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O desvio do foco no aconselhamento
Descontos em Medicamentos Sujeitos a Receita Médica: O desvio do foco no aconselhamento
OS DESCONTOS EM MEDICAMENTOS SUJEITOS A RECEITA MÉDICA (MSRM) SÃO PROCEDIMENTOS QUE A APEF CONSIDERA DESVIAREM O FOCO DO CERNE NO QUAL A PRÁTICA E ACONSELHAMENTO FARMACÊUTICOS DEVEM ESTAR CENTRADOS: O UTENTE.
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Autor: Carolina Rojais, Presidente da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF)
AAssociação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF) é a associação que representa nacionalmente os estudantes do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, através dos seus oito membros, distribuídos de Norte a Sul do País.
Ao longo dos seus 21 anos de atividade, a APEF sempre se pautou pela típica irreverência estudantil, reivindicando para que a comunidade que representa tenha a melhor preparação e formação possíveis para a profissão a que se propõe, mas também alertando para problemáticas que têm impacto no futuro da mesma e que vão veementemente contra aquilo que é defendido e transmitido na Academia.
Os descontos em Medicamentos Sujeitos a Receita Médica (MSRM) e os mecanismos concorrenciais praticados nas farmácias portuguesas não são exceção. Estes são procedimentos que a APEF considera desviarem o foco do cerne no qual a prática e aconselhamento farmacêuticos devem estar centrados - no utente. Simultaneamente, criam desigualdades no acesso ao medicamento e transmitem um conceito de mercantilização das farmácias em detrimento da visão destas como um espaço prioritário de prevenção e promoção para a Saúde.
Por isso, a 24 de junho de 2019, a APEF difundiu uma posição pública que viria a ser subscrita por diversas organizações do setor - a Associação de Farmácias de Portugal, a Associação Nacional das Farmácias, a Associação Portuguesa dos Jovens Farmacêuticos, a Ordem dos Farmacêuticos e, ainda, o Sindicato Nacional dos Farmacêuticos - e que espelha a consensualidade dos
“Urge a necessidade de reiterar a farmácia como um espaço de Saúde e não como mera superfície comercial” A unificação de esforços foi um importante passo, mas muitos mais faltam concretizar.
Urge a necessidade de uma discussão fundamentada entre os players do setor farmacêutico, os agentes políticos e a Autoridade Nacional da Concorrência. Urge a necessidade da aprovação da legislação que aplica o teto percentual máximo de desconto permitido na parcela não comparticipada de MSRM. Urge a necessidade de reiterar a farmácia como um espaço de Saúde e não como mera superfície comercial.
Que, todos juntos, estudantes e farmacêuticos, políticos e utentes, consigamos reverter a situação para que, por fim, as desigualdades sejam minimizadas, a equidade no acesso ao medicamento seja garantida, e que se compita não pelo maior desconto, mas sim pelo melhor aconselhamento. •
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profissionais, e dos futuros profissionais, na urgente necessidade de mudança de paradigma, pela dignificação do aconselhamento farmacêutico e das farmácias nacionais.
Quais os desafios para a Farmácia nos próximos cinco anos?
OS PRINCIPAIS DESAFIOS DA FARMÁCIA COMUNITÁRIA PARA OS PRÓXIMOS CINCO ANOS DEVERÃO ASSENTAR ESSENCIALMENTE EM TRÊS PONTOS: RECURSOS HUMANOS, FINANCIAMENTO E INTEGRAÇÃO TECNOLÓGICA.
Autor: Herlander Silva, Farmacêutico Comunitário, Grupo Consultivo da Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF)
Anossa sociedade vive em constante evolução. E a Farmácia Comunitária estará a evoluir ao mesmo ritmo que a restante sociedade? Quais são os grandes desafios que se apresentam no horizonte nos próximos cinco anos? Não querendo ser um vidente, mas também não me colocando ao lado da velha máxima futebolística “prognósticos só no fim do jogo”, julgo que os principais desafios da Farmácia Comunitária para os próximos cinco anos assentarão essencialmente em três pontos: Recursos Humanos, Financiamento e Integração Tecnológica.
“Os colaboradores são o principal ativo de uma empresa”. Qualquer empresa cujos colaboradores tenham a formação necessária e estejam motivados para o desempenho das suas funções é uma empresa com elevada
"O atual sistema de remuneração às farmácias é obsoleto. É necessário procurar alternativas", refere Herlander Silva.
probabilidade de ter sucesso na sua atividade. Aqui começa o primeiro grande desafio para a Farmácia Comunitária. O curso de Ciências Farmacêuticas é muito exigente, mas também muito abrangente. Como consequência, os alunos deste curso estão aptos a desempenhar um elevado número de funções. Como essas funções oferecem, por norma, melhores condições de trabalho, melhores horários, melhores perspetivas de carreira e melhores remunerações, a Farmácia Comunitária fica relegada para segundo plano nas escolhas. O caminho passará pela criação de uma carreira mais atrativa e que ofereça alguma qualidade de vida aos que nela ingressarem.
A Farmácia enquanto instituição só conseguirá oferecer condições de trabalho competitivas se tiver um financiamento suficiente. A Farmácia é uma empresa e, como tal, deve ser lucrativa, sem nunca esquecer que tem como missão principal do seu funcionamento aquela que lhe foi confiada pelo Estado: a dispensa dos Medicamentos Sujeitos a Receita Médica e a
promoção do uso racional do medicamento. Por vezes essas duas realidades não são compatíveis. Um exemplo bastante visível é o êxodo em massa que se verificou de pequenas farmácias de aldeia, às quais não foram dadas as ferramentas necessárias para a sua subsistência, para os grandes centros urbanos, resultando na perda da capilaridade da maior rede de cuidados existente no país.
O atual sistema de remuneração às Farmácias é obsoleto e insuficiente. É necessário procurar alternativas. E, se queremos que a rede de farmácias chegue a populações onde todos os outros serviços não chegam, temos, enquanto sociedade, que lhe dar condições para tal.
Pessoalmente, considero que o campo realmente inovador e com grande potencial para a Farmácia nos próximos cinco
anos será a Integração Tecnológica. A Farmácia é, desde sempre, uma entidade que convive em harmonia com a tecnologia. No entanto, hoje é necessário ir mais além. As novas terapêuticas que se avizinham são mais personalizadas, mais complexas e necessitam de um maior acompanhamento para que sejam usadas de forma correta. Está disponível no mercado um grande número de dispositivos capazes de recolher uma variedade de parâmetros biométricos. A informação clínica dos utentes hoje pode ser acedida de forma bastante simples e segura.
O aconselhamento farmacêutico pode ser feito online, garantindo assim uma maior segurança no uso do medicamento. As ferramentas existem e estão disponíveis. Haja capacidade inventiva e vontade para as adaptar e usar para aquela que é a nossa prioridade enquanto farmacêuticos: garantir o acesso e o uso seguro e racional do medicamento aos nossos utentes. •