Tecnologias computacionais para o auxĂlio em pesquisa qualitativa
SOFTWARE EVOC
Alberto Olavo Advincula Reis Vicente Sarubbi Junior Moacyr Miniussi Bertolino Neto Modesto Leite Rolim Neto (Organizadores)
Tecnologias computacionais para o auxĂlio em pesquisa qualitativa
SOFTWARE EVOC
Copyright © Alberto Olavo Advincula Reis, Vicente Sarubbi Junior, Moacyr Miniussi Bertolino Neto e Modesto Leite Rolim Neto. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma e por qualquer meio mecânico ou eletrônico, inclusive através de fotocópias e de gravações, sem a expressa permissão do autor. Todo o conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do autor. E ditora S choba Rua Melvin Jones, 223 - Vila Roma - Salto - São Paulo - Brasil CEP 13321-441 Fone/Fax: +55 (11) 4029.0326 | 4021.9545 E-mail: atendimento@editoraschoba.com.br www.editoraschoba.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Tecnologias computacionais para o auxílio em pesquisa qualitativa - Software EVOC / Vicente Sarubbi Junior ...[et al]. -- São Paulo : Schoba, 2013. 108 p. : il. ISBN 978-85-8013-262-5 1. Pesquisa qualitativa 2. Software 3. EVOC I. Sarubbi Junior, Vicente II. Bertolino Neto, Moacyr Miniussi III. Reis, Alberto Olavo Advincula IV. Rolim Neto, Modesto Leite CDU 001.8 13-0447 CDD 001.42 Índices para catálogo sistemático: 1. Pesquisa qualitativa - software
Sumário
Prefácio.................................................................. 7 Algumas Considerações Sobre Pesquisa de Natureza Qualitativa........................................... 13 1. Panorama Histórico da Pesquisa Qualitativa...................................... 13 2. A abordagem qualitativa e princípios de sua objetividade........................................ 16 3. A utilização de softwares no desenvolvimento da pesquisa qualitativa....... 24 Referências.................................................... 27 Introdução ao Uso do Software EVOC............... 33 1. Algumas considerações sobre este manual................................................... 33 2. Sobre o software....................................... 34 3. Por que utilizar o EVOC em pesquisas acadêmicas?............................. 35 Referências.................................................... 39
Desvelando o Programa EVOC2000.................... 41 1. Formulação da pergunta para coleta dos dados.................................... 41 2. Construção do Banco de Dados................ 45 3. Formatação do Banco de Dados para o Office Word........................................ 46 4. Importação do Banco de Dados e apresentação da tela de abertura................ 50 5. Descrição Sistemática pela Ordem dos Tratamentos............................................ 53 6. RANGMOTP, SELEVOC e COMPLEX.... 86 Referências.................................................... 94 Lista de Autores................................................... 97
Prefácio
Sentimo-nos muito honradas com o convite para apresentar essa importante contribuição – Tecnologias Computacionais para o Auxílio em Pesquisa Qualitativa: EVOC – para a área da pesquisa, por diferentes motivos. Primeiramente, porque conhecemos o senso de inovação e ousadia acadêmica e prática dos organizadores. Conhecemo-nos por meio de uma parceria de trabalho, na qual foi elaborada um curso de extensão universitária – Aplicação de recursos informatizados para análise textual, voltado para atender demandas projetadas, principalmente, pelos alunos de pós-graduação da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. O curso estava sob responsabilidade da Comissão de Cultura e Extensão Universitária e tinha como proposta apresentar e discutir recursos computacionais como o ALCESTE e CHIC e EVOC, indicando o passo a passo de seus procedimentos e aplicação, além de discutir suas vantagens e possibilidades. Em segundo lugar, as temáticas empreendidas 9
nesse livro exploram e aprofundam conteúdos considerados de grande valia para investigadores experientes e iniciantes que buscam aperfeiçoar sua formação por meio da aprendizagem do uso de ferramentas computacionais – hardware e softwares – em pesquisas. Tais recursos, cada vez mais obrigatórios para planejar, implementar e avaliar investigações, possibilitam a análise dos dados com maior rapidez e precisão, permitindo observar um número maior de dados para responder à(s) pergunta(s) investigativa(s). O aperfeiçoamento da formação se justifica porque a informática não para de evoluir e inovar, ampliando opções de armazenamento e sistematização de informações, qualificando o trabalho investigativo por meio de processamentos e geração de informações cada vez mais relevantes, consistentes e ágeis. Pode-se afirmar que o presente livro é uma contribuição inovadora para subsidiar a formação dos pesquisadores. O livro tem o cuidado com o detalhamento sobre a utilização de programas computacionais, descrevendo o passo a passo da aplicação, permitindo que investigadores iniciantes e demais usuários possam se beneficiar de tais programas em seus estudos, como é no caso deste volume que trata da utilização do software EVOC2000. Ou seja, os autores abordam de forma didática os procedimentos da coleta, da formatação do banco de dados e do manuseio do software cuidando dos detalhes: a entrada dos dados, o
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processamento, o formato de apresentação dos dados pelo programa, a interpretação e, finalmente, a apresentação dos resultados. O uso da ferramenta EVOC é bastante complexo. Os modos de configuração, tanto do equipamento como do programa exigem, por parte do pesquisador, uma grande dedicação, e, por consequência, um tempo disponível para o processo de geração de dados. Esse livro oferece um encurtamento desse tempo, compartilhando experiências e intervenções realizadas nas pesquisas produzidas pelos diferentes autores. A abordagem do livro, por outro lado, subsidia o leitor na tarefa de circunscrever dados quantitativos na dimensão das metodologias quali-quanti, o que leva a novas implicações para os processos de investigação, como análises e interpretações de resultados. Apresentar os resultados dessas implicações nas pesquisas que se utilizam de metodologias quali-quanti faz desse livro uma importante referência, que poderá contribuir para a superação do falso conflito que deflagra o dualismo e as dicotomias epistemológicas evidenciadas a partir da década de 80, nos conceitos de pesquisa quantitativas e qualitativas. Na época, uma grande quantidade de dissertações, teses e artigos se dispuseram a registrar as vantagens e desvantagens de ambos os paradigmas científicos – quali-quanti, o que implicou a diferenciação
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dos métodos, acirrando a separação entre os dois. Assim, para as pesquisas quantitativas, associavam-se procedimentos e análises que envolvem medidas, números, geração de tabelas e banco de dados. Para as qualitativas, agregou-se a dimensão subjetiva, ou seja, variabilidade do comportamento, pensamentos, sentimentos e atitudes. Entre os dois paradigmas, com suas características definidas a priori, os pesquisadores se dividiam, considerando o paradigma escolhido como o mais válido e o mais verdadeiro, supondo que o outro, por oposição, era desqualificado não havendo chance para a outra opção. Hoje, passados mais de trinta anos, o falso conflito parece superado. A produção desse livro indica, de forma significativa, que as metodologias quantitativas e as qualitativas são indissociáveis. Ambas, em movimento, complementam-se, quando direcionadas ao estudo de um mesmo fenômeno, revelando o caráter relacional do processo de produção do conhecimento. Nesse sentido, a abordagem teórico-metodológica envolvendo dados qualitativos e quantitativos exige a formação de um bom pesquisador, que seja capaz de classificar unidades de texto, dominar técnicas de construção de instrumentos, compreender análises estatísticas em seus fundamentos e converter resultados quantitativos em dados qualitativos. O texto Pesquisa Qualitativa em Saúde, escrito
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por Alberto Reis e demais pesquisadores, representa a tomada de posição dos autores quanto à superação desse falso conflito. O texto apresenta a tendência atual de realização de pesquisas, na qual o pesquisador tem autonomia para a definição de abordagens, a que se adéquam melhor a sua questão de pesquisa. Sandra Ferreira Acosta PUC/SP e UNESP
Marialva Rossi Tavares Fundação Carlos Chagas – FCC
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Algumas Considerações Sobre Pesquisa de Natureza Qualitativa
Alberto Olavo Advincula Reis; Robson Negrão Grangeiro; Kelsilene Farias de Lucena; Sônia Izabel Romero de Souza; Jorge André Cartaxo Peixoto; Natália Bastos Ferreira; Sonilde Saraiva Januário; Janaína Batista Pereira; Marina Pessoa de Farias Rodrigues; Raimundo Tavares de Luna Neto; Georgy Xavier de Lima Souza; Nádia Nara Rolim Lima; Josué Barros Júnior; Gislene Farias de Oliveira; João de Deus Quirino Filho; Modesto Leite Rolim Neto; Jucier Gonçalves Junior; Vicente Sarubbi Junior
1. Panorama Histórico da Pesquisa Qualitativa O emprego dos métodos qualitativos surgiu nas áreas da Psicologia e da Sociologia alemãs no fim do século XIX e início do século XX. Nos Estados Unidos, os primeiros estudos qualitativos surgiram em 1900, sendo que os métodos biográficos, os estudos de caso e os métodos descritivos continuaram predominando durante muito tempo. Apenas nos anos 60 ressurgiram as críticas a respeito da realização da pesquisa quantitativa na Sociologia norte-americana. Essa crítica também esteve presente nas discussões
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alemãs na década de 70, levando a um ressurgimento da pesquisa qualitativa nas Ciências Sociais e na Psicologia.[1] No fim dos anos 60 e no começo dos anos 70, a abordagem qualitativa foi introduzida na área da saúde como método de pesquisa.[2] Na década de 70, iniciou-se na Alemanha uma discussão sobre a utilização de entrevistas como instrumento de coleta de dados, sua interpretação e questões metodológicas.[1] Ainda na Alemanha, em meados da década de 80, questionaram-se problemas de validade e generalização dos achados obtidos com métodos qualitativos, fazendo com que esse tipo de metodologia experimentasse um período de rejeição, que resultou em um novo momento, no qual o investigador deveria assegurar, de forma bastante clara, o rigor de seu estudo.[3] A partir dessa discussão sobre a apresentação e a transparência de resultados, surgiu a necessidade da utilização de computadores,[1] dando início a uma mudança tecnológica potencial na análise de dados vinculada à introdução desses na pesquisa qualitativa, o que possibilitou a reafirmação de tal metodologia na década seguinte.[4] Nos anos 90, a pesquisa qualitativa tornou-se amplamente aceita nos serviços de saúde e em muitas áreas da Medicina e da Enfermagem.[5-9] Desde então, e, mais especificamente nos últimos anos, tem-se vivenciado um período de crescimento e diversificação
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inéditos, a partir da criação de uma grande variedade de softwares, que são empregados nas etapas de: 1. anotações no campo; 2. transcrições de notas de campo; 3. codificação; 4. armazenagem de dados; 5. busca e recuperação de segmentos relevantes do texto; 6. conexão entre dados; 7. elaboração de comentários; 8. análise do conteúdo; 9. exibição de dados; 10. mapeamento gráfico, dentre outras.
Esses softwares auxiliam na confirmação da credibilidade da pesquisa qualitativa,[4-10] garantindo sua aceitação em grande parte dos países da América Latina,[11] bem como na saúde coletiva brasileira.[12] Nos últimos anos, a abordagem qualitativa tem conquistado um papel mais relevante em publicações acadêmicas pertencentes a variadas áreas de conhecimento.[13] Para ilustrar, em 2009, na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),[14] foram publicados 2.354 artigos relacionados à temática em questão. No ano seguinte, esse número atingiu a marca de 2.780, demonstrando considerável crescimento, e, em 2011, foram publicados 2.848 estudos, reiterando esse progresso.
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2. A abordagem qualitativa e princípios de sua objetividade
Não é, pois, de se espantar que a questão da objetividade surja quase sempre em primeiro plano quando se opta por uma abordagem investigativa de natureza qualitativa.[16, 17] O nível de realidade ao qual a “investigação qualitativa” se atém é constituído por um campo muito amplo, composto por questões que se referem aos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que os homens se veem atribuídos ou que eles atribuem às coisas, aos outros homens, às relações entre homens e homens e homens e coisas, o que, em última instância, perpassa e expõe o universo da subjetividade. O que determina a escolha pela estratégia qualitativa ou quantitativa é tanto o tipo de tratamento aos quais os dados são submetidos como o tipo de questões e níveis de realidade em relação aos quais os investigadores se interessam. Há de se observar que essas duas questões, “tipo de tratamento” e “tipo de questões e níveis de realidade” estão intimamente associados. Assim, um estudo acerca de formação e vida profissional e subjetividade opera num nível de realidade e levanta questões que demandam necessariamente uma abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa surgiu no início do século XX,[15] a partir da necessidade de se responder às questões que emergiam do processo de investigação, 18
naquilo que circundava a exploração de dados, para as quais os métodos quantitativos tradicionais mostravam-se insuficientes.[16] Desde seu surgimento, tal abordagem tem passado por um processo de modernização, o qual abrange três injunções que compõem as mais novas perspectivas com relação à pesquisa qualitativa. Tais injunções afirmam que os pesquisadores devem: 1. ser críticos com relação à melhor maneira de representar os entrevistados; 2. evitar que sua própria biografia, seus valores, suas opiniões interfiram no que foi mencionado pelos participantes; e 3. ser extremamente vigilantes no que concerne à ética do estudo a ser desenvolvido.[17] Considerando que a pesquisa qualitativa analisa as particularidades e subjetividades do entrevistado, tais injunções surgiram para garantir o rigor e a fidedignidade deste tipo de estudo, possibilitando sua disseminação e popularização no meio acadêmico.[18] Em face disso, Minayo[19] sublinha que: 1. “A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares.” Isso significa que ela visa responder questões que permanecem válidas para um determinado contexto espaço-tem-
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poral ou histórico-social. Nesse sentido, ela se diferencia de um atributo fundamental da pesquisa quantitativa, que é a generalização. 2. “A pesquisa qualitativa se preocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado” (p.21). Contudo, é preciso ficar bastante alerta para o fato de que tais características, próprias da abordagem qualitativa, não venham a significar que elas não sejam objetivas. Uma ideia falaciosa, bastante comum entre certos pesquisadores, entende que existe um continuum ligando o polo da abordagem qualitativa ao polo quantitativo, indicando a existência de uma linha que vai do mais subjetivo ao mais objetivo, do especulativo ao rigoroso, do menos científico ao mais científico. Evidentemente, essas duas abordagens não se diferenciam pelo maior rigor, nem pela maior cientificidade; o que as distingue é a natureza dos fenômenos abordados e o modo de tratá-los. Sejam quais forem os modos adotados, todos eles devem responder a critérios rigorosos que lhe garantam credibilidade científica. Não custa lembrar que o termo objetividade remete a objeto, sendo importante salientar, ainda, que o objeto da prática científica é produzido “como um efeito das regras ou feixes de relações que os pesquisadores manipulam (p.49).[20]
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O objeto da pesquisa científica não é, consequentemente, o dado bruto, “a coisa”, tal como se imagina que pode ser identificado na natureza de maneira quase que imediata a partir da mera utilização do senso comum. Ao contrário disso, o objeto da investigação científica é sempre um objeto construído. Dessa forma, pode-se dizer que a ciência tem como atividade básica a pesquisa que tanto indaga, como constrói a realidade. O processo de construção do objeto científico se inicia com uma pergunta acerca de um problema. Em geral, essa pergunta se articula a conhecimentos anteriores que, por sua vez, sedimentam-se naquilo que convencionamos por teoria.[21] Três questões são cruciais para o trabalho científico de investigação, ou melhor dizendo, para sua objetividade. Contudo, essas três questões recebem tratamentos ou respostas diferentes no caso de se adotar uma abordagem qualitativa ou uma abordagem quantitativa: Tratam-se das questões de: • Fidedignidade • Validade • Generalização
Fidedignidade De acordo com André[22] “o conceito convencional de fidedignidade envolve o confronto entre o 21
evento e a sua representação, de modo que diferentes pesquisadores possam chegar às mesmas representações dos mesmos eventos” (p.56). No caso da pesquisa qualitativa, “parte-se de pressuposto de que a reconstrução do real feita pelo pesquisador não é a única possível ou a correta, mas espera-se que ofereça elementos suficientes (provas, indícios) de modo que o leitor possa julgar a credibilidade do relato e a pertinência das interpretações” (ibid. 56).
Validade A validade perfeita sinaliza que não há nenhum erro de medida, ou seja, que “as diferenças observadas na medição refletem as verdadeiras diferenças entre os objetos (ou indivíduos)” (p. 265).[23] Assim, a ideia de validação passa também pela preocupação com uma forma neutra de redigir as questões de um instrumento, pela forma de praticar as entrevistas para coleta de dados, gravação, processamento das informações e divulgação dos resultados, não deixando que os valores, opiniões, biografia do pesquisador interfiram no relato dos sujeitos investigados.[24] Na figura, pode-se notar que na zona de baixa validade, apesar de os arremessos estarem bem concentrados entre si, o foco está deslocado. Isso, no caso prático de uma pesquisa, poderia significar a existência de alguma tendência, pois todos os registros estão sendo deslocados do objetivo central (como exem22
plo, pode-se citar um entrevistador que induz o respondente a uma determinada resposta).
Validade Baixa
Baixa
Confiabilidade
Alta
Alta
Figura 1. Diagrama da Confiabilidade/Validade. [23]
Segundo Alreck e Settle[23], uma medição de qualquer tipo é válida quando, de fato, mede aquilo que está se propondo a medir. Nas abordagens qualitativas, a validade interna refere-se em considerar em que nível as descobertas traduzem a realidade dos pesquisados. André[21], remetendo a Dawson, sugere uma série 23
de procedimentos para aumentar a probabilidade de que os dados, na pesquisa qualitativa, tenham validade. Dentre os diversos procedimentos pode-se citar a triangulação (uso de mais de uma fonte de dados).
Generalização Esta talvez seja a questão mais espinhosa e diferencial face à questão da abordagem qualitativa. A rigor, a generalização – validade externa – é estranha aos objetivos da pesquisa de corte qualitativo. Em outros termos, “a generalização, no sentido de leis que se aplicam universalmente, não é um objetivo das abordagens qualitativas” (p.58).[21] Autores como Lincoln e Guba[24] propõem a adoção do conceito de transferência como equivalente ao de generalização das abordagens quantitativas. Nesse caso, se os contextos de dois estudos forem congruentes, então as hipóteses de um contexto poderiam ser aplicadas ao outro. “A ideia de generalização é aceita por todos no sentido de que os dados de um estudo possam ser úteis para compreender os dados de outro estudo.” (p.58).[21] A condição para tanto é que se proceda a uma descrição densa. Nesse caso, as análises léxica, semântica, de similaridades e de diferenças, por exemplo, permitiriam julgar em que medida os resultados de um estudo podem ser “transferidos” para outro. Claro deve estar que os métodos das técnicas e instrumentos adotados na investigação científica 24
estão sempre ancorados e subordinados a uma determinada perspectiva teórica, a partir da qual se compreende e se aborda o fenômeno que interessa ao investigador, de modo que a técnica empregada deva estar orgânica e logicamente situada no desenho da pesquisa. Minayo[19] adverte sobre dois grandes perigos no uso dos procedimentos técnicos na investigação científica. De um lado, ela situa a tentação de “endeusamento das técnicas” que produz: a. Um formalismo árido b. Respostas estereotipadas. De outro lado, ela mostra que “o desprezo pela técnica” conduz ao: a. Empiricismo ilusório b. Especulações abstratas e estéreis. Por fim, e tendo em vistas tais advertências, cumpre dizer que as técnicas a serem apresentadas por meio do software EVOC® são valiosas para a pesquisa de abordagem qualitativa no sentido de permitir uma maior objetividade dos resultados, aumentando sua validade e permitindo propiciar, em última instância, procedimentos de transferência.
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3. A utilização de softwares no desenvolvimento da pesquisa qualitativa
Desde a década de 80, uma ampla variedade de softwares têm sido criada para auxiliar na análise de dados qualitativos. Para referir-se a tais programas, utiliza-se a sigla CAQDAS – Computer Aided Qualitative Data Analysis Software (Software para Análise de Dados Qualitativos por Computador).[25,26] Visando atingir seus objetivos, esses softwares geram uma ordem a partir de uma massa de notas de campo, de entrevistas, de códigos, de conceitos e de memorandos. Isso é feito com o intuito de visualizar a rede de conceitos e relações na teoria emergente e para manter um acompanhamento sistemático da teoria que está sendo desenvolvida, o qual se inicia pela codificação dos dados primordiais, atravessa todas as etapas intermediárias e finaliza com o relatório final do estudo.[27] As características padrão desses softwares utilizados na análise qualitativa, que são: 1. codificação de dados; 2. recuperação de dados; 3. capacidade de efetuar buscas automáticas, tornaram-se bastante úteis para muitos estudiosos, os quais têm aderido à análise assistida por computador, ao invés da análise manual.[25]
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Os softwares em questão trazem consideráveis vantagens ao pesquisador que os utiliza, como a economia de tempo, que é precioso durante o desenvolvimento de uma pesquisa[28,29]; a facilitação do processo de codificação de dados[20]; além da capacidade de realizar as mais diversas tarefas de ordenamento, estruturação, recuperação e visualização desses dados.[27] Levando-se em conta a atual importância do tipo de pesquisa em questão, enfatiza-se que o surgimento de softwares veio facilitar a execução do estudo e auxiliar a manter o rigor das informações colhidas pelo investigador. Os estudos de representação social são particularmente bem situados para acolher tais técnicas e instrumentos no nível metodológico.[30,31] A investigação estruturada na evocação de respostas provocadas por um ou mais estímulos indutores permite evidenciar universos semânticos de um grupo de palavras.[30] Assim, a eficácia do software EVOC® – Ensemble de Programmes Permettant l’Analyse de Évoctions (Conjunto de programas para a análise de evocações) – justifica-se por sua técnica, que permite a identificação da frequência e da ordem média de evocações de palavras, facilita a aproximação dos elementos de uma representação e possibilita entender as distâncias estabelecidas entre as representações.[32] Dessa forma, a exemplo do EVOC®, foram desenvolvidos, especialmente na França, nos Estados
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Unidos e na Inglaterra, softwares que têm possibilitado a condução de uma estratégia qualitativa de pesquisa científica que fosse finalizada de forma mais rápida, eficaz e rigorosa facilitando, assim, o trabalho do investigador que os utiliza.
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