Revista do Festival de Cinema Cine.Ema 2021 (Edição das montanhas)

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DE QUE LADO VOCÊ ES T Á?

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“A destruição da natureza resulta da ignorância, cobiça e ausência de respeito para com os seres vivos do planeta” Dalai Lama

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CARTA AO LEITOR “A natureza é a nossa escola” foi o tema escolhido para o 7ª Cine.Ema - Festival Nacional de Cinema Ambiental do Espírito Santo, como uma forma de mostrar que tudo que está presente na fauna e na flora pode nos ensinar e ampliar a nossa consciência. A natureza é a nossa casa, por isso é preciso estarmos sempre atentos aos seus sinais. Com as atividades norteadas por três eixos: água, montanhas e biodiversidade, esta revista da Região das Montanhas Capixabas vem a somar como mais um canal de debate e de educação ambiental voltada às comunidades que margeiam patrimônios naturais. Nesta edição, temos como protagonista as belezas e as riquezas presentes nesses locais. Como destaque desta edição, explicamos tudo sobre a Década da Restauração dos Ecossistemas da ONU, que se iniciou este ano e segue até 2030, e mostramos algumas iniciativas que têm contribuído para o ecossistema mais diverso do planeta e que é a nossa grande vizinha: a Mata Atlântica. Também temos conteúdo abordando a importância do desenvolvimento da cidadania e de práticas de preservação ambiental dentro das escolas, com o exemplo da Feira de Ciências, da escola Estadual Gisela Salloker Fayet, no distrito de Paraju, em Domingos Martins.

Fernando Gava Fernandes e Gustavo Miniguite De Nadai, da EEEFM Agostinho Agrizzi, de Vargem Alta, que relembram um pouco da história do ambientalista que dá nome ao colégio. Já a professora Karoline Fagundes nos conta o que se pode aprender tendo a floresta como vizinha. Para quem curte dicas de conteúdos interessantes na internet, indicamos o podcast “História para boi dormir”, produzido por um coletivo de Vargem Alta, e que resgata histórias com referências regionais para crianças. E também indicamos vários festivais de cinema ambiental ao redor da América Latina para você começar a acompanhar. Trazemos ainda em nossa revista a participação de dois escritores de Vargem Alta, a Elysanna Louzada e o Sávio Lopes; além de três exemplos de sustentabilidade e preservação ambiental da região das montanhas: o projeto de artesanato “Pássaros do Caparaó”; a fábrica de biscoitos Kebis e o Instituto Ambiental Reluz. Esperamos estar em breve juntos novamente e que vocês se divirtam e aprendam muito com os conteúdos preparados com muito carinho por nossa equipe e colaboradores para esta edição da Região das Montanhas Capixabas. Uma ótima leitura!

Ainda dentro das escolas, temos a colaboração dos professores Luiz

Lívia Corbellari

Edição 2 | Ano 2 | Cine.Ema 2021 Direção de Conteúdo: Lívia Corbellari

Revisão de Texto Ricardo Aiolfi

Diagramação: Elielton Oliveira

Direção Artística: Tânia Silva e Léo Alves

Coordenação de Comunicação: Rayanne Matiazzi

Impressão: Grafitusa

Produção Executiva: Sullivan Silva

Fotos de capa e contracapa: Gabriel Bonfa

Tiragem: 300

www.cineema.com.br

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SU SM UM ÁÁ R 08 10 18 29 30 34

CONHECER PARA PRESERVAR Por Lívia Corbellari

A MATA ATLÂNTICA É DE TODOS NÓS Por Lívia Corbellari

A CIÊNCIA PELA CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE Por Lívia Corbellari

A ARTE DE CUIDAR DO MEIO AMBIENTE

Por Gustavo Miniguite De Nadai e Luiz Fernando Gava Fernandes

UM VOO COM OS PÁSSAROS DO CAPARAÓ Por Lívia Corbellari

A NATUREZA É A MAIOR FONTE DE CURA E A NOSSA COZINHA, A FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO MAIS PRÓXIMA Por Elysanna Louzada

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CAUSOS MIRABOLANTES Por Lívia Corbellari

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CINEMA E PRESERVAÇÃO PELA AMÉRICA LATINA

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TRÊS PODERES

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POESIA VERDE Por Lívia Corbellari

A FANTÁSTICA FÁBRICA DE BISCOITOS

Por Gustavo Miniguite De Nadai e Luiz Fernando Gava Fernandes

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Por Sávio Lopes

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ENSINAMENTOS DA FLORESTA Por Karoline Fagundes das Neves Possatti

CONHEÇA OS TRABALHOS PREMIADOS NO CINE.EMA NAS ESCOLAS DE 2020

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Making Off

Foto de Augusto Gomes

CONHECER PARA PRESERVAR “ÚLTIMOS REFÚGIOS: DA PEDRA AZUL AO FORNO GRANDE” REÚNE MAIS DE 250 FOTOGRAFIAS PARA APRECIAR A RICA BIODIVERSIDADE CAPIXABA Por Lívia Corbellari

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“Com a fotografia estou dando voz à natureza”, conta o cinegrafista e fotógrafo Leonardo Merçon, que lançou o terceiro volume da série Áreas Protegidas, projeto fotográfico do Instituto Últimos Refúgios. Junto à equipe do Instituto, Merçon passou dois anos visitando e fotografando os municípios de Castelo, Vargem Alta e Domingos Martins para montar o livro “Últimos Refúgios: Da Pedra Azul ao Forno Grande”.

que atravessa também a Reserva Águia Branca, e atrai muitos turistas. O local se destaca pela preservação da Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta. Leonardo também conta que a ideia inicial era fazer dois livros, um para Pedra Azul e outro para Forno Grande, porém ele percebeu esse contexto do corredor ecológico – que aglutina outras reservas – como um local cheio de vida, com muita água, plantas e animais.

O resultado foi um registro sensível da biodiversidade do corredor ecológico que liga o Parque Estadual da Pedra Azul ao Parque Estadual do Forno Grande, que provoca reflexões sobre a importância da preservação da área. “As pessoas só protegem aquilo que elas sabem que existe e eu digo isso por mim também. Desde o começo da minha trajetória como fotógrafo, há 20 anos, o conhecimento que fui acumulando contribuiu para desenvolver a minha empatia. Quanto mais eu conhecia as necessidades da fauna e da flora das regiões mais eu queria preservar. Por isso, me dedico tanto a divulgar a nossa rica biodiversidade e também questões científicas e sociais que contribuem para que todos se entendam como parte desse todo também”, explica Leonardo.

São mais de 250 fotografias, além de diversos textos que abordam o contexto socioambiental da região. O livro é bilingue (português e inglês) e também é possível acessar uma versão para pessoas com deficiências visuais em formato Daisy (audiodescrição/narração).

A escolha dessa região para o terceiro volume da série se deu pela importância do local,

É importante ressaltar que todo o processo de visita aos locais e de fotografia fez parte de um trabalho muito delicado e cuidadoso com o entorno, respeitando o tempo e o ritmo dos ciclos da natureza. “A maior dificuldade é a consciência do mundo, que adquirimos depois de tanto tempo trabalhando com a preservação do meio ambiente. Vemos tanta destruição, que é impossível não se emocionar e ao mesmo tempo é essa vontade de mudar que me impulsiona a não desistir”, conta.


QUER CONHECER A REGIÃO? Para visitar o Corredor Ecológico e desfrutar do turismo ecológico, é preciso chegar pelo acesso da BR-262, a partir da Pedra Azul. Aproveite o trajeto para contemplar a Mata Atlântica que acompanha todo o caminho. Inclusive dirija devagar para prestar atenção nos animais e evitar acidentes.

QUER ADQUIRIR O LIVRO? Acesse o QR code para obter o livro “Últimos Refúgios: Da Pedra Azul ao Forno Grande” . Todos os recursos arrecadados serão destinados às ações do Instituto Últimos Refúgios.

Capa do Livro “Últimos Refúgios: Da Pedra Azul ao Forno Grande”

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Crédito: Instituto Ibramar

Remanescente de Mata Atlântica da RPPN Uruçu Capixaba

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A MATA ATLÂNTICA É DE TODOS NÓS EM 2021 SE INICIOU A DÉCADA DA RESTAURAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS DA ONU, QUE SEGUE ATÉ 2030. PARA ATENDER A ESSA CONVOCAÇÃO, DESTACAMOS ALGUMAS INICIATIVAS DE PRESERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA E FORMAS DE VOCÊ CONTRIBUIR Por Lívia Corbellari Nós somos vizinhos de um dos ecossistemas mais ricos e diversos do mundo: a Mata Atlântica. Domingos Martins abriga uma das maiores áreas de preservação do Brasil e a Cidade Verde já registrou mais de 100 mil plantas, e precisamos manter essa convivência de forma saudável. Dona de uma biodiversidade impressionante, a Mata Atlântica possui cerca de 20 mil espécies e sua grande maioria são endêmicas, ou seja, só existem nessa região geográfica. Ela também abriga entre 150 e 170 espécies de mamíferos, 353 de anfíbios e um extrato vegetal exuberante com árvores de estatura de até 35 metros. Toda a biodiversidade desse ecossistema tem uma importância ambiental extrema para a regulação do clima, da regulação da qualidade do ar e para o abastecimento de água na região e arredores. Além disso, a Mata Atlântica também contribui para o desenvolvimento econômico por meio do turismo, sem contar o seu valor histórico-cultural incalculável por abrigar diversas comunidades tradicionais. Este ano, inicia-se a Década de Restauração de Ecossistemas da ONU, que segue até 2030, e é um importante momento que vai apoiar e incentivar a criação de projetos de preservação e reflorestamento, de garantia de segurança alimentar, de enfrentamento da mudança do clima, de conservação da biodiversidade, de fornecimento de água, entre outros.

“Com a Década da Restauração dos Ecossistemas, esperamos maiores incentivos do poder público que, somado aos empenhos das ONG’s, vão gerar medidas para a proteção e restauração desse bioma, desde reflorestamento a criações de UC’s (Unidades de Conservação) para limitar a ação antrópica sobre as florestas e os ecossistemas costeiros”, explica o biólogo Daniel Gosser Motta.

“Com a Década da Restauração dos Ecossistemas, esperamos maiores incentivos do poder público que, somado aos empenhos das ONG’s, vão gerar medidas para a proteção e restauração desse bioma” Daniel Gosser Motta Biólogo

O biólogo reforça que todos nós fazemos parte desse ecossistema e que sim, com atitudes simples, também podemos contribuir para a sua preservação. Entre as ações que ele indica estão: destinar o lixo para o local correto; reutilizar embalagens; diminuir o uso do plástico descartável; cobrar o meio político para realizar uma reciclagem eficaz;

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controle da pesca predatória; reflorestamento com espécies nativas. Além disso, este ano, o Governo do Estado do Espírito Santo assinou um acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica para viabilizar os “Planos Municipais de Mata Atlântica”. Os planos têm o objetivo de fortalecer as UC’s públicas e privadas em todo o estado e o monitoramento de qualidade de águas da região, como forma de preservação e recuperação do bioma. JUNTOS PELA PRESERVAÇÃO Mesmo sendo um bioma com todas essas belezas e riquezas naturais, é também um dos mais ameaçados e devastados do país e sua conservação é um grande desafio. As áreas com remanescentes da Mata Atlântica se concentram na faixa litorânea e na região das montanhas, locais onde há muita especulação imobiliária e avanço da urbanização. Entre 2019 e 2020, o desmatamento da Mata Atlântica se intensificou em dez dos 17 estados que compreendem o bioma: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte, Goiás, Rio de Janeiro, Mato

Grosso do Sul, São Paulo e Espírito Santo. Nos quatro últimos (RJ, MS, SP e ES), o aumento foi de mais de 100% em relação ao período anterior – sendo que em São Paulo e no Espírito Santo este ultrapassou 400%. (As informações são do Atlas da Mata Atlântica, estudo realizado desde 1989 pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Para o pesquisador, as florestas da Mata Atlântica sofrem principalmente com o des-

“A diminuição da biodiversidade afeta todo o ecossistema, desde a qualidade do ar, a qualidade dos recursos hídricos, a própria produção agrícola. E isso tem relação direta com as abelhas, que estão desaparecendo”

O Presidente do Ibramar, Claudio Antonio Leal, na RPPN Uruçu Capixaba

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Claudio Antonio Leal Presidente do Ibramar

Foto de Arquivo Pessoal


Crédito: Instituto Ibramar

Samambaia Açu (Dicksonia sellowiana) da RPPN Uruçu Capixaba

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matamento e como consequências dessas perdas de vegetação, pode-se destacar a erosão do solo, a morte de várias espécies de animais e vegetais, a alteração no microclima da região desmatada, o assoreamento dos rios e a seca de nascentes. E essas perdas e alterações também têm impactos diretos na nossa vida. “Devido a esses problemas, a população pode ser afetada com a falta de água, aumento na conta de energia elétrica, perdas de empregos com o ecoturismo e perda de plantações, por causa da diminuição de animais polinizadores.”, explica. PRESERVAR AS ABELHAS É PRESERVAR A MATA ATLÂNTICA Um dos trabalhos pela preservação da Mata Atlântica que merece destaque é do Ibramar (Instituto Brasileiro dos Recursos Ambientais e Assessoria Rural), que surgiu em 2008 e possui a missão de pesquisar, proteger, preservar e recuperar o patrimônio ambiental, buscando o desenvolvimento sustentável com participação e inclusão social. Entre os projetos do Instituto estão o “Uru-

çu Capixaba”, que tem como propósito a proteção da Mata Atlântica no município de Domingos Martins por meio da conservação das abelhas conhecidas como “Uruçu Capixaba” ou “Melipona Capixaba”, uma espécie de abelha sem ferrão, vital para a polinização e manutenção da biodiversidade e que está incluída na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção.

“Com a devastação da Mata Atlântica, a população pode ser afetada com a falta de água, aumento na conta de energia elétrica, perdas de empregos com o ecoturismo e perda de plantações, por causa da diminuição de animais polinizadores”

O biólogo Daniel Gosser Motta em coleta para análise quantitativa do fitoplâncton, utilizando o equipamento chamado de garrafa de Van Dorn.

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Daniel Gosser Motta Biólogo

Foto de Arquivo Pessoal


A proteção do bioma e das abelhas está intimamente ligada, já que o avanço do desmatamento é um dos fatores que tornam a espécie vulnerável. O projeto inclui o plantio de mudas nativas, revitalização de nascentes e implantação de caixas secas para a contenção da erosão nos córregos locais. “A diminuição da biodiversidade afeta todo o ecossistema, desde a qualidade do ar e dos recursos hídricos, além da própria produção agrícola. E isso tem relação direta com as abelhas, que estão desaparecendo. Segundo Einstein, se as abelhas forem dizimadas, em 4 anos a terra entra em colapso, porque elas são responsáveis pela polinização, por todo o ciclo reprodutivo e de fomento da biodiversidade de pequenos insetos e da produção agrícola e, portanto, pela nossa alimentação”, explica o geólogo e Presidente do Ibramar, Claudio Antonio Leal. Um dos pontos de preservação das abelhas destacado pelo pesquisador é a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Uruçu Capixaba, que é gerida pelo Ibramar. A área da RPPN foi adquirida em 2015 e está situada na região de montanhas do Espírito Santo,

“Com a Mata Atlântica é mais delicado, porque ela se encontra no metro quadrado mais caro do Brasil, que são as regiões litorâneas do Sudeste, onde a ocupação urbana é crescente” Claudio Antonio Leal Presidente do Ibramar

fazendo parte do chamado “Cinturão Verde”, com predomínio do Bioma Mata Atlântica. O local possui uma biodiversidade riquíssima e abriga algumas espécies da fauna e flora em risco de extinção. “Este é o momento para nos unirmos em defesa da Mata Atlântica que grita por socorro. Há espécies vegetais com um risco de extinção muito grande como o Pau Brasil, Pinheiro do Paraná, Jequitibá Rosa, Peroba, Mogno. Entre os animais estão o jacaré de papo amarelo, tamanduá-bandeira, a onça pintada, ararinha azul, que esteve praticamente extinta mas graças a um trabalho de pessoas dedicadas conseguiram resgatar, o lobo-guará, que até virou nota, mas nada foi feito pela sua preservação”, completa Claudio Antonio. E já estamos sentindo os impactos e um deles é o aumento na conta de luz, um reflexo direto da devastação e da falta de políticas públicas de proteção ambiental. O geólogo explica que a questão da Mata Atlântica é um pouco diferente dos outros biomas como a Amazônia e o Cerrado, que também se encontram ameaçados, mas há mais ações consolidadas em sua proteção, inclusive recebem mais atenção na mídia. “Com a Mata Atlântica é mais delicado, porque ela se encontra no metro quadrado mais caro do Brasil, que são as regiões litorâneas do sudeste onde a ocupação urbana é crescente”. Para sermos parte da cura, é preciso agirmos juntos. Afinal, quanto mais saudáveis forem os ecossistemas, mais saudável será o planeta e nós que vivemos nele. E a convocação da ONU para a restauração dos ecossistemas deve ser atendida em todo mundo e vista como uma oportunidade para que projetos de reflorestamento e de preservação ganhem mais apoio e visibilidade, resultando em benefícios ambientais, sociais e econômicos para as comunidades e para o planeta.

“A convocação da ONU para a restauração dos ecossistemas deve ser atendida por todos nós” 15


Crédito: Instituto Ibramar

Remanescente de Mata Atlântica da RPPN Uruçu Capixaba

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A CIÊNCIA PELA CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE ESCOLA DE DOMINGOS MARTINS PROMOVE FEIRA DE CIÊNCIAS COM OLHAR PARA O PENSAMENTO COLETIVO E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL Por Lívia Corbellari Buscando estimular uma visão de mundo mais coletiva e sustentável, a Escola Estadual Gisela Salloker Fayet (FECIEG), no distrito de Paraju, em Domingos Martins, desenvolve a 17 anos uma Feira de Ciências, que faz parte do Programa de Educação Científica da Escola. Durante todos esses anos, muitos alunos e professores contribuíram com a Feira que já faz parte da história da escola. É o caso da professora de Língua Portuguesa, Carina Luzia Borghardt, que participou da Feira como aluna e nos últimos anos teve a experiência de estar também na outra ponta do projeto, como professora e orientadora. “A participação de todos é muito positiva e todos se dedicam ao máximo, além de envolverem as próprias famílias no processo.

Como professora, consigo perceber a evolução dos alunos e alunas de uma feira para a outra e como, juntos, vamos construindo saberes científicos, desenvolvendo habilidades para identificar e resolver problemas

“Como professora, consigo perceber a evolução dos alunos e alunas de uma feira para a outra e como, juntos, vamos desenvolvendo habilidades para identificar e resolver problemas” Carina Luzia Borghardt Professora da Escola Estadual Gisela Salloker Fayet

Feira de Ciências da Escola Estadual Gisela Salloker Fayet, de 2018, com o tema “Ciência para a redução de desigualdades”

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Foto de Arquivo da Escola Estadual Gisela Salloker Fayet


Foto de Arquivo da Escola Estadual Gisela Salloker Fayet

que nos afetam diretamente”, explica Carina. A Feira de Ciências é fundamentada na metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP/PBL), na qual os estudantes são incentivados a identificar problemas de seu cotidiano por meio da investigação, desenvolvendo roteiros de estudo e pesquisa seguidos de possíveis soluções. Para os alunos significa, principalmente, a formação do olhar crítico para aspectos sociais e ambientais. A aluna Nayara Stein Bickel, do 2° do Ensino Médio, conta que a forma que ela olha para o mundo mudou muito e que agora ela consegue identificar

“A Feira de Ciências da nossa escola veio comprovando cada vez mais que nós enquanto cidadãos, somos capazes de agir de forma sustentável e preservar nosso planeta” Kayque Sthur Aluno da Escola Estadual Gisela Salloker Fayet

com mais clareza as adversidades que as pessoas e o ambiente ao seu redor estão passando. “Eu adquiri muito muito conhecimento por meio da Feira de Ciências, principalmente no ano de 2017, quando eu e meu grupo fizemos um desidratador solar caseiro, provando que é possível aumentar a ingestão de fibras e nutrientes utilizando um desidratador feito com materiais simples”. O aluno Kayque Sthur, do 3° ano do Ensino Médio, complementa que a Feira também foi importante para desenvolver o trabalho de forma coletiva e envolvendo diversas disciplinas de uma vez. “Com várias formas de buscas e pesquisas que realizamos, acabamos absorvendo informações que nunca saberíamos se não fosse a Feira. Como é um evento que envolve as diversas áreas de conhecimento que se tem dentro do ambiente escolar, aprendemos a trabalhar com todas juntas em um único projeto”. Devido a pandemia, a última edição da Feira aconteceu em 2018 com o tema “Ciência para a redução de desigualdades”, porém há planos de continuar com o evento quando a situação normalizar e todos estiverem vacinados. Durante os dois dias do evento,

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foram expostos 34 projetos com propostas de alternativas para o desenvolvimento social e econômico da região. RECONHECIMENTO INTERNACIONAL Em 2016, um dos projetos da Feira de Ciência recebeu o prêmio da Feira Internacional de Ciência Aplicada, Invenções e Inovações (InnovaCities), que é organizada pela Associação Brasileira Internacional de Inventores, Cientistas e Empreendedores Inovadores (ABIPIR).

Em 2016, um dos projetos da Feira de Ciência recebeu o prêmio da Feira Internacional de Ciência Aplicada, Invenções e Inovações (InnovaCities), que é organizada pela Associação Brasileira Internacional de Inventores, Cientistas e Empreendedores Inovadores (ABIPIR)

As estudantes da escola estadual na época, Aléxia Gomes Carvalho, Danieli de Souza Borsonelli, Estela Littig Boecker e Gabrielly Caçandre, desenvolveram o trabalho “Elaboração de condimento para carnes a partir da fumaça de carvoaria”. O trabalho começou na carvoaria do tio de uma delas, onde foi identificado um líquido que saia do cano do forno de carvão. A partir de estudos, elas descobriram que o líquido poderia ser usado como tempero. Com foco em atender as necessidades das pessoas e contribuir com a sustentabilidade, a Feira de Ciências da Escola Estadual Gisela Salloker Fayet tem contribuído para a melhoria da sua região. E o aprendizado é de mão dupla, já que os visitantes da Feira também são impactados pelos projetos que eles podem aproveitar e os adaptar para as suas realidades. “A Feira de Ciências da nossa escola veio comprovando cada vez mais que nós enquanto cidadãos, somos capazes de agir de forma sustentável e preservar nosso planeta. Por meio de simples ações, como utilizar fontes renováveis de energia, ter a própria horta orgânica e reutilizar a água, que promovem a conservação do planeta e a melhoria na qualidade de vida de toda a população”, finaliza Kayque. Foto de Arquivo da Escola Estadual Gisela Salloker Fayet

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C I N E M A E P R E S E R V A Ç Ã O P E L A A M É R I C A L A T I N A CONHEÇA UM POUCO MAIS SOBRE OS PRINCIPAIS FESTIVAIS DE CINEMA AMBIENTAL ESPALHADOS PELO NOSSO PAÍS O cinema é um importante meio para a educação ambiental, por meio dos filmes podemos conhecer novas realidades e novas formas de pensar e agir. Preparamos uma lista com os principais Festivais de Cinema Ambiental do nosso país para vocês explorarem a diversidade do cinema produzido no Brasil.

Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) Um dos mais importantes festivais de cinema do cenário nacional. Desenvolvido pela Secretaria de Cultura de Goiás, o FICA nasceu com a motivação de propagar as potencialidades do estado e já possui 21 edições realizadas, sendo uma grande amostragem do cinema ambiental de todo o mundo. O Festival exibe e premia filmes cuja temática é a defesa da qualidade de vida na Terra. Saiba mais: www.fica.go.gov.br

Festival Pan-Amazônico de Cinema - Amazônia Doc

Com um recorte único no Brasil, o festival tem foco na produção de cinema documentário e de ficção dos nove países que compõem a região amazônica: Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (França). Mesmo que a curadoria não seja apenas voltada para produções com temas ambientais, é uma experiência rica de conhecer filmes que retratam realidades e circunstâncias tão especiais e que possuem uma circulação quase inexistente pelo nosso país. Saiba mais: www.amazoniadoc.com.br

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Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental ECOCINE - Festival Internacional de Cinema Ambiental e Direitos Humanos Nascido em 1992, junto com a ECO 92, a Conferência Mundial de Meio Ambiente que foi realizada no Rio de Janeiro, o ECOCINE foi o primeiro festival de cinema ambiental criado no Brasil, na cidade de São Sebastião (SP). Por meio do audiovisual, o evento dedica-se à reflexão, produção, fomento e debates sobre a natureza e a vida humana. Em 2022, o Festival completa 30 anos, e as inscrições já estão abertas para obras produzidas a partir de 1992. Serão aceitos filmes sobre as temáticas Meio Ambiente e Direitos Humanos, nos formatos ficção, animação/live action e documentário, de curtas, médias e longas-metragens.

Realizada pela ONG Ecofalante, a Mostra é um evento anual que acontece de forma itinerante desde 2012. Neste ano, a 10ª edição da Mostra Ecofalante aconteceu em setembro, de forma totalmente online e reuniu 110 filmes com temática ambiental de 40 países. 30 deles inéditos no Brasil. Entre os filmes nacionais, um dos destaques foi a pré-estreia mundial de “A Bolsa ou a Vida”, do diretor Silvio Tendler. O longa propõe uma reflexão sobre o que virá depois da pandemia e traz entrevistas com o escritor Ailton Krenak, o padre Júlio Lancelotti, entre outros. Saiba mais: www.ecofalante.org.br

Saiba mais: www.ecocine.eco.br

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Festival de Cinema Ambiental Cine.Ema

Cineamazônia - Festival de Cinema Ambiental Em dezembro de 2020, o Festival realizou a sua 17ª edição de forma totalmente online com homenagem à Cinemateca Brasileira. Porém, o evento tem caráter itinerante, levando cultura à comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas, nas praças centrais e nos subúrbios das cidades e nas margens dos rios da Amazônia, entre outros locais. O objetivo central do Cineamazônia é fazer a junção da sétima arte com o meio ambiente, divulgando mensagens de sustentabilidade e respeito à natureza e aos povos nativos. Saiba mais: www.cineamazonia.com.br

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O Cine.Ema é um projeto que ganha as telas do país com a difusão de mostras onlines de curtas-metragens. Em paralelo, promove educação ambiental junto à comunidades que margeiam patrimônios naturais brasileiros a partir de oficinas de vídeo, fotografia, palestras, cinema ambiental, entre outros. Não por acaso, surgiu no distrito de Burarama, Cachoeiro de Itapemirim – ES, que faz parte de um importante corredor ecológico do sul do estado, e desde sua criação, em 2015, figura como o único festival nacional do estado voltado às discussões ambientais. Saiba mais: www.cineema.com.br


Guaporé Festival Internacional de Cinema Ambiental O Festival de Porto Velho (RO) teve a sua estreia este ano em formato virtual, durante o mês de abril. Idealizado com o intuito de difundir as belezas da região e as singularidades das tradições de comunidades presentes ao longo do rio Guaporé, o festival já se tornou um evento importante para a cultura do estado e para a população ribeirinha, composta por moradores do Vale do Guaporé, além de povos quilombolas e bolivianos, já que o rio delimita a fronteira entre Brasil e Bolívia. Saiba mais: www.guaporefestival.com.br

CineAlter: Festival de Cinema Latino-Americano de Alter do Chão Com a edição de 2021 marcada para novembro em formato híbrida, a estreia do Festival paraense vai contar com a exibição de mais de 50 filmes produzidos no Brasil e em nações latino-americanas, entre longas e curtasmetragens, priorizando um recorte identitário e territorial, istribuídos em três mostras competitivas, dentre elas uma de clássicos da Amazônia e uma mostra paraense. Saiba mais: www.cinealter.com

Dica extra Quer conhecer mais produções audiovisuais da região amazônica? A nossa dica é o AmazôniaFLIX, uma plataforma de “streaming” de Filmes e Séries para difundir e internacionalizar o acesso aos filmes produzidos pelos nove países da região Pan-Amazônica. O cadastro é grátis: www.amazoniaflix.com.br

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CAUSOS MIRABOLANTES PODCAST “HISTÓRIAS PRA BOI DORMIR” RESGATA FANTASIAS INTERIORANAS PARA CRIANÇAS Por Lívia Corbellari A contação de história ganhou formatos tecnológicos, mas sem perder a ternura e a diversão, com o podcast “Histórias pra boi dormir”. Produzido pelo Coletivo Campo Aberto e pela Tangerinas do Deserto Produções, ambas de Vargem Alta, o projeto propõe uma experiência lúdica e cheia de aprendizados para as crianças. As histórias partem da perspectiva do personagem João, um menino de 5 anos, que ganha um gravador de seus pais e decide registrar as histórias contadas pelo seu avô Mário. Em seis episódios, são apresentados passeios sonoros por temas como ciências, gênero, amizade, preservação, no qual bichos e outros elementos do ambiente rural se transformam de modo fantasioso.

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E essa diversidade e o tom divertido já podem ser notados nos títulos dos episódios: O dia em que coloquei o boi pra dormir; A capivara que virou astronauta; A galinha-galo; Nasceu banana no pé de café; O lagarto que virou pedra; A carona que dei pro bode.

A ideia surgiu da parceria dos atores Victorhugo Amorim e Weber Cooper e da diretora Sara Passabon Amorim junto com a vontade de transformar o podcast em um instrumento tecnológico para promover referências regionais de forma lúdica. “Nosso desejo era promover uma experiência de sentidos, sobretudo o sonoro-motor em que a criança possa ouvir e se divertir com seus familiares e amigos”, conta a diretora do projeto, Sara Passabon. Sara também destaca que todas as histórias que compõem o podcast são originais e inéditas e trazem referências capixabas como Itaúnas e a Pedra Azul e vargem-altenses como as alusões interioranas e a animais típicos da região. A intenção era fugir das narrativas limitadas e convencionais dos contos de fadas e promover uma experiência diferente em um contexto e vivência de saberes de nossa terra. Outro ponto interessante do “Histórias pra boi dormir” é a sua importância em um contexto de pandemia, no qual as crianças pre-


Imagem ilustrativa do projeto “História pra boi dormir”

cisam ficar mais em casa e atividades como o podcast e outros canais de contação de histórias criam momentos lúdicos e de afeto entre as famílias. Sara Passabon ressalta também que hoje vivemos um momento em que milhares de atrações na internet são oferecidas para as crianças, mas é importante que os pais façam uma curadoria criteriosa na hora de selecionar materiais de qualidade para os seus pequenos. Nesse sentido, a equipe que criou e produziu o podcast se comprometeu com uma série de cuidados em todas as etapas de criação com muito respeito pelo mundo das crianças e o desejo de encantá-las. Entre essas responsabilidades, Sara aponta a importância de adequar os temas e a linguagem para a faixa-etária (o podcast foi criado para crianças de 0 a 6 anos). “O cuidado com a forma em que essa história vai ser apresentada é fundamental, pois afinal são as crianças que devem ser atraídas por esse produto”, completa.

trabalhada a questão de percepção dos sons ambientes da roça, bem como a busca da voz para cada personagem. Dessa forma a escrita foi construída também a partir de uma pesquisa performática e cênica. E também durante as gravações a escrita de histórias eram revistas à medida que cada episódio era gravado selecionando a melhor forma de se comunicar/expressar/apresentar uma história para as crianças”, conta Sara Passabon. Além do podcast, o projeto também lançou um material didático-pedagógico gratuito, em formato digital, para auxiliar profissionais e pais que desejam usar as histórias em contextos educativos. O material pode ser acessado no site www.historiaspraboidormir.com.br Todos os episódios estão disponíveis de forma gratuita nas plataformas do YouTube, Spotify e Deezer. Acesse pelo QR CODE:

Para isso, o projeto contou com um intenso processo de pesquisa que teve como principal fonte as próprias crianças, parte da família dos produtores do projeto e com as idades dentro da faixa-etária proposta. Além das vivências dos roteiristas e o contato com moradores locais, houve também uma imersão de toda a equipe com o ambiente rural. “Nessa imersão, sob a minha direção, foi

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TRÊS PODERES I. Gorjeio Assovia mistérios ao pé do ouvido Ouriça fios sobre a tez Alastra arrepios sob a pele-tecido. II. Rumorejo Envolve de notas sonoras olfativas tímidos desejos Remove o antigo e secreto jazigo Enquanto eleva novo abrigo. III. Marulho Sobreencapelado índigo Sob pressão e fricção Soçobram naus e cais. A mesma força que abate e erige Por mais exige. No paradoxo de Teseu Na escrita de Plutarco Na dissolução do eu (em universal solvente) Somos todos barcos.

Sávio Lopes, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim/ES, terra de Luís Capucho, Luz del Fuego e Rubão Sabino. Atualmente, reside em Jaciguá, distrito de Vargem Alta. É professor há oito anos e escreve poesia há onze. Teve seus primeiros poemas selecionados em 2020, para a Antologia “Poetas do Brasil”, organizada pela Editora Expressividade (SC). Em 2021, teve sua plaquete “Samples” publicada pela Editora Primata (SP), sendo esta sua primeira publicação individual.

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A ARTE DE CUIDAR DO MEIO AMBIENTE

Por Gustavo Miniguite De Nadai e Luiz Fernando Gava Fernandes O senhor Agostinho Agrizzi é um personagem marcante na história de Vargem Alta. Vereador, líder comunitário e importante apoiador de causas nobres, destacou-se em diversas áreas como a arte, a religião e (no assunto desta coluna) o meio ambiente. Sua atuação se baseava em dois importantes pilares: a sensibilização por meio das peças teatrais escritas e dirigidas por ele; bem como a ação de produzir, distribuir e plantar mudas pelas comunidades. Em primeiro lugar, percebe-se que a inclinação artística do ex-vereador vargem-altense não se limitava à produção e organização da famosa Encenação da Paixão de Cristo. Afinal, utilizava o método teatral para culturizar os munícipes acerca das questões ambientais. Essa atividade servia de base para semear (perdoem-me o trocadilho) nos corações da comunidade o desejo de contribuir com a causa. Ademais, longe de se contentar apenas com a questão pedagógica, “arregaçava as mangas” e se dedicava a produzir mudas. Sua obra é percebida até hoje. Com um simples passeio pela praça de Jaciguá, vê-se as árvores ainda resistindo ao tempo e à ação humana. Em seu trabalho, enquanto presidente da Comissão Ecológica, mobilizou a comunidade em torno do projeto que tinha duplo caráter: o óbvio de melhorar a paisagem e o ambiente com as novas árvores, mas também o social,visto que pagava às crianças carentes um pequeno ordenado pelo enchimento das sacolas que receberiam as sementes. Ou seja,transformava o

Gustavo Miniguite De Nadai é Diretor da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Agostinho Agrizzi”, localizada em Jaciguá, Vargem Alta-ES

cenário da cidade e a realidade daqueles que mais necessitavam. Nota-se, portanto, como a dedicação do indivíduo afeta o coletivo. Seu Agostinho Agrizzi, ao querer cuidar do meio ambiente e embelezá-lo, reuniu um povo, que em suma era carente, em torno de uma atividade transformadora. Ironicamente em um de seus textos, o nosso homenageado disse que o maior inimigo do ambiente é o ser humano. Porém, proponho uma mudança de perspectiva e pode-se constatar que bons homens são heróis da natureza.

O ambientalista Agostinho Agrizzi nasceu no dia 7 de janeiro de 1917 e faleceu no dia 29 de setembro, em 2001

Luiz Fernando Gava Fernandes é Professor de Língua Portuguesa da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Agostinho Agrizzi”, localizada em Jaciguá, Vargem Alta-ES

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UM VOO COM OS PÁSSAROS DO CAPARAÓ COM LINHA, LÃ, TECIDO E MUITO CARINHO PELA NATUREZA, DIVERSAS ESPÉCIES DE PÁSSAROS SE TRANSFORMAM EM LINDAS PEÇAS DE ARTESANATO Por Lívia Corbellari

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Quem já teve a oportunidade de passar horas observando pássaros, sabe que esses pequenos animais são encantadores com suas cores e cantos, e seduzem qualquer um com a graça dos seus movimentos. Ainda mais na região do Caparaó, que abriga quase 400 espécies catalogadas, que fascinam turistas e moradores.

Rodeadas pelas belezas da região, um grupo de mulheres de Divino de São Lourenço decidiu se inspirar na diversidade dos pássaros para começar um belo trabalho de artesanato. O projeto surgiu depois que as irmãs Josiane e Celma Pirovani participaram de uma consultoria do SEBRAE, em 2016, e, por já possuírem experiência com


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bordado, tiveram a ideia de criar pequenas esculturas têxteis dos pássaros, que representam a identidade cultural e biodiversidade do local. “Para começar, fizemos uma intensa pesquisa na internet e também passamos a observar os pássaros com um olhar mais atento. Para escolhermos as primeiras espécies que iríamos trabalhar, contamos com a ajuda de um biólogo amigo nosso para que as representações ficassem bem fiéis. Juntos, chegamos a 9 espécies, eleitas pela beleza significativa, os cantos e também risco de extinção”, explica Josiane Pirovani. Depois da etapa de pesquisa, veio o momento da criação dos gráficos para os bordados, que, como se tratavam de pássaros originais, elas tiveram que criar do zero.

“Já ouvimos de muitas pessoas que só passaram a conhecer algumas espécies pelos nossos bordados ou nos agradecendo que, por meio dos pássaros de artesanato, começaram a prestar mais atenção nos pássaros ao seu redor” Josiane Pirovano Artesã

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“Essa foi uma etapa de muitos desafios e testes. Fizemos vários gráficos que não deram certo e tínhamos que começar tudo de novo, até que chegamos nas formas que queríamos e aí foi muita felicidade”, conta Josiane. DO ARTESANATO À PRESERVAÇÃO Entre os Bem-te-vi, Tiê-sangue, Canário-da-terra, Saira-sete-cores, Tangará tucanuçu, Tucano-de-bico-verde, Arara-azul-de-lear, Arara-canindé, Arara-vermelha,Tico-tico, Sabiá-laranjeira, Corrupião e outros, hoje, já são mais de 100 espécies que foram retratadas em cores e formas As mulheres por trás dos Pássaros do Caparaó

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nas técnicas de bordado, ponto cruz, bordado livre e crochê. E, além das irmãs, Josiane e Celma Pirovani, o grupo é composto por Franciane Pirovani, Joquebedis Pirovani, Pamella Dias, Lidiene Aparecida e Karolaine Aparecida, que se juntaram ao grupo mais recentemente por causa da grande demanda. “Os pássaros chamam a atenção de todos, adultos e crianças, e depois que começamos a divulgação na internet, passamos a receber pedidos para fazermos os pássaros de estimação das pessoas”, diz Josiane. Para a artesã, o trabalho também mudou a sua

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forma de observar e se relacionar com a natureza com mais carinho, “toda a vez que ouço um canto diferente corro para pegar o binóculo e observar”. O grande interesse dos turistas pelas miniaturas também desperta a curiosidade e o cuidado pelos pássaros reais, principalmente nas crianças, que ganham os pequenos passarinhos de linhas como brinquedos e já aprendem sobre a diversidade das espécies e a importância da preservação. “A partir do artesanato, sinto que surgiram muitas oportunidades para falarmos sobre as espécies ameaçadas e a sua proteção,

tanto entre nós artesãs quanto com os outros que se interessam pelo trabalho. Já ouvimos de muitas pessoas que só passaram a conhecer algumas espécies pelos nossos bordados ou nos agradecendo que, por meio dos pássaros de artesanato, começaram a prestar mais atenção nos pássaros ao seu redor”, completa Josiane.

Conheça:

www.instagram.com/passaroscaparao www.instagram.com/josi_passaros_caparao

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A NATUREZA É A MAIOR FONTE DE CURA E A NOSSA COZINHA, A FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO MAIS PRÓXIMA Por Elysanna Louzada “Rogai por nós” ou Ora-pró-nóbis é uma planta que costumava fazer parte da mesa dos senhores mineiros na época do ciclo do ouro em Minas Gerais. Chegando a alcançar até 10 metros de altura, o arbusto também era muito utilizado nos pátios das igrejas como cerca viva. Do séc. XVIII para cá, a fama do ora-pro-nóbis se espalhou Brasil afora. Prova de sua importância cultural é a existência de um festival dedicado à planta na cidade mineira de Sabará, que acontece, geralmente, em maio. O ora-pro-nóbis é uma espécie fácil de ser cultivada, que gosta de sol e se propaga através de mudas que pegam com rapidez. Dá para cultivá-la até em um vaso na varanda. É só colocar algumas hastes para a ramagem subir. Em relação ao seu valor nutricional, o ora-pro-nóbis é um vegetal de baixo custo que foi apelidado de “carne de pobre” devido à sua concentração de proteínas. Mas não é apenas esse nutriente que o faz ser tão rico. Ele também é fonte de fibras, vitamina C e minerais como cálcio, ferro, manganês e magnésio. Sendo assim, ele ajuda no funcionamento do intestino, melhora a imunidade e o sistema cardiovascular, tem ação anti-inflamatória, é antioxidante e melhora a saúde óssea. Um verdadeiro alimento funcional que facilmente pode ser incorporado a inúmeras receitas. E para quem acha que suas folhas têm sabor forte, fique tranquilo, o gosto é

suave e, quando incorporado a outros ingredientes, não deixa gosto residual, o que faz dele um item bem versátil. Seguem algumas dicas de como manipular esse presente da natureza na sua cozinha. Suco: bater em torno de 10 folhas juntamente com o limão para uma jarra de suco. Com ovos: cortar as folhas (quantidade a gosto) e incorporá-las na omelete ou no ovo mexido. No feijão: picar 06 folhas bem fininhas e misturá-las ao feijão que será servido. Você verá que o caldo do feijão ficará delicioso e mais encorpado. Na salada: Picar como se fossem folhas de couve. Nesse caso, a flor, que também é comestível, também pode ser usada. Chá: com as folhas e/ou flores. Molho de salada: Picar a gosto e bem fininho: folhas de ora-pro-nóbis, salsa, hortelã, manjericão, melissa. Acrescentar 1 dente de alho e meia cebola branca média picadinhos, suco de meio limão (qualquer espécie), azeite à vontade e sal. Esse tempero pode ser guardado na geladeira por até uma semana, desde que leve para mesa apenas a porção a ser consumida em cada refeição.

Elysanna Louzada é escritora capixaba de livros para os públicos infantil, juvenil e adulto e ganhadora da Comenda Rubem Braga. Professora do Ensino Fundamental e Médio por 10 anos, formada em Letras-Inglês-Literatura, ela iniciou sua carreira como escritora em 2011 com o infantil, “Eu sou o Galo”, inspirado em sua experiência de mãe. Casada, tem dois filhos e mora em Vargem Alta.

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A FANTÁSTICA FÁBRICA DE BISCOITOS VALTER BRAUM, FUNDADOR DA KEBIS, EM DOMINGOS MARTINS, ESTÁ FAZENDO A SUA PARTE NO REFLORESTAMENTO DA MATA ATLÂNTICA Por Lívia Corbellari Colocar em prática atitudes sustentáveis dentro das empresas ainda é um processo tímido, mas que se torna cada vez mais essencial para a preservação do planeta e para a sobrevivência de todos nós. Minimizar os impactos ambientais dentro das empresas é um investimento na vida e, caminhando nesse sentido, a fábrica de biscoitos Kebis, de Domingos Martins, já está um passo à frente.

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“Eu sou de origem pomerana e o amor pela natureza vem de berço, preservar a água, a terra, tudo isso eu aprendi ainda criança. Quando criei a empresa, torná-la sustentável foi algo natural para mim. Sabia que os impactos que eu geraria seriam grandes e que precisava fazer algo para minimizar”, explica Valter Braum, sócio-gerente da Kebis, que reforça que os outros sócios, de origem italiana, também tiveram o amor pela

natureza como herança de família. Inaugurada em 1994, a empresa adotou desde o seu início ações de reciclagem, separação e descarte correto do lixo, economia de luz e energia e diminuição do uso de plástico e da produção de lixo em geral. Logo, os sócios sentiram necessidade de

“O dia em que o mundo tratar a sustentabilidade com a mesma importância que trata a tecnologia, acredito que teremos um futuro melhor”


fazer mais e entraram em contato com quatro pilares de desenvolvimento sustentável da ONU: ser economicamente viável, ser

“Todos os nossos clientes institucionais, retornam para a gente as sacolinhas vazias que são transformadas em mudas de plantas nativas para doação e reflorestamento na Mata Atlantica” ecologicamente correto, ser socialmente justo e ser culturalmente diverso. Para cada um desses pilares, a empresa se dedica a projetos diferentes. Dentro do pilar “ser economicamente viável” estão as ações de redução de lixo. Começando pelos copos descartáveis, que foram abolidos na empresa, onde todos os funcionários possuem copos de vidros personalizados. Há também a redução do uso das caixas de papelão. Sempre que possível são usadas caixas de plástico reutilizáveis na entrega ou as caixas são devolvidas para a reciclagem.

“Nesse caso, contamos com a logística reversa para recolher as caixas vazias e também as sacolinhas das embalagens dos biscoitos. Todos os nossos clientes institucionais retornam para a gente as sacolinhas vazias que são transformadas em mudas de plantas nativas para doação e reflorestamento da Mata Atlantica”, explica Braum. O segundo pilar, “ser ecologicamente correto”, está diretamente ligado ao primeiro. Cada embalagem de biscoito recolhida é reutilizada para embrulhar as mudas. Em 2020, foram 4.235 sacolas recolhidas e 3.840 mudas doadas e desde 2016, quando o projeto começou e até o ano de 2020, foram 22.294 mudas distribuídas. A maioria das mudas são de Ipê-amarelo, mas há também de Cedro e Jacarandá. Braum explica que no começo, as mudas eram simplesmente doadas, mas de alguns anos para cá ele tem usado o projeto para arrecadar recursos para creches, asilos, igrejas, abrigos e outras instituições. “Durante os eventos, deixo ao lado das mudas, uma caixa para doações espontâneas para esse locais, e todos que doam ganham uma muda”. Todo o processo de produção das mudas é feito de forma coletiva pelos colaboradores da empresa, que participam de todas as etapas, desde a semeadura, colheita

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e o preparo das mudas nas sacolas plásticas. “São as mãos dos nossos funcionários trabalhando pela preservação do meio ambiente e ainda gerando recursos para as instituições”, afirma. O terceiro pilar, “ser socialmente justo”, é sobre educação ambiental. E nesse sentido, a empresa está sempre aberta para receber escolas, outros empresários, instituições e colaboradores em geral para compartilhar os saberes e inspirar práticas sustentáveis em outros locais.

“Depois de 27 anos de trabalho e de benção, dormimos igual a um passarinho. Sei que o que eu faço é apenas uma gota no oceano, mas pelo menos estamos sendo proativos com a melhora”

Há também um quarto pilar, que foi instituído pela ONU mais recentemente, mas que a Kebis já segue que é “ser culturalmente diverso”. “Pregamos o respeito entre os funcionários e não toleramos preconceito de nenhuma forma. Tratamos todos como iguais e não fazermos restrição de idade e de experiências para algumas funções na empresa, para darmos oportunidade de trabalho para quem precisa”, explica Valter Braum. Com muito orgulho de ser o fundador de uma empresa capixaba e comprometida com os quatro pilares de sustentabilidade da ONU, Braum conta que leva essas práticas para dentro de casa também, reduzindo o uso de plásticos, usando sempre ecobags na feira, separando o lixo para a reciclagem e economizando água e energia. Para ele, não podemos esquecer nunca que todos nós temos responsabilidades pelos impactos que geramos e reduzir esses impactos faz parte da nossa passagem pela Terra. “Depois de 27 anos de trabalho e de benção, dormimos igual a um passarinho. Sei que o que eu faço é apenas uma gota no oceano, mas pelo menos estamos sendo proativos com a melhora”, afirma.

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Macaco Prego

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P O E S I A

V E R D E

UNINDO NATUREZA E LITERATURA, ESCRITORA CAPIXABA PROMOVE A PRESERVAÇÃO NA RESERVA NATURAL RELUZ Por Lívia Corbellari As belezas naturais sempre foram - e ainda são - inspiração para inúmeros poetas e artistas. Árvores, pássaros, cachoeiras, borboletas, flores, montanhas e tantas outras paisagens e animais estão presentes na nossa literatura mostrando o quanto homens, mulheres e natureza estão em comunhão. Assim pensa a escritora e ambientalista Renata Bomfim.

assegurada em escritura ao se tornar RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), em 2017. A Reserva se encontra numa fração remanescente de Mata Atlântica, onde há uma rica biodiversidade que precisa ser cuidada.

“Há árvores de variadas espécies, orquídeas, uma família grande macacos-prego-de-crista, que estão em grande vulnerabilidade, jacupembas, tatus, cobras e tucanos, Presidente do Instituto Ambiental Reluz, japus e pássaros, além de polinizadores que atua principalmente na proteção da como as abelhas melíponas. Preservar essa Reserva Natural Reluz, localizada em Marechal Floriano, Renata Bomfim nos conta que biodiversidade é assegurar a saúde no campo e, especialmente, na cidade, visto que a um dos principais objetivos do Instituto é floresta oferece uma série de serviços ama criação de material literário de educação bientais essenciais à sociedade como a reambiental para ser distribuído nas escolas. gulação do clima, a proteção das nascentes “A minha vida está irremediavelmente unida que abastecem os rios, assegura a riqueza do solo e serve de refúgio para os animais ao tema ambiental. Na condição de prosilvestres que, hoje, já não tem como co-hafessora de literatura e poeta, passei a fazer bitar com o ser humano nas zonas urbanas”, palestras em escolas falando sobre o meio alerta Renata. ambiente utilizando como instrumento a poesia, pois, esse gênero possui a potência Diante disso, a RPPN Reluz não é aberta de tocar intimamente as pessoas”, afirma a à visitação, mas recebe pequenos grupos escritora. com objetivos educativos e artísticos, além disso, o Instituto também vem se preparanA Reserva Natural Reluz foi criada em 2007 do para iniciar a Residência Artística 2022 e possui cerca de quatro hectares, sendo para receber pesquisadores. Uma das mais que 90% dessa área teve a sua proteção

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importantes atividades é o acolhimento de animais vítimas de tráfico e maus-tratos apreendidos pelo IBAMA e pelos órgãos fiscalizadores. Há, também, um meliponário destinado à educação ambiental, um berçário de mudas e projetos realizados fora do espaço da RPPN como o Reluz na Escola e o Reluz na Estrada, que trabalha para conscientizar motoristas sobre a tragédia silenciosa que é o atropelamento de animais silvestres e domésticos nas rodovias.

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O CAMINHO DA PRESERVAÇÃO PELA LITERATURA O Instituto já nasceu tendo a literatura como uma estratégia de educação ambiental, especialmente pelo fato de ter no seu quadro de membros variados escritores capixabas como Ester Abreu Vieira de Oliveira, Vice-presidente do Instituto e atual Presidente da Academia Espírito-santense de Letras, Francisco Aurélio Ribeiro, como Diretor-Secretário, entre outros.

A escritora e presidente da Instituto Reluz, Renata Bomfim, na Reserva Natural Reluz

Capa do livro Coração Medusa

Dessa forma, a criação de um Clube de Leitura foi natural. Ainda em formação, o Instituto pretende reunir pessoas em torno da literatura e da causa ambiental e será aberto para todas e todos que sentem afinidade com o trabalho. A intenção é que em outubro deste ano, o coletivo de leitores conte com podcast, resenhas, lives e leituras de livros variados. Outra ação que Renata Bomfim realiza é reverter toda a verba da venda dos seus livros de poesia para os projetos da Reserva Natural Reluz. Como foi o “Colóquio das árvores” (2015) e, agora, com “O Coração da Medusa”, lançado em 2021. Para quem se interessou, os livros podem ser adquiridos aqui: www.ambientalreluz.com.br. “A Reserva Natural Reluz é um sonho que se realizou. Esse amor pelos animais nasceu comigo, desde criança eu sinto essa conexão com o mundo natural. Assim, a minha vida profissional, acadêmica e como escritora, foi se desenvolvendo junto com esse trabalho de bem-estar animal. Nunca me conformei com a destruição da natureza e dos animais, então eu percebi que precisava fazer algo mais”, finaliza Renata Bomfim.

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Leia um poema do livro “O Coração da Medusa”, de Renata Bomfim:


Casulo “A vida é esse cacho de lilás... Mais nada. O resto é perfume...” (Florbela Espanca) Não escrevo para o hoje. As palavras são casulos, introitos. Mistérios do dentro: cores indecifráveis, indecifráveis sentidos, borboletas virtuais que podem ser, podem não ser, carecem de..., Tudo sabem. Não satisfazer: DESESTABILIZAR, eis o projeto poético-patéticofrágil, frágil... Não responder! eis... Receba o silêncio, aceite o silêncio: CASULO. Acúmulo de subjetividades sem espaço para expressão. CASULO-SILÊNCIO. Não escrevo para o hoje planto, silenciosa, árvores. Cada poema escrito no susto, estranhamento, solidão, loucura, utopias que se estendem e derramam. Revolta! POEMA-CASULO-SILÊNCIO. A Mata Atlântica é o projeto final: poema-tatu poema-palmito Juçara, poema-flor da Acácia Poema-macaco poema-trinca-ferro, poema-xaxim, Não escrevo para o hoje. O afeto- memória salvará vestígios desses versos. Os casulos romperão longe dos meus olhos. Outras gerações conhecerão o poema que escrevi mas que nunca cheguei a conhecer.

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E N S I N A M E N T O S D A F L O R E S T A Por Karoline Fagundes das Neves Possatti Quando pensamos em escola, logo nos passa pela cabeça um local próprio para aprendizagem, contendo muitos estudantes, professores e toda uma equipe para fazer o aprendizado acontecer. O próprio dicionário Aurélio define escola como “estabelecimento que se destina ao ensino, público ou particular”. Entretanto, muitas vezes, nos esquecemos que, do lado de fora desse local chamado escola, podemos encontrar diversos lugares de ensinamento e, um deles, é a própria natureza cheia de seres vivos interagindo entre si e com o ambiente físico que os cerca. As escolas do Município de Domingos Martins são cercadas por fragmentos da Mata Atlântica, um dos maiores biomas brasileiros. É um bioma que contém grande diversidade de espécies, algumas delas endêmicas da própria região, ou seja, encontradas apenas na Mata Atlântica. Essa característica das escolas de Domingos Martins nos possibilita observar a natureza mais de perto. Entretanto passamos tantas vezes pelo mesmo local que nos torna automático e nem prestamos a atenção nas coisas que acontecem naquele pequeno pedaço de mata. Como comentei anteriormente, a Mata Atlântica é um bioma com muita diversidade e, infelizmente, muito ameaçado pelas ações do ser humano. Ainda assim, conseguimos observar uma pequena semente germinando, crescendo e, de acordo com o tempo de cada planta, tornando-se uma linda árvore tentando perpetuar a sua espécie. A todo momento a natureza, por

meio de seus processos, tenta se recuperar de qualquer impacto causado a ela. E disso, podemos tirar como lição que, mesmo em meio a um caos, ainda podemos ter esperança, resistência e persistência para tentar reverter aquilo que não está bem. As formas de vida encontradas na natureza são tão interessantes que, mesmo o mais simples dos organismos, possui a sua singularidade, complexidade e importância dentro do meio ambiente. As coisas na natureza funcionam com tanta harmonia, com tanto sincronismo que, se alguma espécie desaparecer de determinado local ou mesmo se for inserida em um lugar que não o seu de origem, poderá interferir no equilíbrio ecológico daquele lugar causando sérios problemas. Essas modificações acabam afetando não só as espécies daquela região, mas também afetam, direta ou indiretamente, o ser humano, deixando como ensinamento que assim como outros organismos, nós, seres humanos, também fazemos parte dessa natureza. Por esse motivo, devemos cuidar muito bem dela, que é nossa casa, o nosso lar. Se pararmos para analisar todos os ensinamentos que a natureza pode nos trazer escreveríamos um livro e, talvez, nem seja o suficiente. Já que acontecem tantas coisas nela. Ainda assim, com o pouco de reflexão que trouxe neste texto, eu posso afirmar que a natureza é nossa escola! Ela nos ensina a ter esperança, resistência, persistência e a cuidar daquilo que é nosso. Basta prestar a atenção aos seus detalhes e ouvir o que ela tem a nos dizer e ver o que ela tem a nos mostrar.

Karoline Fagundes das Neves Possatti é Licenciada em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Salesiano - UniSales. Atualmente atuo como professora de Ciências no Município de Domingos Martins.

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CONHEÇA OS TRABALHOS PREMIADOS NO CINE.EMA NAS ESCOLAS DE 2020 Fotografias e vídeos feitos a partir do celular. Textos poéticos e crônicas inspiradoras. O importante do Concurso Cine.Ema nas Escolas é deixar a imaginação correr e transformar uma ideia em um material que contribua para a consciência ambiental e para a preservação do meio ambiente. As melhores ideias ainda levam prêmios nas três categorias. Com o tema “A natureza sou eu”, o 1º Concurso de Fotografia, Vídeo e Texto do Festival Nacional de Cinema Ambiental do Espírito Santo – Edição Reserva, convidou professores e estudantes a olharem a natureza ao seu redor, enquanto responsabilidade compartilhada, e a refletirem sobre a natureza que mora dentro de cada um. O concurso premiou as três melhores iniciativas de cada categoria, que resultaram em registros fotográficos, vídeos de um minuto e histórias – em formato de redação, crônica, conto, poesia ou texto – produzidas por estudantes matriculados no Ensino Fundamental e Médio de escolas localizadas na região das Montanhas Capixabas. Professores e Unidades escolares mais participativas também levaram prêmios pelo engajamento. Confira os vencedores:

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