30 dias com Camila

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Silvia Fernanda

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CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ F397t Fernanda, Silvia 30 dias com Camila / Silvia Fernanda. - Salto, SP : Schoba, 2012. 304 p. : 23 cm ISBN 978-85-8013-198-7 1. Amor 2. Sexo 3. Romance brasileiro. I. Título. 12-7919. CDD: 869.93 CDU: 821.134.3981)-3 26.10.12 05.11.12

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Para Raquel, Beth, Paula, Camila(s), Ju, Kelly, Patty, Monica, Rosana e tantas outras que me apoiaram quando decidi andar com minhas próprias pernas, representando a Falando em Códigos. Também para Edina, Solange e Cristiane, amigas de uma vida inteira. Eu não teria conseguido sem vocês meninas!


Agradecimentos


A Deus, por sua presença tão singular em minha vida e por ter me mostrado tantas vezes que a melhor resposta é a gratidão. Precisamos ser gratos por tudo na vida, pois tudo é aprendizado. Aos meus pais José e Marcelina, e aos meus avós, Ademário e Miranda (in memória) e, Dona Lelinha, Dona Vardé por me darem a oportunidade de ser quem eu sou. Aos meus irmãos que me ajudaram a ter paciência com as coisas da vida. Tios, Tias, primos e primas por terem me amado e dado grandes lições de vida. A Alexandrina, a primeira a acreditar em meu trabalho. A Natália e Clícia por me apoiarem incondicionalmente. As meninas do Perva’s por terem me ensinado tudo o que eu precisava saber sobre o mundo das postagens virtuais. Em especial a Ju que tantas vezes revisou meus textos, Thaís e “D!”. A Irene por ter me emprestado seu espaço. A Titinha por me incentivar no começo. A Marlene por ter me mostrado que a concorrência não precisa ser desleal, na verdade nem precisa existir entre amigos. As minhas parceiras: Lil May, Rosa, Kinha, Amanda, Ana Paula e tantas outras que apoiaram minhas loucuras. A Illem, Carol(s) e Naii, representando todas as que se dispuseram a fazer lindas capas para meus textos. A Lua, Jane e Maribell, que também se aventuraram nesta loucura que é contar uma história.


A família Wei Gomes e seu apoio incondicional. Especialmente a Liu e a Mei. Josy Luz, essa pessoa divina que abraça a causa e ajuda a realizar sonhos. Sempre quis que uma amiga revisasse minha primeira história. Não foram as amigas que eu esperava, mas Deus enviou alguém especial. Obrigada Família Luz pela paciência.



Pr贸logo 12


“Lágrimas e chuva Molham o vidro da janela Mas ninguém me vê...” 1

Uma mordida no pescoço suave e provocante. Edgar estremeceu. A mulher pressionava o corpo quente contra o seu. Olhos no mais profundo tom dourado o encaravam e esbanjavam desejo. Ele teve certeza: aquele seria seu fim. Aquela não era a sua noiva. Pior, não sentia por sua companheira metade do que sentia por aquela criatura. A uma semana da cerimônia de seu casamento e estava louco por outra mulher. Estava tudo errado. Muito errado. — Eu não posso fazer isso... Tentou se esquivar do “ataque”, mas não enganou a nenhum dos dois. A mulher sorriu com indiferente malícia e escorregou a mão ao longo de seu peito... Abdômen... Sempre para baixo... Essa era a vida de Edgar. Encontrava-se num terrível limiar emocional, onde a culpa, desejo reprimido e o remorso eram os protagonistas de seu drama pessoal. Qualquer empurrão mínimo do acaso deixaria sua vida e muitas outras em pedaços. Era um homem perdido nas escolhas que fez para a própria vida. Principalmente pelas escolhas que não fez, por sua omissão quanto aos seus sentimentos. Não era o tipo que lamentava, mas... Era difícil aceitar que fazia tudo 1. Trecho da música: “Lágrimas e Chuva”, Autores: Bruno Fortunato, Leoni e George Israel. 13


errado. Com mais frequência que o recomendável. Momentos antes, os pingos de chuva eram lançados ao corredor por uma janela esquecida aberta, correu para fechá-la. Ainda alcançava o trinco quando sentiu um corpo encostando-se ao seu. Sabia que era “ela”, reconhecia seu toque em qualquer lugar. Não entendia como isso era possível, mas reconhecia. Era um homem viciado no nada. Na promessa de um “e se...”. Virou-se para ficaram frente a frente, disposto a enfrentar a situação. Precisava mandá-la embora. Tentou ignorar a incomoda sensação de inadequação que o momento lhe trazia: a mulher estava parada a sua frente, usando apenas uma das cuecas dele, numa atitude de intimidade que eles não tinham. — O que você faz aqui? — perguntou tentando ganhar tempo. A noiva de Edgar, Dulce, dormia no quarto no final do corredor, se pegasse aquela doida... A pergunta foi ignorada. Ficando na ponta dos pés, a mulher encostou a pele nua contra a dele. Não precisou de muito. A mordida na nuca que desencadeou a onda de desejo em seu corpo foi mais que eficiente. Agora ele estava ali, sem saber se corria de volta a seu quarto ou atacava aquela criatura com toda a fome reprimida de anos. Sentia-se acariciado com suavidade e incapaz de se mover. Aquela sensação era tudo o que tinha e precisava no momento. Queria se perder nela. As mãos passeavam lentamente por seu corpo, tocando, lábios provando, explorando. Era o toque de uma amante experiente que sabia exatamente o que fazer para enlouquecer o parceiro. Involuntariamente seu corpo ficou tenso. Buscando apoio, “talvez sanidade”, recostou-se contra a janela enquanto aquela criatura o deixava indefeso. — Eu sou uma boa menina. — sussurrou junto aos lábios do rapaz — Recompense-me... 14


Edgar queria dizer que sim, mas a razão ainda tentava comandá-lo, então se calou. Mordendo o lábio. — Seja um bom menino. — beijou-lhe levemente os lábios — Dê-nos o que queremos... Mais provocação do que poderia suportar. Num único impulso empurrou a mulher contra a parede mais próxima. Ela não se importou com a violência, sorriu vitoriosa. Edgar não perdeu tempo examinando seus atos, a beijou como há muito desejava: lábios, língua e fome. A mulher se desfez da cueca que vestia sem interromper o beijo. Passou uma perna envolta dos quadris do rapaz e tratou de abaixar-lhe a calça do pijama. Tentando pôr algum freio na situação, o homem pegou as mãos atrevidas e tratou de prendê-las no topo da cabeça da moça. — Eu sei que você quer tanto quanto eu... Vem, por favor... Diante do choramingo desesperado, puro eco da necessidade dele, não teve outra opção: foi... Um trovão fez Edgar erguer-se da cama. Passou as mãos pelos cabelos num gesto desesperado. Dulce dormia suavemente a seu lado, indiferente ao estado de excitação do noivo. Seus cabelos loiros espalhados sobre os travesseiros, encolhida numa posição fetal. Indefesa, sozinha... Sua mulher. Agoniado demais para permanecer ali, naquele quarto, ele simplesmente saiu. Numa sensação de déjà vu, descobriu uma janela aberta no corredor. O coração disparou diante da mera insinuação que o sonho fosse profético, mas sabia que não, ela não estava em sua casa e nunca faria aquelas coisas. Os sonhos eram um mero eco de seus desejos severamente reprimidos. Fechou a janela tentando controlar o desânimo. Seu casamento aconteceria em uma semana. Fizera a escolha certa, 15


Dulce era sensata, bonita, sexy. O tipo de mulher que qualquer homem queria... Não tinha como dar errado. Ou tinha? Estavam juntos havia três anos. Foram felizes de algum modo, mas sempre fora apaixonado pela outra. Outra que lhe era mais que proibida. Na cozinha, preparou um café tentando organizar os pensamentos. Por fim voltou à sala. Ali, sentou-se diante das amplas janelas de seu apartamento e ficou observando a cidade adormecida sob a chuva fina daquela madrugada de inverno, enquanto saboreava o café. Algum tempo depois voltou à atenção a mesinha que ficava ao lado da janela onde colocava os porta-retratos com sua família e amigos, o toque sutil, sensível e doce de sua madrasta na decoração de sua casa. Como foi mesmo que ela disse? “Você pode tentar se afastar de nós, mas queremos você sempre conosco. E vamos invadir sua vida”. Ah, se Raquel soubesse da verdade... Voltando aos porta-retratos, começou a examinar um a um, momentos felizes de uma vida perfeita... Não conseguiu evitar que um sorriso irônico se desenhasse em seu rosto. Examinando cena por cena até que parou diante de uma que mostrava a família. Uma família feliz e amorosa. Mergulhando nos olhos dourados de sua irmã adotiva, Beth, perdeu-se em pensamentos sombrios. Olhos doces e serenos. Com um aperto no peito pensou consigo mesmo que a vida poderia ser bem mais simples. 

Carlos Bolivatto fechou a porta devagar. Naquele quarto, a moça finalmente havia dormido. Na sala calçou os sapatos que trazia nas mãos e terminou de abotoar a camisa. Diante 16


do espelho que ficava na entrada da casa, viu a marca de batom em seu pescoço. Uma marca exatamente como aquela o colocara em sérios apuros certa vez. Limpou com cuidado e aproximou-se ainda mais do espelho para observar o trabalho. Nenhum vestígio. Enquanto se afastava, visualizou o caderninho vermelho no patamar de uma janela. Havia poucas oportunidades como aquela. A mulher nunca deixava seu caderninho de anotações à toa. Seria uma coisa horrível mexer em suas coisas sem permissão, mas ele precisava de respostas. Pegou ainda um tanto resistente. Com grande sentimento de culpa foi folheando as páginas, sorrindo da forma desorganizada como ia se agregando lembretes de sua vida pessoal e profissional. Na mesma pagina estava escrito: “Enviar memorando de finalização do projeto Maresias.” “Comprar absorventes”. “Matar meu chefe.” Ele riu. Seguiu com a análise quando uma lista surgiu. Onze itens listados com cuidado e organização. “Coisas para fazer antes de completar 30: 1. Começar a expressar os meus desejos sem medo. 2. Comprar um carro decente (e parar de me estressar com o mecânico). 3. Tirar férias de verdade. 4. Mudar a decoração da casa e talvez alugar vagas... Para rapazes? (TPM nesta casa basta a minha). 5. Parar de comprar sapatos. 6. Parar de comprar lingeries sensuais (Já que elas vão parar no fundo de alguma gaveta). 17


7. Mudar de emprego (?!) 8. Parar de passar mal quando certa pessoa entra no elevador. 9. Respeitar quem está ao meu lado e falar a verdade sobre meus sentimentos. 10. Realizar a minha fantasia de sequestrar o filho de meu chefe para fins absolutamente sexuais... 11. Parar de fantasiar... O caderno tremulou em suas mãos durante a leitura. Bem, ele quisera saber... Agora sabia. Não estivera errado em suas desconfianças. Poderia confrontá-la sobre seus desejos. Ou simplesmente poderia fazer de conta que nada sabia e agir para resolver a situação a seu modo. Para não perdê-la, controlaria a situação. Meia hora depois, já em sua própria casa, entrava em seu quarto e abraçava o corpo da esposa adormecida. — Você demorou... Ela queixou-se, ainda de olhos fechados. — Desculpe... Estou para perder minha secretária, imagina a bagunça que vai ser... — Você dá um jeito. A confiança que a esposa nutria por ele era comovente. — Sei disso, mas as coisas ficariam difíceis por um tempo... Talvez precise trabalhar um pouco mais... Ela está sobrecarregada... Sentiu a tensão enrijecer o corpo da mulher. — Precisa de ajuda? — Não, ainda não... A mulher se calou, abrindo os olhos e o encarando com mil perguntas, mas sem coragem para verbalizar nenhuma. Aliás, verbalizar qualquer coisa não era o forte deles. 18



CapĂ­tulo 1


FIXAÇÃO

“Fecho os olhos Pra te ver, você nem percebe Penso em provas de amor Ensaio um show passional...” 2

As primeiras lembranças de Edgar Bolivatto eram das duas mangueiras nos fundos de sua casa. Lembrava-se de muito pequeno deitando no gramado e tentando ver os frutos maduros no alto. Ali construíram seu primeiro balanço. Ali também colocaram a rede onde ele se deitava junto com o pai no final de tarde, quando este chegava do trabalho e contava como foi o seu dia. Aquelas árvores também lhe garantiram o primeiro braço quebrado. E foi ali atrás que deu os seus primeiros beijos na prima da vizinha que morava ao lado. Ele foi um garoto muito feliz. Seu melhor amigo na infância foi seu pai, teve sua cota de mimos e de chineladas, mas era feliz. Um garoto muito sensível, perspicaz, que percebia que nem tudo era um mar de rosas a sua volta. Aprendeu a reconhecer o olhar de tristeza que sua avó paterna às vezes adotava. Tomou para a si a obrigação de ser tão bom garoto, que tiraria a aflição do semblante da mulher que tanto amava. Nem sempre conseguia fazer tudo certo, mas acertava na 2. Trecho da música: Fixação — Autores: Leoni, Carlos Beni e Paula Toller. 21


maioria das vezes. Aprendeu que quando confessava que a amava, o sorriso nascia em sua face, por isso, repetia sempre, em qualquer oportunidade, com beijos e abraços. Levou anos para ele saber que não era a causa do sofrimento da avó. E mesmo quando soube continuou inventando jeitos de fazê-la feliz. Talvez por isso se tornasse o adulto centrado, sensível e bom leitor de pessoas na maior parte do tempo. Assumia a responsabilidade de tornar as coisas mais fáceis e simples na vida das pessoas a sua volta. Quase sempre conseguia. Com o tempo Edgar tornou-se um especialista em esconder a si mesmo. Fazia isso com tanta propriedade que às vezes ele mesmo tinha dificuldade de saber quem era o homem que via no espelho. Era capaz de fazer exatamente o que era esperado dele, sem se lamentar ou reclamar. Tinha a rara capacidade de observar sempre as necessidades dos outros antes das suas... Talvez por isso quase nunca fazia algo que fosse apenas para si. Órfão de mãe aos dois anos de idade cresceu sabendo que não se podia ter tudo. Tinha muitos amigos e a vida confortável de um garoto de classe média alta, ainda assim não cresceu acreditando que o mundo estava a seus pés. Passou a infância numa casa grande com um pequeno pomar no quintal. Atazanava o juízo da avó com suas “invencionices”... Quando o garoto tinha sete anos o pai mudou de cidade para assumir os negócios da família, até então, nas mãos do avô, que se encontrava doente. Antônio Carlos Bolivatto saiu de casa ainda quando o filho era adolescente. Reconstruiu sua vida em outro estado, com outras mulheres, mas não deixou de administrar os bens da esposa, até mesmo quando se divorciou dela anos mais tarde. Quando tomou a difícil decisão de ir cuidar dos interesses 22


da mãe, Carlos Bolivatto pediu ao filho que tomasse conta dela, pois precisaria de um homem que a protegesse. Ele nunca questionou isso, nem mesmo na adolescência, quando essa responsabilidade lhe custou caro. Aos oito anos conheceu seu melhor amigo, Marcelo Silva. O menino era um novo rico, filho de um sujeito que construiu sua fortuna de forma duvidosa. Os Bolivatto acolheram o garoto desde o primeiro momento, a ponto das duas crianças fazerem tudo juntos. O que era bom e ruim. Foi Marcelo que convenceu o amigo a dar a primeira tragada. Foi também Marcelo que decidiu que Edgar já tinha passado do tempo de dar o primeiro beijo. Também foi com o amigo que numa festa tomou o primeiro porre da sua vida. A diferença de dois anos entre eles nunca foi um problema. Edgar não sabia, mas seria com Marcelo que compartilharia os segredos que nunca conseguiria dividir com mais ninguém. Que aquele sujeito presenciaria a maioria de suas bebedeiras, as de alegria e as de tristeza, sem julgamentos, que estaria ao seu lado nos bons e maus momentos. O único sujeito que teria liberdade eterna de abusar da sua paciência com o seu distorcido senso de humor. A adolescência foi um período difícil, frustrante, passou parte dela dividido entre o desejo de ir viver com o pai e a necessidade de cuidar da avó. Nunca reclamou, mas de algum modo, criou-se uma enorme distância entre ele e Carlos. Silenciosa e inconscientemente, focou no pai sua revolta. Nunca lhe disse nada, mas simplesmente a amizade que compartilharam na infância foi morrendo até se transformar numa convivência fria e distante. Apaixonou-se apenas três vezes na vida. Nas três vezes, pela mesma mulher. A primeira vez foi aos treze anos. Ainda não sabia que 23




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