Contos poemas poesias

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Copyright © Cecília Rodrigues Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma e por qualquer meio mecânico ou eletrônico, inclusive através de fotocópias e de gravações, sem a expressa permissão do autor. Todo o conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do autor. Editor Responsável: Thiago da Cruz Schoba Coordenador Editorial: João Lucas da Cruz Schoba Capa: Editora Schoba Diagramação: Editora Schoba / Bruna Estevam Revisão: Bruna Gomes Cordeiro Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Rodrigues, Cecília Contos, poemas e poesias / Cecília Rodrigues. -Salto, SP : Editora Schoba, 2010. ISBN 978-85-62620-86-7

1. Contos brasileiros 2. Poesia brasileira I. Título.

CDD-869.93 10-07272 -869.91

Índices para catálogo sistemático:

1. Contos : Literatura brasileira 869.93 2. Poesia : Literatura brasileira 869.91

Editora Schoba Ltda Rua Melvin Jones, 223 - Vila Roma - Salto - São Paulo CEP 13322-441 Fone/Fax: (11) 4029.0326 E-mail: atendimento@editoraschoba.com.br www.editoraschoba.com.br


Apresentação

Meu sonho de escrever um livro acabou se tornando uma realidade. Quando se é jovem, é mais fácil, mas para mim, aos setenta e três anos, não foi difícil, pois por gostar muito da natureza, tudo o que faz parte desse universo que vivemos se tornou um tema para que eu escrevesse diversos contos, poemas e poesias. Eu sempre sonhei que se viesse a escrever um livro, seria de contos, poemas e poesias e a capa teria o número sete entre o título do livro. Gosto muito do meu nome, Cecília e do dia em que nasci dia 7 de dezembro de 1936.

Quero deixar aqui meus sinceros agradecimentos aos meus amigos e familiares por terem me incentivado muito a realizar esse sonho. Principalmente ao meu filho Júnior, a minha eterna gratidão pela força que me deu. E também agradeço ao meu querido neto Brythin5


ner, fotógrafo, pela minha foto neste livro.

A todos, de coração, o meu agradecimento. Cecília.

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PARTE 1

Contos

Contos não são mais que histórias de nossas vidas. Tantos acontecimentos que ocorrem e transformamos em contos. No decorrer de nossas vidas, a alegria marcou presença, mas também a tristeza marcou muito. Não só pelas palavras ditas, que magoaram muito, mas porque não falarmos dos elogios gostosos que pela vida toda recebemos? No decorrer de nossas vidas, quantos acontecimentos. Então, foi aí que dei o nome de “Contos”. E quantos de vocês ao lerem, irão se identificar com algum momento de suas vidas.



Eles se foram ⧫ ⧫ ⧫

Eles se foram. A saída deles foi de repente, ninguém estava esperando. Tomou-nos de surpresa e foi muito triste. Inspirou-me a escrever, porque a saudade é muita. Sei que nesse plano, todos apenas estão de passagem. Mas, por mais que nos preparemos, preparados não estamos.

Eu, sendo a filha mais velha, sempre tive uma ligação muito forte com meu pai; ele era meu confidente e eu a confidente dele. Tivemos, no decorrer do tempo, muitos lances que poderiam ser contados. Mas escolhi este, pois me marcou mais. Meu pai, um homem muito simples, perdeu sua mãe quando ainda era um menino, ficando ele, duas irmãs e mais um bebê, pois sua mãe, minha avó, havia falecido de parto. Esse bebê não ficou muito tempo aqui na Terra e logo veio a falecer.

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Cecília Rodrigues

O meu pai, apesar da pouca idade, trabalhava em uma fazenda para sustentar as duas irmãs, porque seu pai, logo que minha avó faleceu, saiu de casa. Ficou meu pai a cuidar de tudo; por isso te digo, ele foi sempre um herói protegido por Deus, que também é o nosso Pai. O dono da fazenda, onde meu pai trabalhava, gostava muito dele e quis levá-lo para estudar junto com seus filhos na cidade grande, mas meu avô não autorizou. Não sei bem ao certo se foi uma tia que levou uma das irmãs para morar com ela, ficando uma só, que também logo veio a se casar, saindo também de casa, ficando só meu pai. Ele era muito jovem, casou-se também. A sorte parecia que não querer ficar ao seu lado, porque logo sua esposa engravidou e, quase perto do neném nascer, ela e o bebê faleceram. E, mais uma vez, meu pai ficou sozinho, mas logo ele foi chamado para servir o exército e, ao dar baixa, casou-se pela segunda vez. Ela que veio a ser minha querida mãe.

Meu pai, apesar de não ter estudado, era muito inteligente, fazia de tudo e o que fazia era bem feito, não faltava trabalho para ele. Ele tinha um pequeno caminhão, o qual enchia de frutas, verduras, de tudo o que poderia vender. E lá ele ia, no volante de seu caminhão. Éramos quatro irmãos, dois homens e duas mu-

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Contos, Poemas e Poesias

lheres. Minha irmã acompanhava meu pai no caminhão. Ela ia atrás, na carroceria, no meio das verduras e frutas para atender a freguesia. Os meus dois irmãos ficavam em casa; se minha mãe precisasse comprar algo, eles ali estavam. Nessa ocasião, eu já estava casada. O caminhão do meu pai, lembro-me muito bem, era conhecido como quitanda ambulante.

Meu pai também foi construtor; muitas e muitas casas foram construídas por ele. Mais no final de sua vida, foi taxista e aposentou-se por problemas cardíacos. Quero voltar bem atrás, em um lance, quando éramos crianças ainda, que marcou muito também. Meu pai fez de tudo, até vender lenha, pois naquela época se usava muito fogão a lenha e carvão. Então, ele levava junto eu e o meu irmão, que era bem mais novo que eu. Na frente, iam sempre os dois; eu ia atrás. E lá íamos nós, sabe onde? Embrenhar-se na mata para cortar cipó que meu pai amarrava os feixes de lenha para vender. Naquela época, ele ainda não tinha o seu caminhão. E me lembro, do meu irmãozinho falando: “...Ei! Péu bom!” – ele ainda não falava direito, o que ele queria dizer era: “Ô chapéu bom!”. Lembro-me muito bem do seu chapéu; era de pano. Minha mãe o fazia; ela costurava para todos nós. 11


Cecília Rodrigues

Aos treze anos, perto de completar quatorze, fui trabalhar em uma fábrica, contra a vontade de meu pai. Ele não queria, mas foi muito bom. Desde o primeiro pagamento, comprava sempre algo para meus irmãos. No Natal, eu era a Mamãe Noel, meu pai não podia. Chegando perto do Natal, eu já comprava boneca para minha irmã, bola e carrinhos para os dois irmãos.

Como eu achava bonitinho meu irmãozinho na ponta dos pés para ver onde eu havia guardado os brinquedos, ou melhor, os presentes! E eu acabava entregando antes do Natal, porque eu, quando criança, nunca pude ter uma boneca; meus pais não tinham condições. Hoje, continuo a fazer isso, mas com meus quatro netos e com outras crianças carentes.

Como minha mãe, tenho quatro filhos, hoje todos adultos. Um casado, que me presenteou com netos. Minha irmã também se casou, teve três filhos, avó de um neto que veio trazer alegria na hora certa, quando ela ficou viúva; seu neto é uma benção, uma alegria só. Meu pai faleceu e, pouco tempo depois, meu irmão mais velho também. Logo em seguida, se foi o meu irmão caçula; todos eles eram solteiros. Estejam onde estiverem, meu pai e meus irmãos, sei que Deus, nosso Pai Eterno, está olhando por eles. Quero agradecer por tudo enquanto estivemos

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Contos, Poemas e Poesias

juntos aqui na Terra e dizer o quanto valeu. Foi muito gratificante e abençoado, o meu carinho será eterno. Deixaram esse plano, para irem morar em outro, a saudade é muita e por isto que digo a todos...

ELES SE FORAM

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Garimpeiro ⧫ ⧫ ⧫

Ele viveu quase toda sua vida à procura da pedra grande, que lhe traria dias melhores. Quando saía para o garimpo, sonhava que, entre todos aqueles cascalhos, estaria a pedra dos seus sonhos, a pedra grande.

Às vezes, leva-se muito tempo, às vezes, pouco, depende da sorte. E quando se encontra a pedra dos seus sonhos, pouco tempo se fica com ela. Logo é passada para frente, pois ficar em suas mãos de nada adiantaria. Sua vida só melhoraria caso outras pessoas adquirissem aquela pedra.

Seu sonho sempre foi a pedra grande. Esse garimpeiro, cuja vida estou contando, com o passar do tempo, já se sentia muito cansado. Mas era preciso fazer o último garimpo. 14

Dessa vez mais tranquilo, lá vai ele. E antes de sair


Contos, Poemas e Poesias

para o garimpo, pede para nosso Papai do Céu que o ajude. Já no garimpo, depara com o cascalho bruto e várias vezes o remove à procura da pedra, e lá está ela. Dessa vez diferente, muito pequena, minúscula mesmo, mas chamou sua atenção. É como se a pedrinha falasse: “Cuide de mim! Sou sua, não me deixe!”.

O garimpeiro pegou-a, esfregou várias vezes em suas mãos e decidiu que não a venderia. Mandaria lapidar, colocaria em sua corrente e, dali em diante, em seu peito ficaria. Depois de algum tempo, quando o garimpeiro sentia saudades de tudo, parava para pensar o que havia acontecido em sua vida. As pedras grandes, com que tanto sonhava, ficavam pouco tempo em suas mãos. Ele voltava os olhos à pedrinha pendurada em seu pescoço, junto a seu peito e com as mãos já um pouco trêmulas, acariciava e, levando aos lábios, beijava-a várias vezes. E dizia que nada os separaria.

Quantas vezes, pelos garimpos da vida, a nossa pedrinha esteve bem perto de nós, mas os nossos olhos, sempre voltados para as pedras grandes, impedem-nos de enxergar? Em nossas vidas, quantas e quantas pessoas gostariam de ser a pedrinha no peito do garimpeiro para receber todos seus carinhos!

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Cec铆lia Rodrigues

Assim somos n贸s, como o...

GARIMPEIRO

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Mistérios da vida ⧫ ⧫ ⧫

Ao ler, você dirá: “Aconteceu comigo!”. Ou está acontecendo no momento com tantos outros. Eu considero mistérios da vida.

Um rapaz muito simpático, muito querido por todos, passava por uma determinada rua, quase todos os dias, e, ao passar, sempre lhe chamava atenção uma casa. Era chapiscada com pedras de concreto em toda frente, pintada de verde-musgo. Também havia uma pequena escada na frente acompanhada de um corrimão. Mesmo sendo uma casa muito simples, chamava-lhe atenção e ele dizia para si mesmo: “Quem será que mora aí? Eu não vejo ninguém!” O tempo passava. Nessa casa que chamava atenção do rapaz, entre tantas pessoas que ali moravam, havia uma senhora. Além dela, seu neto, mesmo não morando na casa, sempre estava ali. Entre outros netos, aquele

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Cecília Rodrigues

era o mais velho, então a atenção era toda para ele. E como tantas avós corujas, ela sempre pensava no melhor para ele. Duas vezes na semana, a avó o levava à academia para fazer natação. Ela tinha contato com a dona da academia; uma moça muito bonita, que só tinha uma filha. A avó chegava, entregava o seu neto, passava-lhe recomendações e voltava para casa. Mais tarde, buscava tanto o seu neto como a menina, a idade dos dois se igualavam. Essa rotina se repetida sempre. A avó costumava aos sábados ir à feira acompanhada de sua irmã. E ao passar em frente a um sobradinho, as duas paravam e comentavam: “Que belezinha de sobrado!” E sua irmã falava: “Ele tem o estilo da sua casa, também chapiscada com pedra de concreto, mas a cor é diferente”. E elas falavam uma para a outra: “Sempre a gente passa por aqui e não se vê ninguém. Quem será que mora aqui?”. Era o mesmo que o rapaz falava quando passava diante da casa dela. O tempo passava. Uma vez, quando a avó acompanhava seu neto à escola, um moço perguntou: “Vai à aula hoje?” Era o professor de natação, esposo da moça bonita e pai da menina. Foi então que a avó passou a conhecê-lo. Eles não tinham muito contato, mas a avó 18


Contos, Poemas e Poesias

conversava muito com a esposa dele.

Em um dia que garoava muito, a avó andava por uma rua e o professor parou para conversar com ela. Os dois estavam embaixo da garoa, sem ter nenhum lugar no qual pudessem se abrigar, mas eles pareciam não se importar muito com aquilo. Depois de muita conversa, o professor ficou sabendo que a avó morava na casa que tanto admirava, e ela também ficou sabendo que no sobradinho que ela e a irmã também admiravam, morava o professor. A história poderia acabar aqui, não é mesmo? Mas não acaba, continuo contando a vida do professor.

Naquele mesmo dia que garoava, os dois conversaram muito e, após se conhecerem bem, ela pergunta a ele: “Me perdoe se não gostar do que vou te perguntar, mas qual é sua religião? Não é por nada não, quero saber se acredita nos mistérios da vida, pois quero te falar algo. Não me pergunte como sei, não tem explicação. Posso te dizer?”. E ele respondeu: “É claro que pode; deve!”.

E a avó diz: “Você, filho, contando de agora até determinado tempo, terá um contratempo muito grande, desagradável, muitos aborrecimentos, mas não se preocupe, Deus te dará muita força e você superará. Depois de tudo, acontecerão muitas coisas boas”. E a avó repe19


Cecília Rodrigues

tiu: “Não me pergunte como sei, é apenas intuição que quase todas as pessoas têm”.

Ele agradeceu e foi embora. Chegando em casa, sua esposa falou: “Você demorou! Já almoçamos.” E ele respondeu: “Não tem importância. Demorei porque fiquei conversando todo esse tempo com a avó de um de meus alunos”. Depois de um ou dois meses da conversa com o professor, estava a avó em casa e o telefone tocou, ela atendeu e qual não foi o susto que levou ao saber por sua prima, que também era aluna da academia, que a esposa do professor havia falecido. A moça bonita estava à espera de um órgão para submeter-se a um transplante e quando foi chamada para fazer a cirurgia, não aguentou, não reagiu.

Desde então, a avó passou a ser uma grande amiga do professor e de sua filha. Um sempre dá força ao outro. Quando a corda estava para arrebentar de um dos lados, o mais forte corre para não deixar nada acontecer. Os quatro têm uma amizade muito bonita, abençoada por Deus: a avó, o neto, o professor e a filha. E eu considero esta história...

MISTÉRIOS DA VIDA

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