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à presidência do Brasil

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Conclusiones

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Fragmentos de uma violência política de gênero a partir do Estado: uma necrobiopolítica “de gênero”

Fernanda Pattaro Amaral

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instaura uma CPI das Fake News para investigar justamente esse episódio da História Brasileira. A utilização das fake news que divulgam notícias falsas com o intuito de degradar uma pessoa, de desvirtuar o conteúdo de qualquer conteúdo que vá contra o pensamento de uma parcela ínfima da população que deseja obter ou manter-se no poder, pode prejudicar alguém até o ponto da condenação coletiva a essa pessoa, e inclusive ocasionar a morte dessa pessoa. As fake news sobre o questionamento da Terra ser plana é outro exemplo de uma parcela pequena da população que vai contra toda uma população científica que tem a legitimidade para falar sobre Ciência. E conforme essas fake news se alastram pelas redes sociais sem nenhuma verificação de verdade, mais e mais pessoas se permitem o uso da ignorância e abrem mão das estratégias científicas (a pesquisa pela verdade por trás de uma nota veiculada em whatsapp, por exemplo, é uma delas) para reproduzir um discurso de falácias e assim mais e mais pessoas acreditam nesses discursos falsos, ou seja, como afirmava Foucault, um discurso de mentira repetido várias vezes torna-se verdade.

O MOVIMENTO #ELENÃO #ELENUNCA NO BRASIL E NO EXTERIOR CONTRA A CANDIDATURA DE JAIR MESSIAS BOLSONARO À PRESIDÊNCIA DO BRASIL

O momento particular pelo qual Brasil viveu, é bastante complexo e não será fruto deste estudo – de momento, todavia é necessário deixar claro que uma dessas particularidades é o feito de que o atual presidente eleito não compareceu aos diversos debates que deveriam ter acontecido com a sua presença, o que já é indicativo de um regime bastante delicado. Após algumas declarações misóginas do então candidato à presidência, Jair Bolsonaro, observou-se um movimento forte de mulheres que afirmavam que não aceitariam retrocesso em seus direitos duramente adquiridos. Para

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Fernanda Pattaro Amaral

isso, grupos ativistas de mulheres e movimentos feministas começaram a usar (a hashtag) #EleNão para deixar explícita essa manifestação e indignação. Após esse primeiro movimento, personalidades artísticas começaram a compartir suas opiniões utilizando a hashtag e fortalecendo o movimento, a ponto de determinadas artistas serem ofendidas em suas redes sociais por se pronunciarem publicamente sobre política em um tema que lhes afetava diretamente a elas em suas liberdades. O movimento cresceu a ponto de produzir manifestações públicas por diversos países, como Inglaterra, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, entre outros. Artistas de outros países aderiram ao movimento publicando fotos com a hashtag, ou como George Waters que em seus shows no Brasil veiculou em seu telão de show a hashtag onde foi vaiado por boa parte das pessoas que foram assisti-lo deixando claro a ruptura existente com a liberdade de expressão no governo vindouro. Selecionamos algumas imagens para ilustrar esse momento (Imagens 3, 4 y 5). A Imagem 3 ressalta a coletividade de mulheres e homens unidos contra os discursos patriarcais de Bolsonaro e sua família representados por um pé gigante sendo impedido de pisar nas sociedades marginalizadas (Imagem 3).

Imagem 3. ELEnão

Fonte: Aronovich, 2018.

Fragmentos de uma violência política de gênero a partir do Estado: uma necrobiopolítica “de gênero”

Fernanda Pattaro Amaral

Imagem 4. Manifestações 29 de setembro de 2018

Fonte: La Tribu, 2018

Imagem 5. Mais manifestações 29 de setembro de 2018

Fonte: Fala Universidade, 2018.

Desta forma, o movimento conseguiu unir mulheres de diferentes posicionamentos, mulheres que não se consideram feministas, artistas brasileiras e internacionais, numa tentativa de interromper a escalada de Jair Bolsonaro ao poder, e desta forma tentar barrar um retrocesso em direitos humanos no Brasil, por causa das bandeiras políticas que Bolsonaro abraçava que eram

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Fernanda Pattaro Amaral

bastante extremas, como quando ele disse que teve três filhos e na quarta deu uma “fraquejada” e veio uma mulher; ou quando ele disse que preferia ter um filho ladrão que um filho gay, entre outros. Jacques Rancière (2012) quando analisa o ódio contra a Democracia, informa que viver em Democracia é viver sob o regime de determinadas leis consensuadas pela sociedade; diferente de viver sob Estados sem lei ou leis religiosas. Assim, ele prossegue “Como explicar que no seio dessas ‘democracias’ exista uma intelligentsia dominante” (Rancière, 2012, p.103) que não tem nenhuma intenção de submeter-se a outras leis e com isso critica a própria democracia como origem do mal na sociedade.

Díaz (2010, p.15), informa “o Estado de Direito é o império da lei: exige, portanto, a submissão, a subordinação de todos os poderes do Estado; e de todos os poderes não estatais, sociais, econômicos e demais, e de tosos os cidadãos”. Entretanto, esse poder representa aos cidadãos e cidadãs que, portanto, são os que deveriam então ter a legitimidade do poder no país. Essa legitimidade é expressada através do voto em seus representantes diretos na casa do poder, o Congresso Nacional. Bolsonaro e seu partido pensam que a democracia em que vivíamos era a origem do “mal” no Brasil, porque as classes mais populares podiam aceder a um padrão de vida um pouco mais decente, existia uma pauta progressista de direitos das mulheres e direitos da população LGBTQI que foram objeto da pauta conservadora de Bolsonaro e seu partido, o PSL (Partido Social Liberal). Alguns intelectuais de esquerda, como o ex-deputado Jean Willis e a filósofa Marcia Tiburi, tiveram que exilar-se para proteger-se da onda conservadora que se alastrou no país, e das ameaças do chamado “exército de fake news” do governo atual. Willis chegou a sofrer ameaças de morte e disse que abandonava o congresso e o país para não acabar como Marielle. A elite brasileira ainda quer manter-se no trono da Casa Grande e que a

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