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52ª Edição, prova da resistência do Circuito Internacional
por Jorge Machado
Quando em 1902 terá sido avistado o primeiro automóvel a circular em Vila Real, logo o ácido desoxirribonucleico (arre, que é difícil…) das gentes “bilarealenses” se baralhou e acrescentou às helicoides de cada ADN espirais, de velocidade vertiginosa, que cheiravam a óleo e gasolina. Os nossos genomas tinham sido enriquecidos com um novo par de cromossomas em uníssono com o som da batida do coração de um motor.
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O Império da Paixão foi criado!
Dizem os especialistas (como agora se diz de todos, por tudo e por nada…) que esta poderá ser uma das explicações para a resistência do Circuito Internacional de Vila Real por já 51 edições.
Aureliano Barrigas, Luís Taboada e uns outros temerários de arrojo destemido, acabaram de provar que, em 15 de junho de 1931, a Comissão de Festas da Cidade era capaz de erguer o 1º Circuito de Vila Real, passadas as provas de perícia e os concursos de elegância que, entre outros eventos, auguravam então um futuro a chegar.
Enormes nuvens de pó, nas estradas nacionais da periferia, antes da pavimentação de 1935, brindaram o numeroso público pendurado nos muros e quintas “Estou contente, pois fiz a corrida sem me sujar de poeira; fechei as janelas do cabriolet, carreguei no acelerador… e cheguei primeiro. Era tudo quanto desejava, sobretudo… não apanhar muita poeira”, declarava Gaspar Sameiro, o 1º vencedor, no seu Ford A, a “O Volante”.
Foram 9 as vezes, desde que amanheceu na sua história, que o circuito adormeceu…, mas sempre acordou mais forte de determinação…
O Circuito resistiu!...
Várias glórias dos carros e das motas, pilotos e marcas, amarraram o circuito à memória das corridas e sacudiram o que parecia um pacato ir sonhando. Gaspar Sameiro, Manoel de Oliveira, Vasco Sameiro, Stirling Moss, John Miles, Mike D’Udy, Carlos Gaspar, David Piper, Nicha Cabral, Manuel Fernandes, Vic Elford, Ronnie Peterson, Peter Gethin, António Taveira, Angel Nieto, Costa Paulo, Joey Dunlop, Tiago Monteiro, Tom Coronel, José Maria Lopez e Miguel Oliveira, entre muitos outros, Ford, Bugatti, Allard, BMW, Porsche, Jaguar, Ferrari, Lotus, Lola, Aston Martin, McLaren, Chevron, Honda e tantas outras, tantas que me faltam as mãos e as folhas para os enumerar a todos…
O Circuito resistiu!...
Se considerarmos “Endurance” ou Resistência (como agora se deveria dizer… por tudo e por todos…) uma prova com pelo menos 2 ou mais horas de duração (admitirei eu em analogia ao máximo de duração de uma prova de F1…) as duas edições de Resistência facilmente identificadas serão as 6 Horas de Vila Real de 1969 e os 500 Km de Vila Real de 1970 (cerca de 3 horas de duração).
O Circuito resistia!...
Agora nas 6 Horas de Vila Real de 2023, a Resistência voltaria ao asfalto do Circuito numa “Endurance” de 3 horas a juntar a mais 3. Um promotor entusiasmado com o espetáculo a que assistiu no ano passado, e a querer vir a formatar um futuro Campeonato Internacional incluindo, pela primeira vez, uma prova em circuito urbano, deixa a chave na porta para a realização, na edição deste ano, de uma prova extracampeonato, prólogo do que se pretendia adivinhar…
No correr dos dias, depressa a emoção ultrapassa o entusiasmo e, de ora avante, o olhar escrutina a evolução dos carros e equipas inscritos. O tempo arrasta-se na expectativa do sucesso. Mas não, o tempo não é amigo! Apesar do meu olhar, aceso de querer contornar, ou enganar, a matemática, a prova dos nove só poderia levar ao cancelamento desta prova!
Sim, não é seguramente a primeira vez que esta imposição se agiganta. Sim, não será a primeira vez que, despertando do sonho inacabado, também nós nos sabemos agigantar e criar agora o espetáculo que recolherá, uma vez mais, as sementes da vontade e a carta e guião do futuro.
Navegando por vezes contra mares e marés hostis (se calhar não valia a pena ser tão exagerado… bastaria turvos ou traiçoeiros… haverá mares assim?...) levantaremos a cabeça ao vento e, lavando as lágrimas de sal, conquistaremos o direito à diferença. Somos bons navegadores neste mar de pedras, como diria Torga, e, por isso, resistimos.
O Circuito resiste!
Deixando para trás mentalidades de qualquer portugal dos pequeninos, o Circuito Internacional de Vila Real continuará Grande.
Como me ensinaram, “Um Transmontano só recua para tomar balanço!...”.
Venha a “Endurance” que a Resistência já cá está…
O Circuito irá resistir!...