FUGAS | Público | Sábado 25 Março 2017
Holanda Eindhoven não é a rapariga mais bonita, é a mais excitante BART VAN OVERBEEKE ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 9837 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
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Eindhoven: a cidade da luz é agora capital do design Na cidade do Sul dos Países Baixos, aprendemos que nada se perde, tudo se transforma. Depois de um passado industrial florescente, Eindhoven teve de reinventar-se e fê-lo com estilo. Tanto que deixou de ser a “cidade mais aborrecida” do país para se tornar a “rapariga mais excitante”. A luz já não vem da Philips mas teima em brilhar, cada vez com mais criatividade. Andreia Marques Pereira
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empos houve em que Eindhoven tinha uma “cidade proibida”. O controlo nas entradas era rigoroso, quase como atravessar uma fronteira para uma admirável cidade nova. Mas “o muro caiu”, brinca Erik van Gerwen, do turismo de Eindhoven, um dos nossos guias pela cidade. O “muro” era o do complexo da Philips, o gigante electrónico — só o atravessavam os trabalhadores da empresa. Não que isso causasse fricções graves na cidade, imaginamos: afinal, Eindhoven cresceu à sombra (e ao ritmo) da Philips (e, com menos impacto, à DAF, companhia de camiões), aqui fundada no final do século XIX (1891) para dar luz ao mundo. Se no início do século XX eram menos de cinco mil os habitantes da cidade do Sul dos Países Baixos, no dealbar do XXI eram 200 mil. De aldeia a quinta cidade holandesa, de aldeia à segunda economia do país. O último século foi benevolente com Eindhoven — bem, nem sempre: devido à Philips, a cidade foi ponto
estratégico dos bombardeamentos da II Guerra Mundial, tanto dos alemães como dos aliados. A destruição foi grande, mas Eindhoven foi, é resiliente. Voltou a prová-lo já no final do século XX: em 1997, a Philips transferiu quase toda a sua estrutura para Amesterdão (em Eindhoven ficaram instalações de investigação). Trocou a província, e aquela que tinha a reputação de ser a cidade “mais aborrecida” do país, pelo cosmopolitismo da capital. Eindhoven tremeu, mas, atrevemo-nos a dizer, foi a melhor coisa que lhe poderia ter acontecido. Teve de reinventar-se e para tal recorreu a algo que a Philips deixou entranhado no ADN da cidade: a inovação e a criatividade, que tem na tecnologia a sua espinha dorsal e no design a sua imagem de marca. A primeira é uma questão quase sub-reptícia para o visitante, a segunda tomou conta da cidade e tem o seu ponto alto durante a Dutch Design Week, que é o maior acontecimento da cidade, junta-
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mente com o festival de luz Glow. E é assim que hoje chegamos a Eindhoven para ver que a antiga cidade proibida, o antigo coração da Philips (que na verdade deixou por toda a cidade edifícios, complexos – até residenciais como o Philipsdorp, monumento nacional – e, claro, o PSV Eindhoven, o P de Philips), é agora o Strijp-S, um dos locais mais criativos e dinâmicos da cidade a pouca distância do seu centro. Aqui, numa zona onde se alinham edifícios industriais, brancos, alguns andares rasgados por grandes janelas, durante anos abandonados, artistas, designers, arquitectos, artesãos e empreendedores encontraram casa. Ainda se vive em ebulição, há gruas, tapumes, contentores porque ainda é um work in progress. O visual industrial continua inconfundível, mas agora o que o preenche são restaurantes, hotéis mais ou menos alternativos, lojas de design e de autor, estúdios e galerias de arte e até um centro musical, Popei, onde 50 bandas ensaiam regularmente e
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funciona o “Rock City”, no edifício conhecido como Klokgebouw, a “torre do relógio”, com o símbolo da Philips, que é um dos ícones da cidade. Um dos projectos mais recentes são os lofts com rendas controladas, uma aposta para fixar população que já aqui fazia a sua vida profissional. Sim, a cidade proibida ainda tem uma Area 51 — mas agora é um dos maiores parques cobertos de skate da Europa; e ao terceiro domingo de cada mês é local de peregrinação incontornável, com o Feel Good Market a dar as boas-vindas a todos. Tem também ainda uma “casa da caldeira”, Ketelhuis, que mantém o nome, mas não a função: agora é restaurante, café, bar, sala de espctáculos. Terá sido uma das pioneiras da conversão da cidade proibida, industrial, em Strijp-S, a vanguarda. Instalou-se aqui há cinco anos e meio: “Nos primeiros dois, três anos, não havia nada aqui”, recorda Mark Trash, “podia disparar-se um canhão e ninguém ouvia”. “O motivo para começar o negócio quando não havia nada foi precisamente trazer vida a esta zona”, explica. “Na altura creio que olhámos para Nova Iorque: se instalarmos artistas e pessoal criativo em áreas onde ninguém quer viver pode atrair mais pessoas.” Neste plural entra um português, André Amaro, figura com algum mediatismo na Holanda (chegou a apresentar um programa infantil), “a grande força motriz” por detrás deste Ketelhuis (e de uma série de outros negócios mais ou menos satélites), que, entretanto, regressou a Portugal, a Palmela – onde está, aliás, a supervisionar o alargamento
da área de actividade do “grupo”. Numa área criativa este restaurante é também uma base para “dar espaço a pessoas com ideias”, para dar “algo que os restaurantes normalmente não têm”. Enquanto jantamos, há um concerto na sala de cima; às quintas e sextas, há stand-up comedy, “muito informal”. “Queremos questionar as fronteiras dos restaurantes, descobrir o que funciona de um ponto de vista cultural.” O Strijp-S foi uma espécie de projecto-piloto na Holanda, “agora outras cidades estão a aproveitar antigas fábricas para estas iniciativas”, explica Carline Sterk, do Turismo de Eindhoven, uma das nossas guias pela cidade. Aqui na cidade, o Strijp-S também teve a mesma função: foi o primeiro dos Strijps (que até 1920 eram fora de Eindhoven, até serem absorvidos pela actividade da Philips) a ser “entregue” a criadores, mas não a única. O T já tem algumas empresas, alguns designers, “mas não abertos” e em breve terá uma incubadora de design e inovação; o R já é um ponto de peregrinação graças a Piet Hein Eek, designer holandês de reputação internacional que aqui se instalou, com fábrica, showroom, galeria e restaurante-bar.
A dama branca Piet Hein Eek é um dos antigos alunos da Academy for Industrial Design in Eindhoven, fundada em 1947 e, entretanto, “transformada” em Design Academy Eindhoven (DAE), aquando da sua transferência para De Witte Dame (“a dama branca”,
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Em cima, o Museu Philips e o ambiente da cidade durante a Dutch Design Week; ao lado, o Strijp-S, um dos locais mais criativos e dinâmicos da cidade No plano anterior, uma das intervenções artísticas do Glow Festival
um antigo edifício da Philips). Não é apenas mais uma instituição de ensino superior na cidade: é o pólo internacionalmente (re)conhecido de onde partiu grande parte do renascimento da cidade. É que, em Eindhoven, os novos designers encontram também as condições para desenvolver os seus projectos, graças às indústrias, sobretudo tecnológicas. Afinal, Eindhoven é o epicentro do BrainPort, “região” for-
mada com o objectivo claro de atrair investimentos nas áras da ciência e da tecnologia, num envolvimento entre as instituições universitárias, o governo e a iniciativa privada — e com “partilha de conhecimento”, sublinha Erik van Gerwen. “Acho que é a verdadeira chave do sucesso.” Sucesso que tem dado frutos: o Intelligent Community Forum durante anos integrou Eindhoven no seu top de comunidades mais inteligentes do
mundo (em 2011 alcançou mesmo o número um) e a revista Forbes considerou-a, em 2013, a cidade mais inventiva do mundo (em Eidhoven produziam-se 22,6 patentes por cada 10 mil residentes, de acordo com a organization for Economic Co-Operation and Development). E “aqui inventa-se e faz-se”, nota Erik . E dá o exemplo da artista Jalila Essaïdi, que atravessa as fronteiras entre design, biotecnologia e empreede-
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dorismo e criou, por exemplo, roupa a partir de estrume e uma pele à prova de balas — e tudo começou como projectos artísticos. O discurso parece instalado na cidade, que assume a sua nova identidade de corpo e alma. Erik já nos havia dito, sem rodeios: “Todos são bem-vindos, mas queremos ser claros, nada de cosméticas. Eindhoven é tecnologia, design e conhecimento. Turística? Não, não somos. Mas se o que buscam é inovação e design, estão aqui.” A honestidade possível na cidade que “não é a rapariga mais bonita”, mas é “a rapariga mais excitante”, diz. O alvo, continua, não é o turismo de massas, mas os exploradores de cidades — aqui ninguém vai reconhecer ruas e edifícios, aqui vai encontrar-se inovação. “O desenvolvimento da cidade não é para eles [turistas], é para nós, está-nos nos genes. E será o que os atrairá.” Por isso, o lema é algo como “se escolheres, serás escolhido”. Annemoon Geurts escolheu Eindhoven para estudar design e Eindhoven escolheu-a. Aqui abriu o seu estúdio de design e sempre foi presença assídua na Dutch Design Week. Foi nesse contexto que surgiu a ideia de abrir um restaurante pop up para servir a grande mostra. “Eat, drink and design”, brinca. Dois anos
depois, ela e o companheiro decidiram desenvolver o projecto. Surgiu o Kazerne, que ocupou uma antiga caserna do exército, e une a restauração e a arte: “Sabemos que não podemos salvar o mundo através do design, mas queremos fazer a nossa parte. Mostrar o poder da indústria criativa como força motriz e fonte de inspiração para um quotidiano com mais beleza, humanidade e sustentabilidade”, explica Annemoon. O resultado é que jantamos numa galeria de arte. Diante de nós está Lightfall, uma instalação com sensores de luz e som (de Paul Thursfield e Simon Rycroft para a Philips) — e ao entrarmos deparamo-nos com uma instalação cinética, do Studio Drift, que parece impelir a voar e foi criada para a Bienal de Veneza de 2015. A arte estende-se para outras salas e corredores — os comensais são incentivados a percorrê-las, copo na mão se quiserem — e em breve estará em quartos. É a próxima fase do projecto: um hotel design em que cada quarto, apenas oito, será uma obra de arte. Sim, os hóspedes dormirão numa exposição, com todas as regras que tal acarreterá e a concretização de um conceito: “Seremos uma casa do design com um hotel boutique.” “Nunca faria sentido abrirmos apenas um restaurante ou um hotel”, afirma Annemoon, “esta é uma casa do design e queremos mostrar os trabalhos dos nossos colegas”. Enquanto não tem trabalhos para apresentar, Océan, francesa recémgraduada na EDA, vai trabalhando aqui em part-time. “Talvez fique em Eindhoven.” Louis Croonen fez o percurso inverso: nascido em Eindhoven, saiu para Amesterdão em 2009. Lembrase de se falar muito na capital do turismo excessivo. “Uma vez disse que em Eindhoven tivemos um grupo de turistas e saiu na primeira página do jornal”, ironiza. Tudo mudou. Louis voltou em 2015 e em Janeiro de 2016 abriu o Calypso, restaurante e bar. “Vimos logo que tínhamos de ter menus em inglês.”
“Blob” e a ardósia Não parece, mas Eindhoven, cidade do Brabante do Norte, tem pergaminhos antigos, que remontam pelo menos ao século XIII. Guerras e incêndios foram apagando o FUGAS | Público | Sábado 25 Março 2017 | 7
passado que na reconstrução do pós-II Gerra Mundial tão pouco foi prioridade. Por isso, circulamos pela cidade e o que chama a atenção é a herança industrial e os edifícios mais arrojados, parte do projecto da década de 1990 de transformar Eindhoven na capital holandesa do design. Curiosamente, um dos mais futuristas foi construído antes, em 1966, para assinalar os 75 anos da Philips: o Evoluon corresponde quase exactamente à imagem que temos de um ovni (já foi museu, mas agora só abre para eventos). Mas é na 18 Septemberplein (Praça 18 de Setembro), o novo centro da cidade, que a arquitectura de vanguarda mais respira, sempre tutelada pela Philips: de um lado, pela estação ferroviária, com um dos edifícios a simular um rádio, e do outro pela Lichttoren, a Torre da Luz (contígua à “Dama Branca”) – e daqui se fazia luz para Eindhoven e redondezas: no topo testavam-se as lâmpadas. E, então, neste canto vê-se um recanto quase futurista, que começa inapelavelmente na obra do arquitecto italiano Massimiliano Fuksas “Blob” (com lojas), difícil de descrever em toda a fluidez dos seus contornos, que seriam ortogonais não fora um alongamento, desenhados a aço pintado de branco e vidro escuro. É o principal ícone desta zona de vocação claramente comercial, apesar de ter como competidor o De Admirant, o edifício mais alto de Eindhoven (105 metros), que até deu o nome desta a esta área. Na verdade, parece que caminhamos num centro comercial ao ar livre — saindo da praça, há lojas, centros comerciais, alguns “alternativos”, como o The String, uma rede de designers que ao sábado abre com DJ. Acabamos a desembocar no indispensável Museu Philips: a fachada envidraçada empresta-lhe um ar moderno, que condiz com a restante zona, pedonal, mas essa é na verdade um acrescento àquela que foi a primeira fábrica da empresa. A caminhada não é longa até chegarmos até outro símbolo arquitectónico de Eindhoven, também um museu. Até lá, passamos pela câmara municipal, edifício de betão de 1969 pouco consensual, que tem na praça em frente um parque de skate. A entrada do Museu Van
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FOTOSTUDIO FONS STRIJBOSCH
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Abben, de arte moderna e contemporânea, não está muito distante — o Oudbouw, o velho edifício. Edifício de tijolo vermelho, simetricamente distribuído a partir de uma torre com relógio, perde todo o protagonismo, fotográfico pelo menos, para a nova extensão (Nieuwbouw, novo edifício) inaugurada em 2003, desenhada por Abel Cahen. Também ela com uma torre a dominar, tem formas angulares acentuadas revestidas de ardósia islandesa e grandes transparências. O contraste não podia ser maior entre as duas alas do museu integrado num entorno natural especial
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— na margem do rio Dommel, que aqui foi artificialmente alargado, formando um pequeno lago entre ambas. O café do museu é o espaço ideal para usufruir deste entorno: a esplanada está sobre o lago e também pode ser acessível por uma entrada à parte — uma pequena ponte coberta nas traseiras do museu que é uma obra de arte por si, com design do artista e arquitecto John Körmeling, uma pequena casa de madeira pintada em rosa forte que se ilumina à noite. Se a união arquitectónica é inesperada, a filosofia do museu tão pouco é usual. “Há 10 anos que esta-
Circulamos pela cidade e o que chama a atenção é a herança industrial e os edifícios mais arrojados, parte do projecto de transformar Eindhoven na capital holandesa do design mos a experimentar coisas novas”, confessa a guia, “e a trabalhar com designers”. A ideia do museu está a mudar, explica, “o artista nunca teria imaginado as suas obras assim, num cubo branco”. Assim, podemos contemplar as obras noutro ambiente, por exemplo, em salas cobertas com papel de parede (também ele obra de designers) alusivos à época em que foram criadas. “Este museu não quer ser visto como uma torre de marfim.” Não é de marfim, mas o perfil esguio da torre Vesteda tem contornos de diamante e é um dos símbolos arquitectónicos modernos mais reconhecidos de Eindohven —
em 2007 foi considerado o “edifício do ano” no país.
Um novo carisma Se o rio Dommel agora é um eixo de lazer em Eindhoven, cidade onde não faltam parques, já foi uma via de comunicação importante. Nesta cidade industrial, muito chegava e partia através dele. Ao longo de uma porção das suas margens, alinham-se velhos edifícios de tijolo do que foram fábricas e agora podem ser qualquer coisa por detrás dos portões pesados. Transpomos um: ateliers fechados e The Bottle Distilery, onde se faz brandy, gin, licor e vodka. Voltamos à entrada que pertence totalmente à cerveja: de um lado está a fábrica artesanal da Stadsbrouwerij Eindhoven (visitas guiadas com degustações), do outro a cervejaria 100 Watts. Pertencem a donos diferentes, mas estão umbilicalmente unidas: um produz, o outro vende. Depois de alguns anos em que a produção de cerveja artesanal na zona decaiu, parece que voltou a florescer e este binómio é apenas um dos exemplos. Cumpriu um ano e 36 receitas, das “mais fáceis” às “mais exóticas”. “As pessoas aqui agora estão mais exigentes, querem boa cerveja, bom vinho”, sublinha Youri que, e já o havíamos escutado de outras bocas,
não hesita em comparar Eindhoven a uma “pequena Berlim”. Nas bocas de Eindhoven anda também um novo restaurante, The Fat Angel. Abriu em Novembro de 2016 e arranjar reserva é muito difícil, repetem-nos. Para o jantar, confirma o proprietário, o português Pedro Ferrão. Tem tudo a ver com o próprio ritmo de vida dos holandeses, explica, ele que vive há 17 anos a poucos quilómetros de Eindhoven: tiram pouco tempo para almoçar e valorizam mais o jantar. “Vêm às 18h e podem sair à meia-noite. É muito difícil trabalhar. Se rodo uma ou duas mesas por noite é uma sorte.” Aqui em Eindhoven, nos últimos anos, apareceram, aliás, vários restaurantes de fine dining, sublinha — na verdade, existem vários restaurantes com estrelas Michelin na cidade e redondezas. “Foi há cerca de três anos que começaram a aparecer coisas mais inovadoras aqui”, recorda, até então era tudo “mais tradicional”. Por isso, confessa, nem sequer tinha interesse em instalar-se em Eindhoven. “Pessoalmente, não me atraía, não era muito bonita, faltavalhe carisma.” Tinha o restaurante em Valkenswaard, perto de casa, e estava satisfeito. Nos seis anos de funcionamento, o Vida Pura ganhou fama: no ano passado foi apontado para estrelas Michelin — e os proprietários do hotel para estadias longas The Little Grand, aberto há ano e meio, eram clientes. Propuseram-lhe tomar conta do espaço que tinham e cinco minutos depois da reunião o negócio estava fechado. É que, entretanto, “as pessoas tentaram dar nova vida à cidade”. Valerie Fick, da família proprietária do The Little Grand, parece concordar. “Antes, tinha de ir a Amesterdão ver os amigos de lá. Agora são eles que querem vir”, conta. Ela, que sempre viveu em Eindhoven, trabalha no hotel que é, sobretudo, “uma casa com serviço de hotel”, resume. “A nossa ideia principal é que as pessoas se sintam em casa, é proporcionar um ambiente acolhedor.” Não querem ser maiores, querem ser os melhores para os lucky seven. Porque são apenas sete os apartamentos: cada é um mundo à parte, sofisticação discreta e autónomo.
Mas quem quer autonomia quando se tem Marcel, o mordomo, para tratar de tudo? “Cozinho, lavo roupa, vou de helicóptero buscar clientes a Amesterdão, vou fazer compras com os hóspedes”, descreve com bom humor evidente, na sua pose de modormo “moderno” — alto, magro, calças escuras, camisa às riscas, laço castanho de cabedal, sapatos castanhos pontiagudos. Está 24 horas ao serviço, mas diz que “é um passatempo”. Do que mais gosta é do facto de os clientes voltarem — dá-lhe a oportunidade de ainda prestar um serviço “mais personalizado”. Pedro Ferrão também reconhece a nova dinâmica da cidade, que vai desde a nostalgia dos espaços da Philips — “muitos aproveitados para festas techno”, um estilo muito popular em Eindhoven, rampa de lançamento de muitos DJ conhecidos, incluindo o DJ Tiesto —, aos vários espaços para concertos, sem esquecer a Stratumseind, considerada a mais longa rua de bares do país — cerca de 40. Aí concentramse os mais jovens (e esta é uma cidade universitária), e se queremos conhecer um pouco da antiga Eindhoven é o caminho a percorrer, e não só porque se passa pela igreja neo-gótica de Santa Catarina (século XIX). Há várias casas antigas, embora se possam perder entre outras mais recentes — os rés-do-chão transbordam em esplanadas para a rua. O Bergen é outro dos bairros antigos onde a noite se vive, mas aí por uma faixa etária mais elevada. Tem o charme mais reconhecível de outras cidades holandesas, com uma arquitectura mais tradicional, e uma oferta ecléctica. Uma caminhada pela rua Kleine Berg é eloquente: galerias de arte e lojas com toda a parafernália de merchandising pop, bares, cafés e restaurantes (italianos, franceses, turcos, japoneses), pastelarias e livrarias, lojas de música e da Apple. Sim, Eindhoven não é a “rapariga” mais bonita. No entanto, oferece-se facilmente ao visitante, que caminhando pode desfrutar de um certo cosmopolitismo longe de multidões. E está sempre pronta a surpreendernos — seja nas inesperadas esplanadas da Praça do Mercado, com a estátua de Frits Philips a lembrar-nos a luz da cidade, seja nos chamados
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O Glow Festival, em Novembro, é um dos grandes acontecimentos de Eindhoven. No ano passado, teve 740 mil visitantes
Flying Pins, da dupla Claes Oldenburg e Coosje Bruggen, que transformaram o final de uma avenida numa pista de bowling. E sente-se uma certa vibração no ar. Aquela que deu luz à cidade e ao mundo e que parece ter inspirado o novo logótipo da cidade, semelhante aos filamentos de carbono das lâmpadas antigas, que simboliza a energia criadora da cidade. Este logótipo, vermelho, não é apenas institucional, é aberto a todos os que em Eindhoven o queiram utilizar. É de todos. Como Eindhoven. “Ninguém é daqui, mas todos aqui pertencem”, diz-nos Erik. Aqui, onde nada se perde e tudo se transforma. A Fugas viajou a convite do Turismo de Eindhoven e da Transavia
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Capa Holanda Uma “Noite Estrelada” a caminho da “aldeia de Van Gogh” DR
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á um “Caminho Noite Estrelada” entre Eindhoven e Nuenen. O nome vem da obra de Van Gogh Noite Estrelada, que não foi pintada nesta região mas um ano depois de ele a ter trocado pela Provença. O ideal é percorrê-lo quando o dia já se despediu: milhares de pedras cintilantes de cor (absorvem a luz durante o dia para emiti-la à noite) reproduzem fragmentos do quadro ao longo de 600m da ciclovia que une Eindhoven e Nuenen, onde Van Gogh passou alguns anos da sua vida e onde pintou a sua primeira obra-prima, Os comedores de batatas. Não percorremos a ciclovia até Nuenen porque o frio nos assusta, mas são só 5km de distância entre a cidade da luz e a “aldeia de Van Gogh”, como é conhecida Nuenen. O centro desta “aldeia de Van Gogh” é o museu Vincentre, mas não espere encontrar alguma obra do pintor aqui — “a segurança seria muito cara” para este museu que funciona à base de voluntariado mas que, no entanto, viu o seu trabalho reconhecido pelo Museu Van Gogh de Amesterdão, que este ano vai ter um bilhete combinado que inclui a vinda a Neunen. O que Nuenen tem de especial é que ainda se mantêm muitos dos locais associados a Van Gogh e por ele pintados — podemos quase ter as mesmas perspectivas que ele teve, por isso se diz que não se pode estar mais perto dele. E ele, nos dois anos em que aqui viveu, entre 1883 e 1885, quando o pai era o vigário local (protestante numa zona maioritariamente católica), produziu 25% da sua obra. Este é o sortilégio desta pequena vila de 22 mil habitantes onde abunda toponímia alusiva ao pintor que tem uma estátua no praça-parque principal, sempre com o seu bloco debaixo do braço. No mesmo parque há uma estátua representando Os comedores de batatas, que parece ser a sua obra mais querida no país. O guia do Vincentre que nos acompanha na visita, Hans Keijzer, faz questão de distinguir entre o museu interno e o museu externo. O interno
faz uma revisão cronológica da sua vida detendo-se, sobretudo, com pormenores da estadia do pintor em Nuenen. No rés-do-chão revemos “o que Vincent fez até aqui chegar”, diz Hans, ou seja, os seus primeiros 30 anos de vida, e “ouvimos” as vozes da mãe, do irmão, que saem de retratos grandes, dirigindo-se a ele. “Foi tudo tirado de cartas que sobreviveram. Cerca de 900.” Descobrimos que foi a mãe que o ensinou a desenhar e seguimos-lhe o rasto de insucesso em insucesso — desde o trabalho como comerciante de arte à sua tentativa de ser professor e assistente de vigário, passando pelos estudos em teologia —, de país em país — Inglaterra, França, Bélgica, Holanda. Foi na Bélgica, em 1880, que decidiu ser pintor, três anos depois regressava a casa dos pais, agora em Nuenen. Subimos para o primeiro andar para perceber como era Nuenen nesses tempos: 2560 habitantes, quase todos camponeses e tecelões. Gente humilde com quem Van Gogh
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fez amizade: eram os seus modelos a troco de dinheiro, o que não era bem visto pela “sociedade” de Nuenen, especialmente a minoria protestante, que via o filho do vigário como um excêntrico, sempre com o caderno debaixo do braço (Van Gogh fazia as próprias tintas, por isso pintava no estúdio a partir de esboços). Descobrimos que Sien de Groot foi a sua top model, uma camponesa que é a figura central de Os comedores de batatas, mas foi Margot Begemann, sua vizinha, a única mulher que lhe retribuiu amor.
Almoçar num quadro Fica ainda evidente a sua personalidade difícil, “via sempre tudo preto ou branco” e nas suas cartas “estava sempre a pedir dinheiro”, nota Hans Keijzer. Aqui no museu também se podem ver quadros de alunos dele, de Eindhoven – paisagens – e saber que era um professor exigente, muito sarcástico e crítico. A finalizar, uma árvore genealógica, que se prolonga até hoje apenas com descendentes
do irmão Theo (três deles pertencem à Fundação Van Gogh Village Nuenen, que gere o museu), que morreu pouco tempo depois de Vincent. O museu externo leva-nos a percorrer a vila e os arredores verdejantes por onde Van Goh deambulava. São 23 os locais a ele associados, 14 destes pintados ou desenhados, nós não fizemos a rota. Passamos pela igreja onde o pai oficiava — ele não a frequentava, mas pintou-a para a mãe, quando ela partiu uma perna e não deslocava (acrescentou depois elementos, aquando da morte do pai, representando o seu funeral); quase em frente ficava o posto de correios de onde os seus trabalhos saíam para Paris, onde Theo os tentava vender (esforço inglório: só um quadro foi vendido no seu tempo de vida). Na antiga praça do mercado, antigo centro da aldeia medieval, foi construído o primeiro monumento a Van Gogh na Holanda, em 1930, uma pedra de moinho com um sol desenhado — representava o Sul
de França e o período mais solar da sua obra, a pedra as obras mais “escuras” daqui. A sua antiga casa continua a ser a casa paroquial — nas traseiras o pai transformou a lavandaria num estúdio para ele, contrariando a ideia do próprio Van Gogh da falta de apoio parental. Das traseiras vê-se a torre do antigo cemitério onde o pai foi enterrado: comparando com o quadro, apenas alguns edifícios se interpõem — ainda está o pequeno lago, as árvores também despidas e até os pássaros revolteiam aqui. Paramos para uma cerveja no Watermolen van Opwetten, o moinho de água que Van Gogh pintou e agora é um bistrot italiano e holandês. O pôr do sol seria digno do Van Gogh do período francês, laranja a iluminar o Inverno. Em Março, conta Hans, começa o período alto das visitas guiadas e ele já tem o discurso preparado: “Vamos almoçar num quadro de Van Goh.” Em Nuenen é muito fácil entrar no mundo de Van Gogh.
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Guia prático
COMO IR A Transavia voa entre Lisboa e Eindhoven (diariamente a partir de 15 de Abril), com preços desde 63€ (ida) e 93€ (volta). Entre Faro e Eindhoven os voos diários começam nos 59€, para cada lado. Simulações para Abril.
ONDE DORMIR Inntel Hotels Art O Inntel Hotels Art Eindhoven está localizado perto da 18 Septemberplein e parte dele está instalado faz parte do edifício da Lichttoren. É aqui que estão localizados os mais originais quartos e suítes, mantendo os elementos estruturais industriais, incluindo as tubagens que fazem parte da decoração. Os preços começam nos 126€, quarto duplo, simulação para Abril. www.inntelhotelsarteindhoven.nl Blue Collar Hotel Blue collar significa classe trabalhadora e é normal antigos trabalhadores da Philips visitarem-no e sentirem-se em casa — afinal, este hotel está no “edifício do relógio” da Philips, em pleno Strijp-S. A herança fabril foi preservada neste que se assume como um hotel “rock’n roll” e tem desde quartos, suítes e dormitórios — ou seja, cabem todas as bolsas. Preços: 26,50€ nos dormitórios, 59€ nos duplos standards, 69€ no duplos deluxe, e 129€ na super king suite (há mais tipologias) — simulação para Abril. www.bluecollarhotel.nl
ONDE COMER Kazerne Restaurante, bar e, sobretudo, casa do design, ou seja, galeria de arte. O Kazerne é enorme, tem um pé direito desmesurado e aquele ar inacabado e industrial que vemos em muitos locais de Eindhoven. O espaço para refeições está no centro, bem
diante da cozinha, aberta. As exposições vão rodando — a actual, Escape – embracing the freedom of beauty, será substituída no final de Maio por New Icons - Rietveld Now. Se as exposições vão rodando, o menu também, acompanhando as estações do ano e produtos disponíveis. Tem uma cozinha “orientada para o vegetariano com um twist italiano”, diz Annemoon Geurts; Thimo Boot é o chef. Nós comemos alabote servido com batata, nabo, rábano, tomate-cherry e lulas (21€). www.kazerne.com The Fat Angel Pedro Ferrão é o proprietário, Niels o chef, que transitou do outro restaurante que mantêm em Valkenswaard, o Vida Pura. Neste The Fat Angel (na foto) apresentase uma cozinha internacional. O ambiente sofisticado q.b. e o toque português está visível nos azulejos azuis e brancos que revestem a cozinha — aberta (Pedro é também o designer). Os menus de degustação são vários: ao jantar, servem-se em capítulos (de quatro a oito, de 42,50€ a 82,50€); ao almoço ficam-se por três (32,50€). Há também menu à carta (prato principal a partir de 21€). Nós optámos por vitela grelhada em combinação com bochecha, creme de beterraba e molho de alho assado (33,50€). www.thefatangel.nl Calypso Bar bistrot, em plena Stratumseind, com ambiente descontraído e comida variada: de tapas aos hambúrgueres (14,50€) ou pizzas (desde 6,50€) e, porque não?, ostras (desde 13€). http://bistrocalypso.nl Usine No rés-do-chão de um dos ícones da Eindhoven, a Lichttoren, a “torre da luz” da Philips, o Usine faz todo o uso do cenário industrial, preenchendo-o de cor nas cadeiras, mesas e sofás. A oferta é variada e vai desde sanduíches ao marisco. Há pratos que só servem a determinadas horas do dia, e os preços começam nos 2,60€ (ao
pequeno-almoço) e podem ir até aos 49,50€ (prato de mariscos de sashimi). A esplanada está diante do Blob. https://usine.nl Ketelhuis O Ketelhuis tem uma filosofia própria. “Fazemos tudo nós.” Um exemplo? “Não compramos bifes, compramos a vaca.” O pão e pastelaria também é feito aqui, o vinho, estão a começar a fazêlo em Palmela — por enquanto, bebemos um esloveno e depois outro do Dão —, onde cultivam também limões com que fazem limoncello, o azeite vem de um terreno que compraram na Catalunha. Tudo para consumo num restaurante de cozinha tradicional francesa. Os pratos principais começam nos 18,50€ e um menu de três pratos nos 30€. www.ketelhuis.com
O QUE FAZER Feel Good Market No Verão, o Feel Good Market instala-se na Kettelhuisplein, diante do Kettlehuis e da Are 51. No Inverno, abriga-se num dos edifícios vizinhos. Vende-se de tudo: podemos ter bolbos ao lado de tapetes de lã de ovelha, temos terapias orientais ao lado de vinis, produtos de beleza naturais ao lado de máquinas que prometem “uma revolução
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REINO UNIDO
HOLANDA
Eindhoven BÉLGICA FRANÇA
ALEMANHA
no sumo”. Há também artigos de autor, de roupa a escultura, com matérias-primas inesperadas: velhas máquinas de escrever e fotográficas transmutadas em insectos e pássaros de metal. Uma segunda sala é uma espécie de praça de alimentação com um canto lounge, mesas e música. Os cheiros são intensos: há quem cozinhe comida mexicana, tibetana ou tornado potatoes e até chouriço assado, à portuguesa mesmo. O responsável é Ivo Brandão, que há seis anos trocou o Porto por Utrecht e uma vez por mês vem a Eindohven com chouriços e conservas portuguesas. Museu Philips Está situado na primeira fábrica da Philips, aquela onde a Philips fez a sua primeira lâmpada incandescente. Renovado, agora apresenta a história da companhia fundada pelos filhos de um banqueiro primo de Karl Marx. Theo, que durante 42 anos trabalhou para a Philips, é o nosso guia. Dos fundadores e primeiros funcionários, às primeiras lâmpadas (na antiga caldeira recria-se todo o processo original da montagem das lâmpadas de filamento de carbono originais), o negócio original. Das lâmpadas, a Philips alargou a sua acção para os rádios, televisões, electrodomésticos vários. Vemos toda a evolução tecnológica da empresa e até a luva que Michael Jackson não chegou a envergar. “Pediu para lhe fazerem uma luva com luz. Ele viu o protótipo – “Tudo o que eu sempre quis” – mas morreu antes de a poder usar”, conta Theo. No museu não se passa só em revista o passado, olha-se para o presente da actividade e investigação da Philips. www.philips-museum.com Museu Van Abben Fundado em 1936 a partir da coleção de Henri Van Abbe, o
Museu Van Abben foi sempre uma instituição de arte contemporânea. As suas obras iniciais, contemporâneas, são “as menos desafiantes”, reflectindo o “gosto burguês do dono”, um proprietário de uma fábrica de charutos. São, sobretudo, obras de autores holandeses e belgas da década de 1920. Durante o período da II Guerra, o museu “apenas sobreviveu”, mas a partir daí começou a enformar a base do que é a sua colecção actual com o objetivo de o colocar no mapa mundial. Para explicar a evolução da arte moderna, adquiriu obras de Braque, Picasso, Chagall, Kandinsky, Mondrian, Rodchenko; o seu acervo de El Lissitzky é um dos maiores do mundo. Os grandes movimentos artísticos estão aqui representados até à contemporaneidade, que se instala no segundo andar. www.vanabbemuseum.nl Dutch Design Week É um dos momentos altos do ano em Eindhoven — em Outubro a cidade recebe a Dutch Design Week (DDW) e o design toma (ainda mais) conta da cidade. Desde 2002, mais de 2500 designers têm aqui a sua montra principal e os visitantes (300 mil) encontram exposições, conferências, debates e festas — dois dos principais palcos da cidade, o Effenaar (mais pop) e o Muziekgebouw Frits Philips (mais clássico), recebem concertos mas também instalações de som. Este ano acontece de 21 a 29 de Outubro. www.ddw.nl Glow Eindhoven Em Novembro, desde 2006, a cidade ilumina-se numa gigantesca exposição de luz que lhe transforma o rosto. Sobretudo à noite, altura em que até as ruas e edifícios parecem ganhar novos contornos e os espaços públicos ganham novos “moradores”. Dezenas de artistas nacionais e internacionais criam instalações e esculturas, projecções e performances recorrendo às mais recentes tecnologias. Em 2016, o Glow teve 740 mil visitantes — este ano acontece entre 11 e 18 de Novembro. www.gloweindhoven.nl
FUGAS | Público | Sábado 25 Março 2017 | 11