movimento Revista do Movimento Encontrão - Edição 10 - Ano 2017
DISCIPULADO: UM DESAFIO PARA TODOS Veja como o caminhar junto faz parte da essência daquele que segue a Cristo. PESQUISA: FALANDO A REAL Confira, através desta pesquisa, como os luteranos encaram o discipulado.
MISSÃO NO SÉC. 21 Leia nesse artigo qual o papel da Igreja na missão de Deus.
EDITORIAL
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iscípulos não são feitos por acaso, pois o discipulado é um ato intencional. Jesus nos mostra isso quando vai ao encontro de seus discípulos, os convida e os desafia a segui-lo. Hoje, porém, muitos têm afirmado que discipulado não funciona mais ou, ainda, que os modelos que existem por aí não são aplicáveis em nossos dias. Outros reconhecem que ele não se parece nem um pouco com o modelo que Jesus nos deixou como parâmetro. Ainda assim, as palavras de Jesus continuam ecoando: discípulos fazem discípulos. Essa premissa foi a base fundamental, sobre a qual esta edição foi construída. E o tema que perpassa todos os artigos, SER DISCÍPULO, foi escolhido com o propósito de instigar você, leitor, a repensar o modo de ver e viver Igreja. Cada reflexão foi preparada com o objetivo de fazer lembrar que a realidade não é que Deus tem uma missão para sua Igreja no mundo, mas que Ele tem uma Igreja para sua missão no mundo. Por isso, cada autor convidado é uma pessoa que já entendeu o significado e a importância dessa realidade e já adotou esse princípio como estilo de vida. A partir desta edição, a revista Movimento é apresentada com novo layout, valorizando conteúdo e apresentação visual. Pesquisas, infográficos e testemunhos foram incorporados com a intenção de levar você a um entendimento mais profundo do tema apresentado. E, para que essa remodelação seja, de fato, significativa, pessoas, indicadas pelos próprios autores dos artigos, foram desafiadas a relatar como o conteúdo das reflexões tem sido vivido no dia a dia de suas comunidades, unindo, por consequência, princípios bíblicos à sua aplicação viva e pulsante. Assim, convido você a conferir essa mudança nas próximas páginas da revista Movimento. Boa leitura! Jonatan Neumann
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EXPEDIENTE Revista Movimento Revista de circulação interna do ME Edição 10 Ano 2017/1 Tiragem: 4.000 exemplares Distribuição gratuita Diretor Executivo ME: Airton Härter Palm Coordenação Editorial: Jonatan Neumann Projeto Gráfico: Paulo Eduardo Sell Vagner Martins Revisão: Josiane Zanon Moreschi Diagramação: Paulo Eduardo Sell Vagner Martins Movimento Encontrão Rua Francisco Caron, 630 CEP 82120-200 - Pilarzinho Curitiba/PR |41| 3302-5100 - me@me.org.br
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Temos trabalhado para que a revista Movimento seja um instrumento de comunicação e edificação do Movimento Encontrão, com seus líderes, doadores e demais identificados. Cabe aqui uma explicação: a revista é de distribuição gratuita, e os boletos que enviávamos com a revista eram usados para ofertas que cobriam o custo de edição, impressão e envio. Em 2016, passamos a pagar pela emissão de cada boleto, inclusive, mais ainda pelos não utilizados. Diante das mudanças impostas e do alto custo, decidimos não mais anexá-los. No entanto, ajude-nos, depositando o valor que estiver em seu coração.
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SER DISCÍPULO
O QUE É SER DISCÍPULO?
Mais que um modelo, um princípio. N
o início de seu ministério, Jesus saiu arrebanhando discípulos. À beira do mar da Galileia convocou Pedro e seu irmão André (Mt 4.18), Tiago e seu irmão João (Lc 5.1-11), entre outros. O chamado que Jesus fez a esses homens foi para que o conhecessem como o “Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16) e aprendessem seu ofício de “pescar homens”, por meio do seu exemplo (Jo 13.15). Entendemos que, biblicamente, o termo “discípulo” tem um sentido de seguir, estar junto, aprender
conteúdos e imitar virtudes de um mestre. Os discípulos acompanhavam Jesus por onde ele fosse. Estavam sempre junto com ele, aprendendo a respeito do Reino dos Céus por meio do seu ensino e imitando seu exemplo de vida. Jesus também nos convocou para que o sigamos em discipulado, aprendendo sobre quem Ele é e imitando-o nas atitudes. Ele também nos ordenou a ir e fazer discípulos dele de todas as nações (Mt 28.19), deixando bem claro que nossa tarefa é sermos seus discípulos, ajudando outras
pessoas a serem, do mesmo modo, seus imitadores. A tarefa de fazer novos discípulos não é outra senão ajudarmos pessoas a seguirem e imitarem Cristo através do nosso exemplo. Este é o cerne da atuação da Igreja no mundo. A tarefa de Jesus é delegada para ser executada no poder do Espírito Santo como um princípio, tal qual o era para os primeiros discípulos e para a Igreja primitiva, ou seja, muito além de um modelo. Natanael Böhm – S. G. da Palha/ES
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PRINCÍPIO
COMO VIVER O DISCIPULADO HOJE? C
reio que esta seja uma das perguntas mais relevantes de nossos dias. Ouço-a praticamente com a mesma frequência com que eu mesma a faço. Qual a relevância da fé na vida cotidiana? De que forma ela conversa, molda, define nossos pensamentos, ideias e decisões? De que maneira ela se torna concreta no mundo, através de nossas vidas e testemunho? Em uma definição clássica do que significa ser discípulo, podemos dizer que é alguém que caminha com Cristo e que, ao caminhar, aprende dele e com ele. Em nossos dias, não é diferente. Cristo continua nos orientando através das Escrituras Sagradas e de seu Espírito Santo.
Surge então, a pergunta: uma vez que o conhecemos, não deveríamos buscar ser mais parecidos com Ele? John Stott (1921-2011) lançou a mesma pergunta em seu livro “O Discípulo Radical” (Editora Ultimato). Se somos discípulos, o caráter de Cristo deve ser moldado em nós através da ação misericordiosa do Espírito Santo. Quando isso acontece, naturalmente (ou sobrenaturalmente!) agiremos como nosso Mestre. Stott apontou ainda cinco aspectos dessa semelhança. Devemos nos parecer com o Mestre: 1) em sua encarnação, tornando-nos semelhantes àqueles que o Senhor coloca em nossa vida, compadecendo-nos dos que sofrem; 2) em seu serviço; 3) em
FALANDO A REAL Lembro-me muito bem de quando comecei no discipulado . Recebi alguns bonecos de papel com as mãos dadas (daqueles que fazíamos na escola) e neles estavam escritas algumas palavras-chave para a construção de um relacionamento saudável no grupo, dentre elas: perdão, compaixão, misericórdia e confiança. Logo após, tivemos que colocar, em cada uma das palavras, um versículo que as fundamentasse, e nossa líder explicou pacientemente o que cada um significava. O detalhe é que, depois daquele dia, não precisamos mais olhar para os bonecos para nos
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seu amor sacrificial, que para Cristo representou sua morte na cruz; 4) em sua longanimidade, não desistindo, mesmo daqueles que parecem inalcançáveis; e 5) em sua missão. Portanto, o discipulado de Cristo aponta para Ele e derramase sobre todos aqueles que estão ao nosso alcance. Não permitamos que seja reduzido a uma série de práticas religiosas, em grande parte desconectadas da vida e das pessoas, mas que o Senhor nos dê a graça de, a cada dia, sermos mais parecidos com nosso Mestre.
Fabiane Luckow - Pelotas/RS
lembrarmos de como agir e ser dentro (e fora) do grupo. Isso porque, conforme íamos aprendendo sobre o amor e a graça de Cristo e mais íntimas ficávamos da Palavra, mais semelhantes a ele nos tornávamos. Há quatro anos começava algo que, para mim, até então era desconhecido, mas que passou a ser essencial na minha caminhada rumo ao alvo: o discipulado. Nele, dentre tantas outras coisas, aprendi sobre a esperança que a cruz vazia traz para vida do cristão. E minha vida foi mudada completamente!
Samara Radtke – Pelotas/RS
DESAFIO
DISCIPULADO: UM DESAFIO PARA TODOS D
iscipular é convidar para caminhar junto, não só “sentar e ler um livro”. Um dos grandes desafios de ser discipulado é o constrangimento, a dificuldade de “se abrir”. Vivemos em uma geração que valoriza relacionamentos superficiais. Outro grande problema é que grande parte das pessoas maduras espiritualmente não se dispõe a caminhar com irmãos mais novos. E por que não se dispõe? Porque essas pessoas, ou irmãos mais velhos, também não tiveram a oportunidade de ser discipulados. Esta é uma dificuldade que as igrejas enfrentam há anos. Mas, quando olho para a vida de Jesus relatada nos Evangelhos, vejo o contrário. Vejo-o praticando
discipulado, chamando pessoas para caminhar junto, para viver com ele, com o intuito de moldar o caráter de cada um segundo a sua vontade, olhando para o modelo deixado por ele, o modelo relacional. Vejo o desafio que os discípulos enfrentaram em revelar suas falhas e erros, e o quanto foi duro, para cada um deles, ouvir que precisavam de mudanças. Passaram por um discipulado de três anos com o Senhor, e qual o resultado durante o processo? De 12 pessoas, passaram a 120 relatadas em Atos 2. Discípulos que fazem discípulos! Eu, particularmente, tive a oportunidade e o privilégio de ter um referencial, de ter alguém caminhando comigo. Com isso,
FALANDO A REAL Edson: “Nos conhecíamos há exatamente três anos. Rafael me chamou para jogar futebol na época do ensino médio e a gente se aproximou muito”. Rafael: “Eu sabia que Edson já havia frequentado uma igreja, mas não ia mais. Por isso nossa célula optou por usar o futebol para nos aproximar dele e, então, evangelizá-lo”. Edson: “Eu gostei das pessoas do grupo. Nós nos tornamos bons amigos”. Rafael: “Edson nem imaginava há quanto tempo
pude ter a oportunidade de crescer, de ter um exemplo de vida. No discipulado, fui desafiado a compartilhar meus medos e anseios, fui desafiado a crescer. Ter alguém para caminhar junto, para estar ao seu lado, é fundamental na vida de qualquer pessoa. Temos multidões de pessoas sentadas nos bancos de nossas igrejas regularmente, pessoas que desejam, mas não sabem como resolver seus problemas, suas lutas. Estão esperando o mesmo convite que Cristo fez aos seus discípulos: sigam-me!
Jeferson Lobo Cordeiro – Teresina/PI Fabiane Luckow - Pelotas/RS
estávamos atrás dele, tentando nos aproximar. O futebol foi apenas a porta de entrada para tudo isso. Mesmo que ele não soubesse, eu já estava iniciando o discipulado com ele. O fazer discípulos teria que começar com o fazer uma boa amizade”. Edson: “Hoje agradeço ao Rafael por me ajudar a me tornar um discípulo de Jesus e líder de uma célula que está prestes a se multiplicar, pois já ajudei vários amigos a se tornarem discípulos de Cristo, assim como o Rafael fez comigo”.
Edson Kallyl e Rafael do Nascimento – Três Lagoas/MS
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SACERDÓCIO
UM REINO SEM LEIGOS
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ideia do sacerdócio universal tem sua origem na justificação somente pela fé. A fé é um dom gracioso que Deus oferece a quem ele quer. Jesus é o único mediador para todos. Assim, todo cristão pode ter a certeza do acesso a Deus e da igualdade diante dele. Antes do período da Reforma as lideranças da Igreja tinham assumido unicamente para si toda a responsabilidade que a Bíblia oferecia a todo crente e impunham uma carga religiosa, psicológica e econômica às pessoas, tornandoos meros consumidores das atividades da igreja. Lutero escreve que não existe outra diferença entre os cristãos, a não ser a do ofício (ver Da Liberdade Cristã Art. 17). Todos são sacerdotes e, cada qual em sua função, serve aos outros de maneira a edificar a comunidade cristã. Cabe à comunidade cristã nomear os mais aptos para a função pastoral, do bispado. Esta é uma distinção de ofício, não uma condição
especial. Mas o protestantismo também se “clericalizou”, lenta e progressivamente. Assim podemos ver que o problema reside no exercício do poder na igreja. Quando alguém conhece um pouco mais de teologia, sabe falar melhor em público, é tentado a exercer seus dons, não para servir, mas para exigir autoridade controladora sobre os demais, fazendo surgir igrejas centradas no próprio obreiro, no templo ou no ritual do culto. Jesus é o modelo de sacerdote para todos os cristãos. Muitas vezes o modelo de sacerdote que vivemos é o do Antigo Testamento. A formulação de Lutero foi revolucionária, pois nos lembrou da configuração de poderes no povo de Cristo, incumbindo homens e mulheres, sem distinção, do serviço cristão. Jesus fez leigos os sacerdotes e sacerdotes os leigos! (Wanderson Perobelli).
FALANDO A REAL
e pais, e de Deus, eu era o responsável por pastorear aqueles a quem eu estava liderando. Entendi, na prática, que ser pastor estava muito além de um simples título que se conquista ao finalizar uma faculdade de teologia. Através dos relacionamentos e do discipulado, comecei a descobrir que o pastoreio já fazia parte do meu dia a dia há muito tempo. Eu mesmo era edificado e tratado à medida que edificava e tratava outros. Eu crescia à medida que ajudava outros a crescer. Enfim, eu era pastoreado enquanto pastoreava. Então, sou um pastor.
Durante seis anos fui missionário na Comunidade Luterana de Três Lagoas/MS. Lá, estive na liderança de grupos de jovens e adolescentes. Inúmeras vezes, ao conversar com os jovens e com seus pais, fui chamado de pastor. Tentei, por muito tempo, explicar que eu não era exatamente um pastor. Porém, no meio da explicação, normalmente era interrompido por um: “mas, pastor”. Foram necessários alguns anos até que eu realmente entendesse que o sacerdócio geral se aplicava também a mim e que, aos olhos daqueles jovens
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Whanderson Perobelli - Goiânia/GO
Jonatan Neumann - Curitiba/PR
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IGREJA
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uando surgiu a Igreja? Certamente você já se perguntou isto. Normalmente, pensamos que a Igreja nasceu a partir da descida do Espírito Santo em Jerusalém – eu mesma pensava assim. A Igreja, porém, faz parte do projeto de salvação de Deus para a humanidade que perpassa toda a sua história. Ela já estava presente no Antigo Testamento. Quando observamos o chamado feito a Abraão, vemos Deus revelando a Igreja. Por meio dele, Deus quer abençoar todas as famílias da Terra. O chamado foi feito a todo o Israel para todas as nações. E é relembrado em todo o Antigo Testamento. A descida do Espírito Santo no Pentecostes confirma que o povo de Deus tem a responsabilidade para com a salvação de toda a humanidade. Naquele dia, pessoas de diversos povos foram alcançadas pelo poder do Espírito Santo,
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dando uma amostra do que a Igreja era chamada a realizar, e o livro de Atos nos conta que ela realizou. Em nossos dias, o chamado permanece o mesmo. Não temos como alterar a essência da Igreja. Ela é, por natureza, responsável por levar o evangelho ao mundo todo. Se nos omitimos dessa tarefa, deixamos de ser Igreja. É necessário que nos perguntemos o que estamos fazendo e quanto dos nossos esforços está centrado em alcançar pessoas, tanto onde estamos, quanto distantes de nós. É chegado o tempo de romper com a inércia que nos paralisa e que faz com que nos contentemos em apenas conservar a nossa comunidade eclesiástica, em benefício de nós mesmos. No nosso trabalho, no nosso bairro e ao redor do mundo, pessoas esperam por nós. Vamos nessa? Vamos ser Igreja? Elfride Krause – Ijuí/RS
FALANDO A REAL Fui convidada pela missionária Elfride para participar de um grupo de discipulado. Respondi que seria difícil conciliar isso com dois empregos em instituições diferentes, sendo um em regime de sobreaviso (à noite), além de dois filhos. Mas ela insistiu, dizendo que eu poderia me ausentar se necessário. Os encontros aconteciam às quintas-feiras à noite. No primeiro encontro senti algo que tocou meu coração: ser discípulo, o grande chamado da fé cristã. Prostrei-me diante do Senhor, clamei humildemente, coloquei-me à disposição dele. A fé passou a mover minha vida, conheci a verdadeira comunhão com os irmãos. Jesus preparou todas as quintas-feiras, não houve chamado de trabalho, nenhum tipo de impedimento à minha participação. A bondade de Deus me levou à mudança, à maturidade, comecei a compartilhar com familiares, colegas de trabalho e vizinhos o amor de Cristo por nós. Comecei a aceitar as pessoas como elas são a fim de que conheçam o verdadeiro caminho para a vida eterna.
Cleo Rolim – Ijuí/RS
MISSÃO
MISSÃO
É
comum as pessoas buscarem referência de Igreja no Novo Testamento e relacionarem o contexto atual com a sociedade judaica de então, que tinha noção da vontade e da Palavra de Deus. Mas hoje, há uma religiosidade plural e confusa, uma moral relativizada, uma aversão institucional, famílias que são mosaicos, excesso de informações, valores globalizados, dentre outros aspectos, que muito mais nos aproximam do Areópago de Atenas (At 17.15-25). Na sociedade pós-moderna, provas são substituídas por opiniões, convicções por distorções e heresias. As avaliações são supérfluas; os conceitos, vagos, e os juízos, sentimentais. Desconsidera-se o
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certo ou errado, o bom ou mau, o justo ou injusto, a verdade ou mentira. Como os fatos são complexos, as versões respaldam uma “pseudo” ou “pós-verdade”. A riqueza atrelada à perda de significado resultou em um consumismo; uma “religião” que justifica e “faz a cabeça” de tantos que a praticam. A Igreja tem adotado algumas dessas ilusões, por isso tem dificuldade de encarar os ídolos atuais. O legado de nossos projetos missionários clássicos e das comunidades evangelicais despertadas até oferece um ambiente melhor (em termos espirituais e materiais) para os alcançados e adaptados. Mas, a despeito disso, em geral as igrejas esmoreceram em
ser luz em meio a essa cultura de trevas, que não é cristã nem neutra. Teologicamente nos identificamos com o sacerdócio de todos os santos, mas passados 500 anos da Reforma, precisamos reaprender que, ao citar Êxodo 19, o apóstolo Pedro fala que Israel, como propriedade separada, o é para a função especial de ser um reino de sacerdotes (um povo no meio dos povos) e uma nação santa. A realidade não é que Deus tem uma missão para Sua Igreja no mundo; o que Ele tem é uma Igreja para sua missão no mundo. Os reformadores indicaram o livre acesso de todos os cristãos a Deus, mas, mesmo sendo herdeiras dessa afirmação, as igrejas históricas continuaram com o mesmo modelo
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religioso centralizado no clero. Então, muito mais do que alguns exercerem papéis sacerdotais em estruturas que não mudam, o sacerdócio será geral se todos nós, intencionalmente, formos missionários onde e com quem estivermos. Mais do que as perversões da intenção de Lutero, convém guardar que, para ele, “somos sacerdotes como ele (Jesus)é sacerdote, filhos como ele é filho, reis como ele é rei”. E, que cada membro da comunidade tem parte igual nesse sacerdócio, que é responsabilidade e privilégio. A Grande Comissão não é uma tarefa atribuída a pessoas autônomas, é uma identidade dada à comunidade dos discípulos. Nos tratados de 1520, Lutero destaca que todo cristão é sacerdote
pelo simples fato de ser cristão. Desde o Antigo Testamento o estilo de vida do povo de Deus é parte da missão. Ao viver os princípios e valores de Deus, o discípulo abençoa seu meio com mais do que a bondade comum; torna-se referência de bem. Também a adoração da comunidade dos fiéis pressupõe a presença de quem ainda não é redimido. E, se no Novo Testamento temos a ordem de “ir” em missão, isso não exclui nossa responsabilidade de “viver” de maneira missional. Israel e os “crentes” interpretam o chamado como privilégio, e não como responsabilidade diante dos seus vizinhos. Ao perderem a consciência de sua missão, perdem também a razão de ser.
A comunidade dos discípulos é formada por aqueles que foram chamados, pela graça, para ser bênção aos de fora. Ou seja, a razão de ser desta comunidade é a missão. Então, a relação maior da missão não é com o ir a algum lugar, nem com o fazer alguma coisa, mas com o ser um povo distinto, uma comunidade missional. Pobre da comunidade cujas reuniões “estranhas” ocorrem para satisfazer propósitos egoístas. Bem-aventurada aquela cuja presença abençoa os de fora e é comprometida em ser Boa Nova. Eu vou por aí.Vamos juntos?
Airton Härter Palm – Curitiba/PR
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CHAMADO
DISCIPULADO COM O
CORAÇÃO ARDENTE O
Senhor vem. Quebranta corações endurecidos. Rompe a resistência de mentes céticas. Convida pessoas para segui-lo. Comunidades são transformadas pelo seu poder e uma expectativa por viver o Reino de Deus cresce em meio ao povo. A história dos avivamentos apresenta, em linhas gerais, essas marcas, que são capazes de influenciar gerações por muitos anos. Gosto de pensar que avivamento é cultivar aquela mesma reação experimentada pelos discípulos ao se encontrarem com Jesus no caminho de Emaús: deixar o coração arder diante da presença e da palavra de Cristo (Lc 24.1335). A partir dessa cena, podemos compreender que a vivência de um avivamento está diretamente relacionada ao discipulado. Primeiramente, ser discípulo é decisivo para nossa fé. Na caminhada com Cristo, somos chamados a nos tornar semelhantes a ele, aprendendo a ter a sua mente (1 Co 2.16), vivendo o seu sentimento (Fp 2.5) e obedecendo ao Pai como ele obedeceu (Jo 20.21). Em segundo lugar, ser discípulo envolve toda nossa vida. Cristo se aproxima
de nós e nos chama a segui-lo com todo o nosso ser. Nenhuma área está excluída do chamado de Jesus, pois tudo o que temos e somos deve se render à autoridade do Mestre. E, por fim, ser discípulo nos coloca em missão. O discipulado envolve cooperar com o Senhor na sua obra redentora, sendo direcionados e capacitados pelo poder do Espírito Santo para sermos testemunhas (At 1.8). O discipulado precisa ser exercido na convicção da companhia diária de Jesus, pois essa é a promessa dele (Mt 28.20b). Viver com o coração aquecido pela presença e pela Palavra do Senhor é decisivo para os discípulos. Ele atua em nossas vidas para nos salvar, nos santificar e, no dia de Cristo, nos glorificar. Ao nos submetermos a ele sincera e constantemente, vamos nos conformando à sua imagem e semelhança. É no calor da preciosa companhia de Cristo, revelada a nós pelo Santo Espírito, que nossa fé, nossa vida e nossa missão devem acontecer. Edson Munk Jr. – Juiz de Fora/MG
FALANDO A REAL Quando penso sobre a relevância do discipulado, percebo que o agir do Espírito Santo impulsiona e direciona o nosso caminhar em Cristo. Ser discípulo não é fácil e não há uma fórmula para isso. Mas, quando eu me rendo ao agir supremo da graça de Deus, Ele aviva a minha alma, recebo sua graça e me sinto capacitado a ser testemunha viva de seus grandes feitos. O ano de 2016 foi bastante enriquecedor, pois fui abençoado e também canal de bênção ao grupo de pastoreio/discipulado do
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qual participo. Nossas reuniões são baseadas em leitura da Palavra e de um livro cristão, além das conversas que se tornam conselhos. Como fez diferença para mim! O Espírito Santo realmente soprou em meus ouvidos e me trouxe nova vida, novas perspectivas, um novo caminhar. Enxerguei que o meu crescimento na fé vem por oração, arrependimento, gratidão, comunhão e busca sincera pelo Senhor.
Fernando Segalla Lauro – Juiz de Fora/MG