Coletânea de vivências realizadas na Escola do Meio Ambiente (EMA), Botucatu/SP
Coordenação e Organização: Eliana Maria Nicolini Gabriel Ilustração: Sibele Gimenez Queiroz Abril /2021
SUMÁRIO
Apresentação 03 Agradecimentos 04 O artesanato da Escola do Meio Ambiente: Reflexões sobre hábitos e reaproveitamento de materiais 05 Registros dos alunos do Ensino Fundamental II na Trilha da Cooperação da Escola do Meio Ambiente, Botucatu/SP: Ponte para Reflexões das Vivências na Natureza para Adolescentes 21 Vivência de acolhimento: uma forma de integração dos alunos do Ensino Fundamental I com a natureza da Escola do Meio Ambiente, Botucatu/ SP 32 Vivência de acolhimento dos alunos do Ensino Funcamental II antes da realização das trilhas na Escola do Meio Ambiente, localizada em Botucatu/SP 43 Sobre os autores 58
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Apresentação
Experiências multiplicadas “A única lição que é possível transmitir com beleza e receber com proveito, a única eterna, digna e valiosa: O respeito pela VIDA”.
Cecília Meireles
Paz e Bem! As vivências de educação ambiental aqui apresentadas foram, ao longo dos últimos quatro anos, se juntando e oferecendo a oportunidade de os colaboradores da Escola do Meio Ambiente (EMA) multiplicarem as experiências presenciadas na referida escola. Posso afirmar que foi com muita dedicação que orientei e coordenei as pesquisas presentes nesta publicação com o objetivo de desenhar o perfil dos trabalhos desenvolvidos na área de educação, baseados nas trilhas interpretativas realizadas na EMA. A organização da coletânea dos trabalhos, aqui publicados não tem uma sequência, ou seja, cada capítulo foi escrito de modo a permitir a leitura em separado dos mesmos. Desejo corresponder com o leitor desta publicação, proporcionandolhe o prazer da boa leitura. Para quem atua ou quer atuar na área de educação ambiental, espero que este material proporcione inspirações que ajudem no debate deste campo de conhecimento tão peculiar. Encerro desejando uma boa caminhada, a todos que se dispuserem a percorrer com amor os desafios da educação ambiental no Brasil. Abraço fraterno. Eliana Gabriel
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Agradecimentos
À Secretaria Municipal de Educação de Botucatu pelo apoio, fundamental à concretização deste material pedagógico. À Unimed Botucatu pela parceria nestes 14 anos. A todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização desta publicação, em especial, à equipe da Escola do Meio Ambiente.
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O artesanato da Escola do Meio Ambiente: Reflexões sobre hábitos e reaproveitamento de materiais
Giovanna Gori de Oliveira, Maria Helena Ribeiro da Silva, Marília Rossanesi Rodrigues da Silva e Thalita Moreira Lima 5
Resumo O trabalho desenvolvido pela Escola do Meio Ambiente (EMA) está alicerçado em três pilares principais: caminhos ecopedagógicos, vivências socioambientais e pesquisas. Nas vivências socioambientais, destacamos o artesanato produzido pela referida escola, uma vez que sua produção está relacionada às mudanças de hábitos no cotidiano das pessoas, como o reaproveitamento de materiais. O artesanato produzido pela Escola do Meio Ambiente durante o ano letivo de 2019 nas vivências socioambientais foi entregue na premiação aos professores da rede municipal de Botucatu/ SP que participaram do Prêmio EMA de Educação Ambiental para o Ensino Infantil. Os docentes, premiados pelo desenvolvimento de projetos de educação ambiental com seus alunos, também tiveram seus trabalhos publicados em uma cartilha patrocinada pela Unimed/Botucatu. Cada peça artesanal entregue aos professores contemplados pelo Prêmio EMA tinha como objetivo principal despertar um olhar de cuidado e respeito para com o planeta.
Palavras-Chave: Escola do Meio Ambiente. Reaproveitamento. Artesanato. 6
Abstract The work developed by the School of the Environment (EMA) is based on three main pillars: ecopedagogical paths, socio-environmental experiences and research. In the socio-environmental experiences, we highlight the handicrafts produced by that school, since their production is related to changes in people's daily habits, such as the reuse of materials. The handicrafts produced by "School of Environment" during the 2019 academic year in social and environmental experiences were delivered at the awards to teachers from the municipal network of Botucatu / SP who participated in the EMA Award for Environmental Education for Early Childhood Education. The teachers, who were awarded for the development of environmental education projects with their students, also had their work published in a booklet sponsored by Unimed / Botucatu. Each artisan piece delivered to the teachers contemplated by the EMA Award had as main objective to awaken a look of care and respect for the planet.
Keywords: School of the Environment. Reuse. Crafts. 7
Introdução O artesanato, de um modo geral, caracteriza-se pela produção manual de objetos e artefatos predominantemente utilitários e que contam com uma matéria-prima natural. Esse produto contém marcas de uma determinada cultura, atestando a ligação do homem com o meio social em que vive, e está relacionado à humanidade desde a pré-história por meio de produção de cestos, ferramentas, vasos de cerâmica, roupas, esculturas, pinturas, entre outros objetos. Utilizando os recursos da natureza como matéria-prima e as mãos humanas como instrumento para manipulá-los, o artesanato conta com uma transformação de 80% do material utilizado, essa técnica era muito presente no período que ficou conhecido como Pedra Polida ou Período Neolítico. Nesse lapso temporal, o homem passou a polir a pedra, produzir cerâmica, tecer fibras animais e vegetais. Desde então, os objetos que eram produzidos, primordialmente, como machados, lanças, facas e pás, deram lugar para objetos polidos, mais bem acabados e precisos, além da produção de artefatos domésticos. A criatividade produtiva como forma de trabalho, se deu devido à necessidade de produzir itens de uso do cotidiano para sobrevivência, ou mesmo da criação de alguns adornos. Intimamente ligado ao folclore, o trabalho artesanal revela a cultura de um determinado povo. No nosso país, em termos de registros mais antigos de artesanato, podemos citar os indígenas, tendo em vista que sua cultura inclui pintura com pigmentos naturais, cestaria e cerâmica, além da arte com plumas e penas de aves (cocares, tangas e outras peças vestuário). Outrossim, o artesanato brasileiro é um dos mais diversos do planeta e sua importância também é ressaltada por ser a base do sustento de muitas famílias, como no caso da Cerâmica da Serra da Capivara, no Piauí, e da Abaetetuba, no Pará. A Cerâmica da Serra da Capivara foi iniciada em 1992 pela arqueóloga Niède Guidon e hoje emprega, aproximadamente, trinta artesãos que moram no entorno do Parque Nacional da Serra da Capivara. Trata-se de um projeto que procura aliançar a preocupação ambiental com a inclusão social e econômica. A partir de argilas selecionadas da 8
região, copos, pratos, jarras, xícaras e variados artigos para decoração são modelados e pintados por esses artesãos locais. (Rede Artesol). Já Abaetetuba, que significa “reunião de homens verdadeiros” na língua tupi, é conhecida como a capital mundial do brinquedo de Miriti. A região de Abaetetuba detém uma grande quantidade de muriti, também conhecido como buriti. É chamada pelos paraenses de “árvore santa” ou sagrada por sua relevância na vida de muitas comunidades tradicionais que aproveitam a árvore por completo, tendo a consciência de manejála de forma sustentável, sem derrubá-la. O fruto é utilizado para a alimentação, a palha para a construção das cabanas, a fibra das folhas para a confecção de redes e os braços e a bucha, fibra conhecida como isopor da Amazônia, para a produção dos brinquedos. Cada grupo familiar possui um ateliê onde trabalha o processo artesanal que envolve a coleta da palmeira do miritizeiro, o corte, o entalhe, o lixamento, a selagem e, por fim, a pintura e montagem dos brinquedos, sendo os estágios do processo de produção dos brinquedos divididos de acordo com as habilidades de cada um. No período da festa do Círio de Nazaré, os artesãos saem às ruas para vender os brinquedos que, tradicionalmente, estão presentes colorindo as ruas de Belém com seus bonecos, canoas e cobras em mãos, ficando conhecidos como “homens do brinquedo” ou “girandeiros”. A Escola do Meio Ambiente (EMA), inaugurada no dia 12 de abril de 2005, vinculada à Secretaria Municipal de Educação de Botucatu/SP, utiliza uma metodologia baseada na simplicidade da natureza. Os três pilares da escola são: caminhos ecopedagógicos, vivências socioambientais e pesquisas. Com o mesmo papel de educar para a preservação, o artesanato, produzido nas vivências socioambientais da Escola do Meio Ambiente, busca apresentar alternativas que levem à reflexões sobre hábitos cotidianos e importância do reaproveitamento de materiais, preocupando-se com a questão do pertencimento do indivíduo ao planeta em todos os movimentos diários. Assim, realiza-se integralmente o princípio de redução do volume de lixo produzido e descartado com o intuito de replicar atitudes para gerar exemplos de conduta. Para isso, baseiase, sobretudo, em instruções de como evitar o excesso de embalagens, como evitar a utilização de sacolas plásticas, procurar consumir produtos 9
fabricados com materiais mais resistentes e duráveis, reaproveitar materiais que iriam para o lixo, entre outros recursos que são projetados e realizados na elaboração de todos os artesanatos produzidos na escola, garantindo sua responsabilidade pela produção e descarte conscientes do lixo. Por ser um espaço educacional que possui influência na área de educação ambiental do município de Botucatu, o artesanato produzido por estagiários e funcionários da referida escola nas vivências socioambientais assume relevância na formação da consciência do público atendido. Por esses motivos, antes de uma peça ser confeccionada, elaboram-se as seguintes indagações: “como produzi-la sem desperdício de material? Quando for descartada, que tipo de impacto produzirá na natureza?” Destarte, todos os produtos artesanais da Escola do Meio Ambiente são ponderados previamente, inclusive os direcionados ao Prêmio EMA de Educação Ambiental para o Ensino Infantil. Essa premiação, realizada no final do ano letivo com o patrocínio da Unimed/Botucatu é direcionada aos professores do Ensino Infantil, os quais, após terem percorrido com seus respectivos alunos as trilhas Encantada ou Jequitibá, na Escola do Meio Ambiente, desenvolveram projetos, na área de educação ambiental, contribuindo com a formação da consciência ecológica da comunidade escolar e de seu entorno. Durante o ano letivo de 2019, o tema trabalhado pela Escola do Meio Ambiente nas trilhas acima citadas foi: Diversidade das Borboletas. Por meio dessa temática, procurou-se apresentar a biodiversidade desses insetos da área da EMA, mostrando a importância deles na natureza e os impactos que esses animais sofrem pela ação humana. Após as vivências, os professores de Ensino Infantil de Botucatu foram convidados a participar do Prêmio EMA e desenvolver um projeto de educação ambiental com seus respectivos alunos. Nesse referido ano letivo, os projetos premiados de Ensino Infantil foram:
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Nas tabelas abaixo, são apresentadas as peças artesanais produzidas para a premiação e suas respectivas matérias – primas com o tempo aproximado de decomposição de cada peça:
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Tabela 1: Artesanato entregue aos professores premiados.
Tabela 2: Artesanato entregue aos coordenadores/diretores premiados. 13
Tabela 3: Artesanato entregue para os alunos premiados. As figuras abaixo mostram as peças artesanais confeccionadas para professores, diretores e coordenadores das escolas que receberam o Prêmio EMA 2019:
Foto 1: Sacolas feitas à base de algodão entregues aos professores premiados. 14
Foto 2: Sacolas, produzidas a partir da reutilização de calças jeans, entregues aos diretores e coordenadores premiados.
Foto 3: Giz de cera, em embalagem de tnt, inserido na sacola de algodão, entregue aos professores premiados.
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Foto 4: História em Bandeirinha: “As Aventuras do Espantalho: O Segredo da Borboleta”, entregue aos professores premiados.
Foto 5: Certificados feitos com papel pardo, entregues aos diretores, coordenadores e professores premiados.
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Foto 6: Móbile de bambu e papel reciclado entregue aos professores premiados.
Foto 7: Filtro dos sonhos, produzidos a partir de cipó, linhas e sementes, entregues aos diretores e coordenadores premiados. A seguir, apresentam-se os marcadores de páginas confeccionados para as crianças do Ensino Infantil, cujas escolas receberam o Prêmio EMA 2019. Deve ser ressaltado que cada criança recebeu o referido marcador no interior da revista em quadrinhos intitulada “As Aventuras do Espantalho: O Segredo da Borboleta”, produzida pela Escola do Meio Ambiente e 17
publicada com o auxílio da Unimed/Botucatu-SP.
Foto 8: Marcador de página, entregue aos alunos, feito com papel pardo, feltro (lã), fita de cetim e linha. A escolha das matérias-primas para compor as peças artesanais que foram feitas na Escola do Meio Ambiente seguiu, como orientação, a seguinte questão: “Quanto tempo a peça produzida com o material escolhido demoraria a se decompor quando fosse descartada?” Objetivou-se, desta forma, a confecção de peças com um tempo menor de decomposição visando a baixa e/ou nenhuma geração de resíduo e descarte responsável de materiais e levando em conta valores e princípios da sustentabilidade. As tabelas 1, 2 e 3 apresentadas acima mostraram o tempo que cada peça produzida na Escola do Meio Ambiente levará para retornar à natureza. Nessas tabelas podemos verificar que o artesanato produzido utilizou matérias-primas que demoram, no máximo, um ano para retornar ao meio ambiente sem causar danos irreversíveis. Ressaltese que as bolsas de algodão são as peças que apesar de demorarem cerca de 20 anos para retornarem ao meio ambiente, possuem período de degradação passível de o ser humano acompanhar. Deve-se salientar, sobretudo, que os demais itens produzidos artesanalmente não causarão danos à natureza quando descartados, pois o material preponderante utilizado na confecção foi retirado diretamente do meio ambiente (cera 18
de abelha), já o troféu entregue aos professores, foi simbolicamente representado por uma pedra pintada com a figura de uma borboleta, símbolo do Prêmio EMA de Educação Ambiental para o Ensino Infantil. Sabe-se que, junto à consciência ambiental, pode-se acrescer o sentimento de pertença, e dessa junção extraímos a seguinte reflexão: necessitamos do planeta para sobreviver, mas sentimo-nos parte dele em todos os momentos diários? Essa tomada de consciência inserida ao cotidiano da Escola do Meio Ambiente, principalmente nas questões ligadas à natureza e ao compromisso com a sustentabilidade, desperta o interesse de a equipe da EMA inserir uma postura singular em relação aos cuidados com a preservação do meio ambiente. Como resultado destas reflexões, os produtos oriundos do artesanato da EMA passaram, a ter o compromisso de educar ambientalmente, assumindo a responsabilidade de, ao se olhar a peça produzida, enxergar a natureza na produção e, também, no descarte final. Sabe-se que a economia, de um modo geral, é movida pelo consumo, daí a necessidade de se conscientizar para que cada vez mais os produtos estejam voltados para a sustentabilidade da nossa Casa-Comum, que é o Planeta Terra. Pode-se afirmar que o artesanato produzido pela Escola do Meio Ambiente passou a ser uma importante ferramenta de educação ambiental, sendo capaz de despertar no indivíduo que participa de sua produção um olhar cuidadoso para fora, para o outro e para si, não permitindo a desconexão com o meio ambiente. Agradecimentos Agradecemos a toda equipe da Escola do Meio Ambiente que, de alguma forma, contribuiu para a produção dos materiais que foram entregues, sem eles, os materiais não existiriam. Nossos agradecimentos em especial à Prof.ª Dr.ª Eliana Maria Nicolini Gabriel, que com suas orientações, nos permitiu enxergar a arte por uma outra perspectiva. Por último, não menos importante, agradecemos às escolas que participaram do Prêmio EMA, possibilitando assim a produção dos materiais para o mesmo, os quais serviram de base para a produção deste trabalho. 19
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Registros dos alunos do Ensino Fundamental II na Trilha da Cooperação da Escola do Meio Ambiente, Botucatu/SP: Ponte para Reflexões das Vivências na Natureza para Adolescentes
Eduardo Marcolino 21
Resumo O presente estudo tem como base a análise de três vivências realizadas na Trilha da Cooperação, alocada na área da Escola do Meio Ambiente (EMA), Botucatu/SP. A referida trilha foi realizada com alunos dos 8ºs anos das escolas de Ensino Fundamental II do município de Botucatu - SP. No final da vivência, os alunos foram motivados a escrever em um pequeno papel uma palavra que retratasse os aspectos por eles absorvidos. Os registros foram triados pelos monitores e estagiários da EMA. É relevante salientar que o propósito do presente estudo foi averiguar se as vivências realizadas, durante a Trilha da Cooperação, sensibilizaram os estudantes. Ao final das análises, concluiu-se que os adolescentes, ao participarem ativamente das atividades da Trilha da Cooperação, tornaram-se protagonistas do trabalho de Educação Ambiental, desenvolvido pela Escola do Meio Ambiente, fator relevante na metodololgia da sensibilização.
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Abstract The current study is based on the analysis of three experiences realized on the Cooperation Trail, located in the Escola do Meio Ambiente (EMA), Botucatu / SP. This trail was applied with students of the 8th year of elementary schools in the Botucatu city - SP. At the end of the experience, the students were motivated to write on a small paper a word that portrayed the aspects absorbed by them. Records were selected by EMA monitors and interns. It is relevant to note that the purpose of the present study was to ascertain whether the experiences carried out during the Cooperation Trail made students aware. At the end of the analysis, it was concluded that the adolescents, when actively participating in the activities of the Cooperation Trail, became protagonists in the work of Environmental Education, developed by the Escola do Meio Ambiente, a relevant factor in the awareness process.
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Introdução A Escola do Meio Ambiente (EMA), localizada no município de Botucatu, SP, possui grande privilégio ambiental, pois se situa em uma região de encontro de Floresta Estacional Semidecidual, uma porção de Cerrado e também uma área de Floresta Paludosa (in: Trilha da biodiversidade: Mosaicos com diferentes ecossistemas, 2009). À vista disso, a escola passou a ser um núcleo de referência ambiental (Decreto Nº 7.662 02/07/2008), onde os alunos do ensino municipal de Botucatu e região têm aulas de campo com atividades ecológicas voltadas para a educação ambiental, conduzidas por monitores ambientais ou por estagiários da graduação, dos cursos de Ciências Biológicas e/ou Pedagogia. Tendo como fundamento a importância de ouvir os alunos, não só para avaliação dos mesmos, mas também para análise da conduta do educador, através da percepção dos educandos (MORALES, 2006), após o desenvolvimento das vivências realizadas na Escola do Meio Ambiente, o presente estudo realizou o diagnóstico dos registros feitos pelos estudantes que percorreram a Trilha da Cooperação, interpretando os dados por eles produzidos. Entendemos que a inserção dos alunos em meio à floresta estimula a compreensão das questões ambientais (TAMAIO, 2002), visto que a relação professor-alunoconhecimento sofre influências do espaço-tempo onde ocorre o processo de aprendizagem (GAULKE, 2013). Destarte, o objetivo principal dessa trilha foi apresentar a cooperação como forma de superar obstáculos entre os seres humanos e também como ferramenta de educação ambiental. A vivência foi desenvolvida, no primeiro semestre do ano letivo de 2019, com alunos dos 8ºs anos do Ensino Fundamental II, das escolas municipais de Botucatu. No início da trilha, era proposta, aos alunos, a reflexão sobre o significado e, ao longo do percurso de aproximadamente 300m, os discentes passavam por várias vivências, das quais destacamos três, relacionadas com a abordagem do presente estudo. A primeira delas, inspirada na dinâmica “Anjo da Guarda’’, consistia na caminhada em duplas, em meio à trilha, localizada na floresta, de forma que, enquanto um aluno cobria os olhos com uma venda, o outro o conduzia. Na metade do percurso, os 24
papéis eram invertidos para que ambos tivessem a possibilidade de ter a mesma experiência. Posteriormente, o monitor explicava a importância da cooperação para o momento vivenciado. O segundo desses momentos, chamado ‘’Retalhos da Existência’’, consistia na escolha de um dos retalhos, disposto em um varal de barbante preso entre dois troncos de árvores, presentes no decorrer do percurso pela floresta. Nesse caso, a escolha da cor e/ ou estampa do retalho deveria estar relacionada ao sentimento que o aluno trazia consigo no momento, podendo compartilhá-lo ao grupo caso sentisse à vontade para fazê-lo. Dessa forma, em meio apenas aos sons da natureza, os estudantes tinham a liberdade de se expressar oralmente de forma espontânea ou permanecer em silêncio. Essa vivência foi muito relevante para o entendimento de que os conflitos dos adolescentes são muito semelhantes em histórias de vidas diferentes. Em seguida a essa pausa para a expressão oral, todos eram convidados a colocar seu pano/retalho em uma lona branca estendida no chão e, baseando-se na observação do conjunto de retalhos estendidos, o monitor fomentava uma reflexão mostrando que a fragilidade é comum aos indivíduos, priorizando a importância de se reconhecer humano e, consequentemente, parte da natureza. O terceiro momento foi o da contação da história: A árvore generosa (SILVERTEIN, 1964), cujo foco principal era a relação entre o homem e a natureza. Ao final dessa, o condutor da trilha promovia a “costura” das vivências acima citadas com a importância da cooperação entre a humanidade e a natureza e entre os próprios seres humanos para garantir a sobrevivência, não apenas da nossa espécie, mas de todos os seres vivos. Uma vez realizada a explicação acima, os monitores pediam para que os discentes registrassem, em um pequeno papel, algo a respeito da trilha. Os relatos escritos pelos alunos, ao final dos três momentos descritos acima, motivaram a realização do presente estudo. Assim, essa pesquisa, que possui um caráter qualitativo nominal (VIEIRA, 2016) – uma vez que não se tem uma ‘’ordem’’ em qual ‘’resposta é melhor ou pior’’ – foi realizada com uma amostra composta por um total de oito turmas, 182 alunos das escolas municipais de Botucatu,SP: E.M.E.F Prof Elda Moscogliato e E.M.E.F João Maria de Araújo, sendo 4 salas de cada uma, no período 25
de 16/04/2019 a 22/05/2019. Ao final desse período, utilizando essa amostra de alunos, os monitores e estagiários da Escola do Meio Ambiente se reuniram para separar, analisar e refletir a respeito das respostas dadas por eles a partir do enunciado: ‘’escreva algo a respeito da trilha’’, estando, nesse momento, como já relatado anteriormente, o aluno livre para registrar o que aprendeu, sentiu, presenciou; em outras palavras, o que foi vivenciado no percurso realizado, cuja duração é, em média, uma hora e trinta minutos. As respostas foram separadas em quatro grupos com a finalidade de se obter uma melhor análise comparativa. É importante salientar que, no presente estudo, não existem respostas certas, erradas ou neutras; destarte, todos os registros assumiram um papel fundamental, auxiliando monitores e estagiários da Escola do Meio Ambiente a refletir sobre as vivências realizadas com adolescentes na Trilha da Cooperação. As tabelas abaixo apresentam os quatro grupos elencados: Sentimentos, Preservação da natureza/elementos naturais, Valores e Outros, para a distribuição dos registros dos alunos participantes. A fim de que uma resposta fizesse parte do grupo ‘’Sentimentos’’, o registro deveria estar relacionado às sensações sentidas durante o percurso da trilha. Aquelas catalogadas em ‘’Preservação da natureza/ elementos naturais’’ são as que possuíram tanto caráter ambientalista, como, por exemplo, ‘’pessoas precisam cooperar com a natureza’’, quanto as que apenas citaram organismos presentes na floresta, como ‘’árvore’’ ou ‘’capivara’’. Já aqueles cuja análise foi nomeada como ‘’Valores’’ são os registros em que o aluno escreveu alguma virtude que poderia levar para a vida, como, por exemplo, ‘’amizade’’ e ‘’conhecimento’’, ou frases, como: ‘’que a gente deve ser compreensivo’’. E, por fim, o grupo ‘’Outros’’ apresenta os termos ou frases que não puderam ser classificados em nenhum dos outros três citados anteriormente, como uma aluna que escreveu: “Eu gosto de pamonha”, embora, tenha especificado que a vivência Retalhos da Existência a fez sentir confortável para se expressar no momento em que a atividade foi realizada na floresta. A seguir, apresentam-se os quatro grupos com os registros dos alunos distribuídos em cada um deles conforme descrito acima, o número que 26
aparece entre parênteses representa a quantidade de repetição da palavra. Tabela 1 – Palavras coletadas após as atividades da trilha
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Tabela 1 – Palavras coletadas após as atividades da trilha (continuação)
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Figura 1 – Porcentagem de palavras em cada critério avaliativo:
Observam-se que, das185 respostas, 79 (42,70%) foram alocadas no grupo Sentimentos, 49 (26,49%) para Valores e 41 (22,16%) para Preservação da natureza/elementos naturais. Já o grupo em que ficaram as palavras que não se encaixaram nesses agrupamentos, apresentam 16 (8,65%) das assertivas. Pode se dizer que os registros dos alunos dos 8ºs anos do Ensino Fundamental II das escolas municipais de Botucatu foram essenciais para aprimorar a prática das vivências com adolescentes na Trilha da Cooperação da Escola do Meio Ambiente no decorrer do ano letivo de 2019. Associados às atividades realizadas de mais relevância aos alunos, as averbações 29
por eles escritas serviram como objeto de investigação e análise crítica sobre o próprio trabalho dos monitores e desenvolvimento dos monitores e estagiários que conduziram a referida trilha no período de realização desta pesquisa. Ademais interrogar-se, pode ser uma ferramenta utilizada com intuito de comparar se os objetivos alcançados foram satisfatórios em relação ao planejado. No entanto, para que esse material constituísse uma ferramenta reflexiva, foi preciso debruçar-se sobre ele, estudá-lo e colocá-lo em discussão, socializando-o com a equipe de colaboradores da Escola do Meio Ambiente, para que as mudanças necessárias fossem colocadas em prática na Trilha da Cooperação. Deve ser ressaltado que o método de avaliação, utilizado na Trilha da Cooperação, pode beneficiar, também, outras atividades relacionadas à Escola do Meio Ambiente e a outros espaços de ensino, tendo em vista que a devolutiva dos alunos torna possível analisar se o objetivo inicial da atividade foi cumprido, atuando como ponte para reflexões sobre as vivências na natureza. Agradecimentos Agradeço primeiramente à equipe da Escola do Meio Ambiente que auxiliou na realização das pesquisas. Agradeço à Profª. Drª. Eliana Maria Nicolini Gabriel, por sua orientação e correções pontuais no trabalho, auxiliando em sua confecção e estimulando meu próprio desenvolvimento no processo de escrita. Agradeço também aos alunos e professores que participaram das vivências por sua sinceridade em se expressar, pois, sem isso o trabalho não poderia ser alavancado.
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Referências Decreto Nº 7.662 de 02 de Julho de 2008, Registrado na Divisão de Secretaria e Expediente – Botucatu/SP. ESCOLA DO MEIO AMBIENTE. Trilha da Biodiversidade: Mosaico com diferentes Ecossistemas. Botucatu-SP: 2009. Disponível em: https://issuu. com/emabtu/docs/trilha_da_biodiversidade. Acesso em: 10 dez. 2020. GALKE, G. A. A relação professor–aluno–conhecimento na educação infantil: princípios, práticas e reflexões sobre o protagonismo compartilhado. 144f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. MORALES, P. V. A relação professor-aluno - o que é, como se faz. São Paulo. Editorial y Distribuidora, 2001. SILVERSTEIN, Shel. The giving tree. United States of America: HarperCollins Publishers, 1964. TAMAIO, Irineu. O professor na construção do conceito de natureza: uma experiência de educação ambiental. 1ª. ed. São Paulo: Annablume, 2002. 82 p. TASSONI, E. C. M. Afetividade e aprendizagem: A relação professor e aluno. Anuário 2000. GT Psicologia da educação, Anped, setembro, 2000. VIEIRA, Sonia. Introdução à Bioestatística. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 345 p.
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Vivência de acolhimento: uma forma de integração dos alunos do Ensino Fundamental I com a natureza da Escola do Meio Ambiente, Botucatu/SP
Nádia Alves de Macedo e Sílvio Henrique de Mattos 32
Resumo Segundo Piaget (1993), o desenho é visto como uma atividade lúdica e propicia a integração entre cognição, criatividade, imaginação, percepção e sensibilidade. Utilizar uma vivência de desenho como ferramenta de acolhimento junto às crianças, além de ser de fácil aceitação e envolvente para o público infantil, oferece a possibilidade de aproximação deles com o novo ambiente em que se encontram. Para a realização da atividade, foram utilizados papel e giz de cera de várias cores. Após o encerramento, realizou-se uma análise de todos os elementos encontrados nos desenhos confeccionados pelos alunos, que foram separados em dois grupos. No primeiro grupo, denominado “natureza”, os desenhos continham elementos que podem ser encontrados durante a caminhada na floresta; no segundo grupo, que foi nomeado de “não natureza”, os desenhos continham elementos que não podem ser encontrados durante a caminhada na floresta. As cores predominantes nos desenhos das crianças do grupo “natureza” foram verde, azul e marrom, cores também encontradas no ambiente visitado. A vivência de acolhimento mostrou que a maioria dos alunos participantes interagiu com a natureza do entorno da Escola do Meio Ambiente (EMA), desenhando prováveis elementos que seriam encontrados na caminhada no interior da floresta. Embora tenha sido oferecida a diversidade das cores de uma caixa de giz de cera, as mais utilizadas pelas crianças, nos desenhos, foram tonalidades predominantes no cenário em que estavam realizando a vivência. O acolhimento foi importante na construção dos princípios de convivência que contribuíram com o andamento pedagógico da trilha, realizada com alunos do Ensino Fundamental I.
Palavras-chave: acolhimento, desenho, Escola do Meio Ambiente, natureza. 33
Abstract According to Piaget (2003), drawing is seen as a playful activity and provides the integration between cognition, creativity, imagination, perception and sensitivity. Using a drawing experience as a welcoming tool for children, in addition to being easier to accept and engaging, offers the possibility of bringing them closer to the new environment in which they find themselves. To carry out the activity, paper and crayons of various colors were used. At the end, an analysis of all the elements found in the drawings were made and than separated into two groups. The first group, called “nature”, contained elements found while walking in the forest, the second group was named “non-nature” and contained elements not found during the forest walk. Regarding the colors used, those that appeared most frequently in the group of drawings called “nature” were considered. The welcoming experience showed that most of the participating students interacted with the nature of the surroundings of the Escola do Meio Ambiente (EMA), drawing probable elements that would be found in the walk inside the forest. Although it was offered a diversity of colors of a crayon box, the most used by children were predominant shades in the scenario where the experience was led. Welcoming was important in the construction of the principles of coexistence that contributed to the pedagogical progress of the trail, carried out with Elementary School students.
Keywords: reception, drawing, Escola do Meio Ambiente, nature. 34
Introdução Segundo Piaget (1993), o desenho é visto como uma forma de brincar, ou seja, constitui, para a criança, uma atividade lúdica, a qual engloba suas possibilidades e necessidades, propiciando a integração entre a cognição, criatividade, imaginação, percepção e sensibilidade. O autor ainda cita que a criança, quando desenha, “escreve” o mundo à sua maneira e essa “escrita” revela o conhecimento e as experiências que vivencia concretamente. Essa ferramenta permite que os pequenos consigam organizar informações, processar experiências vividas e pensadas, estimulando-os a desenvolver um estilo de representação do mundo. Portanto, vivências gráficas fazem parte do crescimento psicológico e são indispensáveis para o desenvolvimento e para a formação de indivíduos sensíveis e criativos capazes de transpor e transformar a realidade (GOLDBERG et al., 2005). Se o novo gera insegurança e ansiedade em qualquer idade, na infância, esse processo pode ser ainda mais intenso, saindo de suas rotinas/ comodidades, ou seja, a escola de origem, pois os alunos são convidados, na Escola do Meio Ambiente (EMA), a participar de atividades incomuns ao seu dia a dia: caminhar pela natureza, por meio das trilhas interpretativas. O acolhimento, na chegada dos pequenos, passa a ser o momento de transição ao qual eles vão se habituando ao novo ambiente para, posteriormente, participarem das respectivas trilhas dos 1ºs, 2ºs, 3ºs, 4ºs, 5ºs anos: Jequitibá, Tatu, Sujão, Peabiru e Agroecológica. Utilizar uma vivência de desenho como ferramenta de acolhimento junto às crianças, além de ser de fácil aceitação e envolvente para o público infantil, oferece a possibilidade de aproximação deles com o novo ambiente em que se encontram. Sabe-se que, quando regras em demasia são estabelecidas, como o que desenhar e quais cores usarem, inibe-se a expressão livre. Por isso procurou-se utilizar apenas o nome e algumas características da trilha que os alunos iriam percorrer como orientação para elaboração do desenho. Para a realização da atividade, foram utilizados papel e giz de cera de várias cores. Após o término, realizou-se uma análise de todos os 35
elementos encontrados nos desenhos confeccionados pelos alunos. Inicialmente, os desenhos foram separados em dois grupos. O primeiro grupo denominado “natureza”, continha elementos encontrados durante a caminhada na floresta como, por exemplo: nuvem, sol, árvore, animal, água, terra, jiribana (corda), índio, fada, entre outros. O segundo grupo foi nomeado de “não natureza” e agrupava elementos não encontrados durante a caminhada na floresta, tais como: desenhos abstratos, casa, ônibus e perfume. Tendo como base o fato de que algumas trilhas apresentam pessoas caracterizadas como personagens, as pessoas sem caracterização foram triadas em “natureza”, servindo como fundamento para observação de quantos alunos foram capazes de se perceberem no espaço da Escola do Meio Ambiente. Deve ser ressaltado que, embora as pessoas desenhadas estejam incluídas no total dos elementos chamados de “natureza”, para melhor visualização do número de ilustrações com seres humanos, a contagem desses desenhos foi, também, apresentada separadamente, conforme se pode ver nos resultados mostrados abaixo. Em relação às cores utilizadas, foram consideradas as que apareceram com maior frequência no grupo de desenhos denominados de “natureza”. A vivência de acolhimento, no decorrer do ano letivo de 2017, envolveu os alunos do Ensino Fundamental I da rede pública dos municípios paulistas de Botucatu e São Manuel. Tanto as orientações da atividade como as análises dos desenhos foram realizadas de forma unificada, ou seja, foram as mesmas, independentemente do local de procedência das crianças. As orientações foram transmitidas pelos estagiários e auxiliares educacionais da EMA (estudantes do curso de Ciências Biológicas, UNESP - Botucatu/SP ou de Agronegócios da Fatec - Botucatu/SP) na Oca do Acolhimento, espaço interno da Escola do Meio Ambiente, e as análises posteriores, feitas por estagiários, auxiliares educacionais e três monitores ambientais, sendo dois servidores municipais com formação em Biologia e uma servidora formada em Biologia e Pedagogia. Os resultados obtidos foram os seguintes: 36
1º Ano (Figura 1): Trilha do Jequitibá – 235 desenhos analisados Personagem presente na trilha: Caipora Elementos natureza (206 desenhos): água, animal, céu, coração, grama, jiribana (corda), oca, pessoas, banco, planta, personagem índio, personagem saci, sol e terra. Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 76 Elementos não natureza (29 desenhos): bola, casa, cruz, desenho abstrato, ônibus, perfume, personagem de desenho animado (mídia) e pneu. Cores predominantes: verde, azul e amarelo. 2º Ano (Figura 2): Trilha do Tatu – 278 desenhos analisados. Personagem presente na trilha: Guardião/ã das águas (Cristalino/a) Elementos natureza (264 desenhos): água, animal, céu, coração grama, jiribana (corda), oca, pessoas, planta, ponte, sol e tatu. Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 55 Elementos não natureza (14 desenhos): abstrato, casa, bola e ônibus. Cores predominantes: azul, marrom e vermelho. 3º Ano (Figura 3): Trilha do Sujão – 288 desenhos analisados. Personagem presente na trilha: Bugiganga Elementos natureza (279 desenhos): água, animal, céu, jiribana (corda), lixo, pessoas, planta e trilha. Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 92 Elementos não natureza (9 desenhos): abstrato e casa. Cores predominantes: azul, verde e marrom. 4º Ano (Figura 4): Trilha do Peabiru – 217 desenhos analisados. Personagem presente na trilha: Índio e Tropeiro Elementos natureza (209 desenhos): água, animal, banco, céu, gramado, jiribana (corda), ocas da EMA, personagem índio, pessoas, planta, terra e violão. 37
Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 31 Elementos não natureza (8 desenhos): abstrato, casa, cruz e ônibus. Cores predominantes: verde, azul e marrom. 5º Ano (Figura 5): Trilha Agroecológica – 452 desenhos analisados. Elementos natureza (438 desenhos): água, animal, céu, gramado, jiribana (corda), pessoas e planta. Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 63 Elementos não natureza (14 desenhos): casa e personagem de desenho animado (mídia). Cores predominantes: verde, azul e marrom. Seguem, abaixo, alguns desenhos de participantes da vivência de acolhimento realizada na Escola do Meio Ambiente:
Figura 1- Desenho de aluno do 1º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente 38
Figura 2- Desenho de aluno do 2º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente
Figura 3- Desenho de aluno do 3º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente 39
Figura 4- Desenho de aluno do 4º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente
Figura 5- Desenho de aluno do 5º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente 40
A vivência de acolhimento mostrou que a maioria dos alunos participantes interagiu com o ambiente do entorno da sede da escola desenhando prováveis elementos que seriam encontrados na caminhada no interior da floresta, conforme podemos observar nas figuras de 1 a 5. Nas ilustrações apresentadas, notam-se, também, desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagens das referidas trilhas, evidenciando a percepção da criança no ambiente. Ademais, tenha sido oferecida a diversidade das cores de uma caixa de giz de cera, as que foram mais utilizadas nos desenhos onde a criança se mostra acolhida no ambiente natural foram: marrom, azul e verde; tonalidades predominantes do cenário em que estavam realizando a vivência. Deve, também, ser considerado que o momento do acolhimento foi importante na construção dos princípios de convivência que contribuíram com o andamento pedagógico da trilha, permitindo, assim, uma aprendizagem mais agradável e sensibilizadora para as questões ambientais abordadas pela Escola do Meio Ambiente junto ao público do Ensino Fundamental I. Sugerimos, portanto, que a atividade seja empregada, sempre que possível, no momento do acolhimento da chegada das crianças que participarão de vivências junto à natureza, proporcionando uma integração harmoniosa e possibilitando investigações da relação singela que a criança estabelece com o ambiente no qual está inserida. Agradecimentos Agradecemos a todos os colaboradores da Escola do Meio Ambiente (EMA) pela ajuda na coleta e triagem dos dados. Também somos gratos pelas orientações e correções da diretora da EMA Profª. Drª. Eliana Maria Nicolini Gabriel. Agradecemos, ainda, a Monitora Ambiental Edilene Lúcia Bortolozzo Vieira pela colaboração na execução desse trabalho. Por fim, gratidão a todos os alunos que com sua simplicidade e sinceridade participaram desta pesquisa.
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Referências GOLDBERG, L. G.; YUNES, M. A. M.; FREITAS, J. V. de. O desenho infantil na ótica da ecologia do desenvolvimento humano. Psicologia em estudo, v. 10, n. 1, p. 97-106, 2005. PIAGET, J.; INHELDER, B. A psicologia da criança. Lisboa: Edições Asa, 1993.
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Vivência de acolhimento dos alunos do Ensino Funcamental II antes da realização das trilhas na Escola do Meio Ambiente, localizada em Botucatu/SP
Clodoaldo Leonan Duarte Lima 43
Resumo O presente estudo foi realizado na Escola do Meio Ambiente (EMA), localizada no Jardim Aeroporto, zona sul da cidade de Botucatu/SP. A área da escola, com seu mosaico de ambientes, proporciona o recebimento de alunos da rede de ensino do referido município e região para vivências de educação ambiental alocadas em trilhas interpretativas. Buscando apresentar a importância do acolhimento, antes da realização das trilhas, utilizou-se uma amostra de 458 alunos do Ensino Fundamental II, atendidos no decorrer de 2018, com o objetivo de interagir com os mesmos e de mapear os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o tema abordado no caminho a ser percorrido. Sendo assim, esta amostra de alunos foi estimulada a pensar sobre o que poderiam encontrar no caminho, a partir do nome da trilha a ser percorrida. As sugestões, de cada aluno participante do acolhimento pré-trilha, foram por eles escritas em uma folha de rascunho e recolhidas pelo responsável pela vivência. Após essa interação com os educadores ambientais, os alunos foram convidados a realizar a trilha correspondente à sua idade e ao seu respectivo ano escolar. Para análise dos dados, as sugestões escritas pelos alunos na vivência de acolhimento foram, posteriormente, triadas, utilizando-se como parâmetro o ano escolar de cada aluno e, consequentemente, a trilha percorrida. Os resultados obtidos possibilitaram compreender que a vivência de acolhimento, além de auxiliar na relação interpessoal entre monitor-aluno, contribui para um melhor aproveitamento do conteúdo transmitido no caminho percorrido em meio à natureza.
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Abstract This study was carried out at the Escola do Meio Ambiente (EMA), located in Jardim Aeroporto, south of the city of Botucatu / SP. The school area, with its mosaic of environments, allows the reception of students from the education network of the aforementioned municipality and region for environmental education experiences allocated in interpretive trails. In order to present the importance of welcoming, before the trails were realized, a sample of 458 elementary school students, used during 2018, was used in order to interact with them and map the students' previous knowledge about the theme addressed on the path to be taken. Therefore, this sample of students was encouraged to think about what they could find on the way, based on the name of the trail to be followed. The suggestions of each student participating in the pre-trail reception were written by them on a scratch sheet and collected by the person responsible for the experience. After this interaction with environmental educators, students were invited to take the trail corresponding to their age and their respective school year. For data analysis, the suggestions written by the students in the host experience were subsequently screened, using each student's school year as a parameter and, consequently, the track traveled. The results obtained made it possible to understand that the welcoming experience, in addition to helping in the interpersonal relationship between monitor-student, contributes to a better use of the content transmitted in the path taken in the middle of nature.
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Introdução A Escola do Meio Ambiente (EMA), localizada no Jardim Aeroporto, zona sul da cidade de Botucatu/SP (22º55´23´´S e 48º27´28´´W) é uma instituição governamental que atende alunos da rede de ensino do município e região com vivências de educação ambiental alocadas em trilhas interpretativas. Dentre as inúmeras riquezas ambientais distribuídas pelos seus 54 hectares, entre terras pertencentes à Prefeitura Municipal de Botucatu e terras com termo de concessão e permissão de uso pelo estado de São Paulo, podemos observar áreas de Floresta Estacional Semidecidual e de Mata Paludosa, um remanescente de Cerrado, além das nascentes do Ribeirão Lavapés, curso d'água que atravessa o referido município e que se encontra represado na EMA, passando a ser denominado represa Prof. Jorge Jim (Figura 1). Este mosaico de ambientes, intimamente interligados, abriga uma enorme variedade de espécies, cada qual com seu papel, influenciando o equilíbrio e a harmonia do todo.
Fonte: Google Maps, 2020.
Figura 1 – imagem aérea da Escola do Meio Ambiente – EMA. Onde é possível observar a área de Floresta Estacional Semidecidual (a), o remanescente 46
de Cerrado (b), área de Mata Paludosa (c) e a represa Prof. Jorge Jim (d). Pertencente à Secretaria Municipal de Educação de Botucatu, a referida escola foi inaugurada no dia 12 de abril de 2005 e, ao longo destes quinze anos, desenvolveu uma metodologia inspirada na simplicidade da natureza, para trabalhar seus pilares principais: caminhos ecopedagógicos, vivências socioambientais e pesquisas, as quais possibilitam o maior entendimento da natureza encontrada na área da escola. Atualmente a EMA conta com catorze caminhos ecopedagógicos para estudantes de 4 a 17 anos, divididos em quatro categorias principais: Caminhos do Ensino Infantil (4 e 5 anos): voltados para o encantamento das crianças, são eles: Trilha Encantada e Trilha do Jequitibá, respectivamente, de acordo com a idade dos alunos. Caminhos do Ensino Fundamental I (6 a 10 anos): Valorizam-se as descobertas por meio de aventuras realizadas na natureza pelas crianças. As trilhas para essa faixa etária são: Trilha Indígena, Trilha do Jim, Trilha do Sujão, Trilha do Peabiru e Trilha Agroecológica, respectivamente. Caminhos do Ensino Fundamental II (11 a 14 anos): Por meio de aulas práticas, os estudantes conhecem a natureza do local e ou região em que vivem percorrendo, de acordo com a respectiva idade, os seguintes percursos: Trilha da Água, Trilha da Biodiversidade, Trilha da Cooperação e Trilha do Reconhecimento. Caminhos realizados com os alunos do Ensino Médio (15 a 17 anos): estão divididos em dois segmentos: Trilha da Caixa de Pandora para os alunos do primeiro e segundo ano do Ensino Médio, onde os mesmos têm a oportunidade de entrar em contato com métodos científicos e a Trilha do Interser para os alunos do terceiro ano do Ensino Médio, que busca relacionar a interdependência dos seres bióticos e abióticos. Os caminhos ecopedagógicos, antes de serem percorridos, passam por uma prévia apresentação, chamada de acolhimento. É no acolhimento que se dá o primeiro diálogo entre o monitor e a turma de alunos visitantes. Esta prática busca promover ações básicas para “quebrar o gelo” inicial da chegada da turma, por meio da aproximação interpessoal e prévia averiguação dos conhecimentos trazidos pelos alunos. É nesse 47
momento que são realizadas as devidas apresentações, desejadas as boas vindas e transmitidas algumas regras de segurança para que a trilha seja bem aproveitada por todos. Encerrada essa primeira etapa, a turma é convidada a iniciar o caminho ecopedagógico destinado à sua faixa etária. Partindo do pressuposto de que o acolhimento é um momento importante para garantir a eficácia do aprendizado na natureza, o presente estudo busca apresentar a importância do recebimento esclarecedor, antes da realização da trilha, como uma ferramenta capaz de possibilitar a interação prévia do público visitante com o local visitado, no caso a Escola do Meio Ambiente. Metodologia No ano de 2018, a EMA recebeu 11.916 alunos, distribuídos na rede de ensino municipal, estadual e particular de Botucatu, além dos alunos oriundos de municípios vizinhos como São Manuel, Pardinho e Itatinga. Deste total, 2063 alunos foram do Ensino Fundamental II (6° ao 9° ano). Para verificar a importância do acolhimento, antes de se iniciar a trilha na natureza, utilizou-se uma amostra do total de alunos do Ensino Fundamental II, atendidos em 2018, com o objetivo de interagir com os mesmos e de conhecer os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o tema abordado na trilha a ser percorrida por eles. A referida amostra, de 458 alunos do Ensino Fundamental II, apresentou a seguinte distribuição nos diferentes anos escolares: 133 do 6° ano, 203 do 7° ano, 102 do 8° ano e 20 estudantes do 9° ano. O acolhimento pré-trilha consistiu em, antes de serem encaminhados para as suas respectivas aulas de campo, cada turma foi convidada a participar da vivência de acolhimento oferecida pela EMA. Nesse momento, os alunos foram encaminhados para dentro das instalações da sede da Escola do Meio Ambiente e, além de receberem todas as instruções necessárias para percorrer o caminho em meio à natureza tais como: andarem em fila nos caminhos no interior da mata, sempre seguirem o caminho indicado pelo monitor responsável, tomarem cuidado onde pisarem para não tropeçarem nas raízes, olharem antes 48
de colocar as mãos nas plantas, entre outras, também foram estimulados a pensar, a partir do nome da trilha que iriam percorrer sobre o que poderiam encontrar no percurso. As sugestões oriundas de cada aluno participante do acolhimento pré-trilha foram por eles escritas em uma folha de rascunho. Após essa interação com os educadores ambientais, os alunos foram convidados a realizar a trilha correspondente à sua idade e ao ano escolar. Os dados coletados foram, inicialmente, triados por monitores e estagiários da escola, utilizando-se como parâmetro o ano escolar de cada aluno e, consequentemente, a trilha que percorreu. Resultados A tabela 1 apresenta as palavras que os alunos dos 6ºs, 7ºs, 8ºs e 9ºs anos escreveram no momento em que fizeram correspondência entre o nome das suas respectivas trilhas e o que poderiam encontrar durante o seu percurso. Os números encontrados entre parênteses representam a quantidade de repetições das palavras escritas pelos estudantes. Tabela 1 – Palavras escritas pelos alunos no acolhimento, os quais fizeram correspondência entre o nome das suas respectivas trilhas e o que poderiam encontrar durante o seu percurso.
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Fonte: Elaborada pelos autores, 2019. A partir do número de repetições das palavras escritas pelos alunos pertencentes à amostra estudada, foram elaborados os gráficos, abaixo apresentados, contendo as cinco palavras mais repetidas pelos alunos dos diferentes anos escolares, do Ensino Fundamental II:
Gráfico 1 – gráfico referente às palavras mais repetidas pelas turmas de 6° ano. Fonte: Tabela 1. 51
Gráfico 2 – gráfico referente às palavras mais repetidas pelas turmas de 7° ano. Fonte: Tabela 1.
Gráfico 3 – gráfico referente às palavras mais repetidas pelas turmas de 8° ano. Fonte: Tabela 1. 52
Gráfico 4 – gráfico referente às palavras mais repetidas pelas turmas de 9° ano. Fonte: Tabela 1. Discussão e Conclusão A partir da análise da tabela e dos gráficos acima apresentados, percebe-se que, a vivência do acolhimento possibilitou a interação dos alunos com o ambiente da EMA. Essa interação, aliada ao conhecimento prévio de cada individuo, pode ser uma ferramenta importante para auxiliar o monitor da trilha na sua prática pedagógica no campo. Foi Piaget (1896-1980) quem primeiro chamou a atenção para o chamado “conhecimento prévio”, partindo do pressuposto de que cada estudante traz uma perspectiva diferente do mesmo assunto de acordo com seu contexto histórico e suas vivências cognitivas, isso porque, de acordo com o referido autor, cada indivíduo apresenta uma singularidade no processo de aprendizagem. Pode-se dizer que o acolhimento pré – trilha, com resgate de conhecimentos prévios dos alunos, auxilia na tarefa desafiadora do educador ambiental de introduzir conteúdos em meio à natureza. Segundo Tania Beatriz Iwaszko Marques (2011): "De nada adianta coletar informações se elas não servirem como guia para orientar 53
atividades, agrupamentos e intervenções", sendo assim as palavras escritas pelos alunos podem orientar o monitor da trilha na busca de possíveis dúvidas ou aptidões que podem ser exploradas na aula de campo que eles participarem. Voltando a atenção para as palavras escritas previamente pelos alunos, dentre as encontradas no grupo dos 6° anos, destacamos: tipos de vida, como “animais”, “árvores” e “insetos”. Assim é possível tratar o tema da trilha destinada a este grupo de alunos na Escola do Meio Ambiente, utilizando-se o que foi escrito pelos estudantes na vivência de acolhimento para incentivar a descobrirem quais vidas são dependentes da água que abastece a Represa Jorge Jim, localizada na EMA, levando-os a refletir sobre todos os seres que dependem deste elemento tão indispensável, incluindo os seres humanos, o que enfatiza a importância da preservação da água. Outras palavras escritas foram: “poluição” e “irrigação”, as quais permitem detectar os problemas encontrados na cidade, utilizando como exemplos fatores do cotidiano em que estão inseridos, e assim, a partir da sensibilização, torná-los parceiros na preservação do ambiente onde vivem. Baseando-se na etimologia da palavra biodiversidade (bio - vida, diversidade - diversas), a maioria das palavras escrita pelo 7° ano incorpora esta definição, demonstrando que é do conhecimento de quase todos os alunos pertencentes a esta amostra o seu significado. Voltaremos a atenção para o número de adolescentes que escreveram a palavra “pessoas”, ou seja, somente cinco. Destarte, concluí-se que apenas a minoria entende a espécie humana como parte da biodiversidade, o que nos mostra como conseguimos nos distanciar da natureza, uma vez que grande parte dos alunos não se viu associada a ela. Esse fato nos permite, em trilha, deixar claro, que todos nós estamos interligados à natureza, assim como todos os diferentes biomas encontrados na área da Escola do Meio Ambiente estão ligados entre si, permitindo o equilíbrio no local. Dentre as palavras mais escritas pelos alunos dos 8° anos, a palavra “ajudar” se destacou. Pudemos observar, ainda que de forma simplista, o que a palavra “cooperar” remete a eles, porém, indagamos: Ajudar o 54
quê? Ajudar a quem? Como ajudar? Estes questionamentos podem auxiliar a percorrer a trilha tentando desenvolver, junto aos alunos, um pensamento que inter-relacione todas as formas de cooperar com o universo: humanohumano e humano-natureza. De acordo com o aspecto ecológico, cooperar é uma relação intraespecífica harmônica onde dois seres de diferentes espécies se ajudam mutuamente e ambos se beneficiam, embora tenham a capacidade de sobreviver, anatomicamente, separados. A partir disso podemos utilizar as relações ecológicas de cooperação encontradas na EMA para demonstrar aos alunos como a biodiversidade de um ecossistema, mesmo sem uma comunicação formal, coopera de maneira articulada para manter-se em equilíbrio. “Reconhecer” foi uma das palavras mais escritas pelos alunos dos 9°anos. Talvez por ser autoexplicativo o nome da trilha (Trilha do Reconhecimento), mas em contrapartida, a palavra “reconhecer” pode trazer mais de um significado, como por exemplo, o re-conhecer, no sentido de conhecer de novo, de ressignificar algo que o indivíduo já conhece, mas também o reconhecer no sentido de identificar/distinguir características, além do reconhecer no sentido de admitir como verdadeiro, como por exemplo, reconhecer um erro. Todos os significados da palavra em questão podem ser trabalhados na educação ambiental, partindo do pressuposto de que em qualquer interpretação cabe uma análise crítica e construtiva para um “auto reconhecimento” e a partir daí, o “reconhecimento” sobre o universo e suas existências. Seguir o percurso da trilha junto a sua temática, após a vivência de acolhimento, além de auxiliar na proximidade e na relação interpessoal entre monitor-aluno e aluno-monitor, pode desenhar o caminho pedagógico a ser seguido pelo monitor, baseado nos conhecimentos prévios que os alunos revelam antes da trilha. Moacir Gadotti (2000), descreve a importância do desenvolvimento integral da pessoa: “inteligência”, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade e iniciativa, ressaltando a importância de não se negligenciar nenhuma das potencialidades de cada indivíduo e, enfatiza a troca de experiências e conhecimentos entre as partes envolvidas. Desta forma, concluímos o presente trabalho 55
sugerindo que novos estudos envolvendo o acolhimento dos alunos do Ensino Fundamental II, antes da realização de vivências na natureza, sejam realizados utilizando a metodologia aqui empregada. Tal procedimento possibilitará o aperfeiçoamento de atividades em meio à natureza para adolescentes. Agradecimentos Agradeço a toda equipe da Escola do Meio Ambiente que tornou possível a coleta e triagem dos dados. Sem eles este trabalho não existiria. Também sou grato pela orientação da Profª. Drª. Eliana Maria Nicolini Gabriel, que com suas correções mudou um pouco minha forma de pensar, tornando-me mais atento. Por último, e não menos importante, sou grato a todos os alunos que com sua simplicidade e sinceridade participaram desse trabalho.
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Referências GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo em Perspectiva, [S.L.], v. 14, n. 2, p. 03-11, jun. 2000. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0102-88392000000200002. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0102-88392000000200002. Acesso em: 11 nov. 2020. FERNANDES, Elisângela. Conhecimento prévio: entenda por que aquilo cada um já sabe é a ponte para saber mais. Entenda por que aquilo cada um já sabe é a ponte para saber mais. 2011. Disponível em: https:// novaescola.org.br/conteudo/1510/conhecimento-previo. Acesso em: 11 nov. 2020. ESCOLA DO MEIO AMBIENTE: COM VIDA. Botucatu SP: Escola do Meio Ambiente, 2016. Anual. Disponível em: https://issuu.com/emabtu/docs/ cartilha_com_vida_2016. Acesso em: 11 nov. 2020. TRILHA DA BIODIVERSIDADE: ESCOLA DO MEIO AMBIENTE. Botucatu SP: Escola do Meio Ambiente, 2012. Volume Único. Disponível em: https://issuu. com/emabtu/docs/trilha_da_biodiversidade. Acesso em: 11 nov. 2020. GUIA DE IDENTIFICAÇÃO DE CAMPO: ÁRVORES DA FLORESTA DE BOTUCATU. Botucatu SP: Escola do Meio Ambiente, 2017. Volume Único. Disponível em: https://issuu.com/emabtu/docs/guia_de_identifica__o_ de_campo____r. Acesso em: 11 nov. 2020. GUIA DE CAMPO: FUNGOS DA ESCOLA DO MEIO AMBIENTE. Botucatu SP: Escola do Meio Ambiente, 2018. Volume Único. Disponível em: https:// issuu.com/emabtu/docs/guia_de_fungos. Acesso em: 11 nov. 2020. CARTAZ AVES DA ESCOLA DO MEIO AMBIENTE. Botucatu SP: Escola do Meio Ambiente, 2017. Volume Único. Disponível em: https://issuu.com/ emabtu/docs/cartaz_aves_2017. Acesso em: 11 nov. 2020.
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Sobre os autores Coordenação e Orientação: Profª Drª Eliana Maria Nicolini Gabriel Bióloga (Unesp/ Botucatu), Mestre e Doutora (Unesp/ Rio Claro). Pesquisadora e Diretora da Escola do Meio Ambiente Arte e Ilustração: Sibele Gimenez Queiroz Bióloga (USC/Bauru) e Pesquisadora. Ilustradora das publicações. Setor administrativo da Escola do Meio Ambiente Autores dos trabalhos Clodoaldo Leonan Duarte Lima Auxiliar educacional da Escola do Meio Ambiente. Graduando em Ciências Biológicas - UNESP/Botucatu Eduardo Gabriel Marcolino Estagiária da Escola do Meio Ambiente. Graduando em Ciências Biológicas - UNESP/Botucatu Giovanna Gori de Oliveira Auxiliar educacional da Escola do Meio Ambiente Graduanda em Ciências Biológicas - UNESP/Botucatu Maria Helena Ribeiro da Silva Auxiliar educacional da Escola do Meio Ambiente Graduanda em Pedagogia - UNOPAR/Botucatu 58
Marília Rossanesi Rodrigues da Silva Estagiária da Escola do Meio Ambiente Graduanda em Ciências Biológicas - UNESP/Botucatu Nádia Alves de Macedo Bióloga (graduação em Ciências Biológicas - UNESP/Botucatu) e pesquisadora. Monitora ambiental da Escola do Meio Ambiente. Sílvio Henrique de Mattos Biólogo (graduação em Ciências Biológicas - FREA/Avaré) e pesquisador. Monitor ambiental da Escola do Meio Ambiente. Thalita Moreira Lima Estagiária da Escola do Meio Ambiente Graduanda em Ciências Biológicas - UNESP/Botucatu Revisão: Prof. Dr. José Luis Chiaradia Gabriel Biólogo, Professor e Pesquisador da Fira/Avaré, docente dos colégios La Salle e Santa Marcelina, Botucatu/SP. Anna Clara Nicolini Gabriel Voluntária da Escola do Meio Ambiente. Estudante do último ano do Ensino Médio do Colégio Santa Marcelina de Botucatu, SP.
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