NÚMERO ESPECIAL
plano de leítura dos evan~elhos R.P. TROADEC, O.P.
Publicação mensal das Equipes de Nossa Senhora Casal Responsável: Suzana e Alvaro Molheiras Redação e expedição: Ruo Poraguoçú, 258 - 52-1338 São P.ouio 1O - SP Com aprovação eclésiástica
Os casais de nossos Movimentos familiares, na busca de uma espiritualidade ma.trimonial autêntica e forte, não podem prescindir da leitura e aprofundamente da Palavra de Deus. Nunca é demais que êles tomem como alimento a substância da Mensagem evangélica, em sua pureza e com seu calor. O número especial da Carta Mensal das Equipes de ~\fossa Senhora redigido pelo P. Troadec, o.p., permitindo uma leitura seguida e explicada do Evangelho, é certamente um auxílio precioso para esta impregnação bíblica na vida dos casais. PorisISo é chamado a ter uma grande repercussão. Pensando nisso é que as Equipes de Nossa Senhora e o Movimento Familiar Cristão decidiram unir-se na edição dêste número da "Carta Mensal" no Brasil. Irmanados no serviço da Família e convenc;dos do valor espiritual da Bíblia na vida de seus casais, êstes dois Movimentos crêm assim prestar serviço a todos quantos desejem um roteiro em sua leitura da Palavra de Deus.
INT
DUÇ
Eis !.QUI um plã;no de lettura doa EvangelhO! que permitir' aos membros du equipes uma medttaçAo dletribuida por um pouco meno de um ano, de 17 de Maio a, 14 de Março de 196~ .
Dl.esemos plano de leitura. NAo se trata de um comenttrio. Nem sequer ~ feito para guiar a meditação num eentido determinado. Tem, como único fim, ajuda.r a uma melhor compreensão do texto. Cada um deverá depois meditar como melhor entender, a partir do texto melhor compreendido. Parece-nos que, das diversas maneiras em que seria possível dividir os EvangelhO'll, a melhor seria tomar, para os sinótioos, um Evangelho de base (neste caso o de S. Mateus), o qual se completará., quando necessário, por um dos outros dois, sem sacrificar nada daquilo a que cada um deles se destina, nem o seu fim particular. Era preciso com efeito evitar qualquer espécie de fusão entre as diversas tradições sinótlcas. Fundir num mesmo relato os Evangelistas, levaria a fazer acreditar que os Evangelistas tinham todos o mesmo fim, contar pura e simplesmente a vida de Jesus, bastando justapor fragmentos tirados aos quatro Evangelhos para a reconstituir o mais fielmente possível . . .
1
vattgelhos, est;ritos eatequiticoa
Os desígnios dos evangelistas parecem-nos, na realidade, totalmente ctiferentes. Eles não nos dão um relato dos atos e das palavras de Jesus, cujo único fim seria o da exatidão material. No seu interessante estudo sôbre as Bem-aventuranças ( 1), Dom Dupont fez bem notar que o "gênero literário de uma página do Evangelho não é o de uma ata. Mateus, Marcos e Lucas não têm a ambição de conservar para a posteridade a minuta dos discursos de Jesus, ou uma espécie de relatos autênticos sôbre o pormenor daquilo que realizou". Basta para nos cohvencermos ·que esta não foi, com efeito, a intenção dos Evangelistas notarmos as contradições materiais, que se tornam evidentes quando se comparam passagens paralelas ( 2) , contradições que os seus autores não tentaram fazer desaparecer ao tomarem delas con.Sciêhcia. . Isto . quer· dize>r que, para eles, o essencial era outro e não ·a exatidão· m -riuciosa dos fatos ou das palavras relatadas ( 3) . Era preciso que a proclamação da Boa-Nova de Jesus, atingisse aquelés· a quem particularmente se destinava e que ela se adapta sse à!l necessidades espirituais dos mesmos. "Esta pregação, que se situa no prolongamento imediato de uma tradição ainda viva, (escreve ainda D. Dupont) (4) permanece impregnada de recordações recolhidas pelas testemunhas oculares. O lembrá. las, não tem simplesmente como fim fazer história; há a preo-
(1) -
"Les Béatitudes", t . J, 2.a edição, Bruges-Louvain, 1958, p. 10 .
(2) -
E' sabido que se designam assim os relatos que dão, dos mes· mos fatos ou das mesmas palavra s, os diferentes Evangeli stas. Precisemos, com vista àqueles dos nossos leitores que se admi· rarem com uma tal afirmação, que a Inspiração das E~critura s, nunca teve como efeito conferir milagrosamente à memória dos ouvintes de Jesus a precisão dum registro mecânico, o que mo· dlflcarla o gênero literário dos evangelhos. Em vez de procla· mação da chegada dos tempos messiânicos, terlamos uma sér ie de discos. Op. clt. p. 11- 12.
(3) -
(4) -
2
oupao&o de aallentar ao mesmo tempo as repercussOes que os atos ou palavru de Jesus têm na vida d~ cristãos a quem a prega.ç!o se destina. Aquilo de que se fala, não pertence sàmente a um passado que termlnrm para sempre; o que Jesus disse e fez permanece "atual", pleno de enslnamento.s para a Vida de too~ os dias. "NA.o é de maneira n,enhuma chocante, mas pelo contrA· rio normal que a "atualidade" da ; eração apostólica. tenha deixado a sua marca na tradição evangélica. Repetidas em situações novas, as palavras de Jesus adquiriam novas reasonAnclas: no entanto, não eram alteradas, mas revelavam me• lhor as suas po&slb1lldades de apllcação, Os Evangelistas vivem na Igreja e para a Igreja; pertencem à comunidade. A sua. ml&sA.o, tal como eles a concebem, não consiste precisa.• mente em restaurar recordações relativas a. Jesus exatamente oomo eram na sua origem, separando-as de algumas resson.tnclaa que acaso elas foram adquirindo na tradição". Começamos a compreender melhor agora. o gtnero Ziterdrto dos Eva.nrelhos. 81o uma. proclamação das ações de Jes1.1.1, atingindo comunidades cristAs já. Instruídas pela. pregação apostólica, e apresentando Jesus como a resposta às suaa ne• oessidades espirituais particulares. Quer dizer que eles não rela.tam tudo o que sabem de Je.sus porque nem tudo correaponde diretamente às suas próprias necessidades; o que eles relatam fazem-no em termos e segundo uma ordem escolhldaa em função d~ seus destlnatA.rios particulares; enfim, a objeto ela proclamação dos Evangelhos, é, certamente, o Jesus da hla· tórla, mas também o Jesus sempre atual que a.llmenta a. fé dos seus fiéis. * o que João d1J5 do seu E-vangelho é vá.lido de certa ma. neira. para os sinóticos: "Outros muitos prodígios fez ainda ( ') - N. Tr. - Isto é: o anúncio da Boa·Nova da Salvação realizada, no Passado, por Jesus, Inclui Igualmente aqueles valores esplrltuals que, em Jesus e no Espfrlto, a Igreja dá, no Presente, aos iléls.
3
Jesus na. presença neste livro. Estes creiais que Jesus é tenhais a vida em
de seus disoipulos, que nio foram escritos porém foram escritos a fim de que vós o Cristo, Filho de Deus; e para que, crendo, seu nome". (João 20,30·31) .
Um Evangelho é portanto não uma vida de Jesus ( contràriamente àquilo que muitas vezes se pensa) mas uma catequese ( 5) a partir do C Ue Jesus disse e fez. Isto permite compreender, por exemplo, que a ordem cronológica dOI! fatos, não seja observada, senão nas suas linhas principais. Desde o naso!mento de Jesus em Belém, através do ministério na Ga11leia até à sua morte em Jerusalém. Serla, por exemplo, um engano completo se imaginéssen1os - ao ler os Evangelho!! sinóticos como vidas de Jesus - que o Senhor &~penas fez durante a sua vida pública uma única viagem da Galileia a Jerusalém. Bastaria de resto comparar os sinóticos com o quarto Evangelho para nos convencermoe do contririo. 1
(5) -
Bem definido pelo P . Llégé: "A transmissão da revelação após a conversão", no seu artigo "La catéchêse, qu'est-ce à dlre?" aparecido no revista Catêch6se, Out. 1960, pág. 35- 42 .
A FORMAÇÃO DOS EVANGELHOS SINó ICOS Os 3 primeiros Evangelhos, apesar de apresentarem grandes divergências nos seus relatos dos fatos, têm entre si tais semelhanças que se põe a questão das suas Interdependências. Para nos darmos conta ao mesmo tempo destas semelhanças ( •) e destas diferenças, foram elaboradas bastantes hlpótel!es. A que vamos propor terá em linha de conta, principalmente os trabalhos do P . Benolt ( 6) , do Mons. Cerfaux ( 7) e sobretudo de M. L. Vaganay ( 8). A pregação apostólica, principalmente a de S. Pedro ( 9) , deve ser posta na base dos nossos Evangelhos sinótlcos. Bastante cedo foi preciso redigir, para usa deste. ou daquela comunidade, compilações parciais de acontecimentos relativos a Jesus e de palavras do Mestre . Depois o Apóstolo S. Mateus, servindo-se destas coleções parciais, redigiu um primeiro Evangelho na llngua então falada na Palestina, o aramaico. Designemo-lo pela sigla M. :S:ste Evangelho aramaico per· deu-se, mas a sua existência é atestada por Papias, bispo de Hlerápolls na Frigia ( Asla Menor) , cêrca do ano 125 . t:ste primeiro Evangelho aramaico teve que ser traduzido bem depressa para o grego para se tornar acessivel a um circulo mais vasto de leitores. :S:ste Evangelho de Mateus em rrego, Mg, parece ser a fonte comum dos nossos três sinótlcos. Primeiramente quanto e. S . Marcos. A análise do segundo Evangelho mostra com efeito que êle "sofreu duas influências fundamentais: a catequese de Pedro em Jerusalém e em Roma ,
(6) (7)
"L'Evangile Selon Salnt Matthieu", Paris (Cerf), 1953, p3'{ 13·29
-Diversos artlgoa aparecidos em EPHEM . THEOL, LOVAN, 1935,
(8) til) -
1938, 1952. " Le Problême Synoptlque", Tournat
(Desclée et Cle), 1954
Ver aObre este assunto Ato• doe Apóstolo• 2,14·39; S,ll· 6; 4,8·12; 5,29-32; 10,34-43.
s
assim como uma. Influência secundária, a de Paulo" ( 10). Marcos pôde tomar conhecimento nas suas linhas geraia da catequese de Pedro em Jerusalém, que já tinha sido fixada em M e Mg através destas duas fontes, que éle depois enriqueceu sem dúvida através de conversações diretas com o próprio Pe· dro. Mais: da catequese do Ap6stolo em Roma, êle pôde ser uma testemunha direta, pois que (segundo a 1.• Ep. de Pedro 5, 13) , B. Marcos encontrava-se com êle quando do seu cativeiro em Roma, cêrca de 63-64. Quanto à influêncta de S. Paulo, mais restrita, explica-se pela presença de B. Marcos junto de Paulo durante a sua primeira viagem mlssionârill (At. dos Ap. 12,25-13,13) e durante o.s seus dois cativeiros em Roma (EP. Flm 24; Col 4,10; II Tlrn 4,11). O Evangelho de S. Mateus que agora possulmos, nla é exatamente o mesmo qu1 Mg, A análise dos textos mostra., com efeito, que Marcos e Luoaa deviam conhecer Mg, mas nlo Mt (o nosso Ma teus atual) (11). Nosso Evangelho segundo 8 . Mateus serviu-se de Mg, cuja ordem geral reproduz com bastante fidelidade, dividido em cinco seções (Mt. 3-25) (12), mas consultou outras fontes, particularmente para o seu Evan· gelho da infância. da Jesus e para a parte do seu llvro QUI relata a Paix!o e a Reasurreiçl.a. Parece que utllizou também Me. • Quanto ao Evangelho de S. Lucas, foi multo Influenciado pela aôterloloala. ( 13) de Paulo, o que nlo é de admirar Visto UOJ - Vaganay, op. cit. pág, 1&2. ( •J - N. Tr. - E' por Isso que se chamam "slnótlcos": postos os relatoa em paralelo, num só golpe de vista apanha-se a mesma oena noa trêa. (11) - Consultar as longaa anAllaes de Vaganav op. clt. (12) - Distinguem-se multo claramente na Bíblia de Jerusalém (13) - A teologla de 8. Paulo apresenta es1enclalmente como Salva· dor (em greeo - S6ter) podemos pois caracterlzã·la como uma "sOterlologla, doutrina de salvaçAo". t •J - N. Tr. - O atual texto erego de Mat., na sua redação defini· tlva. recebeu-o a Igreja como Inspirado por Deus; é nesse aspecto que êle, jâ nos fins do séc. I, é utilizado com a m~Ema autoridade que o orlilnal. 6
que S. Lucas o redigiu durante as suas principais viagens m iss!Onârias e o ·eu cativeiro em r>rll a . rruct11·a sobrPtudo a 111aLérla para o seu Evangelho no tk Marcu.s. ConLtJdo põe-se um problema especial quanta à seção 9,51-18,15 . Esta "seção fora da série" - a expressão é de L. Vaganey - é composta por dais gêneros de fragmentos : uns são-lhe estritamente próprios, os outros encontram-se também em Mt, mas dispersos através de todo êste Evangelho. Vaganay reconhece aqui um original especial S (aramaico, mas traduzido em grego, Sg) o qual foi utilizado tanta por Mateus como por Lucas, mas sem saberem um dO outro. Por outro lado, Lucas consulta originais que lhe são parliculares, e aos quais faz alusão no seu prólogo (Lc 1,1-4). Entre estas, não se exclui que haja algo da pregação de S. João. Enfi m o próprio João, Evangelista que foi por excelência testemunha ocular dos acontecimentos relativos a Jesus, depois de êle próprio ter pregado a Cristo, compôs no fim da sua vida um evangelho, que nada deve aos sinóticos ( 14 ).
(14) - Resumimos aqui o que escrevemos no s nossos dols trabalhos: Le Mnsage de Salnt Jean, e L' vanglle selon nlnt Matthleu - Mame - Paris.
7
A intenção de cada Ev:mgelista S. Mateus d!rige-:.e mandcstamouLc u. Judeus wuvcrtJdos. Só assim se pode explicar o seu recurso freqüênte au Antigo Testamento para mostrar a BUa realização no Novo ( 5,17) - quer dizer ao mesmo tempo a sua realização e aperfeiçoamento. :E: portanto necessário, para o compreender bem, colocarmo-nos, tanto quanto possível, no estado de espírito de um judeu convertido, mas que permaneceu fiel à sua maneira de pensar rabínica, habituado a invocar os textos da Escritura em apoio dos principais pontos do seu discurso, ainda que para isso tenha que forçar um pouco o sentido original desses textos. Visto que se dirige a Judeus, é normal que êle insista sôbre aquilo que, na pessoa e atitude do Messias, se chocava mais com as concepções correntes no meio judeu no tempo de Jesus: enquanto que eles esperavam um Messias visivelmente e temporalmente triunfante, Jesus sofreu e morreu com um suplício romano reservado aos escravos ( cf. Fil. 2, 7). Ma teus mostra que até nisso êle cumpre as profecias do Antigo Testamento, principalmente as do Servo de Yahvé sofredor (Mt 12,15-21). * Outro motivo de escândalo para os Judeus: Jesus afirmou que era o Filho de Deus, sentado à direita do Pai. :E:ste foi o motivo formal da sua condenação pelo Sinédrio (26,63·66). De fato o monoteísmo rígido do povo eleito não lhe fac111tava muito a aceitação do mistério, (o mais desconcertante possível para a inteligência), de um Homem que se igualava a Deus em autO'l'idade e dignidade. Mateus insiste muito sôbre a necessidade da pobreza de espírito ( 5,3) a aceitação incondicional do mistério de Deus, única forma de entrar no Reino dos Céus (11 .1·13,52; 19 ,13-14) . E êle proclama com mais
( •) 8
N. Tr. -
Ver, no profeta Isaías, em especial
42,
1-4 e a cap. 53.
insistência que os dois outros sinóticos, a filiação divina. de Jesus. · O Evangelho de S. Marcos reflete, como vimos, a prega.çáo de Pedro em Jerusalém (15) e sobretudo em Roma. Os Atos dos Apóstolos apresentam-nos "João, que tem por sobrenome Marcos" (12,12) ligado desde a primeira. hora ao Apóstolo Pedro: quando o anjo libertou S. Pedro da prisão, foi à casa da mãe de Marcos que éle de fato se dirigiu. Talvez que S. Marcos tenha sido batizado pelo Apóstolo. Alguns vêm urna prova disto no fato de Pedro lhe chamar "meu filho" (I Pedro 5,13). Depois de ter acompanhado Paulo, quando da primeira viagem missionária ( At 12,25) e de se ter separado dele antes da segunda ( At. 15,36-40), Marcos não aparece mais em companhia de Paulo senão em Roma (Ep. Flm 24; Cal. 4,1 O), pouco mais ou menos na mesma época (cerca de 64-67) em que Pedro também ai se encontra prisioneiro. Paplas completa sôbre êste assunto, as mformaçóes que nos ornece o Novo Testamento, quando, citando o testemunho de um certo João, o Presbítero, escreve: "Eis que o Presbf e o costumava dizer: "Marcos, que tinha sido intérprete de Pedro, escreveu exatamente, mas não por ordem, tudo aquilo de que êle se lembrava das palavras ou açocs do Senhor". Porque êle não ouviu nem seguiu o Senhor, mas, como eu disse, mais tarde seguiu a Pedro. -a:ste, dava as suas instruções segundo as necessidades, mas sem fazer uma compo.5ição ordenada das falas do Senhor. Marcos não cometeu falta ao pôr por eEcrlto algumas destas, tal como êle as lembrava. Porque êle não teve senão uma preocupação: não omitir nada daquilo que tinha ouvido, não dizer nada que não fosse verdadeiro". O estudo do nosso segundo Evangelho corrobora êste julgamento, deixando adivinhar, por trás do texto, um autor discreto, que não tem outra Intenção que não seja. apresentar fielmente os fatos relativos a Jesus que lhe foram transmiti-
(15) -
CC. At. 2,14·41 por exemplo. 9
dos pelo Apóstolo Pedro. Sem dúvida, dirige-se, principalmente, como fez o seu mestre nessa época, a Romanos convertidos do paganismo. Isto explica o fato de êle sentir necessidade de explicar, quando falava neles , os costumes judeus (7,3-4) e explica também as numerosas palavras latinas, transcritas para grego que se encontram dispersas ao longo do Evangelho (16). Um estudo completo dos evangelhos exigiria evidentemente que nos dedicássemos a deslindar a originalidade de S. Marcos. O tempo limite que temos para êste estudo obrigou-nos a renunciar a isso em proveito de um melhor conhecimento dos outros dois sinóticos, mais completo.;;: S. Mateus onde a preocupação catequética é muito mais evidente, e S. Lucas que segue bastante fielmente o evangelho de S. Marcos, sua fonte principal, pela menos nos capitulas 3 a 9 e 18 a 24. O Evangelho segundo S. Luca.s (o último dos sinóticos, quanto à. data) retoma por sua vez os anteriores Evangelhos e outras narrações de tipo evangélico (Lc 1,1-4). S. Lucas faz uma investigação cuidadosa, e propondo-se consolidar a fé de um certo "Tcófílo", a quem dá o titulo de Excelência, e ao qual dedica igualmente o seu segundo livro: os Atos dos Apóstolos. Ignoramos tudo acêrca deste Teóf1lo. Talvez não passe de uma personagem fictícia - o seu nome significa "que ama a Deus" - representando o conjunto das comunidades a quem êle se dirige. Quais são estas comunidades? Provàvelmente as Igrejas da Asia Menor fundadas pelo seu mestre S. Paulo. Comunidades que êle próprio conhece bem, visto que acompanhou o Apóstolo durante a maior parte das suas viagens ( 17) . O seu (16) (17) -
10
Tais como legio, denorius, Sobe-se isto pelo emp1 ego Ap. 16,1 0-17; 20,5-21 , 18; chamado "ocidental") em
praetorium . do "nós" que se encontro em At, do• 27,1-28,16 e talvez já (ver o texto 11,28 .
Evangelho tem como fim completar a pregação de S. Paulo, cuja teologia bem oentrada sObre a salvação realizada por Jesus Cristo Inspira, como acima dissemos, a sua própria cate.. qucse. Da! a designação, tão freqüente, no seu Evangelho, de Jesus como Salvador (18) , da sua obra como uma salvação, nós diríamos um "salvamento" ( 19) . Dai a sua insistência sObre a misericórdia manifestada por Jesus ( 7,13), especialmente para cam os pecadores ( 20) e os estrangeiros ( 21) , ou mesmo pelo Pai Celeste ( 22) ; e a sua preocupação em distinguir as mulheres, tão desprezadas pelo Judaísmo ( 23) . Dai enfim o relêvo que toma, no seu Evangelho, a expansão universal da salvação multo para além das fronteiras de Israel (24 ), segundo os ensinamentos do seu mestre S. Paula, para quem, de futuro "não hã judeu nem grego; não hã servo nem homem livre; não hã homem nem mulher" (Gal. 3,28). A perspetiva de S. João é totalmente diferente. :tle escreve menos para ensinar - ou lembrar - àqueles a quem o seu Evangelho se destina, as ações e as palavras de Jesus do que para as convidar a compreender o seu sign ificado profundo: são as ações e as palavras do Verbo de Deus, Filho único do Pai que veio em carne (I Jo. 4,2 ; 2 Jo. 7) para se nos manifestar (Cf. I Tim. 3,16) e nos conduzir ao seio do Pai ( Jo. 1,18 ). Se J oão, coma os seus predecessores, quer torna.r mais forte a fé dos seus leitores em Jesus, Messias e filho de Deus, o seu último fim é ajudá-los a viver esta fé : "para. que, crendo, tenhais a vida em seu nome " (20,31) . Enquanto que Lucas, por exemplo, vê sobretudo em Jesus o Salvador, Joio, (18 ) (1 9) -
(20 ) (2 1) (22 ) (23 )
-
(24) -
1,47; 2,11. Encon tro -se o palavra sal vação em 1,69 .71 .77; 19,9; o verbo salvar em 7,50; 8,12; 36 . 50; 13,23 ; 17, 19; 19,10; 23 ,29 . Apenas citomos tex tos de S. Lucas. A mulher pecadora 7,36-50; Zoqueu 19,7; o bom ladrão 23,39-43. 9,54 seg . Parábo la do filho pródigo; 15,11 -32. Mo 110, Isabel , Ano, o viúvo de No im (7,11 - 17); as santos mulheres (8,1 -3; 23,49- 55; 24, 10 seg); Morto e Mario (10,38-42, etc. Por ex emplo foz remontar o genealog ia de Jesus oté Adão: 3,28 (comr"ste com S. Moteus).
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sem renegar êste aspecto do Filho de Deus, vê de preferência nêle, o que ·vem revelar o Pai, enviado para nos comu'nícar a vida de Deus (3,6; 6,57; 7,37-38; 10,10)·. Para atingir o seu fim, João emprega simbolismos. Entre as ações de · Jesus, es~ colheu algumas, as "sinais" (20-30), que lhe pareceram particularmente aptos a conduzir o espírito dos seus leitores, por meio de símbolos, à con nplação do sentido profundo da vinda do Verbo entre o. l1arnens. Escolheu, por exemplo, o milagre da cura do cego cte nascença para nos fazer compreender bem que Cristo é a verdadeira luz, a luz espiritual, mais importante do que a luz material que a simboliza. ~ pois importantíssimo que, ao lêrmos o Evangelho de S. João, não nos limitemos aos acontecimentos e gesto~ relatados, mas nos esforcemos por compreender bem o seu significado simbólico.
Já estamos portanto avisados de que cada Evangelho tem uma óptica própria, à qual temos que estar atentos se quisermos compreender bem a sua mensagem. Par aqui vemos comQ seria falso e pernicioso o método que consistisse em fundir os quatro evangelhos num único: não só fixaríamos apenas o lado material dos fatos, como lhe daríamos, aquele valor absoluto que · os evangelistas propositadamente quiseram dar a outro ponto: à Palavra de Deus, dirigida a ouvintes determinados, adaptando.:se às suas necessidades próprias, colocando-os em condições de responder pela aceitação ( au pela recusa) à Salvação que lhes era assim proposta.
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P ANO DE LEITURA 17 DE MAIO- OS EVANGELHOS DA INF'ANCIA- A) MT 1-2 Os Apóstolos, nas suas primeiras pregações, apenas se referiam àqullo a que se chama a vida pública de Jesus: desde o seu Batismo, por João, até à sua Ascensão ( 25). Nem o Evangelho segundo S. Marcos, nem o Evangelho segundo S. João relatam a Infância de Jesus. Os Evangelhos da Infância, em Mateus e Lucas, fixam fatos mais longínquos que os que encontramos assinalados no resto dos Evangelhos. Eles revelam também um gênero literário um pauco diferente. ll: preciso procurar neles mais uma meditação teológica do que um relato pormenorizado dos fatos que rodearam o nascimento e a Infância do Senhor. Os dois primeiros capitulas do Evangelho segundo S. Mateus refletem a meditação de um melo judeu em que se usava freqüêntemente, a narrativa edlflcante, cujo fim é transmitir uma doutrina, "a haggada". É preciso estar atento a êste gênero literário, para compreender bem todo o alcance do Evangelho da Infância segundo S. Mateus. O autor quer destacar primeiramente a pessoa de Jesus, filho de David - é a razão de ser da genealogia ( 1-1-17) e jaho d e Deus - êste é o sentido da mensagem do anjo a José ( 1,18-25) ; a seguir propõe-se definir a missão de Jesus, missão de luz (2,1 -12) e de sofrimento (2-12-23) . • A ienealogla, agrupando a lista dos antepassados de Jesus em três séries de catorze, quer sublinhar que Jesus é bem o Messias Davldlco, visto que é legalmente - único ponto de
(25) - Cr. Ac 1,21-22. ( • ) N. Tr. - Os fatos sucedidos sã o históricos, sem dúvida; mas devido équela finalidade apontada, h6 certa liberdade na redação dos pormenores. 13
vista que interessa os judeo-cris.tãos a quem Mateus destinava o seu Evangelho - filho de David, o número catorze parece ser, de -fato, o de David. ( 26). A mensagem do anjo mostra que José, embora não sendo Pai de Jesus segundo a carne, está perfeitamente no direito de introduzir a criança na sua própria linhagem e dE' lhe chamar Jesus , quer dizer "Deus salva". A narração da adoração dos Magos, onde transparece uma alusão a Num. 24,17 e ao SI. 72 assim como a Is. 60,1-6, anuncia que um dia virá em que todos os pagãos, figurados aqui pelos Magos vindos do Oriente, reconhecerão a J esus comu seu Rei supremo. Quanto à narração da fuga para o Egito e dos acontecimentos que se lhe seguem, ela tem como fim , manifestar que Jesus vai tomar sobre si o opróbrio que caiu sôbre o povo eleito ao longo de toda a sua história, ma-s que vai tam bém, tal como o Servo Sofredor, ser o Resto Fiel - é êste provàvelmente, o sentido da palavra Nazoraios (traduzido habitualmente por Nazareno) - que salvo de I srael, será finalmente a luz das nações (Is. 49 ,6) .
24DEMAIO- OS EVANGELHOS DA INFANCIA- B) LC-1-2 ll: também uma meditação teológica, mas de um estilo totalmente diferente. Lucas apoia-se em fatos reais, e utlli2a-os para pôr em relêvo as mensagens que se referem a S . João Baptista e a Jesus. Preocupa-se menos em retratar a psicologia das personagens do que em esclarecer os desígnios de Deus, e convida-nos por Isso mesmo a estar atentos a êste ponto. •
(26) -
Se se substituir um costume muito divulgodo naquela época, cada uma dos J letras que, em hebreu, compõem o palavra David (D W D) pelo seu valor numérico (0-4; W-6) obtêm-se o total de catorze. Poro esclarecimento sôbre êste ponto e al iás sôbre o conjunto do Evangelho de S. Mateus, permitimo-nos acon selhar a consulta do nosso pequeno livro, L'EVANGILE SELON SAINT MATTHIEU, Paris, Mame, 1963 .
31 DÉ MAIO -
MATEUS 3-4
~ costume dividir o Evangelho de s . Mateus, desde o começo da vida pública de Jesus até à sua subida ao Céu, em 5 Seções.
Aqui começa a primeíra das cinco seções de Mateus. Nesta, como nas cutras, o d~cursa final dá à seção todo o seu alcance catequético. ~ em função deste discurso, aqui o discurso inaugural ou sermão da montanha, que Mateus dispõe um certo número de acontecimentos, destinados a preparar o leitor para apreender bem os ensinamentos que vão ser dados, relativos à promulgação da Lei do Reino dos Céus. 7 DE JUNHO- LUCAS 3,1-4,3 1:!:
em suma , o paralelo dos capitulas 3 e 4 de S. Mateus.
!!: de notar como Lucas modifica a sua catcquése em função
daqueles a quem ela se destina. Dírige-se a um meio grego culto ; precisa pais, de situar o Precursor na história geral (3, - 1-3; reparar na solenidade deste preâmbulo). Lucas dirige-se a pagãos convertidos; é portanto necessário que insista na necessidade da conversão e da prática da justiça social (3,10-14, passo próprio de S. Lucas). Dirige-se aos cristãos da Asia Menor, onde era sempre de temer o retôrno aos cultos sincretistas ( 27) orientais, à base de uma imaginação religiosa desenfreada; pôe portanto no vértice da sua catequese, relativa às três tentações de Jesus, aquilo a que se poderia chamar a tentação de "Imaginação religiosa à procura de milagres" ( 4,9-11), tentação que em S. Ma teus ocupava a
(27 ) Chamo-se sincrehsmo à fusão de crenças e cultos diferentes. ( • ) N . Tr. t po r isso que S. Lu ca< nas apresento os fam osos cânticos <le N .o S.o (Moqn oficot ), c.tc Zoco ri os (Bcncd ictu s), c de Simeao (tl unc <1•m iiT ") .
1!?
segundo lugar, l!: que 8, Mateus pensa que a tentação maior dos judeus (a quem destinava o seu Evangelho) é uma tentação polltica, Perpétuamente oprimidos pelo poder, el s aspiram a derrubá-lo e assim a situar-se - e situar o seu messianismo - no mesmo plano humana que os seus opressores. Era preciso portanto mostrar-lhes, (e é isso que faz S. Ma teus) que a sua grande tentação reside neste desejo de dominação pol!tica que Jesus repele como a tentação suprema. (Mt 4,8-10). 14 DE JUNHO -
MARC, 1,14 -
LUC, 4,15 -
3,6 E O SEU PARALELO : 5,11.
Na realidade o paralelo em S. Lucas de Me 1,14-3,6 vai até Lc 6,5 mas, por um lado, somos obrigados a parar, por agora, em Lc 5,11 porque havemos de ler Lc 5,12 e seguintes mais adiante, quando fizermos o paralelo com os capítulos 8 e 9 de S. Mateus, e por outro lado, há. interêsse em não cortar o desenrolar da assunto em Me 1,14-3,6 que forma um todo . Marcos encontrou, (28) no aramaico de S. Mateus a seguinte seqüência : Me 1,14-15: começo da pregação de Jesus na Galileia; 1,16- 20: chamamentto dos quatro primeiros discípulos, 1,21-39 : as atividades de Jesus em Cafarnaum num dia de sábado; 1,40-45: cura de um leproso em sitio e data desconhecidos; 2,1-3,6: uma série de conflitos em que Jesus entra em oposição com os escribas e Fariseus. A ligação entre todos estes conflitos não é de ordem cronológica, mas catequética: trata-se de mostrar que a oposição se tornou cada vez maiS viva; é por isso que estes conflitos estão ordenados numa progressão constante desde a critica silenciosa em 2,6 até à resolução firme de liquidar Jesus, em 3,6. Luca& tem como fonte principal, já o dissemos, o • vA ngelho de S. Marco.s. l!: sem dificuldade que nos apercebemos, nesta passagem, das modificações que êle introduz para lnte(28 ) 16
t o q ue esta belece L. Vogonoy, le problil:me synoptlquc p. GO .
grar Marcos no conjunto do seu Evangelho, modificações essas devidas a sua intenção catequética: êle introduz em 3,16-30 um quadro de uma das primeiras pregações de Jesus, em Nazaré, quadro para o qual êle encontrou, pelo menos o essencial, na terceira seção do aramaico de Ma teus ( 29) ; e que ilustra admirAvelmente os versículos 14 e 15. A cena da expulsão de Jesus, em contraste com a admiração provocada pelas suas palavras, mostra bem como eram volúveis os contemporâneos de Jesus. Como escreveu L. Vaganay, "colocado logo no começo do seu ministério público, êst.e insucesso de Cristo, faz pressentir todos os outros até ao revés final. ( 30) Outra modificação que Lucas introduziu no Evangelho de Marcos: coloca a cena do chamamento dos quatro primeiros discípulos depois c não antes (cf. Me 1,16-20) dos milagres feitos por Jesus em Cafarnaum, e junta-lhe pormenores colhidos numa tradição diferente (como em Jo. 21,1-14) que fala de pesca milagrosa. Colocando assim êste episódio, Lucas faz com que os seus leitores compreendam melhor a resposta imediata dos apóstolos ao chamamento de Jesus. ( 31) 21 DE JUNHO - Mt 5
SEÇAO DISCURSO DA PRIMEIRA SEÇAO DE MATEUS: O SERMAO DA MONTANHA
28 DE JUNHO - Mt 6
Jesus pronuncia êste grande discurso sôbre uma montanha, escreve Mateus - na realidade trata-se de 5 DE JULHO - Mt 7 uma colina próxima de Carfarnaum. :l!:ste ponto está sublinhado muito intencionalmente pelo nosso evangelista que quer assim chamar a atenção dos seus leitores judeocristãos para o paralelismo entre a promulgação da Lei judaica sôbre o monte Sinal, e a promulgação da nova Lei, que não (29) (30) -
Op . cit. pg . 254 . Op . cit., pg. 255 .
(31) -
Cf. Vaganay, op cit. p. 255 .
17
vem destruir a precedente mas sim aperfeiçoá-la ( 5,17) . :&te aperfeiçoam nlo, afeta tanto o cot1lcúdo d Lei, que .Tt\sus tornou mais exigente ( 5,18-19) preparem o "desenvolviment<>" a seguir onde, para cada um dos pontos enunciados, Jesus reforça os preceitos morais de Moisés) como os próprios motivos que hão-de impulsionar o cristão. Contràriamente aos escribas e Fariseus, preocupados com o aprêço dos homens ( 5,20 e depois 6,1 a preparar os aperfeiçoamentas em 6,2-18) o dlsc!pulo de Jesus agirá em todos os seus atos movido pela única preocupação de agradar ao Pai Celeste que vê no segredo dos corações. Colocará a sua recompensa ( 6,1 ) , não sôbre a Terra, mas no Céu, "lá onde nem a ferrugem nem a traça consome" 6,20) . Esta idéia está desenvolvida e prolongada em 6,19-7,12. Acabamos de analisar a parte central do Sermão da Montanha (5,17-7,12) com a inclusão da expressão (32) "A Lei e os Profetas". Quanto à primeira parte ( 5.3- 16 ) tem como fim anunciar solenemente a chegada dos tempos messitl.nicos, e começa com uma proclamação de alegria, as Bem-Aventuranças. A terceira parte (7 ,13-27) é uma exortação escatológica ( 33) a tirar dos ensinamentos que acabam de ser propostos e das conseqüências práticas que deles resultam . (32) (33) -
18
Chamo-se inclusão um modo de composição semí tico que consiste em escolher uma fórmula caroteríst1ca, que se coloca no pnncípio e no fim de um conjunto, poro lhe marcar os limites . Sobe-se que êste adjetivo se aplico o tudo o que tem relação com os últimos tempos. Isto evoco em primeiro lugar, o julgamento f inal e o fim do mundo. Mos se t oma rm os em consideração o imenso período que separo o origem do mundo e o vindo de Jesus Cri sto , pode-se dizer que o histór ia entrou com ~ l e no sua fase definitivo: Hebr. 1, 1. A escatol og ia começou com ~I e (escatologia natural) e terminará (escatol og ia term inal) com o fim do mundo e o vol to de Jesus poro julgar os vivas e as mortos. Mas é muito importante que se esteja atento a uma terceira vindo de Crista, intermédia cronolog icamente entre os duas referidos: é constantemente que o Senhor Jesus vem a n6s: "Eis que estou à parta e bato" (Ap. 3,20). Podemos falar o êste respeito de " escato logia no tempo" . A exo rtação escatol6gko do sermão da Montanha apl ico-se igua lmente o cada uma destas três escatolog ias .
12 DE JULHO -
MATEUS - 8,0 E LUCAS 5,12-10
19 Dl!: JULHO · - MA1'1WS - 10
Enquanto que n primeira seção do nosso Evangelho segundo S. Mateus contava fatos e palavras de Jesus que diziam respeito ao conjunto dos seus discípulos, a segunda seção (Mt 8-10) é particularmente consagrada aos Doze. O Evangelista coloca nesta altura a sua escolha e missão (1 O,1-4), enquanto que Marcos e Lucas situam a chamamento apostólico muito antes (Me 3,13-19 e Luc 6,12-16) e, por outro lado colocam n ·missão dos Doze muito mais tarde (Me 6,6-13 c Lc 9,1-6. J;; provável que a ordem adotada por Marcos e Lucas seja a da sucessão cronológica dos fatos. Pensa-se que rsta ordem se encontrava no aramaico de Mateus (34) onde Marcos teria encontrado, seguido depois por Lucas. Por que é então que o nosso Mateus atual fez essa transposição? Para melhor manifesta!', por esta acumulação dos milagres arrancados à misericórdia de Jesus, a imensidade da miséria ffsk.1 e moral dos homens: ver 9.35-38 que forma o elo entre a parte narrativa e a parte - discurso da segunda seção de Mateus. O discurso de formação apostólica (Mt. 10) constitui de certo modo uma pequena cartilha do missionário, sucessor dos Apóstolos, aos quais se dirigiam no princípio estas normas. 26 DE JULHO -
MATEUS 11-12
Qual é, portanto, esta mensagem que os Doze e os seus Sucessores terão de proclamar? A resposta a esta pergunta v.er na terceira seção de Mateus: 11,1-13,52. A idéia principal que vai ser desenvolvida é a seguinte: O Reino dos Céus, que Jesus veio trazer, é uma realidade desconcertante para as judeus, que o esperavam sob uma forma totalmente diferente. Testemunha isto o espanto do próprio Precursor, que no en{34) -
L. Vaganey op. cit. póg, 60.
19
tanto estava bem preparado para receber o Messias c o scn Messianismo ( 11,:J). Para entrar ncslc Reino, é preciso , ao contrário dos Judeus que vão aqui ser postos em causa, abandonar as idéias pessoais e aceitar êste mistério com toda a humildade de espírito. Os Judeus, no seu conjunto, pelo menos aquêles que Mateus vai pôr em cena, não souberam aceitar a Reino. O que ofendeu mais o seu orgulho, foi a humilhação deste Messias, que ralizava os oráculos do Servidor de Yahvé (Mt. 12,15-21). Foi também o caráter interior deste Reino, quando eles esperavam um Reino exterior e visível. Os leitores de S. Mateus não terão a tentação de voltar aos erros dos seus antepassados? ll: possível que eles tenham ao menos algumas dificuldades em admitir estes dois pontos desconcertantes. Para os ajudar, Mateus vai orientar a sua catequése, agrupando um certo núm ero de casas em que Jesus condenou a recusa a entrar nos caminhos misteriosos do Reino que êle veio trazer e louvou ao contrário os pequenos, os humildes - totalmente dispostos a receber do Pai Celeste as revelações a que o orgulho dos sábios e dos astutos deste mundo fecha a porta. Nesta catequese, Mateus preocupa-se pouco com a ordem cronológica dos acontecimentos. Quando muito menciona que em certo momento Jesus abandonou a publicidade barulhenta das cidades pouco propícia a uma revelação da caráter secreto do Reino, e que começou nessa altura a orientar os espú·itos para uma revelação ainda mais difícil de admitir, a da sua identificação com o Servidor sofredor, anunciado por Is.-53. Esta etapa divide assim as duas partes da seção narrativa:
20
a)
Ensinamento de Jesus 11,1-12,14
nas
cidades
de
Galleia:
b)
Pregação do "Servo" fora das cidades da Galileia: 12,15-50
'\
2· DE AGOSTO -
lt
lJUCAS 6,1-8,3
A versão que S. Lucas dá da Sermão da montanha é apre· :;enlacla num conjunto em que a misericórdia de Jesus aparece constantemente. A bondade do Salvador que cura os eiúermos, como o homem que tinha a mão direita paralisada ( 6,6-11) ou as multidões de pobres que tinham vindo para o ouvir, e para ser curados das suas doenças (6,16·19), ou a compaixão para com o servo do centurião (7,1-10), a da viúva de Nain (7,11-17), a pecadora que foi perdoada porque muito amou (7,36-50) ~:; recebeu um perdão que fo-i recusado ao fariseu severo e dura. Esta misericórdia, que êle próprio é o primeiro a praticar, Jesus lamenta não a encontrar nos Fariseus mal intencionados (6,1-5), mas recomenda-a vivamente aos seus d1scfpulos ( 6,37- 46).
Lucas, médico, por tempc:ramento (e também sem dú 1da por profissão), está part1 ularmente atento a esta virtude que, ao que parece, lhe surge como característica da cristianismo tão oposto à dureza dos pagãos. Parece-lhe oportuno insistir sôbre êste ponto na sua catequese, destinada, como nos devemos lembrar, a pagãos convertidas. A palavra - chave do sermão da montanha, segundo S. Mateus era perfeição (Mt. 5,17-20,48). Para Lucas é a palavra misericórdia (comparar sobretudo Mt 5,48 com Lc 6,36). 9 DE AGOSTO -
Mt 13,1-52 e Lc 8,4-56: AS PARABOLAS
Como em cada seção, a parte discurso desta segunda seção de S. l\_1ateus é para ser vista em intima ligação com a parte narrativa. Esta tinha chamado a atenção sôbre o caráter misterioso do Reino e a recusa de muitos a aceitar êste mistério que se opõe às idéias feitas. F..sta recusa pode ir até à blasfêmio contra o Espb·ito Santo. ll: para tentar evitar isto que 21
Jesus !ala em parábolas. Não é, como explicam os sinóticos (Mt 13,13 ; Me 4,12; Lc 8,10), para se fazer compreender melhor, mas para atenuar a intensidade da luz, e somente dá-la na medida em que aqueles que o escutam lhe oão favoráveis. • 16 DE
GOSTO - Mt 13 ,53-14,33 QUARTA SEÇAO DE MATEUS: A IGREJA; 23 DE AGOSTO - Mt 14,34-16,20 PRIMiCIAS DO REINO DOS CÉUS: 30 DE AGOSTO - Mt 16,21-17,27 A terceira seção de S. Matcus dirigia-se à multidão . A quarta, 6 DE SETEMBRO- Mt 18 como a segunda, dir;gia-se aos Doze e aos seus sucessores. REparemos, à medida que formos lendo, quantas vezes Mateus descreve Jesustentando fu gir, às multidões, para se dedicar especialm ntc aos seus discípulos (palavra, que designa ao longo de toda esta seção, o grupo restrito dos Doze, foi assim que S. Lucas o compreendeu) ( 3 5) . Mesmo quando os ensinamentos são dados de uma forma geral e se dirigem de direito a todas os seus discípulos, como em Mt 16,24-26 (a renúncia necessária) é de fato aos Doze, se o julgarmos segundo o contexto, que êste discurso se destina particularmente. Êntre os Doze, três estão em destaque: Pedra, Tiago e João, sendo .atrib1,lido a Pedro, o lugar mais importante. Esta seção, portanto, diz respeita exclusivamente aos Doze, e entre estes, a titulo especial, a Pedro. Não é êle o chefe da Igreja, a qual é o tema central de toda esta seção?
N. Tr. - As parábolas, característicos do gênio semítico, têm alto valor de pedagogia espiritual : servem para estimular o interêsse dO! que ouvem a Verdade sob uma formo velado c, estando bem dispostos, se esforçam depois por conhecer melhor os mistérios do Re in o. (35) - Comporor Lc 9,12 (os Doze) e Mt. 14,15 (os Discípulos).
( *)
22
Tentemos concretizar bem a "curva.'' desta catequese. Na parte narrativa pode-se distinguir uma triplice progressão: a) b) c)
Da !alta de fé dos Nazarenos à fé dos Doze 13,5414,33. Da fé ainda vaga dos Doze (36) à fé lúcida de Pedro: 14,3 4-16,20 . De novo a fé posta à prova: a perspectiva da Paixão: 16,2 1- 17,27.
Quanto à parte discurso, que se poderia intitular o cUscurso comunitário, o seu fim é lembrar aos sucessores dos Doze, e depois deles a. todos aqueles que tenham qualquer espécie de autoridade, que na Lei evangélica, não há nenhuma espécie de autoridade que não seja um serviço. Jesus mostrou-o em primeiro lugar, através do seu exemplo : "Assim o FJ!ho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para redenção de muitos" Mt 20,28). Quem no Reino de Deus que é a Igreja, for chefe, nãà pode sê-lo senão à maneira do Jesus Rei : para servir. Tendo sido lembrado êsté primeiro princípio, diversas normas vão ser dadas para a orientação da comunidade cristã: a) b) c) d) (36) -
(37) -
Tomar como modêlo as crianças : 18,1-4. A verdadeira dignidade dos "pequeninos " (37) 18-5-10. O cuidado do pastor com a ovelha desgarrada: 18,12-14. A correção fraterna : 18,15-18 .
A proftssão de fé de 14 ,33 está a inda longe de ser uma compreensão claro da divindade de Jesus, como o seqüência do• fotos o demonsrará . A expressão Filho de Deus, aqui sem artigo, já era empregada na· Antig o Testamento poro designar fosse o Rei de Israel (si 2, etc .) fosse um anjo (Jo . 2,1 ); fossem os jus tos (Sob. 2,1 ~ . 16 . 18) . Aqui " pequeninos" não são as crianças como tal , mas os discípulos, principolml!nte os chefes que se devem tornar pequeninos como a cnança qc1e Jesus co locou no meio deles.
23
e) f) g)
A oração comunitária: 18,19-21." O perdão das injúrias: 18,21-22. A parábola do servo desumano: 18,23-35.
13 DE SET"€MBRO • LUCAS 9,1-50 O tema a que Mateus acaba de consagrar uma seção inteira (Mt. 13,53- 17,23) é tratado por Lucas ràpidamente apenas num capitulo, além de que, omite tudo aquilo que corresponde a Me 6,45-8 ,27, sem dúvida porque os episódios que Marcos conta nestes capitules lhe parecessem uma repetição daquilo que êle já tinha contado. * 20 DE SETEMBRO - Mt, 19,1 -22,33
A PARTE NARRA· TIVA DA QUINTA SEÇAO DE MA TEUS: O ADVENTO DO REINO DOS Cl!:US. .
27 DE SETEMBRO - Mt. 32,23·22,46 Para compreender bem a curva da catequese de S. Mateus é preciso, como nas outras seções, que nos reportemos à parte discurso. Esta é inteiramente dedicada às grandes perspetivas escaLológicas da queda de Jerusalém, do fim do mundo, e do juizo final, (estes três acontecimentos estando relacionados e numa certa progressao). Já dissemos anteriormente ( 38) que os últimos tempos já começaram com a vinda de Jesus Cristo. :E: nesta perspetiva que temos de ver toda esta seção, a começar na parte em que se fala na proibição do divórcio e em que se aconselha a continência voluntária: é porque Jesus veio ao mundo, é porque as núpcias do Messias se consumavam, que daf em diante o matrimônio humano, que é o seu sinal sacramental, é indissolúvel à imagem de Cristo com a sua Igreja. É porque, pela sua vinda, Jesus, colocou a humanidade de certa maneira na sua condição definitiva, que alguns
( ·*)
(38) -
24
N . Tr. Ou po r ou tro razão que Ver a 110sso nota 32 .
rlc~conhcccmos.
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iPifo, u innu1:11rn~·iio llc um rstntlo tlC' c"lliui:! em que já uã.u l.lll
Lcrú "n ·m mulh ·r, 11cm mando" ( 22.30). Façamos a distinção entre os grandes conjuntos que constituem esta parte da nan-ativa, onde, como anteriormente, os acontecimentos vão fornecer a Jesus ocasião pura um certo número de ensinamentos: a) b) c) d)
Ensinamento dirigido às multidões: 19,1-20,16. Ensinamento dirigido aos Doze: 20,17-28 . Entrada do Messias em Jerusalém acompanhado pela multid,ão: 20,20-21,22. Ensinamentos em Jerusalém, referentes à Paixão já próxima: 21 ,23-22,46.
4 DE OUTUBRO - Mt. 23 DISCURSO DA QUINTA SEÇAO DE S. MATEUS 11 DE OUTUBRO - Mt. 24-25
:t.ste conjunto agrupa dois discursos: a) O dtscursa contra os Fariseus: Mt 23 . b) O grande discurso escatológico: Mt 24-25 a)
O Discurso contra os Fariseus: Mt 23
Deve ser bem sublinhado o alcance escatológico deste discurso. Pronunciado por Jesus contra os escribas e Pariseus da suà época, diz igualmente respeito àqueles que, depoJs dos últimos tempos que começaram com Jesus, até ao juizo final, procedem sob a inspiração do mesmo espírito. :tl:ste discurso contém três pontos: 1) 2)
3)
Contraste entre a maneira de agir dos escribas e Fariseus e a dos discípulos de Jesus (23,2-12). Sete maldições contra os escribas e Far!seu.s (23,13-32). Condenação dos escribas e Fariseus, assassinos dos profetas ( 23,33-39). 25
b) O grande discurso cscalol6gico: Mt 24-25 .Je::u:< anun ia ao 111 ·smo Lrlllp a ruína do 'f wp!n, que serã efetivamente destruido na altura da tomada de Jerusalém pelo imperador Tito no ano de 70, e o fim do mundo, da qual a queda de Jerusalém é o símbolo profético. 11: preciso, ao ler êste grande discurso, ter constantemente na idéia estas duas perspectivas, às quais se sobrepõe uma terceira: - a vinda de Cristo no seu poder, que não deve ser apenas relegada para o fim dos tempos, mas começa já com os tempos apostólicos segundo 16,28: "Entre aqueles que estão aqui presentes, há alguns que não morrerão·, antes que vejam vir o Filho do homem com o seu Reino". (cf. Me. 8,39). As parábolas da vigilância ( 24,45-25,30) não dizem res· peito llômente, segundo a nossa opinião, ao último fim de cada pessoa, mas situam-se, como tudo o que precede, nas grandes perspectivas escatológicas da Humanidade. 1!: de notar a solenidade da cena do juizo final (25-31·46) que dá da mesma maneira um enorme relevo às mais pequenas provas de amor manifestado a qualquer dos "irmãos mais pequeninos" de Jesus ( 25,40). A SEÇAO "FORA DA Sl!:RIE" DE LUCAS: SEÇAO DAS VIAGENS A JERUSALl!:M (Lc 9,51-19,46) Esta seção de Lucas, pelo menos até 18-14 não tem, se a considerarmos no seu conjunto, paralelo nos outros Sinóticos. Sem dúvida, encontramos nesta parte, até 18,14, alguns ftagmentos que são comuns com S. Mateus, mas estes fragmentos estão dispersos no Evangelho, segundo S. Mateus, enquanto que aqui em S. Lucas estão agrupados segundo uma ordem que lhe é muito própria. Acrescentemos que a partir de 18,14 Lucas torna a encontrar as suas duas fontes principais Marcos e o aramaico de Mateus (traduzido em grego). Há q11em pense mesmo, que toda esta "seção fora de série" de Lucas não é no fundo senão o desenvolvimento, graças a "fontes" que lhe são próprias, da que êle encontrou em Mar26
cos 10,1-11,21 que é uma parte importante da catequese do RCA"nndo Evangelhn. Toda esta seção de Lucas esLá sob o signo de algumas viagens a Jerusalém, (") aquela Jerusalém "que mata os prof elas" ( 13,34) e onde o próprio Jesus deverá ser crucificado. Não sobe sõzinho para êste Calvário, mas sim com os seus discípulos, aqui quer dizer não só os Doze, mas todos os seus discípulos. Quem segue Jesus deve estar pronto a acompanhá-lo até à Cruz. Se acrescentarmos que S. Lucas. concebe estas viagens como uma viagem missionária - a exemplo das que êle empreendeu com o seu mestre S. Paulo - teremos encontrado o tom próprio de toda esta seção. Podem distinguir nesta seção nove partes, que convém registrar ao dividir pelas semanas (agrupando várias por semana, quando for necessário). 18 DE OUTUBRO - Lc 9,51-10,42 J.
A Vocacão missionária dos discípulos de Jesus:
!) ,52b-10,24 A vocação missionária não é apenas privilégio dos Doze, dos seus sucrssores: todo o discípulo de Jesus, ensina-o nitidamente S. Lucas, deve ser missionário. As modalidades serão aliás muito diversas segundo a sua missão social e as condições concreta.> em que a Divina Providência o colocou. A cada um de nós se aplicam portanto todos os avisos e todos os ensinamentos contidos neste parágrafo. C\U
II .
A Lei e a fé: 10,25-42
O que está rm causa, por trás dos rpisódlos relatados aqui por S. Lucas, é o prob!Pma do ajustamento da Lei e da Fé. ( •J N Tr -
lndi r çe s das vória ~ idas a Jerusalém, tão significativos poro S. Lucas: 9,51; 13,22; 17,11; e o final, 18,31. 27
Núo nos clrvcmns admirar por ver S. Lucas tratar nqu, esta pruuleJni•Lu:u tl f' R. Po.ulo. A pergunta I Ha a J esus p lo Doutor da Lei, dá- lhe ocasião de lembrar que o ponl o culminante da Lei de Moisés, é a caridade fraterna, ( *) "aquele que ama o próximo, cumpriu a Lei" escreveu por seu lado S .
Paulo (Rom. 13,8). l);ste ensinamento tem coma complemento aquele outro que se tira do episódio de Marta e Maria: por mais importantes que sejam as ações animadas pela caridade para com o próximo - por exemplo as atividades missionárias -, o ouvir a palavra de Deus deverá estar sempre em primeiro lugar. Um certa zêlo missionário, poderá cair fàcilmente no ativismo, se não estiver atento à Palavra de Deus sem a qual não haverá vida de fé profunda, sem a qual por conseguinte a própria caridade fraterna acabará por morrer. 25 DE OUTUBRO - Lc 11,1-12,48 III.
A Oração: 11-1-13
Em estreita ligação com o parágrafo precedente, êste parágrafo relembra a necessidade da oração para os missionários que são os discípulos de Jesus. Se alguém estivesse dispen sado da oração, seria certamente Jesus. No entanto S. Lucas escreve que :Ele rezava, e fala muitas vezes nisso ao longo do seu Evangelho ( ~) . É o momento de recordar a instituição do Pai Nosso, que S. Mateus Introduziu no sermão da montanha (Mt. 6,9-13). IV.
O Combate contra os demônios e a fé que i3to exige:
11,14-36 Os verslculas 15 e 16 preparam o desenvolvimento deste parágrafo, o verslculo 15 prepara o desenvolvimento 17-26, o *)
')
28
N. Tr. N. Tr. Assim, quando
- Ler Levit. 19,18. - S. Lucas é d1to em espec ial o "evangelista do oração". desde 5, 16, ind1co vórios vezes que Jesus rezou inclusc ensinou o Pai Nono (11, 1) .
verslculo 16 o desenvolvimento 29-36, enquanto que os versículos 27-28 constituem uma transição entre a prim Ira e a segunda par e deste parágrafo ( **) . A Luta contra os Fariseus e os Doutores de Lei, e a coragem que é necessário demonstrar _ne <ta lutas
V.
11,37-12,12 Aqui também os ensinamentos que nos são dados são de todos os tempos. As deformações caracter(stlcas dos Doutores da Lei e das Fariseus são e hão-de ser sempre as mesmas até ao fim dos tempos. ( •••) VI.
Desprendimento dos bens deste mundo, confiança em Deus nosso Pai, zêlo pelo R€ino de Deus na perspectiva da volta inesperada do Filho do h?mem : 12,13-48
A perspectiva torna se cada vez malb cscatológlca: à medid que nas aproximamos de Jerusal,;m e da Paixão de Jesus. ( .. ) 1 DE NOVEMBRO - Lc 12,49 · 13 ,2 1
VII .
0 8 últimos tempos: 12,49-13 ,2 1
O versículo 49 dá-nos a chave deste conjunto: "Eu vim trazer fogo à terra; e que quero eu senão que êle se acenda? "
(. *)
(
. )
N. Tr. Notar como após o clog,o à fecundidade da Virgem Mãe de Jesus, Jesus Cnsto faz o elogio da " fecundidade espiritual". que 1rradra de t odos aqueles que vrvem na docllrdade de Deus . N. Tr. A defo rmação mais característica que Jesus verberou aos Foriseus, é o formalismo no vida religioso ("hrpócritas ... ") que, da resto, nos espreito Insidiosamente ... N . Tr. Notar em especial os parábolas do rico insensato que entrou no Eternidade desprevenido; o dos servos vigilantes, que na solicitude aguardam o vindo f•nol do Senh or; o elo servo zelosn, m contraste com o rurm. (vv . 41 -46).
29
S:ste fogo é o do julgamento escatológico que vai operar a separação do bem e do mal, e portanto também dos eleitos e dos condenados. O julgamento começou logo que Jesus chegou ao mundo. ("'*) 8 DE NOVEMBRO - Lc 13,22-14,24 15 DE NOVEMBRO - Lc 14,25-15,32 22 DE NOVEMBRO - Lc 16,1 -18,30 VIII .
A ascese escatológica: 13,22-18,30
Visto que o julgamento já começou, os discípulos de Jesus devem realizar em si uma ascese, que tomará formas diferentes, expressas por ocasião dos episódios, e por meio de parábolas, que são relatadas nesta altura. São a da grande ceia ( 14,15-24) ; da dracma perdida ( 15,8·10) ; do filho pródigo (15,11-32) ; do administrador infiel (16,1 -8) com os "complementos" sôbre o usa sagaz dos bens temporais; finalmente, o julgamento escatológico que se realiza primeiramente após a morte: rico e Lázaro (16,19-26, etc. ). 29 DE NOVEMBRO - Lc 18,31·19,46 IX. O julgamento exercido pelo Filho do homem, relacionado com a sua Paixão: 18,31-19,46 A terceira profecia da Paixão, com que começa êste novo parágrafo, dá o tom que vão tomar, na catequese de S. Lucas os acontecimentos que êle vai relatar. o "julgamento" de Jesus exerce-se a favor das almas bem intencionadas, tais como a cego de Jericó e o publicano Zaqueu; mas também contra os servos maus, que não souberam estar preparados para o regresso do rei (parábola das dez "minas"). Finalmente Jesus
(* *)
30
N . Tr. Ver tgualment e a luta para alcançar a posse da Reino : v. 51 -53 A parábola da figueira estéril ( 13,6-9) é, no fundo, de mi ser icór d ta: cté ao julgamento esÇatológico, Deus espera sempre .
exerce-o no Templo, que purifica e que restitui ao seu destino normal. 6 DE DEZEMBRO - Lc 19 ,47-21 ,38 : OS ENSINAMENTOS EM JERUSALÉM
O prólogo desta seção (19,47-48) dá em traços gerais os ensinamentos de Jesus em Jerusalém e ensina-nos a compreendê-los. As três categorias daqueles que se opõem a Jesus, príncipes dos sacerdotes, escribas e anciãos vão entrar em conflito cada vez mais aberto com êle. ( *) 13 DE DEZEMBRO - Mt. 26-28
Voltamos ao Evangelho de S. Mateus. Após as cinco seções que formam a parte mais importante e característica da parte central deste Evangelho, aparece agora uma seção em que os três slnóticos estão em mais estreita ligação. No entanto a personalidade de cada evangelista e o fim particular que eles têm em vista com a sua catequese, impõem a esta, um certo número de opções sõbre tal ou tal ponto determinado.
-
Mateus mostra-se mais preocupado em manifestar aos judeo-cristãos, a quem se destina, como o escândalo do Messias sof1·edor e crucificado realiza certas profecias do Antigo Testamento. Esforça-se também por desmentir a história "divulgada entre os Judeus até ao dia de hoje" (28,15) segundo o qual os discípulos de Jesus teriam vindo roubar o corpo de Jesus que estava sepultado no túmulo selado e guardado pelos soldados (27,66).
( ')
N . Tr . Muito significativos as parábolas dos vinhoteiros (20,9-19): denúncia do rebeldia aberta contra o Enviada Fi lho de Deus ••. 31
20 DE DEZEMBRO -
Lc 22-24
Lu~,;a;:; cou ~crvou - uu~ . llu:s llH'&Inos fatOG, pounenote:.. 'ksconhecidos por outros (Lc 22,15-18; 35-38 .43-44; 23,6-16 . 27-31, 39-43; 24,13-53); assim, por exemplo, mostra melhor do que qualquer outro a luta que se trava na alma de Pilatos ( *) . :.;; de reparar como todos estes traços são característicos do temperamento e das preocupações de S. Lucas, sobretudo o episódio do bom ladrão ( 23,39-43). Decididamente S. Lucas é bem o "evangelista da misericórdia do Salvador" .
( *)
32
N. Tr. - ~ste e outros pormenores, que Mt. e Me . não relotararr., são muito significativos para melhor se compreender o mistério da PaixOo do Senhor, bem como o alcance da sua Ressurreição .
VANG
HO SEGUNDO S. JOÃO
Analisemos prinH!Jramcntc o plano do evangelho segundo S. João. Nota-se uma niLiclu separação no fim do c~pítulo 12: 12,37-50 que faz com que se inlitule aquilo que precede como Livro ctos Milagres. O que se lhe segue está nitidamente na perspectiva da Paixão: assim 13,1 (amou-os até ao fim, até à oonsumação) faz alusão a 19,30 ("Tudo está consumado"). O capítulo 21 é manifestamente um apêndice que foi acrescentado depois da conclusão do autor ( 20.30), pelos discípulos de João ("sabemos que é verdadeiro o seu testemunho", 21,24) e que trrmina por uma nova conclusão que retoma, quase completamente, a do seu mestre: 21 ,2 5. Quanto ao prólogo (1 ,1- 181 contrasta nitidamente com o resto. Guiados por estes pontos de referência , podemos estabelecer o ~:eguinte plano : Prólogo : 1,1- 18 Primeiros testemunhos . 1,19 · 51 A. O livro dos Sinais e Obras divinas: 2-12 B. O livro da Paixão: 13- 20. Apêndice : 21 27 DE DEZEMBRO - JOAO 1 Leremos esta semana duas seções bem dsitintas: o Prólogo e a parágrafo de introdução a que chamamos os Testemunhos. De resto estas duas seções estão lig-adas pela inserção, no Prólogo, de S. João Baptista, aquele homem que veio por testemunha, para dar testemunho da Luz, afim de que todos cressem por meio dele ( 1, 7). 11: com efeito por êle, pelo seu testemunho que todos vão ser sucessivamente levados a
Jesus.
33
O Prólogo prólogo .segue uma curva que mostra a Palavra ( •) Oivína descendo de junto ele Deus ( vv . 1- 11) e tornando a subir até ~le ( vv. 14-18) . Os verslculos 12-13 marcam o ponto de tangência desta curva com a nossa Terra, a Encarnação do Lagos (Palavra) que veio conferir-nos a adoção divina introduzindo-nos após de si no mistério de Deus . Reparamos ainda que as diferentes etapas desta descida e desta subida se corresp.Jndem da seguinte forma:
1-2 3
O Lagos junto de Deus Tudo foi errado por ltle 4-5 Dom aos homens 6-8 Testemunho de João Batista 9- 11 : O Logos nu mundo
18: O Filho no seio do Pai 17: Graça e verdade por Jesus Cristo J 6: Dom aos homens 15: Testemunho de João Batista H : Ergueu o seu tabernácu! o ("tenda" ) entre nós 12- 13: O Lagos m ·amado coufere-11os a adoçâo filial ( 39)
Os Teste munhos Tudo começa com Joã o Bat ista . ltle é portador de um triplo testemunho: 1. Perante os Judeus (19,28) , (esta palavra designa, na linguagem de S. João, aqueles que recusaram acreditar em J esus) . 2. Perante Israel (29.34) (esta palavra está reservada aos autênticos filhos de Abraão, Pai dos Crentes, e designa (39 ) -
( *)
34
Para a também timo-nos sage de N . Tr . -
explicação detalhada de todos estes pontos , e de resto para o estudo de conjunta do Quarta Evangelho, perm iaconselhar a consulta do nosso pequena livro, Le Mes· Saint Jean, Paris (Mame, 1962) . " Polovra 11 ou "Verbo" (no grego, Logos).
por conseqüência aqueles que acreditaram em Jesus) V,
(c!.
47) .
3 . Perante os seus próprios discípulos ( 35-39) (André e um discípulo anônimo no qual se reconhece geralmente o próprio S . João Evangelista). Por sua vez, os d'scipulos da Batista vão dar testemunho: 4 . O Testemunho dos disc!pulos do Batista: 40-42. 5 . Os Testemunhos na Gallleia: 43-51. 3 DE JANEIRO - JOAO 2 Visto que vamos abordar o livro dos Sinais e obras divinas (Jo. 2-12), é necessário fazermos luz sObre estas duas palavras, que no quarto Evangelho, têm um significado multo especial. A palavra sinal parace destinada a manifestar que Jesus é o Messias esperado; a palavra obra a sugerir que ~!e é Deul!. João Insiste sucessivamente, na sua catequese, sObre um ou outro ponto. A seção dos sinais agrupa os capítulos 2 a 4 ; a das obras, os capitulas 5 a 10 enquanto que as capítulos 11 e 12 constituem a passagem para a segunda parte do nosso Evangelho 3 nos orientam já para a morte de Jesus en1 Jerusalém. A seção dos sinais conduz-nos de Caná a Caná (uma inclusão circunscrevendo nitidamente êste conjunta: 4,54 reenviando a 2, 11). Fixados assim os limites deste conjunto tratemos do seu conteúdo. Dois quadros apresentam, sucessivamente, Jesus em Caná e em Jerusalém (2,1-12 e 2,13-22). Depois, uma transição ( 2,23-25) põe em relação os milagres e a fé e prepara o que um comentadar ( 40) chama "o desfile dos sinais" (3-4): Nicodemos, a Samar itana, o funcionário real de Caná. (40) -
H. Van den Bussche, no seu estudo Structu re de J ea n I - XII , que apareceu na coletânea L' Evanglle de J ean (Desclée rle Brouwer, Lovaina, 1958) págs. 79-82.
35
1.
Primeiro quadro : O Milagre de Caná: 2,1-12
Como no Evangelho da Infância segundo S. Lucas, el5 uma página de teologia, em que é neces"árlo estar mais atento à análise dos destgnios de Deus, aqui realizados por JeFu~. elo que à psicologia das personagens em ccno. CompreC'nder o "Que me queres tu mulher?" do versículo 4, como um traço de dureza na psicologia de Jesu ~ . é enganar-se totalmente Bobre o gênero literário desta página de S. Joúo: esta palavra que éle põe na boca de Jesus é apenas destinacla a f8zer nos compreender, que neste milagre, Jesus atuará não como filho de Maria, mas como Filho de Deus. 2.
Segundo quadr o: O Sinal do 1'emplo: 2,13-22
Desta vez não é um milagre - v•rque Jesus não faz nuJagres senão quando Pncontr uma f· suficiente nos seus ouintes - mas a profec1 rio constrw·ào de um novo Templo.
c·)
10 DE JANEIRO - J O 3-4 · DATOS A Fli: a)-
DESFILE ElOS CANDI-
Judeu Nlcodemos
Está aberto para receber a mensagem de Cristo, mas a sua fé é incompleta c ainda pouco segura. ll: de noite que éle vai ao encontro de Jesus. Esta palavra escrita por S. João não significa apenas que Nicodemos não teve coragem para se comprometer ligando-se a Jesus, simboliza também as trevas em que ainda se encontra êste Judeu. A entrada em cena de João Batista nesta altura, surpreende-nos ( 3,22-30). Mas na realidade João Batista está bem ( *)
N . Tr. ~ no luz de foto decisivo do Ressurreiçõo, que S. Jo15o ocobo por compreender aquele "Sinal", à primeiro visto mlsterios~ (v . 22) .
36
à altura de dar a sua opm1ao sôbrc o Judaísmo que acaba de
ser p ersonificado em Nlcoclcmos. b) -
A Samaritana
Esta "herege" vem a entrar mais profundamente no mistério de Jesus. Podemos, no entanto, duvidar que ela tenha atingido uma fé total: não chega a confessar nitidamente que J esus é o Messias. Os samaritanos acreditam, não por causa das palavras dela, mas por causa da palavra ("Jogos") do próprio Jesus. O acesso dos não-judeus ao cristianismo é, pois, aceite. ll: este o sentido do diálogo de Jesus com o sseus discípulos e finalmente do versículo 42 (que se opõe a 3,36a). c) -
O Funcionário real: um pagão
O versículo 44 previne-nos de que Jesus não encontrará ninguem com fé na SlW pátria, quer dizer na Oalileia. Esta impressão confirma-se no versículo 48, que, para além do funcionário real, se dirige aos Oalileus: "Vós, se não virdes milagres e prodígios, não credes". Em contrapartida um pagão vai crer sem milagre, apenas pela palavra de Jesus : "Vai, o teu filho vive". ll:ste pagão é o tipo do verdadeiro crente. Há pois uma nítida progressão na apresentação destas três personagens - tipo, que representam, a primeira o Judaísmo (mesmo aqueles já dispostos a acreditar), a segunda .os hereges, a terceira, o paganismo. 17 DE JANEIRO - João 5-6
A seção das obras divina!> que começa no capitulo 5 e 24 DE JANEIRO - João 7 vai até ao capitulo 10, destina-se a mostrar que as 31 DE JANEIRO - João 8 obras de Jesus são na realidade as do Pai. "Meu Pai 7 DE FEVEREIRO - João 9,1-10,42 atua até hoje, e eu atuo também" (5,17) . A cura do paralítico num dia de sábado, não se justifica se não 37
for o próprio Deus a ar;ir. Os Judeus compreendem bem que êle se fnzitl igual a Deus ( 5 ,18- 10,33) . ll: por isso que el s o querem apedrejar ou pelo menos prentler. Mas eles não o podem fazer, porque a Hora de Jesus ainda não tinha chegado ( 7,30-44; 8,20-59; 10,39). Esta expressão repete-se como um 1efrão. Assim nos vamos encaminhando ao mesmo tempo para a Hora e para o motivo formal da condenação de Jesus: o ter-se dito Filho de Deus. A seção das obras divide-se assim: A.
Dois milagres e dois discu1·sos
a)
b)
Cura do pamlftico e discurso sõbre a obra do Filho: 5 Multiplicação dos pães e discurso sõbre o Pão da vida: 6
B.
Rea ção de incredulidade do 1JOvo judeu
a) b) c)
Por ocasião da festa dos "Tabernáculos": 7 Jesus, luz do mundo: 8,12-59 ( 41) Cura do cego de nascença e tema do Bom Pastor: 9 -l O
14 DE F •VER •IRO - João ll,l-54: DE LAZARO
A
RESSURREIÇAO
"A passagem que nos é apresentada, escreve um exegeta ( 42), não é apenas a h!Btórla de Lázaro morto e ressuscitado, é também a história de Jesus afrontando a morte para a vencer" ("'). ~. com efeito, incontestável que João viu neste O episódio do mulher adúltera (7,53-8, 11) não é de S. João. Isto no entanto, não lhe tira nada do seu interêsse, nem do seu caróter inspirado e canônico da Igreja. ~ste fragmento interrompe o discurso de Jesus, cuja seqüênda (8, 12-59) se situa manifestamente no mesmo dia que os do capítulo 7, por ocasião da festa dos Tabernáculos, em que se o'endiam grandes fogueiras no Templo, no recinto do Tobernóculo, pe•to do Tesouro (8,20 ). o que sugere a idéia da Luó< . (42) Dodd, The lnterprctotion of the Fourth Gospel , póg . 367 . ( * ) N . Tr . Vejo-se o olconce admirável dos vv . 25-26 . (41 ) -
38
wuagl't: a p1 tecla da própria res::~urrelção de Je.eus . Po1·tanto, um s1mbol1smo, mas baseado num fato real . 21 DE FEVEREIRO - JOA O 11,55· 12,50 O Importante na cela de Betê.nla, não é a própria refeição, ma.s a unção, cujo significado se depreende do versículo 3: se o pertume não foi vendido como o desejava Judaa, fo1, explica Jesus, "a fim de o guardar para o dia da minha sepultura". A unção é pois considerada por S. João como uma antecipação da mortalha de J esus, uma profecia em s1mbcrlo anunciando que Jesus há-de ser amortalhado, tal como a ressurreição de Lázaro profetizava slmbõllcamente a ressurreição de Jesus. Os princlpes dos sacerdotes procw·avam matar Lázaro. João tem o cuidado de anotar esta circunstância, porque segundo o seu ponto-de-vista, uma vez que eles procuram matar Jesus (11 ,38 ) é lógico que tentem igualmente fazer perecer aquele que é símbolo de Jesus ressuscitado ( 12,10).
A cena da unção de Betânia, segue-se a da entraàa d.o Messias em Jerusalém, e do discurso de Jesus sObre a sua próx1ma glorificação. A entrada mess!Anlca é relatada por Joio em termos semelhantes aos dos slnóticos, mas aquilo a que ele dá um maior relevo, é a valorizaçl<~ que os brados de aclamação, lançados naquele dia à passagem de Jesus, tomaram no ·espirito dos discípulas, depois da glorificação ( 48) de Jesus. Aqu1lo que é tambem próprio de João, é a menção da tentativa doa Gregos desejosos de ver ( 44) Jesus, e aos quais &te reaponde: "Chegou a hora em que o l"ilho do homem sert elart(43) (44) -
A g lória é o mcnlfeltaç6o de divindade. <ilorlf lccr Je11.11 6 p6r em evlclfnc lc c tuc d ivindade. No linguagem de ! . Joeo, ver • o primeiro etcpg do dl1dpul<> am busco de t•: "VInde e vede" diz Je&ul 001 wua dol1 prlm.l· r01 d isclpulos (1,39); "vem e vt" diz lj!ucln*lte Filipe a Not~ nce l (1 46). VIu e creu, c:onflc-no1 J06o o pi'Qpóllto de 111 pr6prlo (2Ó,S). MG1 este ttcpo deve ser ultroposscda: 20,2, ,
39
ftcado" (v. 23) . Esta respo$ta parece nllo responder à pergunta feita." Mas a verdade é que ela responde perfeitamente: a hora da glorificação de Jesus será aquela em que forem destruidas as fronteiras estreitas do judaísmo, e em que todas os pagãos, inclusive os Gregos terão acesso à Luz do Evangelho. A morte de Cristo levantado (na cruz, mas também em glória), atrairá a si todos os homens (v. 32). A multidão não compreende, pois a Cruz é motivo de escândalo para os Judeus e de loucura para os Gregos (I Cor. 1,23). O llvro dos milagres e das obras, primeira parte do nosso Evangelho, termina por um epflogo do autor (12,37-50) qu~ descobre na cegueira dos Judeus, os caminhos misteriosos dos des!gnios da Providência. Não que Deus tivesse querido positivamente este. cegueira, dos Judeus: mas permitiu-e. . João, · depois de Isaias, quer sublinhar que nada escapa ao poder divino. 28 DE FEVEREIRO - João 13-17: A úLTIMA CEIA E O DISCURSO APóS A CEIA A esta segunda parte do Evangelho segunda S. João, podia -se-lhe· chamar, como dissemos: livro de. Paixão. li: e!pecialmente consagrado à manifestação de Jesus aos !eus, enque.nte que a primeira parte tratava de preferência da man1festaçft-o de Jesus ao mund.o. As palavras "Levantai-vos, vamo-nos daqui", no fim do capitula 14 (v. 31) , marcam uma separação n!tida no méio do conjunto dos discursos de Jesus , porque há na verdade dois, que tratam um pouco os mesmos temas ( 13-14 e 15-16). A 11eguir vem a grande oração do capitulo 17, chamada ore.çio .sacerdota.l. A seção do 1. 0 discursa, parece dever ser dividido em três partes: a) b) c)
.o! O
O lava-pás (13,1-20) Jesus anuncia a traição de Judas ( 13,2 l ·30). O discurso de Jesus sObre a sua partida dêste mundo e o seu regresso para junta do Pai (13,31·14,31) .
7 DE MARÇO • João
18-19 .
A
PAIXAO
SEGUNDO
5 . JOAO
o relato de S. João dá-nos, bobre vários pontos, escla,reclmentos mais precisos e mais detalhados que os dos sinóticos. Mas sobretudo projeta sôbre Jesus uma luz nova, ao apresentar-nos o Filho de Deus caminhando livremente para a morte que o Pai lhe destinou e manifestando em inúmeras circunstâncias (por um sem número de pormenores significativos, a que S. Joio cuidad<18amente dá grande relevo) ser o Mrssias soberano e divino. Assim, por exemplo, por ocasião da. prisão de Jesws, d ifande relevo à queda dos soldados mal ouviram o nome divino de Jesus "Eu sou ( 45) . Depois da sua prisão, J esus nií.o é conduzido a Caifás como o deixa acreditar Mt 26,57, mas ao seu sogro Anál!, o antigo prfneipe dos sacerdotes, deposto no ano 15 pelo procurador romano Valérlo Crata, mas que gozava ainda de grande a.utoridade moral entre os judeus. S. Lucaõ também aMi· nala que êle tinha mantido o seu título de príncipe dos Mcerdotes (Le. 3,2 ; Act. dos Ap. 4,6) . No entanto interrogatório que tem lugar em casa de Anás não constitui o início do proee&so oflcia.l de Jesus perante o sinédrio. Neste ponto, Joio ooncorda. com Lucas. A cena da comparência perante Pilatos põe em relevo a legitimidade do título de Jesus como Rei dos Judeus, mas esclarece imediatamente que esta Realeza não tem a sua, origem neste mundo ( 18,36) e que consiste essencialmente em dar testemunho da Verdade e não em dominar o Mundo, à maneira dos poderosos da terra. O diálogo de Jesus com sua Mãe e o discípulo tem incontestàvelmente uma importância eclesial: não é apenas a S . João que Jesus confia sua Mãe, é o discípulo, que representa todos os "discípulos" que hão-de acreditar nele. (45) -
Hó aqui uma provóv~l alusão o Ex. 3,1 .oi , em que Deus revelo o Seu nome : "Eu sou ... " A tradução habitual "Sou eu", deixo perder esta olusõo .
41
Os termoa peloe quais o evangelista relata a morte do seu Mestre, têm, oomo aoontee~ freqüêntemente no quarto evangelho, um duplo sentido: ":s:le deu o \lltimo suspiro" significa Igualmente "êle rendeu o Espírito" ( 19,30) . A 11gua e o sangue que saem do lado de Jesus traspassado pela. lança, têm um significado simbólico e representam 0!1 dois sacramento~! fundamentais, nos quais todos os outros estio de algum modo incluldos : o Batismo e a Eucaristia. "Verão aquele a quem trespassaram" a.lUI!Ao a Zac. 12,10. • profecia do arrependimento e pcrrtanto da conversAo dot! in-
fiéis. 14 DE MARÇO - Jo!o 20·21 : DE JESUe
A RESSURRl!llQAO
Há uma certa progressão na revelaçã.o de Jesus res6usoitado : primeiro, Maria de Mat;dala encontra o t\lmulo vá2lio mas não .sabn que pensar. Pedro e o "discípulo que Jesua amava" chegam a segUir ao túmulo, verificam que éle e.!ltá. va· z!a e os lençóis bem dobrados, o que põe de lado a. hipóte&e do corpo ter sido roubado. Se João não noa revela o que Pedro peneou, confia-nos a<> menos que Ale acreditou. Maria. de Magdala, tendo voltado ao túmulo, de principio nAo vê ninguém, depo~ reconhece e Jesus, que, a seguir, se dá. a conhecer a.os discípulas à exceção de Tomé, ausente n88se dia.. Por fim é o próprio Tomé que vê e crê, dando a Jesus ocasião de proclamar, "mais felizes ainda os que crêem sem ter vista" , quer dizer, todos os discípulos até ao fim do mundo. A conclusão do evangelista mostra o fim que êle se propós no seu trabalho: 20,30-31. O capitula 21 foi acrescentado pelos discípulos de S. João, sem dúvida para refutar uma idéia falsa que corria. há algum tempo àcêrca dele. Vendo-o sobreviver muitos anos aos outros Apóstolos, alguns tinham Imaginado que Jesus lhe prometera que êle não morreria (21,23) talvez baseando-se numa. falsa interpretação de 8,51. Os discípulos explicam o verdadeira sentido das palavras de Jesus e contam as c!rcunstâ.ncla.~ em que elas foram pronunciadas. 42
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