O COLAPSO E A CIDADE:
E N F R E N TA R O FUTURO COM R E S I L I Ê N C I A
O COLAPSO E A CIDADE: E N F R E N TA R O FUTURO COM R E S I L I Ê N C I A
PROPOSTA METODOLÓGICA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO: SIMULAÇÃO NO SUL DO CENTRO C O N T I N E N TA L D O R E C I F E
Recife 2019
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS ARQUITETURA E URBANISMO
Enora Le Meliner
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
Trabalho de Graduação desenvolvido pela aluna Enora Le Meliner, orientado pela Profa. Clarissa Duarte e apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco como requisito final para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista.
Recife 2019
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha mãe, pelo amor, incentivo, suporte e apoio incondicional. Agradeço à minha Tia Penha, e a minha avó Chiquinha por permitir a realização desse sonho. Aos meus amigos, pela compreensão nos momentos de ausência, em especial à Maria Cappé minha mais velha amiga, e à Celina Azevedo cuja gentileza é sem igual. À universidade católica de Pernambuco, seu corpo docente, administrativo, e à coordenação. Agradeço à todos os funcionários. À minha turma que ao longo dos 5 anos do curso se transformou numa verdadeira rede de apoio e cooperação. À todos os professores, que me ensinaram muito e foram essenciais a minha formação, em especial à Lourdinha Nóbrega, Lula Marcondes, Múcio Jucá, Amélia Reynaldo e Andrea Câmara que me deram confiança nas minhas habilidades, apoio, força e compaixão. Às minhas orientadoras, Clarissa Duarte, em TGII e Andrea Storch, em TGI, que me apoiaram, confiaram em mim, e sem as quais esse trabalho não teria acontecido. Muito grata pela paciência, compreensão e pela benevolência. Agradeço também aos que não nomeei aqui. Muito obrigada a todos e a todas por esta grande experiência de vida.
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SUMARIO PARTE 1 INTRODUÇÃO
PARTE 2 p. 11
NARRATIVA
O fim do mundo como o conhecemos Ameaça global, repercussão local Um outro fim do mundo é possível
p. 17 p. 23 p. 27
JUSTIFICATIVA
Antes tarde do que nunca Muito pouco, tarde demais O impasse
p. 33 p. 37 p. 41
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Objetivos Metodologia
p. 47 p. 49
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O
RISCO DE COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
Definindo o colapso sistêmico global As causas do colapso As fases do colapso
2
VULNERABILIDADE
DA CIDADE DA
ERA INDUSTRIAL
A cidade da era industrial O mito da megalopolis Imaginar a cidade pós-industrial
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p. 55 p. 57 p. 63
REPERCUSSÕES
p. 69 p. 75 p. 81
DO COLAPSO NA
CIDADE
Impactos sócio-espaciais As ameaças ao sistema cidade Pensar o futuro das cidades
p. 87 p. 95 p. 103
PARTE 3
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ENFRENTAR
PARTE 4
O conceito de resiliência A resiliência urbana
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A
RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
p. 109 p. 113
Definindo a resiliência urbana póscolapso A comuna Os objetivos da resiliência urbana pós-colapso Favorecer uma convivência social pacifica Possibilitar uma economia local Possuir autonomia em relação às cadeias de abastecimento Fortalecer e restaurar os ecosistemas Proteger-se de choques climáticos e ambientais Prever rotas de fuga
6
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O FUTURO COM
RESILIÊNCIA
p. 119 p. 123 p. 125 p. 129 p. 135 p. 141 p. 145 p. 149 p 153
METODOLOGIA
DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
Procedimento geral
p. 159
ANÁLISE
DO TERRITÓRIO
Hipótese inicial Metodologia de analise Recorte geográfico Clima e meio ambiente Infraestrutura e redes Indivíduos e corpo social Abrigo e convívio Atividades e fluxos
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MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
Preâmbulo Objetivo 1: Favorecer uma convivência social pacifica Objetivo 2: Possibilitar uma economia local Objetivo 3: Possuir autonomia em relação às cadeias de abastecimento Objetivo 4: Fortalecer e restaurar os ecosistemas Objetivo 5: Proteger-se de choques climáticos e ambientais Objetivo 6: Prever rotas de fuga
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p. 171 p. 175 p. 177 p. 181 p. 193 p. 199 p. 205 p. 211
UM
p. 219 p. 221 p. 229 p. 237 p. 243 p. 249 p. 255
POSSÍVEL CENÁRIO
Um possível cenário
p. 263
PARTE 5 CONSIDERAÇÕES Um outro futuro Referencias Lista de figuras
FINAIS p. 273 p. 277 p. 283
INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
Atualmente nossas sociedades estão se deparando com numerosos limites. A saúde econômica das nossas sociedades industriais contemporâneas estão em risco, os recursos minerais e fósseis causam conflitos entre estados, e por último, o meio ambiente e o clima estão sofrendo as consequências do nosso modo de desenvolvimento. Esses limites podem desestabilizar de modo dramático e irremediável nossas sociedades através de um colapso sistêmico global, atingindo, por um lado a economia financeira, o consumismo, a politica, a sociedade, e por outro lado, no pior dos casos, o suporte ecológico e ambiental que tornaria o planeta inabitável.
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RIPPLE,William J.,WOLF, Christopher, NEWSOME, Thomas M., et al.World scientists’ warning to humanity: a second notice. BioScience, 2017, vol. 67, no 12, p. 1026-1028. 2
VIDAL, John. UN Environment Programme: 200 Species Extinct Every Day, Unlike Anything Since Dinosaurs Disappeared 65 Million Years Ago. HUFFPOST. 3
REDAÇÃO GALILEU. Derretimento de gelo na Groenlândia atinge maior nível desde 1950. 4
Banco mundial
Nos últimos 50 anos diversas conferências sobre o clima foram organizadas, fórum econômicos e outros eventos reunindo os governantes do mundo. Nesse tempo tentaram encontrar um modo de conciliar o crescimento econômico com os limites do planeta. Durante esse período a situação climática continuou piorando. Em 2007, 15 364 cientistas publicaram um segundo alerta à humanidade¹ sobre a necessidade de modificar nosso modo de desenvolvimento, pois, o modelo atual poderia levar à aniquilação da nossa espécie. Hoje, estamos em 2019, e nossa pegada ecológica não diminuiu, os impactos que já causamos ao meio ambiente são irremediáveis, pois, não podemos ressuscitar as quase 200 espécies que desaparecem diariamente², nem re-congelar os bilhões de litros da calota glaciária que derreteram em julho deste ano³. O que podemos fazer então? É possível que prevenir o colapso sistêmico global não seja mais suficiente. Alguns, por mais de 50 anos, tentaram prevenir e continuamos grosso modo na mesma trajetória. Então, talvez esteja na hora de contemplar a possibilidade de que possivelmente já esteja tarde demais para evitar o colapso da sociedade industrial contemporânea, e que, em vez de prevenir, devemos remediar. Nossa era industrial é caraterizada por uma mudança bastante significativa na proporção da humanidade a estabelecer-se nas cidades. O famoso êxodo rural, causou um grande aumento da população citadina, em 2018, 55% da população mundial vive em cidades⁴, ou seja, a maioria da humanidade poderia enfrentar o colapso nas cidades.
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INTRODUÇÃO
O que isso significa para nossas cidades? Como as cidades podem enfrentar esse trauma? O seguinte documento vai procurar responder a essas perguntas. É importante enfatizar que o trabalho a seguir, não é uma solução mágica para resolver todos os efeitos negativos do colapso, mas sim uma tentativa de preservar nossa habilidade a viver em cidades, e não apenas sobreviver ou abandonar as cidades. Portanto, será desenvolvido uma matriz metodológica para aumentar a resiliência urbana pós-colapso, ou seja, a nossa habilidade a transformar e adaptar o ambiente urbano através da experimentação e da cooperação entre os seres humanos, e com os ciclos da natureza para permitir uma vida plena, além da mera sobrevivência. Para tal, no primeiro momento, vamos definir o colapso sistêmico global, e caracterizar a era industrial contemporânea e sua cidade. A cidade da era industrial apresenta características sistêmicas que permitirão entender os possíveis efeitos do colapso sistêmico global e, o que afinal, torna a cidade vulnerável.
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Em seguida vamos questionar as repercussões do colapso sobre a cidade, pois, para remediar, precisamos entender o efeito concreto do colapso. Pois, o colapso da sociedade industrial contemporânea influiria em muitos aspectos da nossa vida cotidiana, como o acesso a água, à energia, à comida, à remédios, à transportes e à telecomunicação etc. ou seja, vamos procurar o que sobra das nossas cidades sem o complexo industrial. Seguidamente, vamos introduzir a noção de resiliência, que é a habilidade a enfrentar um trauma. Sendo que a resiliência pode ser uma pista para guiar nossas reações frente ao colapso. No âmbito urbanístico, ela é chamada de resiliência urbana e apresenta qualidades e limitações para o caso de um colapso sistêmico global. Ambos serão discutidos para elaborar uma crítica. Em resposta a crítica da resiliência urbana poderemos propor uma definição da resiliência urbana pós-colapso e definir seus objetivos gerais. Esta contribuição teórica será a base conceitual da metodologia de suporte a resiliência urbana póscolapso. Posteriormente será apresentado a metodologia de suporte a resiliência urbana pós-colapso, através do procedimento geral de implantação, onde serão expostos os participantes, suas funções, as etapas e os passos a seguirem. Por último, uma simulação no centro continental expandido do Recife será apresentada. A simulação é prospectiva, e se organizará em três partes, sendo a primeira, uma análise das
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vulnerabilidades do território em caso de colapso sistêmico global, a segunda, um ensaio propositivo passo-a-passo das medidas de suporte a resiliência urbana pós-colapso, e por último, um masterplan geral agrupando todas as propostas elaboradas. A simulação vai permitir ilustrar explicitamente o conteúdo teórico desenvolvido.
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N A R R AT I VA
NARRATIVA
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O FIM DO MUNDO COMO O CONHECEMOS O colapso de uma civilização é algo que faz parte da história da humanidade, existem diversos exemplos, como o colapso da civilização Maia, do Império Romano, da Ilha de Páscoa ou da União Soviética. Hoje, a literatura científica aponta a probabilidade crescente de colapso das sociedades atuais, com a diferença, no entanto, de um evento globalizado. As recentes tendências mundiais de complexificação das sociedades, através da interligação das economias, da necessidade de crescimento econômico continuo no âmbito de sustentar as dívidas públicas e privadas também crescentes, a necessidade de crescimento tanto da produção alimentícia, como dos bens e serviços, têm gerado na sociedade industrial uma grande quantidade de fragilidades. Essas interconexões acabam gerando uma grande vulnerabilidade dos sistemas, inclusive urbano, pois suas estruturas são tão complexas que não se pode prever a suas reações. Para demonstrar esse fato, os autores SERVIGNE e STEVENS (2015) dão o exemplo da irrupção do vulcão islandês Eyjafjallajökull em 2010¹, que impediu o trafego aéreo da maior parte do hemisfério norte durante 6 dias, afetando o comércio mundial, cujas repercussões econômicas causaram perdas de emprego no Quênia, o cancelamento de cirurgias na Irlanda, a suspensão de linhas de produção na Alemanha. Ou seja, um evento tópico gerou consequências em cadeias. Esse exemplo demonstra, não só a complexidade do sistema industrial, como sua vulnerabilidade. « Criamos (sobretudo nossos ancestrais) sistemas gigantescos e monstruosos que se tornaram indispensáveis ao mantimento das condições de vidas de bilhões de pessoas. Não somente impedem qualquer transição como já não aguentam mais serem cutucados, sob pena de colapsar » 2
Paginas anteriores Fig 1: Foto sem título de Jordan Beltran disponível no Unsplash
« Nous avons créé (surtout nos ancêtres) des systèmes gigantesques et monstrueux qui sont devenus indispensables au maintien des conditions de vie de milliards de personnes. Non seulement ils empêchent toute transition, mais ils ne peuvent même plus se permettre qu’on les taquine, sous peine de s’effondrer. »
1
SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël em «Comment tout peut s’effondrer: Petit manuel de collapsologie à l’usage des génerations présentes.»2015. p.116 2
ibidem p.105-106
Além da fragilidade decorrente de um sistema extremamente complexo e interligado, existem limites e fronteiras que permitem sustentar o sistema industrial atual.
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NARRATIVA
Os limites são limitações físicas, ou seja, existe uma certa quantidade de água, petróleo, minerais etc. cuja quantidade é preexistente e não pode ser estendida. Esses limites podem não ser quantificados com exatidão, mas são reais e uma vez atingidos ou perto de serem atingidos poderiam criar um colapso sistêmico global como demonstrou uma equipe de pesquisadores do MIT (Massachussets Institute of Technology) em 1972 através do relatório Limites do Crescimento (Limits to Growth - LTG). Esse relatório ajudou a entender os limites do crescimento e como não pode haver um crescimento infinito num mundo finito. O modelo WORLD3, um modelo informático do tipo dinâmica dos sistemas, gerou diversos cenários de futuro, baseandose em dados disponíveis sobre recursos, crescimento populacional, produção industrial, poluição, entre outros. O primeiro desses cenários, « um ponto de referência » ( também chamado « business as usual » BAU) mostrava como poderiam evoluir alguns indicadores se a sociedade mundial avançasse « de maneira tradicional, sem qualquer desvio importante das politicas perseguidas durante a maior parte do século XX »¹, esse cenário descreveu um colapso geral tanto da produção industrial, como dos recursos, dos alimentos, da expectativa de vida, do índice de bem estar humano e da população (fig 2).
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O cenário BAU continua sendo confrontado com dados reais por diversos pesquisadores, como Graham TURNER, que concluiu em 2014²: « Baseando-se na comparação dos dados observáveis e dos cenários de LTG apresentados acima, e dado o alinhamento significativamente melhor com o cenário BAU que com os dois outros cenários, aparece que a economia global e a população estão à beira do colapso » « Based simply on the comparison of observed data and the LTG scenarios presented above, and given the significantly better alignment with the BAU scenario than the other two scenarios, it would appear that the global economy and population is on the cusp of collapse. »
O sistema de organização da sociedade sempre mais complexo gerou interações entre diferentes aspectos da sociedade que se tornaram imprevisíveis, e vulneráveis, necessitando cada vez mais energia. O sistema econômico atual, também chamado de alta finança é correlacionado à disponibilidade energética. A exploração de novas reservas de recursos energéticos depende do crescimento econômico. Ou seja, a dupla energia-finança esta à beira da extinção pois limites foram atingidos, o que poria um fim a era industrial. Por outro lado, o consumo sempre crescente de energias fósseis gerou impactos imensos no sistema terra, de tal modo que existe um risco de aniquilação da vida (não apenas humana).
▶︎ Fig 2: Reprodução dos gráficos do Cenário 0 (Business as usual BAU) atualizado pela equipe de pesquisa em 2002. MEADOWS, Donella H; JORGEN Randers; MEADOWS, Dennis. Limites do crescimento: a atualizaçao de 30 anos. 2007. p.169
1
MEADOWS, Donella H; JORGEN Randers; MEADOWS, Dennis. Limites do crescimento: a atualizaçao de 30 anos. 2007. p.168 2
TURNER, Graham. Is Global Collapse Imminent? MSSI Research Paper No. 4, Melbourne Sustainable Society Institute,The University of Melbourne. 2014.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
ESTADO DO PLANETA PRODUÇÃO INDUSTRIAL POPULAÇÃO RECURSOS
ALIMENTOS
POLUIÇÃO 1900
PADRÃO DE VIDA MATERIAL
2000
EXPECTATIVA DE VIDA
2100
BENS DE CONSUMO / PESSOA
ALIMENTOS / PESSOA
SERVIÇOS POR PESSOA
19
1900
BEM ESTAR E PEGADA HUMANA
2000
2100
ÍNDICE DE BEM ESTAR HUMANO
PEGADA ECOLÓGICA HUMANA
1900
2000
2100
NARRATIVA
As fronteiras são condições que permitiram o desenvolvimento da vida como a conhecemos e que sustentam desde então todas as nossas atividades. As fronteiras podem ser atravessadas, mas colocam a sociedade humana em grande risco, já que não sabemos como o sistema Terra poderia reagir. Segundo STEFFEN et al. (2015) já ultrapassamos as fronteiras relativas aos ciclos químicos, poluindo fontes de água outrora potáveis, e relativa à diminuição da diversidade genética (biodiversidade) (fig 3 e fig 4). Essas numerosas ameaças vem sendo cada vez mais discutidas, e complementadas por novos dados, de tal modo que para muitos autores a possibilidade do colapso não é mais uma questão de saber se vai ou não ocorrer, mas sim, quando vai ocorrer. A constatação desses fatos está se transformando num novo campo de estudo denominado de colapsologia, cuja definição é: ¹ « o exercício transdisciplinar de estudo do colapso da nossa civilização industrial, e do que poderia lhe suceder, apoiando-se nos dois modos cognitivos que são a razão e a intuição, e em trabalhos científicos reconhecidos » « L’exercice transdisciplinaire d’étude de l’effondrement de notre civilisation industrielle, et de ce qui pourrait lui succéder, en s’appuyant sur les deux modes cognitifs que sont la raison et l’intuition, et sur des travaux scientifiques reconnus. » 20
A catalogação desses dados, por mais completa que seja não permite prever o futuro, e, como indica Yves COCHET: ² « É impossível para nós, mesmo de um ponto de vista sistêmico, de forjar uma representação racional completa do que poderia ser o colapso do mundo. » « il nous est impossible, même d’un point de vue systémique, de forger une représentation rationnelle complète de ce que pourrait être l’effondrement du monde »
Portanto é preciso usar esses dados como base para criar um possível cenário de futuro. Ou seja, ao levar esse diagnostico para o ambiente urbano poderemos deduzir e criar um cenário imaginário baseados em fatos, o que além de servir de base para desenvolver a metodologia de suporte a resiliência urbana pós-colapso, serve um segundo propósito, que é, aquele de sensibilizar e questionar sobre a nosso modo de pensar e planejar a cidade atualmente. Pois, será que a maneira em que estamos projetando a cidade está reforçando ou minimizando os possíveis efeitos negativos do colapso?
1
SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël em «Comment tout peut s’effondrer: Petit manuel de collapsologie à l’usage des génerations présentes.»2015. p253 2
Postface de Yves COCHET em SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël em «Comment tout peut s’effondrer: Petit manuel de collapsologie à l’usage des génerations présentes.»2015. p262
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▶︎ Fig 3: Reprodução do gráfico representando o estado atual de sete das nove fronteiras terrestres segundo STEFFEN et al. Planetary boundaries: Guiding human development on a changing planet. 2015
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
INTEGRIDADE DA BIOSFERA DIVERSIDADE FUNCIONAL
? USO DO SOLO
ICA ÉT EN EG AD SID ER DIV
FRONTEIRAS DO SISTEMA TERRA
POLUIÇÃO QUÍMICA
?
CAMADA DE OZÔNIO
FÓ
CICLOS QUÍMICOS
PERDA DE DIVERSIDADE GENÉTICA
▼ fig 4: Reprodução de gráficos que ilustram a perda de biodiversidade desde a época industrial. fonte: HuffPost Brasil (2019)
ANIMAIS TERRESTRES SELVAGENS 85% DESAPARECIDOS
?
ÊNIO
SF
CONSUMO DE ÁGUA
AEROSSÓIS ESTRATOSFÉRICOS
NITROG
OR O
?
ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS
ABAIXO DA FRONTEIRA (SEGURO) DENTRO DA ZONA DE INCERTEZA (RISCO AUMENTADO) ALÉM DA ZONA DE INCERTEZA (RISCO ALTO) FRONTEIRA AINDA NÃO QUANTIFICADA
MAMÍFEROS MARINHOS 80% DESAPARECIDOS
PLANTAS 50% DESAPARECIDAS
PEIXES 14% DESAPARECIDOS
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NARRATIVA
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AMEAÇA GLOBAL, REPERCUSSÃO LOCAL O colapso sistêmico global pode parecer como algo distante, que não influiu muito nas nossas vidas ou no nosso futuro. Pode aparecer como uma evolução na continuidade da nossa sociedade atual, onde trocaremos carros à gasolina por carros elétricos; centrais a carvão por parques eólicos, etc. No entanto, é preciso insistir no fato que com um colapso sistêmico global, estamos falando do sistema que organiza nossas vidas humanas, ou seja, o sistema industrial e financeiro, que é responsável pela maioria das grandes mudanças da nossa sociedade contemporânea, como por exemplo nas áreas de: - disponibilidade energética - telecomunicação - bancos, seguros - mecânica, eletrônica etc. - transportes, infraestrutura - indústria farmacêutica e médica - higiene - indústria alimentícia - acesso à água Através desse inventário não exaustivo das áreas que dependem do sistema industrial e financeiro, nos deparamos com a gravidade dos eventos por vir. Por exemplo, ao imaginar nossas rotinas diárias, percebemos que mal somos capazes de sobreviver na cidade, sem cartão bancário, supermercados, água na torneira, eletricidade, sabão, combustível etc. É evidente que as sociedades industrializadas vão ser mais severamente atingidas que sociedades não industrializadas, pois elas são independentes do complexo industrial-financeiro, como as sociedades indígenas por exemplo. No entanto, os danos causados ao meio ambiente não pararão nas fronteiras artificiais que desenhamos entre territórios, e se repartirão em todo o planeta, impactando os ciclos naturais dos quais dependem essas sociedades para sobreviver. Ou seja, o colapso é mesmo global. O colapso não é uma simples crise da qual poderemos nos recuperar e voltar ao estado anterior, é uma mudança irreversível do sistema de organização humana da qual devemos conformar-nos e que devemos enfrentar preservando a maior dignidade possível. É preciso abdicar do mundo que conhecemos, pois a probabilidade é grande que este deixe de existir. Outro aspecto importante para se entender é que o risco global vai influir nas relações espaciais que temos hoje. Onde o
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NARRATIVA
mundo se tornou tão conectado que por vezes, parece uma megalópole planetária. Portanto, quando ocorre uma catástrofe tópica em algum lugar no mundo podemos esperar que ajudas venham de fora. Por exemplo em abril de 2019, o sudeste Africano foi vítima de um ciclone destruidor que matou pelo menos 1007 pessoas, os sobreviventes puderam, no entanto, receber um pouco de conforto material através da cooperação internacional (fig 5) que trouxe alimentos, cobertores, remédios, etc. As limitações físicas, sistêmicas e os eventos ambientais virão dificultar a cooperação em grande escala, a termo, esse tipo de cooperação só será possível localmente, ou seja, possivelmente, não virá ajuda de fora. A grande megalópole mundial poderia deixar de existir e estaremos voltando a um foco primário local. Essa mudança de escala vai ter que ser trazida à cidade, onde 55% da população mundial mora, e onde o projeto politico de globalização é muito mais avançado que nas áreas rurais.
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De fato, as atividades econômicas do setor primário foram removidas e afastadas das cidades, até mesmo em outros continentes. Ou seja, as atividades de matéria prima (agricultura, pesca, mineração etc.) tornaram se dependentes de fluxos internos e externos. Em seguida foram retiradas as atividades do setor secundário, ou seja, de transformação da matéria prima em mercadorias (algodão em tecido, grão em farinha etc.). Sendo que alguns países industrializados dependem totalmente de fabricas localizadas em outros continentes. De tal modo que hoje, as cidades concentram predominantemente, atividades do terceiro setor (comercio e serviços), ou seja, de venda de bens e de serviços relegando as atividades do primeiro e segundo setor nas periferias. Essa transformação da economia da cidade criou uma dependência total da cidade a fluxos externos. Enquanto as cidades foram crescendo, esses fluxos se tornaram cada vez maiores e mais dependente de fluxos globais. De fato, para enfrentar o colapso é preciso repensar a escala local como foco primário, para que seja mais resiliente aos choques por vir. Somente assim pode-se esperar recriar redes de cooperação local onde comunidades autossuficientes podem prestar socorro a outras comunidades.
▶︎ Fig 5: Sobreviventes do ciclone Idai no Moçambique 2019 carregando sacos de arroz disponibilizado pela comunidade internacional. fonte: AFP
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NARRATIVA
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UM OUTRO FIM DO MUNDO É POSSÍVEL O imaginário ocidental é repleto de referencias ao fim do mundo, muitas vezes apocalíptico, e isso não é algo novo, vem se fortalecendo desde a idade média através de afrescos e pinturas, por exemplo. Os eventos catastróficos como enchentes, terremotos, ciclones ou explosões nucleares também participam dessa ideia através de fotos e imagem de locais abandonados, degradados e inóspitos. Por último, a maior influência nos imaginários são as obras de ficção, e, entre elas, uma das mais potentes, a indústria cinematográfica e, especificamente hollywoodiana, vem implementando a visão de que um fim do mundo seria obrigatoriamente uma competição entre os sobreviventes, ou até, uma luta armada em alguns casos. É evidente que catástrofes podem gerar violência, como indicam P. SERVIGNE e R. STEVENS (2015)1: (os cientistas) « eles não têm a menor duvida sobre o fato de que catástrofes ambientais (energia, água, clima, poluição, etc.) serão fontes evidentes de conflitos armados, de instabilidades sociais, particularmente nos países emergentes. » (les scientifiques) « ils n’ont pas de doute sur le fait que les catastrophes environnementales (énergie, eau, climat, pollutions, etc.) seront une source évidentes de conflits armés et d’instabilité sociale, particulièrement dans les pays émergents. »
No entanto, a « lei do mais forte» nunca foi a única lei que rege a natureza. Essa interpretação da teoria da evolução darwiniana ignora que existem uma multidão de outras relações ecológicas como a colônia; a sociedade; a simbiose ou o mutualismo. Esses comportamentos cooperativos podem ocorrer dentro da mesma espécie, (colônia ou sociedade) como em formigas, abelhas etc. E também entre espécies (simbiose ou mutualismo) como no caso da anémonas-do-mar e do peixe palhaço por exemplo.
1
SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël em «Comment tout peut s’effondrer: Petit manuel de collapsologie à l’usage des génerations présentes.»2015. p209 210
Nossa espécie é extremamente social, ou hiper-social, como demonstra o fato dos nossos descendentes nascerem totalmente vulneráveis e dependentes dos outros seres humanos, ao inverso de muitas outras espécies animais. Ou seja, a exaltação da competição nas nossas sociedades contemporâneas pode estar errônea como também pode gerar, futuramente, um grande prejuízo a nossa espécie, privilegiando comportamentos competitivos quando há necessidade de cooperação, para assegurar
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NARRATIVA
a sobrevivência do maior numero. SERVIGNE e STEVENS (2015) enfatizam que:1 « numerosos estudos e observações contradizem o mito fundador da nossa sociedade liberal que consiste em acreditar que o estado de natura selvagem é aquele da lei do mais forte e da guerra de todos contra todos » « Em outras palavras, em tempo de penúria energética, as chances são altas de que os individualistas serão os primeiros a morrer. Os grupos capazes de demonstrar comportamentos notável de cooperação terão mais chances de sobreviver » « de nombreuses études et observations contredisent le mythe fondateur de notre société libérale qui consiste à croire que l’état de nature sauvage est celui de la loi du plus fort et de la guerre de tous contre tous » « Pour le dire autrement, en temps de pénurie énergétique, il y a fort à parier que les individualistes seront les premiers à mourir. Les groupes capables de montrer des comportements coopératifs remarquables auront plus de chance de survivre »
De fato, tudo indica que a era pós-industrial possa ser a Era da cooperação. Hoje, a maioria dos seres humanos vivem em cidades, e as mudanças por vir no sistema de organização das sociedades humanas e no próprio sistema terra vão repercutir grandemente no nosso dia-a-dia. Portanto, devemos pensar o futuro das cidades de modo a favorecer a cooperação entre os indivíduos. 28
Para MUMFORD (1961) essa capacidade de cooperação era, inicialmente, inerente a cidade mas foi desaparecendo a medida que a crença na competição perpetua foi crescendo, crença que se mantem até hoje, em outras palavras, só podemos crescer ou morrer, no entanto essa expansão veio a custo dos vizinhos, sejam eles humanos ou não:2 « Ora, todos os fenômenos orgânicos tem limites de crescimento e expansão fixados pela sua própria necessidades de continuarem sendo sustentados e dirigidos por si mesmos: só podem crescer às expensas de seus vizinhos, perdendo justamente as facilidades que as atividades de seus vizinhos emprestam a sua própria vida.»
Na perspectiva de um colapso sistêmico global, essa tendência ao crescimento da cidade (físico ou econômico) será provavelmente impedida, portanto, haverá de reorganizar a cidade para que esta tenha alguma chance de permanecer e de preservar seus aspectos positivos de cooperação. Essa reorganização sistêmica preservando a identidade do sistema pode ser chamada de resiliência, e é de prima importância para o nosso futuro pois haverá muitos incógnitos a enfrentar e isso só será possível se a primeira qualidade da cidade; a cooperação entre indivíduos, permanece.
▶︎ Fig 6: Mãos estendidas. Fonte: a autora
1
SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël em «Comment tout peut s’effondrer: Petit manuel de collapsologie à l’usage des génerations présentes.»2015. p214-215 2
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva.Tradução de Neil R. da Silva. 4, ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p62
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J U S T I F I C AT I VA
JUSTIFICATIVA
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ANTES TARDE DO QUE NUNCA
A partir da publicação do relatório Brundtland (também conhecido como relatório Nosso futuro comum) em 1987 pela ONU, a ideia de desenvolvimento sustentável foi democratizada. E a noção segundo a qual a preservação do meio ambiente deveria fazer parte do processo de decisão para o desenvolvimento das atividades, tanto econômicas como sociais, foi aprovada pela comunidade internacional em 1992 durante a « cúpula da terra » no Rio de Janeiro, através da Agenda 21 e dos 120 estados signatários. A escala de tempo escolhida para implantar a agenda 21 foi de um século, ou seja, a agenda do século XXI. O que decorreu na ideia de que as ameaças eram distantes e os recursos garantidos para pelo menos um século. No entanto, o recém interesse das grandes empresas de energia fóssil (BP, Petrobras, Total, Shell etc.) em fontes não convencionais (areias betuminosas, pré-sal, etc.) cuja extração e refinamento consumem muitos recursos e energias, mostra que as fontes convencionais estão quase exauridas. Essas fontes não convencionais também causam uma poluição muito mais intensa do que as plataformas on-shore (na terra) e produzem um produto mais oneroso. Um dos motivos para um colapso sistêmico seria a queda da produção industrial global devido à escassez dos recursos não renováveis, como descrito no Cenário 1 (BAU) da equipe do Relatório MEADOWS (1972) (fig 2). Ou seja, a falta de recursos fósseis poderia causar um colapso sistêmico, mas por outro lado, o consumo de recursos fósseis está matando a biodiversidade do planeta Terra e mudando seu clima, criando também um colapso sistêmico. Em 2015, 195 dos 196 países da ONU assinaram o acordo de Paris sobre o clima, o artigo 2 alínea (a) estipula:
Paginas anteriores: Fig 7: « Arrogance of Humanity » Foto de Henry & Co. no Unsplash
« Manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, e envidar esforços para limitar esse aumento da temperatura a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e os impactos da mudança do clima; »
33
JUSTIFICATIVA
A limitação da temperatura média global necessita um esforço considerável por parte dos estados, já que precisam reduzir drasticamente suas emissões de gás a efeitos estufas, e consequentemente, limitar seu consumo de combustíveis fósseis. Essa mudança drástica ainda não ocorreu e vem diminuindo, a cada ano, a capacidade de suporte do planeta (fig 8). Ou seja, estamos vivendo a crédito.
1,5 1,4
PEGADA ECOLÓGICA DA HUMANIDADE
NUMERO DE TERRAS
1,3 1,2 1,1
CAPACIDADE DE SUPORTE DA TERRA
1,0 0,9 0,8
◀ Fig 8: Gráfico da capacidade de suporte da Terra e da pegada ecológica humana. Fonte: GREENPEACE
0,7 0,6
34
1960
1980
2000
Essa dívida da humanidade com a capacidade de suporte do planeta vem crescendo a cada ano de tal modo que reduz a capacidade de suporte para as gerações futuras. Na década de 1970, a humanidade ainda vivia abaixo dessa, (fig 9), em 1990 quando descobrimos como quantificar a capacidade de suporte da terra, percebemos que estávamos vivendo acima desta, e por isso foi organizada a « cúpula da terra », no Rio de Janeiro, para remediar a situação. Atualmente estamos em tamanha divida com o sistema terra que a capacidade de suporte do planeta pode simplesmente despencar. As ações que eram recomendadas no século passado para impedir o colapso do sistema terra são muito provavelmente insuficientes hoje, e requerem medidas suplementares e radicais. O modelo de desenvolvimento adotado pela humanidade é genuinamente destruidor para o planeta e similarmente para a humanidade, demandando ações rápidas e profundas do modelo de desenvolvimento humano. O ditado popular diz « antes tarde do que nunca » infelizmente, parece que ignoramos a sabedoria popular, e preferimos permanecer no conforto material atual, sacrificando nosso futuro.
▶︎ Fig 9: As épocas da ecologia politica. Citações de SERVIGNE & STEVENS em «Comment tout peut s’effondrer» (2015) Gráficos: reprodução Ilustrações segundo MEADOWS, Donella H; JORGEN Randers; MEADOWS, Dennis. Limites do crescimento: a atualizaçao de 30 anos. 2007.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
AS ÉPOCAS DA ECOLOGIA POLITICA K: CAPACIDADE DE SUPORTE DA TERRA
K
DÉCADA DE 1970
Momento no qual poderíamos ter estabilizado os nossos modos de desenvolvimento para permanecer abaixo da capacidade de suporte do planeta.
POPULAÇÃO
« Corresponde a ecologia politica dos anos 1970, tínhamos tempo e a possibilidade de escolher a trajetória do desenvolvimento sustentável »
TEMPO
K
DÉCADA DE 1990 « representa a ecologia dos anos 1990, época na qual, graças ao conceito de pegada ecológica, nos demos conta que a capacidade de suporte da terra tinha sido ultrapassada» POPULAÇÃO
Momento no qual poderíamos ter operado mudanças para restaurar a capacidade de suporte do planeta reduzindo nossa pegada ecológica.
35
TEMPO
K
DÉCADA DE 2010
Momento em que a capacidade de supor te do planeta continua diminuindo colocando em risco a sobrevivência dos seres vivos.
POPULAÇÃO
« representa a ecologia dos anos 2010: faz 20 anos que continuamos a acelerar, em conhecimento de causa, destruindo a um ritmo ainda mais intenso o sistema Terra»
TEMPO
JUSTIFICATIVA
36
MUITO POUCO, TARDE DEMAIS
Segundo vários autores, como Dennis MEADOWS e Pablo SERVIGNE já é tarde demais para evitar o colapso. Em 2002 quando o clube de Roma publicou sua atualização do livro « Os limites do crescimento », os pesquisadores acrescentaram um cenário no qual ações politicas e econômicas radicais eram colocadas em prática dez anos após a primeira publicação do mesmo livro, ou seja, em 1982, esse cenário era o único que não colapsava. O que evidencia que as ações não foram radicais ao suficiente e vieram tarde demais. Essa conclusão é compartilhada por STEFFEN et al. (2018) que estimam ainda que o objetivo do acordo de Paris é demasiadamente otimista pois segundo os pesquisadores um aumento de temperatura média global de 2°C já seria suficiente para desencadear a trajetória do planeta estufa (fig 10): ¹ « um aquecimento na faixa das baixas temperaturas (ou seja, os objetivos de Paris) poderia levar a despencar nas temperaturas medias e superiores via efeitos em cascata. Baseado nesta análise de efeitos em cascatas e tomando uma abordagem de prevenção de riscos, sugerimos que um limiar planetário poderia ocorrer na faixa de um aumento de temperatura tão baixo quanto ∼2,0°C acima das temperaturas pré-industriais. »
1
STEFFEN,Will et al. Trajectories of the Earth System in the Anthropocene.2018. ▼ fig 10: Mapa global dos potenciais pontos desencadeadores dos efeitos em cascata. fonte: Steffen et al. Trajectories of the Earth System in the Anthropocene. 2018. Ilustração reproduzida e traduzida pela autora
« a warming into the range of even the lower-temperature cluster (i.e., the Paris targets) could lead to tipping in the midand higher-temperature clusters via cascade effects. Based on this analysis of tipping cascades and taking a risk-averse approach, we suggest that a potential planetary threshold could occur at a temperature rise as low as ∼2.0 °C above preindustrial. » MANTO DE GELO DA GROENLÂNDIA
FLORESTA BOREAL
OSCILAÇÃO SUL EL NIÑO
JETSTREAM CIRCULAÇÃO TERMOALINE
GELO GELO MARÍTIMO ÁRTICO MARÍTIMO ÁRTICO DE INVERNO DE VERÃO PERMAFROST GELEIRAS ALPINAS SAHEL
MONÇÃO INDIANA DE VERÃO
FLORESTA AMAZÔNICA ARRECIFES
1°C A 3°C 3°C A 5°C > 5°C
MANTO DE GELO OESTE ANTÁRTICO
MANTO DE GELO LESTE ANTÁRTICO
37
JUSTIFICATIVA
Ou seja, o próprio objetivo do acordo de Paris não garante que o sistema terra se estabilize e evite a trajetória de planeta estufa. O objetivo de ficar abaixo de 2°C de aumento foi bastante controverso pois significa com for te probabilidade o desaparecimento dos arquipélagos do Oceano Pacifico como Tuvalu ou Kiribati, essa controvérsia foi documentada no filme Anote’s Ark (A arca de Anote). Diante de tal ameaça podemos nos questionar sobre o motivo de tanta inação. Tanto SERVIGNE e STEVENS (2015) e MUMFORD (1961) reconhecem que a complexidade sistêmica dos modelos de organização humana gera uma barreira contra mudanças radicais. Uma megamáquina cujo rumo é difícil de ser modificado. STEFFEN et al. (2018) ressaltam ainda que o método contemporâneo de desenvolvimento além de complexo é guiado em grande parte pela eficácia econômica: ¹ « o jeito contemporâneo de guiar o desenvolvimento baseandose em teorias, instrumentos, e crenças nas mudanças gradativas ou incremental, com foco na eficiência econômica, provavelmente não serão adequadas para lidar com essa trajetória » (de planeta estufa) « the contemporary way of guiding development founded on theories, tools, and beliefs of gradual or incremental change, with a focus on economy efficiency, will likely not be adequate to cope with this trajectory. » (hothouse earth trajectory) 38
De fato, dos três pilares do desenvolvimento sustentável (social, ambiental, econômico) há uma constante clara do favorecimento do pilar econômico, como demonstra por exemplo a resposta da chanceler alemã Angela Merkel no G20 (2019) que ao ser questionada sobre os prováveis impactos ambientais negativos do tratado de livre mercado entre a união europeia (UE) e o Mercosul disse:² « Eu não acho que não levar adiante um acordo com o Mercosul vá fazer com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. Pelo contrário »
Ou seja, segundo a chanceler o acordo de livre comercio entre Mercosul e UE sem tarifa aduaneira não vai gerar impacto algum sobre a produção de bens que necessitariam desmatar , « pelo contrario » vai impedir o desmatamento… Além do desmatamento podemos pensar que tal acordo também vai reforçar o trafego marítimo ou aéreo e consequentemente o consumo de energias fósseis, das quais os estados signatários do acordo de Paris engajaram-se a reduzir tanto o consumo como os investimentos. Essa incoerência politica que favorece interesses econômicos e que não permite mudanças significativas provavelmente levará ao colapso, seu gigantismo e sua entropia dificultarão as tentativas de mudanças. Hoje, nascem grupos de contestação ao sistema politico e econômico atual (fig 11), exigindo dos governantes mudanças radicais de trajetórias, uma das reivindicações é a necessidade de deixar os
▶︎ Fig 11: Fotografia de um protesto no Tower Bridge em Londres. novembro de 2018. fonte: Matt Stuart para Vogue. Disponível em: https://www.vogue.com/ article/climate-changeprotest-london-extinctionrebellion Acesso em: 05/06/19 1
STEFFEN,Will et al. Trajectories of the Earth System in the Anthropocene.2018. 2
MENDONÇA, Heloísa. Políticas ambientais de Bolsonaro põem Brasil sob ataque no G20. Jornal El Pais.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
39
JUSTIFICATIVA
combustíveis fósseis na crosta terrestre, é evidente que tal decisão causaria um colapso financeiro e comercial, que acabaria com a era industrial, porém o argumento de grupos como o Extinction Rebellion (XR) é que o fim do sistema industrial é melhor que a sexta extinção em massa. Como demonstra algumas das frases que usam nos seus cartazes « Mude o sistema, não o clima » « change the system, not the climate », « Rebela-se pela vida » « Rebel for life » ou ainda como na figura na pagina anterior (fig 11) « mudança climática = assassinato de massa » « climate change = mass murder ». Para Henrique RATTNER:¹ « O maior desafio de nossa civilização urbano-industrial é o de como transformar uma estratégia de crescimento econômico direcionada contra a maioria pobre da população em um modelo de sustentabilidade baseado no bem-estar humano. Como, então podemos substituir o principio da competição por empregos, mercados, riqueza e poder — imposto a populações indefesas como condição de sobrevivência — pela cooperação, como principal pilar de sustentação? »
Essa transformação da nossa civilização urbano-industrial parece cada vez mais improvável, o cenário mais provável, portanto, é que o colapso ocorra sem termos se preparado com antecedência. O colapso pode ser pensado como uma descida, podendo ser lenta, no melhor dos casos se os esforços de grupo como XR, trazem resultados, ou bastante brutal se a economia industrial financeira mundial continua crescendo, levando o mundo a cair de mais alto. 40
1
ACSELRAD Henri (org). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas politicas urbanas. 2ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. p10
O IMPASSE
Diante desse quadro sufocante, o colapso aparece como inevitável, o momento em que podíamos impedi-lo passou. Existe ainda, no entanto uma janelinha para diminuir sua violência, mas a janela parece estar trancada e as chaves guardadas pelo mastodonte industrial financeiro. De tal modo que para SERVIGNE e STEVENS: 1 « Dar-se conta de tudo isso, é iniciar uma reviravolta. É ver que de repente a utopia mudou de lado: hoje é utopista aquele que acredita que tudo pode ficar como antes.» « Se rendre compte de tout cela, c’est entamer un renversement. C’est voir que soudainement, l’utopie a changé de camp: est aujourd’hui utopiste celui qui croit que tout peut continuer comme avant. »
O impasse é grande e assustador, enquanto o pânico pode aparecer como uma reação normal, esse não deve guiar nossa forma de pensar o futuro, pois o pânico tira nossa habilidade de reagir de maneira racional, levando a tomar decisão perigosas ou a aceitar discursos proféticos ou odiosos. Por outro lado, o fato de não aceitarmos a eventualidade de uma catástrofe é segundaria, mas de um ponto de vista racional é essencial tomar conhecimento da possibilidade e reagir em consequência. Ora é comum contratar uma apólice de segurança para evitar dificuldades, é uma decisão puramente racional de prevenção de risco. E de modo geral, para SERVIGNE e STEVENS o otimismo fatal é bastante característico da humanidade: ¹ « Geralmente, os seres humanos acreditam na eventualidade de uma catástrofe uma vez que esta já ocorreu, ou seja, tarde demais. » « En general, les êtres humains ne croient a l’éventualité d’une catastrophe qu’une fois celle-ci advenue, c’est à dire trop tard. »
1
SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël em «Comment tout peut s’effondrer: Petit manuel de collapsologie à l’usage des génerations présentes.»2015. p252
Portanto, precisamos transformar nosso imaginário, pois, muito provavelmente o futuro que imaginamos para nossas crianças, será muito diferente da nossa infância, mas isso não precisa ser uma coisa ruim, abdicar dessa visão de futuro pode ser apenas mais uma mudança na existência da humanidade, e não precisa ser algo a lamentar. Essa aceitação, caso ocorra, é de tremenda importância pois é uma forma de resiliência pessoal que permitirá reagir sem pânico às adversidades por vir. Essa transformação do imaginário deveria também ser levada para o ambiente urbano, e na nossa forma de analisar a cidade. Atualmente 55% da população humana reside em ambientes urbanos, e como vimos, as chances de evitar o colapso são ínfimas. Por isso, podemos e devemos questionar o impacto do colapso no ambiente
41
JUSTIFICATIVA
urbano e, principalmente, o que pode ser feito para amenizar os impactos negativos desse. O futuro pós-colapso promete uma rarefacção energética, choques econômicos, políticos e sociais. Essas catástrofes já fizeram parte da história da humanidade em vários momentos, no entanto, dessa vez poderiam ser globais, e com a grande diferença, que desta vez haveria em adição uma instabilidade climática jamais enfrentada. A instabilidade climática é provavelmente o aspecto que vai necessitar a maior capacidade de adaptação das nossas cidades, em parte porque para reagir em consequência vamos precisar tomar decisões rápidas e isso requer a criação de pequenos sistemas autônomos capazes de enfrentar as catástrofes por vir. Ou seja, precisamos criar pequenos sistemas resilientes para enfrentar o colapso com a maior eficiência possível. Esse trabalho, portanto, procura a partir da literatura cientifica existente, propor uma matriz teórica da resiliência urbana pós-colapso. Vale ressaltar que não pretende ser um padrão estandardizado de resiliência pois para ser de fato resiliente é preciso ter variedade, um pouco de redundância e muita diversidade, ou seja, não se deve perseguir um sistema padronizado e optimizado como o sistema industrial, mas ao inverso um sistema mais orgânico.
42
A proposta metodológica para melhorar a resiliência urbana local deverá permitir essa organicidade, ainda mais porque pretende ser de fácil utilização para que pessoas sem treinamento de arquiteto ou urbanista possam adotar essa matriz caso haja necessidade. A resiliência também possui a característica de ser um processo e não apenas um objetivo, portanto, deverá ter a capacidade de ser complementada e modificada pelos próprios utilizadores para adaptar-se às diversas ameaças e também às possíveis ideologias politicas que existem ou que surgirão após o colapso, em outras palavras, deve ser bastante versátil.
▶︎ Fig 12: « Dead End » Foto de Adam Birkett no Unsplash
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
46
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Desenvolver uma metodologia de suporte à resiliência urbana pós-colapso sistêmico global e simular sua aplicação no sul do Centro Continental Expandido do Recife.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 47
Foto paginas anteriores: Fig 13: Foto sem título de MIKA no Unsplash
1.
Identificar as repercussões do colapso sistêmico global sobre a cidade.
2.
Propor uma definição da resiliência urbana pós-colapso e definir os seus objetivos.
3.
Elaborar o procedimento geral da metodologia de suporte à resiliência urbana pós-colapso na escala local.
4.
Simular a aplicação da metodologia de suporte à resiliência urbana pós-colapso no sul do Centro Continental Expandido do Recife.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
48
METODOLOGIA
A. EMBASAR TEORICAMENTE O CONCEITO DE COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
O conceito de colapso deve ser embasado teoricamente pois é a base desse trabalho. Essa definição do conceito será feita a partir de uma pesquisa bibliográfica onde serão usadas principalmente as teorias de SERVIGNE & STEVENS (2015) assim como de ORLOV (2013).
B. CARACTERIZAR A ERA INDUSTRIAL E SUA CIDADE No segundo momento vamos caracterizar a era industrial e sua cidade especifica no âmbito de delinear algumas características do sistema cidade atual, assim como dos riscos embutidos no sistema cidade atual, ou seja, da megalópolis. Portanto, permitira entender a ligação que existe entre o colapso sistêmico global e o modelo de urbanização em vigor. Esse estudo se fará a partir de uma pesquisa bibliográfica sobre trabalhos de MUMFORD (1961) e SERVIGNE (2017).
C. IDENTIFICAR AS REPERCUSSÕES DO COLAPSO SOBRE O SISTEMA CIDADE. Essa identificação deverá ser feita através de uma pesquisa bibliográfica, SERVIGNE (2017), SERVIGNE & STEVENS (2015), ORLOV (2013) e MUMFORD (1961) e documental permitindo elaborar um quadro hipotético dos riscos corridos pelas cidades da era industrial em caso de colapso sistêmico global.
D. APRESENTAR O CONCEITO DE RESILIÊNCIA URBANA A introdução do conceito de resiliência urbana ao leitor se fará através de uma pesquisa bibliográfica SINAÏ et al. (2015), RUFFAT (2011, 2018), HOPKINS (2008). Serão colocadas em pauta as limitações atuais do conceito e sua aplicabilidade num mundo em colapso.
E. PROPOR UMA DEFINIÇÃO DA RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO A resiliência urbana por ser uma qualidade e um processo deve ser aplicada a uma situação especifica, como gerenciamento de risco de enchentes ou terremotos, ou seja, nesse caso deve ser definida para uma situação de risco de colapso sistêmico global, ou
49
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
seja, trata-se de uma síntese conceitual de todo o conteúdo apresentado anteriormente relativo a resiliência, cidade da era industrial e colapso sistêmico global.
F. DEFINIR OS OBJETIVOS DA RESILIÊNCIA URBANA PÓSCOLAPSO (RUPC) Os objetivos serão definidos a partir das ameaças identificadas previamente e da definição proposta de resiliência urbana pós-colapso.
G. DELIMITAR O ESCOPO DE CADA OBJETIVO DA RUPC Cada objetivo será detalhado para delimitar o âmago deles e os parâmetros urbanos que podem ser usados para atingir cada objetivo respectivamente.
H. ELABORAR A METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO A elaboração da metodologia vai permitir desenvolver um procedimento geral para auxiliar as comunas na melhoria da resiliência urbana pós-colapso.
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I. ANALISAR AS VULNERABILIDADES DO SUL DO CENTRO CONTINENTAL EXPANDIDO (SCCE) Essa análise requer a elaboração de uma hipótese inicial sobre a cronologia e as etapas do colapso. Em seguida serão analisadas as vulnerabilidades, através da coleta de dados e da sistematização de dados, usando as ameaças identificadas por SERVIGNE sobre o sistema cidade. Os resultados serão apresentados sobre a forma de vulnerabilidades, oportunidades e diretrizes preliminares.
J. ELABORAR UM ENSAIO PROPOSITIVO DE MELHORIA DA RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO DO SCCE O ensaio propositivo retomara os objetivos apresentados anteriormente, junto com as diretrizes preliminares, para elaborar propostas relativas a cada objetivo da resiliência urbana pós-colapso.
K. COMPOR UM PLANO GERAL APRESENTANDO TODAS AS PROPOSTAS PARA O SCCE O plano geral apresentará todas as propostas elaboradas podendo visualizar como a implantação de todos os objetivos se interligam e modificam o território. ▶︎ Fig 14: Diagrama de resumo da metodologia do seguinte trabalho. fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
EMBASAMENTO TEÓRICO
A CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
O COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
REPERCUSSÃO DO COLAPSO NA CIDADE
6- PREVER ROTAS DE FUGAS
5 - PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
ECOSISTEMAS
4- FORTALECER E RESTAURAR
RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
3- POSSUIR AUTONOMIA EM
ECONOMIA LOCAL
2- POSSIBILITAR UMA
1- FAVORECER UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL PACIFICA
OBJETIVOS DA RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA
A RESILIÊNCIA URBANA PÓSCOLAPSO
ANÁLISE DAS VULNERABILIDADES DO TERRITÓRIO
ENSAIO PROPOSITIVO DE MELHORIA DA RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO NO TERRITÓRIO
PLANO GERAL
SIMULAÇÃO
PROCEDIMENTO GERAL DA METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA
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1
O RISCO DE C O L A P S O S I S T Ê M I C O GLOBAL
CAPÍTULO 1: O RISCO DE COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
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DEFININDO O COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL Até agora falamos bastante sobre o colapso, suas implicações, e seus efeitos sobre nosso quotidiano. Porém ainda não foi dada uma definição clara do conceito de colapso sistêmico global. As causas e os acontecimentos em prol de tal evento, podem variar bastante. No entanto a definição de COCHET (2011) parece gerar um consenso independentemente das causas originando o colapso, e, portanto, foi a definição adotada: ¹ « Chamamos ”colapso” da sociedade mundializada contemporânea o processo após o qual as necessidades de base (água, alimentação, moradia, vestimenta, energia, mobilidade, segurança) não são mais fornecidas à maioria da população por serviços enquadrados pela lei. » « Appelons ”effondrement” de la société mondialisée contemporaine le processus à l’issue duquel les besoins de base (eau, alimentation, logement, habillement, énergie, mobilité, sécurité) ne sont plus fournis à une majorité de la population par des services encadrés par la loi. »
Essa definição implica dois aspectos, o primeiro é que a maioria da população não terá suas necessidades básicas cumpridas por serviços dentro da lei, ou seja, haverá dificuldade financeira para adquirir esses bens e serviços, ou simplesmente haverá uma penúria. Levando ao segundo ponto, que é que, para sobreviver, essa maioria vai precisar cumprir suas necessidades básicas fora da lei, ou seja, para que a ilegalidade se torne a norma, isso implica que o poder politico tornou-se ineficiente ou inexistente.
Foto paginas anteriores: Fig 15: Foto sem título de Samantha GADES no Unsplash 1
COCHET, Yves. L’effondrement, catabolique ou catastrophique ? 2
GUTERRES, Antonio, Secretario Geral da ONU Discurso na sede da ONU em Nova York, 10 de setembro de 2018
A partir da definição de COCHET (2011) podemos identificar as diversas instabilidades decorrente do colapso. Ou seja, qualquer que sejam as causas do colapso, esse sempre ira se traduzir em pelo menos, instabilidades econômicas, politicas e sociais acontecendo ao mesmo tempo. No entanto, vimos também que o modelo de desenvolvimento das atividades humanas está desestabilizando o sistema terra de tal modo que, em setembro de 2018, o secretario geral da ONU, Antônio Guterres, lançou um alerta dramático: ² « Se nós não mudarmos nossa trajetória antes de 2020, nós arriscamos a ultrapassar o ponto critico do clima, com consequências desastrosas para as pessoas e todos os sistemas naturais que nos sustentam. » « If we do not change course by 2020, we risk missing the point where we can avoid runaway climate change, with disastrous consequences for people and all the natural systems that sustain us. »
55
CAPÍTULO 1: O RISCO DE COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
De fato, além das instabilidades evocadas até agora, a instabilidade climática pode fazer parte do nosso cenário em breve (se já não faz) e vir perturbar ainda mais a vida politica, econômica e social, ou seja, fortalece instabilidades preexistentes. SERVIGNE, STEVENS & CHAPELLE enfatizam: ¹ « Um colapso civilizacional não é um acontecimento (ou seja, uma catástrofe), mas uma cadeia de catástrofes pontuais (furacões, acidentes industriais, atentados, pandemias, secas, etc.) s o b re p o s t o a a l t e r a ç õ e s p ro g re s s i v a s n ã o m e n o s desestabilizadoras (desertificação, desajustamento das estações, poluições persistentes, extinções de espécies e de populações animais, etc.). […] Isso não concerne apenas acontecimentos naturais, mas também (e sobretudo) choques políticos, econômicos e sociais, assim como acontecimentos de ordem psicológicas (como mudanças de consciências coletivas)» « Un effondrement de civilisation n’est pas un événement (c’està-dire une catastrophe), mais un enchaînement d’événements catastrophiques ponctuels (ouragans, accidents industriels, attentats, pandémies, sécheresses, etc.) sur fond de changements progressifs non moins déstabilisant (désertification, dérèglements des saisons, pollutions rémanentes, extinctions d’espèces et de populations animales, etc.). […] Cela ne concerne pas seulements des évènements naturels, mais aussi (et surtout) des chocs politiques, économiques et sociaux, ainsi que des événements d’ordre psycologiques (comme des basculements de conscience collective) » 56
Diante de tantas instabilidades podemos ficar assustados quanto ao mundo que nos espera, e com razão, mas devemos também aceitar que o colapso de civilização faz parte da história humana e que até agora conseguimos enfrenta-los. O próprio termo instabilidade não indica o que vai ocorrer, nem se todos os acontecimentos terão consequências negativas, o próprio da instabilidade é que não sabemos com exatidão o que vai ocorrer. Para esclarecer um pouco e aproximarmo-nos melhor do que significa um colapso, podemos conjeturar que será um mundo com penúria alimentar, penúria energética gerando ou decorrendo do fim da exuberância industrial, eventos climáticos extremos, crises econômicas, politicas e instabilidades sociais (positivas ou negativas). Será um tempo de sobriedade, ou seja, uma volta no tempo com um clima instável. Vimos agora os efeitos gerais do colapso, mas para delinear um perfil preciso do colapso precisamos entender suas causas, e sua sequencia, isso, no âmbito de identifica-lo com maior precisão, mas também para guiar nossa reflexão sobre o futuro a aguardar.
1
SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël; CHAPELLE, Gauthier. Une autre fin du monde est possible: vivre l’effondrement (et pas simplement y survivre) p15-16
AS CAUSAS DO COLAPSO
Existem três principais causas ao risco de colapso sistêmico global; os limites, as fronteiras e a complexidade sistêmica. Cada uma destas causas representa, por si só, um risco de colapso, no entanto, também podem se associar.
LIMITES Os limites representam os recursos que acabam, são os recursos que representam a base do sistema de organização humana atual, alguns são necessários para sustentar os nossos avanços tecnológicos (cobalto, estanho, níquel, lítio etc.), ou nossa indústria (petróleo, carvão, gás natural etc.) ou seja, são vitais para nossa economia, outros no entanto são essenciais para nossa sobrevivência (agua, solo fértil). Esses recursos podem ser fósseis, ou renováveis e apresentam uma limitação quanto a sua disponibilidade. Todos, absolutamente todos os recursos apresentam limites, pois quando fósseis não podem se repor numa escala de tempo condizente com à da humanidade. E quando renováveis, devem ser explorados numa velocidade abaixo da capacidade de regeneração. De fato, num mundo finito, há limites. Nossa economia é baseada em crescimento exponencial, ou seja, o consumo (de recursos) aumenta com o crescimento econômico e, portanto, diminui a longevidade dos recursos que estão sendo utilizados, ou seja, a ideia de trocar um recurso por outro é um curativo temporário, pois todos os recursos possuem limites. Essa lógica de crescimento exponencial da economia também impacta os recursos renováveis, que devido a pressão econômica (em parte) são explorados a uma velocidade muito maior que sua capacidade de regeneração, como por exemplo, os aquíferos, a madeira, o solo fértil etc. Além desses aspectos existe também um fato importante que é que, a dificuldade de exploração, aumenta, a medida que os recursos se tornam mais raros. Em analogia podemos citar um tubo de pasta de dente, quando está cheio, a pasta de dente sai com facilidade, a medida que se esvazia, é preciso dobrar, apertar, torcer o tubo para conseguir extrair seu conteúdo. No caso dos recursos o
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CAPÍTULO 1: O RISCO DE COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
mesmo acontece, pois os locais de maior concentração de recursos, ou de mais fácil acesso já foram explorados totalmente ou parcialmente. Esse fato pode ser corroborado na atualidade onde assistimos ao interesse crescente de empresas de produção energética em fontes não convencionais de energia (pré-sal, areias betuminosas etc.). Mas também no aumento constante nas vendas de fertilizantes industriais. As fontes não convencionais são por definições fontes de mais difícil acesso, e, portanto, apresentam maior dificuldade de exploração, consequentemente, geram um aumento do custo pecuniário (capital investido) como do custo ecológico. Ou seja, hipoteticamente, antes dos recursos fósseis desaparecerem haverá um forte aumento dos custos de exploração e transformação que poderia frear a produção industrial e, portanto, os investimentos em exploração e transformação de recursos. De fato, o custo alto poderia fabricar a escassez apesar de ainda haver recursos.
58
Numa sociedade baseada em crescimento exponencial, a escassez de recursos pode ser fatal, pois ela não pode mais crescer, ou seja, a economia entra em recessão e a dificuldade de exploração torna a volta ao estado anterior pouco provável, de fato poderia levar a economia ao colapso, e se por acaso forem encontradas recursos de fácil exploração isso levaria a saturação dos sumidouros do planeta e portanto, ao colapso ecológico como vamos ver a seguir na parte de fronteiras do planeta terra.
FRONTEIRAS As fronteiras representam de certa forma as balizes do sistema terra. O nosso planeta possui uma certa capacidade de suporte, cuja regeneração garante a estabilidade dessa capacidade de suporte no tempo. No entanto as atividades humanas estão diminuindo essa capacidade de regeneração, ou seja, estamos diminuindo a capacidade de suporte do planeta, fazendo com que ela não consegue mais se sustentar, e muito menos sustentar as nossas atividades e suas consequências negativas sobre o meio ambiente. Ao contrário dos limites de recursos o sistema terra pode ultrapassar suas próprias fronteiras, mas isso não quer dizer que é desejável, pois as fronteiras do sistema terra atual é que garantem a permanência num estado vivível para humanos. Como apresentado anteriormente na figura 2 (pagina 21), as fronteiras do sistema terra podem não ser todas quantificadas, mas o cruzamento das fronteiras relativas à diversidade genética e aos ciclos químicos já colocam nossa existência em perigo pois o sistema terra é tão complexo que não podemos prever a sua reação.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
Sabemos, no entanto, graças à história geológica que a terra é capaz de encontrar várias situações de equilíbrio, mas nada garante que esses novos equilíbrios sejam capazes de sustentar a vida, muito menos humana. O sistema terra nem sempre foi no estado que conhecemos atualmente como Holoceno, ou seja, uma época com uma variabilidade climática mínima. A variabilidade climática durante os doze mil anos do Holoceno foi da ordem de 1°C para mais ou para menos de média global. Ou seja, muito estável. Vale ressaltar que em 2016 a temperatura média global foi de +0,99°C, no entanto, os dados climatológicos apenas são significativos por décadas, e desde 1980 a temperatura média global vem aumentando exponencialmente portanto, é provável que passamos a barra simbólica de +1°C nesta década. No campo cientifico da geologia, há hoje um debate sobre o fato de estarmos ainda no Holoceno, pois os impactos humanos estão tão importantes que poderão ser vistos durante os milênios a seguir. De fato, deixamos nossa marca no tempo. E poderíamos estar (desde 1950) no Antropoceno, o período durante o qual o humano tornou-se uma força geológica. ¹ E, portanto, saímos da trajetória de estabilidade climática do Holoceno para outra que pode ser chamada de trajetória planeta estufa. O cruzamento das fronteiras nada mais é que colocar a humanidade toda em risco, pois não há como prever o estado futuro do planeta e sua habilidade a fornecer ar, alimentos, água, temperaturas viáveis etc. Ou seja, cruzar as fronteiras poderia desencadear um colapso global que levaria ao fim da humanidade como sociedade e como espécie.
COMPLEXIDADE SISTÊMICA A complexidade sistêmica inerente a nossa sociedade globalizada contemporânea representa uma das possíveis causas do colapso, ela é a arquitetura invisível que estrutura nossa economia financiarizada, nosso mercado globalizado, nossas instituições politicas interligadas. Também é presente na natureza pois como abordamos anteriormente o sistema terra, e os sistema ecológicos de modo geral, são sistemas complexos, mas aqui abordaremos a complexidade sistêmica resultante da organização humana.
1
PLANETA. Glossário do Antropoceno.
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CAPÍTULO 1: O RISCO DE COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
Um sistema simples ou linear pode ser entendido com facilidade, pode-se prever seu funcionamento e sua reação às perturbações (fig 16).
◀ Fig 16: Sistema simples. fonte: a autora
ENTRADA
PROCESSO
SAÍDA
Ao inverso, os sistemas complexos possuem tantas conexões, ações, retrações positivas e/ou negativas, que o observador não consegue decifrar o sistema (fig 17), e portanto, não é capaz de prever a reação do sistema a uma perturbação, a uma mudança, ao desaparecimento de uma das suas partes ou simplesmente ao passar do tempo. A complexidade sistêmica representa por si só um risco de colapso.
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De modo geral, organizamos nossa sociedade complexificando cada vez mais o sistema. A abundância energética favoreceu esse fato pois permitiu que criemos governanças cada vez mais distante e centralizadas, de estatal, a nacional e finalmente supranacional. A mudança de escala pode ter gerado um ganho em eficácia, mas ganhou sobretudo em complexidade. A « megamáquina » descrita por MUMFORD é exatamente essa complexidade sistêmica que invadiu todos os aspectos da vida humana, da cidade, a economia, até a politica etc. de tal sorte que está presa numa inércia incontrolável, imparável, imutável cuja única saída é o colapso. A megamáquina não pode ser modificada apenas cairá sob o próprio peso. Vale interligar os diferentes temas abordados nesse capítulo e identificar que, apesar de tratar de assuntos diferentes, cada um pode desencadear um colapso, por si só, como podem agir em conjunto. Por exemplo, se o clima se torna cada vez mais instável, dificultando o trânsito internacional de mercadorias, impedindo o acesso a fontes de recursos poderá gerar o colapso do sistema complexo econômico. Ou se a escassez de petróleo provoca uma utilização massiva de carvão para manter a economia funcionando, acabará desencadeando um colapso ecológico. Existem diversas formas do colapso se desencadear, todas não podem ser enumeradas aqui, para alguns o colapso já iniciou, para outros ainda é distante, mas esse quadro geral permite apropriar-se melhor do tema.
▶︎ Fig 17: As causas do colapso. fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
AS CAUSAS DO COLAPSO
LIMITES São recursos físicos que acabam, cuja quantidade é preexistente Os limites representam os recursos que acabam, como petróleo, gás, minerais, madeira, água potável, etc. Recursos que representam a base do sistema de organização humana, podem ser fósseis, ou renováveis mas mal gerenciados.
FRONTEIRAS As fronteiras do sistema terra são condições que podem ser ultrapassadas mas que colocam a vida em risco, pois não é possível prever a reação do sistema terra consequentemente ao cruzamento das ditas fronteiras.
COMPLEXIDADE SISTÊMICA As interações entre as diferentes entidades impedem o observador de entender o funcionamento do sistema, seu comportamento, suas retroações ou sua evolução.
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CAPÍTULO 1: O RISCO DE COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
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AS FASES DO COLAPSO
Em complemento à definição do colapso e a suas causas é importante acrescentar nuances, pois como foi descrito anteriormente as causas não geram o mesmo colapso, mas sim colapsos de diferentes intensidades. Para enriquecer o conceito, ORLOV (2013) criou uma graduação de colapso, comparável à escala de Richter para os terremotos. E insiste na necessidade de pensar o colapso como uma transição: ¹ « Pode ser até mesmo útil pensar o colapso como uma transição: uma transição que já foi planejada para nós (dispensando qualquer planejamento adicional dessa transição) e consiste no colapso da finança, do consumismo e da política clássica, junto com o colapso das sociedades e culturas que dependem completamente deles. » « It may even be useful to think of colapse as a transition: a transition that has already been planned for us (so no further transition planning activities are needed) and will consist of the collapse of finance, consumerism and politics-as-usual, along with the collapse of the societies and cultures that are entirely dependent on them. »
A escala de ORLOV portanto, se classifica originalmente em cinco níveis (2008), mas em 2013 o autor acrescentou outro nível quando se deparou com novas evidencias sobre as fronteiras do planeta Terra: ² « Então parece que pode não haver um final feliz a minha história de As Cinco Fases de Colapso, as três primeiras fases (financeiro, comercial, político) são inevitáveis, enquanto as duas últimas (social, cultural) são completamente opcionais, mas tem, infelizmente, começadas em muitas partes do mundo. Porque, você vê, também há a sexta fase que eu previamente negligenciei a mencionar -o colapso ambiental- ao fim do qual nós estaremos deixados sem lar, depois de ter tornado a Terra (nosso planeta) inabitável.
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ORLOV, Dmitry.The five stages of collapse: survivor’s toolkit. Gabriola Island: New Society Publishers, 2013 p14 2
ORLOV, Dmitry.The Sixth Stage of Collapse
« And so it seems that there may not be a happy end to my story of The Five Stages of Collapse, the first three of which (financial, commercial, political) are inevitable, while the last two (social, cultural) are entirely optional but have, alas, already run their course in many parts of the world. Because, you see, there is also the sixth stage which I have previously neglected to mention environmental collapse at the end of which we are left without a home, having rendered Earth (our home planet) uninhabitable. »
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CAPÍTULO 1: O RISCO DE COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL
Aqui seguem as seis fases do colapso segundo Dmitry ORLOV resumidas: - COLAPSO FINANCEIRO Os bancos param de funcionar, os recursos do capital se tornam inacessíveis, o dinheiro investido desaparece. É o colapso da finança. - COLAPSO COMERCIAL As lojas estão vazias, a moeda perde seu valor. A sociedade de consumo deixa de existir. - COLAPSO POLITICO As governanças perdem sua legitimidade, não tem mais função nem utilidade. - COLAPSO SOCIAL Os grupos sociais não conseguem desempenhar sua função protetora e a federar a sociedade (lutas internas - falta de recursos) gerando a desagregação social. - COLAPSO CULTURAL As pessoas cessam de cooperar, não apresentam benevolência, honestidade ou caridade. A « bondade da humanidade » é perdida. É a luta individual que prevalece.
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- COLAPSO AMBIENTAL O meio ambiente não é mais capaz de assegurar a sobrevivência da espécie humana, devido às mudanças climáticas, pandemias ou guerras nucleares por exemplo. As etapas do colapso devem ser entendidas um pouco como uma escala (fig 18), que vai determinar a gravidade do colapso, mas também como uma cronologia, ou seja, é a trajetória do cenário mais pessimista. Porém, o autor também indica a possibilidade de adaptação dos sistemas, permitindo a uma comunidade manter-se de maneira durável num estado intermediário:¹ « O colapso, em cada fase, é um processo histórico que leva tempo para consolidar-se, já que o sistema se adapta à circunstancias variáveis, compensa suas fraquezas e encontra caminhos para continuar funcionando em alguma capacidade. » « Collapse, at each stage, is a historical process that takes time to run its course as the system adapts to changing circumstances, compensates for its weaknesses and finds ways to continue functioning at some level. »
O colapso pode, portanto, nunca ultrapassar o menor grau, ou piorar ao longo do tempo e atingir um grau mais avançado. Essa escala pode variar localmente também, dependendo da capacidade de adaptação do bairro, cidade, região ou país (fig 19). No entanto Dmitry ORLOV considera que hoje, o colapso financeiro, comercial e politico são inevitáveis devido em parte a complexidade dos sistemas e a suas interligações.
▶︎︎ fig 18: As fases do colapso segundo Dmitry ORLOV e os exemplos utilizado pelo autor em seu livro ou no seu blog Fonte: a autora.
▶︎ fig 19: Croquis esquemático demonstrando as diferentes direções nas quais o colapso pode evoluir através do tempo. fonte: a autora. 1
ORLOV, Dmitry.The five Stages of collapse, 2019 uptade.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
AS FASES DO COLAPSO
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COLAPSO FINANCEIRO
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COLAPSO COMERCIAL
3
COLAPSO POLITICO
A crise dos « subprimes » de 2008 que levou a maioria dos países atingidos a doar dinheiro público aos bancos privados.
A crise de Cuba decorrente do embargo econômico de 1962.
A queda da União Soviética em 1991
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COLAPSO SOCIAL O povo Roma (cigano) cuja perseguição mudou radicalmente seus hábitos e sua organização social.
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COLAPSO CULTURAL
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COLAPSO AMBIENTAL
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O desaparecimento do povo Matamua da Ilha da Páscoa (Chile).
EXEMPLO DE EVOLUÇÃO TERRITORIAL DO COLAPSO 1
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4
6
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1 6
5
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5
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4 2
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VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
CAPÍTULO 2: VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
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A ERA INDUSTRIAL E SUA CIDADE
A ERA INDUSTRIAL A era industrial inicia em torno de 1850 com a aparição da máquina a vapor, mas consolida-se realmente a partir das modificações de ordem econômica, pois a abundância energética e os avanços tecnológicos, permitiram que as sociedades, até então, predominantemente agrarias e artesanais se tornassem sociedade comerciais e industriais. Essa mudança da ordem econômica é de fato a concretização de um projeto politico centralizador, anterior a era industrial, MUMFORD (1961) aponta que já na época barroca emergiram essas teorias politicas. A concretização do projeto politico centralizador portanto, é o que caracteriza a era industrial. A ideologia centralizadora implica dominação, expansão e fluxos. Dominação do espaço comercial, expansão do espaço comercial e fluxos de mercadoria por exemplo. Hoje chamamos esse projeto, de globalização, onde o télos - a causa final - é criar um espaço politico, econômico e comercial, global.
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ÁREA DE DOMINAÇÃO
EXPANSÃO
Foto paginas anteriores: Fig 20: « Recife » de gretadias no Flickr ▶︎ fig 21: Croquis esquemático da ideologia centralizadora fonte: a autora
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CAPÍTULO 2: VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
MUMFORD utiliza a expressão « Todos os caminhos levam a Roma » em exemplo desse sintoma hiper-centralizador, onde Roma é o destino de todos os caminhos. Hoje podemos observar essa centralização em diversos aspectos das nossas vidas, um exemplo flagrante pode ser observado na organização dos fluxos aéreos, onde não é mais possível identificar cidades, nem países apenas grandes manchas (centros) e seus satélites (fig 22).
▼ Fig 22: Mapa de fluxos aéreos. Fonte: Openflight.org
« TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA » 70
A filosofa politica Barbara STIEGLER, a partir de sua leitura de Lippmann define a sociedade industrial como: ¹ « Um mundo globalizado levado a uma aceleração dos fluxos, dos ritmos exponenciais de modo que a divisão do trabalho torna-se completamento globalizada » «Un monde mondialisé amené à une accéleration des flux, des rythmes exponentiel de sorte que la division du travail devienne completement mondialisé »
Esse projeto politico modificou completamente a vida humana e sua organização, de fato a divisão do trabalho mudou, a sua natureza tampouco e começou uma era de fluxos; fluxos de capital, de energia, de matérias primas, de mercadorias, e até mesmo de trabalhadores. No entanto o que tornou possível a aplicação de tal projeto foi a abundância energética e os avanços tecnológicos decorrentes. Sem a opulência energética ofertada pelo carvão inicialmente e pelo petróleo atualmente é muito provável que não teria sido possível chegar a esse ponto de centralização; onde alguns países dependem totalmente de bens produzidos no exterior, ou até mesmo numa escala menor onde megalópoles são dependentes de fluxos por vezes internacionais para seus produtos de primeira necessidade. A greve dos caminhoneiros de maio de 2018 permitiu observar um pouco do que aconteceria se faltasse gasolina no Brasil por alguns dias. Se por acaso viesse a faltar por mais tempo, os fluxos
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Entrevista no THINKERVIEW. Barbara Stiegler : S'adapter à une société malade ?
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
necessários para garantir o acesso aos produtos de primeira necessidade seriam perturbados ou talvez inexistentes. Essa fragilidade inerente de um sistema demasiadamente interligado é o que definimos anteriormente como complexidade sistêmica. Ou seja, o projeto politico centralizador é um risco em si de colapso. E a cidade por representar, como foi o caso em varias ocasiões históricas, o paroxismo do projeto politico vigente retoma suas características. O projeto politico de globalização é portanto, engastado nas cidades da era industrial, e infiltrou o nosso modo de desenvolvimento urbano, como ressalta MUMFORD: ¹ « Se a forma original da cidade foi alcançada graças a união das economias paleolítica e neolítica, cada metrópole final parece ser resultado de duas forças que se destacaram, em formas institucionais, muito rapidamente, após o século XVII: uma economia produtiva ”industrial”, utilizando energia numa escala nunca antes possível, e uma economia de consumo ”comercial” […] »
A CIDADE DA ERA INDUSTRIAL Usualmente diferencia-se dois momentos na era industrial, MUMFORD segue essa tendência e denomina a cidade do carvão, Coketown, e a do petróleo, Megalópolis. No entanto como evocamos ao definir a era industrial, a disponibilidade energética só tem significado quando contemplada junto a seu projeto politico, o mesmo ocorre para a cidade da era industrial, as duas, Coketown e Megalópolis pertencem ao mesmo projeto politico centralizador, portanto, devem ser vista como uma tendência geral das cidades da era industrial. Ademais a diferença da fonte energética apenas representa uma evolução na escala da expansão e não uma mudança significativa. Para MUMFORD o projeto politico molda as cidades, portanto, é preciso entender esse projeto para pretender entender o desenvolvimento da cidade. Sobre Coketown Lewis MUMFORD aponta que: ² « A base politica daquele novo tipo de agregação urbana apoiavase em três colunas principais: a abolição das guildas, com a criação de um estado de insegurança permanente para as classes trabalhadoras; a implantação do mercado de trabalho aberto e competitivo, bem como a venda igualmente competitiva de mercadorias; e a manutenção de dependências estrangeiras como fonte de matérias-primas, necessárias às novas industrias, e como mercado aberto para absorver os excedentes da industria mecanizada. » 1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva. p573 2
Ibidem p484
É interessante apreciar a observação de MUMFORD que apontou o projeto politico de centralização e da expansão continua do seu mercado como fundamento da cidade da era industrial. Testemunhamos até hoje o desejo politico expansionista através dos numerosos tratados de livre circulação de bens (Mercosul e União europeia / ALADI/ TAFTA etc.).
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CAPÍTULO 2: VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
O autor complementa que essa nova ordem se transcreveu na própria função social e organização espacial da cidade: « Mas a tendência à concentração nas atividades econômicas e a considerar como desperdício de tempo o esforço gasto noutras funções, pelo menos fora da casa, vinha crescendo continuadamente desde o século XVI. Se o capitalismo tendia a expandir domínios do mercado e transformar cada parte da cidade numa comodidade negociável, a mudança dos trabalhos manuais urbanos organizados para a produção fabril em larga escala transformou as cidades em sombrias colmeias (…) »
A dominação faz parte do projeto centralizador da globalização, da mesma forma que a expansão e a aceleração dos fluxos. Essa dominação se traduz na dominação econômica, tecnológica, ambiental, como a necessidade de dominar a natureza mas também como aponta MUMFORD na dominação dos interesses humanos. A era industrial transformou o corpo social em massas, como pode ser visto através da propaganda de massa, meios de comunicações de massa etc. Essa modificação se tornou relativamente evidente após a segunda guerra mundial mas para MUMFORD já fazia parte de Coketown. Segundo STIEGLER as massas por definição são fracas e impotentes. Ou seja, a priorização dos aspectos econômicos para atender o télos da globalização criaram massas cujos interesses particulares só devem se atendidos se criam um acréscimo financeiro. 72
Essa dominação dos interesses humanos pode ser vista tampouco pela organização espacial da cidade onde a medida que foi se fortalecendo o projeto centralizador foram se afastando as atividade econômicas do setor primário (matéria prima / exemplo: trigo) e secundaria (transformação / exemplo: farinha de trigo) para concentrar atividades que geram maior lucros (venda de bens e serviço) tornando a cidade dependentes de fluxos externos, e seus habitantes uma massa de consumidores (fig 23). A grande dependência a fluxos não é algo novo, no entanto esses fluxos durante a era industrial foram se acelerando e se generalizando de tal modo que necessitam uma disponibilidade energética cada vez maior para sustentar fluxos cada vez mais importantes, ora como abordamos anteriormente num mundo finito existe limites. A dominação da natureza também é significativa na cidade da era industrial mas não é especifica a nossa época, no entanto o adensamento populacional que ocorreu e a potencia destruidora que ganhamos com a disponibilidade energética aumentaram grandemente nossa dominação sobre a natureza, de tal modo que todos os ecosistemas terrestre sofrem influência humana.
▶︎ Fig 23: O metabolismo linear e centralizador da cidade da era industrial. Adaptado de: ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta. 1, ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2015. p31. fonte: a autora 1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva. p483
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
O METABOLISMO LINEAR E CENTRALIZADOR DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
ENERGIA
MERCADORIAS
FL
UX O
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ALIMENTOS
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CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
EXPANSÃO
CONSUMIDORES O AÇÃ URB CON
RESÍDUOS
LIXO
POLUIÇÃO
CAPÍTULO 2: VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
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O MITO DA MEGALÓPOLIS
Em seu capítulo « O mito de Megalópolis » MUMFORD desenha uma crítica predominantemente negativa da cidade atual, e evoca as similaridade entre a cidade atual e a Roma antiga cujo crescimento e domínio exagerado levou ao seu colapso. E questiona se a megalópolis é de fato o último tipo de desenvolvimento urbano:¹ « Representará isso uma fase final do desenvolvimento urbano? Aqueles que acreditam que não existem alternativas para a atual proliferação do tecido metropolitano talvez estejam desprezando com demasiada facilidade o resultado histórico de tal concentração do poder urbano: esquecem-se de que esse fenômeno tem repetidamente assinalado a fase final do ciclo clássico de civilização, antes da sua completa derrocada e decadência. »
A seguir vão ser apresentadas as críticas formuladas por MUMFORD preservando o título original das partes apenas mudando a ordem para agrupar problemáticas semelhantes. 75
AUMENTOS DE PODER A megalópolis possui dentro de si os elementos para sua própria destruição, MUMFORD insiste no perigo da procura permanente do aumento da sua área de influência. O desejo de dominação cultural, econômica e ambiental poderia tornar-se o instrumento da sua destruição. O autor fala da possibilidade de « tornar todo o planeta permanentemente inabitável. » Ele se refere a então possível guerra nuclear durante a guerra fria quando foi escrito o livro. No entanto vimos que hoje além dessa ameaça de guerra, existe também a ameaça climática e ambiental.
A BUROCRACIA TENTACULAR
1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva. p567
MUMFORD denuncia aqui a centralização excessiva que ocorre na cidade e nas suas instituição, o zelo dominador levou a criar entidades rígidas e potentes demais, e por vezes monopólios no âmbito de controlar cada vez mais a economia, a cultura, a informação, os habitantes, a natureza, ou seja, é a manifestação lógica da procura permanente pelo aumento do seu poder. Essa centralização tornou-se norma, de tal modo, que o sistema cidade encontra-se travado. A demasiada rigidez tornou-se fragilidade, a exemplo do vidro cuja resistência é muito alta mas que não possui elasticidade.
CAPÍTULO 2: VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
« Embora baseado na expansão dinâmica, o sistema inteiro tornase cumulativamente rígido e menos capaz de enfrentar situações novas: não pode manobrar nem se retirar.» ¹
O autor também alerta sobre a vulnerabilidade, causada por tal rigidez, a eventos incontroláveis e como isso afetaria a cidade: ² « Enquanto o mecanismo produtivo está funcionando bem, o fluxo de bens e serviço é continuo. Mas uma seca, um furacão, um terremoto, uma carência de mercadorias, para não falar na guerra, abalarão o tecido; e a afirmação dessas implacáveis exigências metropolitanas levanta-se, assim, no caminho de um ajustamento politico racional. »
A REMOÇÃO DOS LIMITES Historicamente as limitações orgânicas em relação ao transporte geravam uma restrição natural sobre o tamanho máximo de uma cidade. Hoje devido às novas tecnologias e aos recursos fósseis essas limitações foram deferidas, tornando-se de fato inexistentes. Essa mudança é significativa para MUMFORD pois demonstra que saímos de um sistema orgânico para chegar num sistema mecânico cujo crescimento sem propósito esta retirando à cidade suas finalidades humanas. Mumford complementa afirmando que existe uma injunção para que os humanos se adaptem a modernidade tecnológica: ³ 76
« Contudo, chamar a essa massa uma ”cidade regional” ou afirmar que representa a nova escala de colonização à qual o homen moderno deve adaptar suas instituições e suas necessidades pessoais é mascarar a realidade da situação humana e deixar que forças aparentemente automáticas se tornem substitutas das finalidade humanas. »
A injunção a adaptação é segundo Barbara STIEGLER algo característico da nossa época e é muito presente na ideologia neoliberal. A adaptação é precisa pois forças ”superiores” estão guiando nossa evolução, essas forças não podem ser modificadas portanto, devemos se adaptar. As forças que guiam o desenvolvimento da cidade atual, são as mesmas que guiam o desenvolvimento humano da era industrial, elas são chamadas automáticas por MUMFORD, outros chamam de leis do mercado, ou simplesmente dizem ”o mundo é assim”. Ou seja, aparentemente existe um rumo, no entanto ninguém sabe descreve-lo com precisão, mas é preciso adaptar nossas necessidades, nossas vidas, e nossas instituições ao télos da globalização afastando-se das necessidades humanas ou de algum limiar de convivialidade. Essa obrigatoriedade da adaptação esta corroendo a forma da cidade e principalmente sua identidade e suas finalidades humanas.
1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva. p579 2
Ibidem p580 3
Ibidem p584
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
GIGANTISMO EM EXPANSÃO Nessa par te da crítica, MUMFORD compara o comportamento de espalhamento, verticalização e crescimento da cidade ao comportamento de uma célula cancerosa, onde a expansão tornou-se o único objetivo, cuja finalidade é a criação de uma cidade mundial, ou seja, a globalização e sua consequente hiper-centralização. « A perda de forma, a perda de autonomia, a constante frustração e embaraço das atividades diárias, para não falar dos gigantescos rompimentos e interrupções — todas essas coisas tornam-se atributos normais de regime metropolitano. Existe um nome especial para o poder, quando se acha concentrado em tal escala: chama-se impotência. » ¹
CONGESTIONAMENTO E DESCONGESTIONAMENTO A expansão continua aumenta a dominação da cidade e portanto, atrai ainda mais fluxos, gerando congestionamento que só pode ser descongestionada através da expansão, ou seja, cria-se uma retroação continua de crescimento e congestionamento. Essa expansão também gera deslocamentos cada vez maiores, cansando os humanos, gerando estresses desnecessários e danosos a saúde. Esse crescimento, além de sem rumo necessita de quantidades crescente de recursos, água, energia, etc. causando um grande custo ecológico, e afasta cada vez mais os ciclos simbióticos da natureza causando também efeitos negativos no psicológico humano. Ou seja, o sistema cidade deixou de atender as necessidades humanas e passou a moldar essas necessidades.
O RECIPIENTE SUPERLOTADO Historicamente a transição da aldeia para a cidade permitiu a especialização vocacional dos seus habitantes e a cooperação entre um grande numero de pessoas. No entanto a área da recém criada cidade possuía limites e consequentemente uma população igualmente limitada, ou seja, existia algum limiar de convivialidade, que permitia que todos os habitantes pudessem cooperar. MUMFORD denuncia o processo de conurbação que além de deformar a cidade, amontoa enormes quantidades de pessoas que não podem entrar en efetiva cooperação. Embora inicialmente o aumento em tamanho da cidade criou novas formas de cooperação como sociedades cientificas, associações nacionais ou internacionais, partidos políticos, grupos econômicos, etc. o recipiente cidade encontra-se, hoje, superlotado.
1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva. p586-587
Ou seja, o congestionamento metropolitano diminui a importância das vizinhanças, e das comunidades menores, mas permitiu a emergência de novos modos de cooperação, no entanto, elas também foram permeadas pela burocracia tentacular que
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CAPÍTULO 2: VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
analisamos anteriormente, de tal modo que a essência da cidade encontra-se em mau estado.
« A ESCRAVIDÃO DAS MULTIDÕES » A era industrial e as melhorias tecnológicas, permitiram atingir níveis de crescimento populacional jamais atingido. A cidade no entanto e seu complexo industrio-financeiro tornaram a sobrevivência da população completamente dependente da cidade. E a megalópolis por procurar sempre aumentar seu capital e poder apenas procura atender e encorajar necessidades e desejos humanos que geram lucros, alienando e dominando as massas, reduzindo sua função a uma posição passiva de consumidor num delírio de consumismo frenético promovido pelo próprio modo de organização da cidade. « A livre ”concorrência”, O chavão que rompeu os antigos monopólios feudais e municipais, cedeu aos esforços em larga escala para se alcançar o monopólio ou quase monopólio, hoje chamado ”oligopólio”, de tal sorte que uma minoria de organizações pudesse controlar o mercado e fixar os preços quase com tanto êxito quanto se constituíssem de fato uma unidade. » ¹
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Prologando o pensamento de Mumford para a época atual podemos ver que ele vislumbrava o que hoje é chamado de manufatura do consentimento, onde os meios de comunicação de massa são utilizados para defender e promover os interesses dos dominantes, assentando ainda mais o projeto de centralização: « Para selar esse controle, um outro passo é necessário: o efetivo monopólio da propaganda, da noticia, da publicidade, da literatura periódica e, acima de tudo, dos novos canais de comunicação de massa (…) » ²
AS SOMBRAS DO ÊXITO A transformação do corpo social em massas é bastante significativo da era industrial, e provem tanto da ideologia politica, do aumento demográfico como também da forma de organização da cidade. Ao aumentar seu poder e sua dominação a cidade se congestionou de tal modo que causou uma diminuição gradativa do convívio dos seus habitantes, criando massas sem unidade, ou seja, elas não possuem identidade de grupo, apenas ocupam um mesmo espaço sem no entanto participar da evolução do dito espaço. Retomando o que foi abordado sobre a manufatura do consentimento, podemos perceber essa mudança como uma continuação lógica, pois, enquanto era possível obter o consentimento dos habitantes para governar; uma vez transformados em massas, a fabricação do consentimento passa a ser a forma lógica de governa-las pois nada une uma massa impotente.
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva. p572
Em complemento a perda de convívio e a decorrente massificação da população, MUMFORD aponta uma perda de
Ibidem p580
1
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O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
convívio com a natureza, inclusive essa tendência pode ser vista através do afastamento geográfico das atividades comerciais ligadas a terra, como a agricultura principalmente. Esse dois aspectos combinados tornaram as massas totalmente dependentes da cidade para sua subsistência, tornando-se meros consumidores. A alienação da população foi então reforçada através de novas tecnologias e grandes empreendedorismo publicitários. MUMFORD considera que essa descaracterização da cidade tirou à vida humana muito dos seus prazeres, e complementa: ¹ « Para acreditar, pois, que a cultura humana alcançou um maravilhoso ponto culminante final da metrópole moderna, é preciso desviar os olhos dos sombrios detalhes da rotina diária. E é isso precisamente o que o cidadão metropolitano treina para fazer: ele vive não num mundo real, mas num mundo de sombras projetado ao seu redor em todos os momentos, por meio do papel, do celuloide e de luzes convenientemente manipuladas: um mundo do qual é isolado, por vidro, celofane e pliofilme, das mortificações da vida. Em suma, um mundo de ilusionistas profissionais e de suas crédulas vitimas. »
O DESTINO DE MEGALÓPOLIS A mecanização e a otimização de todos os aspectos da cidade a tornaram inóspita e inadequada para atingir um desenvolvimento humano mais amplo que a simples criação de riqueza. Para o autor a falta de perspectiva e significado na organização da megalópolis é um dos indicadores da sua morte. ² « Nossa civilização atual é um automóvel gigantesco a se mover numa estrada de mão única, a uma velocidade cada vez maior. Infelizmente, tal como está construído agora, faltam ao carro tanto o volante quanto os freios, e a única forma de controle que o motorista exercem consiste em fazê-lo andar mais depressa, embora, fascinado pela própria máquina e convencido de que deve atingir a maior velocidade possível, ele haja esquecido por completo o objetivo da viagem. Esse estado de desamparada submissão aos mecanismos econômicos e tecnológicos que o homem moderno criou é estranhamente disfarçado de progresso, liberdade e domínio da natureza pelo homem. »
FUNÇÃO CULTURAL DA CIDADE MUNDIAL
1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva. p589 2
Ibidem p602
A cidade mundial a qual MUMFORD se refere é a cidade cuja historia permanece visível, ou seja, além de agregar pessoas, a megalópolis tem a oportunidade de difundir cultura e saberes a uma escala jamais vista na historia. O que é uma ocasião de manter a cooperação entre milhões de indivíduos, onde a cultura é uma das forças que federa a cidade. Ou seja, trata-se da identidade da cidade, quer dizer a cooperação entre os habitantes da mesma cidade.
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CAPÍTULO 2: VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
A CIDADE INVISÍVEL Para MUMFORD a cidade invisível é uma oportunidade gerada pela rede desmaterializada que conectam as cidades, ou seja, uma rede de cooperação entre diversos agrupamentos de humanos decorrente das tecnologias (energia elétrica e comunicação) mas que podem ser estendidas ao terreno cultural. Ele cita por exemplo a rede de bibliotecas municipais que cooperam oferecendo um catalogo infinito ao leitor. É difícil não ver nessa predição de Lewis MUMFORD uma lógica parecida com a que conhecemos hoje como a internet. Essa predição pode ser entendida também como uma forma de cooperação global.
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Lewis MUMFORD descreveu em 1961 com grande precisão diversos desafios que a cidade da era industrial enfrenta até hoje. O espalhamento, o congestionamento da cidade, a centralização do poder etc. aparecem hoje como problemáticas recorrentes e bastante tratadas na literatura cientifica. Articulando o mito da megalópolis com a perspectiva do colapso sistêmico global, o vanguardismo do pensamento de MUMFORD é grandioso. Ele identificou que a complexidade sistêmica não era uma força mas sim uma fonte de vulnerabilidades, descreveu as limitações de um sistema que necessita sempre mais recursos e as consequências catastrófica do esquecimento do processos simbióticos da natureza no planejamento urbano. Sua conclusão também é sem equivoco, o modo de organização da megalópolis só poderá levar ao colapso. « E assim acontece hoje: aqueles que operam dentro do mito metropolitano, tratando tumores cancerosos como manifestações normais de crescimento, continuarão a aplicar simpatias, pomadas, encantações publicitarias, a magia das relações publicas e falsos remédios mecânicos, até morrer o paciente diante de seus olhos cegos. »¹ « A continuarem essas tendências desmoralizadoras, as forças que ora se acham em funcionamento revelar-se-ão incontroláveis e mortais, pois os poderes que o homen tem hoje ao seu dispor, a menos que sejam desligados de seus antigos laços com a cidadela e dedicados a finalidades humanas, levam de seu atual estado de suspeita paranóica e ódio a um frenesi final de destruição. »² 1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva. p603-604 2
Ibidem p617-618
IMAGINAR A CIDADE PÓSINDUSTRIAL A cidade pós-industrial como abordamos anteriormente deverá enfrentar grandes desafios. Vimos que o colapso trará instabilidades econômicas, politicas sociais e climáticas, cujas repercussões no frágil sistema complexo cidade poderão ser catastróficas. A partir dessa conclusão devemos questionar como podemos enfrentar esse futuro. Devemos analisar quais aspectos da cidade da era industrial devemos abandonar, e quais aspectos devemos preservar e fortalecer para imaginar a cidade pós-industrial. Vimos que a cidade da era industrial tem um projeto politico centralizador baseado na trindade de dominação, expansão e fluxos. A dominação politica, econômica, cultural e ambiental é responsável pela situação que enfrentamos hoje, onde para sustentar a dominação existente é preciso sempre expandir a área de influência . Isso se traduziu em vários aspectos negativos, como por exemplo a padronização global, onde especificidades culturais locais vem desaparecendo para adaptar-se a mundialização, ou ainda na própria arquitetura com o estilo internacional de caixas envidraçadas, mas principalmente no que concerne a natureza onde centenas de espécies desaparecem a cada dia. Autoproclamamo-nos donos da terra e portanto, exigimos da natureza que ela se adapte as nossas atividades, esse pensamento possivelmente presente desde o renascimento deve cessar, não podemos continuar nessa trajetória se queremos permanecer vivos. A expansão, que é a consequência direta do desejo dominador, apresenta limites tampouco, pois como MUMFORD apontou é preciso ter um limiar no tamanho das cidades para permitir a efetiva cooperação, sem limiar a cidade perde sua essência e acaba prejudicando a cooperação. Como vimos anteriormente as numerosas instabilidades por vir, vão necessitar grande capacidade de cooperação e organização, portanto, é preciso abandonar a lógica de expansão continua, se queremos poder agir em resposta ou em prevenção às catástrofes. Por último, a lógica centralizadora requer uma economia de fluxos. Esse fluxos acoplados ao desejo de dominação e expansão foram levado ao um extrema que põe em risco todos os habitantes da cidade, pois é necessário fluxos até para a economia de subsistência da cidade, essa aposta arriscada compromete todos os benefícios que a cidade traz, pois para esperar um mínimo de cooperação é necessário que as necessidades básicas sejam cumpridas.
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CAPÍTULO 2: VULNERABILIDADE DA CIDADE DA ERA INDUSTRIAL
O futuro da cidade não pode se resumir apenas à sobrevivência da população, pois seria perder uma parte significativa do que levou nossa espécie a construir cidades e a se agrupar em cidades, ou seja, seria perder a essência da cidade. Ao longo da historia, como conta MUMFORD, a cidade permitiu que diversos grupos humanos entrassem em cooperação, essa cooperação se deu em parte, graças a especialização vocacional, onde além do camponês, do caçador e do pastor emergiram outras funções que permitiram cumprir outras necessidades que a mera subsistência. Ou seja, a partir dessa diferenciação vocacional havia a possibilidade de apoiar-se noutros membros da comunidade para cumprir as necessidades básicas, essa característica cooperativa deve portanto, permanecer pois é a essência da cidade.
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Em complemento, MUMFORD apontou as possibilidades que a cidade da era industrial trouxe, onde além da cooperação intra-urbana, as redes de comunicação, de transporte, a cultura e a arte permitiram criar redes de cooperação inter-urbana e até globais, permitindo transformar o planeta numa aldeia, é evidente que as tecnologias de comunicação e de transporte atual, requerem fontes energéticas, no entanto deve-se pensar formas de comunicar com outras cidades para preservar uma forma de cooperação interurbana. Deve-se acentuar, que num mundo de instabilidade climática, é preciso uma cooperação mais ampla para poder prevenir e reagir de forma adequada as mudanças climáticas, assim como cooperar para restaurar ecosistemas danificados. Para MUMFORD, é preciso redirecionar os esforços para atingir finalidades humanas e não apenas padecer o projeto centralizador focado no crescimento econômico. « Os melhoramentos significativos só virão pela aplicação da arte e do pensamento aos interesses humanos centrais da cidade, com uma nova dedicação aos processos cósmicos e ecológicos que abrangem toda a existência. Devemos restituir à cidade as funções maternais, nutridoras da vida, as atividades autônomas, as associações simbióticas que por muito tempo tem estado omitidas ou esquecidas. Com efeito, deve a cidade ser um órgão de amor; e a melhor economia das cidades é o cuidado e a cultura dos homens » ¹
Para atingir tais finalidades, o autor também evoca a necessidade de autonomia da cidade do futuro e da sua necessária conexão com a natureza e seus mecanismos complexos. « A antiga divisão entre homem e natureza, entre citadino e rústico, entre grego e bárbaro, entre cidadão e forasteiro, já não pode ser mantida: quanto às comunicações, o planeta inteiro se está transformando numa aldeia; em consequência, até a menor vizinhança ou distrito há de ser planejado como um modelo funcional do mundo maior. Hoje, não é a vontade de um único governante deificado, mas a vontade individual e corporificada de seus cidadãos, tendo em mira o autoconhecimento, o autogoverno e a auto-realização, que se deve incorporar na cidade. » ²
1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva.Tradução de Neil R. da Silva. 4, ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p621 2
Ibidem p618
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
Essas características de organização social, além de promover um ambiente urbano mais democrático, poderiam ser de extrema importância em caso de colapso pois, participariam da habilidade da população de manter laços pacíficos e de autoorganizar sua sobrevivência, sua transmissão cultural e sua historia, gerando mais estabilidade social e portanto, tornando-se mais resiliente, sendo capaz de enfrentar mudanças e evoluir para permanecer. Para Lewis MUMFORD, a habilidade da população ter controle sobre a evolução da sua cidade/aldeia é que garante a permanência da cidade como entidade de agrupamento humano. Ao incriminar a demasiada centralização do poder, a alienação das massas, a expansão e a dominação, o autor procura demonstrar que historicamente essas tendências resultaram em colapso civilizacionais e que portanto, as novas formas de planejamento urbano deverão abandonar essas estratégias e tender para organizações mais democráticas e mais flexíveis, onde mudanças podem ocorrer (adaptação e transformabilidade) quando necessária (choques ou perturbações) mas cuja identidade (especialização vocacional e cultura humana) permanece intacta. É flagrante observar que esses melhoramentos preconizados por MUMFORD levariam a cidade a aumentar sua resiliência, ou seja, o autor já tinha identificado a necessidade das cidades ganharem em resiliência, embora nem tenha usado esse termo e tenha preferido falar de organização mais orgânica. Além de MUMFORD, outros autores recomendam aumentar a resiliência de todas as faces do desenvolvimento humano, inclusive as cidade se queremos estabilizar a trajetória da terra e evitar o planeta estufa. STEFFEN et al. (2018) acrescentam: ¹
«
Sugerimos que uma profunda transformação baseada em uma reorientação fundamental nos valores humanos, equidade, comportamento, instituições, economias e tecnologias é necessária. Mesmo assim, o caminho para a Terra estabilizada envolverá mudanças consideráveis na estrutura e funcionamento do Sistema Terra, sugerindo que estratégias de construção de resiliência sejam dadas muito mais prioridade do que atualmente na tomada de decisão. » « We suggest that a deep transformation based on a fundamental reorientation of human values, equity, behavior, institutions, economies, and technologies is required. Even so, the pathway toward Stabilized Earth will involve considerable changes to the structure and functioning of the Earth System, suggesting that resilience-building strategies be given much higher priority than at present in decision making. »
1
STEFFEN,Will et al. Trajectories of the Earth System in the Anthropocene. 2018
Portanto, o intuito de MUMFORD em 1961 continua sendo absolutamente relevante pois os desafios de hoje parecem ainda mais graves que qualquer ameaça sofrida no passado e no entanto as recomendações que indicam a necessidade de reorientar o desenvolvimento para finalidades humanas permanecem as mesmas.
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3
REPERCUSSÕES DO COLAPSO N A C I D A D E
CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
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IMPACTOS SÓCIO-ESPACIAIS
Uma vez que analisamos o sistema cidade, podemos tentar entender como o colapso se repercute no dia-a-dia dos habitantes, ou seja, como o quotidiano dos citadinos é afetado. Vimos com ORLOV (2013) que o colapso possuiu 6 fases, sendo que para o autor, os três primeiros colapso formam uma cadeia inevitável, o colapso financeiro, comercial e politico, onde cada um gera o seguinte. O fim da economia financeira, o fim do consumismo e o fim da politica clássica, é claro afetam nossas vidas, mas podemos tentar explicitar essas repercussões para entender melhor e identificar claramente as mudanças que ocorrerão. Para tal, devemos entender cada colapso como um processo histórico que se consolida com o tempo, portanto, há grandes etapas que por vezes se repercutem socialmente e espacialmente na cidade, como por exemplo, se os bancos cobrem os empréstimos, a população em divida com os bancos pode ser obrigada a abandonar suas casas, e seus locais de trabalho para estancar as dívidas. Portanto, as cronologias a seguir vão apresentar as grandes etapas (nas bolas coloridas) e quando houver as repercussões no tecido social e urbano (na lista abaixo das grandes etapas). Vale salientar que nas cronologias foram apresentados apenas os eventos relativos a cada colapso, portanto, são incompletas pois como abordamos anteriormente haverá, e já há em paralelo eventos climáticos extremos que podem acelerar e agravar o colapso sistêmico global. Por isso as cronologias não devem ser entendida como predição do futuro nem como uma cronologia fixa e imutável, elas se baseiam em exemplos históricos descritos no livro de ORLOV (2013) e em exemplos recentes de colapso financeiros (Grécia, Espanha), comerciais (Venezuela) ou políticos (Síria). É importante insistir também, que os eventos embora acontecerão globalmente, eles provavelmente não acontecerão todos ao mesmo tempo, pois como ORLOV (2013) explica, cada território reagirá de maneira diferente, mas eventualmente atingirão a todos os países industrializados devido à globalização, em outras palavras, devido a interligação das nossas economias industrializadas.
COLAPSO FINANCEIRO (FIG 25) Foto paginas anteriores: Fig 24: Foto sem título de Sara Kurfeß no Unsplash
O colapso financeiro, ou o fim da economia financiarizada, pode ser resumido em aumento e fortalecimento da desigualdade, e aumento da pobreza. O sistema financeiro global, ao colapsar vai consolidar desigualdades existentes e piorar as desigualdades, de
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CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
modo que geralmente decorreu numa generalização da pobreza nas sociedades atingidas. O colapso financeiro numa escala global também vai fortalecer a desigualdade Norte-Sul que já existe entre os países industrializados (do Norte) e os países em desenvolvimento (do Sul) é de se esperar portanto, que o colapso financeiro se consolide mais rápido nos países emergentes. Em relação ao tecido urbano, essa generalização da pobreza vai gerar o abandono de grandes quantidades de edificações, um aumento do numero de sem teto e portanto, uma explosão de favelas e ocupações irregulares. Esse aumento da desigualdade também pode gerar um aumento de violência, pois para WILKINSON & PICKETT (2010) desigualdade social e violência são correlacionados: ¹ « Evidências recentes da estreita correlação entre aumentos e diminuição na desigualdade e na violência mostram que, se a desigualdade é diminuída, os níveis de violência também diminuem. E a importância evolucionista da vergonha e da humilhação fornece uma explicação plausível de por que sociedades mais desiguais sofrem mais violência. » « Recent evidence of the close correlation between ups and downs in inequality and violence show that if inequality is lessened, levels of violence also decline. And the evolutionary importance of shame and humiliation provides a plausible explanation of why more unequal societies suffer more violence. » 88
De modo geral o colapso financeiro vai alterar a organização urbana pois o aumento da desigualdade vai fortalecer o sentimento de insegurança. Se, como foi o caso após a crise dos subprimes, os estados decidirem estancar as dividas dos bancos com dinheiro público, as dividas nacionais aumentarão exponencialmente o que poderia levar a reduzir as despesas dos estados, a exemplo do que ocorreu na Grécia ou na Espanha, com a venda das infraestruturas publicas (ferrovias, autoestradas, sistemas de abastecimento de água etc.), como também enfatizaria a tendência geral atual do neoliberalismo (ou ultra-liberalismo) de reduzir o numero de funcionários públicos (professores, policiais, bombeiros, médicos etc.). Ou seja, consolidaria o estado geral de insegurança das populações. Por outro lado os estados podem escolher simplesmente deixar falirem os bancos, a exemplo da Islândia que tornou a crise econômica, um problema politico, exigindo o não pagamento das dividas e a responsabilização dos banqueiros no fiasco econômico. A pressão exercida pelos islandês permitiu portanto, colocar os interesses do povo antes do interresse econômico dos bancos. O último passo do colapso financeiro, que inevitavelmente leva ao colapso comercial, é a queda nos investimentos industriais, pois, como o capital investido foi perdido, ele não pode ser investido para a produção de bens de consumo, recursos, alimentos ou serviços (fig 26), ou seja, essa queda de investimentos causa a queda da produção industrial e energética que marca o início do colapso comercial.
▶︎ Fig 25: Cronologia do colapso financeiro. fonte: a autora 1
WILKINSON, Richard; PICKETT, Kate.The Spirit Level:Why Greater Equality Makes Societies Stronger. 2010. p. 144
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
INÍCIO DO COLAPSO FINANCEIRO PERDA DO CAPITAL INVESTIDO
BANCOS COBREM OS EMPRÉSTIMOS CASAS SÃO ABANDONADAS COMÉRCIOS FECHAM ÁREAS EMPRESARIAIS SÃO ABANDONADAS
CASAS SÃO ABANDONADAS AUMENTO DO NUMERO DE SEM TETO
VENDA DAS INSTITUIÇÕES PUBLICAS (ESCOLAS, HOSPITAIS ETC.) RAREFACÇÃO DA MANUTENÇÃO DAS INFRAESTRUTURAS BLECAUTES, FALTAS DE ÁGUA, ACUMULAÇÃO DE LIXO NAS RUAS AUMENTO DO SENTIMENTO DE INSEGURANÇA (CORTES NOS EFETIVOS DE POLÍCIA ETC.)
QUEDA DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL E ENERGÉTICA
DESENGAJAMENTO DO ESTADO
VENDA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
AUMENTO DA POBREZA
SE OS ESTADOS DECIDIREM PAGAR A DIVIDA DOS BANCOS COMO FIZERAM EM 2008
RECESSÃO ECONÔMICA
DESEMPREGO EM MASSA
FALÊNCIA DAS EMPRESAS E DESEMPREGO
RECESSÃO ECONÔMICA
AUMENTO DA POBREZA 89 AUMENTO DO NUMERO DE POBRES AUMENTO DA VIOLÊNCIA
QUEDA DO INVESTIMENTO INDUSTRIAL
INÍCIO DO COLAPSO COMERCIAL
CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
CONTAGEM EM PIB
BENS DE CONSUMO MANUFATURADOS
CAPITAL GERADOR DE RECURSOS minas, poços de petróleo
CAPITAL INDUSTRIAL aciarias fabricas de ferramentas robôs
PRODUÇÃO INDUSTRIAL
CAPITAL AGRÍCOLA sistemas de irrigação, tratores
CAPITAL DE SERVIÇO escolas, hospitais
PRODUÇÃO DE RECURSOS
PRODUÇÃO AGRÍCOLA
PRODUÇÃO DE SERVIÇOS
INVESTIMENTO INDUSTRIAL
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COLAPSO COMERCIAL (FIG 27) O colapso comercial uma vez consolidado marca o fim do consumismo, a cidade portanto, é grandemente enfraquecida, pois os fluxos entrando e saindo são interrompidos, os consumidores que ela abriga se encontram sem mercadorias. A queda da produção industrial afeta nossa qualidade de vida, como também nossa expectativa de vida. A penúria de comida, água, medicamentos, energia, combinado com a escassez dos recursos financeiros provoca grandes instabilidades sociais e econômicas. A medida que o colapso comercial se consolida, a pobreza se torna a norma, o mercado negro tampouco e começa um êxodo urbano. Os habitantes das cidades, ao encontrarem grandes dificuldades para se nutrir, e ao enfrentar epidemias, vão procurar fugir das cidades quando possível, resultando numa redução da densidade populacional e numa segunda onda de abandono dos edifícios, os outros habitantes que não puderam ou não quiseram abandonar a cidade vão provavelmente se revoltar contra as autoridades para exigir que suas necessidades básicas sejam cumpridas. Vale ressaltar no entanto que alguns habitantes vão iniciar formas de subsistir, implementando hortas urbanas, recolhendo os lixos e resíduos, fabricando filtros de água etc. No entanto essas formas de organizações por não serem legais (enquadrada pela lei) vão ser combatidas pelas autoridades, mantendo-as marginais.
Fig 26: Fluxos de Capital Físico na Economia do World3. Reprodução e adaptação da autora a partir de MEADOWS, Donella H; JORGEN Randers; MEADOWS, Dennis. Limites do crescimento: a atualizaçao de 30 anos. p38
▶︎ Fig 27: Cronologia do colapso comercial. fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
INÍCIO DO COLAPSO COMERCIAL
ABANDONO DAS INDUSTRIAS PENÚRIA DE COMBUSTÍVEIS RAREFACÇÃO DO TRANSPORTE DE MERCADORIAS ABANDONO DOS CARROS MAL FUNÇÃO DOS TRANSPORTES COLETIVOS BLECAUTES, PENÚRIAS DE ÁGUA
FIM DO CONSUMISMO
PENÚRIA ENERGÉTICA
QUEDA DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL E ENERGÉTICA
QUEDA DO INVESTIMENTO INDUSTRIAL
PENÚRIA DOS PRODUTOS DE PRIMEIRA NECESSIDADE
INFLAÇÃO
GENERALIZAÇÃO DA POBREZA
AUMENTO DA MORTALIDADE
SURTOS EPIDÊMICOS
GENERALIZAÇÃO DA POBREZA
GENERALIZAÇÃO DO MERCADO NEGRO
FOME EM MASSA
AUMENTO DA MORTALIDADE CRIAÇÃO DE HORTAS URBANAS INTENSIFICAÇÃO DA CAÇA E DA PESCA NA CIDADE
AUMENTO DA MORTALIDADE
ÊXODO URBANO
DIMINUIÇÃO DA DENSIDADE POPULACIONAL NAS CIDADES
INSURREIÇÃO SOCIAL
REPRESSÃO POLICIAL E MILITAR ENDURECIMENTO AUTORITÁRIO DO PODER PÚBLICO
INÍCIO DO COLAPSO POLITICO
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CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
COLAPSO POLITICO (FIG 28) Devido à crise humanitária, às migrações, e aos movimentos de contestação do poder público, o estado nação, característico da era industrial, será posto em xeque. Para ORLOV (2013), o estado, ao se empobrecer, devido a pobreza generalizada, e ao perder sua legitimidade, por não conseguir suprir as necessidades básicas do seu povo, pode evoluir de duas maneiras; tornando-se um estado fraco (weak state) ou um estado falecido (defunct state) sendo que o estado nação pode transicionar do fraco para acabar no falecido, ou ir diretamente de estado nação ao estado falecido. Segundo ORLOV (2013), o estado falecido é mais desejável, pois não interfere na emergência ou na consolidação de organizações alternativas; enquanto, o estado fraco, apesar de debilitado procura manter seu poder e suas leis, embora o contexto que o tenha colocado no poder (eleição por exemplo) tenha mudado drasticamente. O autor complementa: ¹
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« […] um estado fraco é muito pior do que um estado falecido em muitos aspectos. Isto porque um estado fraco não consegue muito para o seu povo, mas impede o autogoverno local, enquanto um estado falecido pode permanecer como um vestígio cerimonial agradavelmente inócuo no comando dos museus, paradas e reconstituições históricas (como acontece com o Commonwealth Britânico) ou pode ser gradualmente consignado ao esquecimento devido à falta de interesse (como com a Comunidade de Estados Independentes, a casca vazia que permaneceu após o colapso da União Soviética). » « […] a weak state is far worse than a defunct state in many ways. This is because a weak state does not achieve much for its people, but it does stand in the way of local self-governance, whereas a defunct state can remain as a pleasantly innocuous ceremonial vestige in charge of museums, parades and historical reenactments (as with the British Commonwealth) or can be gradually consigned to oblivion due to lack of interest (as with the Commonwealth of Independent States, the empty husk that remained after the collapse of the Soviet Union). »
O estado nação fraco geralmente age de modo a preservar os privilégios dos dominantes como por exemplo a propriedade privada, o direito a acumulação de riquezas etc. As estratégias históricas para proteger os interesses da classe dominante gravitam em torno da designação de inimigos à nação sejam eles internos (judeus, árabes, ciganos, homossexuais, comunistas etc.) ou externos. Como consequência, a possibilidade de guerra se torna maior. Historicamente as guerras foram boas para as economias, pois relançaram o crescimento econômico após uma fase de recessão, no entanto, dessa vez pode não funcionar pois a disponibilidade energética é muito menor, e o tecido social grandemente afetado anteriormente à guerra, por isso a trajetória final do estado fraco é o estado falecido. O estado nação ao enfraquecer vai criar a necessidade de organizações sociais alternativas, esse momento pode, como aconteceu pela historia, ser um momento de aumento da violência e
▶︎ Fig 28: Cronologia do colapso politico. fonte: a autora 1
ORLOV, Dmitry.The five stages of collapse: survivor’s toolkit. Gabriola Island: New Society Publishers, 2013 p150
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
INÍCIO DO COLAPSO POLITICO
INSURREIÇÃO SOCIAL
REPRESSÃO POLICIAL E MILITAR ENDURECIMENTO SECURITÁRIO DO PODER PÚBLICO
EMPOBRECIMENTO DO ESTADO NAÇÃO VENDA OU ABANDONO DAS INFRAESTRUTURAS PUBLICAS
PERDA DE LEGITIMIDADE DO ESTADO NAÇÃO
GENERALIZAÇÃO DOS BLECAUTES E DAS PENÚRIAS DE ÁGUA
GOLPES EMERGÊNCIA DE ORGANIZAÇÕES ALTERNATIVAS
PROPRIEDADE PRIVADA É CONTESTADA
PROTEÇÃO DOS PRIVILÉGIOS
DESIGNAÇÃO PELOS DOMINANTES DE INIMIGOS INTERNOS FORTALECIMENTO DAS DISCRIMINAÇÕES
GENERALIZAÇÃO DAS OCUPAÇÕES ILEGAIS REQUISIÇÃO DAS ÁREAS PUBLICAS E PRIVADAS PARA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, HOSPITAIS ETC.
A D O F R A CO E ST
REPRESSÃO VIOLENTA DAS ORGANIZAÇÕES ALTERNATIVAS
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DESIGNAÇÃO DE UM INIMIGO EXTERNO SUPRESSÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO GUERRAS
DESAGREGAÇÃO SOCIAL
CONFLITOS INTERNOS ÀS COMUNIDADES
ESTADO FALECIDO
TENTATIVA DE MANTER A UNIDADE NACIONAL FORTALECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES ALTERNATIVAS AUTOGESTÃO DE COMUNIDADES EMERGÊNCIA DE NOVOS MODOS DE ORGANIZAÇÃO
INÍCIO DO COLAPSO SOCIAL
CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
da discriminação, no entanto, não se pode negar que em alguns casos pode ter o efeito contrário, como por exemplo na região do Rojava¹ na Síria onde a partir de 2012 ocorreu uma revolução feminista social e ecológica que declarou sua autonomia ao estado sírio. Desde então o Rojava mantem sua luta contra o estado islâmico entre outros, e consolida seu projeto politico de comunalismo libertário autogovernado. ORLOV (2013) afirma que a consolidação do colapso politico, varia de autoritário a caótico ou a anarquia (no sentido de organização não hierárquica). Sendo que para evitar os outros colapsos (social, cultural, ambiental) há de evitar a desagregação social, estabilizando as comunidades e suas capacidades de cooperação para manter os laços sociais dos indivíduos e transmitir cultura, como também assegurar o cumprimento das necessidades básicas de forma sustentável para o meio ambiente.
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1
Rojava. fonte: https:// fr.wikipedia.org/wiki/ Rojava Acesso em: 15/10/2019
AS AMEAÇAS AO SISTEMA CIDADE Como vimos, a sociedade industrial poderia entrar em colapso, vimos quais seriam suas causas, suas fases e suas repercussões econômicas, comerciais, politicas e sociais. Vimos também que o sistema de organização atual da sociedade esta pressionando cada vez mais o meio ambiente de tal sorte que esta levando o mundo cada vez mais perto de uma instabilidade climática jamais enfrentada. Graças a análise sistêmica de MUMFORD, percebemos também que o sistema de organização da sociedade não é o único a beira do colapso. E que, a cidade, que representa a corporificação desse modo de desenvolvimento, também pode colapsar sob o peso da sua própria complexidade sistêmica. Retomando as fases do colapso de ORLOV, com seu colapso financeiro, comercial, politico, social, cultural e ambiental vimos quais serão as funções preenchidas pela sociedade industrial que falharão um vez em colapso, no entanto diferentes colapso podem repercutir da mesma forma sobre os habitantes da cidade. Por exemplo um colapso financeiro pode gerar choques sociais, através de um desemprego de massa, no entanto um colapso politico pode gerar os mesmos efeitos. Do mesmo modo, em relação às cadeias de abastecimentos elas podem ser rompidas devido a um colapso financeiro, comercial, politico ou ambiental. Ou seja, as fases do colapso delimitam uma sucessão na profundeza e na gravidade do colapso mas não determinam claramente os seus efeitos. Portanto precisamos entender como a organização humana e urbana atual, bem como a consequente crise climática e ambiental, colocam os habitantes das cidades em risco. Por esses motivos, SERVIGNE elaborou uma classificações das ameaças ao sistema cidade no seu estudo « Imaginer l’avenir des villes » (2017) (Imaginar o futuro das cidades). Segundo o autor existem duas famílias de ameaças; as ameaças externas, ou seja, que não dependem apenas da organização interna da cidade, e as ameaças internas que são consequências direta da organização espacial e social da cidade. Essas ameaças constituem repercussões concretas do colapso sistêmico global que poderão desestabilizar o sistema cidade e a sobrevivência dos seus habitantes. O autor insiste que a separação entre ameaça interna e externa é apenas de interesse teórico pois na realidade são bastantes interligadas.
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CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
AMEAÇAS EXTERNAS: ENERGIA, CLIMA E POLUIÇÃO. As ameaças externas são riscos que podem isolar a cidade, impedir a entrada e a saída de fluxos da cidade, como também afetar o ecosistema interno da cidade. Vale ressaltar que são principalmente dependentes de fatores externos a cidade, mas podem ser também, acentuados por ações internas, através de poluição localizada por exemplo. - CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS (FIG 29) Os choques climáticos são os eventos climáticos violentos que podem ocorrer normalmente, como temperaturas maior que de costumes, secas, chuvas intensas e seus consequentes deslizamentos de terra, ou ainda ondas de tempestades. Já sofremos alguns choques climáticos pelo passado, no entanto a instabilidade climática pode tornar esses eventos mais intensos e frequentes. Por outro lado existe a possibilidade de choques ambientais, que podem ser devido as atividades humanas, como a poluição de um rio, matando sua biodiversidade e impedindo o seu consumo, mas também podem ser eventos naturais como a seca de um rio devido ao aumento de temperatura por exemplo.
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Ou seja, os choques climáticos tendem a ser eventos tópicos enquanto os choques ambientais representam mudanças progressivas, com consequências a longo prazo.
▶︎ fig 29: Croquis representando os choques climáticos e ambientais. fonte: a autora
- RUPTURA DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO (FIG 30) É a interrupção dos fluxos de recursos, podendo ser água, energia elétrica, petróleo e derivados, alimentos, remédios, etc. É uma das situações mais comum em tempo de guerra e/ou crise econômica, também foi utilizado como estratégia de desestabilização politica com situações de embargo por exemplo. « A historia é repleta de casos de colapso de cidades, até mesmo civilizações, decorrentes de rupturas de abastecimentos. Elas são entre as piores ameaças que as cidades podem enfrentar, porque os efeitos sociais, econômicos…e políticos se fazem sentir muito rapidamente (em alguns dias). É por isso que a segurança alimentícia sempre foi uma das maiores preocupações dos governos. » ¹ « L’histoire est remplie de cas d’effondrement de cités, voire de civilisations, suite à des ruptures d’approvisionnement. Ce sont parmi les pires menaces que peuvent subir les villes, car les effets sociaux, économiques... puis politiques se font sentir très rapidement (en quelques jours). C’est pourquoi la sécurité alimentaire a toujours été l’une des préoccupations majeures des gouvernements. »
A ruptura das cadeias de abastecimento numa cidade totalmente dependente de fluxos como é o caso da cidade da era industrial seria catastrófica pois como ressalta SERVIGNE, os efeitos se fazem sentir em alguns dias.
▶︎ fig 30: Croquis representando a ruptura das cadeias de abastecimento. fonte: a autora
1
SERVIGNE, Pablo; Imaginer l’avenir des villes. Liège: Barricades. 2017. p8
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS INSTABILIDADE CLIMATICA INSTABILIDADE HÍDRICA INSTABILIDADE ALIMENTAR EXTINÇÃO DE MASSA POLUIÇÃO EPIDEMIAS PERDA DE FERTILIDADE DOS SOLOS
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RUPTURA DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO PENÚRIA DE ÁGUA PENÚRIA ALIMENTÍCIA PENÚRIA DE MEDICAMENTOS PENÚRIA DE ENERGIA
CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
AMEAÇAS INTERNAS: INFRAESTRUTURA E REALIDADE SOCIAL
As ameaças internas concernem os aspectos relativos a organização interna da cidade, que são sua infraestrutura e sua realidade social. São ameaças que colocam em risco a entrada dos fluxos essenciais ao sistema cidade, e modificam a ordem social existente. - CHOQUES ECONÔMICOS E SOCIAIS (FIG 31) Os choques econômicos e sociais podem ser separados em duas categorias, a primeira causando uma mortalidade em massa, e a segunda afetando o corpo social como um todo.
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Existe três causas para uma mortalidade em massa, a fome, as doenças e a guerra. O primeiro dos três, a fome, pode ser devido a uma diminuição da produção alimentícia, mas também a falta de recursos financeiros para ter acesso aos alimentos. Influem nesse aspecto, a grande densidade populacional que pode gerar uma penúria de alimentos, a falta de recursos financeiros, devido a rendas baixas, ou inflações. Em relação as doenças, elas se transmitem mais rapidamente em densidade populacionais altas, onde a proporção de pessoas vulneráveis é alta (pessoas abaixo de 5 anos e acima de 60) mas também devido a insalubridade das moradias, e da cidade no geral. Por último, os conflitos são decorrentes da desintegração do corpo social ou seja, é uma consequência de distúrbios no corpo social.
▶︎ fig 31: Croquis representando os choques econômicos e sociais. fonte: a autora
O corpo social pode ser grandemente afetado pela mortalidade de massa é evidente, mas existem outros distúrbios que geram uma diminuição da cooperação entre os indivíduos. Entre elas destaca-se um poder politico impotente ou omnipotente, a falta de comunidades alternativas ao poder politico como comunidades religiosas, educacionais, sindicatos etc. a desigualdade social, a segregação social e espacial, altos índices de desemprego e homicídios etc. Ou seja, essas características geram um solo fértil para conflitos ou até guerras. Além desses elementos negativos existe também a possibilidade de mudanças sociais que podem gerar mudanças de ordem politica ou de consciência coletiva, essas mudanças podem ter repercussões negativas mas também podem ser positivas. - ESTADO DAS ESTRUTURAS E REDES (FIG 32) As estruturas (vias, cabos, pontes etc.) e as redes (água, esgoto, energia, telecomunicação etc.) permitiram a expansão territorial das cidades, mas ao mesmo tempo as fragilizaram. Elas se tornaram centralizadas, interdependente e complexas de tal modo que uma falha pode desencadear uma serie de consequências. Em exemplo pode-se citar o blecaute do 21 de março 2018 onde oitenta e três milhões de brasileiros, principalmente no Norte
▶︎ fig 32: Croquis representando o estado das estruturas e redes. fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
CHOQUES ECONÔMICOS E SOCIAIS DESIGUALDADE SOCIAL DESORGANIZAÇÃO SOCIAL INFLAÇAO POBREZA DESEMPREGO CONFLITOS REVOLTAS
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ESTADO DAS ESTRUTURAS E REDES DISFUNÇÃO TRANSPORTE DISFUNÇÃO REDE ELÉTRICA
DISFUNÇÃO ABASTECIMENTO ÁGUA DISFUNÇÃO SISTEMA ESGOTO DISFUNÇÃO TELECOMUNICAÇÃO
CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
e Nordeste, ficaram sem eletricidade devido a uma falha de programação na Transmissora de Energia Belo Monte (BMTE)¹. Ou seja, um erro cometido por poucos indivíduos impactou 83 milhões de pessoas. E ainda causou falta de água em varias regiões do interior da Bahia pelo fato da rede de abastecimento de água ser dependente da energia elétrica². Em complemento podemos ressaltar que a cidade da era industrial por ser dependente de fluxos requer uma importante infraestrutura de transporte que em muitas cidades como no Recife encontra-se em estado precário, e necessita de uma manutenção regular que pode não ocorrer em caso de colapso.
100
▶︎ fig 33: Diagrama de resumo das ameaças ao sistema cidade e suas consequências. fonte: a autora 1
PAMPLONA, Nicola. Apagão que deixou Norte e Nordeste sem luz foi causado por falha humana, diz ONS. Folha de São Paulo. 2
GLOBO. Apagão que atingiu Norte e Nordeste deixa cidades sem água.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
RESUMO DAS AMEAÇAS AO SISTEMA CIDADE
INSTABILIDADE HÍDRICA INSTABILIDADE ALIMENTAR EXTINÇÃO EM MASSA POLUIÇÃO EPIDEMIAS PERDA DE FERTILIDADE DOS SOLOS
PENÚRIA DE ÁGUA PENÚRIA ALIMENTÍCIA
RUPTURA DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
A M E A Ç A S
CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
E X T E R N A S
INSTABILIDADE CLIMÁTICA
PENÚRIA DE MEDICAMENTOS PENÚRIA DE ENERGIA
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DESIGUALDADE SOCIAL
CHOQUES ECONÔMICOS E SOCIAIS
POBREZA DESEMPREGO CONFLITOS REVOLTAS DISFUNÇÃO TRANSPORTE
ESTADO DAS ESTRUTURAS E REDES
DISFUNÇÃO REDE ELÉTRICA DISFUNÇÃO ABASTECIMENTO ÁGUA DISFUNÇÃO SISTEMA ESGOTO DISFUNÇÃO TELECOMUNICAÇÃO
A M E A Ç A S
INFLAÇÃO
I N T E R N A S
DESORGANIZAÇÃO SOCIAL
CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
102
PENSAR O FUTURO DAS CIDADES
Para concluir esse quadro geral das ameaças sobre as cidades, Pablo SERVIGNE evidencia mitos que devem ser abandonados para visualizarmos um futuro mais realista, e portanto, responder melhor a seus desafios. São eles:
O CRESCIMENTO VAI CONTINUAR Por crescimento entende-se a lógica de desenvolvimento humano desde a revolução industrial, ou seja, o crescimento econômico, para sustentar dividas também crescente, através do crescimento da produção industrial e do crescimento do consumo de bens e serviço de uma população também crescente. Como demonstrou o relatório MEADOWS¹, o crescimento infinito num mundo finito leva inevitavelmente ao colapso.
A ENERGIA VAI PERMANECER DE FÁCIL ACESSO Existem duas limitações contra essa afirmação, a primeira é que a energia mais usada hoje é fóssil, portanto, finita e necessitando cada vez mais esforço para ser captada e transformada . A segunda é que se formos aproveitar todas as energias fósseis existente no planeta, estaríamos acelerando ainda mais as mudanças climáticas.
O PETRÓLEO SERÁ TROCADO POR ENERGIAS RENOVÁVEIS 1
MEADOWS, Donella H; JORGEN Randers; MEADOWS, Dennis. Limites do crescimento: a atualizaçao de 30 anos. 2007. 2
SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël em «Comment tout peut s’effondrer: Petit manuel de collapsologie à l’usage des génerations présentes.»2015. p52
Na mente de muitas pessoas, inclusive personagens politicas, as energias renováveis vão permitir sair da dependência às energias fósseis, no entanto vale lembrar que essas máquinas que geram energia « limpa » são fabricadas a partir de metais e minerais, e portanto, geram um impacto ecológico importante. Vale ressaltar também que o índice de retorno energético sobre a energia investida ERoEI (Energy Return on Energy Invested) é baixo para o fotovoltaico (2,5:1) e para o eólico (3,8:1), a única exceção é a hidroeletricidade com um ERoEI entre 35:1 e 49:1, comparável ao ERoEI do petróleo atual². Contudo, barragens geram consequências ambientais dramáticas, inclusive após serem construídas,
103
CAPÍTULO 3: REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
principalmente devido a lógica centralizadora da sociedade atual que prefere criar barragens gigantescas. No entanto é possível pensar em pequenas instalações decentralizadas de baixa tecnologia como suporte para as atividades humanas essenciais.
OS PROBLEMAS SOCIAIS SERÃO RESOLVIDOS POR NOVAS CONSTRUÇÕES
As novas construções representam apenas uma pequena parte do tecido urbano, e o colapso pode ocorrer em muito pouco tempo, ou seja, não é uma estratégia viável. É claro que novas construções podem ajudar no futuro, no entanto não se deve apostar apenas em novas construções e sim em reciclagem de edifícios preexistentes. Também vale ressaltar que no futuro um solo fértil será extremamente preciosos, por isso deve ser preservado.
A QUALIDADE DE VIDA VAI PERMANECER A MESMA OU MELHORAR
104
Esse aspecto é bastante difícil de aceitar, pois a humanidade ao longo da sua existência melhorou sua qualidade de vida de maneira quase linear, no entanto com o fim da era industrial, e principalmente do petróleo, o sistema agrícola baseado em fertilizantes derivado de petróleo não será mais capaz de funcionar, e os solos saturados em agrotóxicos não serão fértil por muito tempo. A industria médica e farmacológica tampouco já que também baseada em derivados do petróleo. Essa queda em qualidade de vida será ainda mais abrupta para países com altas qualidades de vida, ou seja, industrializados.
O SISTEMA POLITICO E ECONÔMICO VAI PERMANECER O MESMO
Devido a mudança de paradigma causado pelo colapso é inevitável que ocorra mudanças de ordens sociais e portanto, no sistema de organização politico e econômico das sociedades humanas, para tal motivos deve-se incluir essa possibilidade ao imaginar o futuro da cidade.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
O FUTURO PERTENCE ÀS « SMART-CITIES » O autor entende « smart city » como a abdicação do controle e do monitoramento da cidade às novas tecnologias, e ele questiona a decisão de tornar-se ainda mais dependente de tecnologias que podem falhar a qualquer momento. E ainda acrescenta¹: « Para numerosas pessoas, o ambiente urbano ainda se resume em ser um vasto playground para inovações tecnológicas, inovações de governanças e capitalismo verde. Em outras palavras, apesar de belos discursos, a sustentabilidade das cidades ainda é sistematicamente associada ao crescimento (econômico) e encoraja aspirações técnico-administrativa do capitalismo verde. Esse imaginário torna-se toxico. Para avançar, esta na hora de livrar-se dele. » « Pour de trop nombreuses personnes, l’environnement urbain se résume encore à n’être qu’un vaste terrain de jeu pour les innovations technologiques, les innovations de gouvernance et le capitalisme vert. Pour le dire autrement, en dépit de beaux discours, la soutenabilité des villes est encore systématiquement associée à la croissance et nourrit les aspirations techno-managériales du capitalisme vert. Cet imaginaire devient toxique. Pour avancer, il est grand temps de s’en débarrasser. »
105
1
SERVIGNE, Pablo; Imaginer l’avenir des villes. Liège: Barricades. 2017. p22
4
E N F R E N TA R O FUTURO COM RESILIÊNCIA
CAPÍTULO 4: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
108
DEFININDO A RESILIÊNCIA
O dicionário Aurelio define a resiliência da seguinte forma: 1 - Propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação. 2 - Capacidade de superar, de (se) recuperar de adversidades. A primeira definição corresponde a definição da resiliência utilizada a partir da década de 1960 pelos engenheiros. Enquanto a segunda corresponde a definição utilizada pelas ciências sociais e pelas ciências da complexidade (biologia, ecologia, geologia etc.). O termo resiliência pode ser acoplado a diversas áreas de estudo, a psicologia por exemplo foi uma das primeiras ciências a utilizar o conceito de resiliência para caracterizar a capacidade psíquica a superar um trauma. A partir da década de 1980, as ciências da ecologia começaram a definir o conceito de resiliência como o tempo necessário para que um ecossistema retorne ao equilíbrio após sofrer perturbações, ou seja, bastante similar a definição da área de engenharia, no entanto, os ecossistemas podem atingir um equilíbrio bastante diferente do estado inicial por se tratar de sistemas complexos. Ou seja, a resiliência de um sistema complexo não pode ser apenas a recuperação da forma original e sim a volta a um estado de equilíbrio (idêntico ou diferente do estado inicial).
Foto paginas anteriores: Fig 34: Foto sem título de Greg Rakozy no Unsplash 1
SINAÏ, Agnès et Al. Petit traité de resilience locale. Paris: Éditions Charles Léopold Mayer. 2015. p27 2
RUFAT, Samuel. Estimations de la résilience des territoires, sociétés, villes. VertigO la revue électronique en sciences de l’environnement. Horssérie 30. maio 2018
A ciência da ecologia também acrescentou a dimensão humana ao conceito de resiliência pois a maioria dos ecosistemas terrestre (se não todos) foram modificados pelos humanos de maneira direta (urbanização) ou indireta (poluição por exemplo). Portanto, criaram o conceito de resiliência socio-ecológica, que é definido como: ¹ « a capacidade de um sistema, a absolver as perturbações e a reorganizar-se dentro de um ambiente mudando de tal modo que mantem sempre suas funções, sua estrutura e sua capacidade de reação, e portanto, sua identidade » « la capacité d’un système à absorber les perturbations et à se réorganiser dans un environnement changeant de manière à maintenir toujours ses fonctions, sa structure et ses capacités de réaction, et de ce fait, son identité »
Sobre a resiliência socio-ecológica Samuel RUFAT complementa: ² « Ela se baseia nos conceitos de ciclos adaptativos, adaptabilidade, de transformabilidade e no modelo panarchy. […] a transformabilidade é a capacidade de fazer emergir um sistema totalmente novo se o sistema anterior se torna insustentável. »
109
CAPÍTULO 4: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
« Elle repose sur les concepts de cycles adaptatifs, d'adaptabilité, de transformabilité et le modèle panarchy. […] la transformabilité est la capacité de faire émerger un système entièrement nouveau si le système existant devient insoutenable. »
Portanto, existem diferentes tipos de resiliência segundo as disciplinas e os diversos objetos de estudos, no entanto todas implicam um existente que é perturbado, podendo desaparecer, permanecer, perder sua identidade ou se reestruturar (fig 35). Para RUFAT (2011), todas incorporam uma forma de esquecimento do estado anterior e uma forma de adaptação. Outro aspecto importante da resiliência é que ela sempre se refere a um estado anterior de perturbações, ou seja, não há resiliência se não há catástrofe. Portanto, não podemos falar de prevenção do risco, inclusive, na situação atual onde as chances de evitar o colapso são mínimas a resiliência é possivelmente a única forma de planejar a nossa reação futura.
110
« Embora a vulnerabilidade é uma propriedade independente das contingências e das crises e possa ser estudada numa lógica de prevenção de catástrofes, a resiliência exige uma referência a uma crise, a um choque. Numa primeira fase, as sociedades são afectadas, ou mesmo desorganizadas, por um acontecimento que ultrapassa as suas capacidades de resposta. Só numa segunda fase é que a crise revela as eventuais capacidades de aprendizagem e a resiliência das sociedades. As metrópoles podem, portanto, ser simultaneamente vulneráveis a um choque e, posteriormente, perfeitamente resilientes. É até pelo fato de uma sociedade ou um território ser vulnerável que vai sofrer crises e que se encontrará eventualmente em condições de se adaptar e de aprender com a catástrofe. » « Alors que la vulnérabilité est une propriété indépendante des aléas et des crises et qu’elle peut être étudiée dans une logique de prévention des catastrophes, la résilience nécessite une référence à une crise, à un choc. Dans un premier temps les sociétés sont affectées, voire désorganisées, par un événement qui dépasse leurs capacités de réponse. Ce n’est que dans un second temps que la crise révèle les éventuelles capacités d’apprentissage et la résilience des sociétés. Les métropoles peuvent donc être à la fois vulnérables à un choc et par la suite parfaitement résilientes. C’est même parce qu’une société ou un territoire est vulnérable qu’il va subir des crises et qu’il se trouvera éventuellement en situation de s’adapter et de tirer les leçons de la catastrophe. » ¹
Nessa citação, RUFAT levanta uma outra problemática, onde a resiliência é sempre uma reação a uma perturbação, ou seja, a resiliência é sempre associada a ameaças que se concretizaram devido a vulnerabilidades preexistentes, o que aponta a necessidades de avaliar as vulnerabilidades existentes numa ótica prospectiva onde procuramos antecipar a reação a perturbações futuras.
▶︎ Fig 35: Reações de um sistema à perturbações. A partir do trabalho de PAUCHET, Faustine. La ville et l’eau, concevoir la resilience. Un concept opérationnel de la gestion du risque? 2016. 1
RUFAT, Samuel. Critique de la résilience pure. 2011. p6
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
DESAPARIÇÃO DO SISTEMA
…
Sem resiliência o sistema quando confrontado a perturbações desaparece.
O MANTIMENTO IDÊNTICO DO SISTEMA
A resiliência das ciências da engenharia, onde o sistema recupera sua forma inicial.
111
A BIFURCAÇÃO DO SISTEMA
A resiliência ecológica simples onde o sistema volta a um estado de equilíbrio mas pode perder sua essência.
A REESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA
A resiliência socio-ecológica onde o sistema se estrutura para atingir o equilíbrio enquanto preserva sua essência.
CAPÍTULO 4: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
112
A RESILIÊNCIA URBANA
O conceito de resiliência urbana adotado pela ONU-Habitat em seu guia City Resilience Profiling Tool (CRPT) se articula em dois parágrafos, onde o primeiro é uma definição cientifica e o segundo uma definição mais pratica. ¹ « A resiliência urbana é habilidade mensurável de qualquer sistema urbano, junto a seus habitantes, de manter continuidade perante todos os choques e estresses, enquanto se adapta positivamente e se transforma no âmbito de tornar-se sustentável. Uma cidade resiliente, avalia, planifica e age para se preparar e responder a catástrofes — naturais e de origem humanas, súbitas ou progressivas, previstas ou imprevistas — no âmbito de proteger e melhorar a vida das pessoas, assegurar ganhos de desenvolvimento, favorecer um ambiente propicio, e gerar mudanças positivas. » « Urban resilience is the measurable ability of any urban system, with its inhabitants, to maintain continuity through all shocks and stresses, while positively adapting and transforming toward sustainability. A resilient city assesses, plans and acts to prepare for and respond to hazards — natural and human-made, sudden and slow-onset, expected and unexpected — in order to protect and enhance people’s lives, secure development gains, foster an investible environment, and drive positive change. »
Essa definição estipula já na primeira frase que é mensurável, no entanto, não existe ainda uma metodologia validada que permite mensurar a resiliência, é o que afirma RUFAT (2018) que comparou dezenas de métodos: ² * Governamentalidade: conceito de Michel Foucault que designa a racionalidade própria aos governantes da população 1
ONU-Habitat, City Resilience Profiling Tool (CRPT). 2017. 2
RUFAT, Samuel. Estimations de la résilience des territoires, sociétés, villes. VertigO la revue électronique en sciences de l’environnement. Horssérie 30. maio 2018 p13
« As divergências teóricas, a grande dificuldade das escolhas metodológicas, qui raramente são justificadas, e principalmente a impossibilidade de validar essas ferramentas desconstroem a aparente objetividade ou irrefutabilidade da medida. A impossibilidade de validar as estimativas e medidas da resiliência que vem no entanto servindo de guia para legitimar a ação ou a inação, revela a “governança pelas ferramentas“ e mostra que a resiliência releva primeiro da “governamentalidade*“ » « Les divergences théoriques, la grande difficulté des choix méthodologiques, qui sont rarement justifiés, et surtout l'impossibilité de valider ces outils de mesure déconstruisent ces apparences d'objectivité ou d'irréfutabilité de la mesure. L'impossibilité de valider les estimations et mesures de la résilience qui vient pourtant servir de guide, légitimer l'action ou l'inaction, relève de la « gouvernance par les outils » et prouve que la résilience relève bien d'abord de la “gouvernementalité“ »
Ou seja, a avaliação da resiliência demonstra pouca objetividade e para RUFAT (2018) seria devido a um « técno-
113
CAPÍTULO 4: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
centrismo » onde para tornar a resiliência um conceito operacional essa deve ser mensurável a qualquer custo. Segundo A.Sinaï et al. a resiliência simplesmente não pode ser medida pois trata-se de uma qualidade indivisível e complexa. ¹ (A resiliência) « Ela depende não só de cada elemento presente no sistema, mas sobretudo das inter-conexões entre todos seus elementos. Visto desse angulo, a resiliência não é dedutível da soma da suas partes. Ela não pode ser mensurada, controlada, dividida ou analisada de forma cartesiana. Mais uma vez, ela recorre mais ao intuito que a razão. » (La résilience) « Elle dépend non seulement de chaque élément présent dans le système, mais surtout des interconnexions entre tous ses élements.(…) Vue sous cet angle, la résilience n’est pas déductible de la somme de ses parties. Elle ne peut pas être mesurée, controlée, divisée ou analysée de manière carthésienne. Encore une fois, elle fait appel à l’intuition plus qu’à la raison. »
RUFAT também ressalta um porção de intuição na resiliência e insiste no fato que a resiliência não deve ser entendida como um conceito. Sobre a resiliência RUFAT (2011) diz: ² « É preciso abster-se de chama-la de conceito, de conceito « puro » ou de puro conceito. É mais uma intuição, tanto atrativa como elástica, uma noção cada vez mais mobilizada tanto como uma promessa quanto uma ameaça »
114
« Il faut donc s’abstenir d’en parler comme d’un concept, un concept « pur » ou un pur concept. C’est plus une intuition à la fois séduisante et élastique, une notion qui est de plus en plus souvent mobilisée à la fois comme une promesse et comme une menace. »
Na definição da ONU percebe-se também uma redundância em relação ao aspecto positivo da resiliência, onde a cidade « se adapta positivamente », gera « mudanças positivas » e assegura « ganhos de desenvolvimento ». Ou seja, insiste-se que a resiliência é boa, sem no entanto dizer para quem, ou qual é o sistema de valores que se usa para basear tal afirmativa. RUFAT (2011) alerta portanto, sobre a importância de definir esses aspectos e identificar claramente o objetivo da resiliência urbana: ³ « É, portanto, crucial saber se o discurso da resiliência é formulado em torno de um projeto colectivo escolhido democraticamente, ou se a resiliência é a recomendação de instituições que, de forma mais ou menos explícita, incitativa ou coercitiva, impõem-na às sociedades e aos indivíduos. » « Il est donc crucial de savoir si le discours de la résilience est formulé autour d’un projet collectif choisi démocratiquement, ou bien si la résilience est la recommandation d’institutions qui, de façon plus ou moins explicite, incitative ou coercitive, l’imposent aux sociétés et aux individus. »
Ou seja, há uma tentativa de fazer da resiliência urbana algo que ela não é. Vimos que numerosos autores como STEFFEN et al. (2018) recomendam a implantação de pequenos sistemas resilientes policêntricos como uma estratégia necessária para responder aos desafios das mudanças climáticas, no entanto os autores entendem a
1
SINAÏ, Agnès et Al. Petit traité de resilience locale. Paris: Éditions Charles Léopold Mayer. 2015. p30 2
RUFAT, Samuel. Critique de la résilience pure. 2011. p1 3
Ibidem p7
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
resiliência como uma ruptura com o sistema centralizado de organização atual das sociedades humanas, ao contrario da ONU que apresenta a resiliência como a continuidade linear da organização atual onde o sistema cidade consegue « manter continuidade perante todos os choques e estresses ». Essa definição da resiliência é bastante contraditória, pois, se as perturbações não causam danos, qual é a necessidade de ser ou de se tornar resiliente? Essa tendência a querer usar a resiliência como instrumento de prevenção de risco, descaracteriza a resiliência pois não se trata de prevenir e sim de remediar uma vez o choque ocorrido. É importante lembrar que a resiliência traz consigo a catástrofe, e só se torna necessária e desejável quando os acontecimentos tornaram o sistema cidade instável ou danificado, ou seja, tornar a resiliência atrativa pode ser uma boa estratégia marketing mas acaba desnaturando a resiliência urbana. Para RUFAT (2011) o desejo das instituições a promover a BOA resiliência, aquela que condiz com o sistema politico, industrial e financeiro é devido ao fato que: ¹ « Qualquer que seja a definição da cidade resiliente que se escolha, resistente, que suporte funcionar em estado degradado ou que facilite uma reconstrução rápida, se aceitarmos levar cada uma destas definições até ao fim das suas consequências lógicas, elas conduzem em primeiro lugar e sobretudo às favelas. » « A face das metrópoles após as grandes catástrofes mostra que a forma mais resiliente, é a favela, o processo mais resiliente a economia informal e a organização mais resiliente a confiscação do poder por gangues. » « Quelle que soit la définition de la ville résiliente que l’on choisisse, résistante, supportant fonctionner en état dégradé ou facilitant une reconstruction rapide, si l’on accepte de pousser chacune de ces définitions au bout de ses conséquences logiques, elles mènent d’abord et surtout aux bidonvilles. » « Le visage que présentent les métropoles après les catastrophes majeures montre que la forme la plus résiliente, c’est le bidonville, le processus le plus résilient l’économie informelle et l’organisation la plus résiliente la confiscation du pouvoir par des gangs. »
Ou seja, é impensável instituições governamentais ou privadas apresentarem a resiliência urbana dessa forma pois seria totalmente contrario a ideologia atual de progresso continuo e melhoria exponencial da qualidade de vida. Por esse motivo a resiliência institucionalizada é descaraterizada para tornar-se um falso conceito operacional na continuidade do desenvolvimento sustentável que não modifica o sistema politico, financeiro, industrial atual apesar da urgência e da gravidade dos acontecimentos por vir que requereriam uma mudança drástica do paradigma atual.
1
RUFAT, Samuel. Critique de la résilience pure. 2011. p14 - 15
Em conclusão, a resiliência urbana deve ser definida para um risco especifico, deve-se delimitar qual é o tipo de reação à perturbação que se pretende alcançar e por fim devemos questionar como ela pode ser democrática, para evitar que seja sequestrada por instituições, gestores autoritários ou grupos violentos.
115
5
A RESILIÊNCIA U R B A N A PÓS-COLAPSO
CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
118
DEFININDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO Como apontamos anteriormente, a resiliência urbana deve ser definida para um caso especifico, é o que afirma RUFAT (2018): «A escolha da abordagem metodológica deve ser função do objetivo da avaliação da resiliência, ou seja, qual resiliência, para quem e resiliência a quê? » «Le choix de l'approche méthodologique devrait être fonction de l'objectif de l'évaluation de la résilience, en d'autres termes, quelle résilience, résilience pour qui et résilience à quoi? »
Portanto devemos falar de resiliência urbana pós-colapso (RUPC), ou seja, a resiliência para uma situação de colapso sistêmico global do modo que foi definido anteriormente, onde o ambiente urbano sofre instabilidades econômicas, sociais, politicas, e climáticas. A resiliência urbana pós-colapso tem por meta principal preservar a essência da cidade, ou seja, deve se reestruturar preservando sua essência (fig 37). Como vimos anteriormente com MUMFORD, a essência da cidade é a efetiva cooperação de grandes grupos humanos, permitida graças a especialização vocacional e a transmissão da cultura humana (ou com foco nas finalidades humanas). Em outros termos, o objetivo primário é evitar (ou reverter) o colapso social, cultural e caso seja ainda possível, evitar o colapso ambiental.
▶︎ fig 37: Croquis de reação de um sistema urbano resiliente que preserva sua essência enquanto se reestrutura. fonte: a autora
COOPERAÇÃO
COOPERAÇÃO
REESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA CIDADE
Foto paginas anteriores: Fig 36: Foto sem título de Amirreza Amouie no Unsplash
Em seguida, devemos especificar a quem se destina essa resiliência urbana pós-colapso. De modo geral podemos dizer que se destina aos seres vivos, humanos ou não humanos, pois existe uma interdependência entre todos que por muito tempo tem sido negada, no entanto a extinção de massa que esta ocorrendo segundo o IPBES (Intergovernamental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services), coloca todas as espécies em perigo, pois quando uma espécie desaparece ela tende a levar varias outras juntas pois desequilibra o ecosistema.
119
CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
Ou seja, a resiliência urbana pós-colapso deve promover a preservação da vida. É evidente que as ideologias atuais, como ocorre, e já ocorreu na historia, podem querer hierarquizar as vidas (sexo, genro, raça, religião, vida humana, vida não-humana, etc.), no entanto a longo prazo, devido ao colapso da biodiversidade, a necessidade de proteção de todas as vidas, inclusive não humanas, provavelmente se tornará mais obvia. Por último, é preciso pensar a resiliência para que ela seja democrática, tanto RUFAT (2011) como ORLOV (2013) indicam que a tendência em caso de catástrofe ou colapso politico é que o poder seja sequestrado por grupos armados, gangues, ex-policias, exmilitares, caçadores etc.¹ Ou seja, sem organização alternativa aos governos atuais, grupos armados poderiam tornar-se os novos gestores. Ou seja, é imprescindível que haja organizações alternativas preexistentes ao colapso, ou que novas entidades organizadoras se formem nos primeiros momentos.
120
Para favorecer a constituição de novas entidades organizadoras ou para fortalecer as existentes, é possível intervir de duas formas; na escala de implantação da resiliência urbana póscolapso, e no tamanho máximo do grupo humano. No primeiro momento devemos constituir pequenos grupos autônomos soberanos para que possam tomar as próprias decisões e ações, por isso, a resiliência urbana pós-colapso precisa ser local, o que não impede que diversas entidades cooperam entre-si, mas cada uma deve ficar autônoma para impedir monopólios ou dependências como observamos atualmente. Em complemento deve haver um limiar de convivialidade, onde se torna possível a participação de cada um dos habitantes. Para MUMFORD esse limiar é bastante vago, pois segundo ele, a população inteira da cidade / bairro / vizinhança deve caber na mesma praça, ou seja, depende do tamanho da praça, no entanto da uma noção de escala de população, estamos falando de milhares e não de milhões. Para DIAMOND (2014): ² « Os Estados precisam de polícia, leis e códigos de moralidade para garantir que os inevitáveis encontros frequentes entre estranhos não explodam rotineiramente em brigas e lutas. Essa necessidade de polícia e leis e comandos morais que nos levam a ser gentis com estranhos não surge em sociedades muito pequenas nas quais todo mundo conhece todo mundo. Finalmente, a partir do momento em que uma sociedade exceda 10 mil pessoas, é impossível produzir, executar e administrar decisões recorrendo-se a reuniões em que todos os cidadãos estejam sentados uns diante dos outros e em que cada um diga o que pensa. »
De fato, a resiliência urbana pós-colapso requer a redefinição de áreas cívicas ou comunas, tanto pelo desejo democrático como também pela complexidade intrínseca associada a resiliência urbana pós-colapso, por isso a escala de aplicação só pode ser local, no entanto a resiliência deve ser pensada e articulada globalmente pois uma rede de cidades resilientes aumenta a
1 Dmitry Orlov. Social Collapse Best Practices. Conferencia no The Long Now Foundation. 2012 2
DIAMOND, Jared.O mundo até ontem: O que podemos aprender com as sociedades tradicionais? 2014. p24-25
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
resiliência de cada uma separadamente. Ou seja, uma rede de cidades resilientes é benéfica para cada uma delas pois cria um rede de cooperação interurbana descentralizada. Essa lógica de pensar global e agir local é idêntica àquela do desenvolvimento sustentável.
▶︎ Fig 38: Croquis demonstrando um sistema descentralizado de cooperação entre comunas
COOPERAÇÃO DESCENTRALIZADA INTER-COMUNA
Ademais, no contexto de colapso sistêmico global, a escala local é ainda mais relevante pois as ameaças que identificamos anteriormente levam a pensar que não será mais possível comunicar e se deslocar com a atual facilidade, o que inviabiliza a escala de governo nacional, estatal, metropolitano e por vezes municipal. Rob Hopkins explica esse fato dessa forma: ¹ « Quando se acrescenta a dimensão do pico do petróleo, a localização não é mais uma escolha - ela é a inevitável direção na qual estamos se deslocando, primeiro nada pode ser feito contra, a não ser, decidir se aceitamos as suas possibilidade ou se nos agarramos ao que percebemos como sendo uma perda. A Era do Petróleo pode ser vista como um período de 200 anos que possibilitou afastar-se do foco local primário e após o qual devemos retornar. » « When peak oil is dropped into the mix, localisation is no longer a choice — it is the inevitable direction in which we are moving, one we can do nothing about, other than to decide whether we want to embrace its possibilities or cling to what we perceive that we are about to lose. The Oil Age can be seen as a 200-year period which enabled us to move away from a primarily local focus and then to move back to it again. »
1
HOPKINS, Rob.The transition handbook: from oil dependency to local resilience. Free edit version, 2008. p48 2
SINAÏ, Agnès et Al. Petit traité de resilience locale. Paris: Éditions Charles Léopold Mayer. 2015. p85
Segundo A.Sinaï et al. a escala local é a mais adequada pois é a única escala capaz de fornecer autonomia, qualidade cuja existência garante a capacidade de adaptação e a transformabilidade do sistema cidade.² « Esses exemplos traduzem que não há melhor resiliência que a local: mais um sistema ou uma sociedade é capaz de autonomia, mais ele ou ela será capaz de resistir a choques, de se adaptar e de se transformar. » « Ces exemples traduisent qu’il n’y a pas de meilleure résilience que locale: plus un système ou une société est capable d’autonomie, plus il ou elle est en mesure de résister à des chocs, de s’adapter et de se transformer. »
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
ORLOV (2013) aponta outro elemento importante em relação à escala das organizações humanas, ele diz: ¹ « Seria então esperado que, à medida que o industrialismo se desfaz numa nuvem de fuligem e fumo deixada por uma extravagância de um século, de queima de combustíveis fósseis, com ele desaparecerá o Estado-nação do décimo nono século, levando com ele tudo que é estranhamente enorme, repleto de ambição excessiva e imensamente perigoso para a sobrevivência humana e da vida na Terra. Em seu lugar virá uma miríade de pequenas entidades, algumas disputando-se com seus vizinhos, algumas vivendo lado a lado pacificamente, mas todas incapazes de lançar um único avião, muito menos começar uma guerra mundial. Mas elas podem ser capazes de construir algumas belas catedrais e casas de ópera, esbanjar recursos sobre as artes e as escolas de filosofia e usar métodos artesanais para produzir itens cotidianos que vão envergonhar a atual produção em massa de lixo plástico. Isto porque os governantes das pequenas entidades regionais não têm os recursos para competir militarmente com os seus vizinhos, e, em vez disso, competem desenvolvendo uma cultura superior. »
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« It would be just as expected, then, that as industrialism fades in a cloud of soot and smoke left over from a century-long fossil fuel-burning extravaganza, with it will vanish the nineteenthcentury nation-state, taking with it all that is outlandishly huge, fraught with overweening ambition and immensely dangerous to human survival and life on Earth. In its stead will come a myriad of tiny polities, some squabbling with their neighbors, some living side by side peaceably, but all incapable of launching a single aircraft carrier, never mind starting a world war. But they might be able to build some beautiful cathedrals and opera houses, lavish resources on the arts and on schools of philosophy and use artisanal methods to produce everyday items that will put to shame the mass-produced plastic rubbish of today. This is because the rulers of small, regional states lack the resources to compete with their neighbors militarily, and instead compete by developing a superior culture. »
Ou seja, a escala local poderia reduzir a probabilidade de confrontos violentos, inclusive no caso de entidades não democráticas com governantes autoritários que queiram dominar seus vizinhos. Finalmente, após delimitar o escopo geral da resiliência urbana pós-colapso, podemos propor uma definição. A definição adotada vai ser a seguinte, ela sintetiza o que foi apresentado até então.
A RESILIÊNCIA URBANA PÓS - COLAPSO É A QUALIDADE DE QUALQUER SISTEMA URBANO HABITADO, DE ABSORVER AS PERTURBAÇÕES OCORRIDAS, DEVIDO AO COLAPSO SISTÊMICO GLOBAL , DE REAGIR DE FORMA AUTÔNOMA E SOBERANA , E DE SE REORGANIZAR , ENQUANTO PRESERVA SUA ESSÊNCIA, QUE É, SUA CAPACIDADE DE COOPERAÇÃO , NO ÂMBITO DE PROTEGER AS FINALIDADES HUMANAS E OS SERES VIVOS.
1 ORLOV, Dmitry.The five stages of collapse: survivor’s toolkit. Gabriola Island: New Society Publishers, 2013 p151
A COMUNA
A metodologia de suporte à resiliência urbana pós-colapso, como especificamos anteriormente, pretende favorecer a autogestão e uma vida plenamente democrática, portanto, é evidente que o tamanho da comuna deve ser comtemplado para favorecer esse tipo de organização. Para DIAMOND (2014), as sociedades de menos de 10 000 habitantes podem se organizar sem leis e sem polícia, ou seja, o limiar máximo da comuna deveria ser de 10 000 habitantes por motivos de organização social. No entanto esse limiar não dá conta da capacidade de suporte ecológico e deve ser entendido apenas como um máximo absoluto e não como uma recomendação de tamanho, pois, pode ocorrer que determinada área apenas seja capaz de suportar as atividades de 500 humanos, ou seja, nesse caso, o limiar máximo passa a ser de 500 habitantes, por motivos ecológicos. A m e t o d o l o g i a p o d e r á p o r t a n t o, s e r a p l i c a d a independentemente da área, mas idealmente, sempre para uma população de no máximo 10 000 habitantes. Ao trazermos esse máximo absoluto para o tamanho das cidades atuais, observamos uma dicotomia, de fato, devemos recortar as metrópoles para criar entidades autônomas dentro dela. Para o urbanismo sustentável esse recorte pode ser chamado de vizinhança (FARR, 2013), mas o termo vizinhança não transmite a ideia de autonomia que é necessária para tornar-se de fato resiliente, portanto, essas entidades recortadas serão chamadas de comunas. As comunas representam o território comum dos seus habitantes soberanos. O dicionário Aurelio define a comuna como: 1. Na Idade Media, cidade emancipada que passou a governar-se. 2. Poder revolucionário instalado em Paris (França), em 1871. As comunas, portanto, são os territórios auto-geridos de no máximo 10 000 habitantes. Como abordamos anteriormente, as comunas podem (e devem) cooperar entre-si, o numero máximo de habitantes apenas deve ser visto como um limiar de convivialidade para uma boa pratica democrática. Podemos imaginar que comunas vizinhas com diretrizes semelhantes entrem em cooperação para implantar ações em conjunto, para o beneficio mutuo, também é possível imaginar que um evento climático extremo, como uma enchente, exija a evacuação de uma comuna que poderia ser acolhida nas comunas vizinhas, e assim por diante. Ou seja, a comuna deve se relacionar com as comunas vizinhas. No entanto, pode haver a necessidade de
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
delimitar fronteiras no caso de surtos epidêmicos por exemplo, ou pela presença de vizinhos inquisidores, no entanto, essas decisões de politica externa ultrapassam o âmbito urbanístico e devem ser decididas pelos habitantes da comuna. A comuna, portanto, é o núcleo primário da implantação da resiliência urbana pós-colapso.
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OS OBJETIVOS DA RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO Uma vez que temos uma definição clara da resiliência urbana pós-colapso, e da escala de aplicação, podemos determinar seus objetivos específicos. Baseando-se nas analises de MUMFORD (1961), ORLOV (2013), e SERVIGNE (2017) entre outros, determinamos que o objetivo principal de preservar a vida se traduz em atuar para evitar o colapso social, cultural e ambiental. Portanto, foram identificados seis objetivos (fig 39) que deverão ser perseguidos para enfrentar o colapso sistêmico global, ou seja, o colapso financeiro, comercial e politico de maneira resiliente. Esses requisitos constituem a espinha dorsal da metodologia de suporte à resiliência urbana pós-colapso.
FAVORECER UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL PACIFICA A convivência pacifica é um dos pré-requisitos necessários para poder planejar qualquer ato de melhoria, é o que possibilita a cooperação entre os indivíduos e portanto, corresponde ao que MUMFORD chamou de identidade da cidade. É a essência do sistema cidade e deve permanecer durante todas as perturbações, sejam elas súbitas ou progressivas, previstas ou imprevistas.
POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL A economia local não necessariamente precisa ser monetária, nem necessariamente dentro dos padrões que conhecemos hoje, no entanto ela é necessária para possibilitar a criação cultural artística e de saberes, como também a transmissão de saberes. Ou seja, é a condição necessária para preservar a especialização vocacional que deu início as cidades como as conhecemos hoje. É portanto, a continuação lógica da cooperação entre indivíduos, pois trata-se também da identidade da cidade.
POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO A necessidade de autonomia em relação às cadeias de abastecimento decorre diretamente das ameaças identificadas por SERVIGNE, o sistema de organização atual das cidade tem sido movido por forças centralizadoras que aos poucos tornaram os centros urbanos completamente dependentes de fluxos externos até
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
para o cumprimento das necessidades básicas, ou seja, é uma grande vulnerabilidade embutida nos sistemas das cidades atuais.
FORTALECER E RESTAURAR OS ECOSISTEMAS Os ecosistemas precisam ser fortalecidos e restaurados para poder preservar a vida, tanto dos humanos como dos não humanos. MUMFORD apontou a desconexão entre a cidade e o meio ambiente, tal situação levou hoje a uma sexta extinção de massa, portanto, é necessário fortalecer essa conexão através de interações de beneficio mutuo entre humanos e não humanos.
PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS Como indicaram STEFFEN et al. , a terra já cruzou varias fronteiras do sistema terra, e as mudanças climáticas já se fazem sentir em varias partes do mundo. Esses choques climáticos e ambientais provavelmente se tornarão ainda mais fortes e devem ser considerado para planejar o futuro da cidade. Por tal motivo é preciso integrar a prevenção dos riscos climáticos e ambientais na matriz da resiliência urbana pós-colapso.
PREVER ROTAS DE FUGA 126
Pela incerteza de tudo que pode estar por vir, prever rotas de fugas é uma condição essencial, pois pode ocorrer que embora os esforços para garantir a sobrevivência da população, chegue um momento em que não é mais possível melhorar a resiliência do território e portanto, deve-se ir embora. A existência de rotas de fuga também cria uma sensação de segurança que será positiva para melhorar as capacidades de cooperação da população.
▶︎ Fig 39: Os 6 objetivos da resiliência urbana pós-colapso
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
FAVORECER UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL PACIFICA
POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL
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POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
FORTALECER E RESTAURAR OS ECOSISTEMAS
PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
PREVER ROTAS DE FUGA
CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
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FAVORECER UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL PACIFICA O colapso social, é segundo ORLOV (2013), o momento em que ocorre uma desagregação do tecido social, ou seja, os grupos sociais se desfazem e não conseguem desempenhar sua função protetora. É o momento no qual ocorre uma regressão social, onde o grupo constituído por pessoas de diversos horizontes se desfaz, e regride para uma célula familiar (ou clãs). Para MUMFORD (1961), o fato de cooperar com grupos fora do circulo familiar foi o que deu nascimento às proto-cidades e consequentemente às cidades. O objetivo 1 - Favorecer uma convivência social pacifica, procura evitar o colapso social. Para evitar o colapso social precisamos fortalecer os laços sociais para permitir uma cooperação dentro da comuna, e mais importante ainda, impedir a desagregação social. Segundo WILKINSON e PICKETT (2010), a desigualdade social é um dos aspectos que mais danifica a sociedade, pois gera não só problemas de saúde física e mental, como aumenta a violência e a criminalidade devido entre outros a um sentimento de injustiça, mas também influencia o desempenho educativo, aumenta as outras formas de discriminação etc. Portanto, a desigualdade social é um fator importante da desagregação social. De tal modo que um território portador de grande desigualdade social terá mais dificuldade para manter sua coesão social. Portanto, para favorecer uma convivência social pacifica é necessário, no primeiro momento, diminuir as desigualdades, pois elas corroem o tecido social. Outro aspecto importantíssimo para melhorar a cooperação entre os indivíduos é possibilitar a convivência de todos, ou seja, providenciar espaços em que todos podem coexistir, sejam eles espaços públicos ou privados que pertencem ao imaginário comum, em outras palavras que possuem um peso simbólico.
OS MECANISMOS PARA ATINGIR O OBJETIVO A desigualdade social, num mundo em colapso corroído pela inflação e onde a pobreza é generalizada, se repercutirá predominantemente na habilidade ou não a suprir suas necessidades básicas, e sem complexo industrial, essa habilidade dependerá dos espaço de terra fértil disponível, e do acesso a um poço ou rio, ou seja, haverá de distribuir equitativamente esses elementos, ou determinar uma propriedade social e coletiva das terras e dos poços, esse assunto será detalhada nas partes a seguir. Por outro lado, os humanos sempre precisaram de abrigos, e, com a generalização da
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
pobreza devido aos colapsos financeiros, comerciais e políticos, o numero de sem teto provavelmente irá aumentar. Além disso, os choques climáticos, que já começaram em muitas partes do mundo vão se espalhar e se generalizar, portanto, muitas cidades vão enfrentar um risco ambiental e sanitário maior. E por último, muitos dos abrigos que construimos nas últimas décadas são dependentes de aprovisionamento de energia continuo, para elevadores principalmente, sendo que, a medida que o abastecimento de energia se torna instável, ou até mesmo, é rompido, os pavimentos acima de 10 andares se tornam pouco viáveis. O que resulta numa grande quantidade de edificações inseguras ou inviáveis, cujos moradores terão de abandonar. Paralelamente, o colapso financeiro, comercial e político, ao generalizar a pobreza, causará o abandono de lojas, torres empresarias, casas, apartamentos, shopping centers, supermercados, etc. que poderão servir de estoque de habitações para as populações que necessitam de novos abrigos em áreas seguras.
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Esse estoque de habitações também deveria ser destinado aos migrantes, pois com as mudanças climáticas, a IOM (International Organization for Migration) indica que 225 milhões de pessoas poderiam ter que migrar, ou seja, 1 em cada 45 humanos. E complementa, dizendo que as estimativas variam segundo os autores chegando a até um bilhão de humanos (1 em cada 8)¹. É importante entender que certas áreas serão mais atrativas aos migrantes, é evidente que as cidades com seus hospitais, infraestruturas de transportes, locais de culto etc. poderão ser foco de acolhimento dos refugiados, no entanto não deve ser descartado o simbolismo das áreas históricas, pois ao procurarem refugio muitas pessoas podem querer se dirigir para locais que se sustentaram através das épocas, e portanto, passam uma certa sensação de segurança. Uma vez que apontamos a importância de reduzir as desigualdades através da distribuição de abrigos, podemos agora focar nas qualidades que a comuna requer para possibilitar um convívio o mais pacifico possível. A comuna vai precisar atuar para permitir a coexistência dos seus cidadãos, para tal é necessário oferecer espaços de convívios, podendo ser espaços abertos ou edifícios simbólicos, culturais ou cívicos. No primeiro momento vamos abordar os edifícios. Os edifícios simbólicos devem ser entendidos como os edifícios que pertecem ao imaginário comum, ou seja, locais de culto, mercados, teatros, monumentos, cemitérios, hospitais etc. Os edifícios culturais são constituídos por escolas, bibliotecas, universidades, fabricas, laboratórios, usinas, museus etc. ou seja, são os locais de transmissão cultural ou de armazenamento da cultura humana. E por último, as construções cívicas, são aquelas que permitam a organização interna a comuna, ágora, anfiteatros, registros, centros comunitários, sitio de ONG, partidos políticos, centros de convenções, etc.
1
International Organization for Migration (IOM). Migration and climate change. 2008
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
Esses espaços simbólicos, culturais e cívicos devem ser protegidos, pois degradações nessas construções poderiam iniciar conflitos entre os moradores, portanto, é preciso preservar os existentes e por vezes criar novos espaços simbólicos, culturais ou cívicos. Essas edificações devem ser legíveis, em outras palavras devemos tornar visível a importância desses locais, através de fachadas imponentes, paisagismo, obras de arte, etc. para evitar que sejam confundidos com áreas abandonadas ou para comunicar sua importância a visitantes ou migrantes. Deve-se pensar também na autonomia energética desses edifícios principalmente quando se trata de hospitais ou locais de importância vital, preferindo direcionar o pouco de energia disponível para eles ou transferindo eles para outros locais mais viáveis, por exemplo, hospitais com mais de 5 andares deveriam ter as camas e outros equipamentos transferidos para edifícios mais baixos, ou com rampas (edifícios garagens ou shopping centers etc.) que facilitariam o transporte de pessoas doentes. No que se refere aos espaços cívicos, devemos garantir que, comunidades existentes pré-colapso, conservem seus laços cooperativos e suas habilidades organizacionais, pós-colapso, ou seja, é importante fornecer e preservar seus espaços de organização (escolas comunitárias, centros comunitários, sindicatos etc.). As comunidades preexistentes podem ser de moradores, comerciantes, religiosas, sindicatos, ou até mesmo criminosas, como indica ORLOV (2013), pois segundo ele: ¹ « a quantidade de capital social pré-colapso determina o nível de consolidação e cooperação que pode ser atingida pós-colapso » « the amount of pre-collapse social capital determines the level of post-collapse consolidation and cooperation that can be achieved »
que seja.
Ou seja, é importante conservar o capital social, qualquer
Além das edificações, devemos ter um cuidado especial com as áreas ao ar livre. De modo mais geral o espaço livre vai desenrolar um papel essencial na coesão social do território, tanto para convivência, comercio, mas principalmente para comunicação e organização dos habitantes já que existe a possibilidade dos outros meios de comunicação como radio, internet, telefone etc. se tornarem ineficientes devido a faltas energéticas por exemplo. Ou seja, deve-se pensar no espaço livre, não apenas na dimensão de espaço para passagem ou permanência, mas como espaço vital da organização politica da comuna.
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ORLOV, Dmitry.The five stages of collapse: survivor’s toolkit. Gabriola Island: New Society Publishers, 2013 p142
Para tal, devemos melhorar a qualidade dos espaços livres, plantando arvores por exemplo, melhorando a interface arquitetônica, criando espaços de permanências como bancos, locais de pratica esportiva etc. Ou seja, as ruas e as praças devem se tornar destinações, e não apenas locais de passagem. Em complemento devemos também fazer como que os espaços abertos fiquem praticável, e devido as falhas energéticas, o sistema de esgoto será ineficiente, portanto, devemos reconsiderar o tipo de pavimentação
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
dessas áreas e em alguns casos pensar novas estratégias de escoamento da água pluvial (trincheiras, lagos de retenção etc.). Por último, é importante hierarquizar as praças da comuna, pois é preciso definir uma praça principal que seja grande ao suficiente para acolher todos os moradores, se não for possível pode haver distritos com suas respectivas praças principais, pois, como foi dito, a precariedade nas comunicações deve paliar esse problema definindo um canal principal de transmissão de informações. Além de transmitir informações, a praça principal pode acomodar eventos culturais como celebrações, casamentos etc. que poderão ajudar a unir a comunidade. Para atingir o objetivo, a formulação de diretrizes e ações é necessária, no entanto o contexto social, econômico e ambiental é especifico a cada comuna, ou seja, não se pode elaborar diretrizes e ações universais, pois depende da situação de cada comuna, portanto, a tabela ao lado (fig 40) demonstra apenas um exemplo de diretrizes e ações que podem ser implantadas no âmbito de atingir o primeiro objetivo da resiliência urbana pós-colapso.
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▶︎ Fig 40: Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do objetivo 1 fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
IDENTIFICAR EDIFICAÇÕES EM ÁREAS DE RISCO AMBIENTAL (EX: SUJEITO A ENCHENTES, DESLIZAMENTOS ETC.) IDENTIFICAR EDIFICAÇÕES EM ÁREA DE RISCO SANITÁRIOS (EX: ATRIBUIR ABRIGO SEGURO A TODOS OS SUJEITO A POLUIÇÃO, INSALUBRES ETC.) MORADORES DA COMUNA IDENTIFICAR EDIFICAÇÕES ABANDONADAS (EX: PRÉDIOS EMPRESARIAIS, SHOPPING CENTERS ETC.) IDENTIFICAR EDIFICAÇÕES SEGURAS (SEM RISCO AMBIENTAL E SANITÁRIO) RELOCAR POPULAÇÕES SEM TETO NAS EDIFICAÇÕES SEGURAS RELOCAR POPULAÇÕES EM ÁREAS DE RISCO SANITÁRIO OU AMBIENTAL NAS EDIFICAÇÕES SEGURAS
RELOCAR POPULAÇÕES CUJAS MORADIAS ENCONTRAM-SE ACIMA DO SÉTIMO ANDAR
CRIAR ÁREAS PARA REFUGIADOS
PRESERVAR ESPAÇOS SIMBÓLICOS
IDENTIFICAR EDIFICAÇÕES ABANDONADAS (EX: PRÉDIOS EMPRESARIAIS, SHOPPING CENTERS ETC.) IDENTIFICAR ESPAÇOS VAZIOS (EX: PRÉDIOS EMPRESARIAIS, SHOPPING CENTERS ETC.) CRIAR/PRESERVAR ABRIGOS PARA REFUGIADOS NOS ESPAÇOS SEGUROS ABANDONADOS OU VAZIOS (EX: EDIFÍCIOS VAZIOS, TERRENOS VAZIOS, PRAÇAS, ETC.)
PRESERVAR CEMITÉRIOS PRESERVAR LOCAIS DE CULTO (EX: IGREJAS, TEMPLOS ETC.) PRESERVAR ESPAÇOS DE TRANSMISSÃO CULTURAL (EX: BIBLIOTECA, ESCOLAS, MUSEUS, TEATROS ETC.) PRESERVAR ESPAÇOS DE TRATAMENTO MÉDICO (EX: HOSPITAIS, CLINICAS ETC.) PRESERVAR ESPAÇOS CÍVICOS (EX: ÁGORA, ARQUIVOS DA CIDADE, ANFITEATROS ETC.) TORNAR APARENTE A IMPORTÂNCIA SIMBÓLICA (EX: FACHADA, PAISAGISMO, ESCULTURAS ETC.) PRESERVAR ESPAÇOS DE IMPORTÂNCIA SIMBÓLICA (EX: HISTÓRICO, MONUMENTOS, ARTÍSTICOS, AFETIVOS ETC.) CRIAR ESPAÇOS CÍVICOS PARA COMUNIDADE EXISTENTES
CRIAR ESPAÇOS SIMBÓLICOS
CRIAR ESPAÇOS CÍVICOS GERAIS DA COMUNA (EX: ÁGORA, ARQUIVOS DA CIDADE, ANFITEATROS ETC.)
CRIAR UMA PRAÇA CENTRAL ONDE CABE A POPULAÇÃO DA COMUNA
MELHORAR O ESPAÇO LIVRE
PRESERVAR ARVORES EXISTENTES PLANTAR ARVORES MELHORAR PERMEABILIDADE FÍSICA MELHORAR PERMEABILIDADE VISUAL CAVAR SISTEMAS DE ESCOAMENTO DE ÁGUA (EX: TRINCHEIRAS) CRIAR REDE DE ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA (PRAÇA, PARQUES, JARDINS, AREAS DE ESPORTE ETC.) CRIAR UMA PRAÇA CENTRAL ONDE CABE A POPULAÇÃO DA COMUNA
EXEMPLO DE DIRETRIZ
EXEMPLO DE AÇÃO
O B J E T I VO 1 - FAVO R E C E R U M A CO N V I V Ê N C I A S O C I A L PAC I F I C A
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
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POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL O colapso cultural, é, segundo ORLOV (2013), o momento em que os humanos param de formar uma sociedade e se tornam indivíduos isolados em competição, uns com os outros. Ou seja, não existe humanidade, mas apenas humanos, meros animais. Para evitar tal colapso, devemos procurar preservar a empatia e a confiança que nasce naturalmente nos humanos criados entre outros humanos e que faz com que possamos viver entre nos, sem necessariamente conhecer pessoalmente cada individuo. O objetivo -Possibilitar uma economia local- procura, portanto, evitar o colapso cultural. Por economia local entende-se criar condições favoráveis para que os habitantes da comuna possam confiar nos outros membros da comuna, ou seja, é preciso providenciar condições para que seja possível apoiar-se nos outros para cumprir as necessidades básicas. Imaginamos por exemplo, um pescador que vai pescar um pouco mais peixe e trocar este, por uma abóbora cultivado por sua vizinha. Neste caso, há uma troca que permite contar com a ajuda dos outros membros das comunidades. Outro exemplo seria, se um carroceiro transporta o lixo da comuna, este será recompensado por alimentos, ou outros bens. Esse tipo de economia primaria deve permanecer constantemente funcional dentro da comuna, pois a habilidade a confiar nos outros, é que impede o colapso cultural. Por outro lado, deve-se procurar também uma cooperação inter-comunas, pois, preserve a paz entre as comunas, mas também permite a troca de saberes que fortalece cada uma delas. Ademais, a economia inter-comuna pode ser útil para desenvolver ações conjuntas, como construções de diques, reflorestamento etc. de extrema importância na luta contra choques climáticos e ambientais. Por último, possibilitar uma economia local deve preservar a especialização vocacional, pois é, afinal o que marca a mudança da aldeia para a cidade. A especialização vocacional é característica da transformação de aldeia em cidade, onde os moradores começaram a especializar suas atividades para além das atividades de subsistência, ou seja, emergiram novas funções sociais que permitiram ampliar o espectro das vidas humanas, como por exemplo o engenheiro, o arquiteto, o soldado, o banqueiro, o sacerdote etc. Ou seja, a especialização vocacional é intrinsecamente ligada a identidade da cidade, pois marcou a transformação de uma existência focada na nutrição e na reprodução para uma existência mais ampla que a mera sobrevivência.
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
OS MECANISMOS PARA ATINGIR O OBJETIVO Para atingir o objetivo, existem mecanismos urbanos nos quais podemos interferir no âmbito de promover cooperação e especialização vocacional, podemos agir no que se refere a fluxos e transporte, transmissão cultural e comunicação. Ou seja, devemos criar conexões, sejam elas físicas (fluxos e transportes) ou imateriais (transmissão e comunicação). Os fluxos e transportes permitem à população se relacionar seja dentro da comuna ou fora dela, essa qualidade permite portanto, aproximar os habitantes entre-si incentivando relações de amizade ou relações comerciais. Os fluxos se referem a tendências de movimentos podendo ser existentes ou serem implementados, ou seja, uma rua pode ser favorecida pelas pessoas, em relação à outra, portanto, ela tem mais fluxos. Os transportes por outro lado se referem às modalidades de transportes, como por exemplo, pedestres, bicicletas etc. É importante diferenciar os dois, pois, pode haver um desejo de aumentar ou diminuir os fluxos em certo local sem no entanto aumentar ou diminuir a diversidade de transportes.
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Os fluxos permitem movimentar determinada área, de fato, quanto mais fluxos, mais movimento, esses movimentos se formam naturalmente em tornos de polos atrativos criando uma área ativa. Os polos atrativos são constituídos por edifícios de importância simbólica como escolas, hospitais, locais de culto, etc. mas também por locais de convívio como parques, praias, quadras esportivas etc. Uma área movimentada traz benefícios, pois aumenta a sensação de segurança, traz dinamismo comercial e aumenta o convívio. Portanto, ao implantar locais de importância simbólica é preferível organiza-los em função das ruas movimentadas, ou seja, dentro da área ativa. Do mesmo modo as áreas com menor fluxos são mais adequadas para as atividades passivas como florestas, zonas acolhedoras de vida não humana, áreas de risco ambiental ou sanitário etc. pois ficarão a margem da rede principal de deslocamento da comuna, o que é benéfico pois são áreas que precisam de menos interações com os humanos e suas atividades poluentes (sonora, luminosa, resíduos, etc.). De modo geral, é preferível organizar as atividades que necessitam de auxilio humano diário (hortas, escolas, habitações etc.) em função dos espaços simbólicos da comuna e das ruas existentes com grandes fluxos, ou seja, dentro da área ativa; e ao inverso, organizar as atividades passivas em áreas abandonadas ou com poucos fluxos, constituindo áreas passivas. A existência e a consolidação de áreas de poucos fluxos é contraria a tendência atual de dinamizar todas as partes da cidade, no entanto é uma necessidade, pois para a comuna se tornar resiliente e proteger os seres vivos precisamos adequar nossas atividades ao ciclos simbióticos da natureza, e isso requer o acolhimento das áreas passivas na estrutura urbana. Os transportes vão precisar evoluir, pois com o colapso sistêmico global, provavelmente teremos de lidar com penúrias energéticas, ou seja, os carros individuais, os camiões de lixo, os
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
ônibus, os cargueiros de transporte marítimos, os aviões etc. deixarão de funcionar. Por isso a mobilidade na cidade vai ter que ser completamente reorganizada em torno de meios de transporte suave que não usam combustíveis. Os transportes muitas vezes precisam de infraestruturas, por isso, deve-se pensar a articulação dos transportes em função das áreas de grande fluxo, portanto, novas infraestruturas devem ser implementadas na continuação das redes de grande fluxos, por exemplo portos, pontes, armazém de carroças devem ficar na área ativa da comuna. A única exceção no entanto é para transportes que usam tração animal (cavalos, vacas, etc.) que podem ficar em áreas passivas, permitindo que os animais repousem durante a noite em áreas mais agradáveis para eles. Vale ressaltar, que as estratégias de transportes devem ser diversificadas, não se pode apostar num único meio de transporte, por exemplo, pode se imaginar condições climáticas que impedem o transporte fluvial e marítimo, ou ainda uma doença que atinge todos os cavalos da comuna, portanto, é vital diversificar. Em complemento as conexões físicas, o objetivo 2 Possibilitar uma economia local- também deve fortalecer conexões imateriais. As conexões imateriais são constituídas por variáveis que concerne a transmissão cultural e a comunicação. A transmissão cultural, garante que saberes não são perdidos, ou seja, devemos proteger a cultura humana como um todo. Para tal deve haver locais de armazenamento da cultura, bibliotecas, museus, galerias etc. e locais de transmissão cultural, como escolas, teatros, auditórios, fábricas, ateliês de artesão etc., segundo as necessidades da comuna, aproveitando edificações existentes (preservando-as ou reciclando-as). Esses locais culturais devem ficar em áreas ativas e se possível protegidos das intempéries, por exemplo, as bibliotecas devem ficar em pavimentos superiores no caso de comunas sujeitas a enchentes. A comunicação é extremamente importante, pois apesar do desmoronamento do estado nação devemos manter os aspectos positivos que a cidade industrial trouxe, ou seja, a cooperação em grande escala (internacional), ainda mais quando se contempla as mudanças climáticas que devem ser afrontada numa escala global para esperar evitar a trajetória do planeta estufa. As formas de comunicações atuais, do mesmo modo que os transportes, necessitam uma importante infraestruturas, antenas, satélites, cabos, servidores etc. além quantidades astronômicas de energia elétrica. É evidente que no contexto do colapso, essas tecnologias de comunicação vão precisar evoluir, como não é possível prever os avanços tecnológicos, vamos focar em estratégias do passado que necessitam pouco energia. Destaca-se três modos principais de comunicação, a comunicação oral, escrita e as telecomunicações. No que diz respeito a comunicação oral, ela é eficiente e prática para o dia-a-dia da comuna, principalmente em locais com analfabetismo (ou iletrismo)
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
forte, através por exemplo de pregoeiros que gritam nas ruas da comuna as noticias do dia, as horas, os avisos importantes, as datas de assembleia etc. Portanto, a instauração de uma profissão de pregoeiro deve ser contemplada, organizando os profissionais pela área ativa da comuna e recompensando-os pelo serviço. No entanto, a longo prazo, essa estratégia se torna bastante precária para tratar de assuntos mais delicados. A comunicação escrita, hoje bastante difundida deve prevalecer-se de meios materiais, como papel, lápis ou canetas, impressoras, tintas etc. ou seja, é preciso ter artesãos. É imaginável que os estoques de papel, canetas, tintas etc. sejam suficiente no início do colapso, no entanto a longo prazo deve haver um planejamento para perpetuar a prática escrita. Além desses aspectos óbvios, deve-se implantar painéis de noticias nos pontos mais dinâmicos da cidade, arquivos da cidade (registros, tratados etc.), bem como plantios para papel (arvores, papiro etc.). Outro aspecto a considerar, é a implantação (ou preservação) de um sistema de correios, necessitando uma infraestrutura de transporte que já evocamos, e de espaços de armazenamento dos correios, casas de correios por exemplo.
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Por último, temos as telecomunicações, o telefone, o radio, a televisão e a internet. A televisão e a internet provavelmente não poderão ser preservados, pois depende de grandes quantidades energéticas e do apoio de um complexo industrial e financeiro importante. Do outro lado, o telefone e o radio são bastante ecônomo e podem se tornar alternativas viáveis a condição de preserva-los e adequa-los. Para tal precisamos preservar e transmitir os conhecimentos técnicos no locais culturais evocado anteriormente. É preciso também preservar as antenas, os cabos, e as máquinas (telefone, radio microfone etc.), além de implementar ou preservar meios de produção energética que serão abordados no objetivo 3.
▶︎ Fig 41: Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do objetivo 2 fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
CONSOLIDAR ÁREAS ATIVAS E PASSIVAS DELIMITAR ÁREAS ATIVAS DELIMITAR ÁREAS PASSIVAS
ARTICULAR A REDE VIÁRIA EM FUNÇÃO ARTICULAR OS ESPAÇOS SIMBÓLICOS ENTRE-SI DOS ESPAÇOS SIMBÓLICOS DELIMITAR RUAS QUE DEVEM PERMANECER PAVIMENTADAS PARA ACESSO DE VEÍCULOS PESADOS (EX: HOSPITAIS, CLINICAS ETC.)
FAVORECER DIVERSIDADE DE TRANSPORTES
PRESERVAR/CRIAR LOCAIS DE TRANSMISSÃO CULTURAL
CRIAR INFRAESTRUTURA PARA TRANSPORTE A CAVALO (EX: ÁREA DE REPOUSO, PAVIMENTAÇÃO SUAVE, ETC.) CRIAR / PRESERVAR INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE (EX: PONTES, VIAS, PORTOS, BICICLETÁRIOS, ETC.) CRIAR INFRAESTRUTURA PARA TRANSPORTE A CARROÇAS (EX: ARMAZÉM, ESTACIONAMENTO, ETC.) MELHORAR INFRAESTRUTURA PARA TRANSPORTE DE PEDESTRES (EX: ADEQUAR CALÇADA, ADEQUAÇÃO AMBIENTAL, ETC.) PREVENIR DEGRADAÇÃO DA INFRAESTRUTURA RELATIVA A TRANSPORTE (EX: ÁREAS TAMPÃO ENTRE INFRAESTRUTURA E NATUREZA, MANUTENÇÃO REGULAR ETC.)
CRIAR ARQUIVOS DA CIDADE CRIAR OU PRESERVAR LOCAIS DE TRANSMISSÃO CULTURAL (BIBLIOTECA, ESCOLA, MUSEU ETC.) 139
CRIAR / PRESERVAR MEIOS FÍSICOS DE COMUNICAÇÃO ORAL
CRIAR / PRESERVAR MEIOS FÍSICOS DE COMUNICAÇÃO ESCRITA
CRIAR UMA PRAÇA PRINCIPAL CRIAR PROFISSÃO DE PREGOEIRO
CRIAR PAINÉIS PARA NOTICIAS PRESERVAR / CRIAR INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE PARA CORREIOS CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE PAPEL (EX: ARVORES, PAPIRO ETC.)
CRIAR ARQUIVOS DA CIDADE PARA REGISTROS
CRIAR / PRESERVAR MEIOS FÍSICOS DE TELECOMUNICAÇÃO
EXEMPLO DE DIRETRIZ
PRESERVAR ANTENAS PRESERVAR MEIOS DE PRODUÇÃO ENERGÉTICA (EX: PAINÉIS FOTOVOLTAICOS, EÓLICAS ETC.) CRIAR MEIOS DE PRODUÇÃO ENERGÉTICA (EX: MOINHOS, BIOGÁS ETC.) PRESERVAR ESPAÇOS DE TRANSMISSÃO CULTURAL (EX ESCOLAS, BIBLIOTECAS, FABRICAS, LABORATÓRIOS ETC.)
EXEMPLO DE AÇÃO
O B J E T I VO 2 - P O S S I B I L I TA R ECONOMIA LOCAL
U M A
CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
140
POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO O objetivo 3 - Possuir autonomia em relação às cadeias de abastecimento, procura evitar o colapso cultural, assim como o objetivo 2. Para evitar o colapso cultural, como abordamos anteriormente, é preciso que os moradores da comuna possam confiar um nos outros; no entanto para que tal confiança seja possível é importante que as necessidades básicas sejam cumpridas, e que não haja competição para sobreviver. Definimos anteriormente a ruptura das cadeias de abastecimento como sendo por si só uma ameaça ao sistema cidade, portanto, para contrabalancear essa ameaça, a comuna precisa tornar-se autônoma em alguma medida. Por isso é preciso organizar a comuna para que ela adquira autonomia, principalmente no que diz respeito à economia de subsistência, em outras palavras, no que concerne autonomia alimentícia, hídrica, energética, produtos de primeira necessidade relativos a medicamentos, higiene, como também no gerenciamento do seus resíduos (fezes, lixos orgânicos e inorgânicos). Esses setores, como abordamos anteriormente, se encontram hoje muitas vezes ausente dos centros urbanos, pois a globalização afastou as necessidades básicas para concentrar apenas as atividades que geram mais lucro, que são, a venda de bens e serviço. No entanto, não foi sempre assim, MUMFORD (1961) aponta por exemplo, que nas cidades da Suméria, a agricultura continuou fazendo parte das recém formadas cidades¹. Em complemento, o autor indica também que a fonte de água, foi um dos marcos de transformação da aldeia em protocidade, do mesmo modo que o mercado ou a fortificação. Ou seja, o modo de organização atual das cidades afastou-se das necessidades humanas retirando o que, inicialmente, deu luz a cidade. 1
MUMFORD, Lewis. A cidade na historia: suas origens, transformações e perspectiva.Tradução de Neil R. da Silva. 4, ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p39 2 Grande fome de 1845-1849 na Irlanda. Wikipedia disponível em: fonte:https:// pt.wikipedia.org/wiki/ Grande_fome_de_1845 –1849_na_Irlanda)
A autonomia da comuna, deve integrar características resilientes, ou seja, como abordamos anteriormente, deve evitar a centralização e a padronização, e preferir a redundância e a variedade, que são características mais orgânicas. Para ilustrar esse fato podemos usar por exemplo, a grande fome de 1845 - 1849 na Irlanda, onde uma doença atingiu as plantações de batata que constituíam o alimento de base dos irlandeses. A quase monocultura da batata e a padronização dos métodos de cultivo, não se demonstrou resiliente ao suficiente para suportar a doença dos tubérculos, causando uma fome que gerou uma das maiores crises demográfica da Europa, com um declínio de população da ordem de 20%².
141
CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
A busca pela autonomia da comuna deve portanto, ser continuadamente adequada, modificada e repensada pois se não for atingida necessitará o abandono da comuna e a migração para sobreviver. Por isso, além de buscar a autonomia, há de constituir reservas que permitirão sobreviver em caso de choques climáticos ou ambientais entre outros.
OS MECANISMOS PARA ATINGIR O OBJETIVO Para atingir o objetivo, as estratégias, se baseiam essencialmente na implantação de áreas produtivas, de comida, de armazenamento de água, de jardins medicinais, de florestas para produção da madeira etc. como indicado na tabela ao lado (fig 42).
142
Para a produção de alimentos e de energia recomenda-se utilizar a permacultura¹, pois procura obter os melhores resultados com o mínimo de energia possível, utilizando por exemplo, relações simbióticas entre espécies vegetais para aumentar o rendimento de cada uma das espécies, sem utilizar agrotóxicos, e sem exaustar o solo, podendo cultivar a terra de maneira permanente, sem pousio (repouso da terra). Mas também, ensina como utilizar matérias orgânicas para produção de biomassa ou fertilizantes. As experiencias de cultivo com a permacultura permitem situar a área necessária para a autonomia alimentar de uma pessoa entre 50 e 100m², podendo ser reduzida ao longo do tempo a medida que a área cultivada se consolida². Em complemento, a comuna deve procurar ser autônoma no que diz respeito ao gerenciamento dos seus resíduos. A permacultura também ensina varias métodos, que podem inclusive ser integrados ao sistema de produção alimentícia ou energética. As áreas produtivas que necessitam a intervenção quotidiana dos moradores para a manutenção e a colheita deverão portanto, ser localizadas predominantemente na área ativa da comuna. As áreas produtivas que não necessitam intervenção quotidiana (bio-digestores, floresta madeireira etc.) poderão ser colocadas nas áreas passivas da comuna.
▶︎ Fig 42: Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do objetivo 3 fonte: a autora
1
MOLLISON, Bill; SLAY, Reni Mia. Introdução a Permacultura. Tradução de André Luis Jaeger Soares. Brasilia: MA/SDR/ PNFC 1998.
2 FERME D’AVENIR: agroécologie et permaculture.Vers l’autonomie alimentaire 3.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
PROMOVER SEGURANÇA HÍDRICA
PROMOVER SEGURANÇA ALIMENTÍCIA
PROMOVER UMA PRODUÇÃO LOCAL DE PRODUTOS DE HIGIENE
POSSUIR DIVERSIDADE DE FONTES DE ÁGUA POTÁVEL ARMAZENAR ÁGUA DE CHUVA (EX: RESERVATÓRIOS, ETC.) PRESERVAR/ IMPLANTAR POÇOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA PREVENIR POLUIÇÃO DOS CURSOS D'ÁGUA IMPLANTAR ESPAÇOS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE RIO IMPLANTAR ESTRATÉGIAS DE POTABILIZAÇÃO DA ÁGUA (EX: DESSALINIZADOR, FILTRO ETC.) POSSUIR ESTRATÉGIAS DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUA (EX: PISCINAS, RESERVATÓRIOS INFERIORES, CAIXAS D'ÁGUA ETC.) IMPLEMENTAR ÁREAS DE PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA (EX: FLORESTA PRODUTIVA, HORTAS PERMANENTES ETC.) IMPLEMENTAR ÁREAS DE TRANSFORMAÇÃO DOS ALIMENTOS (EX: MOINHOS, SALEIROS, DEFUMADOIROS, FORNOS ETC.) IMPLEMENTAR INFRAESTRUTURA PARA ATIVIDADES PESQUEIRAS (EX: PORTOS, MANUFATURA DE BARCOS ETC.) IMPLEMENTAR ÁREAS PARA CRIAÇÃO DE ANIMAIS POSSUIR ESTRATÉGIAS DE ARMAZENAMENTO DE ALIMENTOS (EX: CELEIROS, ARMAZÉM, DEFUMADOIROS, SALEIROS, ETC.) CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE ÓLEOS (EX: GRÃOS, NOZES, E FRUTAS) RECICLAR CINZA DE MADEIRA PARA TRANSFORMAR EM SODA (CARBONATO DE SÓDIO UTILIZADO PARA FAZER SABÃO) IMPLEMENTAR ÁREAS DE FERMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS PARA PROVISIONAR VINAGRES
PROMOVER PRODUÇÃO LOCAL DE REMÉDIOS
IMPLANTAR ÁREAS PARA JARDINS MEDICINAIS IMPLEMENTAR ÁREAS PARA FERMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS PARA PROVISIONAR ÁLCOOIS
DELIMITAR ÁREAS PARA JARDINS MEDICINAIS EM FUNÇÃO DOS ESPAÇOS DEDICADOS A SAÚDE
IMPLEMENTAR POLOS DE FERTILIZAÇÃO PARA LIXO ORGÂNICO E FEZES
GERENCIAR OS RESÍDUOS
IMPLEMENTAR CEMITÉRIOS OU CREMATÓRIOS PARA CADÁVERES IMPLEMENTAR POLO DE BIOGÁS PARA FERMENTAÇÃO DE FEZES OU LIXO ORGÂNICO
IMPLEMENTAR CENTROS DE RECICLAGEM ARTICULAR ÁREAS DE PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA COM POLOS DE FERTILIZAÇÃO
PROMOVER UMA PRODUÇÃO LOCAL DE ENERGIA
EXEMPLO DE DIRETRIZ
CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE MADEIRA IMPLEMENTAR POLO DE BIOGÁS PARA FERMENTAÇÃO DE FEZES OU LIXO ORGÂNICO
CRIAR MEIOS DE PRODUÇÃO ENERGÉTICA (EX: MOINHOS, BIODIGESTORES ETC.) PRESERVAR MEIOS DE PRODUÇÃO ENERGÉTICA (EX: PAINÉIS FOTOVOLTAICOS, EÓLICAS ETC.) EXEMPLO DE AÇÃO
O B J E T I VO 3 - P O S S U I R AU TO N O M I A E M R E L AÇ ÃO ÀS C A D E I A S DE A B A ST E C I M E N TO
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
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FORTALECER E RESTAURAR ECOSISTEMAS Com a ameaça climática, e devido à pressão que nosso sistema de desenvolvimento industrial e financeiro coloca sobre o meio ambiente, os ecossistemas terrestres encontram-se fragilizado, de tal modo que poderia ocorrer um colapso ambiental como descrito por ORLOV (2013). O objetivo 4 - Fortalecer e restaurar ecossistemas, procura portanto, evitar o colapso ambiental, cuidando dos ecosistemas, e incluindo eles a comuna, assim como procura melhorar o conforto ambiental, através da criação de um microclima na comuna. Para diminuir a pressão que exercemos sobre o suporte ecológico devemos rever nossa forma de ocupação do solo assim como integrar os ecosistemas naturais que podem ainda existir nas nossas cidades, e por último criar novos ecosistemas no âmbito de preservar a vida e criar novas relações simbióticas entre os humanos e a natureza, em vez de perpetuar a segregação espacial que hoje ocorre em muitas megalópoles. 145
OS MECANISMOS PARA ATINGIR O OBJETIVO Para atingir o objetivo, é preciso implantar áreas protetivas e produtivas, as áreas protetivas são aquelas que não necessitam de muita interação humana (zonas naturais, zonas acolhedoras de vida não humana etc.), ou que podem gerar um incomodo aos humanos, por exemplo abrigos de insetos, ou predadores. Ou seja, as áreas protetivas devem ser colocadas nas áreas passivas da comuna. As áreas produtivas por outro lado, são aquelas que produzirão alimentos (hortas, colmeias, etc.), e podem ficar na área ativa, principalmente àquelas que requerem intervenção humana diária. Ou seja, o fortalecimento dos ecossistemas, requer a inclusão no desenvolvimento urbano, da flora, e da fauna. Devemos parar de lutar contra as outras espécies e incluía-las na comuna, pois elas são essenciais a nossa sobrevivência. Para o acolhimento da flora, devemos garantir que o solo é fértil ao suficiente para nutri-las, e devemos garantir também que o solo permanece vivo, abrigando microorganismos, fungos e insetos, portanto, deve-se evitar a monocultura, e o uso de agrotóxicos. Em complemento devemos reduzir a impermeabilização do solo, pois a terra para permanecer viva deve respirar e transpirar, tendo como efeito reduzir a temperatura de superfície, o que é uma vantagem num mundo aquecendo.
CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
Em complemento, para aumentar a permeabilidade do solo devemos introduzir vegetais, preferencialmente espécies nativas, cuidando para variar as espécies, para evitar que um fungo ou uma doença decime toda a cobertura vegetal de uma única vez. Por outro lado, nas áreas naturais devemos deixa-las intocadas ao máximo, nossa intervenção deve ser a mínima possível, ou seja, devemos apenas retirar o lixo dessas áreas. No que concerne as áreas urbanizadas da comuna, elas também podem acolher a flora, através de parques viários, ou florestas produtivas. Os parques viários, são ruas que além de ser espaço de passagem ou de permanência, também abrigam áreas de produção de comida, pois num contexto de grande densidade populacional, que é o caso das cidades da era industrial cada espaço conta para possuir autonomia alimentícia. É evidente que esses parques viários devem continuar funcional para o transito e a permanência de pessoas. As florestas produtivas também podem servir de áreas de permanência, no entanto precisam abrigar a fauna portanto, as interações com humanos não devem ser exageradas.
146
Para o acolhimento da fauna, devemos delimitar áreas para cada espécie que a comuna quer abrigar, tendo o cuidado de fornecer uma boa qualidade de vida para os animais pois no ideal devem se reproduzir e perpetuar a espécie. Podemos também introduzir predadores (gatos por exemplo) para as espécies invasivas (ratos) ou nocivas (baratas, escorpião etc.), ou seja, deve-se criar um ecosistema equilibrado. Em complemento, deveria se introduzir abelhas e outros polinizadores (insetos ou pássaros), pois atualmente, a população de insetos polinizadores esta colapsando o que pode colocar em risco a segurança alimentícia e boa parte da flora. A tabela ao lado (fig 43) apresenta alguns exemplos de diretrizes e ações que foram apresentada acima.
▶︎ Fig 43: Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do objetivo 4 fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
PLANTAR ARVORES
AUMENTAR PERMEABILIDADE DO SOLO REMOVER REVESTIMENTOS PERMEÁVEIS DAS VIAS E CALÇADAS QUANDO POSSÍVEL
FERTILIZAR OS SOLOS GRAÇAS AO ESTRUMO PRODUZIDO NA
AUMENTAR / RESTAURAR FERTILIDADE DO SOLO
COMUNA EVITAR MONOCULTURA AGRÍCOLA
EVITAR USO DE FERTILIZANTES MINERAIS IMPLANTAR PERMACULTURA (AGRICULTURA PERMANENTE)
DEFINIR ZONAS NATURAIS
PROTEGER OS ECOSISTEMAS NATURAIS
DELIMITAR COM LEGIBILIDADE AS FRONTEIRAS DAS ZONAS NATURAIS
REMOVER LIXO INORGÂNICO DAS ZONAS NATURAIS IMPLEMENTAR AS ÁREAS NATURAIS NAS ZONAS PASSIVAS DA COMUNA
CRIAR FLORESTAS PRODUTIVAS
PLANTAR ARVORES PRODUTIVAS (EX: MADEIREIRA, FRUTÍFERAS) DEFINIR LIMITES DE EXPLORAÇÃO DA MADEIRA
CRIAR PARQUES VIÁRIOS
PLANTAR VEGETAÇÃO REMOVER REVESTIMENTOS DAS VIAS E CALÇADAS DELIMITAR ÁREAS DE PERMANÊNCIAS CRIAR HORTAS VIÁRIAS
DELIMITAR ÁREAS ACOLHEDORAS DE VIDA NÃO HUMANA NAS ZONAS PASSIVAS DA COMUNA
ACOLHER A FAUNA
CONSTRUIR ABRIGOS PARA INSETOS IMPLANTAR COLMEIAS DEFINIR LIMITES DE CAÇA E PESCA FAZER RESERVAS DE ALIMENTOS PARA OS NÃO HUMANOS
REDUZIR POLUIÇÃO SONORA E LUMINOSA PARA O CONFORTO ANIMAL
EXEMPLO DE DIRETRIZ
O B J E T I VO
4
-
EXEMPLO DE AÇÃO
F O RTA L E C E R E ECOSSISTEMAS
R E STAU R A R
147
CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
148
PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS O colapso ambiental, é, segundo ORLOV (2013), o momento em que o suporte ecológico colapsa, ou seja, o meio ambiente não é mais capaz de suportar a vida, podendo ter diversas causa, entre elas podemos citar, as mudanças climáticas, a seca de um rio, a insalubridade, a poluição química ou radioativa, a perda de fertilidade dos solos, epidemia de doenças etc. O objetivo 5 - Prevenir choques climáticos e ambientais, procura, portanto, evitar o colapso ambiental, preservando e restaurando a capacidade de suporte ecológico da comuna. A capacidade de suporte ecológico diminui geralmente devido a uma pressão sobre o meio, ou seja, estamos retirando mais do que pode ser reposto, ou colocando mais do que pode ser retirado, ou seja, estamos atrapalhando o estado de equilibro do meio ambiente. Portanto, para diminuir essa pressão sobre o suporte ecológico devemos rever nossa forma de utilizar os recursos da natureza e planejar a longo prazo nosso impacto, ou seja, devemos respeitar os limites da natureza para assegurar nosso desenvolvimento e nossa subsistência através do tempo. Para tal, devemos definir limites para prevenir choques climáticos ou ambientais, planejando a longo prazo. Os choques climáticos, como definimos anteriormente não podem realmente ser previstos ou impedidos, no entanto é possível amenizá-los. Os choques climáticos são compostos por variações nas tendências de temperatura e pluviométricas, impactando os solos, a fauna e a flora, e os cursos de água. Essa mudança nos padrões climáticos afeta o suporte ecológico a longo prazo e a frequência dos eventos climáticos extremos (enchentes, secas, deslizamentos de terra, acidificação dos cursos de água etc.). Por outro lado, os choques ambientais, dependem mais diretamente do uso que é feito do suporte ecológico, por exemplo, um rio pode secar devido a utilização massiva da sua água, embora a água continua chegando no monte do rio. Ou ainda, o solo pode esgotar-se devido a monocultura, embora o clima tenha permanecido o mesmo. Portanto os choques ambientais requerem limites para serem evitados, enquanto os choques climáticos são riscos indomáveis (principalmente na trajetória planeta estufa) que devem ser incorporada a matriz da comuna.
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
OS MECANISMOS PARA ATINGIR O OBJETIVO No primeiro momento, a comuna deve estabelecer limites quanto a sua população, sua taxa de natalidade e sua expansão geográfica. Para tal, é preciso considerar a capacidade de suporte do território da comuna, ou seja, deve-se considerar a área disponível para o cultivo, e o rendimento por área de terra cultivada. Infelizmente o rendimento depende da técnica de agricultura escolhida, da qualidade do solo e de diversos outros aspectos, ela também tende a evoluir no tempo, enquanto o rendimento aumenta ao longo do tempo com a permacultura, ele tende a decrescer com a monocultura, pois o plantio de uma única espécie de planta, remove os mesmos nutrientes, criando um desequilíbrio na composição do solo. Portanto, devido a complexidade, não se pode dar um numero exato de área necessária por habitantes, no entanto, pode se dar uma estimativa da quantidade de vegetais necessário por pessoas, essa média gira em torno de 1kg por pessoa por dia, sendo que 350kg por ano é suficiente para um adulto, contando com uma grande variedade de espécies (leguminosas, frutas, sementes, nozes etc.) O mesmo deve ser feito para os animais que residem na comuna, devendo, claro, acrescentar os predadores para o controle de pragas.
150
Em complemento, devemos prevenir a poluição, pois, apesar do consumismo não ter sobrevivido ao colapso, continuamos gerando resíduos, como lixo orgânico (fezes, cadáveres, papeis etc.) ou inorgânico (entulhos, carros etc.). Além dos resíduos, a nossa interação com os cursos d’água, para banhar-se por exemplo pode constituir um risco de poluição dos rios ou lagos, sendo que deve-se pensar em vegetalizar as bordas dos cursos d’água com vegetação despoluente. E por último devemos pensar também no tratamento dos nossos falecidos, delimitando áreas para cemitérios, pois representam um grande risco de poluição dos solos, ou criar crematórios, que necessitam em complemento algum tipo de combustível (madeira, gaz ou carvão) para a queima dos corpos. Outro aspecto bastante dependente do meio ambiente, é a propagação de epidemias, pois elas podem se propagar com facilidade pelos cursos de água, ou devido a condições insalubres, portanto, devemos estar sempre preparados para a luta contra as epidemias, para tal é preciso desenvolver um plano de ação. Esse plano deve ser composto por locais de tratamento, pela constituição de estoques de produtos de higiene, pela delimitação de áreas de quarentena, podendo colocar em quarentena a comuna toda, o que inclui delimitar fronteiras e por vezes fecha-las pois colocaria em risco todas as comunas vizinhas. Ademais, a comuna deve prevenir os riscos climáticos e ambientais específicos a sua área, como enchentes, secas, desertificação, invernos frios, etc. Essa prevenção depende portanto, das especificidades climáticas, ou geográficas, por isso não se pode generalizar diretrizes ou recomendações. No entanto, a maioria das cidades, encontram-se a proximidade de rios ou do mar portanto, correm, potencialmente, riscos de enchentes, sendo que deve-se
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
pensar em proteções tópicas contra enchentes, como estruturas flutuantes por exemplo, ou prédios com pavimentos superiores, inclusive para estoques de comida, remédios, livros, obras de artes, registros da cidade, etc. Além do risco de enchente, pelo aquecimento global, muitas cidades correm o risco de verem seus rios secarem, portanto, há de paliar essa evolução, procurando manter a humidade nas comunas. Para tal, devemos constituir microclimas através do plantio de arvores, criação de piscinas naturais, permeabilizando os solos etc. como foi descrito no objetivo 4 mas com a finalidade de prevenir choques climáticos. Por último devemos sublinhar que essa prevenção pode se fazer de maneira isolada, comuna por comuna, no entanto também pode ser feita em conjunto, o que lhe conferiria um impacto muito maior, criando um microclima regional, que tornaria as comunas mais resilientes aos choques climáticos e ambientais, prevenindo a difusão de doenças, a desertificação ou a poluição dos solos e das águas. Em conclusão, esse objetivo integra a prevenção dos riscos ambientais e climáticos a essência da comuna, pois na atualidade, eles permanecem como eventos de exceção, no entanto, a modificação do clima que causamos pode inverter essa tendência e tornar os choques climáticos e ambientais a normalidade. Na tabela a seguir (fig 44) foram elaboradas exemplos de diretrizes e ações para demonstrar o que foi descrito acima.
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
PREVENIR EROSÃO DO SOLO
PREVENIR DESLIZAMENTOS PLANTANDO ARVORES PERMEABILIZAR O SOLO (EX: REMOVER REVESTIMENTOS, PLANTAR ARVORES, DEMOLIÇÃO EDIFICAÇÕES ETC.) DIRECIONAR AS ÁGUAS (EX: DIQUES, CANAIS, TRINCHEIRAS, LAGOS ETC.) DEFINIR POPULAÇÃO MÁXIMA NA COMUNA FERTILIZAR O SOLO PLANEJAMENTO A LONGO PRAZO PARA GERENCIAR
PREVENIR ESGOTAMENTO DO SOLO
PREVENIR ENCHENTES
SUSTENTAVELMENTE OS RECURSOS
CONTROLAR A FECUNDIDADE / NATALIDADE HUMANA (EX: EDUCAÇÃO SEXUAL, JARDINS MEDICINAIS ETC.) CONTROLE FECUNDIDADE / NATALIDADE ANIMAL (EX: PREDADORES, CAÇA ETC.)
IMPLANTAR ESTRUTURAS FLUTUANTES PARA ABRIGO TEMPORÁRIO
ARMAZENAR LIVROS OU PRODUÇÃO CULTURAL NOS PAVIMENTOS SUPERIORES DAS EDIFICAÇÕES
AUMENTAR COBERTURA VEGETAL PARA MANTER HUMIDADE
PREVENIR SECAS
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PREVENIR POLUIÇÃO
ELEVADA
POSSUIR RESERVATÓRIOS DE ÁGUA (EX: PISCINAS, RESERVATÓRIOS INFERIORES, CAIXAS D'ÁGUA, ESTACIONAMENTO ENTERRADOS ETC.) PREVER ESTRATÉGIAS DE POTABILIZAÇÃO DA ÁGUA (EX: DESSALINIZADOR, FILTROS ETC.) PLANTAR VEGETAÇÃO ARMAZENADORA DE ÁGUA (EX: CACTO, FRUTÍFERAS ETC.) DELIMITAR CEMITÉRIOS PLANTAR VEGETAÇÃO DESPOLUENTE NOS CURSOS DE ÁGUA DOCE TORNAR LEGÍVEL O MÉTODO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DEFINIR POPULAÇÃO MÁXIMA NA COMUNA
IMPLANTAR CREMATÓRIOS
PREVENIR PROPAGAÇÃO DE EPIDEMIAS
DELIMITAR LOCAIS PARA TRATAMENTO MEDICO CONTROLAR PRAGAS (EX: ESPAÇO PARA PREDADORES, GERENCIAMENTO ADEQUADO DOS RESÍDUOS ETC.) DELIMITAR ÁREAS DE QUARENTENA QUANDO PRECISO PROMOVER PRODUÇÃO LOCAL DE REMÉDIOS
POSSUIR PRODUÇÃO LOCAL DE PRODUTO DE HIGIENIZAÇÃO CRIAR/ IMPLANTAR LOCAIS DE TRATAMENTO MEDICO
ADEQUAR OS LOCAIS DE TRATAMENTO MÉDICO PARA SEREM INDEPENDENTES DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO IMPEDIR ACESSO AOS LOCAIS DE QUARENTENA
EXEMPLO DE DIRETRIZ
EXEMPLO DE AÇÃO
O B J E T I VO 5 - P R E V E N I R C H O Q U E S C L I M ÁT I CO S E A M B I E N TA I S
PREVER ROTAS DE FUGA
A metodologia da resiliência urbana pós-colapso, prevê também a eventualidade em que os esforços da comuna não são suficientes para manter as condições essenciais a sobrevivência do maior numero, portanto, o último objetivo concerne a necessidade de fugir. O objetivo 6 - Prever rotas de fuga, procura, planejar e organizar uma evacuação de todos os habitantes da comuna, na eventualidade de ameaças à vida. A evacuação pode ser devida a um risco tópico que não necessita o abandono da comuna, ou pode ser devido a uma mudança drástica ambiental que impossibilita a recuperação, e neste caso, será um abandono total e potencialmente definitivo da comuna.
OS MECANISMOS PARA ATINGIR O OBJETIVO A organização da evacuação da comuna conta várias etapas, sendo que a primeira se apoia no planejamento dentro da comuna, a segunda é relativa a comunicação entre os moradores, e a terceira, a seleção de abrigos. Em relação ao planejamento, deve-se criar planos de ação como alarmes de evacuação (por exemplo sinos de igreja), locais de reunião (a praça principal) e a distribuição dos meios de transportes segundo a capacidade deles, por áreas da comuna. Ou seja, se a comuna possuir 10 barcos com capacidade de 100 pessoas cada, os barcos serão assinados aos 1000 moradores mais perto, contando que haja pessoas capaz de manusear os barcos, a mesma lógica deve ser seguida para as carroças, cavalos etc. Em complemento há de se estabelecer locais de armazenamento de comida, água, medicamentos etc. a proximidade dos eixos de transporte, para que sejam transportados junto com a população. A segunda parte portanto, é tornar o plano de evacuação do conhecimento de todos, podendo ser através de cartilhas, ou na eventualidade da ausência de recursos materiais, através de exercícios de simulação, ou ambos.
◀ Fig 44: Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do objetivo 5 fonte: a autora
A seleção dos abrigos varia segundo o tipo de ameaça que a comuna enfrenta. No caso de uma ameaça tópica, abrigos pontuais deverão ser escolhidos, por exemplo edificações elevadas ou flutuantes no caso de enchentes, abrigos subterrâneos no caso de tempestades etc. No caso de abrigos para uma ameaça irreparável, a escolha do local de refugio deve ser feita previamente em assembleia, podendo passar acordos bilaterais com outras comunas ou não,
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CAPÍTULO 5: A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
segundo a situação de cada um. É importante que o local de refugio seja bem definido pois os habitantes da comuna provavelmente terão de se separar durante a fase de transporte. Portanto, é preciso que os habitantes sejam capaz de se reencontrar. A tabela ao lado (fig 45) resume alguns exemplos de diretrizes e ações a serem implementadas pela comuna, vale ressaltar que cada comuna terá de criar seu próprio protocolo de evacuação, pois, as ameaças diferem bastante segundo a geografia do território, portanto, são apenas exemplos.
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▶︎ Fig 45: Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do objetivo 6 fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
CRIAR ESTRATÉGIAS DE ALERTA A POPULAÇÃO (EX: SINO IGREJA, PREGOEIRO, RADIO ETC.) CRIAR LOCAIS DE REUNIÃO PARA ORGANIZAR EVACUAÇÃO (EX: PRAÇA CENTRAL, ANFITEATRO ETC.)
ORGANIZAR A EVACUAÇÃO DA COMUNA
ARTICULAR LOCAIS DE REUNIÃO PARA EVACUAÇÃO ENTORNO DAS PRINCIPAIS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES
ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELA LIBERTAÇÃO DOS ANIMAIS ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELO ACIONAMENTO DOS SISTEMAS DE ALARME ESCOLHER OS LOCAIS DE REFUGIO PONTUAL ESCOLHER DESTINO DA EVACUAÇÃO DEFINITIVA FAZER SIMULAÇÕES DE EVACUAÇÕES TRIMESTRALMENTE
IMPLEMENTAR MEIOS DE TRANSPORTE DE MASSA
ORGANIZAR O DESLOCAMENTO
INDEPENDENTES DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO (EX: CARROÇAS, BARCOS ETC.)
FAZER RESERVAS DE BENS DE PRIMEIRA NECESSIDADES DE PREFERENCIA PERTO DOS EIXOS DE TRANSPORTE (EX: ÁGUA, ALIMENTOS, SABÃO ETC.) POSSUIR ESTRATÉGIAS DE TRANSPORTES PARA BENS DE PRIMEIRA NECESSIDADE (EX: FILTROS MOVEIS, BARCAÇAS, CARROÇAS ETC.) 155
DETERMINAR ÁREAS DE ABRIGO A TEMPESTADE IMPLANTAR ESTRUTURAS FLUTUANTES PARA ABRIGO
PREVER ABRIGOS PONTUAIS
TEMPORÁRIO DE ENCHENTES
PREVER LOCAIS DE QUARENTENA PARA EVITAR DISSEMINAÇÃO DE EPIDEMIAS
PLANEJAR E DIFUNDIR OS LOCAIS DE REFUGIO PASSAR ACORDO DE REFUGIO COM OUTRAS COMUNAS POSSUIR INFRAESTRUTURA PARA COMUNICAÇÃO EXTERNA A
ACHAR REFUGIO
COMUNA
EXEMPLO DE DIRETRIZ
O B J E T I VO
6
-
P R E V E R
EXEMPLO DE AÇÃO
ROTA S
D E
F U G A
6
METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA U R B A N A PÓS-COLAPSO
CAPÍTULO 6: METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
158
PROCEDIMENTO GERAL
Uma vez que definimos a resiliência urbana pós-colapso (RUPC) e seus objetivos gerais, podemos apresentar o procedimento geral da metodologia de suporte a resiliência urbana pós-colapso. Essa metodologia de planejamento urbano requer como definimos anteriormente a definição de novas entidades cívicas que chamamos de comunas. As comunas portanto, são constituídas por no máximo 10 000 habitantes, independentemente da área do território. No termo de comuna é implícito que os habitantes são soberanos, e autônomos, permitindo a auto-gestão do território pelos seus ocupantes. Essa autogestão é possível devido ao colapso sistêmico global, ou seja, devido às instabilidades econômicas sociais e politicas, que tornaram o estado nação fraco ou inexistente. De tal modo que uma das formas de manter algum tipo de organização social é a autoorganização da população da comuna. O procedimento geral da metodologia de suporte a resiliência urbana pós-colapso é dividida em 5 etapas:
- Início Essa primeira parte é introdutória, nelas serão apresentados a situação geral da comuna, as ameaças que o colapso traz para as cidades, a resiliência urbana pós-colapso e por fim, o funcionamento da metodologia. - Preparação A etapa de preparação consiste em organizar os dados levantados, compartilhar as informações e estabelecer diretrizes preliminares a serem apresentadas e discutidas na assembleia da comuna. - Planejamento O planejamento deve-ser feito em assembleia, e consiste em planejar, hierarquizar, e agendar as diretrizes e ações a serem implementadas na comuna. - Realização A realização é, portanto, a fase de concretização das ações, elas devem ser implantadas fisicamente no território. Foto paginas anteriores Fig 46: Barricades de la Commune rue Lafayette et Faubourg St Martin fonte: https://linactuelle.fr/ index.php/2019/05/15/ commune-paris-1871jean-cherasse/ acesso em 30/08/2019
- Experimentação A última etapa é a experimentação, essa etapa permite a avaliação periódica da eficácia ou da ineficácia das ações implantadas, ou seja, permite a adaptação e a transformação da comuna. Cada uma das etapas será detalhada em partes especificas. O procedimento geral por sua vez esta resumido graficamente nas figuras 47 e 48 a seguir.
159
CAPÍTULO 6: METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
FIG 47: PROCEDIMENTO GERAL DA METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO APRESENTAÇÃO SITUAÇÃO ATUAL INÍCIO
PROPOR SELEÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELOS OBJETIVOS
ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELOS OBJETIVOS
FORMAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELOS
PREPARAÇÃO
OBJETIVOS LEVANTAMENTO E COLETA DE DADOS SITUAÇÃO ATUAL
COMPARTILHAR INFORMAÇÕES
FORMULAR DIRETRIZES PRELIMINARES
OBJ. 1
OBJ. 2
OBJ. 3
OBJ. 4
OBJ. 5
OBJ. 6
PROPOR E SELECIONAR DIRETRIZES (POR OBJETIVO) PROPOR E SELECIONAR AÇÕES (POR OBJETIVO)
DEFINIR O PLANO DE AÇÃO ROTA DE FUGA
REALIZAÇÃO
PLANEJAMENTO
160
IMPLANTAR AÇÕES
EXPERIMENTAÇÃO
NÃO A AÇÃO É VIÁVEL E FUNCIONAL? SIM CONSOLIDAR AÇÃO
REAVALIAR PERIODICAMENTE
NÃO
É VITAL E IRREPARÁVEL?
SIM
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
CARTILHA OBJETIVOS
EXPERIMENTAÇÃO
REALIZAÇÃO
PLANEJAMENTO
CARTILHA ANÁLISE DAS VULNERABILIDADES
PREPARAÇÃO
CARTILHA REPERCUSSÕES DO COLAPSO NA CIDADE
INÍCIO
2. PROPOR SELEÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELOS
R/E
3. ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELOS OBJETIVOS
R
4. FORMAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELOS OBJETIVOS
R
OBJETIVOS
COMUNA (AS)
(RO)
E E
5. LEVANTAMENTO E COLETA DE DADOS DA
R/E
6. COMPARTILHAR INFORMAÇÕES
R/E
7. FORMULAR DIRETRIZES PRELIMINARES
R/E
SITUAÇÃO ATUAL
ASSEMBLEIA DA
R/E
OBJETIVOS
1. APRESENTAÇÃO SITUAÇÃO ATUAL
PASSOS
RESPONSÁVEIS PELOS
(ME)
MEDIADOR
ETAPAS
DOCUMENTO DE TRABALHO
FIG 48: RESPONSABILIDADE E DOCUMENTOS DE TRABALHO PARA O PROCEDIMENTO GERAL DA METODOLOGIA
161
8. PROPOR E SELECIONAR DIRETRIZES (POR OBJETIVO)
R
C
E
9. PROPOR E SELECIONAR AÇÕES (POR OBJETIVO)
R
C
E
10. DEFINIR O PLANO DE AÇÃO
R
C
E
11. IMPLANTAR AÇÕES
C
R
E
12.A. A AÇÃO É VIÁVEL E FUNCIONAL?
R R R R
C C C C
E E E E
12.B. É VITAL E IRREPARÁVEL? 13. CONSOLIDAR AÇÃO 14. REAVALIAR PERIODICAMENTE
R : RESPONSÁVEL / C: CONTROLA / E: EXECUTA
CAPÍTULO 6: METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
Como pode ser visto nos gráficos do procedimento geral, existe diversos atores que realizarão os passos da metodologia. Existem três tipos de atuação:
- A ASSEMBLEIA (AS) No ideal, ela é constituída por todos os habitantes da comuna e é encarregada de discutir, deliberar, arbitrar e inclusive de implementar as ações a serem tomadas no âmbito de melhorar a resiliência urbana. Essa assembléia pode incluir todos os membros da comuna, inclusive crianças, já que serão discutidas questões gerais que influem nos seus futuros. A constituição da assembleia da comuna, é ultimamente uma escolha dos moradores.
162
- O MEDIADOR (ME) É aquele que será encarregado principalmente de organizar e convocar as assembleias da comuna. O mediador pode ser por exemplo um líder comunitário, sindical, religioso, um gerente de empresa, um sindico de condomínio, etc. ou seja, um líder de uma organização social preexistente, como também pode ser qualquer habitante da comuna sem experiência previa de liderança. A função de mediador neste caso, não requer nenhum tipo de experiência, ou competência específica, apenas a capacidade de reunir pessoas dispostas a debater sobre seus futuros e suas sobrevivências e a capacidade de ouvi-las. Vale ressaltar que o mediador deve cooperar com as lideranças de comunidades preexistentes para organizar as assembleias. - OS RESPONSÁVEIS PELOS OBJETIVOS (RO) São aqueles encarregados de estudar e aplicar o objetivo da RUPC pelo qual ficaram responsável. Ou seja, cada um dos responsáveis possuiu seu próprio objetivo a aplicar. Esses responsáveis poderão ser voluntários, sorteados, eleitos etc. segundo a modalidade escolhida pela assembleia. Essa seleção será detalhado no passo correspondente a seguir. Em complemento, cada participantes pode exercer um papel especifico, sendo ele, o papel de:
- Responsável (R) Aquele que orienta as etapas e os passos da metodologia a serem efetuados. - Controle (C) Aquele que certifica-se de que tudo ocorre conforme o planejado, ou seja, aquele que mantem o foco das assembleias ou reuniões. - Executa (E) Aquele ou aqueles que devem tomar as decisões, concretiza-las e aplica-las.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
INICIAÇÃO 1. APRESENTAÇÃO SITUAÇÃO ATUAL A apresentação da situação atual é realizada pelo mediador, que deve organizar a primeira assembleia da comuna relativa a implantação da metodologia. Para essa apresentação ele terá de expor aos moradores os riscos que o colapso gera sobre o sistema cidade, ou seja, as ameaças à cidade, e o procedimento geral da metodologia de suporte a resiliência urbana pós-colapso.Para tal ele devera se apoiar na cartilha « O colapso e a cidade » em anexo que resuma o primeiro, segundo e terceiro capítulo. 2. PROPOR SELEÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELOS OBJETIVOS
No segundo momento, o mediador deve introduzir os objetivos da RUPC para então explicar o papel de responsável pelo objetivo. Em seguida o mediador deverá propor a seleção dos responsáveis para cada objetivo da RUPC. A assembleia poderá então decidir o modo de seleção dos responsáveis entre os participantes da assembleia. Em sugestão podemos apontar uma seleção baseada no voluntariado, no sorteio, na eleição etc. É importante ressaltar que os responsáveis não são representantes, nem porta-voz, incumbe aos responsáveis dar conta do seu trabalho aos moradores da comuna, ademais o poder de decisão é igual para cada morador da comuna (incluindo o ME e os ROs). Vale ressaltar também que é possível selecionar diversas pessoas para cada objetivo, caso seja necessário. 3. ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELOS OBJETIVOS Uma vez que o modo de seleção foi escolhido, a assembleia pode proceder a seleção dos responsáveis para cada objetivo da RUPC.
163
CAPÍTULO 6: METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
PREPARAÇÃO 4. FORMAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELOS OBJETIVOS Nessa parte da metodologia, os ROs devem ser formados para entender os desafios do seu objetivo. Essa formação é autodidata e apoia-se nas cartilhas dos objetivos, sendo que cada objetivo possui sua cartilha correspondente (em anexo). Essa formação inicial obviamente será complementada pela vivência e experimentação. 5.
164
LEVANTAMENTO E COLETA DE DADOS DA SITUAÇÃO ATUAL
O levantamento e a coleta de dados sobra a situação atual vai permitir aos ROs identificar vulnerabilidades consolidadas ou por vir relativas aos seus objetivos, ou seja, a análise previa do contexto deve ser feita tendo em vista seu objetivo especifico, identificando vulnerabilidades e oportunidades nas categorias relativas a: - Clima e meio ambiente - Infraestruturas e redes - Indivíduos e corpo social - Abrigo e convívio - Atividades e fluxos Para a analise, portanto, deverá compilar informações disponíveis. O detalhe da metodologia de análise esta na cartilha « Análise das vulnerabilidade ». Caso algumas informações não estejam disponíveis, a metodologia pode continuar ininterrupta pois o método é desenvolvido de tal modo que as ações implantadas podem ser repensada e modificada através de um ciclo de realimentação por experiência. 6. COMPARTILHAR INFORMAÇÕES Apos a compilação das informações pelos ROs, esses devem se reunir para compartilhar suas informações de modo a completar as vulnerabilidades e oportunidades, consolidando o diagnostico. 7. FORMULAR DIRETRIZES PRELIMINARES Por último, os ROs devem estabelecer em conjunto diretrizes preliminares para cada objetivo.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
PLANIFICAÇÃO A parte de planificação é feita na primeira fase para cada objetivo separadamente visando aprofundar mais em detalhes cada um dos objetivos de forma independente, na segunda fase de elaboração do plano de ação, os objetivos e as ações serão compiladas para hierarquiza-las e ordenar o calendário de implantação segundo a importância dada a cada ação. É valido ressaltar que durante essas assembleias, os habitantes provavelmente serão levados a discutir questões de valores e de moral. 8. PROPOR E SELECIONAR DIRETRIZES (POR OBJETIVO) Em assembleia, os ROs vão apresentar as vulnerabilidades e as oportunidades identificadas. Em seguida, com base nas diretrizes preliminares, a assembleia vai propor diretrizes e selecionar aquelas a serem consolidadas. Para organizar as diretrizes, recomenda-se organizar o conteúdo como indicado nas cartilhas 2. 9. PROPOR E SELECIONAR AÇÕES (POR OBJETIVO) Com base nas diretrizes adotadas, serão propostas e selecionadas ações correspondentes a consolidação de cada diretriz. Essa parte de proposição é feita completamente pela assembleia (incluindo o ME e os RO) pois baseia-se nas habilidades e talentos daqueles que executarão a ação. Portanto, deve se apoiar nos conhecimentos existentes na comuna, assim como considerar as condições materiais (sem complexo industrial) para propor ações realizáveis. Ademais, é muito provável que nesta parte da metodologia, os moradores sejam levados a discutir questões relativas a valores e moral, como por exemplo questões de propriedade (privada ou social e coletiva), de migração e imigração, ou ainda de demografia (natalidade, eutanásia etc.). Para organizar as ações, recomenda-se organizar o conteúdo como no documento « Mapa dos objetivos às ações » em anexo. 10.DEFINIR O PLANO DE AÇÃO Uma vez selecionadas as diretrizes e as ações de todos os objetivos, deve-se planificar a implantação destas. Para tal, será preciso priorizar as ações em ordem de impor tância, independentemente dos objetivos, pois a importância de cada ação depende da leitura que a assembleia fará ou de problemáticas tópicas (secas, enchentes, epidemias, penúria de água etc.). Após a priorização das ações, o coordenador, junto com a assembleia deverá estabelecer um calendário de implantação assim como indicar os realizadores (voluntários).
165
CAPÍTULO 6: METODOLOGIA DE SUPORTE À RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
REALIZAÇÃO 11.IMPLANTAR AÇÕES Essa etapa é bastante clara, trata-se de implantar as ações no contexto urbano, na ordem e no tempo decidido em assembleia. O mediador fica então encarregado de cobrar a realização das ações, enquanto os ROs supervisam a implantação, certificando-se de que o objetivo é seguido.
166
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
EXPERIMENTAÇÃO 12.AVALIAÇÃO E CICLO DE REALIMENTAÇÃO POR EXPERIMENTAÇÃO
O ciclo de realimentação por experimentação permite avaliar a eficácia da ação implantada, ou seja, há espaço para erros e melhorias. Nessa fase, o mediador vai convocar a assembleia, os responsáveis por objetivos vão relembrar à assembleia o objetivo inicial da ação implantada, e a assembleia vai responder às perguntas por SIM ou NÃO. 12.a. A AÇÃO É VIÁVEL E FUNCIONAL? A viabilidade depende de se a ação é sustentável no tempo, enquanto a funcionalidade remete a cumprimento da sua função (ou seja, à diretriz inicial). Se a resposta é positiva, segue para o 13° passo. Se a resposta é negativa segue para a questão b. 12.b.É VITAL E IRREPARÁVEL? Essa questão aborda a importância da ação para o futuro, existe 3 casos possíveis:
- Não, a ação não é vital. Então propõe-se outra ação (passo 9). - Não, a ação é de importância vital mas pode ser consertada ou
corrigida. Então propõe-se outra ação (por exemplo um novo método de cultivo não deu os resultados esperados mas existem outras fontes de comida).
- Sim, a ação é de importância vital e é irreparável (exemplo: a
seca de um rio, a poluição dos solos etc.). Então a comuna deve aplicar seu plano de evacuação contido no objetivo 6 (Prever rotas de fuga).
13.CONSOLIDAR AÇÃO A consolidação passa pela manutenção, e pela repetição da ação (dentro da comuna e/ou em outras comunas). Vale ressaltar que uma experiencia bem sucedida não dispensa de implantar outras ações diferentes mas com a mesma função, pois como foi apresentado anteriormente, é preciso redundância para assegurar uma maior resiliência, ou seja, deve se evitar a padronização e a otimização e preferir sistemas orgânicos e decentralizados. 14.REAVALIAR PERIODICAMENTE Por tratar-se de experimentação, as ações devem ser periodicamente reavaliadas para confirmar seu funcionamento e durabilidade. Para a reavaliação é preciso retornar ao passo n°12 e responder novamente às perguntas em assembleia. O mediador fica encarregado de convocar a assembleia, os ROs ficam responsáveis de controlar enquanto a assembleia responde às questões.
167
7
ANÁLISE DO TERRITÓRIO
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
170
INTRODUÇÃO A SIMULAÇÃO
Por tratar-se de um trabalho prospectivo, não podemos aplicar a metodologia diretamente no território, pois este, não encontra-se em situação de colapso, portanto, devemos elaborar uma simulação. No primeiro momento, é preciso elaborar uma hipótese inicial da temporalidade do colapso (fig 50), esta temporalidade é subjetiva, e não representa, de modo algum, uma predição, ela procura apenas basear-se numa situação próxima à atual. Ou seja, ao considerar que o colapso inicia-se em 2020, estamos presumindo que o território será semelhante ao estado atual, com suas infraestruturas, edificações, contexto social, etc. A partir da hipótese inicial vamos criar um cenário baseado em fatos e informações disponíveis hoje, no âmbito de trazer mais realismo ao cenário imaginário. A primeira etapa então é a contextualização geral do que significa pós-colapso. O colapso acontece devido a uma das três causas identificadas inicialmente, ou a uma combinação das três (complexidade sistêmica - limites - fronteiras). Começando pelo colapso financeiro (2020-22), seguido pelo comercial (2022-25) e politico (2025-35) (fig 50). Estaremos saindo da era industrial. Seguindo as fases descritas por ORLOV (2013). O colapso financeiro causa a perda de muito capital, impedindo os investimentos necessários na exploração dos recursos energéticos (petróleo, gás, carvão) e das materiais primas necessárias ao bom funcionamento de todo o complexo industrial, inclusive agrícola (com agrotóxicos), farmacêutico e construção civil. O colapso financeiro também põe um fim à maioria das atividades banqueiras, de seguradoras, marketing etc., assim como causa a perda das aposentadorias dos países que optaram por sistemas de capitalização. Em consequência, ocorre um colapso comercial onde quase não há mais produtos para vender já que o complexo industrial não recebe capital, energia e matérias primas tornando as moedas obsoletas e o trabalho remunerado com dinheiro tampouco.
Foto paginas anteriores Fig 49: Foto satélite da área de estudo. fonte: Google Earth
Em seguida, sem moeda e sem funcionários, o colapso politico será então inevitável, e agravado pela incapacidade das autoridades a gerenciar crises humanitárias como fome em massa, epidemias, refugiados climáticos ou políticos, conflitos entre populações, revoltas etc.
171
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
Essas três primeiras fases serão gradativas e as datas indicadas (fig 50) apenas servem de guia para a escolha das estratégias de planejamento urbano a desenvolver, que deverão ser funcionais rapidamente, usar poucos recursos e pouca energia. As outras fases descritas por ORLOV (2013), colapso social, cultural e ambiental são os colapsos que ainda podemos evitar melhorando a resiliência urbana por exemplo.
172
▶︎ Fig 50 : Cronologia da hipótese inicial. fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
DESEMPREGO EM MASSA
EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS
2020 - 2022
INÍCIO DO COLAPSO FINANCEIRO -
PERDA DE GRANDE PARTE DO CAPITAL QUEDA DA PRODUÇÃO ENERGÉTICA INSTABILIDADE DA PRODUÇÃO DE ELETRICIDADE E DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA (BLECAUTE) RAREFACÇÃO DA MANUTENÇÃO DAS INFRAESTRUTURA
- DESEMPREGO EM MASSA - QUEDA DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL
DIMINUIÇÃO DA EXPECTATIVA DE VIDA
2025 - 2035
FOME EM MASSA
2022 - 2025
INÍCIO DO COLAPSO COMERCIAL -
PENÚRIAS DE ALIMENTOS, MEDICAMENTOS, VESTIMENTA, ETC.
- AS MERCADORIAS SE TORNAM RARAS E CARAS - MOEDAS PERDEM SEU VALOR - INFLAÇÃO - FOME EM MASSA
INÍCIO DO COLAPSO POLITICO -
O PODER POLITICO É ULTRAPASSADO PELAS CRISES HUMANITÁRIAS TENTATIVAS DE GOVERNANÇAS AUTORITÁRIAS FECHAMENTO DOS HOSPITAIS, DAS ESCOLAS, DAS PRISÕES, DOS PORTOS, DOS AEROPORTOS, ETC. ÊXODO URBANO FORÇAS POLICIAIS E MILITARES DEIXAM DE ATUAR SOB ORDEM DOS GOVERNANTES TORNANDO-SE MILÍCIAS
173
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
E X T E R N A S A M E A Ç A S I N T E R N A S A M E A Ç A S
A AMEAÇA DE…
CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
RUPTURA DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
CHOQUES ECONÔMICOS E SOCIAIS
ESTADO DAS ESTRUTURAS E REDES
PODE PROVOCAR RISCO DE …
CONSEQUÊNCIA DA VULNERABILIDADE RELATIVA A…
SISTEMA DE PRODUÇÃO ELÉTRICA
SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
SISTEMA DE TRATAMENTO DO ESGOTO
SISTEMA DE TRATAMENTO DO LIXO
TAXA DE IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO
FALTA DE PRESENÇA VEGETAL
QUEDA DA FERTILIDADE DOS SOLOS
QUEDA DA BIODIVERSIDADE
ACIDIFICAÇÃO DOS CURSOS D’ ÁGUA
FRAGILIDADE DOS AQUÍFEROS
FRAGILIDADE DOS CURSOS DE ÁGUA
ALTERAÇÕES DO NÍVEL DO MAR
ALTERAÇÕES DA PLUVIOMETRIA
ALTERAÇÕES DE TEMPERATURAS
FREQUÊNCIA DE EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS
INSTABILIDADE CLIMÁTICA INSTABILIDADE HÍDRICA INSTABILIDADE ALIMENTAR EXTINÇÃO EM MASSA
EPIDEMIAS
POLUIÇÃO
PERDA DE FERTILIDADE DOS SOLOS PENÚRIA DE ÁGUA PENÚRIA ALIMENTÍCIA PENÚRIA DE MEDICAMENTOS
INFRAESTRUTURA DE COMUNICAÇÃO SITUAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA
PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO VULNERÁVEL
PENÚRIA DE ENERGIA DESIGUALDADE SOCIAL
DENSIDADE POPULACIONAL
TAXA DE HOMICÍDIOS
TAXA DE DESEMPREGO
SALUBRIDADE DAS MORADIAS
CARÊNCIA DE VIDA COMUNITÁRIA
ESCASSEZ DE INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
ESCASSEZ DE LOCAIS DE CONVÍVIO
ESCASSEZ DE INSTITUIÇÕES DE FUNÇÃO SOCIAL
FALTA DE DIVERSIDADE DOS SETORES ECONÔMICOS
TIPO DE ECONOMIA DA CIDADE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE
SISTEMA DE TRANSPORTE
ESCASSEZ DE ATIVIDADES DE SUBSISTÊNCIA
ESCASSEZ DE HABITAÇÃO
ESCASSEZ DE LOCAIS SIMBÓLICOS
REVOLTAS
DISFUNÇÃO TELECOMUNICAÇÃO
DISFUNÇÃO SISTEMA ESGOTO
DISFUNÇÃO ABASTECIMENTO ÁGUA
DISFUNÇÃO TRANSPORTE DISFUNÇÃO REDE ELÉTRICA
CONFLITOS
DESEMPREGO
POBREZA
INFLAÇÃO
DESORGANIZAÇÃO POLITICO-SOCIAL
174
COMPONDO OS SEGUINTES TEMAS DE ESTUDO…
CLIMA E MEIO AMBIENTE
INFRAESTRUTURA E REDES
INDIVÍDUOS E CORPO SOCIAL
ABRIGO E CONVÍVIO
ATIVIDADES E FLUXOS
METODOLOGIA DE ANALISE
A análise das vulnerabilidades se articula em cinco temas principais retomando as ameaças sobre o sistema cidade identificadas por SERVIGNE (2017), para cada ameaça, o autor identificou riscos concretos, alguns de ordem social (desemprego), outros de ordem econômicas (inflação), ou ainda relativos às infraestruturas. A partir dessas ameaças, foi possível elaborar uma lista de vulnerabilidades que levariam os riscos a consolidar-se. Por exemplo, a ameaças de choques climáticos e ambientais, pode provocar um risco de instabilidade climática, consequência da vulnerabilidade relativa a alterações de temperatura (fig 51). Portanto, para cada tipo de ameaça, existe diversas vulnerabilidades. Essas vulnerabilidades foram então agrupadas em grandes temas genéricos de análise das vulnerabilidades do território. Os temas estão resumidos a seguir e na figura 51: CLIMA E MEIO AMBIENTE A localização do território vai permitir identificar o clima e sua possível evolução, os recursos hídricos presentes, a qualidade dos solos, os eventos climáticos e ambientais por vir. INFRAESTRUTURA E REDES A análise da infraestrutura e das redes vai revelar o grau de dependência ao sistema termo-industrial e portanto, como evoluirão as infraestruturas e redes sem aporte massivo de energia ou recursos (abastecimento água, esgoto, etc.) INDIVÍDUOS E CORPO SOCIAL A análise da demografia e da população será útil para identificar a tendência dos comportamentos decorrentes de desigualdades sociais, superpopulação, êxodo urbano, populações frágeis (idosos - crianças de menos de 5 anos) etc. ABRIGO E CONVÍVIO Analisar o espaço construído vai revelar quais construções serão viáveis sem auxilio do sistema termo-industrial, assim como a importância dessas construções para a coesão social.
◀ Fig 51 : Diagrama de resumo dos temas a serem analisados para avaliar a vulnerabilidade do território fonte: a autora.
ATIVIDADES E FLUXOS As atividades e os fluxos permitirão conjeturar a vida econômica do território, assim como identificar as atividades ainda viáveis pós-colapso e principalmente as atividades e os fluxos vitais para a população.
175
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
BRASIL PERNAMBUCO
176
REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE
PARTE DO BAIRRO DE PAISSANDÚ
PARTE DO BAIRRO DA BOA VISTA
BAIRRO DA ILHA DO LEITE
BAIRRO DOS COELHOS
COMUNA FORMADA
RECIFE
RECORTE GEOGRÁFICO
O território escolhido para a simulação, situa-se na região metropolitana do Recife em Pernambuco (fig 52). O polígono pertence a parte continental da cidade e é rodeado pelo rio Capibaribe. O território foi escolhido porque representa uma amostra significativa da cidade do Recife e sua densidade populacional permite a constituição de uma comuna (menos de 10 000 habitantes), neles encontram-se características morfológicas de diversas tendências de planejamento urbano, com um núcleo histórico compacto, com ruas estreitas, edificações entremedianeiras. Um outro núcleo de interesse social, com ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) e áreas de ocupações irregulares (palafitas). Assim como um núcleo modernista com casas soltas nos lotes e prédios de uso habitacionais. E por último um núcleo empresarial com torres soltas no lotes. Ou seja, é uma amostra bastante representativa. O território também foi escolhido por ter sido objeto de análise durante o curso de arquitetura e urbanismo, o que permitiu compilar as informações com maior precisão.
◀ Fig 52 : Diagrama de localização do território em estudo fonte: a autora. ▼Fig 53: Croquis esquemáticos do histórico de ocupação e de aterramentos do território em analise. fonte: a autora
1906
O bairro da Boa Vista (núcleo histórico) possui uma morfologia típica das cidades históricas compactas, com rua estreitas e edificações coladas nas divisas de lotes. Na figura 53, o mapa de 1906 corresponde a primeira fase de assentamento. Em seguida, pode-se observar a expansão que ocorreu entre 1952 e 1971 onde são predominantes casas soltas em lotes que tornaram-se mais curtos e mais largos permitindo também a emergência de prédios. E por último, na última década uma vez as quadras consolidadas observa-se a emergência do núcleo social (no bairro dos Coelhos), devido a explosão demográfica, e do núcleo empresarial com suas torres, principalmente na Ilha do Leite e em Paissandú. Além das características morfológicas, o território também apresenta grande diversidade sócio-econômica em pequena escala, podendo observar na mesma rua apartamentos de alto padrão e assentamentos informais. Essa desigualdade social é bastante importante no Brasil e portanto, é necessária analisa-la.
1952
1971
2019
177
BOA VISTA
PAISSANDÚ
ILHA DO LEITE
COELHOS
178
RI O
CA
PI B AR
IBE
0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
MAPA DE LOCALIZAÇÃO Fig 54: elaborado pela autora a partir de foto satélite do Google Earth
179
OCEANO ATLÂNTICO
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
Por outro lado, o histórico de aterramento é muito especifico à área do Recife mas permite concentrar-se de maneira mais intensas sobre as questões de mudança climática, aumento do nível do mar e poluição dos recursos hídricos que aparecem como grandes ameaças para o mundo e especificamente para a America do Sul segundo a IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change). A área escolhida também apresenta desafios interessantes em relação a sua atratividade e a sua propensão a atrair pessoas, pois possui diversos hospitais, tem uma importante área histórica cujo impacto simbólico pode levar pessoas a direcionar-se para esta área na hipótese deles procurarem refugio. Em complemento, a densidade populacional permite a constituição de uma única comuna pois a população presente atualmente é de 9879 habitantes, contudo, a tendência no póscolapso é uma diminuição importante da população devido as migrações (êxodo urbano) e ao aumento da mortalidade. DENSIDADE POPULACIONAL
(PESSOAS POR HECTARE) DE 180
0 ATÉ 1
ENTRE
10
1 ATÉ
ENTRE 10 ATÉ 50 ENTRE 50 ATÉ 100 ACIMA DE
100 LIMITES DOS BAIRROS
MAPA DE DENSIDADE POPULACIONAL ESCALA 1:20 000
0
100M 200M 300M 400M
Fig 55: elaborado pela autora
CLIMA E MEIO AMBIENTE
CLIMA
28
400
27
300
26
200
25
100
24
J ▶︎ Fig 56: Gráfico e tabela demonstrando a tendência atual do clima tropical do Recife. fonte: a autora, a partir de dados disponíveis no wikipedia
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
Precipitação em mm
Temperatura média em °C
O clima do Recife é tropical, ou seja, apresenta duas estações, o inverno e o verão cujo intervalo de temperatura médio varia entre 24°C e 27°C (variação de 3°C), com chuvas intensas no inverno sendo 5 a 6 vezes mais importante que no verão (fig 56).
0 D
Média anual dos dados climatológicos para Recife Temperatura média anual(°C)
25,9
Precipitação (mm por ano)
2 263,4
As mudanças climáticas no entanto vão perturbar essas médias, e a gravidade das mudanças dependem bastante da nossa habilidade a reduzir nosso impacto sobre a terra. Em 2014, o IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change) publicou seu quinto relatório analisando os dados disponíveis sobre mudanças climáticas até 2005, o relatório portanto, não é o mais atual mas por ser o trabalho de um instancia internacional (ONU) é um documento que apresenta o consenso cientifico atual sobre mudanças climáticas até a publicação do sexto relatório em 2020. O relatório do IPCC criou quatro cenários, RCP 2,6; RCP 4,5; RCP 6,0 e RCP 8,6. Sendo que o primeiro, RCP 2,6 corresponde a uma diminuição das emissões de gás a efeito estufa para zero em torno de 2070 com um aumento de temperatura média global contido a +1,5°C em 2100, vale ressaltar que o acordo de Paris (2015) visou o objetivo de conter o aumento a +2°C em 2030. E o último cenário RCP 8,6 é a
181
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
continuação das tendências observada em relação a emissão de gás a efeito estufa com um aumento contido a +5,5°C em 2100. Além dessas tendências climáticas, o IPCC definiu 9 famílias de riscos globais ligados ao clima (fig 57), ou seja, são problemáticas que devem ser consideradas para planejar o futuro das cidades, prevenir e amenizar as consequências desses eventos. FATORES DETERMINANTES DOS INCIDENTES LIGADOS AO CLIMA
Warming
TENDÊNCIA AO AQUECIMENTO
Extreme
Extreme
TEMPERATURAS EXTREMAS
Damaging
PRECIPITAÇÕES EXTREMAS CICLONES DESTRUIDORES
O
Storm
ONDAS DE TEMPESTADES 182
C
O
Drying
TENDÊNCIA A SECAS
Flooding
ENCHENTES
O
C
O
Ocean
ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS
FERTILIZAÇÃO POR CO²
◀ Fig 57: Reprodução da tabela da IPCC sobre os fatores determinantes dos incidentes ligados ao clima. fonte IPCC. Climate Change 2014: Synthesis Report. p70
Os pesquisadores do IPCC também elaboraram uma síntese das diversas projeções sobre o clima nos mapa mundi apresentados ao lado (fig 58). No caso de Pernambuco por exemplo os dados foram apresentado numa tabela resumindo as modificações climáticas projetadas para o cenário RCP 2,6 e RCP 8,6. A tendência portanto, é de um aumento da temperatura média anual, combinado com uma redução anual das precipitações e um aumento do nível do mar (fig 59).
ÁGUA O território escolhidos é cercado pelo rio Capibaribe e encontra-se nas proximidades do Oceano Atlantico (fig 60), ou seja, existe um risco importante de alagamentos devido a chuvas extremas, aumento do nível do mar, ondas de tempestades etc. como explica SILVA JUNIOR (2015): ¹ « As características físicas do município (de Recife), como as baixas cotas de seu território em relação ao nível do mar, áreas planas, lençol freático próximo à superfície e aflorante na estação chuvosa, são fatores naturais que dificultam a drenagem. Além disso, o sistema de drenagem do Recife também é prejudicado devido à canalização de riachos urbanos e ocupação de suas margens por construções regulares e irregulares, alta taxa de impermeabilização do solo, destino inadequado dos resíduos sólidos e deficiência na coleta de esgotos. »
1
SILVA JUNIOR, Marcos Antonio Barbosa da Alternativas compensatórias para controle de alagamentos em localidade do RecifePE/ Marcos Antonio Barbosa da Silva Junior. – Recife: UPE, Escola Politécnica, 2015. 153 f.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
183
Fig 58 Comparação das modelizações segundo o cenário 2.6 e 8.5 e as mudanças decorrentes. fonte: IPCC. Climate Change 2014: Synthesis Report. p61 ▶︎ Fig 59 Quadro recapitulando os dados visíveis na fig 56 para Recife. fonte: a autora
Projeção das mudanças climáticas para Recife (2081 - 2100) RCP 2,6
RCP 8,5
Aumento médio de temperatura por ano
+0,5°C
+4°C
Média da proporção de chuva por ano
0 %
-20 %
Aumento médio do nível do mar
+0,5 m
+0,7 m
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
CANAL
184
RIO
CA
PIB A
RIB E
BACIA DO PINA
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
MAPA DOS CURSOS DE ÁGUA
Fig 60: elaborado pela autora
OCEANO ATLANTICO RIO CANAL
185
OCEANO ATLÂNTICO
ESCALA 1:15 000 0
150M
300M
450M
500M
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
Existe também um risco importante devido a poluição não somente do oceano e do rio que são fontes de alimentos tanto para os humanos como para outros animais, mas principalmente dos lençóis freáticos (fig 61). Sendo que poderiam deixar de ser potáveis e gerar uma vulnerabilidade maior do território em caso de problemas de abastecimento de água ou no processo de potabilização da água (falta de energia elétrica por exemplo) ou em caso de secas. De tal modo que CORREIA (2006) classificou os bairros estudados nas categorias de vulnerabilidade a contaminação moderada e elevada e de modo mais geral segundo ele, o aqüífero Boa Viagem é « muito vulnerável a poluição ». ¹ O IPCC também alerta sobre o risco de diminuição da disponibilidade da água especificamente para a América do Sul, onde já existe um risco médio atualmente que vai aumentar a curto e longo prazo (fig 62).
SOLO
186
O solo do território em estudo, como evocado antes por SILVA JUNIOR (2015), possuiu uma alta taxa de impermeabilização (fig 63) o que além de dificultar a drenagem, gera ilhas de calor agravando ainda mais os aumentos de temperatura por vir, pois impede não somente a entrada de água como a evaporação desta que contribui a reduzir o calor. Por outro lado, pela provável diminuição da quantidade de água nos lençóis freáticos é possível que haja modificações do solo como tremores mas também deslizamentos causados pelas precipitações extremas portanto, a permeabilidade do solo é de grande importância. Por último deve-se considerar a fertilidade dos solos, o território escolhido foi aterrado em parte ao longo dos últimos séculos, sendo que o bairro da Ilha do Leite é o mais novo de todos. Por enquanto não foram encontrados dados sobre a fertilidade dos solos específicos da área em estudo mas a tendência global esta na poluição dos solos devido entre outros a atividade humana, poluição dos carros, agrotóxicos domésticos ou industriais. Portanto, deve-se considerar a possível perda de fertilidade dos solos como uma vulnerabilidade, assim como a decorrente diminuição de quantidade e qualidade dos alimentos como previsto pelo IPCC (fig 62).
1
CORREIA, Eliseu Romero Campêlo. Caracterização da vulnerabilidade natural do aqüífero Boa Viagem no Município do Recife - Método GOD / Eliseu Romero Campelo Correia. Recife: Dissertação (mestrado) UFPE CTG. Geociências, 2006
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
DESPREZÍVEL MODERADA ELEVADA EXTREMA
187
0
1KM
fig 61: Mapa de vulnerabilidade das águas subterrâneas do aqüífero Boa Viagem no município do recife fonte: CORREIA, Eliseu Romero Campêlo. Caracterização da vulnerabilidade natural do aqüífero Boa Viagem no Município do Recife
2KM
3KM
4KM
DISPONIBILIDADE REDUZIDA DE ÁGUA, AUMENTO DAS ENCHENTES E DESLIZAMENTOS DE TERRA MUITO BAIXO
RISCO MEDIO
MUITO ALTO
REDUÇÃO DE PRODUTIVIDADE E DA QUALIDADE DOS ALIMENTOS MUITO BAIXO
RISCO MEDIO
MUITO ALTO
PRESENTE CURTO PRAZO (2030 - 2040) LONGO
2°C
PRAZO
▶︎ fig 62: Reprodução dos gráficos da evolução dos riscos no tempo para a América do sul e central fonte IPCC. Climate Change 2014: Synthesis Report. p65
(2080-2100) 4°C
NÍVEL DE RISCO ATUAL NÍVEL DE RISCO MELHORANDO A CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
188
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
MAPA DE SOLO IMPERMEÁVEL Fig 63: elaborado pela autora
EDIFICAÇOES SOLO IMPERMEÁVEL
51 %
29 %
21 %
189
APENAS 21% DA ÁREA DE ESTUDO , POSSUI SOLO PERMEÁVEL , O QUE CORRESPONDE A 202147 M²
ESCALA 1:10 000 0
100M
200M
300M
400M
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
FAUNA E FLORA Um fator muito importante para reter a humidade e estabilizar o solo é a presença de vegetação, pois as folhas são responsáveis por captar 30% da água de chuva, e as raizes melhoram a penetração da água no solo por torna-lo mais poroso (SPECK, 2012), as raizes podem também estabilizar o solo e vem sendo usado há varias décadas para estabilizar dunas costeiras por exemplo. No território de estudo, a presença vegetal é pouca, como pode ser visto no mapa ao lado (fig 65) , existe no entanto uma faixa vegetada importante ao longo do Rio Capibaribe que vem sendo danificada e removida principalmente por conta da necessidade de moradias das comunidades existentes. Essa faixa verde também sofre uma poluição muito importante devido em parte a segregação espacial que ocorre pela própria morfologia urbana, gerando um vazio pouco atrativo e ignorado pela população tornando-se local de despejo de lixo.
190
Essa poluição química, além da poluição da urbanização (poluição luminosa e sonora) causa também impacto sobre a fauna que já encontra-se em situação precária sendo que um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção total nas próximas décadas segundo o IPBES (Intergovernamental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services), ou seja, 1 em cada 8 espécie animal incluindo insetos. Essa taxa de extinção é dez a 100 vezes maior que qualquer uma nos últimos 10 milhões de anos. Vale ressaltar que não há vida humana possível sem os benefícios que trazem os animais não humanos como polinização, emissão de oxigênio, controle de pragas, disseminação de sementes etc.
1
3
2
4
◀ Fig 64: 1.Vista da Praça Miguel de Cervantes 2.Vista do hospital esperança 3.Vista de rua Beira Rio 4. Baixio do viaduto da Agamenon Magalhães. Fonte: Google Earth
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
4
3 2
191
1
MAPA DE PRESENÇA VEGETAL ESCALA 1:10 000
0
100M
200M
300M
400M
Fig 65: elaborado pela autora
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
FIG
66: QUADRO DE RESUMO DAS VULNERABILIDADES E OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS RELATIVAS A CATEGORIA CLIMA E MEIO AMBIENTE
OBJETIVO
VULNERABILIDADES
DIRETRIZES PRELIMINARES
OPORTUNIDADES
- EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS PODEM CAUSAR MORTES EM MASSA E DESTRUIR ABRIGOS
1- FAVORECER
UMA - CHOQUES CLIMÁTICOS CONVIVÊNCIA PODEM CAUSAR SOCIAL PACIFICA EMIGRAÇÃO E
/
-
RELOCAR POPULAÇÕES VIVENDO EM ÁREAS DE RISCO
-
CRIAR ÁREAS PARA REFUGIADOS
IMIGRAÇÃO MASSIVA
- AUMENTO DO NÍVEL DO MAR PODE DIMINUIR A ÁREA DA COMUNA
2-
POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL
3-
192
POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
4-
FORTALECER E RESTAURAR OS ECOSISTEMAS
- EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS PODEM DESTRUIR INFRAESTRUTURA E PREJUDICAR COMERCIO E COMUNICAÇÃO
-
PERDA DE FERTILIDADE DOS SOLOS PODE CAUSAR FOME EM MASSA
- INSTABILIDADE HÍDRICA PODE CAUSAR MORTES EM MASSA
-
PERDA DE FERTILIDADE DOS SOLOS
-
ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS
-
POLUIÇÃO DA MARGEM DO RIO
- FRENTES MARÍTIMAS E FLUVIAIS PODEM FORTALECER COMUNICAÇÃO E COMERCIO
- RESERVA DE ÁGUA
SUBTERRÂNEA COM RISCO DE POLUIÇÃO MODERADO
- TEMPERATURAS ALTAS
DISPENSAM DE PRODUZIR COMBURENTE PARA AQUECIMENTO
- EXISTÊNCIA DE UMA FAIXA NATURAL NA MARGEM DO RIO
- EXISTÊNCIA DE RUAS ARBORIZADAS
-
5-
PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
PERDA DE FERTILIDADE DOS SOLOS
- TENDÊNCIA A SECAS - PRECIPITAÇÕES
EXTREMAS E ENCHENTES PODEM FORTALECER TRANSMISSÃO DE DOENÇAS (EPIDEMIAS)
PROMOVER SEGURANÇA HÍDRICA
-
PROMOVER SEGURANÇA ALIMENTÍCIA
-
GERENCIAR LIXO E RESÍDUOS
-
DELIMITAR MARGEM DO RIO COMO ÁREA NATURAL
-
AUMENTAR FERTILIDADE DOS SOLOS
-
PRESERVAR FAUNA E FLORA EXISTENTE
-
DESPOLUIR SUPORTE HÍDRICO
(POLUÍDO) PODE POLUIR OS SOLOS
- POSSIBILIDADE DE
6-
EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS
PREVER ROTAS DE - AUMENTO DO NÍVEL DO FUGAS MAR
-
TENDÊNCIA A SECAS
- EXISTÊNCIA DE UMA
PREVENIR EROSÃO DO SOLO
-
AUMENTAR PERMEABILIDADE DO SOLO E COBERTURA VEGETAL PARA PREVENIR SECAS E ENCHENTES
-
PREVENIR PROPAGAÇÃO DE EPIDEMIA
-
PREVENIR POLUIÇÃO DO SOLOS E DO SUPORTE HIDRICO
-
ESTABELECER PONTOS DE EVACUAÇÃO PERTO DOS RIOS E CANAIS
-
PREVER ABRIGOS PONTUAIS PARA ENCHENTES
REDE DE CANAIS
- PROXIMIDADE DO RIO E DO OCEANO
PREVENIR ESGOTAMENTO DO SOLO
-
/
- PROXIMIDADE DO RIO
CRIAR PORTOS AO LONGO DO RIO E DO CANAL
-
-
PROTEGER E PRESERVAR INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE EXISTENTE
INFRAESTRUTURA E REDES
ENERGIA A cidade da era termo-industrial depende muito do abastecimento energético, como vimos antes, a explosão demográfica, e espacial só se tornou possível por conta das gigantescas quantidades de energias que encontramos. Hoje as diversas ameaças prometem dificultar o acesso às mesmas quantidades de energia. A disponibilidade de petróleo, carvão, gás etc. depende da disponibilidade de capital que permite sua exploração, no caso de um colapso financeiro esse capital simplesmente deixa de existir impedindo sua exploração e transformação. Contudo o Brasil optou por uma produção elétrica predominantemente renovável, a energia hidrelétrica como pode ser visto no mapa abaixo (fig 67).
▶︎ fig 67: Mapa do sistema elétrico brasileiro. fonte:THÉRY, Hervé; DE MELLO-THÉRY, Neli Aparecida. O sistema elétrico brasileiro.
193
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
Essa escolha é uma grande oportunidade, no entanto a centralização extrema dessas usinas acaba tornando-as vulneráveis pois elas encontram-se completamente afastadas do maiores assentamentos humanos (mais de 18 000 km de linhas de transmissão no total para a hidrelétrica do São Francisco), necessitando uma infraestrutura de transporte energético vulnerável a intempéries (subestação, cabos etc.) e pelo fato do clima estar mudando provavelmente vão enfrentar intempéries ainda mais intensas. Além disso a infraestrutura de transporte energético é dependente de numerosos recursos (minerais, metais, plástico etc.) cuja extração ou transformação não será mais garantida dificultando a manutenção de tal sistema. No caso do Recife as raras usinas de produção energéticas in-situ são usinas termoelétricas (fig 68), que dependem de matéria prima para gerar calor e portanto, energia. Ou seja, são dependentes do bom funcionamento das cadeias de abastecimentos.
SUBESTAÇÃO 0
194
USINA TÉRMICA LINHA TRANSMISSORA
500KV
LINHA TRANSMISSORA
230KV
◀ Fig 68: Mapa do sistema elétrico da região metropolitana do Recife. fonte: http:// sindat.ons.org.br/SINDAT/ Home/ControleSistema acesso em: 02/06/2019
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
TRATAMENTO DE
LIXO E RESÍDUOS
O tratamento de lixo e resíduos no grande Recife é quase completamente dependente de recursos energéticos. A quase totalidade do lixo recolhido é feita através de camiões que necessitam de combustível e é encaminhada até um aterro privado em Jaboatão dos Guararapes. Vale ressaltar no entanto que uma parte mínima é recolhida por carroceiros essa forma de recolhimento poderia portanto, ser ampliada. ¹ A grande dependência energética do sistema de tratamento pode fortalecer a transmissão vectorial das doenças, além de piorar a poluição das fontes de água e da terra portanto, é uma vulnerabilidade que pode ter efeitos devastadores sobre a população. Contudo a implantação de pequenas infraestruturas podem aliviar grandemente essa problemática, e também oferece varias oportunidades, como a produção de energia (gás) através da fermentação dos resíduos ou pela transformação destes em fertilizantes. Esses sistemas de tratamento de lixo e resíduos deveriam ser implantados in-situ para garantir autonomia. Os outros tipos de lixo também podem servir como matérias primas para outras atividades (artesanato, construção etc.).
ABASTECIMENTO DE ÁGUA A quase totalidade da água consumida no Recife vem de 4 mananciais (fig 69), ou seja, a vulnerabilidade é muito alta, pois uma contaminação de uma delas poderia ter consequências dramáticas, além disso a rede de abastecimento é dependente de grandes quantidades energéticas pelo porte das infraestruturas. A tendência centralizadora descrita por MUMFORD (1961) ocorre tanto para a centralização da produção elétrica, como na centralização do sistema de abastecimento de água ou na rede de tratamento de lixo, esgoto etc. O tamanho das infraestruturas faz com que a quantidade de energia necessária ao seu funcionamento seja igualmente muito grande. Ou seja, em caso de rupturas de abastecimento energético uma grande parte da rede de água, se não toda, deixa de funcionar, pois em vez de multiplicar as estações de tratamento e os mananciais foi escolhido centralizar e otimizar, gerando grande vulnerabilidade. De tal modo que para restabelecer o sistema de abastecimento seria necessário uma quantidade de energia provavelmente inatingível sem o auxilio do complexo industrial e financeiro.
1
MARKMAN, Luna. Apenas 0,17% dos resíduos sólidos coletados no Recife são reciclados. G1 PE.
195
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
196
0
5
10
15
20
AREA URBANIZADA SISTEMA EXISTENTE / CAPTAÇÃO ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA
SEDE URBANA ATENDIDA POR SISTEMA INTEGRADO
1 2 3 4
SIN TAPACURÁ-VÁRZEA DO UNA SIN PIRAPAMA-GURJAÚSUAPE SIN ALTO DO CÉUCAIXA D’ÁGUA SIN BOTAFOGO
Fig 69: Mapa do sistema de abastecimento de água do Recife. fonte: Compesa
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
ESTAÇÃO ELEVATÓRIA
ESTAÇÃO ELEVATÓRIA
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO
197
Fig 70: Croquis esquemático do sistema de esgoto de Recife com suas estações elevatórias. fonte: a autora
TRATAMENTO DE ESGOTO O sistema de tratamento de esgoto segue a mesma lógica das infra-estruturas anteriores, necessitando quantidades astronômicas de energia, essencialmente para alimentar as estações elevatórias (fig 70), mas com a diferença no entanto da possibilidade de gerar uma poluição imensa dos solos e das águas subterrâneas.
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
FIG
71: QUADRO DE RESUMO DAS VULNERABILIDADES E OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS RELATIVAS A CATEGORIA INFRAESTRUTURA E REDES
OBJETIVO
VULNERABILIDADES
DIRETRIZES PRELIMINARES
OPORTUNIDADES -
1 - FAVORECER UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL PACIFICA
2-
POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL
-
POSSIBILIDADE DE RUPTURAS ENERGÉTICAS (MAL FUNÇÃO HOSPITAIS, ELEVADORES ETC.)
-
INFRAESTRUTURA DE TELECOMUNICAÇÃO SENSÍVEIS A INTEMPÉRIES
-
POSSIBILIDADE DE RUPTURAS ENERGÉTICAS (MAL FUNÇÃO RADIO, TV, INTERNET ETC.)
-
-
POSSIBILIDADE DE PRODUZIR ENERGIA E ABASTECER EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS (CURSOS DE ÁGUA)
-
3-
POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
REDE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA É DEPENDENTE DA ENERGIA ELÉTRICA
EXISTÊNCIA DE UMA REDE ALTERNATIVA PARA RECOLHIMENTO DO LIXO (CARROCEIROS)
-
REDE DE ESGOTO É DEPENDENTE DA ENERGIA ELÉTRICA
RIOS E CANAIS PODEM GERAR ELETRICIDADE (MOINHOS)
-
UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS COMO MATÉRIA PRIMA DE OUTRAS ATIVIDADES
-
4-
FORTALECER E - RISCO DE POLUIÇÃO DOS RESTAURAR OS SOLOS E DA ÁGUA ECOSISTEMAS
-
5-
PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
6-
PREVER ROTAS DE FUGAS
-
UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS COMO FERTILIZANTES RUPTURAS ENERGÉTICAS REDUZEM POLUIÇÃO SONORA E LUMINOSA
POSSIBILIDADE DE DISFUNÇÃO DA REDE DE ESGOTO (POLUIÇÃO DOS SOLOS - EPIDEMIAS)
-
GRANDE CENTRALIZAÇÃO DO TRATAMENTO DE RESÍDUOS (POLUIÇÃO)
-
POUCOS MANANCIAIS DE ÁGUA (EPIDEMIAS)
-
POSSIBILIDADE DE RUPTURAS ENERGÉTICAS (TRANSPORTES E COMUNICAÇÃO)
PRESENÇA DE CARROCEIROS
7
DIRECIONAR A ENERGIA DISPONÍVEL PARA EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS
-
PRESERVAR SISTEMA DE BAIXA TECNOLOGIA RELATIVOS A COMUNICAÇÃO (CORREIOS, SINOS DE IGREJA, PAINÉIS DE AVISO ETC.)
-
CONSOLIDAR PRESENÇA DE CARROÇAS (ABRIGOS DE CARROÇA, ÁREA PARA CAVALOS ETC.)
-
CRIAR VARIEDADE DE FONTES DE ÁGUA POTÁVEL
-
CRIAR FONTE ALTERNATIVAS DE ENERGIA (BIOGÁS, MOINHOS ETC.)
-
CRIAR SISTEMA DE TRATAMENTO DOS RESÍDUOS
-
IMPLANTAR ESPÉCIES VEGETAIS DESPOLUENTE
-
IMPLANTAR ESPÉCIES VEGETAIS DESPOLUENTE
-
CRIAR VARIEDADE DE FONTE DE ÁGUA POTÁVEL (EVITAR TRANSMISSÃO DOENÇAS PELA ÁGUA)
-
DELIMITAR ÁREAS DE QUARENTENAS LONGE DOS CURSOS DE ÁGUA
-
PREVER TRANSPORTES ENERGETICAMENTE AUTÔNOMOS
/
-
RELOCAR PESSOAS MORANDO NOS PAVIMENTOS ACIMA DE ANDARES
PRESERVAR INFRAESTRUTURA DE TELECOMUNICAÇÃO (ANTENAS ETC.)
PRESENÇA DE CARROCEIROS
-
POSSIBILIDADE DE RUPTURAS ENERGÉTICAS
TRANSFERIR HOSPITAIS PARA EDIFÍCIOS VIÁVEIS SEM ELETRICIDADE
-
198
-
INDIVÍDUOS E CORPO SOCIAL
INDIVÍDUOS A população presente no território de estudo é repartida espacialmente de modo muito desigual, podemos ver que entre as áreas de maior densidade quase todas localizam-se na beira do rio e portanto, são sujeitas a enchentes. Por cima disso estão localizadas nos bairros mais pobres e são constituídas em maioria por assentamentos informais com sistemas de saneamento básico precários ou inexistentes, ou seja, existe uma imensa vulnerabilidade de tornarem-se ponto de disseminação de doenças. A IPCC estima que atualmente na America do Sul já existe um risco muito alto de doenças a transmissão vectorial. Por isso foi analisado a proporção de pessoas vulneráveis no território, a proporção varia de uma pessoa vulnerável a cada 5 até uma em cada 7 pessoas, sendo considerado vulnerável a pessoa abaixo de 5 anos ou acima de 60 anos. As condições de vida difíceis provocada pelo colapso vão obrigatoriamente modificar a demografia, segundo SERVIGNE e STEVENS (2015), é possível que haja um aumento da natalidade: ¹ « Mas esse aumento da natalidade que seguiria um colapso, essa ”pulsão de vida”, não poderá compensar a explosão da taxa de mortalidade. Bem ao contrario, ela contribuiria a aceleração do esgotamento dos recursos. Assim seria então a lógica de uma demografia do colapso. » « Mais ce regain de natalité qui suivrait un effondrement, cette ”pulsion de vie”, ne pourrait pas compenser l’explosion du taux de mortalité. Bien au contraire, elle contribuerait à l’accélération de l’épuisement des ressources. Telle serait donc la logique d’une démographie d’un effondrement. »
1
SERVIGNE, Pablo; STEVENS, Raphaël em «Comment tout peut s’effondrer: Petit manuel de collapsologie à l’usage des génerations présentes.»2015. p205
Ou seja, é provável que a população no território diminui, devido a doenças, fome, conflitos ou êxodo urbano. De fato é previsível que populações com riquezas acumuladas desertam a cidade por aldeias, casas de campo etc. Os habitantes com condições mais precárias no entanto permanecerão na cidade, e nesse caso disporão de grandes quantidades de espaços edificados, incluindo habitações abandonadas, escritórios etc. o que se tornaria uma oportunidade para redistribuir as populações moradoras de áreas sujeitas a enchentes ou insalubres.
199
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
PAISSANDÚ 507 habitantes 19% da população é vulnerável
BOA VISTA 14778 habitantes 21% da população é vulnerável
renda media: 5115,06 R$
renda media: 3618,45R$
200
ILHA DO LEITE 1007 habitantes 19% da população é vulnerável
renda media: 3024,11 R$ COELHOS 7633 habitantes 16% da população é vulnerável
renda media: 898,41R$
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
MAPA DE DENSIDADE
POPULACIONAL E DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS Fig 72: elaborado pela autora
DENSIDADE POPULACIONAL (PESSOAS POR HECTARE) DE
0 ATÉ 1
ENTRE
1 ATÉ 10
ENTRE
10 ATÉ 50
ENTRE
50 ATÉ 100
ACIMA DE
100
LIMITES DOS BAIRROS
201
PROPORÇÃO DE PESSOAS POR IDADE (dados IBGE 2017)
BOA VISTA
3% 19%
78%
COELHOS
8% 8%
84%
ILHA DO LEITE
4% 15%
81%
PAISSANDÚ
2% 17%
81%
0
20
40
60
80
100
0 até 5 anos mais de 60 anos entre 5 e 60 anos ESCALA 1:10 000 0
100M
200M
300M
400M
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
CORPO SOCIAL O corpo social é constituído por diversos indivíduos que compõe uma entidade, ou seja, eles aceitam cooperar entre-si. A capacidade dos indivíduos cooperarem entre-si é inerente ao ser humano pois somos animais sociais, no entanto existem algumas ameaças a essa cooperação. Para WILKINSON & PICKETT (2010), a desigualdade social é uma delas, e no caso do território analisado, as rendas variam drasticamente podendo sextuplicar de um bairro para o outro. A desigualdade social é fonte de muitas problemáticas como a violência física e psicológica, ela gera problemas de saúde, sentimento de injustiça etc. Ou seja, é pólvora para causar desintegração social. O Brasil, e Recife especificamente já se encontra numa situação de grande desigualdade social com suas consequências visíveis através da taxa de homicídios de 43,91 mortos a cada 100 000 habitantes em 2018¹. Essa desigualdade social provavelmente se perpetuará após o colapso de maneira diferente. Outra fonte de fragilização do corpo social é a taxa de desemprego, no Recife, ela é de 16,3% (1 ativo a cada 7) em 2018². O desemprego além da sua consequência financeira obvia, tende a isolar as pessoas, cortando-as das interações sociais e dos necessários laços sociais e afetivos que garantem um corpo social mais unido. Por isso a taxa de desemprego de Recife é uma vulnerabilidade. 202
Por outro lado, o território em estudo apresenta grandes oportunidades, pois possui numerosas comunidades, que também são variadas. Destacando principalmente as comunidades de base, religiosas, hospitalares e educativas. Essa forte presença pode ajudar a manter coesão social principalmente após o colapso politico. E iniciando algum tipo de organização, para permitir que o corpo social se auto-organize. Essa possibilidade de auto-organização vai necessitar espaços cidadãos, onde as diversas comunidades, como também os indivíduos isolados possam planejar seu futuro, suas próprias ações etc. no âmbito de preservar a coesão social e evitar fome, guerras e doenças.
1
GLOBO. Monitor da violência. 2
ALBUQUERQUE, Juliana. Taxa de desemprego cai em Pernambuco. Folha de Pernambuco.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
LEGIÃO DA BOA VONTADE
ESCOLA MUNICIPAL REITOR JOÃO ALFREDO
203
MAPA DAS COMUNIDADES EDUCATIVA E CULTURAL
COMUNIDADES DE BASE ROQUE SANTEIRO I
Fig 73: elaborado pela autora
BECO DO ESPARADRAPO
RELIGIOSA
ROQUE SANTEIRO II
SETE
ONG E ASSOCIAÇÕES
ROQUE SANTEIRO III
CAMPINHO
HOSPITALAR
BOXES
BEIRA RIO
SINDICATOS E PARTIDOS
CAMPINA DOS COELHOS
VILA NOVA
POLÍTICOS REQUIPE 0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
FIG
74: QUADRO DE RESUMO DAS VULNERABILIDADES E OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS RELATIVAS A CATEGORIA INDIVÍDUOS E CORPO SOCIAL
OBJETIVO
VULNERABILIDADES -
GRANDE POPULAÇÃO EM ÁREA DE RISCO SANITÁRIO E/OU AMBIENTAL GRANDE DESIGUALDADE SOCIAL
UMA - GRANDE PROPORÇÃO DE - IMPORTANTE REDE DE COMUNIDADES PESSOAS VULNERÁVEIS CONVIVÊNCIA - VARIEDADE DA REDE NO BAIRRO DA BOA SOCIAL PACIFICA COMUNITÁRIA VISTA
1- FAVORECER
-
GRANDE NUMERO DE POBRES URBANOS
-
ALTA TAXA DE HOMICÍDIOS E DESEMPREGO
DIRETRIZES PRELIMINARES
OPORTUNIDADES -
ATRIBUIR ABRIGO SEGURO A TODOS OS MORADORES DA COMUNA
-
RELOCAR EM PRIORIDADE PESSOAS VULNERÁVEIS QUE MORAM EM ÁREAS DE RISCO
-
PRESERVAR OU CRIAR ESPAÇOS CÍVICOS DE REUNIÃO
-
MELHORAR O ESPAÇO DE CONVÍVIO AO AR LIVRE
-
CONSOLIDAR OS ESPAÇOS DE TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO
-
CALCULAR ÁREA DE CULTIVO NECESSÁRIA PARA SUSTENTAR POPULAÇÃO ATUAL
-
IMPLANTAR A ÁREA DE CULTIVO NECESSÁRIA
-
RELOCAR POPULAÇÕES QUE MORAM NOS ESPAÇOS NATURAIS A PRESERVAR
- IMPORTANTE DENSIDADE DE POPULAÇÃO
2-
204
POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL
/
3- POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
-
4-
-
FORTALECER E RESTAURAR OS ECOSISTEMAS
5-
PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
GRANDE DENSIDADE DE POPULAÇÃO
-
GRANDE COMUNIDADE EDUCATIVA
-
REDE DE COMUNIDADE PODE AUMENTAR POSSIBILIDADES DE COMUNICAÇÃO (IGREJAS)
-
GRANDE DENSIDADE DE POPULAÇÃO NA BORDA DO RIO
ÊXODO URBANO
/
- GRANDE NUMERO DE
PESSOAS COM MORADIAS INSALUBRES
-
-
GRANDE NUMERO DE PESSOAS VULNERAVEIS
GRANDE COMUNIDADE HOSPITALAR
- DELIMITAR CEMITÉRIOS - RELOCAR PESSOAS PARA MORADIAS SEGURAS
-
6-
PREVER ROTAS DE FUGAS
-
GRANDE DENSIDADE DE POPULAÇÃO
-
IMPORTANTE REDE DE COMUNIDADES
-
DELIMITAR FRONTEIRAS PARA QUARENTENA DA COMUNA ELABORAR PLANO DE FUGA JUNTO COM AS COMUNIDADES EXISTENTES APOIAR-SE NAS RELAÇÕES COMUNITÁRIAS PARA ENCONTRAR LOCAL DE REFUGIO (SINDICATOS NACIONAIS, REDES DE RELIGIÕES ETC.)
ABRIGO E CONVÍVIO
ABRIGO Como foi abordado antes existe um risco elevado do abastecimento energético ser rompido, portanto, o gabarito das edificações pode tornar se um obstaculo para sua utilização. Pode-se imaginar que edificações de gabaritos até 4 pavimentos serão as mais confortáveis e portanto, as mais viáveis. Aquelas de 5 a 10 pavimentos ainda podem ser consideradas viáveis com exceção dos hospitais pois requerem transporte de pessoas deitadas, ou feridas. Por último, as edificações com mais de 10 pavimentos entrarão em desuso a partir do tal pavimento pois sem elevador a probabilidade das pessoas subirem diariamente mais de 10 pavimentos parece escassa. Na área de estudo portanto, há uma grande proporção de edificações viáveis (térreo+4) já que representam 97% sendo que os outro 3% poderão ser utilizado também mas apenas os pavimentos mais baixos. Isso leva a pensar que será necessário transferir os moradores dos pavimentos mais altos para outras edificações. Essa grande quantidade de edificações baixas leva a pensar também que populações dos edifícios verticais do entorno possam se deslocar para a área de estudo. Por outro lado, o mapa de gabarito na pagina seguinte (fig 75) demonstra que dois hospitais possuem mais de 10 pavimentos, o Hospital UNIMED III, e parte do Hospital Esperança. Sendo que perderiam bastante espaço de atendimento no caso de rupturas de abastecimento energético. Todos os outros hospitais com exceção do IMIP possuem entre 5 e 10 pavimentos o que para moradia pode ser considerado viável mas no caso de hospital é muito mais problemático. Consequentemente deve-se pensar em localizações alternativas para os hospitais. Ainda mais lembrando-se do risco de propagação de doenças a transmissão vectorial que pode gerar um fluxo imenso em direção dos hospitais. Ao comparar o mapa de gabarito (fig 75) e o mapa de edifícios simbólicos e espaços públicos (fig 76) pode ver também que os edifícios simbólicos possuem predominantemente gabaritos viáveis portanto, deveriam ser usado prioritariamente para serem preservados, mas também deveriam ter função social para garantir melhor coesão social.
205
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
206
MAPA DE GABARITO Fig 75: elaborado pela autora
TÉRREO
21 A 30 PAVIMENTOS
2 PAVIMENTOS
31 A 40 PAVIMENTOS
67 %
3 A 4 PAVIMENTOS 5 A 10 PAVIMENTOS
7 % 1 % 2 %
11 A 20 PAVIMENTOS 0
100M
200M
300M
400M
23 %
ESCALA 1:10 000
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
IGREJA DA SANTA CRUZ IGREJA SÃO GONÇALO
207
MAPA DE EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS E ESPAÇOS PÚBLICOS Fig 76: elaborado pela autora
EDIFÍCIOS DE IMPORTÂNCIA
ESPAÇOS PÚBLICOS
SIMBÓLICA
MERCADO
HOSPITAIS
PRAÇAS OU PARQUES
EDIFÍCIOS DE USO
IMÓVEIS ESPECIAIS DE PRESERVAÇÃO (IEP) ZONA ESPECIAL DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA (ZEPH)
CAMPO DE FUTEBOL
EDUCACIONAL
EDIFÍCIOS RELIGIOSOS SEDE DE ONG E
VIAS
ASSOCIAÇÕES 0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
CONVÍVIO Em relação ao espaço de convívio existe uma grande escasseza, há pouquíssimas praças e parques e dois campos de futebol. Essa falta de espaço de convívio é uma vulnerabilidade, pois para garantir uma boa coesão social é necessário que haja lugares de convívio público, que pertence a todos sem serem dependentes de comunidades. Ou seja, deve haver locais onde diversas comunidades possam se encontrar mas também pessoas que não fazem parte de comunidades preexistentes. Por outro lado há uma quantidade importante de edifícios simbólicos, muitos deles abrigam organizações comunitárias (religiosa, educacional etc.) mas a importante área histórica da Boa Vista não depende de nenhuma comunidade especifica e portanto, tem um peso simbólico universal e pode servir como catalizador para melhorar a convivência de todos.
208
O ideal no entanto seria a existência de uma rede de espaços de convívio conectando os diversos edifícios simbólicos, mas atualmente apenas são conectados por vias que não apresentam muita qualidade espacial. As vias funcionam apenas como locais de passagem principalmente para carros e no caso de ruptura das cadeias de abastecimento energético se tornariam desertas, ou superdimensionadas para o fluxo permanecente. Portanto, essa rede viária poderia ser repensada para acolher funções mais úteis no caso de um colapso sistêmico global, como por exemplo serem transformadas em espaços produtivos e de convívio.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
FIG
77: QUADRO DE RESUMO DAS VULNERABILIDADES E OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS RELATIVAS A CATEGORIA ABRIGO E CONVÍVIO
OBJETIVO
VULNERABILIDADES
DIRETRIZES PRELIMINARES
OPORTUNIDADES -
-
1- FAVORECER
UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL PACIFICA
MUITOS EDIFÍCIOS INVIÁVEIS SE HOUVER RUPTURA DE ABASTECIMENTO ENERGÉTICO NA ILHA DO LEITE E EM PAISSANDÚ
- POUCO ESPAÇO DE CONVÍVIO
FORTALECER E RESTAURAR OS ECOSISTEMAS
5-
PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
6-
MAIORIA DOS EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS SÃO VIÁVEIS SE HOUVER RUPTURA DE ABASTECIMENTO ENERGÉTICO
-
GRANDE QUANTIDADE DE EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS
-
IMPORTANTE ÁREA HISTÓRICA
/
-
3-
4-
-
-
-
-
POUCOS ESPAÇOS LIVRES
ATRATIVOS (GERAÇÃO DE TRAFEGO°
-
IMPORTANTE ÁREA HISTÓRICA POSSIBILIDADE DE TRANSFORMAR A IMPORTANTE REDE VIÁRIA EM ÁREAS PRODUTIVAS
PRESERVAR OS EDIFÍCIOS ATRATIVOS PRESERVAR A ÁREA HISTÓRICA
209
-
POUCOS ESPAÇOS LIVRES AFASTADOS DO ASSENTAMENTOS HUMANOS (POLUIÇÃO SONORA E LUMINOSA)
/
-
6 SE HOUVER RUPTURA DE ABASTECIMENTO ENERGÉTICO
-
MUITOS EDIFÍCIOS TÉRREO SUJEITO A ALAGAMENTOS
-
EDIFÍCIOS MUITO ALTO PODEM DESABAR (EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS E FALTA DE MANUTENÇÃO)
-
SIMBÓLICOS
TIRAR A PAVIMENTAÇÃO DAS REDES VIÁRIAS IMPLANTAR PARQUES VIÁRIOS
POUCOS PARQUES
- 5 HOSPITAIS INVIÁVEIS DE -
PREVER ROTAS DE FUGAS
CRIAR NOVOS ESPAÇOS DE HABITAÇÃO PARA POPULAÇÃO DE EDIFÍCIOS INVIÁVEIS OU PARA MIGRANTES DAR FUNÇÃO SOCIAL AOS EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS SEM USO PRESERVAR FUNÇÕES SOCIAIS E OU SIMBÓLICAS EXISTENTES CRIAR ESPAÇO DE CONVÍVIO E ESPAÇO CÍVICO MELHORAR ESPAÇOS DE CONVÍVIO EXISTENTES
- PRESERVAR EDIFÍCIOS
- IMPORTANTE REDE VIÁRIA - MUITOS EDIFÍCIOS
2- POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
PREDOMINÂNCIA DE GABARITOS VIÁVEIS SE HOUVER RUPTURA DE ABASTECIMENTO ENERGÉTICO
POUCOS ESPAÇOS DE CONVÍVIO PARA ORGANIZAR EVACUAÇÃO
GRANDE NUMERO DE EDIFÍCIOS PARA TRANSFERIR HOSPITAIS
CONSOLIDAR PARQUES EXISTENTES
DELIMITAR ÁREAS DE QUARENTENA QUANDO PRECISO
- ADEQUAR OS LOCAIS DE TRATAMENTO A RUPTURAS DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
- IMPORTANTE REDE VIÁRIA - EXISTÊNCIA DE ALGUNS EDIFÍCIOS MÉDIOS E ALTOS (ABRIGO ENCHENTE)
-
NUMEROSAS IGREJAS PODEM SERVIR DE ALARMES PARA EVACUAÇÃO
-
UTILIZAR EDIFÍCIOS MÉDIOS PARA ABRIGO ENCHENTE
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
210
MAPA DE USOS Fig 78: elaborado pela autora
HABITAÇÃO FORMAL
EDUCACIONAL
HABITAÇÃO INFORMAL
ESTACIONAMENTO
USO MISTO
COMERCIO
CULTURAL
SERVIÇO
INSTITUCIONAL
SAÚDE
29 % 8 %
12 % 2 %
3 % 8 % 3 %
16 %
17 %
RELIGIOSO 0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
3 %
ATIVIDADES E FLUXOS
ATIVIDADES Na área de estudo podemos observar a predominância de usos habitacionais (fig. 78). Em segunda e terceira posição são os usos comerciais e de serviço que no caso do colapso financeiro e comercial deixarão de funcionar, ou seja, causara um desemprego de massa tanto na área como de maneira mais geral na cidade toda. A grande maioria das atividades da área faz parte do setor terciário, ou seja, depende do setor secundário (industrial) que por sua vez depende do setor primário (matérias primas). Essa completa dependência econômica é uma grande vulnerabilidade pois se houver intempéries ou choques climáticos e ambientais por um tempo consequente o abastecimento alimentício pode ser nulo e ter consequências gravíssimas. Além da dependência alimentícia, a maioria dos usos dependem de fluxos externos de matérias primas ou de mercadorias tornando a infraestrutura de transporte a condição sem a qual nenhuma economia é possível. Essa vulnerabilidade pode, no entanto, ser amenizada melhorando a independência alimentícia, seja, implementando áreas de cultivo, portos de pesca, sistemas de armazenamento de grãos etc. Por outro lado a existência do mercado da Boa Vista cuja dimensão simbólica é grande pode ser útil para atrair comerciantes, pois o mercado faz parte do imaginário comum de muitos Recifenses. Entre os outros usos bastante representados na área pode se citar a saúde, a educação, os usos religiosos e institucionais. Desses, o mais dependentes de fluxos externos é a saúde, pois necessita remédios, tecidos, instrumentos, máquinas etc. No entanto o material médico atualmente é grandemente dependente do complexo industrial e vai precisar evoluir ou voltar a técnicas e remédios mais ancestrais. Os usos institucionais provavelmente não terão muita função após o colapso politico, mas pode-se imaginar que se tornarão espaços acolhedores dos novos tipos de organização social e politica.
211
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
212
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
MAPA DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE
Fig 79: elaborado pela autora
RECURSOS NATURAIS QUE PERMITEM TRANSPORTE
RIO OCEANO INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE
CANAL VIAS TRILHOS PONTES
213
EDIFÍCIOS GERADORES DE FLUXOS
MERCADO HOSPITAIS
ESCALA 1:15 000 0
150M
300M
450M
500M
CAPÍTULO 7: ANÁLISE DO TERRITÓRIO
FLUXOS A possibilidade de entrar e sair do território deve ser garantida, pois como abordamos, o território é muito dependente da entrada de matérias primas, alimentos etc. mas também, por ter grandes hospitais vai gerar deslocamentos de pessoas, sem falar da possível necessidade de evacuar no caso de eventos climáticos extremos por exemplo. A área possuiu bastantes oportunidades, pois é rodeado pelo rio Capibaribe, o canal da avenida Agamenon Magalhães, e encontra-se a proximidade da fachada marítima. Historicamente o bairro da Boa Vista e dos Coelhos possuíam portos, perto do antigo polo madeireiro situado na extremidade do bairro dos Coelhos e da Boa Vista. Essas infraestruturas não existem mais, mas podem ser repensada para melhorar a conectividade da área, e também para restaurar algum tipo de setor segundaria (transformação da matéria prima). Por outro lado permanecem trilhos de trem e metrô que mesmo sem abastecimento elétrico podem ser utilizados. Esses trilhos são acessíveis atravessando pontes, a multiplicidade das pontes é mais uma fonte de segurança pois é bastante improvável que todas desmoronem de uma vez, garantindo um acesso continuo.
214
Por último deve se pensar na formas de mobilidade quotidianas que deverão ser independentes de recursos, provavelmente haverá mais pedestres, bicicletas, cavalos, carroças etc.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
FIG
80: QUADRO DE RESUMO DAS VULNERABILIDADES E OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS RELATIVAS A CATEGORIA ATIVIDADES E FLUXOS-1
OBJETIVO
VULNERABILIDADES
DIRETRIZES PRELIMINARES
OPORTUNIDADES -
1- FAVORECER
USO RELIGIOSO E CULTURAL BEM IMPLANTADO NA ÁREA
UMA - NENHUMA ATIVIDADE DO SETOR PRIMÁRIO CONVIVÊNCIA - ABANDONO DOS (COMPETIÇÃO PELA SOCIAL PACIFICA EDIFÍCIOS EMPRESARIAIS SUBSISTÊNCIA)
-
MELHORAR VISIBILIDADE DOS EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS, CULTURAIS E CÍVICOS
-
UTILIZAR EDIFÍCIOS EMPRESARIAS COMO ABRIGO PARA PESSOAS SEM TETO OU COM MORADIAS INSALUBRES
-
CRIAR VARIEDADE DE TRANSPORTES A MOBILIDADE SUAVE (NÃO MOTORIZADO)
-
CRIAR PORTOS
GERA ESTOQUE DE ABRIGOS
2-
POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL
3-
POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO
4-
FORTALECER E RESTAURAR OS ECOSISTEMAS
-
NENHUMA ATIVIDADE DO SETOR PRIMÁRIO
POSSIBILIDADE DE CRIAR ATIVIDADES DE PESCA
-
-
TOTAL DEPENDÊNCIA A FLUXOS EXTERNOS DE MATÉRIAS PRIMAS (DO SETOR PRIMÁRIO)
ATRATIVIDADE DO MERCADO DA BOA VISTA
-
ATRATIVIDADE DOS HOSPITAIS
TRILHOS LOCALIZADOS NA FRENTE MARÍTIMA
-
EXISTÊNCIA DE TRILHOS
-
INEXISTÊNCIA DE PORTOS FLUVIAIS
-
RECURSOS NATURAIS QUE PERMITEM TRANSPORTE FLUVIAL E MARÍTIMO
-
-
6-
PREVER ROTAS DE FUGAS
HOSPITAIS NA PROXIMIDADE DOS CURSOS DE ÁGUA (ENCHENTES)
-
PROXIMIDADE COM O RIO PODE PIORAR TRANSMISSÃO VETORIAL DE DOENÇAS
-
-
HABITAÇÕES INSALUBRES NA BORA DO RIO
-
5-
PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS
NENHUMA ATIVIDADE DO SETOR PRIMÁRIO (DEPENDÊNCIA A FLUXOS EXTERNOS)
TRILHOS LOCALIZADOS NA FRENTE MARÍTIMA
GRANDE QUANTIDADE DE PONTES
215
-
CRIAR UM SETOR PRIMÁRIO
-
FORTALECER E RESTAURAR O SETOR SECUNDÁRIO (POLO MADEIREIRO)
-
MELHORAR INDEPENDÊNCIA ALIMENTÍCIA
POSSIBILIDADE DE CRIAR ATIVIDADES DE PESCA
/
- EDIFÍCIOS GARAGEM PODEM ABRIGAR HOSPITAIS (RAMPAS)
-
GRANDE QUANTIDADE DE PONTES
-
RECURSOS NATURAIS QUE PERMITEM TRANSPORTE FLUVIAL E MARÍTIMO
FORTALECER E RESTAURAR O SETOR SECUNDÁRIO (POLO MADEIREIRO)
-
LIMPAR AS ÁREAS POLUÍDAS
-
AFASTAR OS CENTROS HOSPITALARES DO RIO
-
CRIAR DIQUES OU TALUDES AO REDOR DOS CENTROS HOSPITALARES VULNERÁVEIS A ENCHENTES
-
CRIAR VARIEDADE DE TRANSPORTES A MOBILIDADE SUAVE (NÃO MOTORIZADO)
-
CRIAR PORTOS
8
MELHORANDO A RESILIÊNCIA U R B A N A PÓS-COLAPSO
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
218
PREÂMBULO
O presente capítulo trata da segunda parte da simulação de implantação da metodologia no território, onde as diretrizes preliminares identificadas na análise do território vão ser complementada e organizada para produzir diretrizes definitivas e as consequentes ações a serem tomadas. No ideal esta etapa é elaborada em conjunto com todos os habitantes da comuna, e se baseia nas habilidades e nos conhecimentos dos moradores. Por tratar-se apenas de uma simulação, neste caso, as diretrizes e ações foram definidas pela autora, ou seja, as decisões tomadas aqui, representam apenas um único ponto de vista e na realidade teriam sido contestada e/ou complementada pela assembleia. Para resumir, o seguinte exercício serve apenas para ilustrar um possível resultado da aplicação da metodologia no território em analise. A metodologia, como abordamos anteriormente, não pretende padronizar as comunas, apenas reorientar o planejamento urbano para o desenvolvimento da resiliência urbana pós-colapso permitindo especificidades e singularidades dentro de cada uma delas. Para iniciar esse exercício, vale relembrar alguns aspectos. O contexto geral, é aquele de um colapso sistêmico global, caracterizado pelo colapso financeiro, comercial e politico. Com base nisso, é preciso insistir que as legislações não possuem mais valor, pois a autoridade governamental é grandemente enfraquecida ou inexistente. Vale lembrar também que de modo geral, a gravidade do contexto social, devido a fome, pobreza, desigualdade social etc. provoca a emergência de organizações alternativas que tenderão a contestar a ordem vigente, principalmente no que diz respeito a propriedade privada. Portanto, o cenário atual encaixa-se na hipótese de uma desconsideração pelas leis atuais, tanto do ponto de vista urbanístico, como de cunho mais geral como a propriedade privada por exemplo. A desconsideração da propriedade privada não significa o fim da propriedade, mas sim, a emergência de uma propriedade de uso, ou seja, terrenos ou edifícios sem uso social, ou abandonados se tornam a propriedade de quem os utiliza, independentemente dos usuários terem registros de propriedade ou não. No que diz respeito aos espaços ditos como públicos, a mesma lógica será aplicada, podendo ser transformados livremente sem consideração pelas legislações.
Foto paginas anteriores Fig 81: Mapa da área de estudo. fonte: elaborado pela autora
As partes a seguir vão apresentar inicialmente, todas as diretrizes e ações para o objetivo especifico, e em seguida cada diretriz será detalhada junto com suas ações, implementando-as no território de estudo.
219
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
IDENTIFICAR ÁREAS SEGURAS E INSEGURAS DA COMUNA (RISCO SANITÁRIO E/OU AMBIENTAL)
ATRIBUIR ABRIGO SEGURO A TODOS OS MORADORES DA COMUNA
IDENTIFICAR EDIFÍCIOS ABANDONADOS OU VAZIOS NAS ÁREAS SEGURAS RELOCAR POPULAÇÕES VIVENDO EM ÁREAS INSEGURAS RELOCAR PESSOAS MORANDO NOS PAVIMENTOS ACIMA DE ANDARES ATRIBUIR HABITAÇÕES AOS SEM TETOS E REFUGIADOS
7
PRESERVAR OS EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS, CULTURAIS E CÍVICOS EM FUNCIONAMENTO
IDENTIFICAR EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS INVIÁVEIS SEM
CONSOLIDAR EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS CULTURAIS E CÍVICOS EXISTENTES
ABASTECIMENTO ENERGÉTICO MARCAR VISUALMENTE A IMPORTÂNCIA DOS EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS, CULTURAIS OU CÍVICOS
IDENTIFICAR EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS SEM USO E DAR-LHES FUNÇÃO SOCIAL
220
CRIAR UMA BIBLIOTECA
CRIAR NOVOS ESPAÇOS SIMBÓLICOS, CULTURAIS E CÍVICOS
CRIAR UM REGISTRO DA COMUNA (NASCIMENTOS, CASAMENTOS, ÓBITOS ETC.) CRIAR UM CEMITÉRIO CRIAR UM ORFANATO TRANSFERIR HOSPITAIS PARA EDIFÍCIOS VIÁVEIS SEM ABASTECIMENTO ENERGÉTICO
MELHORAR O ESPAÇO AO AR LIVRE
CRIAR UMA REDE DE ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA EM FUNÇÃO DAS ÁREAS HABITADAS CRIAR UMA PRAÇA PRINCIPAL PRESERVAR ARVORES EXISTENTES PLANTAR ARVORES
DIRETRIZES
AÇÕES
O B J E T I VO 1 - FAVO R E C E R U M A CO N V I V Ê N C I A S O C I A L PAC I F I C A
OBJETIVO 1: FAVORECER UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL PACIFICA O objetivo 1, procura criar um contexto no qual todos podem conviver pacificamente, ou seja, deve promover igualdade social, com acesso a moradia, a água e a terra para permitir a sobrevivência, mas deve também permitir a cidadania e uma vida cultural plena. Portanto, as diretrizes focam nos aspectos de abrigo, edifícios simbólicos, culturais e cívicos, assim como no espaço ao ar livre. As diretrizes usam como base as oportunidades e vulnerabilidades identificadas na análise do território. Em relação as oportunidades, vale lembrar algumas delas, apontamos a existência de uma intensa rede de comunidades, com grande variedade, sendo religiosas, comunidades de base, comunidade hospitalar ou educacional entre outras. Identificamos também um importante tecido edificado com predominância de gabaritos baixos evidenciando a independência energética destes. E por fim, a comuna possui uma área histórica que traz mais peso simbólico à área, o que influi bastante no desejo das pessoas de não abandonarem a área. Cada diretriz e suas ações são apresentadas na tabela ao lado (fig 82) e vão ser apresentadas individualmente a seguir, acompanhada de mapas, croquis, ou fotos, demonstrando as decisões tomadas.
◀ Fig 82: diretrizes e ações de aplicação do objetivo 1 para o território em analise. fonte: a autora
221
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
1.1 ATRIBUIR ABRIGO SEGURO A TODOS OS MORADORES DA COMUNA (FIG 83) A.
IDENTIFICAR ÁREAS SEGURAS E INSEGURAS DA COMUNA (RISCO SANITÁRIO E/OU AMBIENTAL)
As áreas inseguras do território são aquelas que apresentam um risco de alagamento, ou seja, situadas nas proximidades do Rio Capibaribe e do Canal da Avenida Agamenon Magalhães. Para definir essa área, foi delimitado um recuo de 30 metros a partir da linha topográfica situada a uma altura de 2 metro do nível médio mais alto atual do rio (maré alta). Trata-se de uma aproximação, pois não é possível determinar exatamente a área que poderia sofrer erosão, consequentemente a um aumento do nível do mar. As áreas seguras por outro lado, são aquelas que não possuem esse risco de erosão ou alagamento. B.
222
IDENTIFICAR EDIFÍCIOS ABANDONADOS OU VAZIOS NAS ÁREAS SEGURAS
Os edifícios abandonados ou vazios localizados em áreas seguras podem constituir um estoque de habitações a serem distribuídas entre os que necessitam. Podemos destacar dois tipos de edifícios abandonados ou vazios, os primeiros são aqueles que na atualidade ja encontram-se nesse estado, os outros são aqueles que são atualmente de uso comercial ou empresarial (fora artesãos), que devido ao colapso sistêmico global apresentam uma forte probabilidade de serem abandonados. C. D.
RELOCAR POPULAÇÕES VIVENDO EM ÁREAS INSEGURAS RELOCAR PESSOAS MORANDO NOS PAVIMENTOS ACIMA DE 7 ANDARES ATRIBUIR HABITAÇÕES AOS SEM TETOS E REFUGIADOS
E. As últimas três ações se inscreve na mesma ideia, e portanto, podem ser acopladas. Um vez que identificamos os edifícios abandonados podemos então utilizar o estoque de habitação para relocar as pessoas com moradias insalubres, inviáveis, ou sem moradias. Essa divisão pode ser orgânica, ou seja, os próprios habitantes escolhem ou pode ser organizada uma forma especifica de dividir os edifícios pela assembleia.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
223
ATRIBUIR ABRIGO SEGURO A TODOS OS MORADORES DA COMUNA Fig 83: elaborado pela autora
HABITAÇÕES HABITAÇÕES INSALUBRES
AREA INSEGURA
HABITAÇÕES EM ÁREA
AREA COM RISCO DE
DE RISCO AMBIENTAL HABITAÇÕES ACIMA DE 7 PAVIMENTOS
ALAGAMENTO
HABITAÇÕES ATUAIS
POSSIBILIDADES DE
RELOCALIZAÇÃO DAS POPULAÇÕES
EDIFÍCIOS SEM USO PÓS-COLAPSO EDIFÍCIOS SEM USO ATUALMENTE
SEGURAS 0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
1.2 CONSOLIDAR EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS CULTURAIS E CÍVICOS EXISTENTES (FIG 85) A.
PRESERVAR OS EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS, CULTURAIS E CÍVICOS EM FUNCIONAMENTO
Os edifícios simbólicos, culturais e cívicos devem ser preservado, sendo em uso ou sem uso, eles desempenham um papel importante na coesão social pois pertecem ao imaginário comun. Para garantir a preservação deste, é preferível que eles tenham uso, evitando dessa forma o abandono e reforçando a necessidade de manutenção. B. IDENTIFICAR EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS SEM USO E DARLHES FUNÇÃO SOCIAL
Os edifícios simbólicos sem uso devem receber prioritariamente os uso de função social, tal como uso habitacional, uso cultural ou cívico. No caso do território existe diversas edificações de importância históricas sem uso, como a CILPE ou casa tradicionais da década de 1920-30. ◀ Fig 84: Exemplo de edifícios sem uso atualmente na comuna.
224
A: edifício abandonado da rua dos Prazeres. fonte: Google Earth A
B
B: Usina Higienizadora de Leite, Luiz Nunes, Recife, 1934. fonte: http:// www.vitruvius.com.br/ revistas/read/arquitextos/ 11.131/3826 acesso: 16/05/2018 C: Antiga fabrica da CILPE atualmente. fonte: http:// mapio.net/pic/ p-3570069/ acesso 16/05/2018 C
C. IDENTIFICAR EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS INVIÁVEIS SEM ABASTECIMENTO ENERGÉTICO
Os edifícios de importância simbólica inviáveis sem abastecimento energético são hospitais, os edifícios possuem mais de 5 pavimentos e se tornam portanto, precário sem elevadores, necessitando a adaptação deste (transferir os andares mais altos para os andares de estacionamento por exemplo) ou a transferencia para outros edifícios em alguns casos.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
REGISTRO
ORFANATO CEMITÉRIO
C
B
BIBLIOTECA
A
A B
D
C D
225
CONSOLIDAR EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS CULTURAIS E CÍVICOS EXISTENTES
ESPAÇOS DE IMPORTÂNCIA SIMBÓLICA CÍVICO HOSPITAIS CULTURAL NOVOS HOSPITAIS EDUCACIONAL HOSPITAIS EM ÁREA AREA HISTORICA INSEGURA HOSPITAIS A RELIGIOSO TRANSFERIDOS HOSPITAIS COM MAIS CEMITÉRIO DE 5 PAVIMENTOS AREA INSEGURA 0
100M
200M
300M
400M
Fig 85: elaborado pela autora
PRAÇA CENTRAL PRACINHAS EXISTENTES PRACINHAS NOVAS EDIFÍCIOS SEM USO ATUALMENTE QUE DEVEM RECEBER FUNÇÃO SOCIAL
EDIFÍCIOS SEM USO PÓSCOLAPSO QUE DEVEM RECEBER FUNÇÃO SOCIAL
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
D.
MARCAR VISUALMENTE A IMPORTÂNCIA DOS EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS, CULTURAIS OU CÍVICOS
Os edifícios de importância simbólica devem refletir essa importância, para evitar que sejam invadidos ou saqueados, pois é previsível que a falta de recursos, moradias etc. leve a invasão de edifícios com aparência abandonada, portanto, devemos prevenir esse risco marcando visualmente a utilidade dos edifícios.
1.3 CRIAR NOVOS ESPAÇOS SIMBÓLICOS, CULTURAIS E CÍVICOS (FIG 85) A. CRIAR UMA BIBLIOTECA B. CRIAR UM REGISTRO DA COMUNA C. CRIAR UM CEMITÉRIO D. CRIAR UM ORFANATO As 4 primeiras ações concernem a implantação de novos usos nos edifícios de importância simbólica identificadas, esses usos foram estabelecido procurando adaptar o programa de cada uso aos edifícios disponíveis. A reciclagem de edifícios preexistentes além de sustentável será muito provavelmente inevitável pois a construção de novos edifícios será dificultada pela falta de materiais de construção, combustível e energia.
226
E.
TRANSFERIR HOSPITAIS PARA EDIFÍCIOS VIÁVEIS SEM ABASTECIMENTO ENERGÉTICO
Os hospitais foram transferido e repartido através do território para atender toda a comuna.
1.4 MELHORAR O ESPAÇO AO AR LIVRE (FIG 86) A.
PRESERVAR OS ESPAÇOS DE CONVÍVIO AO AR LIVRE EXISTENTES CRIAR UMA REDE DE ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA
B. Os espaços de convívio existentes devem ser conservado e a partir deles foi criada uma rede continua de espaços de permanência na parte ativa da comuna. C. CRIAR UMA PRAÇA PRINCIPAL A praça central está localizada atras do hospital IMIP, entre os polos habitacionais mais denso e as infraestruturas de transporte. D. PRESERVAR ARVORES EXISTENTES E. PLANTAR ARVORES As arvores permitem melhorar bastante o espaço ao ar livre pois promovem maior conforto ambiental portanto, devem se preservar as existentes e implantar novas arvores, para favorecer a permanência das pessoas
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
227
MELHORAR O ESPAÇO AO AR LIVRE Fig 86: elaborado pela autora
ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA PRAÇA CENTRAL PRACINHA TERRENO DE FUTEBOL
ÁREA ATIVA HABITAÇÕES
PARQUE NUTRITIVO PARQUE VIARIO 0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
DELIMITAR ÁREAS ATIVAS E PASSIVAS
DELIMITAR ÁREAS ATIVAS DELIMITAR ÁREAS PASSIVAS
CONSOLIDAR A ÁREA ATIVA DA COMUNA
PROTEGER E PRESERVAR INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE EXISTENTE
CRIAR NOVA INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE
PRESERVAR A ÁREA HISTÓRICA PRESERVAR OS EDIFÍCIOS ATRATIVOS
CRIAR ÁREAS DE TAMPÕES AO REDOR DAS PONTES DELIMITAR RUAS QUE DEVEM PERMANECER PAVIMENTADAS PARA ACESSO DE VEÍCULOS PESADOS (EX: HOSPITAIS, CLINICAS ETC.)
CRIAR PORTOS AO LONGO DO RIO E DO CANAL CONSTRUIR NOVA PONTE CRIAR INFRAESTRUTURA PARA TRANSPORTE A CAVALO (EX: ÁREA DE REPOUSO, PAVIMENTAÇÃO SUAVE, ETC.) ADEQUAR A REDE VIÁRIA EM FUNÇÃO DOS FLUXOS E DOS USOS
228
FORTALECER MEIOS DE TRANSPORTES INDEPENDENTE DO ABASTECIMENTO ENERGÉTICO
PRESERVAR MEIOS FÍSICOS DE COMUNICAÇÃO
CRIAR NOVOS MEIOS FÍSICOS DE COMUNICAÇÃO
DIRETRIZ
CONSOLIDAR PRESENÇA DE CARROÇAS (ABRIGOS DE CARROÇA, ÁREA PARA CAVALOS ETC.) CRIAR VARIEDADE DE TRANSPORTES A MOBILIDADE SUAVE (NÃO MOTORIZADO)
CONSOLIDAR OS ESPAÇOS DE TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO PRESERVAR SISTEMA DE BAIXA TECNOLOGIA RELATIVOS A COMUNICAÇÃO (CORREIOS, SINOS DE IGREJA, PAINÉIS DE AVISO ETC.)
CRIAR PROFISSÃO DE PREGOEIRO CRIAR PAINÉIS PARA NOTICIAS CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE PAPEL (EX: ARVORES, PAPIRO ETC.)
AÇÃO
O B J E T I VO 2 - P O S S I B I L I TA R ECONOMIA LOCAL
U M A
OBJETIVO 2: POSSIBILITAR UMA ECONOMIA LOCAL O objetivo 2 trata de possibilitar uma economia local, ou seja, devemos permitir conexões entre os habitantes e entre as comunas, para tal focaremos nos transportes principalmente e nas estratégias de comunicação dentro da comuna. Durante a análise do território identificamos oportunidades em relação a infraestrutura existente de transporte, o território possui 4 pontes atravessando o rio Capibaribe e o canal. Vimos também que a presença do Rio e a proximidade do Oceano trazem benefícios no que concerne atividades pesqueiras, comércios e comunicações. Ademais observamos a existência de carroceiros que continuam atuando na área recolhendo e reciclando o lixo. Todas essa oportunidades levam a pensar que nesse aspecto, a comuna demonstrará grande resiliência pois a variedade de oportunidades é muito grande. As vulnerabilidades e oportunidades encontradas permitiram elaborar as diretrizes e ações apresentadas na tabela ao lado (fig 87).
◀ Fig 87: diretrizes e ações de aplicação do objetivo 2 para o território em análise fonte: a autora
229
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
2.1 DELIMITAR ÁREAS ATIVAS E PASSIVAS (FIG 88) A. DELIMITAR ÁREAS ATIVAS B. DELIMITAR ÁREAS PASSIVAS A área ativa agrupa os espaços que geram mais fluxos e que necessitam da intervenção humana quotidiana (hortas, escolas, portos etc.). Enquanto a área passiva agrupa as zonas naturais, as florestas, os locais acolhedores da fauna etc.
2.2 CONSOLIDAR A ÁREA ATIVA DA COMUNA A. PRESERVAR A ÁREA HISTÓRICA Como ja evocamos, a área histórica possui um peso simbólico importante, o que a torna um espaço gerador de fluxos, portanto, pertence à área ativa. Devemos preservar esse peso simbólico através do uso do edificado e da sua manutenção. B. PRESERVAR OS EDIFÍCIOS ATRATIVOS Os edifícios atrativos, tais como hospitais, escolas, museus etc. foram incluso na área ativa porque apresentam atratividade, eles também devem ser utilizados e preservados.
2.3 PROTEGER E PRESERVAR
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE EXISTENTE (FIG 230
92)
A. CRIAR ÁREAS DE TAMPÕES AO REDOR DAS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTE (PONTES) Devido ao colapso da sociedade industrializada, no primeiro momento, a manutenção das infraestruturas de transporte será de grande importância pois a reconstrução será muito difícil portanto, devemos preservar as infraestruturas existentes, no território possuímos apenas pontes e vias, no entanto na proximidade existem trilhos que podem dar lugar a uma cooperação entre comunas para a manutenção destes. B. DELIMITAR RUAS QUE DEVEM PERMANECER
PAVIMENTADAS PARA ACESSO DE VEÍCULOS PESADOS
(ver paginas a seguir)
2.4 CRIAR NOVA INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE (FIG 92) A. ADEQUAR A REDE VIÁRIA EM FUNÇÃO DOS FLUXOS E DOS USOS (FIG 89, 90, 91) Uma vez que identificamos uma área de grande fluxo (área ativa) e outro de fluxo reduzido (área passiva) podemos adequar a rede viária aos fluxos da comuna. Foram elaborados 3 tipos de vias: os parques viários, as florestas viárias, e as ruas pavimentas
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
231
ÁREA ATIVA E PASSIVA Fig 88: elaborado pela autora
ESPAÇOS SIMBÓLICOS
ESPAÇOS NOS QUAIS A INTERVENÇÃO HUMANA PODE CAUSAR DANO
CULTURAL, EDUCACIONAL E RELIGIOSO CÍVICO
ÁREA PASSIVA
AREA HISTORICA
RIO CAPIBARIBE
HABITAÇÕES
CEMITÉRIO
CANAL
SAÚDE
0
ÁREA ATIVA
AREA INSEGURA (SUJEITO A ENCHENTES) ZONA NATURAL
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
FIG 89: RUA PAVIMENTADA As ruas a permanecerem pavimentadas são aquelas que definem a fronteira da comuna, ou que encontram-se nas proximidades dos maiores hospitais, permitindo a passagem de ambulâncias, ou o abastecimento de combustíveis para grupos eletrogêneo e de material médico. SOLO NATURAL LIVRE DE VEGETAÇÃO (FAIXA DE PASSAGEM + ÁREA TAMPÃO) FAIXA JARDIM PARA ESCOAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA
PAVIMENTAÇÃO ORIGINAL PRESERVADA
FIG 90: PARQUE VIÁRIO Os parques viários constituem o modelo típico de via da comuna, eles permitem o cultivo de alimentos nas frentes das habitações, como também podem acomodar bancos, tornandose espaços de convívio e de cidadania. 232 ÁREA TAMPÃO PARA PROTEGER EDIFICAÇÕES (SOLO NATURAL LIVRE DE VEGETAÇÃO)
ESPAÇOS AJARDINADOS PARA CULTIVO DE ALIMENTO SOLO NATURAL COMPACTADO (FAIXA DE PASSAGEM)
FIG 91: FLORESTA VIÁRIA As florestas viárias são vias que permitem a produção de alimentos que não precisam de muita manutenção (algumas frutíferas, sementes etc.) como também produzem madeiras e fibras. Elas permitem o deslocamento e abrigam os espaços de vida da fauna. ÁREA TAMPÃO PARA PROTEGER EDIFICAÇÕES (SOLO NATURAL LIVRE DE VEGETAÇÃO)
FLORESTA (PODENDO COLOCAR PASSAGENS PARA PEDESTRES) SOLO NATURAL COMPACTADO (FAIXA DE PASSAGEM)
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
233
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE TIPOS DE VIA VIA PAVIMENTADA
Fig 92: elaborado pela autora
INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES
PARQUE VIARIO
PONTES EXISTENTES
FLORESTA VIÁRIA
NOVA PONTE
GERADORES DE TRAFEGO HOSPITAIS EXISTENTES
TRILHOS PORTOS
HOSPITAIS RELOCADOS 0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
B. CRIAR PORTOS AO LONGO DO RIO E DO CANAL C. CONSTRUIR UMA NOVA PONTE A longo prazo, podemos considerar a construção de novas infraestruturas de transporte como portos e pontes, que devem acomodar as novas atividades de pesca por exemplo mas também facilitar o acesso às outras comunas para fortalecer a troca de mercadorias e saberes, possibilitando uma economia local. D. CRIAR INFRAESTRUTURA PARA TRANSPORTE A CAVALO (EX: ÁREA DE REPOUSO, REVESTIMENTO DE SOLO SUAVE, ETC.) O transporte a cavalo, embora ainda existente no Recife deve receber uma infraestrutura de boa qualidade para tornar o trabalhos dos animais menos difícil. Portanto, devemos adequar a rede viária (solo natural quando possível) e delimitar áreas de descanso (nas florestas viárias).
2.5 FORTALECER MEIOS DE TRANSPORTES INDEPENDENTE DO ABASTECIMENTO ENERGÉTICO A. B. 234
CONSOLIDAR PRESENÇA DE CARROÇAS (ABRIGOS DE CARROÇA, ÁREA PARA CAVALOS ETC.) CRIAR VARIEDADE DE TRANSPORTES A MOBILIDADE SUAVE (NÃO MOTORIZADO)
A variedade de transporte a mobilidade pode ser fortalecida graças a qualidade das infraestruturas de transporte, portanto, as ruas devem promover conforto ambiental e espacial para que todos os modais se sintam acolhidos.
2.6 PRESERVAR MEIOS FÍSICOS DE COMUNICAÇÃO A. B.
CONSOLIDAR OS ESPAÇOS DE TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO PRESERVAR SISTEMA DE BAIXA TECNOLOGIA RELATIVOS A COMUNICAÇÃO (CORREIOS, SINOS DE IGREJA, PAINÉIS DE AVISO ETC.)
Os espaço de transmissão de conhecimento vão desempenhar um papel extremamente importante pois são a condição para que a cultura humana continue sendo difundida, ou seja, devemos agir de modo a que permanecem em uso. O mesmo vale para a infraestrutura de comunicação de baixa tecnologia.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
2.7 CRIAR NOVOS MEIOS FÍSICOS DE COMUNICAÇÃO A. CRIAR PROFISSÃO DE PREGOEIRO Um pregoeiro é aquele que grita as noticias da cidade, historicamente, antes dos jornais, radio, e na época em que a maioria da população era analfabeta ele permitia dar conta do que acontecia na cidade ou no pais. Essa profissão extinta na maioria dos países deve voltar pois é um método simples de comunicação de massa. B. CRIAR PAINÉIS PARA NOTICIAS C. CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE PAPEL (EX: ARVORES, PAPIRO ETC.) Em complemento aos pregoeiros não podemos abandonar a escrita, no entanto a comunicação escrita requer mais competências e recursos, ou seja, será provavelmente deixada de lado nos primeiros momentos do colapso. No segundo momento portanto, deve-se planejar as florestas produtivas e as florestas viárias para produzir papel e carvão e permitir transmissão da cultura escrita.
235
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
PROMOVER SEGURANÇA HÍDRICA
POSSUIR DIVERSIDADE DE FONTES DE ÁGUA POTÁVEL PRESERVAR/ IMPLANTAR POÇOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA IMPLANTAR ESPAÇOS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE RIO IMPLANTAR ESTRATÉGIAS DE POTABILIZAÇÃO DA ÁGUA (EX: DESSALINIZADOR, FILTRO ETC.) POSSUIR ESTRATÉGIAS DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUA (EX: PISCINAS, RESERVATÓRIOS INFERIORES, CAIXAS D'ÁGUA ETC.)
PROMOVER SEGURANÇA ALIMENTÍCIA
IMPLEMENTAR ÁREAS DE PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA IMPLEMENTAR ÁREAS DE TRANSFORMAÇÃO DOS ALIMENTOS (EX: MOINHOS, SALEIROS, DEFUMADOIROS, FORNOS ETC.) POSSUIR ESTRATÉGIAS DE ARMAZENAMENTO DE ALIMENTOS (EX: CELEIROS, ARMAZÉM, DEFUMADOIROS, SALEIROS, ETC.) IMPLEMENTAR INFRAESTRUTURA PARA ATIVIDADES PESQUEIRAS (EX: PORTOS, MANUFATURA DE BARCOS ETC.) IMPLEMENTAR ÁREAS PARA CRIAÇÃO DE ANIMAIS
PROMOVER UMA PRODUÇÃO LOCAL DE PRODUTOS DE HIGIENE
CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE ÓLEOS (EX: GRÃOS, NOZES, E FRUTAS) IMPLEMENTAR ÁREAS DE FERMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS PARA PROVISIONAR VINAGRES
236
PROMOVER PRODUÇÃO LOCAL DE REMÉDIOS
IMPLANTAR ÁREAS PARA JARDINS MEDICINAIS IMPLEMENTAR ÁREAS PARA FERMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS PARA PROVISIONAR ÁLCOOIS
IMPLEMENTAR POLOS DE FERTILIZAÇÃO PARA LIXO ORGÂNICO E FEZES
GERENCIAR OS RESÍDUOS
ARTICULAR ÁREAS DE PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA COM POLOS DE FERTILIZAÇÃO
IMPLEMENTAR CEMITÉRIOS PARA CADÁVERES IMPLEMENTAR POLO DE BIOGÁS PARA FERMENTAÇÃO DE FEZES OU LIXO ORGÂNICO
IMPLEMENTAR CENTROS DE RECICLAGEM
PROMOVER UMA PRODUÇÃO LOCAL DE ENERGIA
CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE MADEIRA IMPLEMENTAR POLO DE BIOGÁS PARA FERMENTAÇÃO DE FEZES OU LIXO ORGÂNICO
PRESERVAR MEIOS DE PRODUÇÃO ENERGÉTICA (EX: PAINÉIS FOTOVOLTAICOS, EÓLICAS ETC.)
EXEMPLO DE DIRETRIZ
EXEMPLO DE AÇÃO
O B J E T I VO 3 - P O S S U I R AU TO N O M I A E M R E L AÇ ÃO ÀS C A D E I A S DE A B A ST E C I M E N TO
OBJETIVO 3: POSSUIR AUTONOMIA EM RELAÇÃO ÀS CADEIAS DE ABASTECIMENTO O objetivo 3 trata de dar autonomia a comuna, as diretrizes vão portanto, abordar os aspectos de segurança hídrica e alimentícia assim como a produção local de bens de primeira necessidade. Na análise do território identificamos oportunidades a respeito da disponibilidade de água doce (rio e aquífero), vimos também uma quantidade importante de solo natural, e a possibilidade de usar os cursos de água como fonte de alimentos através de uma atividade pesqueira.
3.1 PROMOVER SEGURANÇA HÍDRICA A. POSSUIR DIVERSIDADE DE FONTES DE ÁGUA POTÁVEL A diversidade das fontes de água é essencial pois pode ocorrer que uma das fontes seja poluída e impropria para o consumo, portanto, deve sempre haver diversas fontes para evitar uma penúria. O território é bem dotado pois possuiu um acesso ao rio, assim como um aquífero, e o clima tropical garante uma estação chuvosa. B. PRESERVAR/ IMPLANTAR POÇOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA
Existe na área alguns poços artesianos que devem ser preservados, devemos contemplar também a possibilidade de criar outros, cabe aos moradores determinarem os locais mais adequados para a furação de novos poços. C. IMPLANTAR ESPAÇOS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE RIO
Os portos implantados no objetivo 2, servem também de espaços para captação da água de rio, podemos imaginar também que alguns sejam complementados por lavadouros permitindo lavar roupas confortavelmente no rio. D. IMPLANTAR ESTRATÉGIAS DE POTABILIZAÇÃO DA ÁGUA (EX: DESSALINIZADOR, FILTRO ETC.) No âmbito de garantir maior segurança hídrica vale a pena construir filtros e dessalinizadores de água. E. POSSUIR ESTRATÉGIAS DE ARMAZENAMENTO DE ◀ Fig 93: diretrizes e ações de aplicação do objetivo 3 para o território em análise fonte: a autora
ÁGUA
A tendência ao ressecamento do clima que apontamos na análise do território pode a longo prazo colocar em risco a segurança hídrica por isso deve haver estratégias de armazenamento
237
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
de água, usando por exemplo as caixas d’água, os reservatórios inferiores, as piscinas, os estacionamento semi-enterrados etc.
3.2 PROMOVER SEGURANÇA ALIMENTÍCIA (FIG 95)
A. IMPLEMENTAR ÁREAS DE PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA Para a produção de alimentos, ja vimos que os tipos de vias apresentados permitem a plantação de comida, em complemento foi acrescentado parques nutritivos, que produzem alimento como também servem de área de lazer, e por outro lado as florestas produtivas com plantações mais robustas que podem fornecer nozes, algumas frutas, e sementes. O total das áreas destinada ao cultivo chega a 299 000m² o que equivale, considerando 75m² de solo por pessoa, a sustentar uma população de 3994 pessoas. AREA NA COMUNA
AREA NA COMUNA DESTINADA A HORTICULTURA
127 399 m²
50 %
63 699,5 m²
65 335 m² 51 889 m²
80 % 60 %
52 268 m² 31 133,4 m²
73 944 m²
100 %
73 944 m²
72 510 m²
20 %
14 502 m²
63 988 m² 100 % TOTAL da area dedicada a horticultura TOTAL de pessoas que podem ser sustentadas sem comercio externo e sem consumo de animais (considerando 75m² de terra hortícola por pessoa)
63 988 m² 299 534,9 m²
PARQUE VIÁRIO PARQUE
238
PORCENTAGEM DESTINADO A HORTICULTURA
NUTRITIVO FLORESTA VIÁRIA FLORESTA PRODUTIVA RUA PAVIMENTADA JARDINS INTERNOS
3994
B. IMPLEMENTAR ÁREAS DE TRANSFORMAÇÃO DOS ALIMENTOS
C. POSSUIR ESTRATÉGIAS DE ARMAZENAMENTO DE ALIMENTOS
Os galpões identificados no mapas podem abrigar as áreas de transformação e armazenamento de alimentos segundo as necessidades de cada processo ou tipo de armazenamento. D. IMPLEMENTAR INFRAESTRUTURA PARA ATIVIDADES PESQUEIRAS
Os portos se organizam na beira do rio na parte ativa da comuna, permitindo que o peixe seja então compartilhado ou vendido com a população da comuna. E. IMPLEMENTAR ÁREAS PARA CRIAÇÃO DE ANIMAIS Como evocado antes, as florestas produtivas e as florestas viárias podem abrigar a fauna e permitir a criação de animal para consumo ou trabalho.
◀ Fig 94: Tabela apresentando as áreas disponíveis para horticultura. fonte: a autora
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
239
PRODUÇÃO LOCAL DE BENS DE PRIMEIRA NECESSIDADE Fig 95: elaborado pela autora
ESPAÇOS PARA HORTICULTURA VIA PAVIMENTADA PARQUE VIARIO PARQUE NUTRITIVO FLORESTA VIÁRIA FLORESTA PRODUTIVA 0
100M
200M
300M
400M
RIO CAPIBARIBE PORTO (ACESSO À ÁGUA DO RIO PARA CONSUMO OU IRRIGAÇÃO) GALPÕES PARA ARMAZENAMENTO DE COMIDA
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
3.3 PROMOVER UMA PRODUÇÃO LOCAL DE PRODUTOS DE HIGIENE (FIG 95) A. CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE ÓLEOS
Ver 3.2
B. IMPLEMENTAR ÁREAS DE FERMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS PARA PROVISIONAR VINAGRES
Ver 3.2.B
3.4 PROMOVER PRODUÇÃO LOCAL DE REMÉDIOS (FIG 95) A. IMPLANTAR ÁREAS PARA JARDINS MEDICINAIS As áreas de produção de plantas medicinais deveriam ficar nos espaço de cultivo a proximidade dos centros de saúde. B. IMPLEMENTAR ÁREAS PARA FERMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS PARA PROVISIONAR ÁLCOOIS
Ver 3.2.B
3.6 GERENCIAR OS RESÍDUOS (FIG 95) A. IMPLEMENTAR POLOS DE FERTILIZAÇÃO PARA LIXO 240
ORGÂNICO
B. ARTICULAR ÁREAS DE PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA COM POLOS DE FERTILIZAÇÃO
Os parques nutritivos devem conter em seu recinto um polo de fertilização, através da fermentação do lixo orgânico limpo (restos de alimentos, vegetação, folhas mortas etc.) C. IMPLEMENTAR CEMITÉRIOS PARA CADÁVERES O cemitério fica na área passiva pois constitui um risco de poluição dos solos assim como atrai animais indesejáveis (baratas e escorpiões) D. IMPLEMENTAR CENTROS DE RECICLAGEM O centro de reciclagem utiliza uma parte da comuna antigamente conhecida como polo madeireiro, reutilizando os galpões das antigas fabricas.
3.7 PROMOVER UMA PRODUÇÃO LOCAL DE ENERGIA (FIG 95) A. CRIAR FLORESTA PRODUTIVA PARA PRODUÇÃO DE MADEIRA
Ver 3.2
B. IMPLEMENTAR POLO DE BIOGÁS PARA FERMENTAÇÃO DE FEZES OU LIXO ORGÂNICO
C. PRESERVAR MEIOS DE PRODUÇÃO ENERGÉTICA
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
241
AUTONOMIA ENERGÉTICA E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS Fig 96: elaborado pela autora
GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS
POLOS DE FERTILIZAÇÃO PARA TRATAMENTO DO LIXO ORGÂNICO CENTRO DE RECICLAGEM PARA LIXO INORGANICO CEMITERIO
0
100M
200M
300M
400M
PRODUCAO DE ENERGIA POLO DE BIO-GÁS FLORESTA PRODUTIVA (MADEIRA) FLORESTA VIÁRIA (MADEIRA)
AREA PASSIVA
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
FERTILIZAR OS SOLOS GRAÇAS AO ESTRUMO PRODUZIDO NA COMUNA
AUMENTAR FERTILIDADE DO SOLO
EVITAR MONOCULTURA AGRÍCOLA EVITAR USO DE FERTILIZANTES MINERAIS IMPLANTAR PERMACULTURA (AGRICULTURA PERMANENTE)
DELIMITAR MARGEM DO RIO COMO ÁREA NATURAL
PROTEGER OS ECOSISTEMAS NATURAIS EXISTENTES
CONSOLIDAR FAUNA E FLORA EXISTENTE
LIMPAR AS MARGENS DO RIO IMPLANTAR ESPÉCIES VEGETAIS DESPOLUENTE NAS MARGENS DO RIO
LIMPAR ÁREAS POLUÍDAS PRESERVAR VEGETAÇÃO EXISTENTE PROTEGER FAUNA EXISTENTE (EXCETO PRAGAS)
CRIAR FLORESTAS PRODUTIVAS
PLANTAR ARVORES PRODUTIVAS (EX: MADEIREIRA, FRUTÍFERAS) DEFINIR LIMITES DE EXPLORAÇÃO DA MADEIRA
242
CRIAR FLORESTAS VIÁRIAS
PLANTAR VEGETAÇÃO REMOVER REVESTIMENTOS DAS VIAS E CALÇADAS CRIAR ÁREA TAMPÃO PARA PROTEGER EDIFICAÇÕES
DELIMITAR ÁREAS ACOLHEDORAS DA FAUNA NAS ZONAS PASSIVAS DA COMUNA
ACOLHER A FAUNA
CONSTRUIR ABRIGOS PARA INSETOS IMPLANTAR COLMEIAS DEFINIR LIMITES DE CAÇA E PESCA FAZER RESERVAS DE ALIMENTOS PARA OS NÃO HUMANOS
REDUZIR POLUIÇÃO SONORA E LUMINOSA PARA O CONFORTO ANIMAL
EXEMPLO DE DIRETRIZ
O B J E T I VO
4
-
EXEMPLO DE AÇÃO
F O RTA L E C E R E ECOSSISTEMAS
R E STAU R A R
OBJETIVO 4: FORTALECER E RESTAURAR ECOSSISTEMAS 4.1 AUMENTAR FERTILIDADE DO SOLO A. FERTILIZAR OS SOLOS GRAÇAS AO ESTRUMO PRODUZIDO NA COMUNA
B. EVITAR MONOCULTURA AGRÍCOLA A monocultura agrícola é a concentração de uma única espécie vegetal em determinada área, essa pratica agrícola é muito difundida atualmente mas tende a exaustar os solos pois retira os mesmos componentes do solo o que causa um desequilíbrio e cria a necessidade de pousio das terras, ou seja, um período de tempo em que a terra deve descansar, pois precisa repor os nutrientes faltando. Essa pratica deve então ser evitada. C. EVITAR USO DE FERTILIZANTES MINERAIS A agricultura industrializada paliou o problema de exaustão dos solos através de fertilizantes minerais que ao invés do período de pousio foi capaz de repor os minerais faltando de forma artificial, no entanto essa pratica endurece os solos, reduz a permeabilidade e reduz a fertilidade dos solos, ou seja, não é uma pratica sustentável e deve ser evitada. D. IMPLANTAR PERMACULTURA A permacultura é uma pratica agrícola bastante complexa pois precisa de muito planejamento, essa pratica agrícola visa a produtividade permanente dos solos associando diversas espécies que cooperam, de modo que os nutrientes essenciais a determinada espécie são reposto pela espécie vizinha e vice-versa. A permacultura portanto, não é danosa para os solos e possibilita uma produção agrícola constante adaptando-se às estações e necessitando menos trabalho pois segue os ciclos naturais. MOLLISON (1993) afirma também que:¹ ◀ Fig 97: diretrizes e ações de aplicação do objetivo 4 para o território em analise; fonte: a autora
« Temos de manter uma importante biomassa nas regiões tropicais húmidas, sob a forma de culturas perenes e arvores » « Il nous faut maintenir une importante biomasse dans les régions tropicales humides sous forme de cultures vivaces et d’arbres »
e complementa que em clima tropical:² 1
MOLLISON, Bill. Permaculture 2: Aménagements pratiques à la campagne et en ville. Tradução de François Couplan. Fiers: Editions Equilibre, 1993. p98
« Deve-se guardar constantemente arvores, inclusive acima dos cultivos » « Il faut constamment garder quelques arbres, memes au dessus des cultures. »
243
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
Ou seja, a permacultura para o clima do Recife requer uma boa cobertura arbórea, ao contrario da agricultura de estepe que faz tabula rasa da paisagem e necessita muita irrigação.
4.2 PROTEGER OS ECOSISTEMAS NATURAIS EXISTENTES (FIG 98) A. DELIMITAR MARGEM DO RIO COMO ÁREA NATURAL A área natural deve manter sua integridade portanto, não deve sem inseridas espécies exóticas. No caso desse território existe apenas uma pequena faixa natural da margem do rio, o resto da margem é atualmente ocupado por habitações irregulares que muito provavelmente danificaram a margem. B. LIMPAR AS MARGENS DO RIO Como foi dito, as habitações irregulares apresentam um risco sanitário importante portanto, deve-se atribuir novas habitações a seus moradores, aproveitando o edificado existente. Uma vez que as pessoas integrem suas novas casa, a margem do rio pode ser limpada retirando o lixo inorgânico e reciclando-o. C. 244
IMPLANTAR ESPÉCIES VEGETAIS DESPOLUENTE NAS MARGENS DO RIO
Nas florestas produtivas localizadas nas margens do rio podemos introduzir novas espécies vegetais pois não comprometem o ecosistema natural, entre essas espécies vale implementar vegetação despoluente para promover a purificação da água do rio, fortalecendo a segurança hídrica da comuna.
4.3 (FIG 98)
CONSOLIDAR FAUNA E FLORA EXISTENTE
A. LIMPAR ÁREAS POLUÍDAS Limpar as áreas poluídas é necessário para consolidar a fauna e flora que pode sofrer consequências da poluição, principalmente a plástico. Portanto, deve-se limpar na medida do possível, os terrenos vagos, jardins, rios, canais etc. B. PRESERVAR VEGETAÇÃO EXISTENTE C. PROTEGER FAUNA EXISTENTE (EXCETO PRAGAS) A fauna e a flora existente devem permanecer e serem protegidas pois fazem parte do equilíbrio ecológico da comuna, devemos ter cuidado em não introduzir espécies invasivas que poderiam se tornar predadoras das espécies preexistentes, com exceção das espécies danosas a saúde dos habitantes da comuna e dos animais.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
245
PROTEGER E ACOLHER A FAUNA E A FLORA Fig 98: elaborado pela autora
SUPORTE ECOLÓGICO DA COMUNA
FLORESTA VIARIA
RIO CAPIBARIBE
FLORESTA PRODUTIVA
AREA PASSIVA
ZONA NATURAL
0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
4.4 CRIAR FLORESTAS PRODUTIVAS (FIG 98) A. PLANTAR ARVORES PRODUTIVAS (EX: MADEIREIRA, FRUTÍFERAS) As florestas produtivas necessitam menos intervenção humana que os parques nutritivos, as florestas funcionam mais como um armazém nutritivo e espaços de produção de madeira e plantas medicinais, ou seja, são produtivas mas constituem também o suporte ecológico da comuna, sendo que não devem ser adestradas e constituem um espaço entre a área natural e o espaço hortícola. B. DEFINIR LIMITES DE EXPLORAÇÃO DA MADEIRA Evidentemente as florestas produtivas devem ser exploradas de modo sustentável e isso requer a definição de limites assim como o replantio de arvores numa proporção maior que a retirada.
4.5 CRIAR FLORESTAS VIÁRIAS (FIG 98)
246
A. PLANTAR VEGETAÇÃO B. REMOVER REVESTIMENTOS DAS VIAS E CALÇADAS C. CRIAR ÁREA TAMPÃO PARA PROTEGER EDIFICAÇÕES As 3 ações promovem a criação de florestas viárias, onde o objetivo é permitir o deslocamento dos pedestres e de alguns veiculos sem descontinuar a cobertura vegetal, o que permite manter a humidade e o micro clima. CROQUIS ESQUEMÁTICO DE UMA FLORESTA VIÁRIA
◀ Fig 99: Croquis esquemático de uma floresta viária
FAIXA DE VEGETAÇÃO
AREA TAMPÃO DE PROTEÇÃO DAS EDIFICAÇÕES (FAIXA LIVRE DE VEGETAÇÃO)
SOLO NATURAL LIVRE DE VEGETAÇÃO
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
4.6 ACOLHER A FAUNA A.
DELIMITAR ÁREAS ACOLHEDORAS DA FAUNA NAS ZONAS PASSIVAS DA COMUNA CONSTRUIR ABRIGOS PARA INSETOS IMPLANTAR COLMEIAS DEFINIR LIMITES DE CAÇA E PESCA
B. C. D. A fauna nas cidades é benéfica pois fortalece os ecosistemas e pode trazer benefícios através da produção de mel e ovos por exemplos mas também pode ajudar a fertilizar os solos com suas fezes como também poliniza as plantas e dissemina as sementes. Portanto, precisamos acolher a fauna e suas especificidades. E.
FAZER RESERVAS DE ALIMENTOS PARA OS NÃO HUMANOS
No âmbito de acolher a fauna devemos pensar também em cumprir suas necessidades básicas, ou seja, devemos prever alimentos para os animais também através de reservas. F. REDUZIR POLUIÇÃO SONORA E LUMINOSA PARA O CONFORTO ANIMAL
A poluição sonora e luminosa é danosa para o ritmo de vida dos animais portanto, seus locais de repouso devem ficar na área passiva da comuna, nas florestas viárias ou nas florestas produtivas por exemplo.
247
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
PREVENIR EROSÃO DO SOLO
PREVENIR DESLIZAMENTOS PLANTANDO ARVORES COM RAIZES PROFUNDAS
PERMEABILIZAR O SOLO TIRANDO O REVESTIMENTO DAS VIAS DIRECIONAR AS ÁGUAS PLUVIAIS COM TRINCHEIRAS
DEFINIR POPULAÇÃO MÁXIMA NA COMUNA FERTILIZAR O SOLO PLANEJAMENTO A LONGO PRAZO PARA GERENCIAR
PREVENIR ESGOTAMENTO DO SOLO
PREVENIR ENCHENTES
SUSTENTAVELMENTE OS RECURSOS
CONTROLAR A FECUNDIDADE / NATALIDADE HUMANA (EX: EDUCAÇÃO SEXUAL, JARDINS MEDICINAIS ETC.) CONTROLE FECUNDIDADE / NATALIDADE ANIMAL (EX: PREDADORES, CAÇA ETC.)
PERMEABILIZAR O SOLO AUMENTAR COBERTURA VEGETAL ARMAZENAR LIVROS OU PRODUÇÃO CULTURAL NOS PAVIMENTOS SUPERIORES DAS EDIFICAÇÕES CRIAR DIQUES OU TALUDES NA BEIRA RIO
AUMENTAR COBERTURA VEGETAL PARA MANTER HUMIDADE ELEVADA
248
PREVENIR SECAS
PLANTAR VEGETAÇÃO ARMAZENADORA DE ÁGUA (EX: CACTO, FRUTÍFERAS ETC.) POSSUIR RESERVATÓRIOS DE ÁGUA PARA A FAUNA E A FLORA (EX: PISCINAS, RESERVATÓRIOS INFERIORES, CAIXAS D'ÁGUA, ESTACIONAMENTO ENTERRADOS ETC.)
DELIMITAR CEMITÉRIOS PLANTAR VEGETAÇÃO DESPOLUENTE NOS CURSOS DE ÁGUA
PREVENIR POLUIÇÃO
DOCE
TORNAR LEGÍVEL O MÉTODO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS
PREVENIR PROPAGAÇÃO DE EPIDEMIAS
EXEMPLO DE DIRETRIZ
DELIMITAR LOCAIS PARA TRATAMENTO MEDICO DELIMITAR ÁREAS DE QUARENTENA QUANDO PRECISO IMPEDIR ACESSO AOS LOCAIS DE QUARENTENA QUANDO PRECISO
EXEMPLO DE AÇÃO
O B J E T I VO 5 - P R E V E N I R C H O Q U E S C L I M ÁT I CO S E A M B I E N TA I S
OBJETIVO 5: PREVENIR CHOQUES CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS O objetivo 5, pretende proteger o suporte ecológico para sustentar a população e sua saúde. Em relação às oportunidades do território, identificamos uma grande comunidade hospitalar, e a presença de uma área natural na margem do rio. Esse objetivo, diferentemente dos outros, trata de planejamento a longo prazo e de prevenção dos riscos.
5.1 PREVENIR EROSÃO DO SOLO A. PREVENIR DESLIZAMENTOS PLANTANDO ARVORES COM RAIZES PROFUNDAS
Com a ameaça climática, exista a possibilidade de um aumento da pluviometria em determinados períodos (inverno), além da possibilidade do aumento do nível do mar, ambos aumentariam a erosão do solo e poderiam causar deslizamentos, o que pode ser impedido em certa medida graças à raizes profundas, que permitem direcionar as águas para as camadas mais baixas do solo e permitem reter os movimentos de terra. Portanto, ao plantar arvores na comuna deve-se contemplar espécies de raizes profundas ao contrario de arvores de raizes superficiais. Entre as arvores com raizes profundas, podemos citar o pata de vaca (Bauhinia foficata), o ipê (Tabebuia sp), ou ainda o jacarandá Mimoso (Jacaranda mimosaefolia). B. PERMEABILIZAR O SOLO TIRANDO O REVESTIMENTO DAS VIAS
A permeabilização do solo também auxilia na absorção das águas pluviais supérfluas e devemos o quanto possível permeabilizar as vias, calçadas etc.
◀ Fig 100: diretrizes e ações de aplicação do objetivo 5 para o território em análise fonte: a autora
C. DIRECIONAR AS ÁGUAS PLUVIAIS COM TRINCHEIRAS Na eventualidade das vias que devem permanecer pavimentadas, é importante direcionar as águas para as faixas ajardinadas que apresentamos anteriormente, ou seja, as trincheiras devem guiar a água para estas áreas. Podemos insistir também no tipo de vegetação dessas faixa que devem suportar grandes quantidades de água portanto, evitar espécies sensíveis.
249
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
5.2 PREVENIR ESGOTAMENTO DO SOLO A. DEFINIR POPULAÇÃO MÁXIMA NA COMUNA Vimos no objetivo 3 que o solo destinado a produção hortícola é capaz de sustentar 3994 pessoas sem consumo animal. Ou seja, o nível seguro deveria estar em torno desse numero. O resultado da pesca o da criação de animal permitiria contrabalancear perdas eventuais de rendimento das terras hortícolas. No entanto o comercio exterior pode momentaneamente suportar uma população maior, embora traga mais vulnerabilidade a comuna. Esse limite deve absolutamente ser discutido repetidamente em assembleia. B. FERTILIZAR O SOLO A saúde da terra é essencial para assegurar a segurança alimentícia da comuna portanto, deve-se constantemente fertilizar o solo através da produção de estrumo e adubo. C. PLANEJAMENTO A LONGO PRAZO PARA GERENCIAR SUSTENTAVELMENTE OS RECURSOS
250
Um das situações que as cidades enfrentaram no passado foi o esgotamento dos recursos, como terra fértil, madeira, ou por vezes água. O planejamento a longo prazo das reservas de água ou das floresta é necessário para garantir a permanência na comuna. No caso das floresta por exemplo deve se replantar arvores um vez que outras foram abatidas. O mesmo ocorre para as reservas de água que devem ser reconstituídas após um período de seca por exemplo. D. CONTROLAR A FECUNDIDADE / NATALIDADE HUMANA E. CONTROLE FECUNDIDADE / NATALIDADE ANIMAL Prevenir o esgotamento do solo, requer impor limites de crescimentos a comuna, vimos que a comuna pode sustentar em torno de 4000 indivíduos humanos, ou seja, devemos controlar a fecundidade e/ou natalidade humana para assegurar a sobrevivência dos jovens pois existe um risco de sofrer uma mortalidade infantil comparável à da idade media. O mesmo ocorre para os animais que podem entrar em competição pelos recursos entre-si, e com os humanos.
5.3 PREVENIR ENCHENTES A. PERMEABILIZAR O SOLO B. AUMENTAR COBERTURA VEGETAL A permeabilização do solo, e o aumento da cobertura vegetal permitem prevenir enchentes pois deixa as águas penetrarem o solo mas também diminui a quantidade de água que chega ao solo pois uma parte é absorvida pelas folhas da vegetação.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
C. ARMAZENAR LIVROS OU PRODUÇÃO CULTURAL NOS PAVIMENTOS SUPERIORES DAS EDIFICAÇÕES
O risco de enchentes necessita proteger a produção cultural de possíveis alagamentos, por isso, as bibliotecas, os museus etc. devem ser localizados em áreas seguras da comuna e preferencialmente em edifícios com pavimentos superiores. D. CRIAR DIQUES OU TALUDES NA BEIRA RIO Vimos que existe algumas habitações e hospitais na beira rio, esses devem quando possível serem abandonados e transferidos em outros edifícios, no entanto pode se criar diques e taludes ao redor para temporariamente usar-los.
5.4 PREVENIR SECAS A. AUMENTAR COBERTURA VEGETAL PARA MANTER HUMIDADE ELEVADA
B. PLANTAR VEGETAÇÃO ARMAZENADORA DE ÁGUA A cobertura vegetal através da transpiração da folhas e do solo permite manter a humidade alta, enquanto as copas mantem o ar húmido ao nível do solo, portanto, permite prevenir o ressecamento do solo. Além disso, a vegetação pode ser uma estratégia de armazenamento de água, usando cactos ou frutíferas por exemplo. C. POSSUIR RESERVATÓRIOS DE ÁGUA PARA A FAUNA E A FLORA
Um dos efeitos da seca é matar a vegetação que sem irrigação não pode sobreviver, o que provoca um agravamento da seca e da erosão do solo, ou seja, cria-se um uma retroação negativa. Por tal motivo, deve-se armazenar água inclusive para irrigar a vegetação e hidratar os animais da comuna.
5.5 PREVENIR POLUIÇÃO A. DELIMITAR CEMITÉRIOS A decomposição dos cadáveres pode poluir os solos portanto, devemos ter um cuidado especial com a inumação. O cemitério foi afastado dos locais de produção primária de alimento e é rodeado por florestas produtivas que deverão produzir produtos que não serão ingeridos, do tipo, madeira ou fibras para papel etc.
251
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
B. PLANTAR VEGETAÇÃO DESPOLUENTE NOS CURSOS DE ÁGUA DOCE
A poluição do rio e do canal poderiam causar grandes danos a comuna portanto, devemos prevenir essa poluição através da plantação de vegetação capaz de despoluir os cursos d’água. C. TORNAR LEGÍVEL O MÉTODO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS
Para promover uma melhor tratamento dos resíduos é importante que este esteja claro e organizado, para que cada um possa contribuir de forma autônoma. Por isso o método de gerenciamento dos resíduos deve ser legível, ou seja, cada tipo de resíduo deve ter um destino claro. O lixo inorgânico vai para o polo de reciclagem, o lixo orgânico limpo (resto de legumes, folhas etc.) para os polos de fertilização, e o lixo orgânico sujo (fezes, lixo medico, carne etc.) para o polos de bio-gás.
101)
252
5.6 PREVENIR PROPAGAÇÃO DE EPIDEMIAS (FIG
A. DELIMITAR LOCAIS PARA TRATAMENTO MEDICO Para prevenir a propagação de epidemias, é necessário uma boa cobertura do território em relação aos espaços de tratamento. Como vimos anteriormente, alguns hospitais existentes encontramse em áreas inseguras, ou em edifícios dependentes ao aprovisionamento elétrico (elevadores) portanto, foi necessário desloca-los. Os hospitais existentes seguros e os novos hospitais foram organizados para cobrir todo o território de modo a serem contidos a no máximo 500 metros das habitações. Os hospitais poderão se especializar segundo o desejo da assembleia e principalmente dos trabalhadores da área de saúde, portanto, pode se imaginar que as pessoas com doenças contagiosas devam permanecer nos hospitais da área passiva para evitar a contaminação dos outros habitantes. B. DELIMITAR ÁREAS DE QUARENTENA QUANDO PRECISO C. IMPEDIR ACESSO AOS LOCAIS DE QUARENTENA QUANDO PRECISO
A delimitação de áreas de quarentena deve-ser contemplada para impedira a propagação de epidemias. Os trabalhadores da área de saúde devem em conjunto com a população elaborar regras de quarentena.
RA IO
DE 5
00
M
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
253
PREVENIR PROPAGAÇÃO DE EPIDEMIAS Fig 101: elaborado pela autora
LOCAIS DE TRATAMENTO E PREVENÇAO DE DOENÇAS
HOSPITAL EXISTENTE HOSPITAL EXISTENTE EM ÁREA INSEGURA
NOVO HOSPITAL
AREA INSEGURA FRONTEIRA DA COMUNA
HABITAÇÕES
AREA DE INFLUÊNCIA DOS HOSPITAIS 0
100M
200M
300M
400M
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
ELABORAR PLANO DE FUGA JUNTO COM AS COMUNIDADES EXISTENTES ESCOLHER DESTINO DE REFUGIO DEFINITIVO
DEFINIR O LOCAL DE REUNIÃO PARA ORGANIZAR EVACUAÇÃO ARTICULAR O LOCAL DE REUNIÃO PARA EVACUAÇÃO EN FUNÇÃO DAS HABITAÇÕES E DAS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTE ESCOLHER O LOCAL DE REFUGIO PONTUAL
ORGANIZAR A EVACUAÇÃO DA COMUNA
FAZER SIMULAÇÕES DE EVACUAÇÕES TRIMESTRALMENTE
ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELA LIBERTAÇÃO DOS ANIMAIS ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELO ACIONAMENTO DOS SISTEMAS DE ALARME UTILIZAR SINOS DAS IGREJAS E PREGOEIROS COMO ALARME PARA EVACUAÇÃO DA COMUNA
PREVER TRANSPORTES ENERGETICAMENTE AUTÔNOMOS
254
PLANEJAR O DESLOCAMENTO PARA A EVACUAÇÃO DA COMUNA
CRIAR PORTOS
FAZER RESERVAS DE BENS DE PRIMEIRA NECESSIDADES DE PREFERENCIA PERTO DOS EIXOS DE TRANSPORTE (EX: ÁGUA, ALIMENTOS, SABÃO ETC.) POSSUIR ESTRATÉGIAS DE TRANSPORTES PARA BENS DE PRIMEIRA NECESSIDADE (EX: FILTROS MOVEIS, BARCAÇAS, CARROÇAS ETC.)
PLANEJAR E DIFUNDIR OS LOCAIS DE REFUGIO A TODOS OS HABITANTES DA COMUNA
PASSAR ACORDO DE REFUGIO COM OUTRAS COMUNAS APOIAR-SE NAS RELAÇÕES COMUNITÁRIAS PARA ENCONTRAR LOCAL DE REFUGIO DEFINITIVO (SINDICATOS NACIONAIS, REDES DE RELIGIÕES ETC.)
ACHAR REFUGIO
EXEMPLO DE DIRETRIZ
O B J E T I VO
6
-
P R E V E R
EXEMPLO DE AÇÃO
ROTA S
D E
F U G A
OBJETIVO 6: PREVER ROTAS DE FUGA O objetivo 6, trata dos aspectos relativos a evacuação da comuna, portanto, as diretrizes e ações devem favorecer uma evacuação efetiva e organizada. A partir da análise do território identificamos diversas oportunidades, como a presença de cursos de água, a presença de veiculos independente de aprovisionamento energético (carroças) ou ainda uma forte rede de comunidades. Essas oportunidades servem de base para desenvolver as diretrizes e ações ao lado, e a seguir (fig 102).
104)
6.1 ORGANIZAR A EVACUAÇÃO DA COMUNA (FIG A.
ELABORAR PLANO DE FUGA JUNTO COM AS COMUNIDADES EXISTENTES ESCOLHER DESTINO DE REFUGIO DEFINITIVO
B. As comunidades existentes, como já foi dito anteriormente, desempenham um papel importantíssimo na coesão social da comuna, mas além disso podem auxiliar na elaboração do plano de evacuação, ao usarem suas relações de cooperação para encontrar refugio. Por exemplo as igrejas, ou a mesquita muitas vezes constituem redes internacionais de cooperação podendo propor locais de refugio à população das comunas, o mesmo ocorre para as ONG ou os sindicatos. Portanto, é preciso apoiar-se nessas relações preexistentes para escolher o destino de refugio definitivo.
C. DEFINIR O LOCAL DE REUNIÃO PARA ORGANIZAR D.
◀ Fig 102: diretrizes e ações de aplicação do objetivo 6 para o território em análise fonte: a autora
EVACUAÇÃO ARTICULAR O LOCAL DE REUNIÃO PARA EVACUAÇÃO EN FUNÇÃO DAS HABITAÇÕES E DAS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTE
O local de reunião para evacuação é a praça central, que foi dimensionada para caber toda a população da comuna. Essa praça foi localizada a uma distancia máxima de 850 metros das habitações mais distantes e a proximidade das áreas habitacionais mais densas. A praça também encontra-se a proximidades das infraestruturas de transporte (pontes, vias pavimentadas, portos, trilhos)
255
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
E. ESCOLHER O LOCAL DE REFUGIO PONTUAL Além da evacuação definitiva, eventos tópicos podem criar a necessidade de encontrar um refugio pontual. O local escolhido é atualmente utilizado como estacionamento (fig 103), mas apresenta a qualidade de ser grande ao suficiente para acomodar a população inteira da comuna pois são 8 pavimentos de 2670m² com um reservatório de água (aproximadamente 960 000L) e uma coberta vegetada que poderiam proporcionar alguns dias de autonomia alimentícia e hídrica caso seja necessário
RESERVA D’ÁGUA
COBERTA VEGETADA
◀ Fig 103: Refugio pontual. fonte: Google Earth
256
F. G. H.
FAZER SIMULAÇÕES DE EVACUAÇÕES TRIMESTRALMENTE ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELA LIBERTAÇÃO DOS ANIMAIS ESCOLHER RESPONSÁVEIS PELO ACIONAMENTO DOS SISTEMAS DE ALARME
A evacuação deve ser ensaiada, pois todos devem saber suas obrigações e cumprir-las calmamente, portanto, repetir o exercício trimestralmente é importante para atingir esse objetivo. Durante os exercícios de evacuação também é necessário distribuir as responsabilidades, principalmente no que se refere ao acionamento do sistema de alarme e da libertação dos animais presos (galinhas por exemplo) I.
UTILIZAR SINOS DAS IGREJAS E PREGOEIROS COMO ALARME PARA EVACUAÇÃO DA COMUNA
Um sistema de alarme totalmente independente das cadeias de abastecimentos é absolutamente necessário pois deve funcionar a todo momento. Na comuna, existe 3 igrejas com sinos, o que não é suficiente, por isso foi desenvolvido uma rede de pracinhas que permitem aos pregoeiros alertar a população à necessidade de proceder para a praça central para os exercícios de evacuação ou para a evacuação real.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
A DISTANCIA MÁXIMA ENTRE AS HABITAÇÕES E A PRAÇA CENTRAL É DE 850M, O QUE EQUIVALE A 10 MINUTOS DE TRAJETO A PÉ
257
EVACUAÇÃO DA COMUNA E ABRIGO PONTUAL Fig 104: elaborado pela autora
ABRIGOS E ALARMES IGREJAS COM SINO
INFRAESTRUTURA DE ROTAS DE EVACUAÇÃO PRAÇA CENTRAL,
PRACINHAS E SEUS
PONTO DE ENCONTRO PARA EVACUAÇÃO ROTA DE ACESSO DAS ÁREAS HABITADAS À PRAÇA CENTRAL
PREGOEIROS
REFUGIO CONTRA ENCHENTE E TEMEPESTADE HABITAÇÕES
TRANSPORTES
VIAS PAVIMENTADAS PONTES TRILHOS PORTOS
AREA SUJEITA A 0
100M
200M
300M
400M
ENCHENTES
ESCALA 1:10 000
CAPÍTULO 8: MELHORANDO A RESILIÊNCIA URBANA PÓS-COLAPSO
6.2 PLANEJAR O DESLOCAMENTO PARA A EVACUAÇÃO DA COMUNA (FIG 104) A.
PREVER TRANSPORTES ENERGETICAMENTE AUTÔNOMOS CRIAR PORTOS
B. No planejamento da evacuação deve-se prever o deslocamento da população em transportes autônomos de combustível e eletricidade. Por isso, foi implantando 4 portos no pequeno território da comuna, pois sem o complexo industrial as embarcações provavelmente serão de pequeno porte e em grande quantidade, o que obriga a ter diversos portinhos para acomoda-los. Ademais, as carroças, e as dresinas manuais (veiculo ferroviário a tração humana - fig 105) podem complementar a variedade de transportes
258
◀ Fig 105: Dresina. fonte: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Dresina#/media/ Ficheiro:Dresina.jpg
C. FAZER RESERVAS DE BENS DE PRIMEIRA D.
NECESSIDADES DE PREFERENCIA PERTO DOS EIXOS DE TRANSPORTE POSSUIR ESTRATÉGIAS DE TRANSPORTES PARA BENS DE PRIMEIRA NECESSIDADE
A evacuação fora da comuna vai necessitar reservas de bens de primeiras necessidade, como abordado no objetivo 3, essas reservas devem apresentar estratégias para serem transportadas como por exemplo carrinhos a acoplar nas dresinas ou barcos específicos (barcaças por exemplo) e preferencialmente estarem perto dos eixos de transportes.
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
6.3 ACHAR REFUGIO A. PLANEJAR E DIFUNDIR OS LOCAIS DE REFUGIO A TODOS OS HABITANTES DA COMUNA
Os locais de refugio devem ser do conhecimento de todos, pois garantem que ninguém perca seus familiares em tempo de crise. Além dos exercícios de evacuação podemos pensar também em colocar a disposição de todos inclusive dos visitantes da área os locais de refugio em painéis de aviso. B. PASSAR ACORDO DE REFUGIO COM OUTRAS COMUNAS
É importante também passar acordos bilaterais com outras comunas, pois oferecem mais opções de refugio, sendo que cada comuna acolhe outra em tempo de necessidade, o que permite reforçar conexões de cooperação e torna cada comuna mais resiliente aos choques. C.
ver 6.1.A
APOIAR-SE NAS RELAÇÕES COMUNITÁRIAS PARA ENCONTRAR LOCAL DE REFUGIO DEFINITIVO (SINDICATOS NACIONAIS, REDES DE RELIGIÕES ETC.)
259
9
UM POSSÍVEL C E N Á R I O
CAPÍTULO 9: UM POSSÍVEL CENÁRIO
262
UM POSSÍVEL CENÁRIO
Neste último capítulo, vai ser apresentado um possível cenário de futuro, onde as ações de melhoria da resiliência urbana pós-colapso foram implementadas pelos moradores da comuna. O masterplan (fig 108) compila as propostas apresentadas no capitulo anterior, e as imagens restituem a ideia geral de uma comuna resiliente. Neste possível cenário, a rua Visconde de Goiânia (fig 107) foi transformada em parque viário, os habitantes podem passear, conversar e descansar nessa rua sombreada, assim como cultivar suas frutas e seus legumes. As crianças podem brincar na rua e observar a natureza evoluir, os legumes crescendo, os pássaros fazendo seus ninhos, e apreciar a beleza da natureza que quase foi extinta. De vez em quando passam bicicletas e carroças, principalmente nos dias de feira, ou de festas, mas a sensação predominante dessa rua é de calma e tranquilidade, as arvores protegem das intempéries, do barulho e refrescam, tornando-se destino ideal dos idosos que sentados nos bancos podem se encontrar diariamente e transmitir suas experiências aos mais novos. De noite a rua é escura, os animais noturnos começam suas jornadas, os sons dos animais voltaram à cidade e viraram canções de ninar. Neste mundo transformado, o consumismo deixou de existir e nos tornamos produtores, entendemos melhor o trabalho realizado por traz de cada legume, fruta, cadeira, pintura, poesia etc. Cada objeto se torna valioso, não pelo preço ou pela marca, mas sim pelo trabalho que ele requereu. Essa mudança de perspectiva trouxe mais reconhecimentos às profissões que hoje, muitas vezes, são negligenciadas, como os pescadores, os agricultores, os artesãos, os carroceiros etc. enquanto outras profissões desapareceram, como corretor de bolsa, responsável marketing, lobistas entre outros. Nossa economia revaloriza o trabalho manual e as qualidades humanas de cooperação, gentileza e benevolência pois foram essas qualidades que permitiram transformar nossa existência e combater o « cada um por si » da sociedade industrial.
Ilustração paginas anteriores Fig 106: Rio colorido elaborado pela autora ◀ Fig 107:Vista do parque viário da rua Visconde de Goiana na Boa Vista. fonte: a autora
Nesse possível futuro, o tempo é nosso, não existe propagandas roubando nossa atenção, notificações digitais exigindo resposta imediata, fila de espera, ou intermináveis engarrafamentos. Esse tempo ganho permite apreciar a natureza, as artes e os contatos humanos.
263
CAPÍTULO 9: UM POSSÍVEL CENÁRIO
FIG
108: MASTERPLAN
ZONAS DA COMUNA
TIPOS DE VIAS
AREA ATIVA
RUA PAVIMENTADA
É A PARTE DA COMUNA QUE VAI CONCENTRAR AS ATIVIDADES DE SUBSTÂNCIA QUE GERAM FLUXOS. É A ÁREA DINÂMICA DA COMUNA.
AREA PASSIVA É A PARTE DA COMUNA QUE NÃO PRECISA DA INTERVENÇÃO HUMANA DIÁRIA E QUE COMPÕE O SUPORTE ECOLÓGICO PRINCIPAL DA COMUNA.
PARQUE VIÁRIO
ABRIGOS HABITAÇÕES SÃO OS EDIFÍCIOS QUE SERVEM ATUALMENTE DE HABITAÇÕES, E OS EDIFÍCIOS SEGUROS ABANDONADOS DEVIDO AO COLAPSO QUE PODEM RECEBER A POPULAÇÃO SEM TETO, MIGRANTES, HABITANTES DE EDIFÍCIOS INVIÁVEIS SEM ABASTECIMENTO ENERGÉTICO OU INSALUBRES
FLORESTA VIÁRIA
ABRIGO CONTRA ENCHENTES E TEMPESTADES 264
EDIFÍCIOS SIMBÓLICOS EDIFICIOS DE USO CULTURAL, EDUCACIONAL, RELIGIOSO OU CÍVICOS
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES PONTES
CULTURAL: BIBLIOTECAS, TEATROS, MERCADOS ETC. EDUCACIONAL: ESCOLAS, UNIVERSIDADES ETC. RELIGIOSO: IGREJAS, MESQUITA, ETC. CÍVICO: CENTRO COMUNITÁRIOS, ORFANATOS, REGISTROS, CORREIOS ETC.
PORTOS TRILHOS DE TREM
SAÚDE
TRATAMENTO DA POLUIÇÃO
ESPAÇOS DE CONVÍVIO
CEMITERIO
PRAÇA PRINCIPAL
POLO DE RECICLAGEM
PRACINHAS E CAMPOS DE FUTEBOL PARQUE NUTRITIVO O PARQUE NUTRITIVO É UM ESPAÇO DE PERMANÊNCIA COMO TAMBÉM UM LOCAL DE PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA,
ÁREAS VERDES PASSIVAS ZONA NATURAL
COM POLO DE FERTILIZAÇÃO QUE TRANSFORMA O LIXO ORGÂNICO EM ESTRUMO E FERTILIZA EM RETORNO AS ÁREAS DE PLANTIO. 0
125M
250M
FLORESTA PRODUTIVA 325M
500M
265
CAPÍTULO 9: UM POSSÍVELCAPITULO CENÁRIO
266
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
O mundo voltou a parecer gigantesco, a aproximação que a aviação moderna e a internet trouxe parou de fazer efeito, e consigo a padronização do mundo. Excentricidades territoriais apareçam, novas línguas, novas expressões artísticas, novas arquiteturas, também, nossos vizinhos parecem exóticos apesar de próximos. Essa floração cultural estanca os traumas do passado, e nutre nossos imaginários. A praça central (fig 109) passa a ser o palco dessas novas formas de expressão artísticas, durante o dia é um local de encontro, de festas, é uma sala de baile, um mercado etc. ou seja, é um local de vida que recebe pessoas de todas as idades, e por vezes animais curiosos. Em dias especiais, se torna a ágora da cidade, onde cada um, inclusive as crianças, podem expressar suas opiniões e influenciar o futuro da comuna. De vez em quando festas são organizadas, casamentos, exposições, danças, atraindo pessoas das comunas vizinhas para celebrar a vida plenamente.
267
◀ Fig 109:Vista da praça central da comuna. fonte: a autora
CAPÍTULO 9: UM POSSÍVEL CENÁRIO
268
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
Perto da praça central há um dos portos da comuna, no final da rua Miguel de Cervantes (fig 110), o porto é o local de abertura ao mundo, chegam visitantes, migrantes, vendedores contribuindo a vida social da comunidade. O porto também permite ter acesso ao rio Capibaribe, que é limpo e cheio de vida, com pássaros e peixes. Pessoas passam tempo olhando os barcos de velejar chegando e saindo, por vezes se banham, lavam roupas, ou pescam. O porto é sempre animado. Esse futuro quase idílico veio com um custo, foi preciso chegar à beira da destruição do nosso planeta para reorientar nossos destinos. O custo a ser pago pode ser alto demais e possivelmente, podemos não chegar a esse possível futuro, no entanto devemos tentar, pelo futuro de milhões de espécies, pelo nosso futuro, e pelo futuro dos nossos filhos.
269
◀ Fig 110: Vista do porto da rua Miguel de Cervantes. fonte: a autora
CONSIDERAÇÕES F I N A I S
CONSIDERAÇÕES FINAIS
272
UM OUTRO FUTURO
O colapso sistêmico global causa pelo menos uma instabilidade financeira, comercial e politica. A megalópolis contemporânea é vulnerável devido a sua centralização excessiva, que favorece a dominação, a expansão e a constituição de fluxos no âmbito de concentrar no seu recinto, predominantemente, a produção de riqueza. A cidade, portanto, tornou-se dependente de sistemas globais cada vez mais complexos e interligados. Ao trazermos o colapso no tecido urbano identificamos repercussões que colocam em risco a permanência e a sobrevivência da população nas cidades. A ruptura das cadeias de abastecimento, o mau estado das infraestruturas e redes, os choques climáticos ambientais, e sociais, podem desestabilizar o sistema cidade e levar a seu desaparecimento. No entanto, os sistemas complexos podem reagir de diversas formas aos traumas ou perturbações. Uma dessas reações é a resiliência. Embora a resiliência na atualidade é apresentada como um conceito de prevenção de risco, vimos que a resiliência só pode ser avaliada a-posteriori, ou seja, sem trauma não existe resiliência. Portanto, é um conceito adequado para uma situação de pós-colapso, onde as instabilidades financeiras, comerciais e politicas já se consolidaram. Definimos então o conceito de resiliência urbana póscolapso (RUPC) baseando-se principalmente na resiliência sócio ecológica que é aquela que reencontra um equilíbrio, independentemente da preservação ou não do sistema anterior, ou seja, promove a transformação do sistema em algo sustentável no tempo. No caso da cidade vimos que a essência do sistema cidade é a cooperação entre os indivíduos e com a natureza, ou seja, a competição perpetua entre os indivíduos ou com a natureza não é sustentável. Portanto, a RUPC requer simbiose e igualdade para garantir a preservação da vida e da cooperação entre os indivíduos. A partir da definição foi possível identificar os objetivos da resiliência urbana pós-colapso, e em seguida o procedimento geral da metodologia de suporte a RUPC. A metodologia apresentada é bastante versátil e voluntariamente fácil de aplicar, é importante ressaltar que a metodologia não pretende resolver todas as situações que a comuna enfrentará, e reconhece limites no que pode ser feito, por isso, incluiu na sua matriz o abandono da comuna e a evacuação dos seus habitantes. Foto paginas anteriores Fig 111: Foto sem título de Alexandre Perotto no Unsplash
Por último, a simulação permitiu ancorar o conteúdo teórico na realidade de um território da cidade do Recife, embora a simulação seja prospectiva e, portanto, pouco precisa, ela propiciou uma visão de um possível futuro na cidade. Esse futuro é longe de ser
273
CONSIDERAÇÕES FINAIS
aquele dos filmes de ficção cientifica com carros voadores, robô humanoide, e imortalidade, mas não deixa de ser uma possibilidade, e talvez, até mais realista, já que baseado em literatura cientifica e dados observáveis. O trabalho apresentado fornece, portanto, uma contribuição académica, definindo a resiliência urbana pós-colapso, e seus objetivos. É evidente que tanto a definição como os objetivos da RUPC devem ser complementados e analisados de maneira multidisciplinar, pois o ambiente urbano, devido à sua complexidade faz intervir diversos campos de pesquisa, como a sociologia, a economia, mas também pela especificidade da RUPC, a botânica, a ecologia, a biologia, a agronomia etc. Ou seja, poderia, e deveria ser complementada por outras áreas académicas.
274
Em relação à contribuição prática, esse trabalho oferece também uma perspectiva diferente sobre a prática atual da arquitetura e do urbanismo, onde o mercado imobiliário corrói a pratica profissional de muitos arquitetos e urbanistas, principalmente no Recife, exigindo projetos de utilidade questionável (shopping centers) ou danosos para o ambiente urbano (segregação espacial e social) ou o meio ambiente (pavimentação de manguezais, espraiamento urbano etc.). Ao colocar em perspectiva esse tipo de pratica, entendemos que a longo prazo, poderia ter efeitos devastadores enfraquecendo a capacidade de cooperação dos indivíduos e a proteção da vida, em outras palavras enfraquece a resiliência urbana pós-colapso. O trabalho apresentado, embora não se insira totalmente na realidade, pode sensibilizar sobre a necessidade de rever nossas expectativas sobre o futuro, de rever nossas prioridades e de preservar o que é essencial.
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278
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O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
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280
LISTA DE FIGURAS
Fig 1
Foto sem título de Jordan Beltran
p. 14 - 15
Fig 2 Reprodução dos gráficos do Cenário 0 (Buisness as usual) atualizado pela equipe de pesquisa em 2002.
p. 19
Reprodução do gráfico representando o estado atual Fig 3 de sete das nove fronteiras terrestres segundo STEFFEN et al. 2015
p. 21
Fig 4 Reprodução de gráficos que ilustram a perda de biodiversidade desde a época industrial.
p. 21
Sobreviventes do ciclone Idai no Moçambique 2019 Fig 5 carregando sacos de arroz disponibilizado pela comunidade internacional.
p. 25
Fig 6 Mãos estendidas.
p. 29
Fig 7 « Arrogance of Humanity » Foto de Henry & Co.
p. 30 - 31
Fig 8 Gráfico da capacidade de suporte da Terra e da pegada ecológica humana.
p. 34
Fig 9
p. 35
As épocas da ecologia politica.
Fig 10 Mapa global dos potenciais pontos desencadeadores dos efeitos em cascata.
p. 37
Fig 11 Fotografia de um protesto no Tower Bridge em Londres.
p. 39
Fig 12 « Dead End » Foto de Adam Birkett
p. 43
Fig 13 Foto sem título de MIKA Fig 14 Diagrama de resumo da metodologia do seguinte trabalho. Fig 15 Foto sem título de Samantha GADES
p. 44 - 45 p. 51 p. 52 - 53
Fig 16 Sistema simples. fonte: a autora
p. 60
Fig 17 As causas do colapso. fonte: a autora
p. 61
As fases do colapso segundo Dmitry ORLOV e os Fig 18 exemplos utilizado pelo autor em seu livro ou no seu blog
p. 65
Croquis esquemático demonstrando as diferentes Fig 19 direções nas quais o colapso pode evoluir através do tempo.
p. 65
Fig 20 « Recife » de gretadias
p. 66 - 67
Fig 21 Croquis esquemático da ideologia centralizadora
p. 69
Fig 22 Mapa de fluxos aéreos
p. 70
281
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Representação esquemática das cidades com Fig 23 metabolismo linear que consomem e poluem em alto grau. Fig 24 Foto sem titulo de Sara Kurfeß no Unsplash
p. 84 - 85
Fig 25 Cronologia do colapso financeiro
p. 89
Fig 26 Fluxos de Capital físico na Economia do World3.
p. 90
Fig 27 Cronologia do colapso comercial
p. 91
Fig 28 Cronologia do colapso politico
p. 93
Croquis representando os choques climáticos e Fig 29 ambientais.
p. 97
Croquis representando a ruptura das cadeias de Fig 30 abastecimento.
p. 97
Croquis representando os choques econômicos e Fig 31 sociais.
p. 99
Croquis representando a ruptura das cadeias de Fig 32 abastecimento.
p. 99
Diagrama de resumo das ameaças ao sistema cidade e Fig 33 suas consequências. Fig 34 Foto sem titulo de Greg Rakozy no Unsplash Fig 35 Reações de um sistema à perturbações. 282
p. 73
Fig 36 Foto sem titulo de Amirreza Amouie no Unsplash
p. 101 p. 106 - 107 p. 111 p. 116 - 117
Croquis de reação de um sistema urbano resiliente Fig 37 que preserva sua essência enquanto se reestrutura.
p. 119
Croquis demonstrando um sistema descentralizado Fig 38 de cooperação entre comunas
p. 121
Fig 39 Os 6 objetivos da resiliência urbana pós-colapso
p. 127
Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do Fig 40 objetivo 1
p. 133
Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do Fig 41 objetivo 2
p. 139
Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do Fig 42 objetivo 3
p. 143
Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do Fig 43 objetivo 4
p. 147
Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do Fig 44 objetivo 5
p. 152
Exemplo de diretrizes e ações de aplicação do Fig 45 objetivo 6
p. 155
Fig 46
Foto das Barricades de la Commune rue Lafayette et Faubourg St Martin
Fig 47
Procedimento geral da metodologia de suporte à resiliência urbana pós-colapso
p. 156 - 157 p. 160
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
Fig 48
Responsabilidade e documentos de trabalho para o procedimento geral da metodologia
Fig 49 Foto satélite da área de estudo Fig 50 Cronologia da hipótese inicial
Diagrama de resumo dos temas a serem
Fig 51 analisados para avaliar a vulnerabilidade do
p. 161 p. 168 - 169 p. 173 p. 174
território
Fig 52
Diagrama de localização do território em estudo
p. 176
Fig 53
Croquis esquemáticos do histórico de ocupação e de aterramentos do território em analise
p. 177
Fig 54 Mapa de localização Fig 55 Mapa de densidade populacional
p. 178 - 179 p. 180
Fig 56
Gráfico e tabela demonstrando a tendência atual do clima tropical do Recife
p. 181
Fig 57
Reprodução da tabela da IPCC sobre os fatores determinantes dos incidentes ligados ao clima
p. 182
Fig 58
Comparação das modelizações segundo o cenário 2.6 e 8.5 e as mudanças decorrentes
p. 183
Fig 59
Quadro recapitulando os dados visíveis na fig 57 para Recife
p. 183
Fig 60 Mapa dos cursos de água
p. 184 - 185
Fig 61
Mapa de vulnerabilidade das águas subterrâneas do aqüífero Boa Viagem no município do Recife
p. 187
Fig 62
Reprodução dos gráficos da evolução dos riscos no tempo para a América do sul e central
p. 187
Fig 63 Mapa de solo impermeável
p. 188 - 189
1.Vista da Praça Miguel de Cervantes 2.Vista do hospital esperança Fig 64 3.Vista de rua Beira Rio 4. Baixio do viaduto da Agamenon Magalhães
p. 190
Fig 65 Mapa de presença vegetal
p. 191
Quadro de resumo das vulnerabilidades e
Fig 66 oportunidades identificadas relativas a categoria
p. 192
Fig 67 Mapa do sistema elétrico brasileiro.
p. 193
Fig 68
Mapa do sistema elétrico da região metropolitana do Recife.
p. 194
Fig 69
Mapa do sistema de abastecimento de água do Recife.
p. 196
Clima e Meio Ambiente
283
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fig 70
Croquis esquemático do sistema de esgoto de Recife com suas estações elevatórias.
p. 197
Quadro de resumo das vulnerabilidades e
Fig 71 oportunidades identificadas relativas a categoria
Infraestrutura e redes
Fig 72
Mapa de densidade populacional e dados sóciodemográficos
Fig 73 Mapa das comunidades
p. 198
p. 200 - 201 p. 203
Quadro de resumo das vulnerabilidades e
Fig 74 oportunidades identificadas relativas a categoria
p. 204
Fig 75 Mapa de gabarito
p. 206
Fig 76 Mapa de edifícios simbólicos e espaços públicos
p. 207
indivíduos e corpo social
Quadro de resumo das vulnerabilidades e
Fig 77 oportunidades identificadas relativas a categoria
p. 209
Fig 78 Mapa de usos
p. 210
abrigo e convívio
Fig 79 Mapa de infraestrutura de transporte 284
p. 212 - 213
Quadro de resumo das vulnerabilidades e
Fig 80 oportunidades identificadas relativas a
categoria atividades e fluxos
Fig 81 Mapa da área de estudo
p. 215 p. 216 - 217
Fig 82
Diretrizes e ações de aplicação do objetivo 1 para o território em analise
p. 220
Fig 83
Atribuir abrigo seguro a todos os moradores da comuna
p. 223
Exemplo de edifícios sem uso atualmente na comuna. A: edifício abandonado da rua dos Prazeres. Fig 84 B: Usina Higienizadora de Leite, Luiz Nunes, Recife, 1934 C: Antiga fabrica da CILPE atualmente. Fig 85
Consolidar edifícios simbólicos culturais e cívicos existentes
Fig 86 Melhorar o espaço ao ar livre Fig 87
Diretrizes e ações de aplicação do objetivo 2 para o território em analise
Fig 88 Área ativa e passiva
p. 224
p. 225 p. 227 p. 228 p. 231
O COLAPSO E A CIDADE: ENFRENTAR O FUTURO COM RESILIÊNCIA
Fig 89 Rua pavimentada
p. 232
Fig 90 Parque viário
p. 232
Fig 91 Floresta viária
p. 232
Fig 92 Infraestrutura de transporte
p. 233
Fig 93
Diretrizes e ações de aplicação do objetivo 3 para o território em analise
p. 236
Fig 94
Tabela apresentando as áreas disponíveis para horticultura.
p. 238
Fig 95 Produção local de bens de primeira necessidade
p. 239
Fig 96
Autonomia energética e gerenciamento de resíduos
p. 241
Fig 97
Diretrizes e ações de aplicação do objetivo 4 para o território em analise
p. 242
Fig 98 Proteger e acolher a fauna e a flora
p. 245
Fig 99 Croquis esquemático de uma floresta viária
p. 246 285
Diretrizes e ações de aplicação do objetivo 5 Fig 100 para o território em analise
p. 248
Fig 101 Prevenir propagação de epidemias
p. 253
Fig 102
Diretrizes e ações de aplicação do objetivo 6 para o território em analise
p. 254
Fig 103 Refugio pontual.
p. 256
Fig 104 Evacuação da comuna e abrigo pontual
p. 257
Fig 105 Dresina
p. 258
Fig 106 Rio colorido Fig 107
Vista do parque viário da rua Visconde de Goiana na Boa Vista.
Fig 108 Masterplan
p. 260 - 261 p. 262 p. 264 - 265
Fig 109 Vista da praça central da comuna.
p. 266
Fig 110 Vista do porto da rua Miguel de Cervantes
p. 268
Fig 111 Foto sem titulo de Alexandre Perotto
p. 270 - 271