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Discussão final

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Conclusiones

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Fragmentos de uma violência política de gênero a partir do Estado: uma necrobiopolítica “de gênero”

Fernanda Pattaro Amaral

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população permaneça na Senzala, como bem avaliou Gilberto Freire em seu livro “Casa Grande e Senzala”, publicado originalmente em 1933.

DISCUSSÃO FINAL

Com os exemplos de Marielle Franco, do Movimento #EleNão, e de Manuela D’Ávila podemos perceber a influência de uma necrobiopolítica “de género”4 pelo Estado e suas estratégias de aplicação. Essas mulheres são apenas alguns casos dentre muitos outros. As taxas de feminicídio e de violência contra a mulher são reflexos dessa necrobiopolítica de género ou aplicada ao género, ou uma necrobiopolítica que considera o gênero como uma variável importante para sua eterna discussão sobre quem pode viver e quem pode morrer para o Estado. São três casos diferentes entre si, e com diferentes graus de profundidade em relação à necrobiopolítica. Marielle é um caso bastante interessante porque ela reúne, como já foi dito, as qualidades que o Estado ultraconservador entende como defeitos: ela era lésbica, negra, favelada e sua vida política foi marcada por uma trajetória de luta pelas minorias brasileiras, fazendo ênfase na truculência policial do estado do Rio de Janeiro que buscava, outra vez, “higienizar” as favelas e morros valendo-se da necropolítica para eliminar os indesejados pelo Estado. Marielle era uma indesejada para o Estado, era uma incomodidade que deveria ser eliminada porque foi longe demais, e assim o foi. A morte de Marielle foi criminosa, nunca foi acidental. Foi uma morte encomendada para calar não apenas uma voz, mas milhares de vozes que se viam representadas naquela mulher. O Movimento #EleNão emergiu como

4 Uso o termo “de gênero” entre aspas porque o tema ainda precisa ser melhor estudado e estruturado para poder aprofundar-se em uma necrobiopolítica sendo aplicada em relação ao gênero. Analisando a evolução dos dados relativos à mortalidade de mulheres e de transexuais, por exemplo, podemos construir uma reflexão sobre o tema melhor fundamentada. Este texto foi o estopim de uma ideia para futuras pesquisas mais pormenorizadas.

Fragmentos de uma violência política de gênero a partir do Estado: uma necrobiopolítica “de gênero”

Fernanda Pattaro Amaral

uma resposta ao avançar das práticas conservadoras implantadas após a deposição (criminosa, visto que essa mulher foi absolvida do crime que lhe haviam imputado) de Dilma Rousseff, quando seu vice, Michel Temer, assumiu a presidência e iniciou alguns acenos políticos junto à bancada evangélica no retrocesso dos direitos conquistados pelas mulheres, como enfatizando que com a “recuperação” do mercado, as mulheres além das tarefas do lar podem ter uma larga vida profissional, ademais de enfatiza que as mulheres são as únicas responsáveis pela criação dos filhos (Barreto y Iglesias, 2017). As mulheres tomaram as ruas durante o governo Temer quando este indicou a ausência das mesmas de seu mandato, em uma reação contra o golpe sofrido por Rousseff. O movimento ficou conhecido como “Mulheres contra Temer” (em 2016) e teve presença de organismos feministas importantes como a ONG Sempreviva e a Marcha Mundial de Mulheres. Um ano antes, tivemos o florescimento da chamada “Primavera Feminista” que pavimentou os caminhos do movimento #EleNão.

Essa primavera surgiu em forma de ação contra o conservadorismo do então Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Eduardo Cunha, e seu projeto PL 5069 que dificulta a assistência das mulheres vítimas de estupro aos serviços de saúde e sociais que já existem na lei. Ou seja, era um retrocesso (em 2015). Essa primavera ressurgiu em 2016 quando da notícia de uma menina de 16 anos que foi estuprada por 33 homens no Rio de Janeiro e suscitou novas incomodidades com a forma com que as mulheres ainda são tratadas na sociedade (Fórum, 2016). Esse breve histórico é importante para dimensionar a construção e importância do movimento #EleNão, que não conseguiu impedir que Jair Bolsonaro ganhasse as eleições, mas conseguiu provocar polêmica quando diversas artistas entraram no movimento e sofreram ataques em suas redes sociais apenas porque concordavam com o movimento. Um exemplo importante é Manuela D’Ávila, que por ser a candidata a vice-presidente da esquerda Petista, foi agredida diversas vezes através de suas redes sociais. Até hoje, passada a eleição, Manuela segue sofrendo ataques

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