagem, maneira de agir, se vestir e alimentar são o que sustentam as diferenças sociais e trás a tona a preocupação de como adequar essa diversidade superando os preconceitos que infelizmente fazem parte desse processo de vida. È na primeira etapa da educação que se inicia a formação da identidade e conhecimento sobre a cultura em que o indivíduo está sendo inserido. De forma assistemática, vendo e copiando pais, familiares e comunidade ao seu redor; e de forma sistemática na unidade escolar, a criança inicia seu processo de conhecimento diante do conhecimento que ela recebe, e vem a criar seus ideais e seu ponto de vista social. É neste momento que o professor de educação infantil deve reconhecer a importância de sua práxis com a criança pequena e vir a desenvolver um trabalho que explore a diversidade cultural e o respeito entre as diversas etnias presentes em nosso meio; e reconhecer a educação como meio de transformação social, um instrumento para promover novas práticas democráticas que valorize as diferenças. É importante que o professor de educação infantil busque formas para tratar as diferenças e incluir a diversidade em seu plano escolar de forma interdisciplinar, onde cada atividade desenvolvida explore um pouco mais essa questão. Essa primeira etapa educacional, é o nível mais propicio para se desenvolver o respeito às diversidades e estimular as características diferenciais entre os alunos. Segundo Didonet (2004), alguns princípios podem guiar o processo de desenvolvimento na educação infantil promovendo as características diferenciais das crianças: 16 |
Diversidade na Educação Infantil
(a) A valorização da criança como pessoa, única e singular. Cada uma é conhecida pelo nome, procura-se conhecer sua família e envolvê-la de alguma forma na instituição de educação infantil (b) O respeito à individualidade, aos gostos e interesses das crianças, permitindo fazer alguma coisa diferente do que está sendo desenvolvido pelo grupo (c) A liberdade de iniciativa das crianças (d) A construção da autonomia como objetivo da educação infantil ([10]), que orienta a ação mediadora do profissional para apoiar a criança no seu esforço por fazer as coisas por conta própria, de pensar e ter consciência de suas ações e assumir a responsabilidade por suas decisões. (e) A elaboração conjunta do planejamento dos projetos e das atividades diárias, ocasião em que as crianças expõem suas idéias, intuições, desejos e vontades na programação das atividades, (f) O trabalho individual e em pequenos grupos, que dá oportunidade a cada criança de fazer o que gosta e da forma como consegue, de cooperar com os companheiros e de compreender os outros como iguais e diferentes de si mesma.
A capacidade de assimilar os conteúdos na educação infantil acontece de forma espontânea e rápida, e a criança se espelha nas atitudes e formas de pensamento da família e comunidade que a rodeia. Mais do que desenvolver um trabalho que respeite as diversidades entre os alunos, o professor deve se comprometer e adotar posturas adequadas dentro desta perspectiva, acolher as diferenças e os diferentes em sua sala de aula e deve desenvolver sua práxis envolvendo além de seus alunos, a família e a comunidade escolar; para que todos possam compreender a diversidade como riqueza cultural existente em nossa sociedade e possa vir a eliminar qualquer situação de racismo ou rejeição com outrem. Cada ser humano tem sua característica genética, seus hábitos e especificidades; todos têm os mesmos direitos em nossa sociedade e por isso há necessidade e importância de desenvolver desde pequenos a consciência e o respeito entre os cidadãos, para que assim possamos alcançar algum dia uma sociedade mais justa e humana.
Referências DIDONET, Vital. Diversidade e Educação Infantil. Conferencia promovida pela Universidad de la Frontera. Chile,2004. | 17
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Pra que rotina? Andrea Maria Alves Pinto Gomes
O trabalho na educação infantil ganhou um espaço determinante nos estudos educacionais e mudou a antiga visão de que a creche seria apenas o lugar de cuidar. Muito mais do que cuidar, estudos comprovam que durante a fase infantil, ou seja, a primeira infância, a criança desenvolve suas capacidades físicas, psíquicas, motoras, forma sua identidade e relação com o meio social e; se os estímulos que ocorrerem nesta fase forem planejados e explorados com mais intensidade por um responsável, o desenvolvimento será mais significativo e suas capacidades construídas com melhor desempenho. Ao avaliar o trabalho com crianças pequenas e buscar qualidade neste processo, encontra-se a importância de ser desenvolvida uma rotina. Conciliar as atividades cotidianas (trocar, dar banho, cuidar da alimentação e hora do sono) com as atividades educacionais é uma tarefa que deve ser planejada para ser executada com êxito, ou seja, a organização do tempo no espaço pedagógico precisa ser elaborada seguindo uma rotina, que fará com que a criança se sinta segura e contribui para o desenvolvimento da autonomia e sociabilidade dos pequenos. Segundo Proença (2004, p. 13): A rotina estruturante é como uma âncora do dia-a-dia, capaz de estruturar o cotidiano por representar para a criança e para os professores uma fonte de segurança e de previsão do que vai acontecer. Ela norteia, organiza e orienta o grupo no espaço escolar, diminuindo a ansiedade a respeito do que é imprevisível ou desconhecido e otimizando o tempo disponível do grupo. É um exercício disciplinar a construção da rotina do grupo, que envolve prioridades, opções, adequações às necessidades e dosagem das atividades. A associação da palavra âncora ao conceito de rotina pretende representar a base sobre a qual o professor se alicerça para poder prosseguir com o trabalho pedagógico.
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Pra que rotina?
A medida que se concebe a rotina na educação infantil, o pedagogo deve considerar a exploração de habilidades e os aspectos em que trabalha com a criança. Ao organizar o ambiente, a criança adquire independência podendo agir e explorar de forma segura o espaço em que ela está. As atividades devem ser organizadas de acordo com as necessidades da criança, hora do sono, da alimentação, do café, hora do conto, de brincar, de realizar a higiene e enfim organizar cada momento para que ela mesma faça cada tarefa com prazer. Ao programar o tempo e o espaço com as atividades rotineiras na unidade escolar, as crianças se encontram atarefadas o tempo todo e desenvolve suas competências de forma lúdica, impedindo que ocorra a quietude ou não-desenvolvimento de forma geral. O desejo de explorar, conhecer o novo e a agilidade do pensamento infantil exige que o pedagogo se organize para propor aos alunos a liberdade dentro da sala de aula porém dirigida e planejada para que ele desenvolva suas experiências de forma natural. Ao elaborar a rotina na educação infantil é necessário levar em consideração os seguintes aspectos: 99 Momento de chegada da criança - como receber os alunos, espaço e materiais disponíveis no momento da entrada e disposição da sala; 99 Organização da sala - a sala pode ser organizada com a utilização de cantinhos e ao mesmo tempo ser um ambiente desafiador que ofereça experiências e explorações; (pode ser construído o cantinho da leitura (conteúdo livros diversos para manuseio do professor e do aluno, também fantoches que podem ser manuseados para contar uma história ou imitar alguém), cantinho da fantasia (com um baú cheio de roupas diferentes ou até mesmo fantasias de personagens diversos), cantinho do descanso (para as salas com alunos de período integral, esse espaço será reservado para descansar e dormir) cantinho da alimentação (no caso o refeitório), cantinhos da higiene, cantinho de bonecas e pelúcias, de jogos de montar e da pintura; 99 Hora de brincar (as brincadeiras livres ou dirigidas, com ou sem auxílio de algum material devidamente planejadas para o desenvolvimento da criança); 99 Hora de se alimentar e higienizar; | 19
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99 Planejamento e projetos a serem realizados (elaborar e planejar as formas de trabalho para alcançar seus objetivos e refletir sob sua metodologia e os resultados obtidos).
É essencial para o professor organizar sua práxis com a utilização da rotina e que tenha seus objetivos determinados para proporcionar às crianças diversas experiências enriquecedora para seu desenvolvimento. Além de explorar o desenvolvimento da criança, o educador estará proporcionando novos aprendizados de forma interativa e espontânea.
Referências PROENÇA, Maria Alice de Rezende. A rotina como âncora do cotidiano na Educação Infantil. Revista Pátio Educação Infantil, n. 4, p.13-15, Porto Alegre, 04 abr. 2004.
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Por Que e Como se Trabalhar com Projetos na Educação Infantil?
Por Que e Como se Trabalhar com Projetos na Educação Infantil? Camila Cristina Barbosa Barros
Ao se trabalhar com projetos é necessário que primeiro se contextualize como compreendemos a criança com a qual atuamos. No que concerne a compreensão de criança GIROTTO (2006) enfatiza que Compreendemos a criança enquanto ser social, cultural e psicológico, situado histórica e geograficamente em pleno processo de aprendizagem e desenvolvimento de suas possibilidades sócio-afetivas, bem como e desde já, exercendo seus direitos e deveres como cidadão. É esta maneira de concebê-la que determina o nosso entendimento de seus desejos, interesses e necessidades.
Nesta concepção de educação, a metodologia de projetos contempla amplamente estes fatores o que proporciona um crescimento desta abordagem na educação infantil. A atuação por meio de projetos permite considerarmos novas facetas durante o processo de ensino aprendizagem. Rompendo com a educação por memorização de conteúdos prontos. (HERNANDEZ, 1998. 2000) A criança assume o papel ativo e é considerada um ser com vontades e interesses, sendo elas questionadoras, geradoras de ideias, hipóteses, críticas e considerações. Contextualizando o que já conhece, com base em seu conhecimento de mundo e participando da organização conforme suas possibilidades, intensificando o desenvolvimento de sua autonomia. O professor assume o papel de orientador, mediando as relações, instigando a participação, dando ouvido e voz para que expressem-se. Na organização do desenvolvido do projeto, ele deve considerar todos os componentes curriculares, os saberes e diretrizes, realizando a articulação com o interesse do que os educandos | 21
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querem aprender com o que realmente tem que ensinar. O professor está enquanto mediador desta proposta, organizando em forma de objetivo as situações de experiência que as crianças irão vivenciar. Sobre a mediação do professor, Nogueira afirma que Se pretendemos que os alunos continuem sendo eternos aprendizes, precisamos instrumentalizá-los com procedimentos que coloquem à prova e desenvolvam sua capacidade de autonomia, e os projetos parecem também ser meios para isso. (NOGUEIRA, 2008, p.53)
A estrutura do projeto, nem sempre apresentam a mesma característica, e por não apresentar metodologia rígida é flexível a mudanças inesperadas ou necessárias para a aprendizagem. Sua organização dependerá de fatores a se considerar, como; Definição do problema, (o tema a se trabalhar, considerando a relevância dos conhecimentos prévios, estrutura escolar, materiais, etc.); Mapeamento do percurso, (organização do projeto, o que? E como fazer? Também é o momento para auto avaliação, diálogo com os pares por parte dos professores e participação das crianças durante o processo dando significado a sua realidade); Coletando informação, (fontes de informações podem ser encontradas no ambiente escolar, recursos visuais, com os familiares, expondo os processos do projeto em murais para participação da comunidade, utilizando recursos de registro para consulta e memorização do processo de construção); Sistematizando e refletindo sobre as informações, (construção do projeto durante as diferentes atividades, utilizando diversos materiais, momento de enfoque nas relações sociais, afetivas, cognitivas, apresentando um processo de cooperação e participação dos envolvidos, ações que propiciam atingir o objetivo); Documentando e comunicando, (exposição de diferentes maneiras para apreciação das demais crianças, reconto do projeto, vivência posteriores de etapas trabalhadas, e avaliar a aprendizagem para formação de novos projetos, possibilitando aos familiares acompanhar e valorizar o trabalho desenvolvido no ambiente escolar), sendo esta metodologia condizente as necessidades sociais atuais. Esta metodologia de projeto contempla a necessidade dos educandos de aprender com o novo e o quanto podem contribuir com a construção do conhecimento neste processo. Ao participar ativamente de todas as etapas do projeto, mobilizado por algo 22 |
Por Que e Como se Trabalhar com Projetos na Educação Infantil?
que deseja, as experiências de aprendizagem passam a ser mais significativas.
Referências BARBOSA, Maria Carmem Silveira; HORN, Maria da Graça Souza. Projetos Pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008. GIROTTO, Cyntia Graziella Guizelim Simões. A metodologia de projetos e a articulação do trabalho didático-pedagógico com as crianças pequenas. Marília: Educação em revista, 2006. HERNÁNDEZ, F.; VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: etapas, papéis e atores. 4 ed. São Paulo: Érica, 2008.
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Piaget e o Desenvolvimento Infantil Carla Aparecida Conti
O trabalho com as crianças na educação infantil passou por diversas mudanças ao longo do tempo, onde de início a prática do mesmo era direcionado apenas ao cuidar e o desenvolvimento era insignificante para o processo. Ao longo do tempo, diversos educadores estudaram o desenvolvimento infantil e analisaram como ocorre esse processo, etapas, influências diretas e indiretas e hoje conhecemos a importância de se realizar um trabalho minucioso, planejado, cheio de estímulos em busca de alcançar um desenvolvimento cada vez mais íntegro. Entre tantos colaboradores nesta evolução do processo infantil , destaca-se Jean William Fritz Piaget (1896-1980). Biólogo suíço, empenhou seu trabalho durante a vida toda na observação científica do processo de desenvolvimento do ser humano baseado na criança. Por meio de suas observações, constatou que a criança constrói seu próprio aprendizado e adquire o mesmo por meio de um processo natural de aquisição do conhecimento. Ele acredita que o desenvolvimento ocorre sob uma perspectiva interacionista e o desenvolvimento humano está diretamente ligado as predisposições hereditárias e a adaptação biológica que, ao interagir, incorporam a formação do indivíduo em seu aspecto mental e comportamental. Desenvolveu em seus estudos a teoria do conhecimento para desvendar a lógica do pensamento humano e como ocorre esse processo de construção do conhecimento pelo sujeito, chamada de Epistemologia Genética. Em sua teoria, acredita-se que para que o sujeito passe de um conhecimento menor interior para um nível de maior conhecimento, ou seja, para adquirir um novo conhecimento, as estruturas da inteligência realizam o processo de assimilação de novos objetos e acomodação (que é a ampliação dos conhecimentos), e o resultado dessas sucessivas assimilações e acomodações geram 24 |
Piaget e o Desenvolvimento Infantil
o processo de equilíbração. Desde pequena a criança apresenta condições de formar sua inteligência conforme age sob o mundo e constrói suas estruturas se adaptando às novas situações de forma a construir estágios sucessivos. Esses estágio foram definidos por Piaget como: 99 Sensório-motor (de zero à dois anos, período da inteligência prática), 99 Pré-operacional (de dois aos sete anos, onde surge o domínio da linguagem e a representação do mundo através de símbolos), 99 Operatório concreto (sete à doze anos, surgimento da lógica e início do processo de aprendizagem sistêmico) 99 Estágio formal (dose anos em diante, quando se pode agir e pensar sob hipóteses e abstrações, domínio do pensamento lógico).
A teoria psicogenética de Piaget tem como essência a ação do sujeito que se interage com os objetos e a partir desta ação constrói diversas formas e estruturas de inteligência que vão inserir ao mundo em que vive. O objeto de ação do sujeito e a construção de seu conhecimento social se baseiam nos exemplos recebidos pela família e as pessoas que o cercam, formando assim o desenvolvimento moral infantil. O trabalho na educação infantil é monitorado pelo professor, contudo o mesmo deve garantir que a criança assimile seus conteúdos de forma individual. Segundo Piaget: Os professores podem guiá-las proporcionando-lhes os materiais apropriados mais o essencial é que, para que uma criança entenda, deve construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos algo a uma criança estamos impedindo que ela descubra por si mesma. Por outro lado, aquilo que permitimos que descubra por si mesma, permanecerá com ela. (PIAGET, 1989, p. 53).
Por meio da compreensão da teoria de Piaget, o trabalho na educação infantil deve ser elaborado e planejado concebendo as etapas que a criança se encontra, seus limites e suas capacidades, de modo a explorar de forma significativa seu desenvolvimento em busca | 25
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
de qualificar e alcançar os objetivos na formação de cidadãos éticos e responsáveis para viver em sociedade.
Referências PIAGET, J. A representação do mundo na criança. Rio de Janeiro: Record, 1936. PIAGET, J. Epistemologia Genética. Petrópolis: Vozes, 1970. PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.
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Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade: Consequências...
Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade: Consequências para o Rendimento Escolar e para Vida Social Carolina Balbino
A criança hiperativa tem recebido atenção especial de médicos, psicólogos e educadores, pois o transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade vem sendo considerado uns dos transtornos comportamentais infantis mais comuns desde o inicio da década de 1960. A característica básica deste transtorno é a falta de persistência em atividades que requeiram atenção. Essas crianças tentam fazer várias coisas ao mesmo tempo e além de não acabarem nada, deixam tudo desorganizado. Embora a pessoa que apresenta TDAH seja inteligente, criativa, e intuitiva também é caracterizada pela sua desatenção, excessiva atividade motora e impulsividade, inadequados à etapa do desenvolvimento e presentes em ao menos, dois ambientes distintos. Os pais nem sempre admitem que o filho seja hiperativo, normalmente acham que o filho é apenas ativo demais, mas ao mesmo tempo, não conseguem lhe impor limites onde, por vezes seguem o caminho da punição, das palmadas ou então entregam o “problema” aos professores. O Distúrbio de Déficit de Atenção afeta crianças e adolescentes em todos os aspectos de suas vidas, não só na escola, mas em suas casas e no comércio com seus companheiros. Muitos pais se sentem frustrados, envergonhados, incomodados, culpados e até mesmo deprimidos por sentirem que o problema de seus filhos é resultado do seu fracasso como pais. Os adultos geralmente pensam que este | 27
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comportamento se produz por opção da criança. Entretanto, a ciência nos mostra que o problema não está na falta de conhecimento, mas na capacidade para controlar o impulso e aplicar ao conhecimento. A grande maioria dos professores não sabe lidar com isso, e muitas vezes, acham que essas crianças e adolescentes são apenas alunos indisciplinados, daí a importância de caracterizar a vivencia escolar e social de um portador de DDA/H, e visar acima, de tudo uma contribuição para a conscientização de pais e educadores sobre causas e consequências do Distúrbio de Déficit da Atenção com ou sem Hiperatividade em uma criança ou adolescente com este diagnostico. O hiperativo não é distraído ou agitado porque quer. Ele se comporta dessa forma por que não consegue ser diferente! Como identificar os alunos com TDAH e ajudá-los a continuar aprendendo? Em sala de aula ele é o “peralta”: tira os brinquedos dos amigos, corre de um lado para o outro, não fica mais de um minuto sentado no mesmo lugar. Não termina as lições e sai da sala sem pedir licença. Em alguns casos, chega a ser agressivo. Tal comportamento geralmente confundido com indisciplina é a característica de um distúrbio de atenção que atinge cem por cento de crianças e adolescentes de todo o mundo: a hiperatividade. A característica básica deste transtorno é a falta de persistência em atividades que requeiram atenção. Essas crianças tentam fazer várias coisas ao mesmo tempo e além de não acabarem nada, deixam tudo desorganizado. Embora a pessoa que apresenta TDAH seja inteligente, criativa e intuitiva também é caracterizada pela sua desatenção, excessiva atividade motora e impulsividade, inadequados a etapa do desenvolvimento e presente em ao menos dois ambientes distintos. Por outro lado, os pais nem sempre admitem que o filho seja apenas ativo demais, mas ao mesmo tempo não conseguem lhe impor limites onde por vezes, seguem o caminho da punição, das palmadas ou então, entregam o “problema” aos professores. Os professores por sua vez, precisam ser conhecedores do assunto, ter muita paciência e disponibilidade, pois alunos hiperativos exigem tratamentos diferenciados, maior atenção e uma rotina especialmente estimulante.
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Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade: Consequências...
Até então, as crianças eram tratadas através do uso de punições e castigos ou então através de estimulantes que ajudavam na concentração, pois essa desatenção, agitação, excesso de atividade, emotividade, impulsividade provoca inquietações e revoltas. Com isso o TDAH é erroneamente apresentado, com frequência, como um tipo especifico de problema de aprendizagem. Ao contrario, é um distúrbio de realizações. Sabe-se que crianças com TDAH são capazes de aprender, mas tem dificuldade em se sair bem na escola devido ao impacto que os sintomas do TDAH têm sobre uma boa atuação. Por outro lado um grande número de crianças com TDAH apresenta problemas de aprendizagem, o que complica ainda mais a identificação correta e o tratamento adequado. Pessoas que apresentam sintomas de TDAH na infância demonstram maior probabilidade de desenvolver problemas relacionados com comportamento opositivo, desafiador, delinquência, ansiedade, depressão e transtorno de conduta. A hiperatividade possui diferentes graus de intensidade que varia entre leves e graves e dependendo de sua gravidade ela pode comprometer a memória e habilidades motoras, o desenvolvimento e a expressão linguística. Essas pessoas com TDAH apresentam comportamentos crônicos que duram no mínimo seis meses e se instalam com exceções até os sete anos. O diagnostico é muito difícil e complexo e não há um diagnostico fechado sobre o distúrbio. O que se pode observar nesses indivíduos são desatenção e agitação, impulsividade e dificuldades com frustrações. Aos professores que possuem em sua sala de aula crianças com TDAH, investigue o transtorno, para que não rotule crianças com esse problema como bagunceiras, sem educação, sem limites... É preciso saber fazer intervenções para diminuir o impacto negativo que essas crianças têm em seu comportamento. É importante que todos os alunos saibam que todos nós temos diferenças, mas que todos precisaram de carinho e ajuda no decorrer de nossa vida. Ter um aluno com TDAH em sala de aula é ter uma criança muito especial. É possível que ela seja extremamente criativo, inteligente, multi talentoso e que deseje, acima de tudo, agradar os | 29
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adultos que o rodeia. Essa criança está habituada ao fracasso e ser mal compreendida pelos outros. O que ela precisa é de compreensão, gentileza, aceitação e amor. Se for estimulada adequadamente e receber oportunidades, terá um grande potencial para o sucesso.
Referências DELAY, Jean. Manual de psicologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan – Masso Compnhia 1973. BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. São Paulo: Harder & Row do Brasil, 1977. SILVA, A.B.B. Mentes inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas distraídas, impulsivas e imperativas, 26. ed., São Paulo: Editora Gente, 2003. CYPEL, Saul. A criança com déficit de atenção e hiperatividade: Atualização para pais e profissionais da saúde, 2. ed. São Paulo: Lemos editorial 2003. BARKLEY, R.A. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH): guia de professores e profissionais da saúde, Porto Alegre: Artmed, 2002. ROHDE, L.A. P; BENCZIK, E.B.P. Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade. O que é? Como ajudar? Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
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Inclusão e Diversidade na Escola
Inclusão e Diversidade na Escola Daiana Branco Manfio Ponce Ao se falar de inclusão escolar, automaticamente entramos no contexto social perplexo e multicultural que vivemos em diversas sociedades. Ao fazer uma análise de quantas características diferenciam os seres humanos, não somente de forma física, mas também religiosa, cultural, sexual e econômica; observa-se o quanto a diversidade se faz presente e o grau de importância de se aplicar a inclusão nas unidades escolares se torna algo prioritário para o exercício da verdadeira cidadania, onde todos possam ter os mesmos direitos e deveres. O processo educacional vem passando por diferentes transformações nos últimos anos, e mudando as doutrinas que durou por muitos anos sobre o propósito de que o ensino sempre foi um processo homogeneizado, conservando concepções e práticas pautadas em tendências pedagógicas; no qual as diferenças não eram adotadas como tema a ser explorado em sala de aula. O aluno considerado “diferente” sempre foi alvo de piadinhas ou simplesmente excluído das praticas escolares ocasionando o fracasso escolar e em muitos casos vem a ocorrer a desistência de permanecer na escola. Aos poucos grandes mudanças vieram a acontecer, e o processo de inclusão se tornou obrigatório nas redes de ensino. Em 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil, estabelece “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º inciso IV). Define, ainda, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208). Por meio das Leis e novas concepções de estudos que avaliam os resultados positivos para a formação social, pode-se aplicar métodos que incluam todos os alunos sem diferenças e aumentam a qualidade do ensino com melhor aproveitamento e desempenho dos mesmos. | 31
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
Ao longo dos anos surgiram leis como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica, o Plano Nacional de Educação (PNE) e vários Decretos que regulamentam e estabelecem formas de se trabalhar o processo de inclusão na escola. Dentro de uma unidade escolar sempre haverá alunos de diferentes religiões, cultura, grupos sociais, políticos, econômicos e características físicas e são essas diferenças que trazem à tona a necessidade de se desenvolver a prática de inclusão na escola atendendo essa diversidade em que é composta. No momento em que vivemos hoje, com a presença tecnológica e um mundo globalmente conectado, ensinar não é um trabalho fácil de realizar, pois somente reproduzir conhecimentos não basta. O professor em sua práxis deve assumir seu papel como mediador e estimular a curiosidade dos alunos para que reflitam e pesquisem sobre o mundo ao seu redor a favor de seu aprendizado considerando que seus alunos são espertos e capazes de assimilar novos conhecimentos de forma significativa, identificando os obstáculos que impedem o sucesso do aluno para atingir seus objetivos de forma prazerosa e positiva em sua formação. Segundo Parolin : O principio da Inclusão Escolar é a certeza de que Todos têm o direito de pertencer, de que necessitamos compreender e aceitar as diferenças (PAROLIN, p. 29).
Reconhecer que todos os alunos são capazes e apresentam potencial para aprender sem diferenciá-los é o elemento básico para a práxis educacional. Todos somos diferentes e o processo de inclusão traz à tona o que deveria ser realizado sem a necessidades de leis: o tratamento igual para todos os cidadãos independente de seu grau de dificuldade (físico ou psíquico) garantindo a qualidade de seu aprendizado e desenvolvimento pessoal.
Referência PAROLIN, Isabel Cristina Hierro. Aprendendo a incluir e incluindo para aprender. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2006.
Site Consultado Disponível em: https://inclusaoja.com.br/legislacao/ Acesso em: 28/01/2018. 32 |
Jogos e Brincadeiras: Ensinando Conteúdos Matemáticos na Educação Infantil
Jogos e Brincadeiras: Ensinando Conteúdos Matemáticos na Educação Infantil Eliane Cristina Martins de Castro
Introdução A importância e a valorização do uso de jogos na relação educação e desenvolvimento infantil vem desde Platão, confirmada nas perspectivas psicológica e pedagógica (NASCIMENTO e SELVA, 2006). Blanco (2007) aponta que Fröebel, criador dos jardins-deinfância, influenciou o uso de jogos na Educação Infantil, tanto pela ênfase na importância do jogo livre para o desenvolvimento infantil como na ideia de material educativo como recurso auxiliar na aquisição de conhecimento. A partir da década de 1960, estudos em áreas como a Psicologia do Desenvolvimento passaram a destacar a infância como o período principal do desenvolvimento humano, e nesse contexto, os jogos e brincadeiras são elementos fundamentais para o desenvolvimento emocional da criança, devendo ter um papel de destaque na Educação Infantil (BLANCO, 2007). Analisando a literatura, Nascimento e Selva (2006) identificaram iniciativas de grupos de profissionais na área da educação matemática com o intuito de elevar o padrão de qualidade do ensino, de incrementar o interesse da criança, de contextualizar e interdisciplinarizar o ensino nessa área. Neste sentido, acredita-se que a aprendizagem de noções, ou a resolução de problemas em uma situação como o jogo - ou seja, dentro de um contexto motivador pode auxiliar a criança a resolver o problema, realizando conexões entre seus conhecimentos prévios e aqueles que construiu na escola. | 33
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
Apesar da literatura em geral afirmar sobre a importância do jogo, Nascimento e Selva (2006) relatam pesquisas que indicam a pouca utilização de jogos e brincadeiras em salas de aula, aparentemente por serem consideradas atividades extra-sala, de caráter recreativo, que não requerem planejamento para ocorrer. Assim, este trabalho visa exatamente destacar não só a contribuição de jogos e brincadeiras para processo ensinoaprendizagem de conceitos matemáticos, como também a importância do papel de planejador do educador para a o uso bem sucedido dessa metodologia.
Jogos e brincadeiras - e os conteúdos a serem trabalhados Lima (2005) aponta que, no tocante ao sistema de numeração, as crianças precisam conhecer a sucessão oral dos números; estabelecer relações entre eles: estar entre, um mais que, um menos que; reconhecer a sucessão escrita; iniciar a comparação de escritas numéricas e reconhecer as funções do número, como quantificar, codificar, medir e ordenar (Sinclair, 1989 apud LIMA, 2005) Assim, definidos quais conteúdos matemáticos devem ser trabalhados, deve-se planejar as situações e atividades para que isso ocorra. Para Kamii (1990), essas situações são basicamente as tarefas do cotidiano, como distribuição de materiais e divisão de objetos, e os jogos e brincadeiras em grupo. A seguir destacamos uma relação de jogos e brincadeiras citadas na bibliografia e que podem ser aplicadas com esse objetivo (KAMII, 1990; BRASIL, 1998; LIMA, 2005): 99 jogos numéricos: utilização de números e suas representações, atividades de contagem, estabelecimento de correspondências, realização de operações; 99 cartões, dados, dominós, baralhos, pega-varetas: familiarização com pequenos números, contagem, comparação de quantidades (maior, menor, igual) e realização de operações (adição, subtração, divisão, multiplicação); 99 jogos de tabuleiro ou pista: contagem (de um em um, dois em dois...);
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Jogos e Brincadeiras: Ensinando Conteúdos Matemáticos na Educação Infantil
99 jogos espaciais: reconhecimento de formas e propriedades geométricas de objetos e figuras; representações das figuras a partir de formas que estão ao redor da criança; 99 calendários: localização de datas comemorativas, contagem (progressiva e regressiva – ‘quantos dias faltam para o Dia da Criança’, por exemplo); 99 coleções: quantificação de objetos como pedras, folhas, tampinhas, que podem ser reunidos sem custo; 99 brincadeiras diversas, como dança das cadeiras, escondeesconde, pega-pega, utilização de cantigas, experiências com dinheiro: contagem.
As ideias e conceitos matemáticos podem ser trabalhados pelo educador por meio de perguntas ou observações (BRASIL, 1998), intervenções, e mesmo durante a apresentação das regras das atividades escolhidas.
A necessidade do planejamento Neste ponto, Villas Bôas (2007) destaca duas questões importantes: a primeira é que, conforme lembra que jogos e brincadeiras não podem ser vistos apenas como uma forma ‘fácil’ de transmitir conteúdos, mas sim representar um desafio para as crianças, ainda que proposto de forma lúdica. A segunda é que os jogos podem ser recursos importantes para o professor desde que haja uma escolha adequada, que se justifique por um projeto de trabalho; em outras palavras, os jogos e brincadeiras devem fazer parte do projeto pedagógico do professor, ou seja, serem instrumentos importantes para atingir os objetivos definidos em seu planejamento. Para avaliar a adequação de um determinado jogo ao objetivo pretendido e à faixa etária das crianças, Villas Bôas (2007) sugere ler suas regras, jogá-lo com outras pessoas para acostumar-se com ele e perceber quanto tempo ele requer e quais podem ser as dificuldades. Mesmo após a apresentação aos alunos, a autora recomenda reservar vários momentos para as partidas, observando sempre o comportamento e as dificuldades da classe; depois, é importante voltar ao projeto original, analisando o que precisa ser transformado. Nessa avaliação, o professor pode considerar modificar regras, o tempo de duração ou mesmo o jogo escolhido, entre muitas outras ações possíveis. | 35
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Assim, confirma-se que os jogos e brincadeiras na Educação Matemática devem ter “uma intencionalidade”; não podem ser “a Matemática transmitida de brincadeira”, mas sim “ser a brincadeira que evolui até o conteúdo sistematizado.” (MOURA, 1991 apud VILLAS BÔAS, 2007). Se planejados, constituem situações que possibilitam ao aluno ter consciência do conhecimento a ser adquirido, e o apreenda, e nesse sentido é fundamental o papel do professor como organizador e mediador dessas situações (CABRAL, 2006). Por fim, Solimão (2011) acrescenta que o lúdico deve estar inserido no planejamento durante as aulas: é por meio dele que se desperta a atenção das crianças e a aula torna-se prazerosa, tanto à criança quanto ao professor. Assim, deve-se respeitar a natureza dessas atividades, apenas destacando os aspectos de ensino e aprendizagem de determinados conceitos.
Conclusões A brincadeira é um elemento natural, próprio do cotidiano da criança e pode, como visto, consistir um meio para o ensino e aprendizagem de conceitos matemáticos, entre muitos outros. No entanto, cabe ao educador a tarefa de pensar e planejar tais atividades, definindo claramente os conceitos e conteúdos a serem trabalhados em cada uma, e reservando momentos para que elas ocorram em sala – em resumo, realçar o aspecto didático sem esquecer o lúdico.
Referências BLANCO, M. R. Jogos cooperativos e educação infantil: limites e possibilidades. Dissertação (Mestrado). 2007. São Paulo, SP: Universidade de São Paulo Faculdade de Educação, 2007. 181 p. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: 1ª a 4ª série - Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. CABRAL, M. A. A utilização de jogos no ensino de Matemática. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal de Santa Catarina, - Centro de Ciências Físicas e Matemáticas, 2006, 52 p. KAMII, C. A criança e o número. 11ª ed. Campinas, SP: Papirus, 1990.
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Jogos e Brincadeiras: Ensinando Conteúdos Matemáticos na Educação Infantil
LIMA, A. V. A. A Matemática na educação infantil: trajetória e perspectivas. Revista Criança, n. 40, set/2005, p. 30-32. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/eduinf/revcrian40.pdf>. Acesso em 08 mai. 2008. NASCIMENTO, N.; SELVA, A. C. Explorando a Compreensão das Estruturas Aditivas através de Jogos. Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de PósGraduação em Educação; Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 7p. Disponível em: <http://www.ce.ufpe.br/gt1sbem/publicacoes/ nascimentoselva.pdf>. Acesso em: 13 set 2009. SINCLAIR, H. (Org.). A produção de notações na criança: linguagem, número, ritmo e melodias. São Paulo: Cortez, 1989. In: Lima, A. V. A. A Matemática na educação infantil: trajetória e perspectivas. Revista Criança, nº 40, set/2005, p. 30-32. SOLIMÃO, M. O ensino-aprendizagem de Matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental: os jogos como auxiliadores no processo. Monografia (Especialização em Ensino de Ciências). 2011. Medianeira-PR: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2011. 45 p. VILLAS BÔAS, M. C. Construção da noção de número na Educação Infantil: jogos como recurso metodológico. Dissertação (Mestrado). 2007. São Paulo, SP: Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação. 2007. 129 p.
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A Importância da Leitura na Educação Infantil Elizandra Aparecida Luiz
Nos tempos antigos, antes da invenção da imprensa, eram poucas as pessoas que podiam se dedicar ao privilégio da leitura e, mesmo depois do Século do Humanismo, ela só era acessível a uma elite culta. A globalização veio trazer mais conhecimentos aos indivíduos, e o “direito de ler” (desenvolvimento das potencialidades intelectuais e espirituais, abrindo as portas para o aprendizado e consequente progresso) passou a ser uma preocupação real. Se em tempos remotos a leitura foi considerada simplesmente um meio de receber uma mensagem importante, hoje em dia, porém, a pesquisa nesse campo definiu o ato de ler, em si mesmo, como um processo mental de vários níveis, que muito contribui para o desenvolvimento do intelecto. Para Jolibert (1994) a constante repetição solicitada pelas crianças quando participam de um processo de leitura tem a função de treiná-las para o desenvolvimento da aprendizagem. A cada nova leitura a criança absorve um novo conhecimento ou reconhece uma aprendizagem anteriormente percebida; melhor dizendo, a repetição aumenta e assegura o esforço intelectual (JOLIBERT, 1994). A leitura na Educação Infantil é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade. Trabalhar com a linguagem é trabalhar com o ser humano (JOLIBERT, 1994). A leitura na Educação Infantil merece a devida importância posto que auxilia sobremaneira na formação da criança, tornando-a mais humana, diferente, com um olhar reflexivo. Inclusive Abramovich (1993) defende a ideia de que, através da literatura, a criança aprende muito, pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra ótica. Tem oportunidade de manter contato com as diversas áreas do conhecimento, como 38 |
A Importância da Leitura na Educação Infantil
História, Geografia, Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula. Porque, se tiver, perde o interesse, deixando de ser prazer e passando a ser Didática, que já é outro departamento. Colomer e Camps (2002) colocam que o encanto da leitura pode derivar do prazer de acompanhar o desenrolar de um enredo, de estudar caracteres, de apreciar belas descrições ou, simplesmente, da harmonia e elegância do estilo. Muitas vezes consiste apenas em fugir à monotonia do trabalho costumeiro, desviando a corrente do pensamento do curso habitual; outras, em mero passa-tempo: ler enquanto se espera uma condução ou uma consulta médica. Nos momentos de grandes perturbações morais, uma boa leitura pode salvar a razão aquele que tiver a habilidade de se envolver nela, esquecendo-se de si mesmo. O amor pela leitura e a apreciação da boa literatura devem ser cultivados como a mais valiosa salvaguarda das horas de lazer. A leitura tem também a função de satisfação de desejos não realizados, sendo que neste caso, a leitura não tem equivalente, pois dá ao indivíduo a faculdade de mergulhar a própria vida na vida dos demais, identificando-se com eles. A satisfação dos desejos cuja experiência lhes foi vedada, só na leitura dos livros pode ser encontrada, são os livros que permitem viverem todas as formas da experiência humana (COLOMER e Camps, 2002). Em um primeiro momento, a criança dedica-se à leitura por prazer, para satisfazer a uma curiosidade inata ou desejo instintivo de conhecer. Dentro de pouco tempo, porém, descobre que os livros podem fornecer-lhe instruções preciosas sobre o modo de fazer ou realizar as coisas em que está interessada. A ânsia das crianças por sensações novas, seu desejo de compreender a vida e de vive-Ia em condições e ambientes diversos do seu, somente podem ser satisfeitos através da leitura. Em suma, a leitura dá á criança a faculdade de viver uma vida mais rica, mais ampla e mais completa (SILVA, 2005). A leitura abre espaço à imaginação, transcende a realidade. Para Abramovich (1994) o sistema capitalista não aceita levar em consideração esses fatores quando se trata de aprendizagem, pois se considera que o mais interessante é aprender para produzir e gerar capital, assim brincar com a linguagem pode parecer perda de tempo, o importante é aprender ler o quanto antes, para começar a produzir o quanto antes. Neste momento a literatura perde seu caráter | 39
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
do prazer, da conjunção dos sentimentos humanos e do imaginário, e passa a ser um instrumento muito mais alfabetizador, voltado mesmo para a decodificação e a produção do saber técnico, conceitual, que já direciona a criança para seu futuro papel de “aluno” na escola de ensino fundamental. Abramovich (1993) chama a atenção para o fato de que a leitura, principalmente a leitura de histórias infantis, não é uma questão que se permite ficar restrita à necessidade de ser ou não alfabetizado. Para a criança da educação infantil, ouvir histórias é fundamental, e mesmo crianças maiores que já sabem ler, também podem sentir grande prazer nas atividades de leitura. A apresentação da leitura em forma de teatro, encenada, dramatizada, facilita muito o entendimento da leitura e as crianças apreciam, atentas àquilo que Faria e Mello (2005) destacam como um jeito de ligar palavras com olhares, mímicas, gestos e sons, dando formas às experiências vividas. Para Silva (2005) a leitura de bons livros infantis, por conseguinte, é o fundamento do ensino da leitura. O interesse pelo enredo e pelo destino das personagens leva a criança a terminar o livro num curto prazo de tempo. Quando isso acontece, obtém-se o efeito prático tão necessário à compreensão na leitura. É nesse ponto que a influência da leitura em sala de aula se combina com as inclinações na esfera pessoal. Mais importante, porém, do que toda a leitura feita na escola de Educação Infantil é a influência do professor sobre os hábitos de leitura, que devem ser sempre incentivados e motivados No contexto da leitura, Silva (2005) considera que a primeira motivação para ler é simplesmente a alegria de praticar habilidades recém-adquiridas, o prazer da atividade intelectual recém-descoberta e do domínio de uma habilidade mecânica. Se o professor responder a essa motivação com material de leitura fácil, emocionante, apropriado à idade trabalhada, e reproduzir esse primeiro material com livros de dificuldade crescente, as crianças se tornarão boas leitoras. Um bom leitor gosta de ler. Tais motivações e interesses íntimos, geralmente não percebidos conscientemente pela criança, correspondem a concepções definidas de sua experiência: prazer ao encontrar coisas e pessoas familiares (histórias ambientais) ou coisas novas e não-familiares (livros de aventuras), desejo de distanciar-se da realidade e viver em um mundo 40 |
A Importância da Leitura na Educação Infantil
onde a fantasia se faz presente (contos de fadas, histórias fantásticas, livros utópicos), necessidade de autoafirmação, busca de ideais (biografias), aconselhamentos (não-ficção), entretenimento (esportes, artes). Essas motivações para ler e os interesses de leitura entrecruzamse. Entretanto, sempre é bom lembrar que cabe ao professor tentar descobrir os impulsos e interesses dominantes do leitor infantil, assim, no próximo capítulo, o tema tratado está relacionado às estratégias para o envolvimento com a leitura.
Referências ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,1993. COLOMER, T.; CAMPS, A. Ensinar a ler, ensinar e compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002 FARIA, A.L.G. de; MELLO, S.A. (Org.) Linguagens infantis. Outras formas de leitura. Polemicas do nosso tempo. Campinas: Autores Associados, 2005. JOLIBERT, J. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. SILVA, E. T. A produção da leitura na escola (pesquisas x propostas). 2ª ed. São Paulo: Ática, 2005.
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Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
A Contação de História e suas Etapas no Desenvolvimento da Criança da Educação Infantil Esleide de Cassia Rodrigues
A contação de histórias vem sendo um ponto muito estudado em relação às etapas no desenvolvimento das crianças da educação infantil e a utilização da hora do conto e a presença do narrador no momento de ouvir histórias para as crianças do século XXI, estão assumindo momentos de difíceis disputas com os recursos tecnológicos atuais. Vários são os apontamentos sobre a forma e uma maneira correta de resgatar o gosto e a emoção de ouvir a história de um livro. Na era contemporânea auxiliar o aluno no desenvolvimento de sua imaginação e criatividade por meio desse momento lúdico (ouvir histórias) se tornou um labirinto pedagógico, pois muitos são os questionamentos dessa época tão digital. Sabemos que a criança é sempre receptiva ao conhecimento ao lúdico, ao criativo e imaginário, e a hora de ouvir e participar da contação de história é o momento de colocar a prova suas teorias, entendimentos, criatividade e seu lúdico sobre o mundo em que está inserida. A contação de história torna-se o momento de concentração, pensamento, testes, criação de hipóteses e de aprendizagem, além de ser um instante mágico e de muita diversão. Tantas emoções e sentimentos são capazes de tornarem a hora do conto o momento ideal de transação de emoções? Será esse o instante em que os livros passam a serem adorados pelos pequenos da nova geração. Ouvir histórias na educação infantil é um dos momentos mágicos, de extremo desenvolvimento além de essencial para as crianças. Momento este que auxilia, fortalece, amplia e enriquece 42 |
A Contação de História e suas Etapas no Desenvolvimento da Criança...
muito o desenvolvimento físico da oralidade e cognitivo da comunicação da criança, além de expandir as possibilidades de compreensão e entendimento de situações imaginárias e reais que esse indivíduo em fase de desenvolvimento vivencia. O professor deve refletir e se questionar: Como fazer o livro ser mais importante que o tablet, notebook e celular? Porque a faixa etária infantil demonstrar gostar tanto desse momento (ouvir histórias), Porque adoram a repetição da mesma às vezes até de forma incansável. Em que, essa ferramenta tão significativa pode auxilia-lo nas questões didáticas já que o narrador é sempre o papel assumido por ele. A contação de história é uma ação repleta de técnicas que fortalece o contato das crianças com questões reais e fictícias. O interagir, pensar e raciocinar passam a exerce uma grande influência sobre as crianças é deve ser um ponto considerado pelos educadores. O professor quase sempre é o narrador que conta a história de maneira expressiva a ponto de auxiliar o ouvinte a vivenciar em seu imaginário o que esta escutando, e refletir sobre o contexto, identificar alguns momentos do que lhe esta sendo contado, e por meio dessa situação, resolver seus conflitos reais e internos. “A contação de histórias é atividade própria de incentivo à imaginação e o trânsito entre o fictício e o real.” (RODRIGUES, 2005, p. 4). A literatura e o “Faz de conta” utilizado nos transporta para sua essência. Com a história somos conduzidos ao mundo dos sonhos, do lúdico e da imaginação. É por meio dela que temos nossa criatividade semeada e germinada, aguardando sempre o florescer. O narrador ao apresentar um enredo, deve criar um momento agradável, gratificante e produtivo, para tal um planejamento deve ser elaborado sobre o momento da contação como: para qual publico e qual história será contada, qual a forma mais adequada para esse público ouvi-la, em que local irá acontecer (casa, escola, jardim, hospital etc...), qual a faixa etária e a realidade dos ouvintes, existem características especificas (órfãs, portadores de necessidades especiais, refugiados, etc...), desse público. Na sequencia o narrador deve conhecer a história a ponto de encontrar em suas entrelinhas quais caminhos irá percorrer, que fantasias irá propiciar as crianças, se existem onomatopeias para contá-las, se a linguagem é clara ou pode ser trocado para essa questão, se algum momento pode e deve ser reproduzido por mais de uma vez. Os enredos são inúmeros, | 43
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
mas a diversidade e o nível de cada indivíduo deve ser respeitado, afinal existem os que precisam de histórias simples e atraentes, os que necessitam dos enredos com mais ritmo e velocidade e ainda os que admiram a reprodução por mais de duas vezes e os que preferem e necessitam de histórias mais complexas onde a imaginação precisa e começa a ser estimulada. A interação do narrador com o conteúdo da história lhe oferta mais segurança para enriquecer esse momento, como diz: COELHO (2001) “estudar a história é ainda escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la.” (COELHO, 2001, p. 31), afinal em um processo de contação de história os dois envolvidos: narrador e ouvinte devem estar em sintonia. As ferramentas escolhidas para a reprodução da história devem sempre estar de acordo com a harmonização dessas informações, que influencia o imaginário e emoções dos ouvintes. A clareza das palavras, a tranquilidade e a intensidade das ações que serão ofertadas aos ouvintes são extremamente importantes. O momento da contação de história deve ser muito divertido e instigante o narrador deve começar de forma clara com muita calma ao falar, e tranquilamente ir acelerando e aguçando a curiosidade dos ouvintes, sempre utilizando surpresas, suspenses e momentos de divertimento, em alguns pontos pode apresentar detalhes como: características do personagem e do local ou até de ambos, por meio de utilização do tom de voz, com auxilio de onomatopeias, questionamentos, acréscimos de versos, rimas e ditados populares que as crianças já conhecem para elucidar momentos da história, precisam sempre ser utilizados. Sabemos que ouvir história é muito importante para o desenvolvimento do cognitivo do indivíduo, e é por meio do ouvir, imaginar e contar histórias que a criança aprende sobre o meio em que está inserido, das questões sociais que o rodeiam e dos conflitos que vivencia. Esses momentos devem ser utilizados como instrumentos facilitadores do desenvolvimento e da aprendizagem da criança. Segundo BETTY, Coelho sobre MALBA Tahan (p.43- Contar Histórias uma arte sem idade) “...a interferência como técnica de grande efeito”. O indivíduo possui seu poder de argumentação e questionamento sobre a vida emocional e social, e quanto mais elementos obtiver para auxiliá-lo em suas compreensões melhor irá 44 |
A Contação de História e suas Etapas no Desenvolvimento da Criança...
lidar com questões adversas e ouvir história é o ponto chave para desenvolver essas habilidades. Os hábitos e costumes da vida social começam a fazer sentido para as crianças que iniciam seu processo de entendimento das questões como solidariedade, amor e meio ambiente. As histórias bem contadas se tornam envolventes, muitos valores são trabalhados durante sua explanação, além da observação das crianças que ficam aguçadas. Estando em um ambiente educacional é de extrema importância que o gosto por esses momento sejam estimulados, afinal ampliar o gosto por esses momentos de domínio da linguagem oral, escrita e principalmente social além da criatividade, felicidade e magia é uma das funções da escola. A hora do conto é sempre muito significativa e as histórias enobrecem a vida alegram a alma e auxiliam o desenvolvimento da imaginação. Ouvindo histórias nosso imaginário ganha força e a compreensão de nossa vida se torna mais clara. Cada história ouvida e contada são ramificações do encantamento do saber viver com harmonia e alegria.
Referências COELHO, B. Contar Histórias – Uma Arte sem fim. Serie educação. Editora Ática, 2000. SEBER, M. da G. Construção da Inteligência pela criança. São Paulo: Scipione, 2003, 319 p.
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A Importância do Projeto Político Pedagógico Flaviane Gomes da Costa
Em busca de qualificar o ensino, diversos estudos e pesquisas tem tido como objeto de estudo o Projeto Político Pedagógico (PPP). Para que haja uma organização interior e uma direção no ensino ligado ao compromisso sócio político é necessário que seja construído o PPP escolar contemplando a organização do trabalho pedagógico na unidade escolar em geral e em sala de aula. Por estar ligado ao processo sócio político todo projeto pedagógico é também um projeto político, ou seja, é um projeto que se direciona à reflexão e discussão dos problemas da unidade escolar, tentando saná-los de forma efetiva levando todos os membros da comunidade escolar a exercer sua prática com qualidade e ética social. As próprias palavras compõem sua existência, segundo a Revista Nova Escola - Gestão Escolar: 99 É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo. 99 É político por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir. 99 É pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem.
Durante a construção do projeto é de extrema importância a participação de todos da comunidade escolar, incluindo os pais dos alunos, pois em conjunto é possível conhecer os reais problemas e solucioná-los. Ao construir o PPP a escola deve seguir suas regras e não envolver as ordens impostas pelo poder centralizador, pois as normas da elite objetiva seu poder e impõem suas próprias regras desfavorecendo as classes de menor condições, o que acarreta nas 46 |
A Importância do Projeto Político Pedagógico
atuais diferenças sociais. A construção do PPP é o meio em que se pode impor uma contraposição social e buscar a igualdade para todos, buscar uma forma de ensino análogo e proporcionar a oportunidade de sucesso social à todos os alunos sem diferenças. A principal preocupação do PPP é como a práxis pedagógica está sendo realizada em sala de aula e se respeita o objetivo de formar cidadãos críticos capazes de agir e buscar pelos seus direitos sociais, interagindo na vida política, econômica e cultural do país. Para garantir o efetivo trabalho dentro deste contexto, todos os profissionais da educação necessitam estar aprimorando e renovando seus conhecimentos e, venham a reconhecer a importância de aprender sempre mais pra ficar apto a exercer o seu cargo com qualidade de ensino e respeite as regras criadas pela própria comunidade no PPP; é preciso que haja a colaboração de todos e que se encerre o que já vem pronto há anos reformulando cada regra a favor de uma sociedade mais igualitária e cidadãos éticos saibam pôr em prática seus direitos e deveres.
Referências LOPES, Noêmia. O que é projeto político pedagógico PPP? Disponível em https://gestaoescolar.org.br/conteudo/560/o-que-e-o-projeto-politicopedagogico-ppp. Acesso em 23 de Abril de 2018. VEIGA, Ilma Passos A. (Org). Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção possível. 3. ed. Campinas: Papirus Editora, 1995
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Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
A Reciclagem no Processo Educacional Janaina de Oliveira Vieira Feliciano
No momento em que vivemos hoje, encontra-se uma grande preocupação com nosso planeta e a forma como o ser humano tem lidado com o mesmo. Ao longo dos anos várias formas de exploração do meio foram praticadas em busca de bem estar para o homem e qualificar seu modo de vida, sem se preocupar com os prejuízos que estavam acarretando à natureza. Ações inconsequentes como desmatamento, poluição do ar e de rios, contaminação do solo e erosões comprometeram a qualidade da água e do ar, e aos poucos, vem transformando o clima acarretando em grandes catástrofes ambientais como a seca, queimadas, tempestades e furacões. Segundo Bueno, 2012: Os resultados da ação exploratória do homem na natureza já podem ser percebidos nos quatro cantos do planeta. A diminuição significativa da cobertura vegetal acelera o processo de erosão da terra – assim, quando há uma chuva forte, por exemplo, as possibilidades de acontecer enchentes e inundações são muito maiores
Diante de tamanha destruição, um trabalho significativo de conscientização tem sido realizado dentro de empresas, escolas, através da mídia, convenções e palestras em busca de amenizar o problema e buscar novas alternativas para sobreviver de forma sustentável. Dentre muitas ações, a reciclagem é um processo significativo que reutiliza materiais descartados que seriam jogados à natureza e pode ser realizado em diferentes setores sociais: em indústrias, casas, escolas e seu reaproveitamento é encontrado em produtos artesanais, vestuários, hortas e muitos outros meios. No ambiente escolar cabe ao professor realizar um trabalho qualitativo que estimule os alunos desde pequenos a crescerem com hábitos de reciclar e cuidar do planeta. Ações de economizar água 48 |
A Reciclagem no Processo Educacional
e jogar lixo no lugar correto são formas que as crianças pequenas podem aprender e ensinar em casa e na comunidade em que vive; porém mais que isso ela pode aprender a reutilizar materiais. Desde o berçário e toda a fase da Educação Infantil, as crianças podem manusear brinquedos com materiais reciclados como chocalhos feitos com garrafinhas plásticas, potinhos de iogurte, bonecas de pano, caixa sensorial confeccionada com caixinhas de leite, livros confeccionados com papelão, fantoches e enfim, diversos brinquedos criados pelo professor que podem servir de exemplo também para os pais e a comunidade escolar. Esses brinquedos podem ser confeccionados com o auxilio dos pais e responsáveis em momentos de reuniões em busca de uma educação participativa e envolvimento dos pais com a escola do filho. Latões coloridos podem ser espalhados pela escola para coletar os lixos de acordo com o material, como vidro, papel, plástico e metal. Pode ser confeccionada uma horta com vasinhos de garrafas pet e a compostagem com alimentos descartados pela cozinha da escola, quadros para pintura com papelão e tinta feita com semente de urucum, beterraba, cenoura e espinafre. Este trabalho vai além do infantil e deve ser realizado também no ensino fundamental, médio e superior. Maquetes, trabalhos em feiras de Ciências, pesquisas diversas sobre com o viver de modo sustentável, enfim o trabalho de conscientização não tem idade. O importante é mudar o cuidado com nosso planeta. A separação de lixos e o ato de reciclar é uma forma de reduzir o impacto ambiental na produção de novas matérias primas, diminuir a poluição ambiental, diminuir a quantidade de resíduos no aterro sanitário e até mesmo proporcionar novas oportunidades de empregos para o ramo reciclável. Professor, aluno, pais, cozinheiro, faxineiro, porteiro, enfim, todos devem ter consciência da importância de se reciclar algo e participar ativamente da construção de uma sociedade mais limpa e sustentável, preservando a qualidade de vida do homem de forma justa mantendo nossas riquezas naturais.
Referênicas BUENO, Chris. Desmatamento e extinção de espécies Ecologia, 2012. Disponível em: http://360graus.terra.com.br/ecologia/?did=27175&action=geral.
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Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
A Abordagem de Reggio Emilia Jucimare Carina Pessan Pinheiro
A abordagem de Reggio Emilia surgiu após poucos dias do fim da Segunda Guerra Mundial, neste momento as pessoas começaram a cogitar a idéia de construir e colocar em funcionamento escolas de qualidade para a primeira infância, na realidade mesmo que implícito, queriam terminar com a proposta de receber a educação da primeira infância como caridade. Após discussões e reuniões decidiram que iriam realmente construir a escola, mas então começa a surgir um dos primeiros obstáculos, que era a falta de dinheiro. Mas a resposta logo surgiu mesmo àquelas pessoas terem passado por uma guerra, estavam dispostas a se levantarem com o que restou dela, decidiram que iriam vender um tanque de guerra e outros objetos que fora deixado pelos alemães para dar início à construção. A história de Reggio Emilia foi se esculpindo de maneira inédita, vários comentários surgiram, fazendo com que as notícias chegassem até Loris Malagguzzi (1920-1994) que era educador, que na realidade ficou surpreso com os comentários e decidiu ir até Villa Cela, que fica a poucas milhas de Reggio Emilia para constar se realmente as informações eram verdadeiras. Chegando a Villa Cela percebeu e viu com os próprios olhos que tudo o que tinha ouvido era real. Assim que Malaguzzi deparou se com aquela situação tudo parecia irreal, inacreditável, na qual uma escola iria surgir da venda de um tanque de guerra, de caminhões e cavalos. Em oito meses a primeira escola já lançava raízes, o que ocorreu em Villa Cella, foi apenas o início da revolução da abordagem de Reggio Emilia. Outras escolas foram abertas, pela periferia e nos bairros mais necessitados e todas estas escolas eram operadas e organizadas por pais. O início da construção de uma escola até a abordagem de Reggio Emilia, não fica só registrada pela vontade e envolvimento dos pais responsáveis pela obra inédita, mas sim pela substituição de uma escola para a infância em defesa da escola da infância e esta mudança não somente representa alteração de preposições, 50 |
A Abordagem de Reggio Emilia
mas causa uma grande revolução nas concepções, na natureza da criança e função social da escola de educação infantil, portanto, por trás desta grande mudança há uma grande luta pela transformação, passando a coexistir um diálogo entre elementos pedagógicos, culturais e também políticos. Este processo não foi revelado de maneira suave, fácil e imediato, pois, consistiu em vigorosos embates, de modo que as razões pedagógicas ficassem em prioridade e não mais se submetessem passivamente as esferas políticas e sociais. Um dos valores fundamentais que rege os princípios educativos da abordagem de Reggio Emilia é a imagem da criança, que não se trata de uma concepção cristalizada, mas dinâmica, onde a construção da subjetividade é processual e contínua, acontece no coletivo, confirmando as singularidades do sujeito. Uma das características marcantes da abordagem de Reggio Emilia é o trabalho com projetos. Os projetos são desenvolvidos por grupos de no máximo cinco crianças, pois os educadores de Reggio Emilia acreditam que esse número de crianças é o melhor para a interação e andamento dos trabalhos, o tema dos projetos é escolhido de acordo com os interesses dos alunos, para isso os educadores observam os alunos, seus interesses e quais são os assuntos que estão conversando. Os projetos realizados pelas crianças das pré-escolas são conduzidos por etapas, conforme os interesses que as crianças demonstram durante o andamento dos projetos. As crianças visitam locais, observam características, desenham objetos e elementos que ás impressiona. Após as observações, os desenhos, as crianças fazem uma documentação do que mais chamou sua atenção e os educadores costumam fazer gravações de comentários e discussões feitas pelas crianças, quando entrevistam pessoas e dão suas opiniões sobre o assunto que estão sendo abordados. Estes trabalhos de investigações sobre temas, além de serem experiências gratificantes, proporcionam às crianças conhecimentos de tópicos em profundidade, nesse sentido o trabalho pode se estender por vários meses e a cada etapa vão surgindo mais atividades e mais propostas para investigações. Com as crianças que ainda não dominam as habilidades de escrita, mas conseguem observar e terem idéias, em Reggio Emilia utilizam-se as linguagens gráficas que exploram os conhecimentos, constroem e reconstroem conhecimentos investigados, através das quais as crianças vão registrar suas idéias, observações, recordações e sentimentos. As | 51
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crianças são incentivadas, os educadores oferecem diferentes materiais para que elas possam sempre expressar aquilo que deseja. A experiência de Reggio Emilia demonstra que as crianças préescolares podem usar muitos meios gráficos para comunicar as informações adquiridas e as idéias exploradas no trabalho em projetos e que podem trazer isto de uma forma muito mais fácil e competente do que se presume. (Katz, L. 1989, pág.38).
A lição para crianças da pré-escola em Reggio Emilia, é o desenhar através de sua observação, além de pintar através de sua imaginação, ao trabalharem com desenhos tem a competência para explorar na expressão visual representativa, não representativa, realística e abstrata. Além do trabalho com projetos as crianças de Reggio Emilia participam de outras atividades, elas têm a oportunidade para jogos espontâneos com blocos, dramatizações, brincadeiras ao ar livre, audição de história, encenação de papéis, culinária, atividades de pintura, colagem e trabalhos com argila, esses materiais estão disponíveis diariamente para as crianças, e são asseguradas para todo o envolvimento em projetos de longa duração. É importante destacar que o sucesso da abordagem de Reggio Emilia ocorre em grande parte ao tipo de relacionamento existente entre adultos e crianças, para que isso ocorra os adultos são convidados a participarem de atividades em sala de aula, a escola encaminhar textos e proposta para os pais analisarem e apreciarem os projetos que as crianças estão desenvolvendo. Em Reggio Emilia, educadores e alunos se envolvem igualitariamente com o progresso do trabalho, explorando as idéias, suas técnicas e materiais a serem usados. O papel que a criança exerce é o de aprendiz e não de alvo para instrução ou objeto de elogio. O bom relacionamento entre educador e aluno tem vários benefícios, em primeiro lugar a criança pode tomar decisões do que representar, como representar, em segundo lugar, vem o interesse do educador de procurar saber se a criança esta engajada nos projetos e se seus interesses são iguais aos das crianças. Os educadores se interessam em fazer sugestões, em ouvir atentamente idéias e perguntas das crianças constantemente e se interesse para responder perguntas feitas pelas crianças. Para obter uma boa qualidade para o programa pré-escolar deve-se examinar como que o adulto se relaciona com a criança. A hipótese é trabalhada pelas crianças com uma serenidade impressionante, porque as crianças de Reggio Emilia sentem o que 52 |
A Abordagem de Reggio Emilia
é importante para os adultos que estão a sua volta. As crianças têm consciência sobre o que importa aos adultos, o que consideram interessante, válido ou digno de provar. Elas também sabem que os adultos se empenham de explicar, fotografar, anotar e assim por diante. Nas pré-escolas municipais de Reggio Emilia todos os profissionais engajados nesta abordagem possuem um ótimo relacionamento com as famílias das crianças e zelam pela integridade das práticas profissionais, convidam os pais para conhecerem os projetos, mostram o que está sendo construído pelas crianças e informam-os sobre o andamento da aprendizagem de seus filhos para que possam também se envolver e auxiliar no desenvolvimento dos projetos. Em Reggio Emilia, e compreende se que a acriança recebe um diferente olhar dos adultos, que as percebem como sujeitos que possuem capacidades, qualidades, sentimentos e muita curiosidade a ser explorada. Dentro do enfoque da abordagem de Reggio Emilia, descobrimos que existem várias maneiras de explorar e trabalhar as potencialidades, capacidades e competências existentes nas crianças pequenas, ficando clara a observação de que as crianças respondem positivamente bem aos novos meios de como descobrir a vida e o mundo do conhecimento de maneira prazerosa, através de desenhos, pinturas, dramatizações, esculturas, expressões de sentimentos, desejos e vontades que surgem no decorrer do processo de aprendizagem. A abordagem de Reggio Emilia é reconhecida atualmente como uma das melhores do mundo, porque apesar de ser parte de uma educação pública, não carrega interesses políticos, esta abordagem é eficaz porque a família esta totalmente envolvida na luta por uma educação que seja capaz de criar e desenvolver seres mais humanos, construtivos e capazes de modificar o futuro com o poder do conhecimento e também com suas histórias de vida.
Referências EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, Ltda, 1999. RABBIT, Giordana. À procura da dimensão perdida: uma escola de infância de Reggio Emilia. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1999. | 53
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A Brincadeira e seu Processo Histórico Juliana Cristina Sgobe Guerreiro
Ao longo da história, o lúdico deixou de ser apenas algo divertido e tomou uma conotação mais séria, haja vista que ele assumiu um caráter construtivo e passou a ser considerado um traço comportamental do ser humano. Assim, as brincadeiras e os jogos assumiram uma postura de ensinar, uma vez que todas as ações condizentes ao mesmo eram capazes de produzir a aprendizagem, em diversos âmbitos. Brincar, de acordo com diversos estudiosos, entre eles Piaget e Vigotsky era considerado algo inerente a natureza humana, e esta, ultrapassavam os limites de brincar simplesmente por brincar, ao contrário, essa ação trazia inúmeros benefícios para tanto a aprendizagem quanto para a socialização, e não se restringia apenas pelo prazer produzido. Contudo, vale considerar que o lúdico era uma realidade presente desde a Grécia clássica, Idade Média e até mesmo Renascimento, porém, a única coisa que mudava era as funções e as características das brincadeiras. Posterior ao século XIX, com a Revolução Francesa já findada, começam a surgir indícios que colocam a brincadeira numa perspectiva educacional, e são incluídos em algumas escolas, os princípios básicos das teorias de Froebel e Pestalozzi. Froebel, no entanto, é quem inicia a teoria de que as brincadeiras auxiliam a criança de maneira expressiva durante a aprendizagem, sendo que a sua proposta pedagógica dá uma grande ênfase ao brinquedo e ao ato de brincar. Kishimoto (2001) aponta a brincadeira como um ato espontâneo da criança, afirmando a necessidade da mesma ser supervisionada por um professor durante os jogos e as brincadeiras,
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A Brincadeira e seu Processo Histórico
de modo que pontos atuais sejam reverendados e discutidos, baseado em Froebel. Durante o jogo, a aprendizagem está relacionada não só as questões sociais, como também as formas de vida, e através das brincadeiras, a criança é capaz de reproduzir situações reais cuja qual está vivenciando. Kishimoto (2001) afirma que as crianças através das brincadeiras, tentam compreender o mundo e até mesmo reproduzir situações da vida. O jogo é capaz de unir situações vivenciadas pela criança a situações que fazem parte da vida em sociedade, segundo Dewey, que também atribui a vida social como base para o desenvolvimento infantil. A adequação das crianças às regras do jogo possibilita que a mesma estabeleça uma comunicação com o meio que estão inseridas, além de auxiliar a criança no que tange o respeito das regras sociais. Não é necessário que se induza a criança a aprender, esse percurso ocorrerá de maneira natural durante o jogo. Assim, Amaral afirma que Aprender é uma necessidade orgânica, é social para a criança, por que tanto seus poderes devem ser traduzidos em seus equivalentes sociais, como o objetivo deve permitir através de sua conotação fortemente socializadora, a manifestação orgânica potencial da criança (AMARAL, 2008 p.103).
A partir do século XX, a psicologia infantil passou a considerar a brincadeira como uma representação da vida da criança. Piaget (1978) destaca que a criança participa de maneira ativa do seu próprio desenvolvimento, e logo após esse desenvolvimento ocorre à chamada aprendizagem, decorrente do processo de maturação. Piaget (1978) ainda aponta que o desenvolvimento infantil ocorre através de fases, cuja estas também sofrem a interferência dos jogos, que atuam de maneira contundente no desenvolvimento infantil em todas as suas dimensões, inclusive a psíquica e motora. A primeira fase consiste em ser a sensório motor, que abrange até os dois anos de idade e é marcada pela execução de jogos | 55
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simples, que visam o divertimento e a utilização dos movimentos do corpo, baseados em ações espontâneas, não incidindo ainda em nenhuma forma de aprendizagem. A segunda fase atinge dos dois até os sete anos de idade, e aqui já se inicia o desenvolvimento do pensamento verbal, e os jogos assumem uma estrutura de jogo infantil propriamente dita, podendo ser identificados como jogos simbólicos, que de acordo com Friedman (1996), a partir deste momento a criança passa a se interessar pela realidade simbolizada. Assim, o jogo simbólico consiste em ser a transformação dos objetos em símbolos de acordo com as vontades e necessidades das crianças, principalmente durante o período pré-operatório, e pode ser comparado a uma representação imaginária partindo de uma representação real, de acordo com Friedman (1996). O período pré-operatório engloba crianças entre 6 e 7 anos, cujo este se estende até os 12 anos, caracterizando o período formal, propriamente dito. Os jogos deste período ocorrerão de maneira coletiva e priorizarão a utilização de regras, que culminarão com uma aprendizagem e socialização, respectivamente, que possibilitarão a criança uma adaptação mais fácil no que diz respeito à vida social. Miranda (2001) afirma que Piaget foi o pesquisador que mais colocou o jogo como um elemento fundamental na aprendizagem infantil, defendendo que a criança, ao brincar, acaba por externar características fundamentais que estão intrinsecamente ligadas a sua aprendizagem. Por outro lado, devem-se considerar os estudos desenvolvidos por Vigotsky, que busca estabelecer uma relação entre o lúdico e a aprendizagem, respectivamente. Esse mesmo estudioso considera o homem como um ser social, cuja aprendizagem se dá inicialmente do meio social pra depois atingir o indivíduo, e a interação é decorrente da interação da criança com as pessoas mais próximas. Vigotsky (1998) aponta que a aprendizagem infantil se dá através da zona de desenvolvimento proximal, sendo que ele define esta como sendo, [...] A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, 56 |
A Brincadeira e seu Processo Histórico
determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (VYGOTSKY, 1998, p.112).
Tudo o que a criança já consegue executar sozinha, é considerada real, uma vez que já está consolidada e contribui pra o desenvolvimento da mesma, já a zona de desenvolvimento proximal é marcada por processos que estão em construção, cujo qual a criança às vezes necessita da ajuda de uma pessoa mais experiente. O lúdico favorece o amadurecimento dos processos de formação infantil, quando utilizado em conjunto com as propostas pedagógicas. Ao brincar, a criança adentra ao mundo do faz de conta, ocasionando uma aprendizagem intensa. Ao brincar utilizando a imaginação, a criança acaba representando situações reais, de acordo com as regras e situações comportamentais vigentes, possibilitando a criação e recriação de determinadas vivências. O jogo também pode ser visto como uma forma de comunicação entre os seres humanos, assim como um momento de expressão dos pensamentos e sentimentos.
Referências AMARAL, Maria Nazaré de Camargo Pacheco. Dewey: jogo e filosofia da experiência dramática. In:______. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2008. ________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular para a Educação Infantil: Brincar. Brasília: MEC / SEF, 1998.Documento Introdutório. FRIEDMANN, A. O direito de brincar: a brinquedoteca. 4ª ed. São Paulo: Abrinq, 1996. FROEBEL, F. A Educação do Homem (Tradução Maria Helena C. Bastos) Passo Fundo/RS: UPF. 2001. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas infantis. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n.2, jul./dic. 2001. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 12.ed. São Paulo: Cortez, 2009. | 57
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos Infantis: O jogo, a criança a educação. 15.ed. Petrópolis: Vozes,2009. MIRANDA, Simão de. Do Fascínio do Jogo a Alegria de Aprender nas Séries Iniciais.1ªed.São Paulo: Papirus,2001. PESTALOZZI, J. Cartas sobre Educación Infantil (Traducción de José M. Q. Cabanas) – Madrid: Editorial Tecnos. 1988. PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. VYGOTSKI, L.S. A formação social da mente. 6. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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A Mordida na Educação Infantil
A Mordida na Educação Infantil Karem Rodrigues Um dos problemas enfrentados em sala de aula na educação infantil é a mordida. A idade entre seis a 24 meses mais ou menos é a fase em que mais acontecem o ato de morder. A criança dessa faixa etária se encontra em um momento de aprendizado constante e lidar com diferentes sentimentos é uma tarefa inovadora e muito difícil para o bebê. A partir do momento em que nasce, o bebê já pode sentir o que é o medo, amor e a dor, diante das diferentes situações em que lhe é posta. A criança sente desde a barriga quando alguma situação está errada ou não, e após o nascimento ela continua sentindo o que acontece ao seu redor, por exemplo se os pais sentem medo de algo, o bebê também vai sentir. A presença amorosa, tranquilidade dos pais faz com que a criança se sinta segura e tranquila, e em ambiente agitado com brigas, faz a criança se sentir mal, irritada, nervosa. O desenvolvimento emocional do bebê depende diretamente da forma como ele é tratado e seu comportamento emocional é muito importante para o desenvolvimento de sua inteligência emocional. Em poucos meses a criança já é capaz de reconhecer atitudes que demonstrem o que ela quer, fazer birras e o significado da palavra “não”, que em muitos casos não aceita fazendo uso do choro para a chantagem com os pais. Saber lidar com essas birras e impor limites ao bebê é uma forma de mostrar à criança que ela deve respeitar o outro, e quem deve impor ao bebê o que ele pode ou não fazer são os pais. Se ensinado desde pequeno o respeito ao outro, quando iniciar a fase escolar, a criança saberá lidar com seus sentimentos e como agir com várias crianças ao mesmo tempo dentro da sala de aula. A criança que não recebe limites em casa, ou presencia situações de brigas ou violência, aprende a ser violenta também e não respeita as pessoas ao seu redor e, em sala de aula vai ser agressiva ao enfrentar uma situação que a deixe desconfortável como, por exemplo, em uma disputa de brinquedos com outro bebê, ou a professora determinar que faça alguma atividade que ela não goste. | 59
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
A mordida é a reação rápida que a criança encontra para afastar o outro, ou reprimi-lo para não pegar seu brinquedo ou ainda para não fazer algo que não a satisfaz. A criança pequena ainda não tem a linguagem oral desenvolvida e irá demonstrar seus suas manifestações afetivas e sentimentais de diferentes maneiras. O Sentimento de nervoso e desconforto quando não trabalhado em casa, será refletido imediatamente nas atitudes da criança que irá bater no amiguinho ou morde para ter o que quer. Contudo o ato de morder pode também ocorrer motivado pelo desenvolvimento biológico com o nascimento dos dentinhos que coçam e causam irritação. Nem sempre a mordida é resultado de um ato negativo, e ela circula no especo educacional e a comunicação entre os bebês pode ocorrer através de mordida. É importante levar em consideração também o ambiente educacional, como as atividades e a rotina são dispostas para os bebês e como o pedagogo lida com seus alunos. Quando uma criança leva uma mordida, existem diversas causas e deve ser avaliado o que pode ter motivado essa reação. Muitos pais não entendem sobre o assunto e manifestam reações negativas ao saber que se filho foi mordido, o que reflete diretamente no comportamento da criança e cria um obstáculo no processo educacional. A partir daí pode-se observar a importância de que a práxis pedagógica seja exercida em conjunto com os pais ou responsáveis e a comunidade escolar em um trabalho contínuo de conscientização sobre formas de educar e agir com os filhos, e como alcançar uma educação positiva estando conscientes do que determinadas atitudes podem causar nos bebês. Pode ser realizadas palestras, entrega de textos explicativos e reuniões que exponham o tema e conscientize os pais no relacionamento com seus filhos. Não se discute aqui atitudes certas ou erradas para serem tomadas diante de uma reação de mordida de um bebê, mas sim uma compreensão de quais as possíveis causas de um bebê reagir assim (seja por motivos biológicos, interacional, pela forma de expressão ou estado de humor) e como pode ser realizado um trabalho educacional com a criança que evite o ato da mordida, conscientizando os pais na convivência com seus pequenos de que as interações e intervenções vividas pelas crianças tem suas especificidades e vão definir o comportamento do mesmo. 60 |
O Papel Social da Educação Infantil
O Papel Social da Educação Infantil Luciana Arruda Minuchelli
A partir do momento em que nasce uma criança, inicia-se o primeiro contato com o outro, que de primeiro impacto é a família. Aos poucos conforme vai crescendo seu espaço de socialização vai aumentando e pessoas diferentes com culturas e identidades diferenciadas passam a fazer parte de sua vida auxiliando na formação e construção de sua identidade. Dentre várias preocupações no processo da educação infantil, a necessidade de socialização da criança ganhou espaço nos estudos psicológicos relatando o quão é importante para o desenvolvimento infantil e que através da Instituição Escolar esse processo se efetiva com maior intensidade podendo se relacionar com diferentes indivíduos. Assim, a educação infantil deixou de ter caráter assistencialista e passou a ser considerada um espaço enriquecedor, diversificado diante de vários estímulos que podem ser explorados nesta fase e completa por proporcionar uma educação efetiva para todos que a frequentam. No espaço escolar a criança encontrará oportunidades de ter relações com pessoas de diversas idades, alguns de seu tamanho, outros mais novos e outros mais velhos, diferentes das pessoas que já tem sociabilidade dentro de casa, encontrando várias origens socioculturais de diferentes crenças, religiões e valores que vão auxiliar no processo de construção da identidade e desenvolvimento da criança. Inicia-se o processo de conhecimento do outro, onde a criança terá que compreender que suas vontades nem sempre serão atendidas de imediato, que se deve respeitar as vontades do outro, respeitar as regras estabelecidas em sala e os combinados com a professora e que para realizar cada tarefa haverá um horário diferente e determinadas funções a serem cumpridas. Neste processo da primeira infância a criança vai se conhecendo e aprendendo a diferenciar o outro, será preparada para ser inserida na sociedade, e edificar seus valores, idéias e hábitos | 61
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culturais, aprendendo a ter respeito pelo outro em contato direto com a diversidade cultural e social encontrada em sala de aula. É de extrema importância que o pedagogo reconheça a importância de seu trabalho em sala de aula e procure planejar atividades que explorem essa convivência social da melhor maneira possível e auxilie a superar a fase egocêntrica partindo para o trabalho em grupo contribuindo para o desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. A práxis realizada pelo educador é a chave para que esse aprendizado ocorra com sucesso, pois o pedagogo é o mediador que irá proporcionar à criança situações diferenciadas de vivência dentro do ambiente escolar e estimular os grupos e rocas de experiências. De acordo com a Resolução CNE/CEB n. 5, de 17/12/2009, as práticas pedagógicas que compõem as propostas curriculares das creches e pré-escolas devem garantir experiências que promovam o conhecimento de si mesmas pelas crianças, que ampliem a confiança e participação delas nas atividades individuais e coletivas, que promovam a autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar, que garantam a interação entre elas, respeitadas as individualidades e a diversidade. As atividades cotidianas com as crianças pequenas proporcionam situações de afeto e aprendizagem que ampliam a confiança entre o aluno e o professor, o que auxilia a aceitação das mudanças, construção de suas idéias e alcance dos objetivos desejados na formação de cidadãos ativos e conscientes para viver em sociedade.
Referências Brasil. Resolução Nº 5, de 17 de Dezembro de 2009. Disponível em: http:// www.seduc.ro.gov.br/portal/legislacao/RESCNE005_2009.pdf. Acesso em: 15/06/18.
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Literatura na Educação Infantil
Literatura na Educação Infantil Luciana Marcondes Cesar A literatura infantil surgiu por volta do séc. XVIII, as produções dessa época eram principalmente focadas em contos de fadas e seu cunho era comercial, após esse momento, a literatura infantil ganhou seu espaço e relevância e sua produção se expandiu juntamente com o crescimento e desenvolvimento industrial. A partir desse momento a escola passou a ter papel fundamental, pois para adquirir os livros era necessário que as crianças soubessem ler. A literatura infantil começou então a ser carregada de fundo moralista e moldada nos preceitos religiosos e senhoris considerados politicamente corretos com o intuito de formar cidadãos coniventes com os valores de seus educadores. Esse modelo, que tinha o propósito de moldar a criança de acordo com as expectativas dos adultos, prosseguiu até meados do séc. XX. Hoje a literatura infantil é muito mais importante e muito mais ampla, pois leva a criança a desenvolver-se de forma prazerosa, emocional, social e cognitivamente ao abordar temas relativos à infância como medos, curiosidades, sentimentos, dores, perdas e ensinamentos sobre diversos assuntos. Esse universo particular leva a criança a vivenciar o desconhecido e fazer descobertas sobre o mundo e sobre elas mesmas, desenvolvendo seu imaginário para se tornar um leitor no futuro, mas como nenhum conhecimento se constrói sozinho o papel do mediador é fundamental nesse processo. A Educação Infantil “primeira etapa da educação básica que tem por objetivo o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (LDB, 1996), sendo assim não só a escola, espaço formal de educação, mas também a família e a comunidade tem papel importante na educação da criança e nesse caso os mesmos tem papel fundamental para desenvolver nelas o gosto pela literatura, sendo modelos de leitores, apresentando a literatura e tornando a leitura um momento de prazer. | 63
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
A literatura é fundamental na educação infantil, pois se torna motivadora e desafiadora e tem uma influência positiva, sendo capaz de tornar o indivíduo um sujeito ativo, motivando sua própria aprendizagem, capaz de compreender o meio em que vive e sendo capaz de transformá-lo se necessário. O hábito de contar histórias desde muito cedo faz parte das ações educativas e é uma ferramenta valiosa para a promoção da leitura e do desenvolvimento infantil. Quando bem apresentada pelos profissionais que mediam o ensino/ aprendizagem na educação infantil, a literatura torna-se fundamental nesse processo de aquisição de conhecimentos proporcionando aos seus educandos recreação, informação, dando asas à imaginação e muitos outros processos que ocorrem no ato da leitura. Nesse contexto a leitura de livros infantis na educação infantil é de extrema importância e de acordo com MAIA, LEITE E MAIA (2011, p. 1): “Cabe, então, aos professores propiciarem oportunidades no espaço escolar para que as crianças possam vivenciar os enredos, as tramas e as fábulas presentes nas produções literárias infantis, tão necessárias para a aquisição de elementos linguísticos que subsidiarão o desenvolvimento mental.”
Nesse processo de aprendizagem o professor é fundamental na mediação entre literatura e a criança, promovendo interações sociais no espaço escolar e mediando o universo de conhecimentos produzido pela literatura infantil com a formação da criança como um cidadão que será ativo na sociedade. Os livros de literatura infantil podem ser escolhidos pelos profissionais da educação por um tema específico de acordo com o objetivo da aula ou pela complexidade que a história traz, pelo seu gênero, sua diversidade, suas ilustrações, seu título, mas procurando respeitar a faixa etária da criança. A utilização dos livros infantis não deve ser apenas de manuseio aleatório ou da mera leitura para as crianças, sua utilização deve estar inserida no contexto da aula e da realidade infantil para que tenha significado para a criança. A contação de histórias deve levar a criança a imaginar as cenas do livro, deve aguçar a sua curiosidade por conhecimento e levar a criança a refletir sobre a história, a conhecer o seu autor e ajudar na atividade que pode ser proposta a seguir. 64 |
Literatura na Educação Infantil
Os professores podem fazer a leitura de um livro dentro do próprio ambiente da sala de aula ou levar as crianças à biblioteca para que elas possam interagir com os livros em um ambiente mais adequado para leitura ou ainda se sentar com as crianças embaixo de uma árvore para realizar a leitura. Muitas escolas de educação infantil de menor porte e que não comportam uma biblioteca tem utilizado o chamado “cantinho da leitura” para suprir essa falta. O cantinho da leitura é um espaço dentro da própria sala de aula onde são disponibilizados livros em pequenas estantes ou caixas onde os alunos podem em um momento oportuno fazer a leitura que escolher. Independente do local a leitura deve ser prazerosa para a criança e deve proporcionar a ela um momento único, conduzindo-a lentamente ao mundo letrado e a construção do seu próprio conhecimento com propriedades para conseguir interpretar e compreender o mundo a sua maneira. Após a leitura a criança deve ser capaz de comentar, perguntar e discutir sobre o que foi lido, adquirindo noções de linguagem através do confronto de ideias que lhe farão serem capazes de construir suas próprias ideias se tornando membros ativos construtores de seu próprio conhecimento. A leitura deve ser um momento de prazer para a criança que em meio a tantos atrativos eletrônicos ainda sinta vontade de buscar as páginas de um livro para dar asas à sua imaginação.
Referências BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Castro, Eline Fernandes de. A importância da leitura infantil para o desenvolvimento da criança. Universidade Estadual Vale do Acaraú. São Paulo, 13 jun. 2017. Disponível em: <https://www.webartigos.com/artigos/ a-importancia-da-literatura-para-o-desenvolvimento-da-crianca/9055 > Acesso em 14 jan. 2018. MAIA, Ana Claudia Bortolozzi; LEITE, Lucia Pereira; MAIA, Ari Fernando. O emprego da literatura na educação infantil: a investigação e intervenção com professores de pré-escola. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 28, n. 86, p. 144-155, 2011 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000200005&lng=pt&nrm=i so>. Acesso em: 14 jan. 2018.
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Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
O Cuidar e Educar na Educação Infantil Marcia Elisa Canova Bedendo
O cuidar e educar na Educação Infantil estão fundamentados nos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (1998) e no Parecer Homologado nas revisões das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009), em que, o fundamental é compreender que o cuidar e o educar têm por foco a criança pequena, são indissociáveis e complementares, envolvendo a afetividade, a exploração de ambientes de diferentes maneiras e a construção de significados pessoais e coletivos, em resposta à curiosidade natural da criança. A Educação Infantil, ao longo da história, passou por muitas transformações que fizeram com que a educação básica se tornasse cada vez mais significativa no panorama educacional mundial e, principalmente, no Brasil. Há tempos, a educação era exclusivamente de responsabilidade familiar. Junto à família as crianças aprendiam as regras e normas de sua cultura. As mulheres ficavam em casa cuidando dos seus filhos e afazeres domésticos, enquanto seus maridos cuidavam do sustento da família. Mas os tempos mudaram, fazendo com que as mulheres fossem trabalhar fora, delegando o cuidado de seus filhos a outras mulheres em troca de remuneração. Segundo Didonet (2001), a criança precisa de um lugar mais aconchegante para passar o seu dia. Para ele, mais do que falar das qualidades ou defeitos da instituição ou de sua necessidade social, é preciso falar da criança, um ser cheio de vida. O principal objetivo da instituição era de guardar as crianças, com a tarefa de higienizar, alimentar e cuidar fisicamente. Com isso, várias instituições foram criadas, mas a partir da Constituição de 1988, a Educação Infantil passou a ocupar um papel significativo dentro do panorama educacional brasileiro e foi quando começaram a surgir as preocupações interesse acerca do 66 |
O Cuidar e Educar na Educação Infantil
desenvolvimento e da aprendizagem infantil, surgindo uma nova concepção de educação que destaca o cuidar e o educar como pontos fundamentais e imprescindíveis para o trabalho com as crianças durante a sua infância. Para a compreensão do papel que cabe às instituições de Educação Infantil, é necessário recorrer tanto à Constituição Brasileira de 1988, como à Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96. As duas leis contribuíram para definir e isoladamente, mas o que seria o cuidar complementar a relação entre o cuidar e o educar. A Constituição definiu como sujeito de direitos através do direito de acesso à educação em vez de tratá-la, como ocorria nas leis anteriores a esta, como objeto de tutela. Levar a Educação Infantil para a área de educação foi fundamental para o avanço na busca do trabalho com caráter educativo-pedagógico, adequado às especificidades das crianças de 0 a 5 anos, pois para esta faixa etária, as instituições de Educação Infantil apresentam uma particularidade que as tornam diferentes da família. A escola deve observar as características e etapas das suas crianças e, com isso, desenvolver atividades ligadas ao cuidado e à educação dessas crianças. Conforme o dicionário Web, o termo “cuidar” significa: Imagina: (v.i.), Aplicar a atenção, Refletir, Interessar-se, trabalhar: cuidar dos filhos. Este seria o conceito de cuidar na Educação Infantil? A princípio faz-se necessário definir o que seria “educar”. De acordo com as ideias do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), o educar significa: Propiciar situações de cuidado, brincadeira e aprendizagens orientadas, de forma que possa contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança e o acesso pela criança aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural (RCNEI, 1998, p.23/24).
Compreende-se, através do documento, que o cuidar aparece completamente ligado ao educar, deixando claro que o cuidar na Educação Infantil deve ser realizado de forma que ajude no desenvolvimento integral da criança, auxiliando assim na construção de sua autonomia. | 67
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
Segundo Campos (1994), todas as atividades ligadas à proteção e apoio necessários ao cotidiano de qualquer criança: alimentar, limpar, trocar, proteger, enfim cuidar; todas fazem parte do que entende por educar. Pode-se dizer que o cuidar é uma união do educar, ou seja, o educar envolve o cuidar, de forma que os cuidados físicos, emocionais, sociais e cognitivos se façam presentes no educar; por isso o cuidar na Educação Infantil está ligado ao educar. Toda educação é um cuidado e ao cuidar, o professor está educando, lembrando que educar vai além de cuidar. O cuidar é algo dinâmico, imediato, isso não que dizer que o educar não esteja presente nesse período. O educar é mais intenso, é um processo. Ao educar, o professor se relacionará com a criança, tendo-a como um sujeito capaz, competente, inteligente, tanto mais quanto for instigado a participar, a se envolver, a assumir ações com autonomia, por isso, o cuidar e o educar requerem uma atitude do professor que despertará nas crianças a busca para entender certas perguntas como, o por que?; para que serve?; o que é isso?, permitindo assim que esse sujeito reflita e construa conhecimentos que vão além do ato de educar. Observando que o “cuidar”, embora dinâmico, não implica em dizer que a criança aprende instantaneamente tais conhecimentos. Para confimar este pensamento, Weiss (1999), p.108) diz que: O cuidado na Educação Infantil é uma ação cidadã, onde educadores, pessoas conscientes dos direitos das crianças, se empenham em contribuir favoravelmente ao crescimento e desenvolvimento das crianças. O cuidar é visto aqui como uma prática pedagógica e como forma de mediação, que se constitui pela interação através da dialogicidade e que possibilitar à criança leituras da realidade e apropriação de conhecimentos.
Portanto, na Educação Infantil, o ato de cuidar e educar são indissociáveis, não tem como separar estas duas ações. O cuidar e o educar estão nas coisas mais simples da rotina pedagógica da Educação Infantil: desde o momento em que se está trocando uma fralda, alimentando a criança, na higiene, todos esses aspectos que parecem ser simplesmente cuidados, eles também são educativos. Todas as situações diárias são atos educativos, pois as brincadeiras, jogos, as atividades dirigidas, a escovação, a alimentação, enfim, as rotinas diárias, devem buscar a autonomia e 68 |
O Cuidar e Educar na Educação Infantil
a formação da identidade, a construção de hábitos saudáveis entre outros aspectos. Isso é cuidar e educar para a vida. Na Educação Infantil, um papel importante do professor é de buscar a diversidade no viés do cuidar e educar da criança; o comprometimento com o bem estar, a higiene, a segurança, a socialização, o desenvolvimento, a aprendizagem e as atividades por meio do lúdico. Esse profissional é considerado importante, pois a atitude de investigador e de questionador faz com que se torne respeitado no meio escolar. Tudo isso faz parte do compromisso de um professor, uma ação que contribui para a formação humana de nossas crianças. Cuidar e educar são ações pedagógicas de consciência, que estabelece uma visão integrada do desenvolvimento da criança com base em concepções que respeitem a diversidade, o momento e a realidade da criança. O cuidar na Educação Infantil exige do professor conhecimentos, habilidades e instrumentos, para explorar a dimensão pedagógica. Segundo Signorette, “Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio, que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos” (SIGNORETTE, 2002). De acordo com as Revisões das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, para o cuidar, é preciso um comprometimento com o outro, com sua singularidade, ser solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a construção de vínculo entre quem cuida e quem é cuidado. É preciso que o professor possa ajudar a criança a identificar suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las de forma adequada. Deve-se cuidar da criança como pessoa que está num contínuo crescimento e desenvolvimento, identificando e respondendo às suas necessidades. Já o educar, faz-se necessário que o professor crie significativas de aprendizagem, se quiser alcançar o desenvolvimento de habilidades cognitivas, psicomotoras e sócio-afetivas, mas, sobretudo, é fundamental que a formação da criança seja vista como um ato inacabado, sempre sujeito a novas inserções, a novos recuos, a novas tentativas. | 69
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
O cuidar e o educar devem ser vistos como um sistema que amplia o cuidado, promovendo o desenvolvimento global da criança. Portanto, a necessidade de compreender a criança da Educação Infantil exige caracterizá-la concretamente e historicamente, assumi-la como sujeito e cidadã de direitos, que se constitui na sociedade da qual faz parte. Para isso é preciso que o cuidar e o educar estejam sempre juntos e se façam sempre presentes no cotidiano da criança.
Referências BRASIL: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC?SEF, 1998. Volume 1: Introdução. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Por uma política de Formação do Profissional de Educação Infantil. MEC/SEF/DPE/COEDI. Brasília, 1994. PARECER HOMOLOGADO. Despacho do Ministro. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação; publicado no D.O.U de 9/12/2009, Seção 1, Pág. 14. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. DIDONET, Vital. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a creche, um bom começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. V 18, n.73. Brasília, 2001. P.11-28. DICIONÁRIO. Disponível em: http:dicionarioweb.com.br/cuidar.html. Acesso em: 19/01/2013. CAMPOS, M. M. Educar e Cuidar: questões sobre o perfil do profissional da educação infantil. In MEC/ESF/COED. Por uma formação do profissional de educação infantil. Brasília, 1994. WEISS, Elfy Marfrit Gohring. O cuidado na escola infantil: contribuições da área da saúde. Perspectiva: revista do centro de ciências da educação. Florianópolis, vol. 17, n. especial; 1999. SIGNORETTE, A. E. Educação e cuidado: dimensões afetiva e biológica constituem o binômio de atendimento. Revista do Professor. Porto Alegre, n. 72, p. 5-8, out./dez.2002.
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Educação Ambiental na Educação Infantil
Educação Ambiental na Educação Infantil Michele Yabuki
A Educação Ambiental é um tema que se faz presente na sociedade atual, todos nós temos direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e o direito de fazer uso desses recursos essenciais à qualidade de vida, assim também somos responsáveis em defendê-lo e mantê-lo para as gerações presentes e futuras. Entende-se por meio ambiente como sendo um lugar que envolve todas as coisas vivas e não vivas que ocorrem na Terra, ou em alguma parte dela, que afetam os ecossistemas e a vida dos humanos. Também pode ser entendido como um conjunto de unidades ecológicas que inclui a vegetação, animais, microorganismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais, sim como os recursos e fenômenos físicos como o ar, a água e o clima, energia, radiação, descarga elétrica, e magnetismo. De acordo com a conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente em Estocolmo, 1972, o meio ambiente é um conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais que causam efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas. Enfim, entende-se por ambiente como sendo um lugar onde há componentes vivos e não vivos e todas as interações que nele acontecem. O fato é que qualquer ambiente deve se manter em equilíbrio para que seus componentes permaneçam os mesmos. O meio ambiente sempre passou por modificações devido à necessidade do homem. Com o passar do tempo, estas modificações tornaramse mais rápidas e profundas ocasionando grandes desequilíbrios, trazendo problemas à humanidade até os dias de hoje. Segundo Munhoz (2004, p. 81), um dos meios de levar educação ambiental à comunidade é pela ação direta do professor em sala de aula e através de atividades extracurriculares. Os alunos poderão entender os problemas que afetam a comunidade local onde | 71
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
vivem a partir de leituras, trabalhos escolares, pesquisas e debates, além de refletir e criticar as ações de desrespeito à ecologia, bem comum e riqueza do nosso do planeta. A autora completa ainda dizendo que os professores são a peça importante no processo de conscientização da sociedade dos problemas ambientais, pois buscarão despertar em seus alunos hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza contribuindo com a formação de cidadãos conscientes e comprometidos com o futuro do país. Através da educação as pessoas adquirem maior controle sobre sua própria qualidade de vida, incorporando hábitos saudáveis nos indivíduos e nas suas famílias. A Organização Mundial da Saúde OMS define que uma das principais formas de promover a saúde é através da escola, pois ela é um espaço social de convivência, aprendizado e trabalho que vai além dos alunos, professores e gestores. É também na escola que estes passam a maior parte de seu tempo e nela os programas de educação e saúde podem ter a maior repercussão, beneficiando os alunos desde a infância a adolescência. Assim a Educação Ambiental vem nos mostrar seu importante papel dentro da sociedade. O desenvolvimento de projetos na área de Educação Ambiental na Educação Infantil levam as crianças a perceberem desde cedo que somos fundamentais na preservação e quais são os elementos necessários para os cuidados com o meio ambiente. As crianças precisam perceber que são elementos necessários de transformação e que tem responsabilidades de cuidado com o meio em que vivem. Isso será possível com experiências enriquecedoras, através da mediação dos educadores que as orientam de forma sistemática, desenvolvendo um trabalho voltado para a observação, experimentação, pesquisa, comparação, relação, formulação, relato, enfim, contribuir com a construção de conhecimentos significativos despertando o sentido de cuidar para não faltar. O envolvimento das famílias e da comunidade escolar no processo de educação ambiental também é de grande importância, pois não é possível se resolver os problemas ambientais de forma isolada. Um trabalho fácil de ser realizado dentro da própria escola e que tem resultados não só voltados para o meio ambiente, mas também engloba uma alimentação saudável é a construção e manutenção de uma horta dentro da escola. O preparo da terra, 72 |
Educação Ambiental na Educação Infantil
o controle de pragas, a irrigação, e o resultado de ver o alimento brotando na terra cria nas crianças a sensibilidade de cuidados com o meio ambiente de uma forma prática e prazerosa. Vários trabalhos podem ser incluídos no dia a dia escolar tais como a separação dos lixos em lixeiras específicas, inclusive o orgânico que pode ser colocado em composteiras, oficina de brinquedos com materiais reciclados, plantio de flores e árvores no jardim da escola e visitas ao aterro sanitário e horto de sua cidade, todos voltados para a conscientização e manutenção do meio ambiente de forma saudável e prática, voltado para criar nas crianças uma visão mais ampla acerca dos recursos naturais e o do seu uso consciente.
Referencias ECO4U. O que é meio ambiente? 2014. Disponível em: <http://www.ebc. com.br/infantil/voce-sabia/2014/09/o-que-e-meio-ambiente>. Acesso em: 12/01/2018. MUNHOZ, Tânia. Desenvolvimento Sustentável e educação Ambiental, 2004. Disponível em: <https://sites.google.com/site/nasondasdoambiente201/ meio-ambiente-sua-preservacao-depende-de-nos/desenvolvimentosustentavel-e-educacao-ambiental>. Acesso em: 12/01/2018.
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Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
Neurociência e Educação e Aprendizagem Mirela Mayume Yabuki Pizelli
De acordo com Sabbatini (2013) a Neurociência só é considerada ciência no final do século XVIII e início do século XIX. Até então a única ciência da neurociência era a anatomia e a fisiologia e os aspectos funcionais ainda não tinham sido pesquisados porque não havia métodos adequados para isso. A palavra Neurociência foi criada em 1970, portanto, a história da Neurociência só pode ser contada corretamente a partir desta data. A Neurociência é um campo novo, porém, possui antigas influências, estudos científicos e não científicos que remontam desde a filosofia grega até os modernos exames de imagem atual. Embora a palavra neurociência seja nova, existem evidências que mostram que os nossos ancestrais pré-históricos já compreendiam que o encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco encefálico) era essencial para a vida. Ainda de acordo com Sabbatini (2013) um exemplo disso foi a prática da trepanação, realizada por volta de 7.000 anos atrás, processo pelo qual as pessoas faziam orifícios em crânios de indivíduos vivos, tinha como objetivos curar dores de cabeça e transtornos mentais. Historicamente, diferentes áreas de conhecimento têm se interessado pelo estudo do sistema nervoso, dentre as quais se destacam a medicina, a psicologia, a física, a química e a matemática. Entretanto, a conscientização de que a interdisciplinaridade favoreceria a melhor compreensão do cérebro humano possibilitou a criação de uma nova área de conhecimento: as Neurociências e revolucionou os estudos científicos sobre o tema. Os diferentes profissionais envolvidos com o estudo do cérebro (denominados de neurocientistas) têm que interagir com as demais áreas de conhecimento, de modo a analisar o funcionamento cerebral sob diferentes ângulos e pontos de vista. 74 |
Neurociência e Educação e Aprendizagem
A Neurociência atua em diferentes áreas de conhecimento. Ela ensina a utilizar e adaptar estratégias diferenciadas para que a mensagem transmitida por profissionais educadores alcance a todos. O cérebro é uma poderosa “máquina de aprender”, pois ele se renova a cada experiência e estímulo, otimizando comportamentos e utilizando as informações recebidas com eficiência. A Neurociência traz para a sala de aula o conhecimento sobre a memória, o esquecimento, o tempo, o sono, a atenção, o medo, o humor, a afetividade, o movimento, os sentidos, a linguagem, as interpretações das imagens que fazemos mentalmente, o “como” o conhecimento é incorporado, as imagens que formam o pensamento, o próprio desenvolvimento infantil e diferenças básicas nos processos cerebrais da infância, e tudo isso torna-se base para nossa compreensão e ação pedagógica. Os neurônios espelho possibilitam à espécie humana progressos na comunicação, compreensão e no aprendizado. A plasticidade cerebral, ou seja, o conhecimento de que o cérebro continua a desenvolver-se, a aprender e a mudar, também altera nossa visão de aprendizagem e educação. Como afirma COSENZA (2011) O sistema nervoso tem uma enorme plasticidade, ou seja, uma grande capacidade de fazer e desfazer ligações entre as células nervosas como consequência das interações permanentes com o ambiente externo e interno do organismo. A plasticidade é maior nos primeiros anos de vida, mas permanece, ainda que diminuída, por toda existência (COSENZA, 2011, p.39)
As dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar passam a ser revistos, pois existem inúmeras possibilidades de aprendizagem para o ser humano, do nascimento até a morte. E modificando estratégias de ensino, os alunos alcançam os objetivos propostos. Quanto melhor entendermos o cérebro, melhor o poderemos educar. O cérebro é a parte de maior importância do sistema nervoso e sua função é fazer interação entre organismo e o meio externo além de ser responsável pelas funções do organismo em geral. O cérebro é ainda, responsável pela forma como processamos a informação, armazenamos o conhecimento e selecionamos nosso comportamento, podendo compreender seu funcionamento e sua potencialidade: | 75
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
“o cérebro, como sabemos, é a parte mais importante do nosso sistema nervoso, pois é através dele que tomamos consciência das informações que chegam pelos órgãos dos sentidos e processamos essas informações, comparando-as com nossas vivências e expectativas” e também “por meio de seu funcionamento que somos capazes de aprender ou de modificar nosso comportamento à medida que vivemos” (COSENZA, 2011 p. 11).
Atualmente, sabe-se que existem períodos mais receptivos, quando o cérebro recebe melhor certos estímulos e mostra-se mais apto a assimilar conhecimento como afirma Chedid (2007, p.299). A neurociência será um poderoso auxiliar na compreensão do que é comum a todos os cérebros e poderá nos próximos anos dar respostas confiáveis a importantes questões sobre a aprendizagem humana.
Referências CHEDID, K. A. K. Psicopedagogia, educação e neurociências. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v.24, n.75, 2007. p. 298-300. CONSENZA, R. Neurociência e educação: Como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. SABBATINI, R. História da neurociência uma visão geral. Campinas: Instituto Edumed, 2013. Disponível em: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula. blogspot.com.br/2013/10/neurociencia-no-contexto-historico.html>. Acesso em: 13/05/2017.
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Musicalização na Educação Infantil
Musicalização na Educação Infantil Renata Correa Dorta de Oliveira
A música na educação infantil é um instrumento pedagógico que auxilia no processo de aprimoramento da coordenação motora, controle dos músculos e desenvoltura; uma forma de reconhecer a diferença do próprio corpo e do outro, construir a identidade e integrar-se no meio social. A música é uma forma prazerosa de conhecer o mundo que nos rodeia e as diferentes culturas e estilos musicais, é uma linguagem universal que acompanha o ser humano ao longo dos tempos. Por meio de diferentes estilos musicais podese explorar com a criança um trabalho interdisciplinar ajudando-a a desenvolver suas ideias, valores culturais, comunicação com o outro, auto-estima e limitações. Segundo Bréscia (2003): A musicalização é um processo de construção do conhecimento, que tem como objetivo desenvolver e despertar o gosto musical, cooperando para o desenvolvimento da sensibilidade, senso rítmico, criatividade, do prazer de ouvir música, da imaginação, memória, concentração, autodisciplina, atenção, do respeito ao próximo, da socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação.
A musicalização é o processo de desenvolvimento pelo gosto musical da criança, sua expressão, sensibilidade, ritmo, inserção no mundo sonoro, com o objetivo de explorar sua cognição, processo linguístico, psicomotor e socio-afetivo. Ao realizar uma brincadeira, a criança produz sons imitando caminhão, trenzinho, nenê chorando e até barulho de chuva, são pequenas expressões espontâneas que devem ser incentivadas e exploradas pelo professor ao contar uma estória, por exemplo, e utilizar-se destes pequenos sons para identificar um acontecimento em sua narração. De forma lúdica, o educador deve envolver as brincadeiras com as musicas que | 77
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
exploram gestos e a coordenação motora como por exemplo as cantigas de roda “Ciranda cirandinha, “Carangueijo não é peixe”, “A estória da serpente”, e no caso do berçário (onde os bebês ainda não ficam em pé) pode fazer brincadeiras de “Serra, serra, serra dô”, “Pintinho amarelinho”, musicas de ninar, acalantos, produção de sons com chocalhos e materiais recicláveis que podem ser confeccionados para instrumentos musicais, entre outras musiquinhas clássicas dessa fase inicial. Para os alunos maiores pode-se explorar outras formas musicais pois já entendem as letras, vídeos e músicas que exploram a história e vivencia social. No espaço escolar há diferentes condições familiares, sociais e ambientais; e com isso mais uma finalidade da música em sala de aula vem a ser instruir a criança a ouvir de maneira afetiva e refletida. É uma forma de cumprir o papel educacional, envolvendo o aprendizado com emoções e sentimentos que enriquecem a relação entre professor e aluno, e torna o ambiente escolar mais receptivo incentivando a criança a estar presente e se dedicar as suas atividades. O momento em que o aluno tem o contato musical serve para dar oportunidade ao mesmo de formar o seu senso crítico e criar sua visão de mundo, se inserir no meio social sendo capaz de opinar diante de diversas situações e trocá-las com as pessoas que o rodeiam. Vygotsky (2003) deixa claro que o ambiente externo influencia diretamente no desenvolvimento e aprendizagem das crianças e o contato com as músicas no ambiente escolar deve ser planejado para que o aluno absorva conteúdos positivos para seu aprendizado, pois músicas inadequadas podem desfavorecer a qualidade do ensino. Enfim, é de extrema importância que a musica seja inserida na educação infantil com responsabilidade e garantia de que o conteúdo explorado esteja sendo assimilado pelo aluno, utilizando-se de um repertório que atenda a fase em que a criança se encontra e garantir assim uma formação qualitativa de seu desenvolvimento, formando pessoas com senso crítico, cidadãos éticos que pratiquem e respeitem as culturas e vida em sociedade.
Referência BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003. 78 |
Um Pouco mais Sobre TDAH
Um Pouco mais Sobre TDAH Shirley Gava
Atualmente muitas crianças em sala de aula apresentam transtornos que demoram a ser diagnosticado ou em muitos casos nem são descobertos. Um dos transtornos mais comuns é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que tem como principal característica a falta de atenção, hiperatividade e impulsividade. Segundo Sena e Neto (2007): A dificuldade de prestar atenção a detalhes ou errar por descuido em atividades escolares e de trabalho; dificuldades para manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas; parecer não escutar quando lhe dirigem a palavra; não seguir instruções e não terminar tarefas escolares; domésticas ou deveres profissionais; dificuldades em organizar tarefas e atividades; evitar ou relutar em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante; perder coisas necessárias para tarefas ou atividades, e ser facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa e apresentar esquecimentos em atividades diárias.
A falta de atenção pode ser observada em atitudes simples como distração em uma conversa, mudança de assunto frequentemente e não cumprimento das atividades lúdicas e regras propostas. A hiperatividade/impulsividade pode ser observada pela fala, movimentação excessiva durante o dia e também durante o sono, dificuldades em esperar sua vez, dificuldade em ficar sentado e impulsividade em agir sem pensar. São sintomas que acarretam dificuldade no aprendizado do aluno e podem ser diagnosticado antes dos sete anos idade. Em alguns casos o TDAH pode ocorrer sem apresentar a hiperatividade, e passa a ser chamado apenas de TODA. Ao avaliar as causas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade encontra-se uma combinação dos fatores genéticos, biológicos, sociais e ambientais, porém o fator genético é preponderante. O comportamento dos pais com seus filhos agitados | 79
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
podem causar na criança hiperatividade e iniciar problemas de comportamento ao ter que viver em ambiente caótico. Situações de stress, perda precoce, substancias ingeridas na gravidez como álcool ou drogas também são fatores que podem provocar a TDAH, que se apresenta em três níveis diferentes: 99 Tipo desatento (Desvia sua atenção e se distrai rapidamente, não se concentra e não consegue seguir instruções, problemas com a memória) 99 Tipo hiperativo/impulsivo (Inquieto, capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo, age compulsivamente, impaciente, interrompe as pessoas, intolerante e impaciente, comunicação compulsiva e temperamento explosivo) 99 Tipo compulsivo (apresenta as duas características citadas acima ao mesmo tempo).
Cabe ao especialista realizar a avaliação para que se possa melhor compreender em que nível se encontra o transtorno na criança e como trabalhar esse processo com atividades específicas para estimular seu desenvolvimento e aprendizado. Neste processo é importante a participação dos pais, familiares, professor e a comunidade escolar para que se possa compreender o grau de dificuldade que a criança apresenta e como explorar da melhor maneira seu desenvolvimento em busca de sanar ou amenizar o problema na formação social deste aluno, para que ele possa progredir e assimilar os conteúdos como as outras crianças. Em sala de aula o professor deve estar preparado para essa inclusão e planejar suas atividades baseado em assuntos de interesse do aluno para que possa prender a atenção do mesmo e alcançar seus objetivos com sucesso.
Referências BELLEBONI, Aline B.S. TDHA. Artigo. Rio Grande do Sul. Disponível em http://www.profala.com/arthiper4.htm. Acesso em 27 mar.2011. DIAS, Irineu. Preconceito x Desconhecimento de causa: uma luta de classes. In: Ciranda da INCLUSÃO. Grupo Ciranda Cultural. 2011; ed. 14; p.14-15.
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O Autista e seu Direito Social
O Autista e seu Direito Social Solange dos Santos Pereira da Costa
Trabalhar com crianças no processo educacional significa ter em mãos grande responsabilidade no futuro social do nosso país. Sociedade que atualmente se encontra cheia de conceitos, regras, problemas éticos e desafios a serem superados por meio da educação. A educação é direito de todos sem distinção de cor ou raça, grupo social;sexo, idioma, religião ou portadores de necessidades especiais; e é através dela que o cidadão poderá participar criticamente da sociedade sendo qualificado para atuar no seu dia a dia garantindo seus direitos, civis, econômicos, políticos e sociais. Diante de tamanha responsabilidade vale destacar que o trabalho com portadores de necessidades especiais deve garantir esse mesmo direito ao cidadão seja ele deficiente auditivo, visual, físico ou psíquico. Cabe destacar aqui uma necessidade especial que é o autismo, também conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA). O portador do autismo tem um padrão intelectual reduzido, abaixo da média normal e pode causar problemas no desenvolvimento da linguagem, comunicação, interação e comportamento social. Tem um desenvolvimento anormal que pode ser observado antes dos três anos e pode ter algumas manifestações como fobias, birras, perturbações do sono ou alimentação e até agressão. Esse transtorno não possui cura, porém pode ser trabalhado, reabilitado, modificado e tratado para que o cidadão possa se adequar à sociedade. O trabalho a ser realizado com o autista deve ser cauteloso e no processo de inclusão educacional se torna algo ainda experimental por parte do professor e do aluno. O acesso à escola para a inclusão é garantido por lei, porém a permanência do aluno e sua aprendizagem são processos que ainda estão em fase de construção. Algumas características necessárias são:
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99 Capacitação do professor para lidar com o autista junto à um especialista da área, visto que a sala de aula atende em média vinte alunos ou mais; 99 Adequar a escola para que possa receber o aluno, seu aspecto físico e reestruturar o ensino e suas práticas usuais e excludentes; 99 Proporcionar o trabalho terapêutico como algo complementar sem tirar a autonomia do professor; 99 Adequar um plano de ensino que considere a capacidade de cada aluno e o conhecimento que ele já traz para escola; 99 Realizar brincadeiras que proporcionem a socialização, 99 Educação física para incluir o autista no circuito motor; 99 Estimular a oralidade com músicas, teatrinhos de fantoches, contação de histórias, etc; 99 Avaliar continuamente o aluno autista para adequar o tipo de trabalho a ser realizado com ele (o grau de assimilação e interesse do aluno) e encontrar as barreiras existentes no ambiente (físico e social) para explorar de forma adequada o desenvolvimento do aluno.
É importante lembrar que o autista tem sua própria personalidade e por isso o trabalho deve ser específico com o aluno, porém similar ao que todos os alunos da sala estão trabalhando para que não haja a exclusão. O trabalho não é fácil pois se trata de um aluno com capacidades e necessidades específicas, porém pode ser aplicado se realizado um processo bem planejado, em conjunto com a família, terapeuta e comunidade escolar a fim de que esse aluno possa se sentir inserido na sociedade e entender que ele também é um cidadão de direitos e deveres para realizar ativamente sua práxis social. A realidade que se encontra o quadro educacional atualmente não proporciona desenvoltura para que esse processo de inclusão seja feito e muitos professores se encontram em complicada situação em sala de aula. Muitos pais acabam desistindo de levar o filho à escola, ou matriculam apenas em escolas exclusivas para alunos portadores de necessidades especiais, o que faz com que o processo de inclusão regresse e não atinja o objetivo determinado. Para que realmente possamos alcançar uma sociedade igualitária, que respeite o direito de cada um e uma ordem social 82 |
O Autista e seu Direito Social
justa é necessário formarmos alunos crítico capazes de exigir seus direitos, conscientes dos direitos e deveres de todos, incluindo aqueles com necessidades especiais, e coloquem em prática o que hoje ainda se encontra em teoria.
Referências DUPAUL,George J.; STONER, Gary. TDAH nas escolas. São Paulo: M. Books, 2007. SILVA, Clarice A. Os Sintomas e a Convivência com o TDAH. In.: Revista Psicologia. Edição Especial TDAH. Nº 1. Rio de Janeiro: Mithos Editor, 2012
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A Importância da Leitura na Educação Infantil Vania Maria Piassi Pereira do Amaral
A literatura na educação infantil é uma práxis rotineira que torna a qualidade do ensino muito mais rica e produtiva ao proporcionar ao desenvolvimento da criança meios para conhecer o mundo. O ato de ler é algo pode ser praticado desde o momento em que o bebê se encontra no ventre da mãe, momento esse em que o feto se acostuma com a voz que ele escuta e sente-se seguro criando um vínculo maior com a mesma. Ao nascer, seus sentidos poderão ser aguçados ao ouvir uma estória, o raciocínio começa a dar os primeiros sinais e a assimilação da linguagem se acentua, novas habilidades são desenvolvidas, a imaginação vai se tornando cada vez mais fértil e diversos temas referentes as culturas e diversidade social podem ser apresentados dentro de um único livro para a assimilação de conteúdos variados. Para bebês os conteúdos podem ser transmitidos por meio da imagem e manuseio de materiais que explorem a leitura auxiliando a assimilação das figuras aos nomes. Aos poucos suas capacidades vão evoluindo e ao adquirir a linguagem, novas formas de compreensão da leitura são adquiridas. Mesmo sem saber ler, as crianças pequenas são capazes de criar, inventar uma estória referente às figuras que elas estão vendo de acordo com sua imaginação. Á isso chamamos de pseudoleitura, onde os livros mesmo sem palavras despertam o interesse e instigam a fantasia desenvolvendo a oralidade e memória. O ato de ler deve ser inserido diariamente na rotina da escola e pode ser trabalhado de diversas formas como: 99 Roda de conversa; 99 Livros de banho; 99 Manuseio de livros com diversas texturas, formas e cores aguçando os sentidos; 99 Apresentação com dedoches ou fantoches; 84 |
A Importância da Leitura na Educação Infantil
99 Leitura com entonações diferentes da voz para caracterizar personagens ou algum ruídos; 99 Releitura de algum livro produzido pelo próprio aluno; 99 Musical, 99 Exploração de livros diversos no “Cantinho da Leitura”; 99 Manuseio de jornais e revistas.
A conscientização de criar hábitos de leitura deve abranger também os pais e responsáveis dos alunos, que poderão criar hábitos diários como ler antes de dormir, hora do banho, utilizar livros para enfrentar alguma situação que seu filho vai passar (como por exemplo ganhar um irmãozinho), explorar as imagens e figuras virtuais que expliquem algo, enfim, diversas são as formas de se manusear a leitura. Ensinar os pais a gostar de ler não é uma missão muito fácil, até mesmo porque a maioria trabalha fora e alega não ter tempo para seu filho, por isso é necessário um trabalho em conjunto escola-família e a aproximação dos pais dentro da unidade escolar por meio de reuniões, apresentação de cartazes com atividades de seus filhos, projetos que podem ocorrer aos sábados e produção de textos que proporcionem prazer aos pais em lerem; com o advento da tecnologia pode-se também usufruir de livros virtuais e até mesmo criar uma página com a participação de todos para publicar experiências literárias realizadas com seus pequenos. É importante lembrar que para prender a atenção de uma criança tem-se que apresentar à ela assuntos de seu interesse, estimular o gosto pela leitura baseando-se em suas vivências e dar significado ao que ela aprende na escola e vive sem seu dia a dia. É imensa a quantidade de livros dispostos para a educação infantil que explorem diversos temas e os contos dos últimos tempos tem explorado mais a realidade de nossas vidas: contos reais, temas que abordam o racismo, as princesas e mulheres que trabalham e cuidam de suas vidas pessoais, homens e príncipes que ajudam em casa, religiões diversas, ética, tecnologia e vários temas culturais. O ato de ler é um hábito positivo que pode além de ajudar a ascensão ao mundo, também pode ser um instrumento de relaxamento. A educação infantil é uma fase cheia de oportunidades e espaço para construção do saber e da identidade, planejando com responsabilidade e apoiando-se na leitura os objetivos alcançados | 85
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
poderão ir além do esperando e virão a produzir um ensino de maior qualidade.
Referências CADEMARTORI, Ligia. O que é Literatura Infantil. São Paulo: Brasiliense, 1986. CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil Teoria e Prática. São Paulo: Ática, 1997.
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Tipos de TDAH e como Proceder em Sala de Aula
Tipos de TDAH e como Proceder em Sala de Aula Wirley Regina Marchi
Diante do processo de inclusão, o professor tem enfrentado um grande desafio que é atender alunos com necessidades especiais diferenciadas. Ao receber um aluno com Transtorno de Défict de Atenção em sala de aula, é necessário compreender o transtorno e suas especificidades para alcançar um trabalho positivo no atendimento de todos os seus alunos. Existem, de acordo com o Instituto Paulista de Défict de Atenção, três tipos de TDAH e são eles:
Desatento Nesse tipo de transtorno o aluno desvia facilmente sua atenção, e devido a isso comete muitos erros. É capaz de se distrair com seus próprios devaneios e não tem capacidade de se concentrar em uma aula, palestra ou leitura de um livro. Não conseguem realizar tarefas que exijam esforço mental, seguir instruções (o que o intitula como irresponsável), se organizar com objetos e com o tempo (o dia parece ter 36h ao invés de 24h). Apresenta ainda problemas de memória a curto prazo podendo se esquecer de nomes, datas, objetos, ou até mesmo durante uma conversa, esquecer o que estava falando, ou não prestar atenção no que o outro está falando e acaba interrompendo a conversa.
Hiperativo Impulsivo Este tipo de hiperatividade deixa a pessoa inquieta, mexendo as mãos ou os pés a todo momento, e não consegue ficar parado. Sua tolerância e baixa e impaciente por isso não consegue aguardar sua vez. Interrompe a fala dos outros, não se interessa pelo que está ouvindo e sua conversa é extensa se prendendo à pequenos detalhes, muitas vezes sua fala não acompanha a mente e por isso tem uma | 87
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comunicação compulsiva. Faz várias coisas ao mesmo, apresenta temperamento explosivo e não aceita críticas ou algum tipo de provocação. Pode vir a ter algum tipo de vicio como álcool, drogas, jogos etc. e apresenta hipersensibilidade.
Combinado/misto Este apresenta a desatenção, hiperatividade e impulsividade, podendo manifestar características para o lado mais distraído ou para o lado mais impulsivo. O professor em sala de aula deve conhecer os sintomas para identificar se o aluno apresenta algum tipo de transtorno e verificar se a criança está sendo devidamente medicada. Alguns pais não aceitam o fato de ter um filho que precise de algum tipo de tratamento e ignoram a necessidade de buscar ajuda; isso pode acarretar problemas no desenvolvimento da criança em seu processo de aprendizagem e causar grandes dificuldades para a vida acadêmica desse aluno. Cabe ao pedagogo identificar se existe algum caso em sua turma e se há necessidade de alguma avaliação ou não por um especialista, para notificar os pais caso esses ainda não tenham procurado ajuda com seu filho, e juntos, pais e escola, poderão trabalhar com esse aluno e proporcionar um aprendizado de sucesso para o mesmo. A didática adotada em sala em sala de aula com o aluno que apresenta o transtorno é muito importante para ajudar no aprendizado. É importante envolver a disciplina a ser trabalhada com assuntos de interesse do aluno, associar os conteúdos à algumas práticas que o mesmo realiza, utilizar em sala estímulos diversos audiovisuais e sensoriais, inserir nas atividades alguma motivação para instigá-lo a chegar até o fim, mudar a entonação de voz em leituras para identificar os personagens e participar do processo terapêutico para planejar atividades que auxilie na absorção dos conteúdos e supere a dificuldade de memorização, desorganização e esquecimentos que possam ocorrer com o aluno em sala de aula. O professor deve também expor uma forma de se organizar para evitar esquecimentos criando a rotina; e expor a família que a rotina em casa também é importante para o aprendizado de seu filho. A avaliação adotada deve ser não somente a escrita, como também a diagnóstica, observando a todo o momento o aprendizado 88 |
Tipos de TDAH e como Proceder em Sala de Aula
do aluno, se o mesmo têm apresentado resultados positivos e se seus objetivos estão sendo alcançados, caso contrário o pedagogo deve reavalizar sua práxis e como ela poderá ser mudada para atender essa e todas as outras crianças em sua sala. O trabalho de inclusão não é fácil e apresenta diversos obstáculos para o aluno e também para o pedagogo. Contudo realizando um trabalho em conjunto, onde todos possam se envolver (família, especialista, pedagogo e toda a comunidade escolar) podese alcançar um resultado positivo que qualifique o aluno para sua cidadania e sua vida futura.
Referências BARBOSA, Adriana de Andrade Gaião. Hiperatividade: conhecendo sua realidade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1ª. Edição, 2005. ROHDE, Luis Augusto, Mattos, Paulo. Princípios e práticas em transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003.
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Reflexões Educacionais Profissinais
Reflexões Educacionais Profissionais – Volume 2
Volume 2
ISBN 978-85-5953-037-7
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788559
530377
Daniele Fernanda da Silva (Organizadora)