Um messias alucinado

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Um messias alucinado



Valterlins Herculano

Um messias alucinado

Baseado em fatos reais


Copyright © Valterlins Herculano dos Santos Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma e por qualquer meio mecânico ou eletrônico, inclusive através de fotocópias e de gravações, sem a expressa permissão do autor. Todo o conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do autor. Editora Schoba Rua Melvin Jones, 223 - Vila Roma - Salto - São Paulo - Brasil CEP 13321-441 Fone/Fax: +55 (11) 4029.0326 | 4021.9545 E-mail: atendimento@editoraschoba.com.br www.editoraschoba.com.br CIP-Brasil. Catalogação na Publicação Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ S233m Santos, Valterlins Herculano dos, 1975Um messias alucinado / Valterlins Herculano dos Santos. - 1. ed. Salto, SP : Schoba, 2013. 276 p. ; 21 cm. ISBN 978-85-8013-252-6 1. Romance brasileiro. I. Título. 13-00136 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3


A pre se n taç ão

Meu caro amigo Valter, Em minhas meras conclusões, vi um livro de bastante reflexão da vida humana, também de muita cultura e conhecimento, que traz como base a “MENTE”, o raciocínio, o verdadeiro pensar-existir, e de como o fundamento de tudo e de toda existência nos influencia diariamente. Viajei bastante na narrativa do personagem Lucimay, chegando, às vezes, a me transportar àquelas cenas narradas. Um livro bastante polêmico, pois tudo que envolve religião torna-se polêmico, mas com fundamentos e opiniões merecedoras de total respeito e admiração. Vi quão grande foi o teu esforço pra tentar deixar o livro agradável de se ler – e conseguiu – que às vezes até esquecia que tinha sido meu amigo Valter que o escrevera. Uma leitura empolgante que me esquecia do tempo. Livro este que me fez pensar, pensar e pensar na verdadeira


vida que é viver e não vegetar o tempo todo; li e descobri que devemos viver intensamente, pois a vida material é tão curta pra querer conquistar tantas coisas. O bom é que aprendi bastante, fico até sem palavras pra descrever o conteúdo geral apresentado neste livro, sendo que não tenho uma instrução tão elevada para tal, deixando apenas esse comentário simples, mas sincero. Obrigado, amigo. Charles Beethoven


Prefácio

A história de Lucimay em “Um messias alucinado“ mostra a posição de Valterlins Herculano dos Santos, como ele mesmo diz, sobre fatos reais, mentiras verdadeiras e imaginações. É um bombardeio de pensamentos, visões e alucinações, que nos mostra seu lado bem-humorado e fala do desafio que é podermos escrever uma parte da nossa história e a dificuldade de sermos responsáveis por nossas escolhas, procurando fugir ao enquadramento fácil, buscando inquietar e convidando a pensar, que, segundo ele, “nos veremos todos queimando sobre a realidade alucinada”. Mas não pense que este livro é algo solene ou severo, sua preocupação vai de encontro ao mundo real em que vivemos atualmente, à inquietação pelo mistério das alucinações, ao imaginário, até onde vai o poder da nossa “mente”, onde cada um tem seu mundo particular e solitário. Valter não escreve para leitores de sexo, raça, crença ou idade especial, é mais um bate-papo com um amigo,


amigo este que pode ser homem, mulher, velho ou jovem: a quem convida a transgredir a monotonia, a mesmice, a acomodação e a futilidade, refletindo sobre várias questões que poderiam ocorrer a qualquer um de nós que estamos de passagem pela vida terrena. Marceleza Santos


A pre se n taรง รฃo



Vou contar uma história extraordinária, curiosa intensamente alucinada e fantasiosa, porém “verdadeiramente” existente. Verdadeira, porque vi, presenciei sua parte principal, em que o personagem teve sua maior e mais intensa experiência em sua busca existencial. E por ter participado do teor e do furor da história, fui testemunha ocular no epicentro dos fatos. E me servindo de veículo narrador da saga, transcrita por minha mente, transformei-a em um conto, logo assim se passando então a uma grande “mentira”, a minha mentira verdadeira, que contarei a partir de agora. Começarei narrando a história de um personagem principal, o Messias Alucinado. Embarcaremos em um mundo imaginário cheio de aventuras, torturas mentais e loucuras espirituais alucinantes, proporcionada pelo desbravador de mentes Lucimay, que, em sua busca incessante por conhecimentos transcendentais ou “simplesmente” conhecimentos reais, físicos, palpáveis e lógicos, aqueles que estão ao alcance das nossas limitadas mãos, para chegar 13


até outros que vão além da imaginação e do nosso campo de visão periférica territorial. Esse homem nos levará a um mundo de interrogações e contestações, pensamentos que perturbam, vagam e possuem nossas mentes e almas todos os dias, do despertar para uma nova batalha, até o repousar do guerreiro depois do alvorecer, após mais um dia de luta e da sua eterna busca pelo equilíbrio, para manter-se de posse das suas faculdades mentais, ser dono de si próprio e o senhor absoluto do seu destino. No contexto geral evolutivo, avançamos muito pouco: muito em liberdade mental, para aqueles que buscam conhecimento, mas pouco na igualdade espiritual inicial da humanidade para aqueles que se materializam cada vez mais e se prendem em um casulo dentro de si próprios, ou até mesmo, em ensinamentos doutrinas e dogmas vencidos e ultrapassados. Saímos de um controle terrestre para apenas um territorial e mais “recentemente” estamos rodeando pelas beiradas do globo, tentando desvendar os segredos contidos na imensidão do universo. Nossos antepassados passaram suas vidas olhando para o alto em busca de ver além dos horizontes e ter visão além do alcance exterior. Com o passar dos anos, muitas teorias surgiram, apareceram novas profecias e novas filosofias esclarecedoras para aprimorarmos e aumentarmos nossos conhecimentos. Redescobrimos deu-

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ses-astronautas, revivemos grandes feitos dos heróis do passado e compartilhamos todos esses conhecimentos em uma velocidade jamais vista na história da humanidade. Mas agora, com o avanço das tecnologias, por ironia do destino, estamos sendo condicionados a olharmos para baixo, para dentro da nossa casa inicial, a fim de resgatar o que foi esquecido e deixado para trás durante todos estes anos displicentes, em que, ao olhamos para fora buscando respostas, esquecemos quem somos, que o verdadeiro conhecimento está dentro de nós mesmos, e que tudo que precisamos está em nossa casa. Estamos tentando voltar à nossa casa inicial, nosso “eu-primordial”, nosso “planeta-mãe”, em harmonia com nosso corpo causal, “pai”, em busca do nosso “eu-completo”, o “eu-Deus-pai”, que representa todos os “eus”, o criador e arquiteto universal, um perfeito “narcisista”, que, após a conclusão final de sua obra perfeita, clonou a si próprio para poder, em um corpo físico completo e orgânico, usufruir de toda sua criação, pois sendo espirito não poderia fazer coisas simples que nós humanos fazemos todos os dias, como: tocar o chão e correr pelos campos, sentir a brisa do vento que toca nosso rosto, banhar-se nas águas cristalinas das veias do planeta, colher com as mãos e se alimentar com os frutos gerados pela mãe Terra. A esses clones iniciais damos o nome de humanos, e, mais adiante, humanidade, que ao longo dos tempos tenta se religar com a unidade que semeou “inicialmente” a

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vida biológica deste planeta “mental-físico”, o único que conhecemos até então, onde há vida em abundância e em total plenitude, em meio à imensidão de um universo de controvérsias que nos assola. Estamos no início dos caminhos que nos levarão de volta para casa. Sigamos em frente! A aventura e o personagem nos aguardam ansiosamente para que você possa conhecê-lo. No final, voltaremos a nos falar, e contarei, em capítulos, as diretrizes que me levaram a escrever este livro e os pensamentos lucinológicos que absorvi com tudo isso e que gostaria de compartilhar com vocês. Um forte abraço por trás e até lá.

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O inĂ­cio o personagem



Certa vez, houve um homem comum, igual à maioria dos que conhecemos. Um cidadão aparentemente normal, levando uma vida cotidiana, rotineira e sem grandes pretensões mundanas ou futuristas, como a maior parte dos mortais terrenos que conhecemos. Contando o tempo com o tempo, vivendo sem compromisso algum com as coisas do mundo e “simplesmente” esperando a morte chegar, como dizia o Raul, ocupando-se com coisas banais, fúteis e passageiras, e essas coisas pouco acrescentavam e contribuíam com suas expectativas futuras, em um universo de contraversões e controvérsias que rondam nossa imaginação. Mas, desde sua infância, esse homem despertou e foi invadido por pensamentos e motivações que rondavam seu mundo imaginário. Começou a experimentar emoções e sensações precoces, que a cada dia cresciam e lhe direcionavam a um destino e caminhos tortuosos, para entender-se como individuo e se tornar ser completo. Dia após dia, travamos batalhas adquiridas por es19


colhas ou por imposições daqueles que estão à nossa volta; Para vencer essas lutas, até a chegada do dia em que nosso folego será ceifado e será determinado o fim da nossa posse sobre a vida. Nesse dia, as batalhas serão todas vencidas, e o troféu da vitória será mérito de poucos. Sua mente ensandecida buscava, “severamente” e a todo e qualquer custo, algo que lhe completasse o ser e o vazio das perguntas que o cercavam. E essa busca o fez ir além das fronteiras do convencional, além do real, entrando no mundo das ilusões, em sua alucinante viagem abstrata mental, em busca dos mistérios da vida. E nessa peregrinação, seus pensamentos e suas inquietações sobre o desconhecido e sua incessante busca por respostas para sua existência e o sentido da vida o levaram a caminhos e experiências inimagináveis, um abismo de luz, escuridão e loucura. Incorporou-se ao seu mundo de alucinações e seu encontro com anjos e demônios foi inevitável. Contando a história de trás para frente e da frente para trás. Chamarei esse homem pelo codinome Lucimay, o viajante do inconsciente. Lucimay nasceu em um vilarejo muito pequeno, em uma região com muita natureza, tendo uma infância simples e longe de vários confortos que já existiam naquela sua época, como energia elétrica ou qualquer tipo de produtos industrializados, desses que se compram e vendem nos pegue-e-pague do mundo pelo

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simples prazer de possuir tais objetos de desejo passageiro, para realização pessoal e satisfação provisória do ego. Mimos de consumo, como nos dias de hoje. Mas isso não o impediu de ter uma infância fabulosa e imprevisível, pois vivendo no seio da mãe natureza, foi privilegiado com uma vida muito plena e verdadeira, que só se vive nestas condições: rios, riachos, cachoeiras, rodeados por toda fauna e flora – a naturalidade de viver ao natural. Uma das experiências mais marcantes de sua vida, aconteceu nessa mesma época. Como Lucimay morava a cerca de 6 quilômetros da cidade, ou 1 légua, como popularmente se dizia. Todos do vilarejo tinham que percorrer este trajeto toda semana para poder abastecer a dispensa de suas casas, e essa peregrinação era religiosamente feita aos sábados, dia em que acontecia a tradicional feira de rua. Em uma dessas viagens de extrema necessidade, Lucimay foi com sua mãe, como de costume, mas algo deu errado: ele se perdeu da mãe na feira. Ficou por muito tempo procurando por ela e não a encontrou, até que decidiu voltar em uma barraca onde sua mãe costumava guardar as compras que ia fazendo enquanto não terminava. Chegando na barraca, Lucimay perguntou por sua mãe. A dona da barraca informou-lhe que ela já havia passado, pego as compra e ido embora, mas isso não o convenceu. Ele imaginava que sua mãe ainda estava por

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lá. Continuou, então, a procurá-la. Sem sucesso, voltou á barraca, e mais uma vez foi perguntar por sua mãe. A resposta foi a mesma: ela já tinha ido embora. Então Lucimay decidiu ir embora e iniciou sua caminhada para o vilarejo. Quando já estava na saída da cidade, resolveu voltar para certificar-se de que sua mãe não tinha lhe abandonado. Não conseguia acreditar que ela o havia esquecido e tinha ido embora, deixando-lhe para trás. Pensava como poderia sua mãe esquecê-lo na feira, e ter simplesmente juntado suas coisas, deixando o filho de 7 anos na cidade. Mais uma vez, voltou até a barraca, e mais uma vez ouviu que sua mãe já tinha partido. Só a partir daí, finalmente convencido, foi embora. Isso foi por volta das 5 horas da tarde. Quando Lucimay estava na metade do caminho, encontrou seu pai e seu tio que estavam indo para cidade em uma Brasília. Seu pai parou e perguntou o que ele estava fazendo ali. Respondeu que estava na feira com sua mãe, mas que se perdeu e não a encontrou mais. Ela havia ido embora, tendo lhe deixado na cidade. Seu pai então, dizendo-lhe que sua mãe já estava em casa há muito tempo, colocou-o no carro e o levou para cidade. Retornando para a cidade, Lucimay descobriu algo que lhe perturbou muito e o deixou muito decepcionado: seu pai tinha outra mulher e um filho na cidade, um irmão que ele sequer conhecia. Lucimay foi invadido por sentimentos e pensa-

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mentos que desconhecia: Como pode?! Seu pai ter outra mulher além da sua mãe! Nessa noite de sábado, seu pai saiu para uma festa e o levou. Voltando de madrugada, com ele já dormindo no carro. No dia seguinte, Lucimay ficou desnorteado sem saber o que fazer naquele mundo hostil e desconhecido em que se encontrava. Mesmo assim, permaneceu andando pelo bairro até o anoitecer. Nas noites de domingo, passava um trem que vinha do sertão rumo ao Recife, e Lucimay ficou maravilhado com aquele monstro de metal ao vê-lo de perto – uma maravilha que ele já tinha contemplado anteriormente à distância. Por volta das 8 da noite, aquela mulher que ocupava o lugar de sua mãe – era assim que ele a via – veio lhe avisar que o jantar estava servido, e, como Lucimay estava na rua, disse que logo iria entrar para comer. Intempestivamente, Lucimay começou correr, fugindo para casa de sua mãe. Saiu em disparada e atravessou um rio que dava acesso à rua principal para a saída da cidade, rumo ao vilarejo em que ele vivia. Nesse trecho inicial, havia iluminação elétrica, algo que em pouco tempo lhe faltaria. Então, seguindo correndo por essa estrada, aquele menino logo se encontrou sozinho e em plena escuridão, diante de animais ferozes, seres folclóricos e mitológicos, a quem se juntariam grandes bestas feras, que vieram povoar e perturbar sua imaginação, para dificultar ainda mais, sua árdua jornada de regresso ao seu lar.

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Duas coisas que lhe ajudavam muito nessa aventura, eram tirar o chinelo, para facilitar sua corrida, e a lua cheia, que lhe trazia claridade para iluminar seus passos naquela noite sombria. Um pouco mais à frente, deparou-se com um acampamento de ciganos, e, como fazia parte da cultura desses vilarejos, Lucimay havia ouvido alguns contos e causos dos mais velhos, de que os ciganos costumavam raptar crianças, para vendê-las, ou então as levarem consigo para servirem de escravas. Quando ele se deu conta de tudo isso, o medo invadiu sua mente e o desespero passou a predominar em seus pensamentos. Apertou o passo. Ao atravessar uma ponte, encontrou uma idosa do acampamento, que lhe chamando a atenção, fez com que parasse. Perguntou ao menino: Garjão, onde tem uma venda, O popular mercadinho atual? Lucimay respondeu que logo à frente havia uma. Foi quando a cigana idosa fez um gesto de que iria segurar em sua mão e Lucimay se esquivou, começando a correr desesperadamente. O que já estava desconfortável começou ficar insuportável, mas ainda havia muita estrada pela frente. Já cansado, Lucimay avistou luz artificial logo à frente do seu caminho. Viu ali, um lugar para descansar, mas quando ele estava se aproximando, vieram cães enormes em sua direção, latindo. Paralisado, pensou, e lembrouse do nome dos cães, chamando-os pelo nome. Lucimay sempre passava por ali e conhecia aqueles cães. Aproxima-

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ram-se as feras, reconheceram-no e o acompanharam até a sede de uma fazenda de onde ele havia avistado a luz. Chegando lá, sentou-se na calçada para descansar, quando sua presença foi notada por um empregado da fazenda que, abrindo a porta, reconheceu-o. Perguntando o que ele estava fazendo ali àquela hora da noite, Lucimay respondeu ao homem fazendo um pedido – um pouco d’ água. Lucimay estava com sede e ofegante da corrida que teve de fazer. O homem lhe trouxe água, e, enquanto Lucimay bebia da água, o homem pediu-lhe que esperasse um pouco, dizendo que iria vestir uma camisa para levá-lo em casa. Quando o homem entrou, Lucimay levantou-se e começou a correr novamente. A esta altura, já havia percorrido um terço do caminho. Quando Lucimay já estava vendo sua casa do outro lado do rio, teve um sentimento muito grande de alívio por estar quase cumprindo sua missão, retornar ao seu lar. Resolveu, então, parar em uma casa que a algumas centenas de metros da sua para pedir água e aparecer de herói de grandes feitos para uma menina por quem tinha um amor platônico. Bateu na porta, pediu água e fez sua encenação, contando seu feito heroico. O pai da menina, ouvindo toda história, disse que o levaria até sua casa. Lucimay agradeceu e disse que não precisava, pois de onde ele estava já avistava sua casa. Despediu-se e foi embora correndo. Quando estava atravessando o rio, que havia cruzado no início da viagem, pisou em um buraco e caiu,

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rolando pelo banco de areia. A queda lhe machucou muito e o levou ao choro, algo que até aquele momento não tinha acontecido. Levantou-se e foi caminhando até sua casa, que estava logo à frente. Chegando lá, observou que seus familiares estavam nos fundos da residência. Deu, então, a volta pelos fundos, bateu na porta, e quando esta se abriu, ele caiu desmaiado dentro de casa e só foi acordar no dia seguinte. Quando o dia amanheceu, foi logo perguntando para sua mãe o que tinha acontecido, e por que ela o deixou na feira e foi embora. Ela não soube explicar. Outra dúvida era como ela não deu falta dele por 2 dias. Continuou sem explicação. Era como se, na mente de sua mãe, esses 2 dias nunca tivessem acontecido. Ela não se lembrava de nada nem tinha dado falta do filho em casa. Outra experiência precoce que também teve grande impacto sobre sua infância foi a descoberta do sexo e dos prazeres que este universo erótico oferece muito cedo. Teve suas primeiras experiências por volta dos 7 ou 8 anos, com meninas da sua idade e também com outras com um pouco mais de idade e experiência no assunto. E olha que, na época e no mundo em que ele vivia, ainda não havia os educadores manipuladores como os que temos nos dias de hoje, como televisão, internet e vários outros veículos de comunicação que educam e corrompem a infância dos que vivem sob o domínio midiático. Essas experiências sempre são determinantes para a

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formação de qualquer indivíduo, sejam elas precoces ou tardiamente experimentadas. Em um universo freudiano de sexualidade, todos temos que compreender este paradoxo sexual para praticarmos e saciarmos nossa necessidade ancestral de praticar, proliferar e perpetuar esse ato dos seres vivos. Pouco tempo depois, Lucimay foi obrigado a seguir um curso diferente daquele que estava acostumado. Um mundo novo lhe aguardava. Mudou-se com seus pais para a cidade. Saiu da zona rural, do natural, para avançar na zona urbana, por ruas, tribos e gangues novas e, a partir dessa mudança, teve início um novo processo árduo em sua vida: competição, a busca por espaço. Fazer-se existir em um mundo novo foi uma das primeiras lições, provações e provocações que Lucimay enfrentou. Teve que lutar por diversas vezes, envolvendo-se, inclusive, em brigas para delimitar seu espaço ou simplesmente para não ser humilhado, menosprezado ou ignorado por novos amigos e conhecidos que se fariam presente nessa nova etapa de sua vida. Coisas que fazem parte do processo evolutivo construtivo do Homo sapiens desde os tempos passados até os dias atuais, e que até no reino animal, são vitais para a sobrevivência e perpetuação das espécies. Essa etapa foi superada com grande êxito. Batalha vencida, agora estava preparado para um mundo de novas descobertas que se mostravam nessa passagem de fase. A infância estava acabando.

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No início da sua adolescência, como é comum a todos, começou a ficar inquieto e especulativo com os assuntos mundanos, e os porquês, os paradigmas da imaginação ou a ação das imagens perturbadoras que assolam o homem desde sua criação começaram a invadir a sua cabeça diariamente: Quem somos? O que queremos? E para onde vamos? Achar um sentido para tudo isso era algo que já lhe atormentava. Apesar de ser dotado de uma inteligência gnóstica um pouco avançada para seus precoces questionamentos e devaneios, Lucimay não foi um exímio frequentador de salas de aula. Abandonou esta fase de aprendizado teórico logo cedo para aventurar-se em ensinamentos práticos mundo afora na escola mais completa que existe: a vida. Mas desde cedo já tinha uma noção plena das coisas terrenas e lógicas: era autoanalista e autodidata em tudo que fazia. Sua mente estava sempre em questionamento sobre tudo. E realizando autoanálise, descobriu que estava se conhecendo e se descobrindo, vendo e cotejando o seu eu-egoísta e o egoísmo dos que estavam a sua volta, e observando até que ponto era igual ou diferente deles, percebendo os pontos positivos e negativos de cada um, porque, em geral, todos em essência são iguais, só o ponto de vista e a forma de pensar e agir são diferentes, e esses pensamentos, junto com a ação das escolhas, determinam e selam nosso destino. Essa lição Lucimay aprendeu logo

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