ENS - Carta Mensal 1968-3A - Março

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MARÇO - 1968


SUMARIO

Págs. Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Sabor do Sal .. .. .. .. .. .. .. . . . Equipes Adolescentes . . . . . . . . . . . . Resposta a um Assistente Dialogo Religioso .. . .. . . .. .. .. . Correio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Uma Partlha... . . . . . . . . . . . . . . . . Oráção e Próxima Reunião . . . . . .

MARÇO- 1968

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EblTORIAL

Cristãos Decapitados O Editorial publicado na Carta Mensal (francesa) de janeiro, com o titulo acima, provocou reação e reflexões. Publicaremos hoje uma carta de um casal e a resposta do Pe. Caffarel. Eis um resumo da carta:

Queridos amigos. Não havia se apresentado até hoje uma oportunidade para que eu escrevesse, mas se agora me decido a fazer é que o Editor1al de janeiro fêz transbordar a taça ... Tanto eu como Jacques somos profundamente dedicados e somos muito reconhecidos ao Movimento por tudo aquilo que nos tem dado. Nos oitos anos de Equipe muito temos recebido e estamos convencidos de que sem este amparo, nossa vida esperitual andaria a deriva. Mas chega um certo momento que indagamos a nós: "Que irão exigir agora de nós?" Com efeito, para seguirIIlQS as instruções do Pe. Caffarel, nos devemos entregar a tudo, a todos, por toda a parte e a todo momento! O marido deve desempenhar as suas atividades profissionais com o maior escrúpulo possível, o que aliás é normal, e atualisar-se continuamente para ser segundo o conteúdo do editorial "competente em sua profissão". A espôsa, mãe de famflia deve se dedicar inteiramente ao seu lar despertando seus filhos para a espiritualidade, tratando-cs quando estão doente, vigiando e orientando o trabalho escolar, estar enfim desponfvel sempre para todos eles. 2


Mas por outro lado dizem que temos absoluta obrigação de trabalharmos nos diversos quadros do Movimento, bem como estarmos atento para as solicitações do nosso páraco nos encargos da paróquia. Na equipe devemos manter contacto com os outros equipistas. Estar atento para a oportunidade de um possível diálogo com os nossos irmãos. Procurar estar a par do que se passa no mundo econômico social e a posição da Igreja, afi~ de poder defender seus pontos. Todos elementos das Equipes devem aprofundar a sua fé, graças aos meios que são postos a sua disposição: temas de estudos, leitura do editorial, meditações, leitura das sagradas escrituras, textos conciliares, etc. Para que tudo isto receba o verdadeiro sentido e não passe a redundar em ativismo, deve o cristão manter uma vida de oração, missa semanal, etc. Por acaso não será justo também uns momentos de distração apenas que seja para corresponder aos desejos de nossos filhos? Diante desta avalanche de solicitações os cristãos medíocres que somos nos sentimos confusos. Que fazer primeiro? A que momento? Na verdade nos dizem que muitos o fazem com muita prest.esa, e a Carta Mensal nos tem dado os diversos e deslumbrantes testemunhos. Se alguns realisam tudo que lhes e solicitado, porque é que nós não conseguimos? Perante esta nossa incapacidade perguntamos a nós: "O nosso lugar será realmente nas Equipes de Nossa Senhora?" Jt inutil nos dizerem que são os cristãos muitos numerosos, mas na realidade são sempre os mesmos, é sempre o mesmo grupo que assume os enca':'gos. ll: para nós no entretanto, muito penoso dizer não, quando somos &olicitados para uma tarefa, além de ficarmos com um problema de consciência de termos deixado de cumprir a nossa missão.


Assim a alegria e a paz que cada um de nós devia irradiar vai aos poucos desaparecendo. E assim como será possível despertar nos outros o desejo de participar da nossa assembléia? Não sei se somos um caso isolado ou se há mUitos outros com o mesmo problema, mas esta carta que hora escrevo tem a aprovação de todos os membros de nossa equipe. Peco no entretanto que julgue esta carta não como uma crítica mas sim como um pedido de ajuda ... Passemos agora para a resposta do Pe. Caffarel: Queridos amigos )

Teria gostado de poder fazer-vos uma visita e passar uma noite em vossa ca.sa, não para vos "responder", para "procurar" convosco mas, ai de mim, também estou sobrecarregado de tarefas imperiosas e urgentee ...

i'

Fiquei profundamente "tocado", o vocábulo deve ser estendido não apenas no seu significado de comovido mas igualmente no sentido de terem vindo ao encontro da minha preocupação principal. Com efeito, vi e vejo em tantos cristãos - e às vêzes nos melhores- os resultados aflitivos do esgotamento: uns perdem a coragem, outros têm esgotamentos nervosos, outros ainda afastam-se de Cristo, cujas exigências lhes parecem desumanas. . . Sem dúvida alguns não sabem organizar a vida, màs muitos outros não sabem escolher o que muitas vêzes, é diff-:il e até angustiante para aqueles que poem a questão d~ seguinte maneira: "Que devo abandonar?" Mas o erro exatamente, é por o problema nesses termos. O modo conveniente de nos interrogarmos é este: "Qual é a rvontade de Deus"? Oh! Eu sei que nem sempre é fácil discenir a vontade de Deus! Ao menos, quando se tomou uma decisão é preciso mantê-la, com a alma em paz, sem problemas de consciência.


N'a vida, chegá sempre o dia em que se compreende que o mais duro - e o mais perfeito - não é dizer sim a uma nova solicitação, mas sim recusar o serviço que nos é pedido, porque já não se tem nem tempo nem forças. Voltemos analisar o problema de procurar qual a vontade de Deus. Há uma escala de valores que se deve estabelecer em baixo na escala é aquilo a que se deve renunciar quando não se pode fazer tudo. Como estabelecer esta hierarquia de valores? Ninguém a pode estabelecer para os outros. Há, pelo menos, um prlnc~pio que deve estar sempre presente no nosso espírito: na nossa vida as "atividades" de dispêndio" devem estar equilibradas com as "atividades de aquisição ". Vou explicar: a mãe de familia, por mais sobrecarregada que estej a. sabe bem qlle tem de xeservar um tempo mínimo (ou antes ótimo) para comer e dormir, sob pena de advir uma catástrofe. Acontece o mesmo no plano da vida intelectual e da vida espiritual. Quem continua a dh;pender sem ter o cuidado de adquirir acabará por ter, dentro em breve, uma ruptura do equilíbrio. Isto é tão verdade para nós padl·es, como para vós leigos. Foi isto o que eu quis dizer quando escrevi na Carta Mensal de Janeiro: "E grave risco deixarmos enfraquecer alguma das nossas funções fundamentais, quer seja de ordem física, afectiva, intelectual ou espiritual. . . O nosso desleixo tem como resultado um desequilibrio, uma perturbação d!!. nossa personali · dade. Com efeito o desenvolvrmento do ser humano requer o desenvolvimento simultàneo de todas as funções porque são solidárias e complementares." • O abandono a que se resignam mais voluntàriamen.te os nossos contemporàneos, é o de toda a vida intelectual; não supõem sequer como é grave deixar enfraquecer a inteligência e como são graves os males que advêm deste desleixo. Em compensação, vejo seres que "resistem" numa vida sobrecarregada, graças à atividade do espírito, graças ao "banho 5


do cérebro" quotidiano (a expressão é do general Gallié1ú qUe, mesmo na frente de batalha, reservava uma hora ler os filósofos). Aqueles que já têm o hábito da atividade do espírito, podem bastar alguns minutos de leitura por dia, em período de sobrecarga, para manterem a inteligência alerta e viva. Conheço mães de famílias com todas as outras, homens muito ocupados pelos seus trabalhos profissionais que conseguem arranjar maneira de guardar alguns momentos para a cultura intelectual quotidiana: Sabem aproveitar as deslocações, sabem atracar dez minutos num trabalho, recorrem a vários estratagemas para reservar as parcelas de tempo necessárias à sua alimentação · intelectual. Reconheço que isto supõe uma vontade forte apoiando-se em convicções sólidas. ~ evidente que a leitura quotidiano deverá ser tanto mais substancial, rica em calorias, quanto mais reduzido for o tempo. Dez minutos de leitura quotidiano é muito pouco: mas se. ao longo dia, quando o esp~rito não estiver absorvido pelo trabalho, se recordar o pensamento meditado de manhã, este torna-se rvida em nós, tal como um alimento bem assimilado. Mas isto supõe uma ascese da imaginação que se torna ràpidamente indisciplinada e vagabunda quando se lhe deixa as rédeas soltas: nessa altura a concentração de espírito torna-se impossível. Todos os psiquiatras dizem que a falta de controle do espírito está na oriegm de numerosas desordens psíquicas. As vêzes, quando numa rua de Paris aparece o sinal vermelho abro o Novo Testamento que trngo sempre na algibeira, leio um versículo que me enche a inteligência e o coração de alegria para o dia inteiro. Confesso que já algumas vêzes aconteceu ouvir um toque de aviso atrás de mim ... HENRI CAFFAREL

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LEITURA

O SABOR

DO SAL

"São vocês o sal da terra.", disse o Cristo; mas se o sa.l perde a sua força, quem o ira fortificá-lo? Nós não somos a ter-ra mas o sal da terrã. E a força do sal que nós somos é a té. Não é na terra quE· encontraremos esta força, este sabor mas Eim no sal. Não será no mUJJdo que nós iremos compreender a mensagem do Cristo, mas sim no Evangelho. Se achamos justo ver o Cristo agir no meio dos homens que não crem, se podemos vislumbrar sua visão, no nosso próximo não cristão, é porque fomos buscar no Bvangclho a revelação do seu amor. Certamente alguns gostariam de nos convidar a um minicristianismo ao alcance de todos os homens, pouco exigente no que se refere à fé e à vida, mas muito mais universal! O que seria deste sal deslavado, sem sabor e sem força, envolvido neste mundo que já não poderia socorrer? Para que a terra possa viver é necessário que sejamos o verdadeiro S!l-1. Na realidade é necessário que estejamos embuidos do desejo ardente de proc:amar o Evangelho até aos confins da terra; é também justo que nos sintamos preocupados pela descristianisação do mundo. Mas não é de nossa incumbência contar os fieis de Cristo, enumerar aqueles que 'll:le salva na sua misericórdia, para além dos limites da Igreja, fazer o recenseamento do povo de Deus. O que se pede a nós que servimos a Deus é permanecermos na fé. Para o cristão só pode haver firmeza na fé no Evangelho. O nosso mundo não tem serventia para um cristianismo que não tenha o sabor da fé. Pastem· Max THURIAN Extraído de um artigo publicado no "La Croix" de 11 de março de 1967.


Equipes e Adolecentes Um testemunho publicado no "Boletim canadence das EQUipes de Nossa Senhora" chamou nossa atenção para um problema- já abordado em outras ocasiões- das relações de nossos filhos com as Equipes. Trata-se de uma "experiência", dizem eles, mas acrescentam, parece ter tido um êxito excepcional. Trata-se d~:~o reunião de pais e adolecen.tes de uma equipe, e a formação paralela de uma equipe de adoIecentes, a dos pais. Publicamos algumas partes deste depoimento, e mais informações recebidas posteriormente enviada pelo autor dest~:~o idéia, um Assistente. Daremos a seguir, para terminar, a tentativa realizada na França. Achamos ser esta uma idéia para ser explorada mais profundamente. "Durante muito tempo indaguei a mim se as E .N .S. tal como conhecia eram capaz de dar um testemunho dentro do seu próprio lar, quer dizer, juntos aos filhos. Pois me parecia que a espiritualidade conjugal deveria unir o casal em primeiro luga.r naquilo que é inherente a sua vocação, quer dizer na responsabilidade de pais. Gostava mesmo de saber o que os filhos pensavam sôbre o ato dos pertencerem as Equipes. Tornei-me Assistente de uma equipe, há vários anos e então tive a oportunidade de observar e tive uma experiência que achei interessante e que veio responder as minhas dúvidas. Ei-la: 8


Os casais de minha equipe tem em média de 15 a 20 anos de vida conjugal. Tem seis filhos adolecentes que a vários anos vem ouvindo falar nas Equipes. Os vários casais sempre se esforçaram para que seus filhos se associassem de perto à vida da equipe. Sugiro mesmo aos responsáveis que dêem um cunho festivo as reuniões entre pais e filhos. Até mesmo que o compromisso fôsse feito perante os filhos. Passado alguns dias um dos filhos perguntou a mãe se não seria possível fazerem uma equipe para os adolecentes, filhos dos equipistas, pois devido as reuniões entre pais e filhos eles jã se conheciam bastante. A mãe admirada e contente sugeriu que ele falasse no assunto. Achei ótima a idéia e de acordo com eles organisamos a nossa equipe de jovens. Três semanas depois tínhamos a nossa primeira reunião. Tentamos nesta reunião ver quais eram as suas principais preocupações: fé, liberdade, amor, obediência, relações com os pais , etc. etc. Foi um encontro cheio de vida e de muito êxito e prometedor. Algumas semanas depois alguém sugeriu que a reunião fôsse mixta, uma "Verdadeira" reunião. Escolheram o tema: A Quaresma, porque? Esta reunião foi preparada pelos dois responsáveis, o da equipe dos pais e o da equipe de adolecentes. Foi uma reunião cheia de entusiasmo, respeito mútuo e compreenção." As reuniões prosseguiram em um ritmo irregular mas perseverantes. Até hoje lá foram realizadas 8 ou 9 rewliões. Estas reuniões se realizam por ocasião de um passeio, uma excursão. A meditação é feita a partir de uma canção popular em volga ou mesmo de poema. ReaJizaram-se também três ou quatro reuniões nlixtas, mas sem a fonna prõpriamente dita de re!llnião de equipe. Reuniões mais livres. Eis pois como o Assistente conclui: 9


"Para os filhos a equipe não lhes parece"! beata, feichada, mas sim uma verdadeira escola de formação. Apesar do desejo de liberdade, muito comum a esta idade verificar-se muito respeito para com os pais. Há um desejo muito maior do diálogo entre pais e filhos. Há maior reflexão e chegam a conclusão que não existem soluções pré-fabricadas." A EXPERmNCIA FRANCESA "Organizou-se em nossa cidade uma conferência para religiosas, pais e adolecentes. Foi convidado um Padre Redentorista. O tema, "Problemas da Juventude". Após a conferência foram feitos dois grupos para debates, de um lado jovens e religiosos, e de outros casais e reli~iosos. Foi muito proveitoso e os jovens ~?:OS­ taram muito, eram quase todos filho de equipistas. Pouco tempo deooi1; elaboram um questionário e enviaram aos pai!" para que refletissem sôbre o assunto e pronunham uma reunião para debaterem as relações entre pais e filhos." Achamos que este questionário intf>ressará a muitos pais por este motiV'O reproduziremos na íntrega: 1) a -

CO:Nl"JANÇA RECíPROCA ENTRE PAIS E FILHOS Têm confiança em seus filhos?

b - Quais os elementos que servem de base para ter confiança ou não em seus filhos? c - Aceitam diálogo com os filhos menores e com os adolecentes? d - Não procura diminuir a importância dos problemas dos filhos quando pequeno, fato este que terá muita influênci& na confiança do adolecente? 10


2)

DESTA CONFIANÇA RECíPROCA NASCE CERTA LIBERDADE QUE PERMITE O PLENO DESENVOLVIMENTO DE CADA UM

a - Estão a disposição de seus fillios? b - Estão de acordo a dar certas liberdades a seus fillios? A partir de que idade? o - Como encaram o respeito dos filhos para com voces? d - Será o receio mútuo a base do respeito? e - Será a liberdade determinada pelo temor reciproco? f - São favorável a se dar uma mesada aos jovens? g - Que pensam das vantagens de iniciar os jovens nos problemas materiais da família? h - Seriam capazes de discutirem com os fillios problemas de trabalho, polftica, juventude ou então assuntos -éulturais como televisão, cinema, leituras, etc.? 1 - Pensam que uma reunião feita nestes moldes possa favorecer o diálogo? R-ESPOSTA A UM ASSISTENTE Um membro das Equipes responde o seguinte ao assistente que fazia a si próprio algumas perguntas à cerca das suas relações com a equipe na C.M. de Janeiro de 1967: "Há uma passagem da vossa partilha" que me pr<ocupa : dizeis que não tendes a certeza de ter dado tudo aquilo que esperavam de vós e que ninguém võ-lo disse. Muitos padres fazem a si próprios esta mesma pergunta, mesmo fora das E .N.S. , na paróquia, nos movimentos. Na reunião de balanço, o nosso assistente interrogou-nos à cerca deste ponto. A reposta que lhe demos foi esta: sede apenas padre, homem consagrado a Deus; dai-nos o Senhor, a sua palavra, a sua presença bondosa; 11


não a palavra tirada diun livro, mas a vossa pessoal, saída da vossa. intimidade espiritual, sim violentai o vosso pudor em relação a este ponto para nos comunicardes o melhor de vós próprios isto é a. rvida de Cristo em vós, o diálogo que tendes com Éle quando rezais. Ensinai-nos a rezar melhor e mostrai-nos como rezais. Não apenas na reunião, mas quando vindes a nossa. casa, antes e depois das refeições. Podeis abençoar as crianças, os adultos, participar na oraçãa familiar. Não sejais demasiado discretos, ficaremos desiludidos mesmo se não o dissermos. Hoje em dia há um excesso de padres a quererem demonstrar-nos que também estão no mundo, que conhecem os últimos resultados do futebol e que sabem até arranjar um ferro de engomar. t: simpático, mas não é isso que esperamos do padre. Sabeis que alguns casais rezam melhor, comunicam mais da sua vida esperitual ao longo da reunião do que entre marido e mulher? Nem todos têm a faculdade de exprimir o seu cântico interior, quer seja de humilde, adoração ou acção de graças, de súplica ou confiança. No entanto não é a expressão perfeita que é pedida, mas sim este esforço para sairmos de nós próprios, para dar, comunicar Cristo, para o confessar ... Sabemos por experiência pessoal o que isso pode custar. Muitas vêzes tremo, transpiro de fraqueza e de concentração. É por isso que ouso pedir-vos isto, a vós que sois padre, e cuja vocação, portanto, é esta". O nosso amigo tem razão em lembrar aos padres aquilo que, juntamente com grande número de leigos, espera deles. Mas sabemos bem que não é fácil falar de Deus inconsideradamente. Devemos pois ter a ousadia de mostrar ao padre a nossa fome, convidá-lo a abençoar, a rezar. É na reciprocidade do acolhimento e do dom que se pode dar origem a verdadeiro diálogo entre padres e leigos.

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Diálogo Religioso Com a publicação dos números das Carta Mensal para equipes novas, deixamos de publicar os números normais. Retomamos a meses e estamos já graças a Deus normalisando estas publicações. Mas como é claro muita cousa foi escrita e muitos assuntos abordados. Sôbre o diálogo religio~o a c .M. desde outubro de 66 fêz publicar diversos assuntos. Achamos por bem fazermos um rápido resumo de tudo o que foi publicado.

OUTUBRO Os pontos principais da enclclic'l ''Eclesiam Suam", forom publicados, bem como a opinião de S.S. Paulo VI sôbre as quatros caracte1isticas do diálogo: Clareza Doçura Confiança Prudência

NOVEMBRO publicado um texto de S.Exa.Mon.GARRONE, que terminava com estas palavras:

É

((Retomemos o Evangelho, é lá que o diãlogo tem sua origem" Neste mesmo número nas Páginas amarelas, a carta do Centro Diretor a este respeito. 13


DEZEMBRO

Não se tratav'a diretamente do diálogo. Era um testemunho com o título "Uma conversão", mas que intima relações tinha com o diálogo propriamente dito. Nos relatava o esforço de vários membros das Equipes que em reves9.mento de ajuda a uma jovem senhora árabe a amparavam no seu caminhar pnra a fé. Não se limitaram na ajuda material ou então no amparo das suas dificuldades morais, mas também se esltação lhe falaram da sua fé.

JANEIRO, 1967 Em iresposta a várias perguntas feitas o Centro Diretor pública esclarecimentos sôbre a. orientação do ano. Lembrava que deveriamos consagrar um momento da partilha aos esforços e tentativas de cada um com referência ao diálogo religioso.

FEVEREIRO ll: publicado um Editorial "Da Comunicação". Nele é explicado a

raiz do diálogo. Façamos um extrato: " ... a raiz do diálogo é o olhar de caridade sôbre o outro: amá-lo como Deus o ama." Continuando nos fazia um convite para que treinásse-nos em casal, em família, em equipe, a olhar os outros com este olhar de amor, e interessarmos pelos outros, por todos os outros, para assim podermos nos "comunicar" com eles. Nesta mesma C.M. o depoimento sôbre o diálogo. Nele contava um membro das Equipes que em recente diálogo havia podido falar de Deus.

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MARÇO Mais dois breves testemunhos são publicados. MAIO Editorial do Pe. Van Wynsberghe, este artigo é o publicado na nossa C.M. de outubro, pois a publicação francesa de maio corresponde a nossa de outubro.

AINDA ALGO SOBRE O DIALOGO Foi enviado em fevereiro a todos os Regionais e Responsáveis de Setor do Movimento um questionário para saber em que estado estavam as equipes no que toc~~ova ao diálogo religioso. Isto é claro após ter sido apresentadas as diretrizes do ano. Foram estas as perguntas : -

Como é que o seu setor recebeu esta orientação? Que objeções foram feitas?

-

Nas equipes de seu Setor tem sido feitas a partilha sôbre este ponto?

-

Têm alguma experiência de diálogo realizado que nos possa citar?

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Destas respostas pudemos fazer um trabalho de esclarecimento. Vamos aclarar algumas delas: "O que entendemos nós por diálogo religioso" As respostas dos Setores demonstram que houve uma certa confusão.

O trabalho com os Responsáveis de Setor sôbre a espiritualidade conjugal fêz com que muitos deles confundissem "difusão de esp!ritualidade conjugal" e "diálogo religioso". Vamos pois esclarecer. -

Um é pedido aos Setores: é a difusão da espiritualidade conjugal. Palestras, mesas de debates, retiros para casais. Preparação para. o matrimônii (para noivos) . Preparação para o casamento (remota para alunos de colégio) . Encontros com Seminaristas que quando sacerdotes terão de se ocupar com casais.

-

Outro diz respeito a cada membro da equipes : é o diálogo religioso. O diálogo simplesmente é a troca de idéias entre duas pessoas, entre pais e filhos, entre os casais, em equipes e etc .... O diálogo "reli(/ioso" é aquele que independente da motivação deste diálogo que travamos entre crentes ou não crentes, se acabe por conseguir falar de Deus:

......

"O cristão, ao revelar as suas últimas razões de vida ou de morte, póe o interlucutor em contacto com Cristo". P. Girardi

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Dificuldades

As dificuldades que devemos enfrentar são de duas ordens:

-

dificuldade de princípio

-

dificuldade de fato.

Dificuldade de princípio:

Dizem algtms o testemunho de vida fala mais alto que as palavra.s ... A resposta nos é dada pela Igreja desde a sua fundação. cllio repetiu-a:

o

Con-

" ... o apostolado direto, a evangelização, é dever de todo o batizado."

Como vêem nada foi inventado pelas E.N.S. Quiz isto sim o Moviment0 chamar a atenção, projetar para os equipistas uma luz sôbre este dever que é o primeiro para todo o cristão.

Dificuldades de tato:

... "Não sabemos como começar". "Tenho medo de fazer asneiras ... ". "Será que não serei tomado por falso beato, por "carola"? "Tenho medo de começar e depois me atrapalhar e não saber responder as perguntas e duvidas apresentadas ... " Realmeante é muito difícil. Raramente é possível entabular um diálogo religioso com uma pessoa que acabamos de conhecer. Só será possível se houver uma base no diálogo humano e fraterno. 17


Se tivermos a preocupação ela poderá surgir nos comentários de um filme sôbre um livro, na prestação de um serviço, etc. Cabe muito bem aqui um testemunh o de um equipista. brasileiro: . .. trabalhava a vinte anos em um h ospital. Nunca dirigi minha atenção a necessid<>.de de uma fraterna visita diária aos doentes. Não seria estas visitas uma oportunidade dada por Deus para o diálogo? Passei a fazê-la com todo o amor cristão e tenho então encontrado muitas oportunidades. Aquilo que me parecia impossível rv·em se realizando há meses com naturalidade e cmn proveito apostólico ... Outros testemunhos irão esclarecer e nos despertar para reconhecermos nossas pobr2ZM e assim nos prepararmos para reagirmos e nas oportunidades apresentadas estarmos atentos . . . . A morte repentina de um colega pôs em alvoroço o escritório. Nos comentários: " . . . que sorte morrer assim, não sentiu nada ... " Fui incapaz de exprimit· uma opinião cristã sôbre a morte. Conclui que precisava despertar a fé e alimentá-Ia. Fazer novo esforço para conhecer a Cristo, aumentar em mim a preocupação missionária por aqu21es que me cercam . . .

Aqui está. uma derrota que provocou uma descoberta positiva . . . . em uma carta relatei a minha irmã as descobertas que havia feito em nosso retiro. Depois de quinze dias ela e o meu cunhado marcavam lugar para o primeiro retiro, isto depois de dez anos de casados .. . " . . . ofereci a meu irmão estudante de filosofia um livrinho de orações, êle me respondeu com uma carta de quatro páginas . . . Os exemplos citados tem sua origem nos contactos que os equipistas tem na sua vida cotidiana de trabalho e de suas relações. Há no entanto um campo que nos parece totalmente a.b andonado, nossa ação nos organismos da nação ou da Igreja. Quantos dl' nós não temos a oportunidade de o fazê-lo? 18


CORRE I O

Um Casal Abandonà a' Equipe Este casal, por motivos que a mUlher explica com toda a franqueza ao seu casal de ligação, tem de deixar a equipe. Neste caso e em casos semelhantes 'Voltamos a pensar no dever que temos de não deixar estes casais cair no isolamento, mas de manter intactos e até de reforçar os laços de amizade que nos unem a eles. Lá porque deixamos de os ver no quadro da vida em que os conhecemos com certeza isso não quererá dizer que deixemos de precisar deles?· E eles não precisarão ainda mais de nós? "ll: muito difícil mantermo-nos objectivos no sofrimento ou na derrota. Não julgo que estes dois termos sejam exagerados. ll: para mim um verdadeiro sofrimento ter de deixar as E.N.S. depois de ter, durante t1ês anos, aprendido passo a passo, e às v~es resmungando, a amá-las, a sentir a sua riquesa, e a apreciar os seus métodos. Quando nos temos de desligar, compreendemos melhor a extraordmá.ria oportunidade que se tem ou se teve em lhe pertencer. Quando estamos lá dentro, não precisamos suficientemente. Gostaria de vos poder dizer tudo aquilo que me parece prodigioso no Movimento, mas seria muito longo. A palavra derrota também não é demasiado forte. Marido ou mulher ter entrevisto e compreendido o que poderia ser uma união conjugal completa e profunda, isto é, que seja também união espiritual e o outro não o ter compreendido, dá ao primeíro um sentimento de derrota: aquele que entreviu a beleza de tal união, que compreendeu o conforto e alegria provocados por um caminhar assim lado a lado, sente que falhou num domínio da vida conjugal que de súbito lhe pareceu essencial. 19


Mas não quero culpar ninguém; se alguém tem de dizer mea culpa, talvez seja eu; tenho procurado agir p elo melhor

fui talvez desastrada. No que diz respeito à apresentação das exigências das E.N.S. lembro-me que o casal piloto foi bastante claro. :e muito possível que a nossa equipe em conjunto e nós próprios não as tenhamos tomado bem a sério. Mas muitos de nós procuramos lealmente cumprir mesmo que fosse apenas para podermos permanecer na equipe, e finalmente, reconheço que todos, poucc a pouco, uns mais depressa, outros mais devagar, entrámos na engrenagem e acabámos realmente por progredir. Só o meu marido não o conseguiu e a própria reunião mensal representava para êle, muitas vêzes, pesado fardo. Nunca conseguiu se abrir simplesmente à equipe e, de repente, após três anos, sentiu que era o único que não estava "agarrado", e isto foi para êle deveras penoso. A mim parece-me ser este o nó do problema, não tendo as circunstâncias acidentais que precipitaram a nossa saída da equipe, passado de p eripécias ... Como conclusão ligo a mim própria que é preciso ver nisto tudo o plano de Deus, por mais bizarro que nos pareça. Por '\>O~ so intermédio agradeço às E.N.S. tudo o que deram ao longo destes três anos ao meu lar e a mim. Sendo militante da Ação Católica Independente, onde também recebo muito, tenho dificuldade em discernir o que recebo de um ou do outro Movimento. Os dois completam-se rnagnificamente, ma.~ há urna coisa incomparável nas E.N.S., é a solicitude, a paciência firme que os Casais de Ligação têm para com os casais pelos quais são responsáveis. A partir do momento em que as E.N.S. nos tomou a seu cargo, sentimo-nos realmente guiados passo a passo, por uma mão firme e ao mesmo tempo paternal, tal como pais que se responsabilizam pelos seus filhos para os conduzirem à idade adulta".

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Uma Partilha em Equipe Sôbre o Diálogo Religioso Pouco ainda são os relatórios que falam sôbre esta parti!ha. Gostaríamos de receber mais relatos, mas passemos a reproduzir um deles recebido: Nos escreve o casal responsável .. . a seguir a partilha sôbre as práticas, pedimos a cada um que nos dissessem o que tinham feito relativamente ao diálogo religioso. B . Visitei um vizinho já em idade avançada e que perdeu a pouco a sua companheira de muitos anos. 1:le é ante clerical e ateu. Ao visitá-lo falamos de sua esposa como alguém que ainda vive. :l!:le diz não acreditar em nada . .. C. Não tive êxito. Apenas princlpei uma troca de impressão com um colega de trabalho, apenas isto. Penso mais no assunto e espero a. oportunidade. P. Há uma pessoa que tenho apenas um contacto multo superficial, estou procurando um verd9.deiro diálogo. Ainda não toquei sôbre o ponto de vista religioso. R.

Este mês não pensei no assunto ...

G. Ofereci um livro de formação a um filho de uma amiga que irá fazer a sua primeira Comunhão. Acho que ambos irão lucrar com isto. Tanto mãe como filho terão bons ensinamentos neste livro. Espero a oportunidade que a troca de opinião sôbre o livro me favoreça o diálogo. D . Falo muitas vêzes de Deus aos velhinhos que frequentemente visito.


E. Falei com o noivo de minha filha que não praticante de modo pessoal. Por estes testemunhos podemos ver que no caso do B foi êle quase injuriado, por ter dito ser cristão. Terá talvez sido desajeitado? Talvez que o outro, hostil tenha ficado chocado? ... Sugeri que nos lembrassemos de Cristo que muitas vêzes foi injuriado e pedido que se afastasse. No entanto 1l:le predisse a seus discípulos que encontrariam indiferenças e contradições. Se não lembrasse isto certamente nosso irmão equipista teria perdido a coragem". Porque o Movimento nos pede a partilha do diálogo ·religioso? Porque faz com que pensamos nele e dos testemunhos podemos tirar proveito principalmente daqueles que tem mais coragem que nós para falarem de sua fé. Menos respeito humano. Podemos assim dar coragem uns aos outros.

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Oração para a próxima Reunião TEXTO PARA A MEDITAÇAO "E entrando Jesus no barco, seus descípulos o seguiram; E eis que o mar se levantou uma tempestade tão grande que o barco era coberto pelas ondas, Jesus porém dormia. E seus discípulos aproximando-se O despertaram dizendo: Senhor salva-nos que perecemos. E Jesus lhes disse: Porque temeis homens de pouca fé? Então levantando-se reprendeu os ventos e o mar e se seguiu uma calmaria. Aqueles homens maravilhados disseram: Quem é este que até os ventos e o mar obedecem?·" Luc. 8.26,39.

ORAÇAO LITURGICA Senhor Jesus Cristo, que dissestes aos Vossos Apóstolos : Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz", não olheis para os meus pecados, mas para a fé da Vossa Igreja: Dignai-Vos conceder-lhe a paz e a união como é da Vossa vontade. Vós Deus que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.

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1\\0\111\\eNo de ~~ f>OR

\U\\~ e.spiRI~ldAde

COfY\19~ e. J~t\Wt

ÉQUIPES NOTRE-DAME . 49 Rue de La Claciene . PARIS XIII EQUIPES DE N'OSSA SENHORA - Av. Rebouças, 2729 . SÃO PAULO


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