Walter Raleigh
A Descoberta do Grande, Belo e Rico Império da Guiana Tradução de Hélio Rocha
Editora Scienza 2017
Copyright © 2017 – Todos os direitos reservados – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio deste livro só é autorizada pelo autor/editora. A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. Este livro é uma tradução realizada por Hélio Rocha da obra original intitulada "The discoverie of the large, bewtiful and rich empyre of Guiana, with a relation of the Great and Golden Citie of MANOA (which the Spaniards call El Dorado) And the Provinces of Emeria, Aromaia, Amapaia, and other Countries, with their rivers, adioyning", do autor Walter Raleigh. Fotos e imagens: A maioria das imagens contidas neste trabalho está na tradução do relato de Walter Raleigh para o espanhol da Venenzuela, que foi feita por Antônio Requena em 1947 e publicada em Caracas, Edições Juvenal Herrera, 1986. Revisão Técnica: Iza Reis Gomes-Ortiz – Instituto Federal de Rondônia (IFRO).
Raleigh, Walter The discoverie of the large, bewtiful and rich empyre of Guiana, with a relation of the great and golden citie of Manoa (which the spaniards call El Dorado) and the provinces of Emeria, Aromaia, Amapaia, and other countries, with their rivers, adioyning / Walter Raleigh – tradução de Hélio Rocha; São Carlos: Editora Scienza, 2017. 136 p. ISBN 978-85-5953-025-4 1. Império da Guiana. 2. Literatura de viagem. 3. América do Sul. 5. Rio Orinoco. I. Título. CDD 960 Editoração, padronização e impressão:
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A descoberta do Grande, Belo e Rico Império da Guiana, com o relato sobre a dourada e grandiosa cidade de Manoa, que os espanhóis chamam El Dorado, e as Províncias de Emeria, Aromaia, Amapaia e outros países e rios limítrofes.
Viagem de exploração realizada em 1595 por Walter Raleigh, cavaleiro, capitão da guarda da rainha Elizabeth I e tenente do condado da Cornuália.
Sumário Agradecimentos............................................................................................7 Apresentação................................................................................................9 Walter Raleigh e o Novo Mundo................................................................13 Dedicatória................................................................................................29 Ao Leitor....................................................................................................35
Capítulo 1 A Exploração da Guiana: A Invasão de Trinidad.........................................41
Capítulo 2 A Inteligência Espanhola............................................................................49
Capítulo 3 Berrio em Amapaia e Emeria......................................................................67
Capítulo 4 Rio Orinoco Acima....................................................................................77
Capítulo 5 O Rei de Aromaia......................................................................................97 5
Capítulo 6 Rio Orinoco Abaixo.................................................................................115
Capítulo 7 Recapitulação...........................................................................................123 Posfácio....................................................................................................133
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Agradecimentos Injusto seria deixar de agradecer àqueles com quem conversei sobre este trabalho de tradução, enquanto estudava o relato A descoberta da Guiana e biografias, uma escrita por Henry David Thoreau e outra por Charles Nicholl; lia ensaios e assistia aos vídeos “The great adventurers”, “Sir Walter Raleigh and the Roanoke Colony” (dentre muitos outros) e filmes (Elizabeth – a era de ouro), em que Walter Raleigh aparece como figura histórica da ‘Era dos Descobrimentos’. Assim, gostaria de agradecer a Iza Reis Gomes-Ortiz, pela leitura atenciosa do texto raleigheano que transpus para o português contemporâneo; ao Miguel Nenevé, que se dispôs a ler o trabalho e escrever a apresentação dessa primeira versão do relato da viagem de Walter Raleigh ao rio Orinoco e seus afluentes; ao Francisco Bento, professor de História na Universidade Federal do Acre, seja pela escrita do posfácio, seja pelas dicas históricas acerca do nome do rio das Amazonas e sobre as terras do Novo Mundo que, à época da viagem raleigheana, se chamava apenas América. Também ao meu filho, Paulo Sérgio, pela paciência para fazer downloads de documentários necessários para uma compreensão maior de todas as façanhas de Raleigh; de suas viagens ao Novo Mundo; conhecer parte da história dos reis e rainhas que governavam a Inglaterra e a Espanha naquele século. Sem esses documentários e imagens incríveis, meu trabalho teria ficado preso apenas ao ‘texto-fonte’ escrito por Raleigh, ou seja, teria feito apenas estudos linguísticos, mas sabemos que a prática de tradução exige mais que isso. So, from the bottom of my heart - thank you so much!
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Apresentação:
A prática tradutória pode ajudar a (des)colonizar a mente? Em meu tempo de faculdade, nosso manual de “English Literature” continha uma breve biografia do escritor e poeta inglês Walter Raleigh fornecendo um ou dois exemplos de sua poesia. Um poema, geralmente incluído nas antologias e que líamos quando se falava de Walter Raleigh, era “The Nymph’s Reply to the Shepherd” (Resposta da Ninfa ao Pastor). Esse poema se inicia assim: “Se jovem fosse toda a gente e o amor, / E a verdade na boca de cada pastor, / Cada um destes prazeres me levaria / A ir ser teu Amor em tua companhia.” A preocupação gira em torno do tempo que não para de correr e de mudar as coisas, lembrando o famoso soneto XVIII de William Shakespeare ou ainda o poema “carpe diem” de Andrew Marvel, “To his coy mistress”. Foi sob esta perspectiva que tive contato com a obra de Walter Raleigh. Depois, já atuando como professor de Literatura, mesmo percebendo que os manuais de literatura inglesa apresentavam breve resumo de sua biografia e alguns poemas, por termos pouco tempo para estudos, optava sempre por concentrar-me em trabalhos de Shakespeare, Andrew Marvel e John Donne, deixando totalmente de lado os poemas de Walter Raleigh, que os manuais de literatura inglesa apresentavam ou ainda apresentam. Nada traziam sobre relatos de viagem, às vezes apenas pequenas menções sobre a crença no El Dorado. Na realidade, esperavase que ao fim da leitura se dissesse “oh quão grande é o poeta Walter Raleigh”. Nada. Nenhuma relação da produção literária de Raleigh ligada ao colonialismo britânico era sugerida. O grande pensador pós-colonial Edward Said afirma que precisamos estudar a literatura estrangeira dentro de um contexto histórico. Na sua obra Cultura e Imperialismo, o pensador palestino argumenta que primeiro deve-se ler como grande obra individual, produto da imaginação criativa e interpretativa, para depois mostrar-se como parte de uma relação entre cultura e império. 9
A Descoberta do Grande, Belo e Rico Império da Guiana
É extremamente necessário fazermos uma leitura estabelecendo essa relação entre Cultura e Imperialismo para podermos enriquecer e aprofundar nossa leitura de muitos textos europeus. Ignorar as conexões com o contexto histórico é como se desmembrássemos a cultura moderna de todos os seus engajamentos. Como alerta Edward Said na obra já mencionada, “Nenhuma leitura deveria tentar generalizar a ponto de apagar a identidade de um texto, um autor ou um movimento particular. Da mesma forma, ela deveria admitir que o que era, ou parecia ser certo para uma determinada obra ou autor, pode ter se tornado discutível”. Portanto, ler, ensinar, discutir e traduzir textos europeus fora da Europa, de certa forma, deve proporcionar um aprofundamento do conhecimento sobre o império ocidental, neste caso, o império britânico. É necessário que estes textos proporcionem discussões sobre colonização sugerindo também que a descolonização passa pelo processo de conhecimento ou reconhecimento de como somos afetados pela colonização. E o que temos nesta tradução do relato de Walter Raleigh ao rio Orinoco é justamente o que Edward Said acredita ser necessário: a conexão do autor com o império europeu. Este é um livro de um autor de literatura inglesa, traduzido para o português, que contém erudição, literatura, história da colonização inglesa, geografia, mitos e muito mais. Podemos afirmar muito convictamente que sem o império britânico não haveria este tipo de literatura. Esta tradução, realizada pelo professor Hélio Rocha, com uma introdução cuidadosamente preparada, resultante de uma extensa pesquisa feita pelo tradutor, ajuda-nos muito a perceber a conexão da literatura com o império, que Said afirma ser impossível negligenciar. Transladar a obra do britânico Walter Raleigh para nosso mundo amazônico é, portanto, um trabalho de descolonização. Esta obra traduzida, na realidade, integra um conjunto de outras obras em inglês traduzidas para nosso idioma por Hélio Rocha. São obras que, assim, ficam à disposição do público leitor brasileiro e de nossa região, como outras obras já traduzidas, entre elas a obra de H. M. Tomlinson The Sea and the Jungle, a obra de Walter Hardenburg, The Putumayo, the Devil’s Paradise e a obra do sueco Algot Lange, Adventures in remote parts of the Amazon River. O professor e pesquisador Hélio Rocha promove a difusão do conhecimento por meio da tradução de obras relevantes sobre a Amazônia. Isso está se constituindo em 10
Apresentação: A prática tradutória pode ajudar a (des)colonizar a mente?
um dos eixos norteadores de nossos trabalhos nas Letras na Universidade Federal de Rondônia, graças ao esforço ímpar do pesquisador. Tenho defendido que traduções para o português de obras sobre a Amazônia constituem-se em um “ato de subversão”, como diria Barbara Godard, pois além de serem uma atividade intelectual e criativa podem ser vistas como uma forma de ativismo cultural e político. Há quem argumente contra, dizendo que a tradução deve ser fiel ao texto original e não pode transgredir ou subverter nada. No entanto, a tradução, ao permitir que o leitor brasileiro e da região amazônica possa perceber mais claramente como se deu a colonização e a exploração da América do Sul, que ideologias dominavam (e de certa forma dominam) as viagens exploratórias é um ato de transgressão à maneira de ver a literatura e perceber o espaço amazônico. Como esclarece o próprio tradutor em sua apresentação, a tarefa da tradução é de grande responsabilidade e exige “passeios por campos variados do saber tanto sobre as Amazônias, quanto sobre a Grã-Bretanha e o Novo Mundo”. O texto ‘original’ de Raleigh ganha nova vida em novo ambiente com novos leitores lendo o texto deste escritor, explorador e soldado britânico, que tinha certos privilégios com a rainha inglesa Elizabeth I. Na nota dirigida “Ao leitor”, Raleigh usa argumentos que acreditava serem convincentes para que pudesse ter apoio da Inglaterra à colonização e exploração da Guiana: “Se deixarmos que o rei da Espanha nos mantenha longe das empreitadas estrangeiras e não dificultarmos o seu comércio com as Índias Ocidentais, ficaremos sob a ameaça de invasão, ou nos limitaremos apenas à Grã-Bretanha, à Irlanda ou a qualquer outro lugar..” Quão reveladoras e dignas de reflexões sobre o colonialismo são passagens como esta! A questão do discurso sobre o outro, o ameríndio que parece que estava “esperando ser colonizado” pela rainha, é também reveladora: “ Dizendo-lhes isso, mostrei-lhes o retrato de Vossa Majestade e os nativos ficaram tão admirados e honrados, que tinha sido fácil tê-los levados à idolatria”. Portanto, este é um livro que deve ser lido com olhar aguçado; discutido vigorosamente em aulas de história, de literatura, de historiografia e de muitos outros saberes. Por meio da tradução de A descoberta do grande, belo e rico império da Guiana aprendemos que Walter Raleigh é muito mais que aquele poeta que aparece em alguns manuais de literatura inglesa. Uma obra como 11
A Descoberta do Grande, Belo e Rico Império da Guiana
esta é deveras relevante para toda a comunidade acadêmica e para todos interessados em discutir colonização, literatura de viagem e exploração da América do Sul, especialmente da Amazônia. Este relato de viagem de exploração realizada em 1595, com o apoio da coroa britânica, tem muito a revelar sobre exploração, colonização, discurso eurocêntrico sobre o não europeu, política, economia, crenças e mitos, entre muitos outros fatos importantes. Miguel Nenevé Porto Velho, navegando no rio Madeira, maio de 2017
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Walter Raleigh e o Novo Mundo [Deixa que minha mão errante adentre Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre. Minha América! Minha terra à vista, Reino de paz, se um homem só a conquista, Minha mina preciosa, meu Império, Feliz de quem penetre o teu mistério! Liberto-me ficando teu escravo; Onde cai minha mão, meu selo gravo]. Elegia: indo para o leito - John Donne (Tradução: Augusto de Campos - Verso, reverso, controverso)
Com muita frequência, principalmente durante viagens pelos rios da Amazônia, onde vivo, o prazer e o devaneio obtidos de cenários magníficos nos trópicos, ou de algumas passagens de um relato de viagem, associados ao pensamento romântico e erotizado que muitos têm da região, despertam em mim o desejo de (re)visitar essas regiões naturais dos inúmeros rios de águas escuras, brancas, turvas e de correntezas e espumas flutuantes, redemoinhos e funis excepcionais, que conduzem, ‘de bubuia’, garças, maracanãs e gaivotas, nas jangadas de troncos de árvores mortas, e de matos em decomposição rio abaixo, numa longa e interminável procissão rumo ao oceano. Da mesma forma que esse mundo físico ainda proporciona essas cenas e cenários magníficos, mas às vezes tristes, devido aos inúmeros desmandos do sapiens contra os diversos ambientes naturais, os viajantes e seus barcos engalanados, sejam eles da contemporaneidade ou não, como é o caso da expedição de Walter Raleigh ao Orinoco, principal rio da Venezuela, nos oportunizam a experiência de uma viagem aos rios e terras amazônicos, seja através das viagens fluviais, das leituras, ou das viagens erótico-metafísicas. 13
A Descoberta do Grande, Belo e Rico Império da Guiana
Assim é que, ao ler e reler o relato de viagem desse explorador britânico, fui despertado para essa viagem, agora da tradução, já que mesmo passado mais de quatro séculos, o relato da primeira viagem de Raleigh aos trópicos continuava acessível apenas aos leitores proficientes em língua inglesa, o que impedia, entre outras coisas, a tomada de conhecimento por muitos amazônidas sobre o ponto de vista desse viajante da “Era dos Descobrimentos” e proporcionar reflexões acerca das representações/traduções dos nativos, de suas terras, de seus rios, seus costumes e suas culturas. Assim, como certa ‘perturbação doentia’, a tradução me fora imposta pela temática de estudo a que venho me dedicando: a Amazônia dos viajantes.
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Na época das viagens de exploração de Raleigh, o Novo Mundo era chamado América, e não tinha, portanto, a divisão que possui hoje, de América do Norte, Central e do Sul.
Além disso, é curioso que não exista, pelo menos que eu tenha conhecimento, uma tradução em português dessa viagem de exploração à América do Sul1, pois é de grande interesse para quem se dedica aos estudos da Geografia, da História, da Etnologia, da Antropologia, das Etnociências e das viagens ao "Novo Mundo". Além do mais, a obra traz em seu bojo questões relacionadas a mitos como Manoa, El Dorado, Ewaipanomas, os índios acéfalos e as Amazonas, mitos esses que fazem parte das estruturas de pensamento identitário e cultural de inúmeras comunidades amazônicas, em especial as das margens do rio Orinoco. Essa tarefa de tradução, que julgo ser de muita responsabilidade da minha parte e de grande relevância para os estudos amazônicos, exigiu muitos passeios por campos variados do saber, tanto sobre as Amazônias, quanto sobre a Grã-Bretanha e o Novo Mundo; textos que versam sobre Walter Raleigh, que além de relatos, produziu cartas geográficas, escreveu o livro A história do mundo e muitos poemas. Sobre
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