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a nova voz feminina do rap
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cultura lowrider no brasil
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lourenço mutarelli
edição 06 | R$ 9,90
entrevista
Š 2011 Vans, Inc. www.vansbr.com
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Revista OutRO estilO edição 06
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Ilustração de Lourenço Mutarelli para seu próximo livro, “Diomedes”, que será lançado pela Companhia das Letras no segundo semestre de 2011.
A música é forte e presente nessa edição da revista Outro Estilo. E não foi uma escolha, aconteceu, a música entrou nestas páginas como ela entra nos ouvidos, sem bater na porta. Eclética, renovadora e inspiradora. E assim, a Outro Estilo virou uma banda lançando seu sexto álbum. Porque o mesmo motivo que faz pessoas se juntarem para montar acordes, melodias e letras é o que nos move para contar histórias diferentes, convidar pessoas criativas e mostrar pontos de vista paralelos. E imprimir tudo isso de maneira jovem, como um desafiador Rock and Roll. Não é uma bela música clássica: na OE nada é belo, é outra coisa, é “estiloso”, sem perder a inteligência. A cada página uma música e a cada música uma ideia que mostra distintos universos que têm muito em comum. Olha só as três principais faixas desse álbum: um entrevistão com o multiartista Lourenço Mutarelli, a história da cultura lowrider no mundo e aqui no Brasil, e lições aprendidas com e pela rapper Lívia Cruz. Rimas fortes, com personalidade e atitude. Mas não é só isso, deguste e sinta que, mesmo gostando da energia da música tocada com três notas, estamos trabalhando para ir além. Com um estilo diferente.
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6 discos fundamentais do punk argentino Dá pra pensar numa lista de discos fundamentais do punk argentino sem nenhum álbum do Boom Boom Kid ou Fun People? Quase impossível. O que justifica a ausência é a modéstia do autor da lista, o próprio Boom Boom Kid. Com muitos discos lançados, fãs ardorosos e shows memoráveis em todos os cantos do planeta, BBKid construiu uma trajetória única. Boa parte dessa história será contada no DVD que sai em breve no Brasil (pelo selo Läjä, de Vila Velha/ES), chamado “Incendios de um Pitecantropus Sin Iutub”. Encabeçado pelo próprio artista em parceria com o santista Lucas Valente, o DVD trará trechos de shows (inclusive do Fun People), viagens, clipes, entrevistas e muito mais. Sempre na estrada, o músico respondeu seu Top 6 diretamente da Bolívia. Fique com as escolhas do BBKid: os 6 discos fundamentais do punk argentino.
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Texto Marcelo Viegas Foto Renato Custodio
(1) Los Beatniks – ReBeLde / no Finjas Más
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*Los Saicos foi uma banda de garage rock do Peru, de meados da década de 60.
(1987) eu consegui com um menino de um fanzine da época, mas não sei se foi oficialmente lançada. Peguei informações sobre a banda através do primeiro zine de Skate Rock local, o Contorted, que era feito por Chara e Ras Marianito Gonzalez, ícones do skate argentino dos anos 80.
(2) aLeRta Roja – deMo-tape
(5) cadaveRes de ninios - deMo-tape 85/88
Começo dos anos 1980, antes de 1983, o disco trazia o super hit “Derrumbando La Casa Rosada”. Imagina o que era cantar isso nessa época*?
Hardcore/Punk como ninguém fazia aqui. Letras inspiradoras. Assisti a muitos shows deles, e foram, sem dúvida, a maior e única referência “Faça Você Mesmo” dos anos 80, tendo muita influência para mim na hora de montar o Fun People. Essa Demo-Tape teve distribuição apenas de mão em mão, assim como a Demo do Cero De Pulso. Eles se recusaram a participar da coletânea “Invasion 88”, porque uma das bandas da compilação tinha óbvias tendências nazistas. Depois mudaram o nome para Cadaveres, a primeira e verdadeira banda de KillerGlam Garage Rock de Buenos Aires!
Compacto 7 polegadas de 1966. Proto Punk portenho. Sim, Los Saicos* eram bestiais, mas Los Beatniks tinham as letras...
*No começo dos anos 80 a Argentina ainda vivia sob uma ditadura militar. A tradução desse título é “Derrubando a Casa Rosada”. A Casa Rosada, como se sabe, é a sede da presidência da república argentina.
(3) sentiMiento incontRoLaBLe – Les divieRte asesinaR Punk pacifista e, por que não dizer, anarco, de sonoridade única. No início, soavam como bandas finlandesas dos anos 80. Mas, no final da carreira, gravaram um LP chamado “Nuevas Tierras” que trazia uma sonoridade meio The Mission, perdendo um pouco da força de sua música, mas não de suas tão inteligentes letras.
(4) ceRo de puLso – deMo-tape Esta é, simplesmente, A BANDA de Skate Rock da Argentina. Com verdadeiros skatistas em sua formação, é o The Faction portenho! A Demo-Tape 12
(6) Los BaRaja – coLetânea eM k7 Começo dos anos 1980. Los Baraja tinham imagem e atitude mais fortes que qualquer banda do gênero nessa época. Sua música evoluiu para um hardcore à la Septic Death, mas dessa fase não há nenhum registro. Na Internet anda rolando uma gravação do que eles eram no começo, com a mítica “Operación Ser Humano”.
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1. Nairah Matsuoka tem 22 anos de carreira como filha de Rosângela e Marcos, e neta de Zézinho e Nair. Começou o ano como repórter de revista masculina e, nos últimos meses, chegou a apanhar da polícia e a se infiltrar em uma gangue. Apesar de japa, detesta peixe cru.
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2. Endrigo Chiri Braz, 31 anos, resolveu virar jornalista de tanto ler revistas de skate na adolescência. Mais tarde, uma vez que já era skatista e jornalista, o caminho natural foi se especializar em cultura urbana. Atualmente, ele responde pelo conteúdo editorial da SubVert Comunicação. 3. Allan Hipólito é jornalista, DJ e um apaixonado por música e pela noite de São Paulo, além de ser um colecionador inveterado de qualquer merchandising relacionado ao filme Star Wars. 4. R. Donask, 37 anos, paulistano, fotógrafo autodidata desde 98, formado em Educação Física. Fundador do (coletivo 011), já trabalhou em jornais e revistas, bem como em agências internacionais, e atualmente trabalha no jornal Diário de São Paulo.
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5. Ricardo Nunes, pernambucano, dentista de formação e um apaixonado por tênis desde sempre. Caiu de pára-quedas em outro universo e hoje comanda o SneakersBR, primeiro site a falar do mercado e da cultura sneaker no Brasil. 6. Aldine Paiva, 33 anos, jornalista de moda e stylist. Nasceu em São Paulo e desde a maternidade foi contaminado pelo aço e concreto, desde então o lifestyle urbano domina sua vida. Quando era criança comia sabonete, na adolescência trabalhou como ator e há dez anos se apaixonou pela possibilidade de usar as roupas como mídia. 7. Luiz Costa, mora em São Paulo, nasceu em São Paulo e quer morrer em São Paulo! Se especializou em fotografar pessoas nas melhores casas noturnas da cidade devido a variedade de tipos e situações que esse ambiente pode proporcionar. 8. Tide Martins. Beauty artist de 23 anos, traz seu estilo inovador e criativo para as páginas dessa edição da OE. Atualmente faz suas procuradas produções no Salão Capitu Cabelo, na capital paulista. Seu estilo diferenciado atinge todos os públicos, trazendo bom gosto associado com moda e muito glamour. 9. Fabio Bitão, 37 anos, skatista, fotógrafo, orgânico, Rastafari em prol da natureza. Depois que lançou o livro 365GRAUS não parou mais de flipar e continua entalhando shapes de skate. Cibelie Trindade. Formada em moda pela universidade Anhembi Morumbi, é idealizadora do projeto fashion corner. Já viveu em Paris, e hoje trabalha como maquiadora em desfiles, eventos e atualmente no Villaggio – (V.I.P. Sallon). Suas influências vêm do universo da moda, da arte, das tatuagens e dos grandes penteados (haute couture).
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O dia em que um chinelo de dedo se sentiu deslocado em plena Lapa carioca texto Endrigo Chiri Braz fotos alexandre vianna e fabio bit達o
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Nessa página: O Rap dá o tom nos Arcos da Lapa; os artistas Wilbor, Pedro Sánchez, CDR e Vagner Donasc, injetando cores nos tapumes; Zegon no comando das pick ups.
No ônibus, as coisas já estavam meio estranhas, fora do habitual. Mesma linha, mesmo horário, mesmo destino – a Lapa Carioca. A princípio, um domingo como outro qualquer. Sambinha no final de tarde pra gastar um pouco de sola, apreciar uns dedinhos e tal. É isso que está faltando. Belos dedos femininos para distrair a viagem. Tem muito tênis nesse busão...
Enquanto caminho em direção aos Arcos da Lapa começo a ouvir um som do ConeCrew Diretoria ecoando ao longe, o rap na Lapa é uma parada normal, mas eu continuo achando a paisagem diferente. Mais chapada de cor. Flagro que os tapumes administrativos do Bondinho estão diferentes, cobertos por colagens de uns artistas do Rio, o Wilbor, o Pedro Sánchez, o CDR e o Vagner Donasc, mas não é só isso. Não vislumbro dedinhos! Tudo que vejo é couro e camurça de tudo quanto é cor, chevrons, listras e swooshs aos montes. Nada de tiras. Dou um rolê pela feirinha, paro pra ver os caras do break dançando, e ali começo a entender o porque dos dedos protegidos. Quando encontro com uma mini rampa, vejo os skatistas profissionais gastando seus sneakers na lixa do skate; ali do lado, no famoso gap da Lapa, os amadores disputando a melhor manobra sem economizar solado, e começo a entender melhor o que está acontecendo. Enquanto caminho distraído com os meus pensamentos, passo a trombar com uns tênis grandes, maiores que o normal e com cara de ainda mais confortáveis. É dos parceiros do basquete que estão disputando a melhor enterrada na quadra armada sob os olhares curiosos de quem cruza os arcos de bondinho. E aí que tudo se conecta e passa a fazer sentido.
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Rap, arte, break, skate, basquete... A Lapa está dominada por uma celebração da cultura urbana, a Converse Block Party Rio. Me dei mal. Os protagonistas da festa são os sneakers, o elo entre todos os elementos que compõem a cultura que vem das ruas. Aqui, chinelo de dedo não tem vez. Mas mesmo estando por fora do movimento, vou esquecer o samba. Fiquei instigado pra conhecer os dedinhos misteriosos escondidos dentro de algum bem servido par de sneakers. Está rolando o show do Marechal, e mais tarde ainda tem Zegon & BNegão e The Electric no Circo Voador. Vai que eu me arranjo com uma das estrelinhas que estão desfilando por aí e descolo um convite. Se tudo der certo, na próxima encarnação eu quero nascer sneaker.
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Sentido hor叩rio: Um All Star no palco; vis達o geral da estrutura armada nos Arcos da Lapa, cart達o postal carioca; a silhueta de Zegon e BNeg達o; Marcelo Formiguinha, a minirrampa, skate sempre presente.
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Entrevista Allan Hipólito (colaborou marcelo viegas) Fotos Atilla Chopa
Quando alguém menciona o nome de Lourenço Mutarelli em uma conversa, fica difícil não sentir a aura cult que ele conserva. Quadrinhista de mão cheia e um dos poucos autores brasileiros a atravessar a década de 1990 com um trabalho autoral consistente, Mutarelli foi um sopro de novidade entre os que ainda teimavam em criar personagens anabolizados saídos diretamente de academias galácticas. A humanidade e os defeitos de seus personagens conquistaram uma pequena legião de fãs, que se debruçavam nos anos 90 sobre álbuns como “Transubstanciação”, “Eu Te Amo Lucimar”, “A Confluência da Forquilha” e “Desgraçados”, com a mesma devoção reservada somente a algo sagrado. Porém, isso não impediu que fosse ignorado pelos próprios colegas de profissão, além de sofrer financeiramente com um mercado ainda inexperiente e pouco profissional. Mas quis o destino que Lourenço tivesse seu talento reconhecido, e isso não seria nos quadrinhos, mas sim na literatura. Foi com seu romance de estreia, “O Cheiro do Ralo”, que o escritor viu sua vida mudar de repente. Sua obra chegou aos cinemas em produção dirigida por Heitor Dhalia e estrelada por Selton Mello. O filme contava ainda com Lourenço como coadjuvante, no papel do hilário segurança da loja do personagem de Selton Mello, demonstrando um namoro com o cinema que renderia a participação do autor no recém lançado “Natimorto”, inspirado no livro de sua autoria. Dessa vez, como protagonista principal. Depois de desenhar mais um capítulo de sua vida com seu traço forte de nanquim, Lourenço se sente livre para experimentar. Seja no cinema, no teatro ou na literatura, enfim está livre do peso de quadrinhista que tanto o atormentou, e agora pode viver (e criar) seus sonhos de modo mais plural: um multiartista, talentoso e devidamente reconhecido. Lourenço recebeu a revista Outro Estilo para falar sobre o início da carreira, a indiferença de Angeli e Laerte por seu trabalho, a virada por cima com a literatura e curiosidades que só alguém como Lourenço Mutarelli poderia reservar.
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Quadrinhos No início da carreira, você trabalhou no estúdio do Maurício de Souza. Quando tomou a decisão de se jogar de vez nos quadrinhos autorais? Entrei no estúdio do Maurício porque precisava de trabalho. um amigo foi procurar emprego lá e acabei indo também. Queria trabalhar com animação na época e foi com isso que trabalhei por lá. Tinha uma gibiteca para os funcionários com muita coisa que não conhecia, umas coisas mais recentes, então comecei a ficar com vontade de tentar fazer um trabalho mais autoral. nesta época também começou a sair, além da Chiclete com Banana, a Circo que tinha o trabalho do Laerte, do Luiz Gê, com o qual me identificava muito. Tirei férias depois do primeiro ano trabalhando no estúdio do Maurício e comecei a produzir o meu material, além de tentar publicar, mas não consegui. depois voltei para o estúdio, e quando saí de lá de vez estava determinado a conseguir um espaço. Existiam muitas editoras na época, mas como o meu trabalho não era de humor, não consegui espaço. Foi aí que comecei a publicar os meus fanzines em 1988, depois recebi o convite da animal e algumas outras revistas, para as quais eu já tinha mostrado meu material, oferecendo uma página ou coisa assim. Como foi essa fase na Animal? a primeira página que a animal gostou e topou publicar foi a do Cãozinho sem pernas. Mas aí eles iam ter uma edição especial sobre ratos, na número cinco se não me engano, e pediram para fazer uma página que tivesse a ver com o tema. Porque na verdade eu publicava no Maus, que era um suplemento da revista. Comecei publicando estas histórias curtas e o primeiro trabalho autoral mesmo foi o álbum “Transubstanciação”, isso já em 1991, três anos depois. Fora isso, publiquei histórias menores e ganhei um pouco mais de espaço, mas nunca mais do que sete páginas. Era possível viver trabalhando com quadrinhos nesta época? até hoje é muito difícil essa coisa do que um autor ganha, tanto de livros quanto de quadrinhos. Peguei um trabalho agora de quadrinhos não porque queria, mas porque era um trabalho que pagava muito bem. até porque estou fora do meio e tem aparecido muitos convites e são valores mais significativos. Costumava brincar, na época, que era a minha mulher que trabalhava. Então era meio isso, ou você tinha outro emprego, ou tinha uma mulher ou uma namorada que ajudasse. Você comentou que voltou a fazer quadrinhos, mas por uma necessidade financeira. E também já afirmou que HQ é uma coisa que dá um trabalho muito grande e que não compensava. Você tem algum ressentimento com o meio? Tenho muito ressentimento. não existe nada muito claro, acho que é uma série de pequenas coisas. Mas cheguei em um ponto que não consigo mais ler quadrinhos. Trouxe alguns álbuns do hugo Pratt de uma vez que viajei à Portugal, e não consigo ler nem ele, que eu adoro. não consegui voltar a ler quadrinhos. Tenho um ressentimento, um desgaste, tem a coisa de trabalhar tanto. Quando fiz “o Cheiro do ralo”, minha vida mudou completamente. o filme sem dúvida abriu muitas possibilidades, mas o próprio livro abriu esses caminhos. E foi algo que fiz muito rápido e de uma forma muito prazerosa. Escrevi o livro em 2002 e lancei no mesmo ano, e o mundo mudou pra mim. Trabalhava e me dedicava de 12 à 18 horas por dia e nunca conseguia nada. Lembro que quando saiu “o Cheiro do ralo”, estava profundamente endividado e mesmo com
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a minha mulher trabalhando pra caramba minha situação era bem difícil. outra coisa que me frustava muito, era nunca ter sido aceito nos quadrinhos e entre os quadrinhistas. Primeiro porque sou de uma geração intermediária de autores, como o osvaldo Pavanelli e o andré Toral, por exemplo, que sempre me trataram bem e tínhamos uma relação legal. Mas Laerte, angeli, e todos esses caras, tinham uma distância da gente e faziam questão de se manter distantes. nunca consegui publicar na revista Circo que era um grande desejo meu. sempre foi estranho pra mim esse meio. E na literatura, que tem caras que respeito profundamente, fui aceito como um igual ou sem nenhuma cerimônia do tipo: “ah, você veio dos quadrinhos”. nada disso, são pessoas que são amigos até hoje como o Valêncio Xavier, que pra mim é o maior autor brasileiro, o Marcelino Freire, o Marçal aquino, o Joca, o ronaldo Bressane, o ademir assunção, Ferréz, Xico sá, é muita gente mesmo. Tem alguns com quem você não tem muita afinidade, mas a maioria são pessoas que a gente tem um afeto. Como é sua relação com a atual geração de quadrinhistas? Participei outro dia de uma mesa na Livraria Cultura, num evento da Companhia das Letras, que tinha um pessoal novo, como o Caeto, e um outro menino que não vou lembrar o nome agora. E pensei que estava ficando velho, porque o pessoal era muito novo. Mas a minha relação é tranquila. Conheço uma molecada de Curitiba que frequentava minhas palestras lá e as vezes conheço pessoas mais novas ainda. só me dói muito ver que todo esse pessoal não tem espaço para publicar. Quando comecei a publicar umas tiras no Estadão, uma das únicas coisas que impus é que tivesse um espaço de tiras para pessoas novas, nem que fosse uma por semana. a proposta foi estudada, mas acabaram cortando
a minha participação antes que conseguisse concretizar esse projeto. Mas pra mim é tranquilo, porque tem muita gente que acaba tendo influência e um respeito pelo trabalho. Como você lida com o fato de ser uma referência para os quadrinhos brasileiros? É legal, mas não queria influenciar ninguém. Não quero que seja um peso, uma sombra ou uma reverência. Entendo porque já vivi o outro lado. Conheci caras que nos quadrinhos eram monstros e quando estive junto não consegui nem falar, não queria nem incomodar os caras. Para mim, estar junto ali já era legal. Mas sei lá, a gente quando faz não pensa onde isso vai chegar, ou quanto tempo isso vai durar, ou se isso vai tocar ou influenciar alguém. Tento desmistificar tudo isso quando conheço essas pessoas.
Páginas da HQ “Seqüelas” (Devir Livraria), lançada em 1998.
“Outra coisa que me frustrava muito, era nunca ter sido aceito nos quadrinhos e entre os quadrinhistas. Laerte, Angeli, e todos esses caras, tinham uma distância e faziam questão de se manter distantes. Nunca consegui publicar na revista Circo que era um grande desejo meu. Sempre foi estranho pra mim esse meio.”
Tem algum movimento artístico com o qual você se identifique mais? Acho que o expressionismo e o impressionismo, esses dois movimentos tinham muitos artistas que gostava. É que tem umas pequenas variações dentro destes movimentos que também gosto. Mas acho que são os mais fortes pra mim. Qual a maior diferença entre a sua geração e a atual? É o excesso de liberdade e de acesso às coisas, essa é a maior diferença. O vídeo-game também muda demais: tenho certeza que se tivesse vídeo-game igual aos que têm hoje na minha época, eu não seria desenhista e nem teria feito quadrinhos, ia ficar só jogando. Você não ter algumas coisas tão fantásticas e hipnóticas assim, te obrigava a criar coisas, criar momentos. Às vezes acho meio delicado isso, algo ser tão fascinante que é difícil você sair dali. Mas o mundo está mudando e isso pode ser útil em algum momento também.
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Lourenço muLtiartista
“Quando fiz ‘O Cheiro do Ralo’, minha vida mudou completamente. O filme abriu muitas possibilidades, mas o próprio livro abriu esses caminhos. E foi algo que fiz muito rápido e de uma forma muito prazerosa. Escrevi o livro em 2002 e lancei no mesmo ano, e o mundo mudou pra mim.” 24
Além dos quadrinhos, você tem trabalhado recentemente com a literatura, o teatro e o cinema. Qual é a mais interessante para você e qual mais te castra dentro do processo criativo? o que mais tenho gostado é a literatura, e o que é mais experimental e onde você pode ir mais longe é no teatro. tenho desenhado e escrito coisas bem experimentais em uns cadernos, que também é onde tenho uma liberdade absoluta e não tem nenhum fim, mas acaba sendo um laboratório de ideias tanto para escrever quanto para desenhar. mas a literatura às vezes me castra um pouco, porque tem essa coisa de você ter um editor e ter que passar pelo olhar dele. algumas vezes o livro passa batido sem nenhum problema, mas às vezes surgem problemas quando estou escrevendo mentalmente e começo a me preocupar com isso, e não é comum porque sempre escrevi pra mim. então, em alguns momentos quando escrevo eu penso “será que vai ter algum problema, será que eles vão aceitar?” isso pra mim é muito desagradável, mas é contornável e negociável. Já o teatro é um lugar muito interessante em que você pode experimentar muito mais do que em qualquer outra área. Quanto aos quadrinhos, não tenho mais fôlego pra fazer história como tinha antes, pelo menos não nesse momento. Pode ser que eu volte a fazer alguma coisa com o mesmo prazer e com a mesma dedicação, mas por enquanto não tenho tido fôlego, por isso ele é o mais frustrante para mim. E o cinema? É uma coisa que entrei naturalmente a partir do Cheiro do ralo. Fiz algumas participações pequenas ou fiz o protagonista, como no caso do “natimorto”, mas é uma cosia que já se esgotou. Brincava dizendo que eu era mais como um policial infiltrado, o autor infiltrado. estava mais experimentando e vivenciando esse outro
lado que é muito interessante e fascinante, mas eu já estou satisfeito. Você disse que o Cheiro do Ralo foi determinante na sua vida. Como o Heitor Dhalia (diretor do filme) escolheu seu livro para fazer o filme? É culpa do Marcel Aquino, que não tinha nem terminado de ler o livro e indicou para o Heitor. Eles estavam fazendo o filme Nina, e aí o Marcel ligou para o Heitor e falou: “Olha, acho que tenho o livro que você está procurando”. O Heitor estava procurando alguma coisa na linha do Cheiro do Ralo para filmar, então ele acabou terminando de ler o livro antes do Marcel e pediu para ele me procurar, porque queria conversar comigo. Ele tinha ficado obcecado pelo livro, assim como o Selton Mello, que lutou para conseguir o papel. Como foi fazer o papel do segurança no filme? Foi muito divertido. Tinha feito um curta-metragem atuando um pouco antes disso e o Heitor pediu para que eu fizesse os testes com os atores e com as atrizes quando o Selton não pudesse vir para São Paulo. Nós provocávamos muito o pessoal nos testes, só para vê-los improvisando, e o Heitor gostou do que eu fazia, e fez o convite para participar como ator e escolher um papel. Disse para ele escolher, e de brincadeira ele sugeriu o segurança, porque sou pequeno e magro. Em quem você se inspirou para fazer o segurança? Um pouco antes de começar a filmar, fui em um caixa eletrônico que tinha no Shopping Center 3, na Av. Paulista, e tinha uma fila. Em frente tinha uma academia de ginástica, e saiu de lá um menino destes que fizeram a primeira aula de musculação, todo estufado. Ele parecia um frango, mas ele saiu num porte e, quando olhei, decidi que o segurança tinha que ser assim.
Aquele cara que se acha, que não tem noção e acaba tendo outra visão dele mesmo. Outro que serviu de inspiração foi um segurança de um café que frequentava. Sabe esses seguranças meio tiozinhos? Ele era assim e tinha sangue nos olhos, um cara que você vê que é meio perigoso. Então veio meio que dessas ideias o personagem. Seu livro “O Natimorto” virou filme recentemente, com você no papel principal, e também foi adaptado para o teatro. Você notava estas possibilidades na época que você o escreveu? Não. Ele tem uma estrutura que vem do meu prazer em ler obras teatrais, lia muitas peças, e gostava de ler como se fosse livro. Era uma forma de como isso era apresentado, especificando quem está falando, essas rubricas. Então escrevi o livro assim por isso, por gostar dessa forma e querer experimentá-la. Mas nunca imaginei que ele fosse ser adaptado. Muita gente procurou para querer comprar os direitos pro teatro, que eu achava até mais natural, mas demorei pra encontrar alguém para quem quisesse vender. Aí encontrei a Maria Manuela e o irmão dela comprou para o cinema. Eu até falei que via isso como uma peça, mas não via como um filme. O que você achou do resultado do filme? Quando vi o corte final numa cabine, eu, o diretor, o montador e o músico, eu adorei! Adoro a peça também, e são completamente diferentes. Foi o Mário Bortolotto que adaptou (para o teatro) e fez um trabalho muito impressionante, porque ressaltou o humor que está no livro, e era muito divertido. Tem esse humor no livro, mas o Paulo Machline resolveu tirar esse humor do filme, ou deixar ele quase imperceptível. Achei que isso talvez pudesse deixar o filme muito pesado, mas quando vi o corte final me chocou como ele ficou próximo ao meu trabalho. Foi a adaptação mais fiel ao meu trabalho, talvez por essa opção mais radical. Acho que tive o impacto dele (o filme) que as pessoas tem do meu trabalho, que muitas vezes não é igual ao que eu tenho. Seu trabalho sempre tem um lado de auto-ironia e humor negro. O que você acha da condição humana? É muito patética, existe um ridículo muito grande no ser humano. Existe muita coisa boa também, mas não consigo levar tudo isso a sério, nem olhar isso sem um humor até agressivo, que é o humor negro. Mas é como vejo as coisas e isso está presente no meu cotidiano. Eu mesmo brinco muito com essas coisas, porque acho que não dá pra lidar com isso de outra forma. Seus personagens possuem um ar grotesco, mas são absolvidos de seus pecados durante o enredo de suas histórias. Isso surge naturalmente ou você busca exatamente transmitir isso em suas obras? No Cheiro do Ralo isso é totalmente intencional. Queria criar um personagem que fosse, no princípio, a minha antítese, que fosse totalmente desagradável, e fazer com que mesmo assim ele conquistasse quem está acompanhando o livro, ou até mesmo assistindo ao filme. Então, em alguns casos é muito intencional e em outros são personagens que eu vou tentando humanizar e nessa tentativa crio personagens desagradáveis. Mas, por outro lado, acaba criando uma identidade ou uma redenção. A criatura é tão patética que você acaba perdoando.
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Quanto do Lourenço Mutarelli existe nos personagens que você faz? Tem muito. Porque mesmo esse personagem (do Cheiro do Ralo), que era uma antítese, no meio do livro eu acho que já estava tudo muito misturado. É muito difícil não misturar vivências e experiências. Se é um trabalho verdadeiro, você acaba misturando, embolando ou colocando eventos que tenham a ver com a sua vida ou experiências.
InfânCIa Você nasceu em 1964, ano do golpe militar, e seu pai era delegado de polícia. Como foi crescer em meio a ditadura? Demorei muito pra entender o peso que esta época teve, porque não percebia o próprio regime militar entrar diretamente na minha infância. Estudava em colégio de padre, então além do militar, tinha esse peso religioso. foi uma época que cresci sob uma opressão muito grande. O melhor foi que de alguma forma aprendi muito cedo, não só por isso, mas pela minha situação econômica. Morei perto de onde hoje é a avenida Águas Espraiadas, exatamente entre uma favela e umas mansões, e tinha amigos dos dois lados. Então percebi que era classe média: pros favelados eu era filhinho de papai, e pro pessoal que tinha muita grana eu era o favelado. Então cresci sob uma opressão grande de todos os lados. acho que a única vantagem disso é que você aprende que tem coisas que não são pra você. acaba tendo um conformismo, mas por outro lado esse conformismo é grande demais e acaba afetando a sua auto-estima também. O importante também é sobreviver com o menor dano possível de tudo isso, já que ficaram marcas profundas. Como você descobriu o talento para os quadrinhos e para as outras mídias que você trabalha atualmente (teatro, literatura e cinema)? O desenho é o mais estranho porque lembro exatamente do momento que ele surgiu. foi muito natural, e acredito que com o tempo algumas coisas fiquem mais fáceis e você tem mais domínio; outras se tornam mais difíceis, porque você perde a crueza e uma pegada que é muito de quando você começa. Lembro de, ainda muito pequeno, começar a copiar uns desenhos de um livro do meu pai. Já rabiscava algumas coisas, mas naquele momento, copiando os desenhos, aquilo impressionou demais o meu pai e as pessoas a minha volta. E aí comecei a desenhar, que era uma coisa que me diferenciava num sentido legal, porque geralmente era muito inexpressivo, isolado e retraído. Então foi uma coisa muito positiva pra mim, que surgiu nesse momento e foi ficando natural dentro da minha limitação com meu traço tremido e pesado, que acaba sendo o meu estilo. Queria muito fazer um curso de desenho, mas meus pais não tinham condição de pagar, e isso foi muito bom para que eu me desenvolvesse do meu jeito.
aMORES ExPRESSOS Como foi a experiência de passar um mês em New York para fazer disso um novo livro dentro do projeto Amores Expressos? acho o projeto maravilhoso, fiquei muito feliz de ser convidado, mas não queria ir pra new York. Queria ir para outro lugar, mas era o único que não conhecia a
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cidade e eles queriam esse olhar estrangeiro. Era uma cidade que não me atraía em nada e foi um pouco frustrante. Porque é uma cidade que você conhece: é um lugar do qual você tem muita referência no cinema, na televisão, em tudo. Então não é o mesmo impacto do que chegar em uma cidade que você não tem muita referência, que é muito mais instigante para entender ou perceber. O livro sai no ano que vem e ainda não está pronto para mim. Já terminei, mas tive problemas com a Companhia das Letras que não gostou, aí mexi e dessa vez foi eu que não gostei. Mas como está previsto só para o ano que vem, vou voltar nele agora, já que acabei outro trabalho. Mas foi a primeira vez que a solidão me incomodou e entendo isso porque não era a minha solidão, era a solidão do Iliya, o dono da casa que fiquei. E isso eu tenho vontade de escrever, um livro com esse título mesmo, “a solidão de Iliya”. Porque eram os desenhos da filha dele na parede, eram as coisas dele. O que eu comprava, nada era meu, porque só ia ser meu quando chegasse aqui na minha casa. Então foi a primeira vez que tive um problema de lidar com a solidão, que era uma coisa natural e tranquila para mim. Depois de um ano, acabei tendo o meu primeiro bloqueio criativo, em função do livro e das circunstâncias. Então um ano depois voltei pra new York e fiquei mais dez dias. Dessa vez eu fiquei em Manhattan mesmo, porque na primeira vez eu tinha ficado no Brooklin. Qual foi a diferença da primeira para a segunda viagem? Brutal, porque do Brooklin eu ia para Manhattan todos os dias, mas tinha ficado em uma região meio barra pesada. É um lugar que tem uns lofts, umas fábricas antigas e é um lugar muito bom, mas o entorno tem uns conjuntos habitacionais com negros e latinos, e os táxis não me levavam até lá porque tinham medo. Embora não tenha tido nenhum problema, é um lugar estranho. O fato é que atravessar o Brooklin todos os dias para chegar até Manhattan era um desgaste emocional. Era muito triste, porque as pessoas pediam para você pagar o bilhete para eles irem trabalhar, e todo dia era isso. Então comecei a mudar o meu caminho e andava muito a pé, e passava em uma área nobre do Brooklin, onde você não era bem vindo. E em Manhattan não tem isso porque tem todo tipo de pessoa. Mas naquela região do Brooklin High era muito estranho. E é onde eu situo a minha história: ali ainda é um pouco mais tranquilo, porque tem muita mistura de latino. Mas até chegar ali tem uma região que o pessoal ficava muito atento e preocupado, tipo São Paulo, com as pessoas com medo umas das outras. Mas foi uma experiência legal, e acho que em algum momento voltarei para ela, mas não com essa encomenda. Você escreveu sobre New York no blog: “É uma cidade em que tudo já se viu. É como caminhar na lembrança”. Você diz isso pelas referências sobre a cidade? Sim, e uma coisa que me impressionou é que imaginava tudo maior. Parecia que estava em uma cidade temática de new York. Tentei fazer um pouco dos passeios turísticos também, tipo a Estátua da Liberdade, mas não tive nem coragem de descer do barco. fiquei olhando e pensei em não descer porque não me interessava, além dela ser muito pequena. aí tentei ir no Empire State, mas a fila era gigantesca. Tentei ir umas três vezes, mas a fila era sempre igual, e desisti porque não queria perder horas com aquilo. a Times Square é tudo aquilo que você conhece e no fim parecia tudo menor. não sei se é porque sou de São Paulo, mas nesse sentido era um pouco frustrante sim.
Ilustração do “Diomedes”, que será lançado pela Companhia das Letras no segundo semestre de 2011.
“Na minha infância, morei exatamente entre uma favela e umas mansões, e tinha amigos dos dois lados. Então percebi que era classe média: pros favelados eu era filhinho de papai, e pro pessoal que tinha muita grana eu era o favelado. Cresci sob uma opressão grande de todos os lados.” 27
Internet Você não gosta muito de Internet, mas teve que escrever diariamente em um blog durante sua estadia em New York. Como foi a experiência? Foi maravilhoso, além de ser uma recompensa e uma companhia para essa minha solidão. Acho que foi o que me ajudou. Lá eu comprei um celular pré-pago, e é muito barato ligar para o Brasil e toda noite eu falava uma hora com a minha mulher e com o meu filho, pra dar um alô, o que era bom. Mas, fora isso, essas pessoas que postavam acabaram virando meio amigos. eu nunca tinha tido um blog, mas fazia parte do pacote ter um blog, fazer fotos e filmar algumas coisas também. e no fim foi muito bom, porque era uma coisa que fluía muito fácil. Como ficava o dia inteiro fora, quando chegava a noite era muito bom entrar e ver quem postou e também comentar. Tem vontade de ter um blog novamente? tentei voltar e não consegui manter. no ano passado comecei um outro blog, que foi legal porque permitiu que eu reencontrasse essas pessoas, mas aí uma entrevista usou algumas coisas do blog como se tivesse dito para eles e acabei deletando. Me senti meio ingênuo, porque achei que o blog era aquilo, era para aquelas pessoas, não achei que qualquer pessoa entraria e usaria aquilo de outra forma, então não pretendo ter novamente. E as redes sociais, você costuma usar alguma? tive um Facebook porque um cara com quem estava trabalhando falou que era bom ter para uma coisa que estava fazendo. nunca consegui usar o Facebook, só adicionava todo mundo e não conseguia postar, responder. Achava aquilo confuso e saí também. Pelo menos por enquanto não pretendo e não tenho nenhuma intenção de ter um perfil ali novamente. O twitter nunca me atraiu, tenho amigos com quem você conversa e eles ficam twittando. Acho isso muito desagradável, mas entendo, porque é fácil você ficar viciado nessas coisas. O blog mesmo, durante este mês em new York, eu queria entrar e ver os comentários e você começa quase que a criar uma dependência disso. Mas no momento não tenho nenhuma vontade de ter algo desse tipo. Você sempre afirmou apreciar a solidão. O que mais te agrada nela? A solidão, principalmente depois da literatura, é um momento fértil em que as coisas acontecem pra mim. Mas eu gosto de estar com meus amigos a partir de algum momento e recebê-los aqui na minha casa. Como você analisa o interesse do público jovem pelo seu trabalho? É engraçado, porque o meu público sempre foi universitário. Pelo menos em palestras, que é quando tenho contato e noto isso. Acho que é um momento da vida que surgem muitos questionamentos, e que apesar de todos estarem vivendo, descobrindo e vivenciando muita coisa, eles também se defrontam muito com a condição deles. Acho que por isso talvez tenha uma identidade, a partir do momento em que as pessoas começam a refletir mais. e quanto mais cedo a pessoa começa a ler ou a ir ao cinema, ou apreciar uma pintura, quanto mais ela está nisso, maior é esse questionamento.
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“Tenho certeza que se tivesse vídeogame igual aos que têm hoje na minha época, eu não seria desenhista, ia ficar só jogando. Você não ter algumas coisas tão fantásticas e hipnóticas assim, te obrigava a criar coisas, criar momentos. Às vezes acho meio delicado isso, algo ser tão fascinante que é difícil sair dali.”
Predileções Que tipo de música você escuta? escuto muito os minimalistas, que chamam de erudito contemporâneo. É um tipo de música que induz ao transe e são muito repetitivas e atonais. ela ilumina áreas da minha cabeça que nada mais instiga. Costumo dizer que a música é minha religião e meu importador é o são Horácio (vendedor de discos). são músicas que eu demoro um ano escutando pra me emocionar. Gostava muito de rock quando era mais jovem e tem coisas que ainda respeito, como Black sabbath, que amava e colecionei todos os lPs. Gostava de AC/dC e também de Pink Floyd. Meu irmão tinha um cara que trazia umas coisas muito raras e lembro da primeira vez que ouvi Tom Waits, que é uma coisa que gosto até hoje. Mas tem muita coisa, principalmente as mais pesadas, que eu gostava demais. Quem entraria no seu top five musical? eu ficaria nos atuais: John Cage, Philip Glass, György sándor ligeti, Tom Waits e Arvo Pärt. Tem muitos outros, mas acho que estes são os que tem maior peso. Ouvi dizer que você é fã da adaptação para o cinema de “Naked Lunch” do William Burroughs, feita pelo David Cronenberg... É curioso porque é um filme que eu detestei nos anos 1980, quando fui ver no cinema. Tinha tentado ler Naked lunch e achei insuportável. Quando fui ver o filme achei muito chato e aí alguns anos atrás eu ganhei um Box de dVds com o filme, e decidi ver novamente. Aí ele me pegou de um jeito, não sei porque, e resolvi voltar atrás e ler a obra completa do Willian Burroughs. Fiquei completamente intoxicado por ele e por aquele trabalho. O livro “A Arte de Produzir efeito sem Causa” é fruto desse momento. Mas tem muitos filmes que eu gosto. Adoro os irmãos Coen, dos mais contemporâneos. Adoro o david lynch. Tem muita coisa que eu gosto. Cinema foi uma grande influência para mim. Tive a sorte de viver os cineclubes, então vi muita coisa. Teve um filme que me marcou muito e sempre cito como determinante: “As Três Coroas do Marinheiro”, do chileno raul ruiz. Polanski também tinha coisas que adorava. Tem esse pessoal novo, como os roteiros do Kauffman que acho muito interessante. O “sangue Negro” também, que foi um filme maravilhoso. Você ainda é um grande apreciador de café? eu tomo ainda, geralmente de manhã até a hora do almoço. Antigamente tomava café o dia inteiro e isso passou um pouco. Não tenho encontrado mais bons cafés e era uma coisa que eu explorava e apreciava muito. Acho que a gente tem no suplicy o melhor café de são Paulo, embora eu não goste muito do ambiente. essa coisa de Jardins me intimida um pouco. O que você faz no seu tempo vago? Geralmente aproveito de uma forma ociosa ou fico jogando paciência e assistindo a essas séries estranhas que passam na TV a cabo. Com a minha mulher e o meu filho costumo ver “Two And A Half Men”, que a gente acompanha. eventualmente vejo simpsons com o meu filho, mas estava vendo muito seriado de eT, por causa do livro que estou fazendo.
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Você tem manias que as pessoas acham estranhas? Tem uma que é muito cruel e que as pessoas não se conformam. Nunca falei isso, mas tenho uma coleção de sedex lacrados, com coisas que me mandam. Não sei o que tem dentro, porque nunca abro e fica lá guardado. Começou com uma coisa que mandaram para minha editora e que o meu editor na época disse ser uma coisa urgente. Disse que depois pegava e ele me entregou o pacote somente seis meses depois. Fiquei com um pacote escrito “urgente” e pensei que não tinha urgência nenhuma naquilo. Aí não abri. Conforme fui ganhando outros fiquei com essa mania, e tem gente que não se conforma. Você não tem curiosidade de saber o que tem dentro de cada pacote? Nenhuma. É meio cruel, porque podia ser uma coisa incrível, pode ser uma coisa maravilhosa, pode ser uma coisa que mudaria a minha vida, mas não preciso disso, sei lá. Acho que essa é uma mania estranha minha. Qual a maior gafe que você já cometeu? Foi na primeira vez que fui para Portugal. Estava com a minha mulher e uns amigos e fomos jantar num restaurante, e tinha um senhor com uma moto muito diferente com uma cadeira atrás. Aí eu cheguei perto dele e perguntei se podia tirar uma foto. Ele desceu mancando e perguntou se eu queria sentar na moto, aí fui lá e tirei a foto e perguntei como chamava o veículo. Aí ele disse me disse que era um veículo para deficientes físicos (risos). Tenho a foto até hoje, mas fiquei muito constrangido. Foi a minha maior gafe, e eu nem me toquei, achei que era uma coisa adaptada porque era muito diferente e o cara mancava demais, tinha uma perna muito mais curta. Eu também não guardo nome nem fisionomia, então isso gera muita gafe. Outro dia encontrei uma pessoa e perguntei do bebê dela, e a pessoa me perguntou sobre qual bebê estava falando. De repente percebi que era outra menina que estava grávida e que não tinha nada a ver com ela... Na sua viagem à New York você mencionava ter comprado muitas coisas. O que você costuma comprar em viagens? Geralmente livros e CDs. É onde eu vou garimpar. Felizmente não tenho comprado tanto assim. A Lú, minha mulher, faz uma coisa: ela dá todos os livros que compra. Ela lê e, no fim do ano, ela junta e escolhe pessoas que tem a ver com os livros e dá. Mas eu não quero me desapegar dos meus livros. Às vezes eu dou, porque não tem mais onde colocar. Fiz isso uma vez na vida e vou ter que fazer isso de novo, juntar alguns pra levar no sebo de um amigo. Acho que estou menos impulsivo com isso, mas sem dúvida CD e livro é o meu ponto fraco. Você tem muito apego com suas coisas? Eu já tive mais, mas meus CDs e livros são coisas que não empresto. Não emprestaria um CD para ninguém. Você é um leitor compulsivo? Não sou mais desde que comecei a escrever. Li muito uma época, mas parei de ler ficção por alguns anos, então comecei a ler só livros teóricos. Fui ler Darwin, li muita biografia e também sobre a Inquisição. Me aprofundei em
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“Meus CDs e livros são coisas que não empresto. Não emprestaria um CD para ninguém”
“Eu gosto de roupas que tenham tons meio mortos. É um estilo meio tiozinho, meio Seu Madruga, não sei definir (risos).”
alguns temas que eram do meu interesse e, como trabalho com isso, minha cabeça fica cheia. Então eu tenho lido pouco. Quais são os seus autores prediletos? Tem épocas, eu diria. O Antonio Prata me falou do Kurt Vonnegut, um cara que eu nunca tinha lido e, depois que descobri, estou lendo tudo o que encontro. É o cara do momento e que me influenciou muito sem eu nunca ter lido. Ele tem uma forma e uma identidade com o que eu faço, sabe? Além de ter um humor muito doído, que é muito precioso e fascinante. Então quando descubro alguém, tento ler o máximo possível desse autor, mas tenho lido muito pouco. Esse ano está bem difícil. Quanto mais eu trabalho e tem mais coisas envolvidas, menos eu leio. Tem essa coisa de ver televisão também que é um hábito de, sei lá, uns dois, três anos pra cá. É o que minha mulher fala: “Ver TV algumas vezes é um forma de esvaziar”. Que é o que meu amigo falava da paciência ser igual a meditação. É um processo pra você esvaziar um pouco a cabeça. Sebo ou livraria? Sebo. Por que? Isso não é uma crítica e sim uma observação, como por exemplo no caso das editoras. Elas fazem os lançamentos e existe uma tendência, e no sebo não. No ano passado, estava em Curitiba e lá tem uns sebos muito legais e encontrei muita coisa do Anatole France, que não republicam, você não encontra nada. O próprio Burroughs você não encontra muita coisa, se encontra é um da LP&M e um da Companhia das Letras. Então sebo é legal porque você acaba encontrando pessoas que você nem lembrava mais, ou títulos que instigam. Como você definiria o seu estilo de se vestir? Eu gosto de roupas que tenham tons meio mortos. É um estilo meio tiozinho, meio Seu Madruga, não sei definir (risos).
CASA, FAMíLIA, rOTINA Qual a importância da sua esposa na sua vida? É fundamental para tudo. Nós vamos fazer 20 anos juntos e costumo dizer que ela é uma extensão minha. É algo que faz parte totalmente de mim. Acho que tem momentos, pela rotina da vida, pela quantidade de obrigações e pressões que a gente vive, que as vezes nos descuidamos um pouco disso. Mas quando você percebe, isso volta de uma forma muito boa. Ela, meu filho Francisco, minha casa e meus gatos, são coisas muito importantes para mim. É a minha estabilidade, e de uma importância profunda e vital. Como é o Lourenço Mutarelli pai? Eu já falei que queria ser o meu pai (risos). Mas é dificílimo ser pai. Essas gerações não têm o peso que eu tive do respeito, da hierarquia. Meu filho me trata como um coleguinha, é muito diferente. Mas eu o adoro e tento ser um bom pai. Mas acho que é muito difícil.
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Quais as maiores dificuldades, uma vez que seu filho é adolescente? Eu acho que o mais difícil é essa coisa do artista, porque você acaba tendo uma vida que você tem diferenças. Trabalho muito de manhã cedo, então quando chega no fim da tarde eu paro, e tenho meu tempo. Me preocupo com o que eu estou passando pra ele, porque eles aprendem com o que eles vêem, não exatamente com o que você fala. Tenho passado boas coisas, mas é difícil aquele diálogo que você diz: “Pode falar que eu não vou te julgar, vamos conversar”. E é difícil porque você escuta coisas que são muito contrárias e você prometeu que ia entender. Acho que a dificuldade é essa. Como é o seu dia a dia? Existe uma rotina? Preciso da rotina, porque você só consegue trabalhar em casa se tiver disciplina. Então acordo cedo pra chamar meu filho para ir à escola e já começo a trabalhar bem cedo. É o melhor horário para mim. Mas também entendo que tem dias que não está indo, e tenho que parar e jogar paciência, ou ir andar, assistir televisão, porque as coisas estão se processando. E agora, que estava terminando esse livro que é muito trabalhoso, tiveram momentos que fiquei dois dias sem trabalhar. Mas passava esse tempo e voltava totalmente revitalizado. As vezes um pouco de ócio - se você conseguir dosar e não tomar conta - é muito produtivo. Você tem cinco gatos. O que mais admira neles? Não tem um dia, desde que tenho meus gatos, que não tem algum momento em que fique totalmente encantado, vendo alguma atitude deles. Acho um animal incrível, mesmo que às vezes eles encham o saco no inverno, porque dormem todos em cima de mim e eu
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acabo indo dormir na sala. Mas é incrível, adoro o ritmo deles, o silêncio e a bagunça que eles fazem. Como você se relaciona com a cidade de São Paulo? Adoro essa cidade porque consigo viver no meu ritmo. Não aguento o trânsito, por isso saio muito antes, uso muito metrô, não gosto de dirigir, então acho que é isso. É uma cidade que gosto muito quando você consegue viver no seu ritmo. Porque viver no ritmo dela é muito desgastante.
“Nunca falei isso, mas tenho uma coleção de sedex lacrados, com coisas que me mandam. Não sei o que tem dentro, porque nunca abro. É meio cruel, porque pode ser uma coisa incrível, pode ser uma coisa maravilhosa, pode ser uma coisa que mudaria a minha vida, mas não preciso disso, sei lá.”
No blog você cita o uso constante de remédios para dormir. Qual sua relação com medicamentos deste tipo? Depois de muitos anos, eu parei de tomar no começo deste ano. Era uma coisa que eu vinha tentando e aí parei. É algo que fez parte da minha vida por mais ou menos 25, 26 anos, mas que é possível também em alguns momentos ficar sem. Porque também, se eu ficar mal, eu volto sem nenhum problema. Parei por uma tentativa de vencer um pouco isso, porque tinha uma dependência química com um destes medicamentos, e queria vencer isso. Como está essa nova fase: tem sido melhor? Tem sido sim. Às vezes é melhor, e às vezes não, mas tem sido sim. A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Outro dia eu estava vendo um filme do Woody Allen que me dá uma certa vertigem, porque tem a câmera muito solta. E nele, um personagem diz: “Você tem razão, a vida não imita a arte, a vida imita essas novelas mexicanas vagabundas”. Mas num sentido mais profundo, eu acho que a arte tenta imitar a vida, porque pelo ritmo do que a gente vive, acabamos deixando de perceber muitas coisas grandiosas e mágicas, que são banalizadas.
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Preferências
O momento de união é fácil: a chama do amor brilha intensa, aquelas duas pessoas não conseguem mais se imaginar uma distante da outra, os minutos sozinhos demoram horas e os juntos, segundos. Dependendo da disponibilidade de recursos, aluga-se um apartamento. Uma festa e cerimônia de casamento atestam a tão sonhada liberdade, independência e a certeza de que terão muito tempo juntos para sonhar, viver, amar. Se o início é simples, cada vez menos casais conseguem desvendar os segredos que proporcionem a continuidade de algo que parecia indestrutível. Bianca Jhordão e Rodrigo Brandão têm desvendado juntos, por 15 anos, todos os mistérios da convivência, dividindo a moradia e o palco com harmonia. Ambos são integrantes do Leela, banda de rock com primeiro álbum lançado em 2004 (vencedora da categoria Revelação do VMB de 2005), que transita sem grandes traumas entre o mainstream e o circuito da música alternativa. Eles separaram as representações físicas que lhe trazem os bons sentimentos, tão necessários para a renovação constante da alegria dos primeiros dias. Texto Douglas Prieto Fotos Renato Custodio
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Preferências
Guitarra Giannini Gemini
Adoro o som dessa guitarra! Fica sempre a mão para criação de novas canções e também serve como terapia para as angústias do dia-a-dia. É só pegar e tocar!
Case estação de trabalho
Eu projetei o case e montei essa estação móvel de gravação de áudio em 16 canais separados. Consigo transportá-la com facilidade para gravações em shows, ensaios e é também onde criamos e gravamos nossas músicas em casa.
box eriC Clapton Crossroads
Foram os primeiros CDs que ganhei. Minha mãe me presenteou e apresentou, com esse Box Set, o som de Eric Clapton, e virei um devoto. Ela escreveu uma dedicatória contando que assistiu ao show de retorno aos palcos dele em 1973 no Rainbow Theater em Londres e, na mesma fileira, estavam Paul, George e Ringo, eles mesmos!
hQ inCal de Jodorowsky e moebius
Essa é a nova edição da primeira série que comprei de quadrinhos europeus adultos. É uma ficção científica com roteiro e arte espetaculares. Depois dela virei um aficionado colecionador de HQs adultas. Tá aqui representando minha coleção.
box dVd star wars e boneQuinhos
Esses filmes marcaram minha infância, e curto demais eles até hoje. Os bonequinhos são da época em que era criança e vivia brincando de Star Wars.
saCola beatles sGt pepper’s
Ganhamos da vendedora da loja oficial dos Beatles na estação do metrô St. John’s Wood próxima a Abbey Road, quando fomos visitar o famoso estúdio. Era uma brasileira que nos reconheceu do Leela e nos presenteou com essa bolsa linda. Foi muito representativo para mim: os Beatles, Londres (que é minha cidade natal) e ainda ser reconhecido. Inesquecível!
troféu Vmb
Foi um momento marcante pro Leela ser eleito a Revelação do ano pela audiência da MTV em 2005. Um reconhecimento do nosso trabalho.
faixa menGão hexa
Comprei no Maracanã no jogo em que o Flamengo se sagrou hexa campeão brasileiro em 2009. Já havia mudado para São Paulo e rolou um saudosismo, um retorno às minhas origens no Rio, quando morava próximo e frequentava o clube. Também assisti pela primeira vez a jogos do Mengão em estádios paulistas. Memorável!
miCrokorG xl
Trouxemos de Londres esse sensacional mini sintetizador que tem sons e timbres maravilhosos. É possível personalizar as configurações e criar meus próprios timbres. Várias canções e idéias surgem quando toco nele.
box pantera Cor-de-rosa
Série hilária e maravilhosa com um dos meus atores favoritos: Peter Sellers. 38
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Preferências
Computador
O computador é meu canal de comunicação com os amigos e fãs. Essa troca de ideias e contatos me instiga. Lembro da época de ir ao correio sempre, agora a conexão é direta. É com ele que atualizo as redes sociais, respondo entrevistas, edito fotos e vídeos, estudo os convidados do Combo (programa de televisão apresentado por Bianca, no Play TV), descubro novas bandas, leio jornais, revistas, blogs.
altar eCumêniCo
Buda, Sri Ramakrishna, Sarada Devi, Swami Vivekananda, Santa Cecília (padroeira dos músicos), Santa Rita, Mago Merlin, anjos, fadas, bruxas, cristais... No altar na porta de casa, eles me trazem boas energias e vivem em harmonia.
pôster show Blur
Em 2009, Rodrigo e eu comemoramos nossos 13 anos juntos no Hyde Park, em Londres, no show que marcou a reunião de volta do Blur, uma de nossas bandas preferidas. Depois esse show virou DVD, eternizando, assim, esse momento especial.
Bateria
Essa bateria Alesis DM5 Pro Kit é de pads, tem vários timbres bacanas e ideal para ter no apartamento. Gosto de sentir o ritmo pulsando o corpo e também pratico para tocar ao vivo no show do Brollies & Apples e para compor batidas pro Leela.
teClado nord eleCtro 3
O som do piano embalou minha infância com as canções tocadas pelos meus pais. Adquiri esse teclado recentemente numa viagem. Os timbres são sensacionais, era o que faltava em casa.
leela Grammy
Concorrer ao Grammy Latino foi uma das notícias mais inesperadas que recebemos com o Leela em 2005. Nosso primeiro álbum ser indicado à “Melhor Álbum de Rock Brasileiro” ao lado de artistas já consagrados nos deixou muito satisfeitos e felizes com o reconhecimento do nosso trabalho.
XBoX + Games
Em 2009 comecei a apresentar o Combo: Fala + Joga e desenvolvi a habilidade de jogar videogames enquanto entrevisto personalidades. Jogar entrevistando é um desafio que tô dominando cada vez melhor. Jogo em casa com um Xbox360 + Kinect e curto algumas madrugadas com Alan Wake, Red Dead Redemption, Tekken 6, Marvel Vs Capcom 3, Fifa11, Lego Star Wars, L.A. Noire e por aí vai.
ÓCulos de natação
Fazer exercícios físicos sempre fez parte de minha vida. Já pratiquei sapateado, ballet, dança moderna, remo, musculação, spinning, hatha-yoga, ginástica aeróbica, pilates e há 2 anos treino na piscina, nadando cerca de 1.600m duas vezes por semana. É um momento de meditar em movimento, adoro.
plantas: melindrosa e Verdita
Cresci num sítio em Itaipava (RJ) rodeada de árvores, plantas e flores. Ter plantas em casa é um modo de me conectar com a natureza e com as boas lembranças da infância. A Melindrosa (a planta mais alta) faz parte de minha vida há 9 anos, é o xodó. A Verdita ganhei na época que apresentava o “Nickers” na Nickelodeon e já está aqui há 4 anos. Elas são minhas amigas, converso com elas todo dia.
Guitarra / Violão
A guitarra Schecter Diamond Series e a Craviola da Giannini estão à mão para serem tocados a qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada. 40
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No mês de maio a Livraria da Vila (São Paulo/SP) recebeu artistas e convidados para o lançamento de TRANSFER arte urbana & contemporânea transferências e transformações, um livro que teve origem na mostra de mesmo nome, realizada entre julho e outubro de 2010 no Pavilhão das Culturas Brasileiras do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, sob curadoria de Lucas Pexão. Editado pela ZY, em parceria com a Conceito – Consultoria em Produções Culturais, com patrocínio do banco Santander, por meio do Santander Cultural, o livro conta com 228 páginas que abordam todo o universo da mostra. Publicação única no cenário editorial brasileiro, TRANSFER traz pinturas, desenhos, fotografias, frames de vídeos, registros de intervenções urbanas e arquitetura, com trabalhos de artistas nacionais e internacionais. Releitura de Frederico Antunes da obra Compo Pdmpetesp, de Flavio Samelo.
Livraria da vila
Ana ferraz e lucas pexão
whip
luciana araujo
ignácio e louise 42
sesper e roger mancha
zansky, renan cruz e jo찾o lelo
arthur dantas e marcelo viegas
renata sim천es 43
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Certas memórias permanecem conosco pelo resto de nossas vidas. O ano era 1998, e a banda norteamericana Superchunk, uma das mais importantes do rock alternativo da época, fazia sua primeira viagem ao Brasil. Como de costume, as datas principais (finais de semana) eram reservadas para as capitais. Assim, quis o destino que o show inaugural da turnê acontecesse em São Bernardo do Campo (SP), numa inesquecível noite de quinta-feira. Para receber o quarteto de Chapel Hill (Carolina do Norte), o palco nada glamouroso e pouco iluminado do extinto Planeta Rock. Sem estrelismo ou afetação, fizeram um show memorável, cheio de energia e emoção, com a plateia colada na banda, quase sem acreditar naquilo que estavam presenciando. Em 2000 voltaram ao país, para mais uma tour, divulgando o recém-lançado Come Pick Me Up. Corte para 2011. Onze anos depois, o Superchunk pisa novamente em território brasileiro, para dois shows gratuitos na Virada Cultural Paulista, em Mogi das Cruzes e Sorocaba, cidades do interior. A minitour veio no momento certo, pois a banda lançou, em 2010, um novo disco, Majesty Shredding, o primeiro álbum completo em nove anos. Novos e velhos fãs compareceram às apresentações, comprovando a força e a longevidade da música feita pela banda. Muita coisa aconteceu nesse intervalo de tempo, no mundo, no país e na história do grupo. O mercado musical, em especial, sofreu profundas transformações. Mas nada que pudesse modificar o essencial: Superchunk continua relevante. Conversamos com o vocalista e guitarrista Mac McCaughan, numa entrevista exclusiva que fala sobre a emoção de tocar no Brasil novamente, a relação entre os membros da banda, o trabalho na gravadora Merge, sua admiração pela música brasileira e até sobre o dia em que foi confundido com um integrante de outra famosa banda de indie rock. Entrevista Marcelo Viegas Fotos Alexandre Vianna
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Antes do primeiro Bis, no show de Mogi das Cruzes, o público estava gritando “Superchunk! Superchunk!”. Quando você entrou no palco, disse algo como “gostaria de estar gravando isso”. Por que?
Bem, o Guided By Voices tem algo parecido com isso num disco antigo – nem sei dizer se era verdade ou não – no qual o público ficava gritando “G-B-V!”. E em Mogi foi mais ou menos assim. Teria sido muito legal se estivéssemos gravando... As plateias não fazem isso tão frequentemente nos EUA. Qual a sensação de tocar no Brasil novamente, depois de 11 anos?
Foi demais! E foi realmente louco ver que existem tantos fãs que ainda se importam com o que fazemos, e que viajaram de outros lugares para assistir os shows. Também foi surpreendente ver que haviam muitos fãs jovens, e não apenas velhos como nós! É uma longa viagem, dos EUA para o Brasil, para fazer apenas dois shows, e eu gostaria de ter tocado também em alguns clubes, mas quem sabe numa próxima vez... O que notou de diferente no país?
Foi interessante tocar nesse festival (Virada Cultural Paulista) em pequenas cidades, comparadas com os lugares que tocamos nas outras vezes, como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, etc. É uma sensação diferente. Outra coisa diferente dessa vez foi o fato de que todos os shows aconteceram exatamente no horário marcado! 46
época da gravação do disco ele ainda estava em Nova Iorque, e ficava indo e voltando. Assim, tínhamos que ensaiar as músicas bem rapidamente, e então gravávamos as linhas principais de 3 ou 4 músicas em poucos dias, para que ele pudesse voltar pra Nova Iorque. Eu fazia overdubs e acrescentava outros detalhes no estúdio da minha casa, e mandava as faixas abertas para o Scott Solter mixar. Foi uma maneira divertida de trabalhar, bem tranquila. Vocês já tocaram um cover do Misfits (“Where Eagles Dare”), e já se caracterizaram como a banda para um show especial de Halloween. Curioso pensar no Misfits como uma influência para o Superchunk...
É engraçado isso, porque não existem muitas bandas que são uma unanimidade para nós, e o Misfits é uma dessas poucas exceções. As músicas são demais, a maquiagem é divertida, a coisa toda é absolutamente única... se por um lado as letras são horríveis, por outro as músicas são demais! Além disso, é Punk Rock! É Punk Rock empolgante, e era exatamente isso que gostaríamos de ser quando começamos. Sua gravadora, a Merge Records, continua operando a pleno vapor apesar da crise da indústria fonográfica. Qual o segredo para sobreviver nesse novo cenário? Nosso fotógrafo registrou vocês no camarim, conversando, relaxando, se divertindo... Bem, vocês têm feito isso desde 1989: qual a sensação hoje em dia?
Chega uma hora em que você percebe: “acho que é isso que faço: eu sou um músico”. Então, enquanto for divertido, nós continuaremos fazendo, apesar de hoje tocarmos bem menos do que antigamente (uma das razões pelas quais não fizemos uma tour maior no Brasil dessa vez, é que todos nós ficamos muito tempo longe de casa recentemente). Assim, desde que coloquemos limites nisso para manter nossa sanidade, nós podemos nos divertir. Se o fotógrafo tivesse nos flagrado naquele mesmo camarim depois de uma tour de três meses, eu não sei se estaríamos nos divertindo tanto assim... Ano passado vocês lançaram um novo álbum, Majesty Shredding. O primeiro vídeo-clipe foi da música “Digging for Something” (“procurando por algo”). O que vocês estão procurando?
Essa música é sobre uma certa época da vida – os vinte e poucos anos – na qual todo mundo parece estar se divertindo, indo à festas, fazendo qualquer coisa que tivesse vontade de fazer, mas sem pensar muito sobre isso. Mas, ao mesmo tempo, quando você olha pra trás e reflete sobre aquele período, percebe que as pessoas estavam sim buscando algo com significado, seja em termos profissionais ou pessoais, mas tudo isso estava sempre abaixo da superfície. É uma época muito interessante. Como foi gravar esse disco? Pelo que sei, o Jon Wurster (baterista) não mora no mesmo estado que o resto da banda...
Agora o Jon está morando novamente na Carolina do Norte, mas na
Infelizmente não temos nenhum segredo para compartilhar. Nós apenas fazemos o que sabemos fazer! Eu acredito que o fato de sermos uma pequena gravadora é o que nos permite sobreviver. Qual exatamente seu cargo na Merge? É executivo ou artístico? E a Laura (baixista do Superchunk), qual a função dela no selo?
A Laura e eu somos “executivos”. Nós somos os proprietários da gravadora. Apesar disso, é estranho pensar em nós como executivos. A Laura trabalha mais na parte financeira e jurídica da gravadora, e eu fico mais na parte de Relações Artísticas, mas isso nem sempre é assim tão rígido, e nós dois fazemos muitas outras coisas na Merge. O Arcade Fire faz parte do cast da Merge. O que mudou depois do sucesso da banda?
Para falar a verdade, quase nada mudou por aqui! Todos continuam trabalhando pesado no disco do Arcade Fire, bem como nos novos discos do The Rosebuds, Times New Viking, David Kilgour, Jonny, Let’s Wrestle, Amor De Dias e todos os outros lançamentos do selo! Nós lançamos muita música boa esse ano, e nosso trabalho é fazer com que as pessoas saibam disso. Em 2000, você lançou o disco “De Mel, De Melão”, com seu projeto solo Portastatic, que trazia covers de artistas brasileiros. Você continua gostando de música brasileira? Qual a mais recente descoberta?
Claro, eu ainda amo música brasileira! Nessa viagem ao Brasil, eu comprei um disco do Jorge Ben que ainda não conhecia (Negro é Lindo), e é incrível! Quando eu estava na loja de discos, o vendedor me perguntou se eu era do Teenage Fanclub! 47
“Foi realmente louco ver que existem tantos fãs que ainda se importam com o que fazemos, e que viajaram de outros lugares para assistir os shows. Também foi surpreendente ver que haviam muitos fãs jovens, e não apenas velhos como nós!” (Mac McCaughan)
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Stylist Aldine Paiva Produção de moda Damiana Guimarães Agradecimentos Família Amores
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A cena é famosa nos filmes que mostram os guetos norteamericanos: quatro jovens chicanos, tatuados e vestidos de Dickies, braços para fora do Impala modificado, indo pra cima e pra baixo no movimento inconfundível do kit hidráulico. Mas acredite: essa cena também é possível de ser presenciada no Brasil. Para conhecer melhor esse universo, preparamos um ensaio fotográfico retratando uma das crews mais famosas do país e uma matéria desvendando o que é a tal da cultura lowrider. Leia e entenda como a terra de Emiliano Zapata conquistou a garagem, o armário, a pele e o coração de tantos brasileiros. Texto Nairah Akemi Matsuoka E Fotos R. Donask
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História
O México começa sua história no séc. XII, quando os astecas fixam-se no Vale do México e fundam a capital de seu império, Tenochtitlán, que corresponde hoje à Cidade do México. No século XVI, ainda era povoado pelos povos astecas, que acreditavam no regresso de Quetzalcóatl, principal divindade dentro do panteão desta cultura. Por azar, o conquistador e explorador espanhol, Hernán Cortés, chegou no mesmo ano que os astecas aguardavam pelo tal deus. O imperador, Montezuma, vacilou acreditando que o espanhol era a personificação da divindade e permitiu que o explorador invadisse seu território. Quando se deu conta de que o europeu não era nenhum deus, Montezuma obrigou as forças espanholas a saírem do Vale do México. Após oito meses veio a zica: os espanhóis retornaram à capital com nativos inimigos dos astecas e dizimaram toda a população. Em 1521, o México era colonizado pela Espanha, e só três séculos depois foi reconhecido como um país independente. Mas, assim como nas novelas mexicanas, desgraça pouca é bobagem, e o período pós-independência foi marcado por uma devastadora instabilidade econômica. É aí que os americanos passam a colonizar a região, com aval do governo mexicano. A Guerra Mexico-Americana se iniciou em 1846, após os EUA terem anexado o Texas a seu território, no ano anterior. Após dois anos de guerra, Califórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Utah e parte do Colorado são cedidos aos EUA pela bagatela de 15 milhões de dólares. Não é à toa que um dos presidentes mexicanos mais populares, Lázaro Cárdenas, fez sucesso com a máxima “Pobre do México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. E no melhor estilo latino-perseverante, embora os estados mexicanos tenham se tornado americanos, os nativos daquelas regiões mantiveram sua cultura e língua.
“CHiCanos”
Em 1918, a novela mexicana volta com tudo quando o Texas e grande parte dos estados americanos promulgam estatutos que tornam o uso de qualquer língua estrangeira em um ato ilegal. Só nos anos 60 lutas pelos direitos civis são iniciadas, e é aí que surge o termo “chicano” com o intuito de criar uma identidade aos americano-mexicanos. Embora este seja o termo comumente utilizado, nem todo mundo gosta. Há os que prefiram hispânico, latino americano ou marrom.
nasCe o Lowrider
Nos anos 40, os jovens chicanos, em sua maioria pobres, compravam carros em ferros-velhos, geralmente Fords e Chevrolets, e se dedicavam à restauração do veículo por conta própria. O objetivo era personalizar o carro com elementos da cultura mexicana. Os “pachucos” eram jovens de origem mexicana com o desejo de se diferenciarem dos demais chicanos através da postura e estilo. Os carros também se destacavam pelo aparente rebaixamento conquistado através de sacos de areia no porta-malas ou pelo aquecimento dos feixes de molas, para que elas se comprimissem com o peso da carroceria. Em 1958, um chicano de Los Angeles, Ron Aguirre, instalou o primeiro sistema hidráulico em um Chevrolet Corvette 1957. O experimento permitiu que seu carro baixasse e subisse com apenas um botão, foi uma importante inovação na cena lowrider. As peças fizeram com que os chicanos pudessem dirigir o quão baixo desejassem, e depois pudessem retomar a posição legal do veículo caso a polícia aparecesse. Foi daí que surgiu o termo “lowrider” para classificar o estilo e registrar sua ligação com a cultura chicana.
a Cena em são PauLo
Enquanto o Brasil tem a maior comunidade nipônica fora do Japão, a terra do sol nascente possui a segunda maior comunidade lowrider fora dos Estados Unidos. E, curiosamente, a relativa proximidade entre nosso país e a terra do tio Sam não acelerou em nada a chegada da cena aqui. O lowrider precisou de uma escala do outro lado do mundo para que pudesse aterrissar em terras tupiniquins. O responsável pelo feito foi o paulista de Mogi das Cruzes, Sérgio Yoshinaga “Japonês”, em 1997. O nipo-brasileiro passou mais de oito anos no Japão tendo a oportunidade de beber direto da fonte de um dos maiores car clubs do mundo, o “New Mafia”. Assim que retornou ao país de origem, Sérgio comprou um Ford Galaxie 68, customizou toda a funilaria do veículo e instalou as bombas hidráulicas importadas. No ano seguinte, em 98, José Américo “Tatá” traz ao Brasil técnicas de pintura aprendidas em Miami e, com a ajuda de Sérgio, monta um lowrider completo: metal flake (flocos de metal, dão o mesmo efeito, mas se destacam mais que a purpurina), wire wheels (rodas raiadas, como as de bicicleta) e kits hidráulicos. A partir daí, a cultura lowrider passa a se disseminar na cidade de São Paulo. 69
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Crews, Car Clubs e bike Clubs
Uma leve espiada no universo lowrider equivale a um encontro com uma terminologia própria, obviamente com termos em inglês, afinal foi em solo norteamericano que o estilo de vida nasceu e se disseminou. Para entender essa cultura, é importante saber o que são as Crews, os Car Clubs e os Bike Clubs. Comecemos pela Crew: ao contrário do que se pensa, o coletivo de adeptos do lowrider não é gangue, tampouco máfia. O termo crew é designado a grupos adeptos à cultura, formando uma equipe com atividades e ideologias comuns. Geralmente, os integrantes das crews fazem uso de apelido, não mais de seus nomes de batismo. Raça Ruim, Raza Unida, Aliança, Guadalupe, New Mafia, Vida Real, Otra Vida, Clan Munhão e outros grupos compõem o cenário lowrider no Brasil. Dois nomes que se destacam tanto pelo tempo de estrada na cena nacional quanto pela popularidade são as crews Otra Vida e Raça Ruim. O Car Club é o clube entusiasta do automobilismo, no caso do lowrider envolve não só a paixão por carros, mas a dedicação à customização e predileção por carros antigos. O hobby é levado tão a sério quanto o futebol, 72
tendo até uniforme personalizado. A paixão pelas magrelas também tem destaque nesse universo: o Bike Club é o clube voltado aos amantes das bicicletas altamente customizadas, inspiradas nos carros lowriders. Funciona da mesma maneira que os car clubs.
raça ruim & Companhia
“Esse aí é Raça Ruim” dizia o avô dos irmãos Alfredo e Markone, quando avistava os moleques aprontando. Foi daí que surgiu o nome de uma das crews mais famosas de São Paulo. Embora não tenha sido fundada com a pretensão de se tornar uma crew, a metamorfose se deu de maneira natural. O Raça Ruim surge em 2000, não como uma crew ou car club, mas como uma unidade entre amigos que pensavam de maneira similar a respeito do sistema e tinham como denominador comum a paixão pela cultura chicana. “Pra entrar nisso tem que ter amor, união, confiança, disciplina e respeito. O Raça Ruim, acima de tudo, é uma família e tem os prós e contras de uma família: desentendimentos, união, história. E o lowrider é o que nos uniu”, declara Fábio Haben, um dos integrantes da crew. Hoje, o Raça Ruim integra os amigos Alfredo,
Artur Fame, Fábio Haben, Markone e Marco TwoThousand. Embora os caras não lucrem diretamente com a “família chicana”, separadamente atendem quase todas as vertentes deste nicho com dois estúdios de tatuagem, loja chicana (que vende dos clássicos itens chicanos de vestimenta até a toy art contemporânea) e o renomado car club de Fábio Haben. Ainda sobre a questão comercial, ao ser questionado se parcerias com marcas como New Era e Kapsy não prostituem a cultura lowrider, o customizador Fábio Haben é tácito ao dizer que não. “Somos conhecidos nesse meio, então para as empresas é interessante estarem vinculadas a nós. Jamais fazemos parcerias com a intenção de lucrar em cima do deslumbre que o movimento acaba causando”. O adepto da cultura chicana que está prestes a fundar o car club Vida Bandida e “corre ao lado” dos caras do RR, Barata, explica a razão dos pertencentes ao universo lowrider serem tão arredios: “Se o jornalista modifica uma vírgula do que é dito, e é o que normalmente acontece, o cara vai ser cobrado, questionado, a vida vira um inferno dentro do próprio rolê. E não precisamos disso!”.
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Estilo funcional
Embora a maioria interprete a vestimenta dos chicanos como mero estilo, cada item do vestuário dos caras possui justificativa histórica. A calça Dickies e os tênis Cortez, da Nike, eram utilizados por serem baratos; as regatas e meias brancas eram comuns por serem vendidas em pacotes a baixo custo; os chicanos raspavam a cabeça por não poderem gastar dinheiro com cortes de cabelo; os carros antigos eram comumente adquiridos por serem financeiramente mais viáveis – e os veículos eram “enfeitados” pra se diferenciarem dos demais e valorizar a cultura. O bigode alinhado e as roupas engomadas, com vinco, vêm da característica vaidade do mexicano. “Quem utilizava esse estilo eram os frentistas de posto, mecânicos, limpadores de vidros de prédio, presidiários. E com o 78
passar do tempo esse tipo de vestimenta ficou completamente atrelado aos pertencentes à cultura chicana”, afirma TwoThousand. As características tatuagens chicanas são referência direta aos americano-mexicanos que eram presos. O fato de serem feitas, predominantemente, em preto e branco, se deve à falta de tinta pigmentada nas cadeias. É por isso, inclusive, que na Califórnia a técnica de sombreamento nas tatuagens em preto e branco se destaca. “Os chicanos precursores do lowrider tatuavam simbolismos de suas gangues ou bairros, frases in memoriam aos amigos que morreram, dedicatórias aos familiares, imagens sacras representando bênção, proteção e perdão pelos pecados que cometeram, palhaços representando a parte boa e ruim da vida ou a personificação de assassinos ou bandidos”, afirma Artur,
que conheceu o lowrider e descobriu seu talento como tatuador no período em que morou no Japão.
“a infiltrada”
Apaixonada por carros desde pequena, Sthé Davis, que aos 19 anos já possui seu carro e bicicleta lowriders, conta como é ser uma mulher em meio a tantos homens. “No início, os caras acham que quando uma mina aparece no rolê, está lá pelos caras e pelos carros, não pelo interesse e paixão pelo lowrider. A princípio, é um preconceito fundamentado, já que tem muita Maria-gasolina envolvida no movimento. De qualquer maneira, tudo depende da postura. Hoje em dia eles me respeitam porque eu me fiz respeitar, mostrei que estou no meio pelo lowrider, não por um fascínio passageiro”.
PimP my Ride
“O lowrider é um estilo de vida, não apenas um carro. Entretanto, não há lowrider se não houver carro! Os veículos são repletos de detalhes de valor simbólico no que toca à cultura mexicana: Virgem de Guadalupe, manto mexicano, rosas, etc”, afirma Haben que, entre outras façanhas curriculares, já participou do programa apresentado por X-Zybit, Pimp My Ride, e participou da customização de carros do filme “Velozes e Furiosos”. Há um processo padrão na transformação de um carro comum em lowrider. A lataria e o interior são restaurados, a carroceria é preparada e as peças geralmente são cromadas. Passado o preparo da funilaria, sistema elétrico e instaladas, ou não, as bombas hidráulicas junto às baterias, o tema e os desenhos são estipulados: dégradé, metal flake, candy, aerografia, imagens sacras, o rosto dos pais, enfim, há uma extensa gama de possibilidades. Inclusive, é mais comum do que se imagina a adição de folhas de ouro na customização do veículo. Impala, Monte Carlo, El Camino, Cadillac, Lincoln, Oldsmobile, Galaxie, Landau e Buick encabeçam o título de carros favoritos no circuito lowrider. “Quem entrar nesse universo por moda vai se desgastar e perder dinheiro. Exemplo, um pneu faixa branca tem que ser importado, a maior parte das peças é bem difícil de encontrar, enfim, é uma dedicação e investimento eternos”, adverte Barata, que considera o lowrider uma paixão que cobra tempo, dedicação e dinheiro. 79
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O atual panorama da cena lowrider nos Estados Unidos e Japão, o universo musical e cinematográfico da cultura chicana, história e depoimentos da crew Otra Vida, e outros sabores mexicanos, na próxima edição da Outro Estilo.
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“Minha paixão começou em 2005 com um tênis que mantenho guardado - em ótimo estado - até hoje! A sensação de abrir uma caixa de tênis novo é indescritível.”
Nome: Pedro Prado Idade: 25 anos Profissão: Advogado Sneaker: Nike Dunk Espalhando Cultura Sneaker
fotos renato custodio
“Há mais ou menos 5 anos percebi que passei a ter mais modelos com história do que a dar valor à quantidade de pares que comprava. Coleciono também bonés e relógios, todos, assim como os sneakers, com algum envolvimento com as culturas do skate, grafite e hip hop.”
Nome: Paulo Henrique dos Santos Gonçalves Idade: 28 anos Profissão: Atendente do Açaí Beach Bar Sneaker: Nike Air Max 90 Current Huarache HUF
“Uma hora notei que não comprava mais tênis por necessidade, mas sim por querer ter aquele modelo de uma série especial, ou simplesmente aquele que ainda não tinha. Cheiro de tênis novo é muito bom! Vicia! (risos)”
Nome: Cris EFX Idade: 30 anos Profissão: DJ/Lojista Sneaker: Jordan Chris Paul
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“Melhor do que cheiro de tênis novo só perfume de mulher! (risos)”
Nome: Fabiano De Souza Sobrinho Idade: 34 anos Profissão: Encarregado de Promoções e Eventos Sneaker: Reebok pump 7 pecados capitas - preguiça
“Além de tênis coleciono discos (cds e vinil), bonecos e capacetes de motocicleta. A diferença com os sneakers é que, quando você consegue um exemplar muito desejado, sempre rola aquela dúvida: usar ou guardar? Eu sempre uso os meus.”
Nome: Fabiano Posi Ventre Idade: 35 anos Profissão: Arquiteto Sneaker: Air Jordan IV retro Black Mars
“Sempre que compro um tênis novo compro um boné pra combinar. Pra mim as duas coleções andam juntas, e bem que poderiam inventar um talco pra chulé com cheiro de tênis novo (risos).”
Nome: Tiago Munhoz Idade: 28 anos Profissão: Encarregado de Promoções e Eventos Sneaker: adidas Fórum Head Man
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Uma certeza tem poder para derrubar mil dúvidas. Lívia Cruz saiu de Pernambuco para cantar, e os obstáculos que apareceram em seu caminho foram superados pela força de sua convicção. Em paz com ela mesma, sorri com naturalidade das situações em que a vida lhe fez uma cara feia, e admite, cheia de franqueza, que “não tinha noção da caminhada”. Mesmo assim jamais deixou de caminhar, fez escolhas, tornou-se mãe e seguiu firme Texto Douglas Prieto Fotos Atilla Chopa
com o propósito de dar ao rap uma visão feminina diferente da criada pelos homens. Enquanto sua convicção ecoa cheia de harmonia, as incertezas vão caindo uma a uma.
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A DESCOBERTA DA LAPA
CANTANDO NO RECIFE
Lívia Cruz sempre soube o que queria: ser cantora. Aos 14 anos subiu pela primeira vez num palco, em Recife (PE), para recitar um cordel numa campanha de saúde da mulher. Filha de pai músico (baixista, que tocou com Fagner, Ed Motta, Gabriel o Pensador) e de mãe cantora amadora, que sempre lhe presenteava com discos e fitas cassete, Lívia não se recorda dos pais casados. “Fiquei com minha mãe em Recife, e meu pai mudou para o Rio de Janeiro.” As primeiras vozes femininas que marcaram sua lembrança são as de Fernanda Abreu e Daniela Mercury. Além da black music, Lívia não se lembra exatamente como conheceu o rap, mas imagina que as trocas de fitas magnéticas na escola podem ter ajudado. “Talvez alguma com Câmbio Negro, ou Lady Rap, tenha sobrado na minha mão. O fato é que lembro de minha mãe dirigindo assustada enquanto eu ouvia 509E no carro dela.” O interesse pela escrita começou logo depois do processo de alfabetização. Escrever e ler eram as únicas coisas que a motivavam na escola, onde saíram as primeiras rimas, numa poesia escrita para um livro. “Nunca fui uma má aluna, mas não gostava de estudar. Frequentava uma escola construtivista, onde a pouca exigência facilitava demais as coisas pra mim. Até que comecei cabular aulas e fui convidada a me retirar.” Agindo dessa forma, Lívia acabou numa escola de freiras, e daí pra frente só conseguiu finalizar o segundo grau após uma passagem por um supletivo.
“O que persigo é ser uma voz feminina do rap, não cantar as personagens criadas pelos caras, a mãe, a vagabunda ou a mina de fé. Eu ainda não vi a identidade da mulher se sobressaindo no rap, e é isso que faço”
Com 15 anos, curiosa a respeito da vida no Rio de Janeiro, mudou-se e passou a morar com o pai em Santa Tereza, bem próximo da Lapa, reduto cultural carioca. Apesar de conviver no meio artístico, os conselhos paternos sempre foram no sentido de desencorajá-la. “Ele me dizia que cantora pop tinha que fazer sucesso até os 17 anos, senão já era. E que se eu quisesse ser cantora, jamais poderia ser mãe, pois eram coisas inconciliáveis”. Com toda essa pressão, Lívia frequentava apenas os locais onde era levada por seu pai, sendo obrigada até a dispensar um convite pra uma festa de aniversário do Marcelo D2. “Maconheiro ou acaba morto ou na cadeia”, era o conselho que mais ouvia. Apesar das restrições, os passeios pela Lapa acabaram dando a Lívia a oportunidade de conhecer pessoas ligadas ao rap carioca, mais especificamente com o Enio e Auri, do grupo Inumanos. Foi pra eles que Lívia assumiu seu desejo de cantar rap, e o home studio do Auri acabou sendo usado para gravar sua primeira música, “Viúva Rainha”, “um gangsta rap bem feio” segundo ela própria. “Eu percebia que eles queriam uma menina ali. Existiam bandas femininas, como o Negaativa e o Anfetaminas, mas elas eram de outro circuito, e não da maloqueiragem da Lapa. E eu era Brutal Crew!” Lívia não foi atrás de gravadoras ou empresários: queria sua música na mão dos DJs das festas de rap. “Viúva Rainha” acabou indicada ao Hutúz, extinta (e saudosa) premiação do rap brasileiro.
Lívia Cruz posando ao lado do seu marido, o rapper e apresentador Max B.O. 95
ALICE E KL JAY
CAINDO NO MUNDÃO
Ainda que carregue uma característica de acolhimento, a cena do hip hop apresentou-lhe uma faceta inesperada: preconceito. “Via na parede de bares que frequentava no Rio de Janeiro mensagens me mandando de volta pro Nordeste. Sempre tirei de letra o machismo, até porque somos criadas convivendo com isso. E o fato de ser branca e cantar rap foi uma escolha, então estava ciente do que poderia passar. Mas sofrer discriminação por ser nordestina sempre foi algo que me tirou do sério.” A autoria das mensagens era feminina, de responsabilidade das garotas que conviviam com a cena do rap. “Não era profissional, pois nenhuma outra menina cantava. Era inveja de mulher mesmo, coisa das namoradas e parentes dos rappers.” Outro lado obscuro da carreira artística também se revelaria em seu caminho, especialmente frequente pelo fato de sua indisfarçável beleza. Entre cantar e ser cantada, por inúmeras vezes e em diferentes épocas, deparou-se com convites bastante duvidosos: “cara que diz que conhece fulano de tal, mas te chama pra jantar antes de marcar uma reunião. Ou outro que te convida pra conhecer um estúdio e, chegando lá, não tem nem um microfone.” Ela garante que um DJ de São Paulo lhe prometeu casa, comida, roupa lavada e um disco. “Não aceitei. Ainda se o disco viesse primeiro, dava um pé na bunda dele e resolvia a situação. Mas sabia que não haveria disco nenhum.” Histórias que levam a uma constatação: ainda existem pessoas que acreditam ser possível trocar sexo por sonho. Armadilha pela qual passou incólume, mas com rancor. “Acho ainda mais canalha do que o cara que oferece uma carona ao final da balada com segundas intenções. Porque essas propostas mexem com o sonho, com o talento, o que torna a cafajestagem ainda maior.” Com mudança da mãe de Recife para Brasília, Lívia passou a frequentar o planalto central, onde matriculou-se na faculdade de Jornalismo. Lá, viveu situações bizarras, como ter seu microfone cortado seguidas vezes, e decidir não se expor mais a esse tipo de tratamento, recusando-se a pisar nos palcos da região. Decidiu focarse em escrever, e algum tempo depois tinha 12 músicas escritas, e um desejo de gravar um disco com bases compostas pelo pai, o que nunca aconteceu. “Acabei gravando apenas 8 faixas, e fiquei com algo que chamei de EP.” Era março de 2006, hora de desistir de Brasília, partir pra divulgação do trabalho e fazer uma promessa pra mãe. “Disse que, se até 2008 eu não estivesse bombando, voltaria a estudar.”
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A partir daí, duas pessoas de fundamental importância surgiriam na rota de Lívia Cruz: KL Jay e Alice. O DJ do Racionais MC´s e lenda viva do rap nacional ouviu o EP e gostou do trabalho, a ponto de convidar Lívia para participar de uma coletânea e gravação de um DVD no SESC Pompéia, em São Paulo. Mais do que isso, ao final das gravações, chamou-a de canto para lhe pagar o cachê, algo que mudou a percepção que tinha de si mesma. “Quando isso aconteceu, me dei conta que cantava por amor, mas que existia essa questão profissional que eu não poderia, e nem queria, ignorar. Era justo ganhar dinheiro pelo que eu fazia.” Quando vivia um momento de afirmação, Lívia engravidou, em novembro de 2006, pra começar a viver mais um teste em sua vida. Sem o apoio do pai da criança, segurou sozinha a barra de uma gravidez acompanhada apenas da mãe. “Na minha cabeça, imaginava que nunca mais iria cantar, e por medo de ouvir isso da boca de outras pessoas, me isolei.” Após o nascimento de Alice, e passadas as agruras iniciais da vida de mãe, mais uma vez KL Jay surge como responsável por sua retomada no trabalho. Outra cantora acabou fazendo também parte de sua história: Flora Matos. Depois da brasiliense ser apadrinhada por KL Jay, o rapper GOG, até então bastante próximo de Flora, decidiu investir na carreira de Lívia, porém com uma característica que impediu o prolongamento da parceria: “ele queria editar minhas letras. Ai não dá.” Apesar do rompimento, o produtor que acompanhava GOG acabou seguindo com Lívia, e a dupla venceu um concurso chamado “Garagem do Faustão” com a música “A Cartomante.” A vitória acabou impulsionando a carreira desse produtor (que Lívia prefere não citar o nome), que recebeu propostas financeiramente irrecusáveis, e o disco foi ficando cada vez mais em segundo plano. “Até que o cara sumiu de vez, e levou minha músicas. Eu não tinha backup de nada.” No mesmo ano, Lívia finalmente ganhou o Hutúz, e não tinha mais um disco para ser lançado. “Minha carreira é assim. Grandes acontecimentos precedidos de grandes vazios”.
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“Não gosto de ver leis sendo criadas para disciplinar tudo. Cada vez que o poder precisa legislar e definir punições, fica provado que o bom senso deixou de existir”
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O AGORA E O FUTURO
Lívia decidiu começar tudo do zero, e esquecer as músicas “perdidas”, mesmo depois de tê-las recuperado, no início de 2010. Disponibilizou todas as faixas para download gratuito (chamou-as de “Promo 09”) na internet e resolveu seguir adiante. Já numa relação estável com o rapper Max B.O, decidiu fixar moradia em São Paulo. Fez isso por causa também de uma conclusão estarrecedora: “Fora do eixo Rio- São Paulo, o rap sobrevive nas outras cidades por causa de financiamento do governo. Não existe um circuito cultural que proporcione ao artista se sustentar graças a seu trabalho.” Em São Paulo, Lívia lançou, no dia dos namorados de 2011, o videoclipe de “Vem pra perto de mim”, faixa produzida por Damien Seth, que conta com a participação mais do que especial do marido Max B.O e acredita que “atingi 100% do meu potencial nessa faixa, me redescobri como cantora. Agora preciso evoluir a partir desse ponto.” Admiradora confessa das divas, como se refere a Lady Gaga e Rihanna, entre outras, considera Jennifer Lopez o exemplo a ser seguido, sendo uma artista que tem atravessado diversas tendências sem perder o rumo. “Eu tenho medo de, com a idade, me afastar dos jovens e não conseguir mais me comunicar com eles.” E finaliza, com o sorriso cativante que lhe acompanha desde Recife: “Escreve aí: eu quero chegar aos 40 como a J.Lo.” Os próximos passos de Lívia ainda podem ser incertos, mas toda sua caminhada lhe permitiu entender o que ela própria deseja de sua música: “o que realmente persigo é ser uma voz feminina do rap, não cantar as personagens criadas pelos caras, a mãe, a vagabunda ou a mina de fé. Eu ainda não vi a identidade da mulher se sobressaindo no rap, e é isso que faço.”
“Lembro de minha mãe dirigindo assustada enquanto eu ouvia 509E no carro dela”
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“O fato de ser branca e cantar rap foi uma escolha, então estava ciente do que poderia passar. Mas sofrer discriminação por ser nordestina sempre foi algo que me tirou do sério”
Styling Aldine Paiva Produção de Moda Damiana Guimarães
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Hostess da noite paulistana fotos alexandre vianna e homero nogueira
Elton BErgamo (Vegas) Casaco canguru: Marcelu Ferraz Jaqueta: Mauricio Franzo Cal莽a: H&M Bota: acervo Rel贸gio: Nixon 104
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TaTy alves (Studio SP) Jaqueta: Cavalera Top: Colcci Sapato: Ă“pera Rock Legging: American Apparel 106
ViVian RiVaben (D-edge) Vestido: Danillo Uitch Casaco: acervo pessoal Bota: Juliana Jabour Acessórios: À La Garçonne
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Ale Brito (Glória) Sapato: Dior Home Calça: ale Brito Casaco: ale Brito Camiseta: ale Brito Colar: Skull
Produção DaviD ToleDo e luiza SalaTi StyliSt alDine Paiva
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Melissa Depeyre (Lions) Camiseta: Gustavo Silvestre Sutiรฃ: acervo Calรงa: American Apparel Sapato: cรณpia de McQueen
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Carla Elektra e Jéssica Gabrielovna são pole dancers. Mas, contrariando preconceitos, não são strippers. Com performances burlescas e sedutoras, animam festas na noite paulistana, e mostram um lado diferente da tal “dança do poste”
Texto Nairah Akemi Matsuoka Fotos Alexandre Vianna
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Para muitos é regra: pole dance é sinônimo de striptease. Um engano que cada vez mais vai se desfazendo. O pole dance existe sim sem a necessidade de tirar a roupa. As dançarinas Carla “Elektra” e Jéssica “Gabrielovna” são a prova viva dessa vertente vestida da tal “dança do poste”. Ou dança da barra, dança do cano, ou ainda barra americana. “Elektra” e “Gabrielovna” fazem sucesso com suas apresentações em casas noturnas através da produção burlesca e, claro, da junção mais que harmoniosa entre dois belos pares de pernas e uma barra vertical. Apesar do altíssimo teor de sensualidade, a dança está longe de ser um “ritual de acasalamento”. Há que se aproveitar cada segundo da performance, já que a dança não tem a função de instigar, mas de ser admirada e absorvida em cada movimento das garotas. A russa estudante de design de moda, Jéssica “Gabrielovna”, garante que o sucesso da dupla está no improviso e na diversão que o pole dance proporciona a ambas, “adoramos dançar uma com a outra, não temos coreografia, ou algo parecido. Fazemos o que dá vontade e o que nos diverte, por isso acaba ficando sexy e não vulgar”. Ou seja, a plateia que assiste ao espetáculo na expectativa de algo mais, sairá frustrada já que os números da dupla não são sexuais. “No começo estamos mais concentradas, depois vamos nos envolvendo. Até rola uma sensualização a mais, uma paquera. Porém, tudo não passa de fetichismo. Acabou a apresentação, acaba a fantasia”, afirma Carla “Elektra”, que além de dançarina é modelo, hostess, DJ e bióloga. Nesse ensaio exclusivo para a revista Outro Estilo a dupla de pole dancers mostra alguns dos movimentos que executam nos palcos: mesclando força, charme e graça, as meninas assumem o pole dance como estilo de vida. Não são strippers, são pole dancers. E isso basta.
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Próxima edição Outubro/2011
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Entrevista Marcelo Viegas foto homero nogueira
Há uma lacuna nas livrarias. São raros os títulos que tratam da história do cenário underground brasileiro e seus personagens. O livro “Niterói Rock Underground (1990-2010)”, do jornalista, quadrinista e ativista cultural Pedro de Luna, vem para ocupar um pouco desses espaços vazios. Com foco na cena independente da cidade fluminense, onde Pedro vem militando há muitos anos, mas abrangendo também bandas, fanzines, publicações alternativas e outras manifestações underground Brasil afora, o livro tem 224 páginas preenchidas com muitas histórias de batalhas (afinal nunca foi fácil sobreviver na cena indie nacional), lembranças, conquistas e música com distorção. Viabilizado através do atualmente na moda Crowdfunding, Pedro bancou o livro graças às vendas antecipadas para os amigos. Aos 36 anos, de Luna matou dois coelhos com uma cajadada só: ao mesmo tempo que realiza o sonho de editar um livro, colabora mais uma vez para o desenvolvimento da cultura alternativa na cidade de Niterói. Confira entrevista com o autor. 128
Ainda que o livro tenha o enfoque na cena de Niterói, ele acaba também realizando um panorama macro do cenário independente nacional, certo? Sim, o livro tem o olhar de alguém que morava em Niterói, mas que viajava Brasil afora para festivais e se correspondia com pessoas de outros estados e países, conhecendo outras realidades. Além disso, eu morei por três anos em São Paulo, então, no período de 98 a 2001, meu olhar sobre Niterói mudou. Vivia numa grande capital onde o rock pulsa forte, com um mercado consolidado, e queria aplicar todo o conhecimento na cena de Niterói. Qual o principal mérito daquela geração que movimentou o underground brasileiro nos anos 90? O maior mérito foi a persistência. Todo mundo - bandas, fanzineiros, produtores, skatistas, etc fazia e acontecia na raça mesmo, sem patrocínios, leis de incentivo, editais ou recursos públicos de qualquer espécie. E, principalmente, sem a Internet. Claro que o pessoal dos anos 90 viveu um período importante com a entrada da MTV no Brasil e uma forte mídia especializada, com revistas, jornais, rádios e programas em emissoras comunitárias, universitárias, etc. Acho que nós, old school dos anos 90, nos miramos muito em exemplos do estrangeiro para fazer a cena independente com um viés mais profissional do que na década anterior. Um exemplo são os selos. Vários selos independentes continuam em atividade até hoje, são empresas de fato. Assim como os festivais, inspirados, por exemplo no Lollapalooza. O fanzine impresso ainda tem espaço na era digital? Devemos olhar os zines sob vários aspectos. Um deles, o formato. O outro, a concepção, a ideologia. Talvez na era digital, por questão de custos, sustentabilidade, ecologia, ele tenha menos espaço no
formato impresso. Como a informação está disponível facilmente, hoje o zine só tem relevância se ele trouxer conteúdo exclusivo, seja quadrinhos, poesias, opiniões etc. Lembro-me que, em 2005, fizemos um zine impresso do Arariboia Rock e a molecada atual pegava, lia e devolvia. E ainda por cima chamava de “zaine”. Já na nossa época, guardávamos, colecionávamos, emprestávamos mas pedíamos de volta depois. Enxergo os zines como um veículo colaborativo, ainda que centralizado por um editor, e cuja finalidade era dar luz à quem está no ostracismo, fora dos holofotes midiáticos. Ainda temos o underground e o mainstream, e os blogs e sites deram uma certa vazão como mídia especializada, mas nem sempre feito a várias mãos. Quando editei o zine Shape A, por exemplo, começamos com quatro ou cinco colaboradores e terminamos com mais de 20, gente de todo o país. Acho que esse espírito zineiro é que não se perdeu nos dias de hoje. Ainda bem. Mas o assunto é complexo, renderia uma matéria inteira a respeito. Fale um pouco sobre a cultura de troca de cartas que movimentava a cena nos anos 90. Não tínhamos spams, mas tínhamos flyers... A diferença entre spam e flyer é que, naquele caso, o flyer era visto como algo necessário para que você ampliasse sua rede de contatos. Não era uma propaganda de aumentar o pênis. Eram pequenos pedaços de papel divulgando bandas, zines, programas de rádio, tatuadores, enfim, coisas que tinham a ver com aquele contexto. E nós tínhamos todo o prazer em repassar os flyers adiante. Seríamos spammers? Me lembro de separar os flyers e mandar os mais bacanas para os melhores amigos de carta. Alguns eu nem repassava, guardava de recordação. Até hoje, quando faço assessoria de imprensa, mando e-mail
e carta também. O e-mail some na caixa de entrada do jornalista, mas a carta pode permanecer um pouco mais de tempo na mesa dele, sob suas vistas. E aí uso envelopes amarelos, faço desenhos, busco formas de chamar a atenção do repórter para aquela correspondência, para que ele abra primeiro. Assim como as bandas quando se preocupavam em fazer boas capas ou embalagens diferenciadas, com o objetivo de serem ouvidas antes. Você provou, na prática, a eficácia do crowdfunding. Essa tendência vai pegar mesmo? O crowdfunding funciona, mas tem variantes. Por exemplo, se fosse um escritor completamente desconhecido ou alguém com poucos amigos, será que venderia muitas cotas antecipadamente? Se o produto não fosse bom, alguém investiria nele? Se as cotas fossem muito altas, a tentativa teria êxito? Hoje, ao invés da pessoa comprar apenas o produto antecipado, os artistas e produtores estão oferecendo um bônus, de acordo com o valor da cota, que pode ser um brinde ou uma festa fechada de lançamento. Mas a verdade é que vender cota não é nem nunca foi novidade. Quem nunca vendeu uma rifa na escola pra viabilizar uma festa ou excursão? Quantos filmes foram realizados com participação de cotistas? Eu consegui vender 120 exemplares antecipados do livro, mas com depósito direto na minha conta. Então as pessoas tinham que confiar em mim, que eu não iria fugir pras ilhas Cayman com o dinheiro. (risos) A produção literária sobre a cena independente no Brasil está apenas começando. Como você vê esse momento? Uma das coisas que me incentivou a fazer esse livro em 2007 foi justamente a pequena bibliografia disponível. Tirando o livro da cena rock de Brasília (“A Turma da Colina”), da cena gaúcha (“Irre-
dutíveis Gauleses”), do hardcore de Brasília (“Esfolando Ouvidos”) e do festival Goiânia Noise (“Em terra de Cowboy quem toca guitarra é doido”), só conheço livros sobre viagens de bandas, como os que o Leonardo Panço, o Mozine e o Quique Brown escreveram. Aqui no Rio, o professor Micael Herschmann (UFRJ) escreveu um bom livro sobre o bairro da Lapa, mas ainda faltava um livro que contasse os bastidores da cena independente. Essa foi a minha proposta. E tenho certeza que o meu livro não esgota o assunto. Outros títulos do gênero serão muito bem vindos! O livro é apenas a ponta do iceberg? Confesso que já estou pensando tanto no desdobramento do livro em documentário, utilizando as imagens em vídeo que tenho no meu acervo, como também no meu próximo livro, que talvez seja de histórias em quadrinhos. Vivemos num país onde as pessoas assistem muito mais a TV do que lêem livros. Então, transportar esse livro para um formato audiovisual, ampliaria bastante seu alcance. Além disso, o documentário pode ter legendas em espanhol, inglês e francês, com potencial para atingir também os roqueiros mundo afora. O formato digital permitiria também que ele fosse adaptado para o telefone celular ou, quem sabe, se desdobrasse numa série? Para isso estou começando a procurar novos parceiros, pois o custo de produção de um filme é muito maior do que de um impresso. Gostaria de lembrar também que o livro continua sendo escrito pelo www.niteroirockunderground.blogspot.com, um blog onde vou contando o que está acontecendo na cena local, a repercussão do livro e um palco para debates também. Espero lançar o livro em São Paulo até agosto e rodar o país fazendo lançamentos nos festivais independentes filiados à Abrafin. Para comPrar o livro pedro@arariboiarock.com.br 129
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Editoria desta edição Alexandre Vianna, Guilherme Theodoro, Marcelo Viegas, Vinícius Albuquerque e Ricardo Nunes (SneakersBR)
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Colaboraram nesta edição foto: Luiz Costa, Fábio Bitão e R. Donask texto: Allan Hipólito, Nairah Matsuoka, Endrigo Chiri Braz e Ricardo Nunes produção: Luiza Salati Manfrinato e David Toledo maquiagem: Tide Martins e Cibelie Trindade stylist: Aldine Paiva
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