Revista Movimento Encontrão - Edição 11 - Novembro 2017
OS TEMPOS MUDAM, MAS A REFORMA CONTINUA? MARCELL STEUERNAGEL - Pág 10
ÉTICA É REFORMADO UMA QUESTÃO PELAS DE CARÁTER ESCRITURAS ARZEMIRO HOFFMANN - Pág 3
RICARDO COSTA - Pág 4
EDITORIAL
Q
uando Martim Lutero leu a passagem bíblica “o justo viverá pela fé”, escrita em Romanos 1.17, seus olhos foram abertos e algo extraordinário aconteceu. O homem que buscava servir a Deus movido muito mais por medo e tradição passou a conhecer um Deus que ama o pecador e que o justifica quando este aceita o sacrifício de Cristo pela humanidade. Ter acesso à verdade das Escrituras não serviu para “aquietar” o espírito de Lutero, mas para despertá-lo a iniciar uma grande reforma, que nem mesmo ele imaginava viver. Esta edição da revista Movimento tem por objetivo lembrar a Reforma Protestante. A capa, de maneira sintética, representa as mãos de Lutero publicando as 95 teses em Wittenberg, fato que acabaria por abrir um debate e causaria uma divisão na história. Guiado por suas convicções, pela fé e pelo temor à Trindade, o então monge Lutero abriu mão do conforto de seguir o espírito de sua época. O trecho bíblico que marca a história de Lutero está representado pela pena terminando de escrever Sola Fide, que posteriormente seria um dos lemas da Reforma. A materialização de um conceito que estava ainda em mente, passa da pena ao papel, fortalecendo a convicção pela fé em meio às armadilhas da razão e do sentimento.
A Reforma é um movimento contínuo, por isso afirmamos que os tempos mudam, mas a Reforma continua.
Os elementos utilizados na arte que se transformou na capa lembram a reforma em seu termo mais comum, por isso há parafusos e a arte não foi feita em tela, mas em retalhos de madeira. O material base utilizado foi o papelão justamente por não ser perene, mas frágil e passível de desgaste com o tempo. Isso tudo para que lembrássemos da importância histórica da Reforma sem que ficássemos congelados no próprio tempo. A Reforma é um movimento contínuo, por isso afirmamos que “os tempos mudam, mas a Reforma continua”.
Boa leitura! MARCELO BITTENCOURT
Revista Movimento Revista de circulação interna do ME Edição 11 Ano 2017/2 Tiragem: 3.000 exemplares Distribuição gratuita
Coordenação Editorial: Jonatan Neumann Projeto Gráfico: Pedro Moura Capa: Marcelo Bittencourt Revisão: Josiane Zanon Moreschi Diagramação: Pedro Moura Jonatan Neumann
Movimento Encontrão Rua Francisco Caron, 630 CEP 82120-200 - Pilarzinho Curitiba/PR 41 3302-5100 - me@me.org.br www.me.org.br
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ÉTICA É UM A Q U E S TÃO D E C A R ÁT E R
A preocupação com a ética deveria ser desnecessária na vida da Igreja. Jesus nunca deixou dúvidas sobre o comportamento adequado de seus seguidores.
O
primeiro e maior mandamento é: “ame a Deus de todo o teu coração... e a teu próximo como a ti mesmo. Nisto se resume a lei e os profetas” (Mt 22.37-40). Portanto, falar de ética é falar de amor. Quem ama cuida, quem ama respeita, quem ama protege, quem ama pratica a justiça... Logo, a falta de ética é falta de amor. Mas... nós vivemos num mundo marcado pelo pecado. E, o pecado manifesta-se em atitudes de desamor, desrespeito, desamparo, injustiça, maldade... O bombardeio diário dessas coisas negativas afeta o caráter das pessoas com propostas e atitudes sem valores e princípios evangélicos. Como superar essa situação? Cada pessoa cristã precisa estar
amparada em fundamentos evangélicos, caso contrário, sucumbe às tentações do mundo. Como se faz isso? Lutero, logo no início da vida das novas comunidades, percebeu que tanto os pastores quanto a comunidade não tinham uma sólida doutrina evangélica. O que ele fez para mudar isso? Escreveu um manual reunindo os principais fundamentos da doutrina cristã para moldar a família, a igreja e a sociedade nos princípios cristãos. Este manual é o Catecismo Menor. Seu conteúdo consiste na explicação dos Dez Mandamentos, da oração do Pai Nosso, do Credo Apostólico e dos Sacramentos. Estes conteúdos oferecem a doutrina necessária para ser uma pessoa verdadeiramente cristã na família, na igreja e na sociedade.
E o principal: Lutero elaborou o Catecismo para que ele fosse ensinado em cada lar cristão. Por quê? Porque a família é o espaço no qual é formado o caráter da pessoa. Que tal seguir o conselho do velho Lutero?
A r ze mi ro Hoff m ann SÃO LEOPOLDO/RS
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RE FO RMADO P EL AS
ESCRITURAS A vi da e ter na nã o está na B íbl ia , a vi da eter na es tá em Jes u s Cris to, pa ra qu em a B íbl i a no s ap onta . A Reforma Protestante ficou famosa pelo que passamos a chamar de “Solas”: Somente as Escrituras, Somente Cristo, Somente a Fé e Somente a Graça que resultem em Somente a Deus Glória.
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esejamos ser uma igreja que é dirigida por esses fundamentos. Afirmamos que somos parte da Igreja Reformada e desejamos continuar sendo reformados por cada um desses valores eternos. Mas há um desafio! Entender como esses valores, esses “solas" devem continuar nos reformando como uma igreja que não está inserida no contexto do século 16, mas no século 21. Por exemplo, as Escrituras! Como podemos ser reformados pelas Escrituras? Primeiro, não olhe para as Escrituras como um fim em si mesmas. “Vocês estudam
cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna.” – Jesus Cristo (João 5.39). Existe duas maneiras erradas de se lidar com a Bíblia, como Palavra de Deus. Uma é a de não levar a Bíblia a sério, não acreditar que ela é a revelação escrita de Deus para nós. A outra é, crer na Bíblia, mas achar que ela existe como um instrumento investigativo que pode ser compreendido pela nossa capacidade humana. Embora seja extremamente importante lermos a Bíblia e
Não olhe para as Escrituras como um fim em si mesmo. “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês tem a vida eterna” (Jo 5.39).
estudá-la, não é aquilo que aprendemos dela que vai nos dar a vida eterna. A vida eterna não está na Bíblia, está em Jesus Cristo, para quem a Bíblia nos aponta. Segundo, deixe as Escrituras conduzirem você ao Senhor. “E são as Escrituras que testemunham, a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida” (João 5.3940). Quando olhamos para a Bíblia precisamos entender que estamos lidando com o livro de Deus. A proposta dela não é nos dar uma série de regras ou normas de como devemos viver. É um testemunho a respeito de como a nossa vida deve ser com Deus neste mundo.
Deixe as Escrituras conduzir você ao Senhor. “E são as Escrituras que testemunham, a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida” (Jo 5.39-40).
AÇÕES PR ÁTICAS COM AS ESC RI TUR AS
1
Tire um tempo diário para estar diante da Palavra de Deus. Precisa ser um tempo consistente.
2
Quando abrir as Escrituras abra seu coração para um encontro com Deus e não para um tempo em que você vai pesquisar sobre alguém.
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Ao ler a Bíblia espere pela voz de Deus. Decida viver conforme o que a Bíblia lhe revela. Decida não agir conforme aqueles que resistiram ao Senhor, e esperar que se manifeste em você o que aconteceu na vida de quem desejou o Senhor.
4
Leia com os ouvidos. Ou seja, com a intensão de ouvir a voz de Deus, de desejar fazer sua vontade.
5
Leia ao longo do dia. Ou pense (medite) no que você leu ao longo do dia.
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Deseje que a Bíblia o conduza a Jesus Cristo. Ele vai transformar você.
R i c a rdo Costa VINHEDO/SP
COMUNHÃO
REFORMA NA
Ao refletir sobre a continuação da Reforma na comunhão, especificamente na família e no aconselhamento, veio-me à mente um conhecido pastor luterano que prezo muito pelo legado que nos deixou nesta área. Trata-se de Walter Trobisch (1923-1979) que, por meio da sua Family Life Mission, abençoou inúmeras vidas, aconselhando jovens, casais e famílias nas décadas de 50 a 70.
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Wal ter Trobisch p os sibil itou a os s e u s acon s e l han d o s, s ejam i nterlocu tore s, ouv in te s o u l e i to res, c a m i nhar, c o m u m a fé s aud áve l , na verd a d e i ra li berd ad e d os fi l hos d e D e u s.
A
utor de vários livros, alguns também traduzidos ao português, Trobisch soube conjugar como poucos a sabedoria eterna da Palavra de Deus com descobertas mais modernas na área da psicologia. Assim, ele possibilitou aos seus aconselhandos, sejam interlocutores, ouvintes ou leitores, caminhar, com uma fé saudável, na verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Certamente, um dos seus alvos principais era integrar a sexualidade numa vivência cristã livre de neuroses. Depois de lerem seu livro “Meu secreto prazer” em que procura ajudar a superar o problema da masturbação, observei a imensa alegria de inúmeros jovens por poderem desenvolver uma nova postura em relação à sua sexualidade, condizente com sua fé em Cristo. Contudo, sua contribuição mais profunda e madura para a comunhão em família pode ser encontrada em seu livro “O homem mal interpretado” (que, infelizmente, não existe em português). Nesta obra, ele reflete sobre os medos mais profundos da alma masculina, seus descaminhos e fugas, mas aponta também a possibilidade da redenção do homem a fim de que possa exercer plenamente sua função e missão para
a qual Deus o chamou na família e na sociedade. Creio que a crise do masculino é, possivelmente, a causa mais profunda da deterioração da comunhão na família e na sociedade de hoje. Se quisermos, pois, continuar a Reforma na comunhão, especificamente na família e no aconselhamento, considero fundamental que sigamos o exemplo de Trobisch, integrando com discernimento, sabedoria e coragem as verdades que descobrimos hoje nas ciências humanas e submetendoas sempre ao senhorio de Cristo. Além disso, considero necessário investirmos mais na área relacional nas nossas igrejas e menos na institucional, uma vez que nossa saúde psicoemocional e espiritual é muito mais importante do que prédios e estruturas administrativas. E, assim como os reformadores há 500 anos nada puderam fazer sem serem revestidos do poder do Espírito Santo, quanto mais precisamos nós do seu auxílio hoje frente ao constante e intensivo aumento de forças centrífugas que destroem nossas famílias! Queira, pois, Deus concedernos para tal sua graça e seu Espírito! D i ete r K i r s ch WITMARSUM-PALMEIR A/PR
Solus Sola Sola Sola por
M á r i o Tes s m a nn FATEV
Christus SOMENTE CRISTO
Gratia SOMENTE A GRAÇA
Fide SOMENTE A FÉ
Scriptura SOMENTE AS ESCRITURAS
LEIA ESTE ARTIGO NA ÍNTEGR A
FATO S
MARCANTES DA
REFORMA PROTESTANTE
3 1 d e o u tu bro de 1517 foi o p on to d e pa rtid a d o m ovi me n to d a Refor ma . Ne s ta d ata, o te ól o go a lemã o M artim Lu te ro d ifu ndi u sua s “ 95 te s e s”, fra ses cur ta s na q uai s cri ti c ava o c om érc i o da s i nd u lgê n c i as – u m s i ste m a de p erd ã o dos p e c a dos d a I greja C atól i ca para fin anc i ar a c o nstr u ç ã o d a B a sílic a d e S ão Pe d ro no Vatic an o – e q u esti on ava a a uto ri dad e d o Pa pa Leão X , q ue o e x c o mu n go u e m 1521 .
Sacro Império Romano-Germânico
MARTIM LUTERO nascido em Eisleben, em 10 de novembro de 1483, ingressA na vida monástica em julho de 1505 DEVIDO Ao fato de não se vER devidamente preparado para estar perante Cristo, em Seu tribunal. Em função disSo, Lutero procurou seguir o caminho da perfeição, estabelecido pela Igreja na época, tornando-se monge. no entanto, ele percebeu que este rumo não lhe dava paz na consciência. compreendeu, ENTÃO, que o ser humano é alguém cativo dos seus próprios interesses e que necessita ser liberto. Não há lei ou igreja ALGUMA que torne as pessoas livres, apenas Cristo.
LITERATURA O ano de 1520 não foi apenas de intimidações, mas também de intensa produção literária. Ao longo destes doze meses, Lutero escreveu quatro livros, que ficaram conhecidos como o "Programa da Reforma". Eles são os seguintes: Da Liberdade Cristã, À Nobreza Cristã da Nação Alemã, O Cativeiro Babilônico da Igreja e das Boas Obras. Neles, ele apresenta suas ideias de liberdade, de sacerdócio de todos os cristãos e reforma da sociedade, de sacramentos e de ética. Nos anos que virão, Lutero IRIA SE ocupar com estes tópicos e desenvolvê-los.
MORTE doze anos depois de ter publicado a tradução DA bíblia para a língua alemã, martim lutero morre na cidade de eisleben.
A Alemanha no início do século 16 ERA governadA por príncipes, duques e condes que tinham interesses políticos conflitantes. Não havia um estado alemão unificado, Mas EXISTIA o Sacro Império Romano-Germânico. A estrutura social era dividida da seguinte forma: 1. os que fazem a guerra (os nobres), 2. os que oram (os religiosos) e 3. os que trabalham (os camponeses). Esta ESTRUTURA era entendida então como a ordem estabelecida por Deus, cujo lema era “Um Reino – Um Rei – Uma Fé”.
AS 95 TESES Em função da necessidade de recursos financeiros para continuar a construção da catedral de São Pedro, em Roma, bem COMO para pagar o enorme débito para com o banco dos Fugger, o papa da época lançou mão da venda de indulgências, que era uma possibilidade de perdão dos pecados, concedida pela Igreja. Quando a venda de indulgências chegou, então, à pequena Wittenberg, Lutero reagiu aos abusos da IGREJA, publicando as 95 teses em 1517, o QUE gerOU forte discussão Na Europa.
"FORA DA LEI" Em janeiro de 1521, ele foi expulso da Igreja e considerado, conforme as normas jurídicas da época, também um "fora da lei" pelo Império Romano-Germânico. Na prática, ele tornouse um "sem igreja" e "sem cidadania". Era firme convicção dele de que o Evangelho e a cruz não se separam. Como Lutero costumava dizer: "não é preciso procurar a cruz, ela vem naturalmente com o Evangelho".
"Não é preciso procu ra r a cr uz , ela vem na tu ralmen te com o Eva ngelho." MARTIM LUTERO
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OS TEM P O S MUDAM, MAS A
REFORMA
CONTINUA?
É nat ura l nu m ano com o 2017, ser mo s in u ndados p or u ma ava la nche de textos, p rega çõe s , evento s , l ivro s e ou tros qu it ute s a respei to d a Refor ma . Ag ora, passa das as c el ebra çõe s do s 50 0 a nos , parece que o uv i mo s o su ficiente sob re o a s s u nto. Mas antes que se vire a página, quero convidar vocês para uma reflexão a respeito da arte, ainda no contexto desta retrospectiva a respeito da Reforma e de seu impacto na igreja e no mundo.
Q
uando olhamos para a Reforma, estamos olhando para eventos que aconteceram muito tempo atrás e deixaram ecos na história. Nem sempre temos clareza a respeito de como as coisas aconteceram. Temos, porém, muita coisa escrita. E uma das características da Reforma que podemos colher a partir dessas correspondências, tratados teológicos, hinos, e outras fontes, é que foi um tempo de confusão. Estendendo a narrativa para além da Reforma luterana e olhando para esta revolução eclesiástica de maneira mais ampla, percebemos que foi uma época de experimentação. Enquanto Lutero promovia a prática do canto congregacional, Zwínglio silenciou a igreja em Zurique por 75 anos. Em alguns lugares eram publicados hinários e, em outros, órgãos e quadros baseados
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Não adianta amordaçar, queimar, e destruir. Construir igreja sobre um alicerce de repressão e censura não funciona. Não deu certo no passado e não vai dar certo agora. O amordaçamento da igreja leva, simplesmente, à incapacidade desta conversar na língua do povo com o povo à sua volta.
em temas sacros eram queimados. Se aqui se construía, ali se destruía. 500 anos depois, podemos olhar para essa relação conflituosa entre os Reformadores e a arte, especialmente dentro do contexto do culto cristão, e aprender algumas coisas. A primeira lição se refere ao vernáculo. A defesa do canto no idioma das pessoas foi uma das grandes contribuições de Lutero para a música da igreja (e do Ocidente). É preciso cantar na língua do coração! Isso significa que há muito trabalho para compositores, poetas, dançarinos, pintores... todos os artistas. Continuar criando é essencial porque é desta maneira que continuamos (no caso da música, por exemplo) a dar voz ao canto da Igreja. Se, por um lado,
celebramos o legado artístico do passado, precisamos acrescentar a nossa contribuição, que tem sabor e cheiro de hoje, do presente. A segunda lição é que não adianta amordaçar, queimar e destruir. Construir Igreja sobre um alicerce de repressão e censura não funciona – não deu certo no passado e não vai dar certo agora. O amordaçamento da igreja leva, simplesmente, à incapacidade desta de conversar na língua do povo com o povo à sua volta. Uma das bases da teologia de Lutero é o reconhecimento da generosidade e abundância da criação de Deus. Quando tomamos sobre nós a responsabilidade primária de separar joio e trigo e prescrever o que “pode e não pode” para a igreja, contrariamos a Palavra de Cristo sobre
joio e trigo e DES-confiamos da liderança do Espírito. Finalmente, precisamos compartilhar com os Reformadores o compromisso de estar sempre em reforma. O processo não foi finalizado no século 16, e cabe a nós servir à nossa geração, em nosso tempo e lugar, criando arte, dialogando com a arte, produzindo reflexão teológica e beleza que reflete nossa jornada com Cristo. Testemunhar não é só falar, e criar não é só testemunhar. Arte é parte integral do presente da vida, e fazer arte é viver em plenitude.
M a rc e l l S i l v a S te u e r n a g e l T E XA S - E UA
E A RELEVÂNCIA
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ENTRE A FIDELIDADE
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Jesus, Paulo, Lutero, e tantos outros, não causaram o impacto que causaram e foram, assim, relevantes para o mundo, porque procuraram a simpatia do mundo. Eles o fizeram por fidelidade a Deus. Uma fidelidade que inevitavelmente gera repercussão pública.
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ivemos hoje uma época diferente daquela quando a Reforma Protestante ocorreu. Uma diferença está em que hoje há uma grande dificuldade em as pessoas se verem como más, como pecadoras. Não há mais espaço para confissão de pecados. No máximo recorremos a terapeutas e livros de autoajuda que reforcem o quanto somos bons ou que nos ofereçam receitas para sermos ainda melhores. Um versículo bíblico imediatamente lembrado e relacionado a Martim Lutero é Rm 1.17 onde lemos que “o justo viverá por fé”.
O fato é que Lutero encontrou não só neste verso, mas, em sua leitura e estudo das Escrituras, uma liberdade que até então sua religião não conseguira oferecer a ele. Todos os desdobramentos da Reforma nas artes, na educação, na ciência, na política e cultura em geral, são produto não do brilhantismo de um homem, mas, de vidas que foram transformadas por um genuíno encontro com o Evangelho. Toda repercussão pública do cristianismo em termos positivos, envolvendo transformação e impacto nas mais diferentes esferas, são fruto de uma
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conversão radical que gera no indivíduo convicções e uma nova visão de mundo a partir do Evangelho. Uma pista sobre como Lutero viveu depois da compreensão que obteve das Escrituras e da obra de Jesus Cristo, está no verso anterior a Romanos 1.17. Lemos no verso 16 a afirmação do apóstolo Paulo onde ele diz que “não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1. 16). A partir da descoberta de que o justo vive pela fé, Lutero passa a compartilhar da fé do apóstolo Paulo e, igualmente, não se envergonha e nem se omite diante de todas as implicações que esta fé compreende. Da mesma forma, Martim Lutero não se omitiu e enfrentou verdadeiros gigantes que impunham sua própria visão de mundo, oprimindo o povo com fardos religiosos que não eram coerentes com o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo. Entre tantos outros, Paulo e Lutero são personagens reconhecidos na história por sua mudança radical de vida a partir do momento em que foram libertos pelo Evangelho e, inevitavelmente, começaram a
D ei xa r D e us ser D eus é um a da s m ai s difícei s liç õ e s no cami n ho do di sc ipu l a d o.
influenciar o mundo e impactar outras pessoas. São seres humanos reconhecidos pelos frutos que produziram. Isso porque eles não apenas encontraram nas Escrituras palavras reconfortantes ou inspiradoras, mas a verdade na qual crer e pela qual viver. Uma marca de autenticidade de quem está em Cristo é seu estilo de vida contrastante frente ao mundo que segue um curso bem próprio. O cristão, portanto, muitas vezes, será mesmo um inconveniente. Não se chama ninguém de raça de víboras na igreja hoje em dia. Pegar o chicote e colocar alguns mercenários pra correr também pode pegar mal. O temperamento de Lutero e a maneira como falava das heresias da igreja, também não fizeram dele alguém muito querido à igreja instituída na época. A mensagem do evangelho não se resume a um verniz ou um cosmético que procura fazer tudo parecer bonitinho, agradável, apaziguado... O mundo de Deus não é algo como uma produção em série de iguais ou como o ajuntamento de um povo sem personalidade que se anula para passarem uma falsa imagem de unidade e paz.
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Jesus, Paulo, Lutero, Calvino, Wilberforce, Edith Schaeffer, Corrie ten Boom, Madre Tereza, e tantos outros, não causaram o impacto que causaram e foram, assim, relevantes neste mundo, porque procuraram a simpatia do mundo. Eles o fizeram por fidelidade a Deus. Uma fidelidade que inevitavelmente gera repercussão pública. É claro que uma conversão genuína e que gera uma vida transformada, desejosa em servir a Deus, não se faz passando por cima de pessoas, sendo grosseira e arrogante, ou um brigão que se acha dono da verdade. Mas, também não pode confundir seu testemunho com uma mensagem água com açúcar, intimista, massageadora de egos, meramente terapêutica... Deus não pode ser tomado como mero expectador de nossas vidas, alguém que, da plateia, está pronto a nos aplaudir em nosso sucesso nos palcos da vida. Deixar Deus ser Deus é uma das mais difíceis lições no caminho do discipulado. E, se há uma lição que aprendo do movimento da reforma protestante do século 16 hoje, é que precisamos urgente e humildemente voltar às Escrituras e deixar Deus ser Deus. Ro doma r R amlow FATEV
O temp eram ento de Lu te ro e a ma n e i ra com o fa l ava da s he resi a s da ig re j a , tamb é m n ão fize ra m d e le a l g uém m uito qu eri do à igrej a in st itu ída na époc a .
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