Aura Clara e Outras Cores

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Aura Clara e outras cores



Aura Clara Pablo Pereira

e outras cores

Pequenos poemas em prosa


Copyright © Pablo Pereira Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma e por qualquer meio mecânico ou eletrônico, inclusive através de fotocópias e de gravações, sem a expressa permissão do autor. Todo o conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do autor. Editora Schoba Rua Melvin Jones, 223 - Vila Roma - Salto - São Paulo - Brasil CEP 13321-441 Fone/Fax: +55 (11) 4029.0326 | 4021.9545 E-mail: atendimento@editoraschoba.com.br www.editoraschoba.com.br

CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ P494a Pereira, Pablo Aura clara e outras cores : pequenos poemas em prosa / Pablo Pereira. - 1.ed. - Salto, SP : Schoba, 2012. 68p. : 21 cm ISBN 978-85-8013-191-8 1. Poesia brasileira. I. Título. 12-6811.

CDD: 869.91 CDU: 821.134.3(81)-1

19.09.12 03.10.12

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Sumário Prefácio..........................................................................................9 1. Era apenas um nome...............................................................11 2. Fotografo sonhos......................................................................13 3. A minha alegria......................................................................15 4. Tudo........................................................................................16 5. Almas uníssonas......................................................................17 6. Laranja...................................................................................18 7. Mais, mais, mais!....................................................................19 8. Zen..........................................................................................20 9. Amores de boteco.....................................................................21 10. Mar interior..........................................................................22 11. Cartão postal.........................................................................23 12. Embriago-me de luz..............................................................24 13. Enamorados do eterno ..........................................................25 14. Clarividência........................................................................26 15. Atemporal e colorido.............................................................27 16. Sabor de carambola...............................................................28 17. O beijo nosso de cada dia.......................................................29 18. Entre o silêncio e o sorriso......................................................30 19. Repletos de vida.....................................................................31


20. Aos quatro ventos..................................................................32 21. Barco de papel.......................................................................33 22. Amam...................................................................................34 23. Vozes veladas.........................................................................35 24. Aldeias alheias......................................................................36 25. Um........................................................................................37 26. Passeio para não voltar.........................................................38 27. Quero morar num abraço.....................................................39 28. Abraço de ontem....................................................................40 29. Fábrica de dias cinzentos.......................................................41 30. Imbuídos de amor.................................................................42 31. Pontos....................................................................................43 32. Pitanga sem caroço................................................................44 33. Ao piano................................................................................45 34. Teus segredos..........................................................................46 35. Atrás da porta.......................................................................47 36. Sonhos ensolarados de uma noite enluarada........................... 48 37. Estranhos...............................................................................49 38. Tango sem asas......................................................................50 39. Longe da estrela....................................................................51 40. Vem me beijar!......................................................................52 41. All night long........................................................................53 42. Para tocá-la...........................................................................54 43. Rascunhando........................................................................55 44. Use-me..................................................................................56 45. Samba de avião.....................................................................57


46. Com os dias contados.............................................................58 47. Serenos..................................................................................59 48. Le fleur jaune........................................................................60 49. Salvador da liberdade...........................................................61 50. Quadro com passo quântico...................................................62 Sobre o autor...............................................................................65 Conheça outros títulos do autor...................................................67



R Prefácio “– Queres pois vir a bordo? – A menos que seja necessário atirar-me ao mar.” (Álvares de Azevedo, Noite na taverna) Era apenas um nome, um título na estante. No entanto, a Aura Clara instaurou o óbvio: configurou-se necessário atirar-se ao tal mar, sentir o toque da placidez, estar no aconchego do sentimento claustro, desfrutar da criação. Este livro salobro – obra prima do prazer – é o êxtase de uma bossa nova, o envolver de um compasso suave em que palavras ditam a melodia uníssona de uma leitura, em sua plenitude, gestáltica. Nessa canção leve, o autor rompe os laços da monotonia. Uma situação complexa, feito blues, cintila versos que explodem all night long e terminam em amores de boteco que anseiam sempre por mais, mais, mais! A prosa cutuca o coração, instiga a alma a se fazer colorida. No misto de encontro ou confusão não há tempo que possa efemerizar a clareza de espírito proporcionada. Baudelaire pode ter pontuado que o tempo é a lei, contudo estar aos quatro ventos nas Outras Cores consiste em navegar num barco de papel pelos caminhos do mar interior, sem hora marcada, num passeio

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para não voltar. Num lugar onde a Aura Clara localiza o espaço para se fazer tango sem asas, fotografar sonhos, encontrar-se. Em Sinfonia nº 5 (1999), Pablo Pereira postulou com propriedade a energia deste novo livro: “nada é banal, o poder está nos olhos”. Portanto, caso a tez do leitor assíduo queira voltar o fitar às poesias, será como desmistificar angústias e cortejar a clarividência de ser o tudo. Afinal, Do Caos: a depressão em fragmentos (2011) eternizou o incontestável “o presente furioso está por vir. Vivo entre os dois tempos. Um intervalo que por vezes cega, que por vezes cala. Uma energia começa a me preencher...”. Sendo assim – feito o convite – aquele que se atirar ao oceano estará entregue ao presente furioso, às ondas mudas que dialogam com o completo. Faz-se, todavia, necessário a postura comprometida daquele que lê. De entregar a mente como também o corpo ao labutar da compreensão. Compreensão de um abraço, de um pôr-do-sol, duma pitanga sem caroço, dum outono confuso. Trata-se aqui de poucas palavras, muitas imagens e intensos significados. A imensidão psicológica incitada desfaz os estranhos gestos, desnuda o desassossego. As palavras prendem, rascunham o cenário, sentem o perfume, sonorizam devaneios, sinalizam o próximo passo. O de querer sempre um pouco mais, de desejar mergulhar e deixar que o copo encha até a borda, margeando o pleno. São versos misteriosos que exigem do sentir. Por isso, nem tentes apressar um tílburi, pois nesta viagem há que sentir o roçar da relva nos calcanhares. Serão instantes de Aura Clara. Momentos para estar consigo. Aproveita a interpretação. Deixa que os pés sigam além. Será breve, será tudo. Helena Bedatti Zeh

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1.

Era apenas um nome Era apenas um nome. Uma história sem protagonista. E lembranças entrecortadas por fragmentos desconhecidos. Era. As primeiras palavras andavam desajeitadas. O silêncio procurava pela respiração. As respostas conheciam as perguntas. E as horas pareciam breves momentos. Roteiro improvável para uma curiosa tarde de outono. E tudo se repetia. Mais horas. Mais água. Mais fogo. Eram palavras sem despedidas. Eram incansáveis palavras imagéticas. E os detalhes ressoavam aos sete ventos. Entre pensamentos e ocupações desocupadas, um estranho sorriso brotava ao anoitecer. Foi assim. Palavras para cá, desculpas acolá. E a vontade se enroscando. Não podiam mais alterar o tempo, nem criar outra experiência para se definirem. A água já havia envolvido o fogo. E o fogo deixara a água fascinada. Caminhavam de mãos separadas. Dadas ao medo de se reconhecerem um porto. Um sonho qualquer de estranhamento que surpreendia. A sintonia dos opostos. E tudo se repetia. Era a onda que não cessava na praia. Era o sol que não deixava de nascer. Entre as nuvens, seguiam a intuição. Sem cortinas. Sem pausas demoradas. Sem ambição. Era apenas um nome. Sem explicação. As horas inglórias e o desencontro de vozes. Num simples olhar estava o desejo do reencontro. Eis a única resposta para os dois. Já

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se conheciam. Jรก mergulharam um no outro tantas vezes. E se queimaram deliciosamente outras tantas.

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2.

Fotografo sonhos Energia. Vozes. Rostos e mais rostos. Olhares atentos. E subitamente, cesso a fala. Fotografo a musa (ainda) fictícia. Guardo a imagem na memória. Atemporal. Percorro o mundo. Sobrevivo alhures. Paro. Inspiro. Liberto-me das amarras cotidianas. E me deparo com imagens, cores, sons, aromas e sabores. Uma sensação inusitada me cerca por todos os lados. A fotografia da musa (ainda) fictícia. Quero mais. É preciso mais. E as palavras correm. As tuas palavras me instigam. O teu sorriso me conduz. O teu olhar me fascina. Espera. Respiração ofegante e o desejo incontido. Quero mais. Vivo intensamente cada palavra. E observo calado. Espero. E quero mais. Deitar ao relento e me esquecer do tempo. Deitar ao teu lado e me lembrar de todos os sabores e aromas. Sentir o gosto da tua pele. Sugar a tua essência. E tocar delicadamente as tuas pálpebras. Quero mais. Espero. Lábios molhados e respiração ofegante. Corpos que se entregam e deslizam pela noite enluarada. A imaginação desconhece o tempo. E os sonhos contam simplesmente o que já foi escolhido para ser real. Descrevo o meu sonho. A energia dos corpos envolvia o cenário. Ela, deitada e levemente adormecida; ele, sentado e observando, calado, cada detalhe. A pele ainda quente. E uma sensação inusitada de prazer transparecia em cada poro. As

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imagens da musa deitada de bruços. Os lábios percorrendo as costas enquanto as pontas dos dedos subiam pelas coxas. Queriam mais. Embriagados. E os lábios não paravam. E desciam até os quadris. Desejo incontido. E os olhares se encontravam. Paravam, petrificados. E a língua encontrava os seios. Movimentos circulares. Mãos na cintura. E os lábios desciam. Inspiração. Sons. E a boca se deliciava com o sabor da pele. Molhada. A língua não parava. Gemidos. As mãos continuavam na cintura. Contrações. Espasmos. E uma deliciosa sensação de gozo. Sorrisos. Queriam mais. O perfume envolvia o cenário. Descrevo apenas o que vejo. Descrevo apenas o que é real. Reconto o sonho. Viajo e me encontro. Reencontro a minha alma.

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3.

A minha alegria O sorriso e a intensidade me deslocam, alteram a minha respiração, provocam. Um despertar incrível e fascinante que envolve. O desejo inexplicável de sentir o perfume do beijo sonoro. E fazer esquecer. Um acariciar o vento e sentir os cabelos. Num balanço de sensações tão sinceras e ardentes. Quando mais palavras são desnecessárias. E o tempo procura pela boca. Bebe no silêncio de mãos agitadas. E suaviza ao clarear do dia, para que todos saibam da minha alegria.

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4.

Tudo O meu desatino abriu um clarão. Tudo era bagunça. De criança que se perdeu. De apaixonado que nunca se achou. Mãos em desalinho. Coração aos pulos. Boca seca e a ilusão do não acontecer. Sem mais. Outro dia tranquilo. De melodias solitárias. À espera da falta de se encontrar em segurança. Procurei as fotos. Busquei as palavras. Desejei a voz. Tudo era divino antes das más línguas. Depois do vento. Ao deslizar suave da brisa. O tempo mudou. A escuridão calou. De volta ao ensaio de um amor que sempre foi. Tudo.

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