ENS - Carta Mensal 1968-5 - Julho e Agosto

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NUMERO ESPECIAL

regra de vida


Publlcoç6o mensal da1 Equipes de Nossa Senhora Casal Responsóve I: Nancy e Pedro Mancou Jr. Redação e Expedição: Av. Rebouças, 2729 São Paulo 9 - SP.


EDITORIAL

CONQUISTA DO EVEREST Quando na nossa vida familiar ou profissional desejamos realizar algo importante, preliminarmente elaboramos um primeiro plano que julgamos capaz de nos levar à conquista do objetivo almejado. Passamos depois aos detalhes, estabelecendo a priOridade das etapas a serem vencidas, a sua interligação, o mom€flto de serem atacadas etc. Quanto mais difícil o objetivo, tanto mais cuidado no pl2nejamento. Mas, ao passarmos à fase de realização, concentramos as nossas energias e partimos tanto mais confiantes quanto maior a fé que nos anima, a fé na vitória. Há muitos anos já, um grupo de exploradores decidiu lançarse à conquista do Everest, o mais alto pico do mu11do, cuja escalada tinha sido tentada inúmeras vêzes sem sucesso. As reportagens de então narraram a façanha, cheia de ensinamentos que merecem reflexão. Também alí, havia um objetivo a alcançar, uma vitória julgada impossível por muitos, mas na qual o Coronel Hunt e seus companheiros acreditam. N.a hora da partida, a certeza os anima. E no decorrer dos mêses esta fé os orientará, os sustentará, os aguilhoará; será o motor que impulsionará tôdas as suas atividades. -1-


Além desta, outras considerações são também interessantes e mostram como aquêles homens passaram da certeza de vencer à vitória realmente conquistada. A primeira consideração é que esta empreza, uma vez decidida, se fracciona numa multidão de lutas a travar, em inúmeros combates minúsculos que padem parecer ridículos à primeira vista, mas condicionam todo o resto. O problema, para o grupo do Coronel Hunt, não era repetir cada cinco minutos "Nós vamos vencer o Everest", mas sim se e que, por isso mesmo, não se aplicam a todos. tinham rou pas e tendas ade-quadas para acampar a 8.000 metros de altitude; se os sapatos tinham em ordem todas as suas farpas se o alimento que levavam forneceria as calorias dispendidas no esfôrço; se os tambores de oxigênio não vasavam... Tratava-se de prever com extrema minúcia os menores detalhes, encontrar os melhores meios de chegar até o fim. Foi preciso estudar a rota a seguir, prever os obstáculos, analisar as cdusas dos fracassos anteriores ... A segunda consideração é que, desde a partida, foi preciso aplicar métodos precisos e rigorosos, para que os meios escolhidos fossem utilizados com eficiência. Não se podia desperdiçar no ardor das primeiras etapas, o capital de fôrças e de recursos acumulados. Era preciso também que o esfôrço, longe de os exaurir ou desestimular, fosse fonte de novas energias para as etapas seguintes, as etapas decisivas. Era preciso adaptar o itinerário preestabelecido às cirscunstâncias que se ofereciam a cada passo: êste rochedo será firme? por onde transpôr êste vale? uma avalanche não estaria ameaçando aquela passagem? Era preciso, a todo momento, pôr em jogo o espírito de invenção. A terceira e última consideração: a empreza só paderia ser levada avante por uma equipe homogênea e unida. Cada um

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sabia os seus pontos fortes ~os seus pOntos fracos; sabia que poderia fazer boa figura na e/calada, mas seria menos eficaz numa geleira . Cada qual estava ciente que poderia contar com o apôio do9 outros. e êle o pediria sem falsa modéstia, e também estava pronto para oferecer a sua colaboração com dedicação e simplicidade porquanto a vitória da empreza não era necessária somente a êle mas a todo o grupo. Se o Coronel Hunt e sua equipe chegaram a vencer os 8.840 metros de Everest, foi porque cada um dos membros do grupo for levado por todos os outros. A empreza dos conquistadores do Everest se assemelha à nossa . Para nós, o Everest se chama Reino dos Céus. Este Reino de que no.; tala São Mateus, quãndodiz que só se deixa vencer pela violência e que "os violentos o arrebatam" (Mt. 11, 12). No ponto de partida é preciso ter fé. Durante o caminho é preciso ter fé. A todo momento é preciso ter fé. Uma fé tanto mais absoluta e confiante no sucesso quanto, para nós, o Reino dos Céus a conqu istar não é apenas um cume impassível, mas mas um cúme onde Deus nos espera, de onde ~le nos chama , de Conseguem atingi-lo, seguramente, todos onde ~le nos ajuda. aquêles que querem lá chegar. Sá não o atingem aquêles que não o querem atingir. Mas, posto isto e bem posto é preciso aceitar lealmente, esportivamente que, para alcançar a vitória, é necessário empenhar-se em inúmeros pequenos combates, pondo em ação métodos tão engenhososs e pertinazes como os que empregamos para o sucesso de nossas emprêzas humana . Aceitar que é na Igreja que nos iremos santificar, isto é, em equipe, dispostos a ajudar os outros, dispostos a receber dos outros a ajuda de que venhamos a precisar. Para isto é preciso ter fé, é preciso pôr em jôgo o auxílio mútuo fraternal, é preciso método, é preciso esfôrço pessoal. E, para nos ajudar nêsse esfôrço as Equipes nos propõem a Regra de Vida .

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Aos casais que ingressam no Movimento, as Equipes de Nossa Senhora pedem que assumam livTe:mente um certo número de obrigações . Têm elas por finalidade orientá-los e ajudá-los no seu esfôrço de aprofun damento da vida cristã. Dentre estas obrigações destaca-se a Regra de Vida. Eis o que dizem a respeito os Estatutos: As E.N.S. pedem aos casais : "Fixarem êles mesmos uma regra de vida (a grande divers~dade> de casais não permite propôr a mesma para. todos ). Sem regra de vida, a fantasia preside freqüent emente à vida religiosa dos cônjug ~:~s e torna-a caótica. Esta regra de vida ( inút,il dizer que cada cônjuge deva ter a sua) . nada ma is é do que a determinação dos esforços que cada um resolve im·pôr-se para melhor responder à vontade de Deus sôbre si. "Não se trata de multiplicar as obrigações mas sim de> de· finí- kG, a fim de escudar a vontade e evitar d esvios. O consêlho e o controle de um padre são desejáveis, a fim de se premu nir contra a sobrecarga ou a facilida:fe. Não há nenhuma obrigação em dar a conhecer à equipe a regra de vida adotada, nem a mane~ra como se a observa. Notemos, entretanto, que •mu,itos levem até aí o espírito de a·ux ílro mútuo".

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o principio da Regra de Vida acha-se bem determinado nestas poucas linhas: seu sentido, antes de tudo espiritual; sua necessidade, como remédio à fantasia, como me:o de orientar sôbre o método a seguir, ou assegurar a perseverança no esfôrço a empregar. O papel do padre acha-se le:nbrado, bem como o da equipe. Vejamos entretanto alguns pontos que merecem maior desenvolvimento ou precisão e que são o fruto da expriência ou o resultado de inquéritos que permitiram discernir os problemas e dificuldades que se apresentaram. Ao darmos sugestões e exemplos aos membros das Equipes, esperamos poder ajudá-los a :nelhor compreenderem a R egra de Vida e, assim, poderem utitisá-:a com todo o proveito.

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I - SUA FINALIDADE

1) "Todos os fieis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade" (L.G. 40). Não é outra a finalidade da R. V. 2) "Com o fim de conseguir esta perfeição, façam os fieis uso das fôrças recebidas segundo a medida da doação de Cristo, cumprindo em tudo a vontade do Pai, dediquem-se inteiramente à glória de Deus e ao serviço do próximo" (L.G. 40). Portanto, para atingir a plenitude da vida cristã e a perfeição da caridade, cumpre fazer esforços. Devem êles ser conduzidos numa tríplice direção: libertar-se (dos defeitos, dos apêgos inúteis, de certas rotinas, de certas fraquezas ... ); exercitar-se (em determinados esforços, na aquisição de determinada virtude, fazendo não o que agrada mas o que é da vontade de Deus ... ) ; alimentar-se (do Pão eucarístico, da Palavra de Deus, pela leitura espiritual e pelo estudo ... ) .

3) A Regra de Vida tem por objetivo concretizar aquela finalidade, na condição particular em que cada um de nós se encontra, procurando as libertações a fazer, os exercíé'ios a por em prática, o alimento capaz de nos comunicar fôrças. Não se trata, evidentemente, de colocar na R.V. todos os desapêgos a fazer ou defeitos a combater, tôdas as virtudes a praticar, todos os deveres pessoais, conjugais, familiares ou profissionais a cum,prir. Trata-se, isto sim, de estabelecer uma estratégia, que fixe com exatidão, aquêles pontos sôbre os quais eu preciso esforçar-me, em determinado momento. -6-


Escolhidos êstes pontos - poucos - serão êles atacados com decisão, até que tenham sido conquistados ou estejam em franco progresso. A REGRA DA VIDA É pois, A ESCOLHA DO OU DOS PONTOS SOBRE OS QUAIS EU PRECISO FAZER ESFORÇOS ATUALMENTE. A R . V. é essencialmente pessoal. Deve entretanto levar em conta os outros e, em ,primeiro lugar, o cônjuge. Nada impede, portanto, que haja uma parte comum aos esposos. 1/- SUAS QUALIDADES

A Regra de Vida deve ser curta, precisa, escrita. Curta - Não é possível atacar tõdas as /rentes de uma vez. Procederemos, portanto, por etapas. Será preciso, evidentemente, fazer uma escolha dos pontos que mais particularmente se oferecem à nossa atenção, adotando sõmente aquêles que, no momento, nos parecerem mais importantes.

Comportará uma orientação geral e o ou os pontos de aplicação. Se eu reconhecer, por exemplo, que a minha vida de união com Deus é deficiente, poderei colocar na minha R. V., como orientação geral, maior abertura com Deus, o que se concretizará, num certo período, por um esfôrço de oração, ou de leitura espiritual, ou de maior frequência à missa ... "Precisa - Devem fixar-se ~oucos pontos, U.'"Il mínimo que, para ser válido, deve ao mesmo tempo exigir esfôrços e ser "realizável.

São inúmeros e variados os pontos de aplic'llção da R. V . . O texto dos Estatutos põe em destaque a vida espiritual. Entretano, se considerarmos que "tõdas as obras, preces e iniciativas a.postólicas, vida conjugal e familiar, trabalho cotidiano, descanso do corpo e da alma, se praticados no Espirito, e mesmo os incômodos da vida pacientemente suportados, tornam-se hostias 7


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espirituais agradáveis a Deus" {L.G. 34), oo:npreende-se que são tôdas as nossas atividades que assumem um valor es,piritual. A R. V. incluirá, assim, atividades religiosas e temporais, visando o esfôrço de aprimoramento thumano e cristão a ser realizado, seja nas relações familiares {deveres de cônjuge, de pai, de parente, de amigo) ; seja na vida profissional <competência, atualização e aperfeiçoamento ,profissional, intelectual ou técnico, relações com superiores, iguais ou subordinados, justiça) ; seja. nas relações sociais {procurando impri:nir nelas um sentido cristão, trabalhando para que "o mundo seja imbuído do espirito de Cristo e na justiça, caridade e paz, atinja eficazmente o seu fim" {L.G. 36); seja nos próprios lazeres {prevendo o indispensável repouso, férias, convívio com os filhos ... ) Escrita - Não vamos dizer que esta é a qualidade principal. Entretanto, sem ela, a R. V. arrisca-se a cair ràpidamente no esquecimento. Devemos reler com frequência a R. V. que nos propuzemos, especoiaimente e:n certas ocasiões {preparação da partilha sôbre as obrigações, dever de sentar-se, confissões, retiros) . 111- COMO ESTABELECI:-LA

1) Consultar Deus, em primeiro lugar. Isto é, em ocasiões oportunas {o retiro é certamente a ocasião mais favorável) procurar descobrir o que 1l:le espera de nós. 2) Refletir. O estabelecimento da R. V. requer lucidez e esfôrço. Lucidez para nos conhecermos a nós :nesmos já que nada de bom se faz em nós sem nós; esfôrço, para discernir os meios eficazes a empregar, para atingir o objetivo. 3) Aconselhar-se, pois sabemos como nos conhecemos mal. Já que somos maus juizes em causa própria, precisamos :nuitas vêzes ver através dos olhos dos outros. Assim, com a humildade que deve caracterizar o cristão, é preciso procurar a ajuda daquêles que Deus colocou JPerto de n6s: o cônjuge, os companheiros de equipe, o conselheiro espiritual, o confessor. -8-


4) . Enfim, experimentar a R. V. estabelecida. As vêzes tateamos bastante até encontrar os esforços adequados a fazer: nem muito, nem pouco.

IV -- REVISÃO

A Regra de Vida não é u:n fim em si mas um meio de progredir. Deve portanto ser essencialmente flexível. Dai decorre a necessidade imperiosa de sua revisão !Periódire. Deve não só adaptar-se às circunstâncias (alterações no ritmo de vida. férias, doenças ... ) como também sofrer modificações quando se considera um ponto alcançado, permitindo um novo passo à frente.

V - BENEF1CIOS E PERIGOS DA REGRA DE VIDA

A R. V. leva-nos à descoberta de nós mesmos, da nossa vocação, daquilo que Deus espera de nós Ensina-nos a viver não ao nosso bel ~ razer, mas segundo o que Deus e.~pera de nós. Ela educa a nossa vontad e, obrigando-nos a tornar-nos menos impulsivos, mais perseverantes. Ela é um remédio à intranquilidade; estabiliza a nossa vida ao mesmo tempo que a orienta, sendo assim um fator de paz. Estes benefícios se verificam particularmente na medida em que ela é revista e aprovada por um conselheiro eSUJiritual.

Por outro lado, não devemos esquecer-nos dos perigos da R. V. , como seja, por exe:nplo, julgar o nosso valor espiritual pela observância de um mínimo estabelecido; ou apegar-se à letra da R.V. o que afogaria o espírito. Lembrar-se sempre de que o escopo da Regra de Vida é o impulso para Deus que ela proporciona e mantém. -9-


VI- NO LAR E NA EQUIPE

São muitos os cônjuges que, por ocasião do Dever de Sentar-se, partilham entre sf a Regra de Vida. Sem dúvida, nem todos os pontos adotados devem ser partilhados. Pode-se co:nunicar tut:W ou cmunicar somente alguns pontos, e, muito particularmente, aquêles que foram adotados em comum. A abertura entre os cônjuges, nêste ,particular. o que não exclui uma prudente reserva, pode ser de grande ajuda, quando ambos sabem abrir-se com franqueza e humildade sôbre os próprios esforços. Na equipe, por ocasião da partilha sõbre as obrigações, pOde-se trocar idéias sõbre alguns pontos da R. V., :nas ninguém deve sentir-se jamais obrigado a dizer tudo. "Não há nenhuma obrigação - dizem os Estatutos - de dar a conhecer à equipe a R . V. adotada, nem a maneira como se a observa. Notamos, entretanto, que muitos levam até aí o espírito rle auxílio mutuo".

O que devemos ter a lealdade de dizer é se estamo.s fazendo esforços para alcançar a meta que nos d)ropusemos. Co:n efeito, a R.V., por sua natureza, deve nos impelir a TENDER PARA alguma coisa que ainda nos é difícil. Em rigor. ninguém poderia dizer que pratica perfeitamente a sua R. V. , pois que, nêste caso, não seria mais viva, não seria mais o "esfôrço" pedido. Estabelecer uma R.V. escrita e não mais pensar nela, não autoriza evidentemente a que digamos "sim" na partilha! Porquanto, ter uma Regra de Vida é tê-la presente no pensamento, modificá-la em função das circunstâncias e dos progressos alcançados. Ter uma R.V. é ter uma preocupação de esfôrço, é ter a firme resolução de CUIIl!Prí-la. Reler antes da reunião as notas tomadas para a R. V., trocar idéias com o cônjuge a respeito, no Dever de Sentar-se, são critérios que nos permitem responder "sim", em sa cons_ciência, na partilha. Mas não hesitemos, então, em dizer algo mais! 10


Dissemos há pouco (qualidades da R.V .) que ela comporta duas I)Jartes: uma orientação geral e pontos de aplicação práticos. Apenas a titulo de sugestão, vamOs dar alguns exemplos que foram coligidos de testemunhos apresentados por equipistas e que, por isso mesmo, não se aplicam a todos. ORIENTAÇOES

Devem ser formuladas em apenas algumas palavras: - Deus servido em primeiro lugar. - Ver Cristo no meu próximo. -Dizer " obrigado " a Deus por tudo o que me acontece. - Dirigir-me a Deus como a um Pai. - Atenção à vontade de Deus. - Melhor conhecer para melhor amar. - Aceitar de boa vontade os Incômodos do dia a dia . - Não fazer mais do que já faço , mas dar mais valor àqullo que faço. - Evitar a dispersão: dedicar-me todo à tarefa que executo, sem pensar no que virá depois ou no que já passou. - Pontualidade. - · Atacar de frente e Imediatamente aquilo que me desagrada. - Dar especial atenção às pessoas com quem slmpatlso menos. - Evitar as críticas nas minhas conversações. - Dlsponlbllldade para as crianças. - Não diferir a solução dos problemas que se me apresentam.

PONTOS DE APLICAÇAO

As grandes orientações permanecerão letra morta, se não esclarecermos bem, para nós mesmos, alguns pontos de aplicação concretos . Devem ser de fácil controle. As sugestões que damos -11-


a. seguir, apresentam, de modo variado, os esforços que podem ser feitos no plano religioso e no plano humano. Estes últimos são muito importantes também, pois condicionam muitas vêzes tôda a vida. do Ia.r e de cada um no plano espiritual. -

Só ler o jornal depois de ter feito a minha oração. Dez minutos de leitura do Evangelho cada dia (em tal hora).

- Preparar diàriamente a oração familiar. - Ir à missa em tal dia da semana, mesmo com mãu tempo. - Atender com bondade os pobres que batem à porta. Voltar do estcritório a hora certa (tenho tendência a deixar-me absorver demasiado pelo trabalho, em detrimento da fam[Jia). - Sair com minha espôsa uma vez por semana. - Dedicar inteiramente o domingo à familia. -

Responder às cartas dentro de oito dias.

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Acolher sem mã vontade o cliente da última hora e dar-lhe tôda a atenção.

- Escutar o meu cônjuge; ouvir as suas preocupações antes de falarlhe das minhas . -

Aceitar corajosamente e observar o regime que me foi prescrito pelo médico.

-· Consagrar duas horas cada semana, à leitura e ao estudo, para poder continuar a dialogar com meus filhos. -

Tenho tendência a perder tempo: prever, na vêspera, o emprêgo do meu tempo de amanhã.

- Disponibilidade para com as crianças; evitar de dizer-lhes a cada irv;tante: "Agora estou ocupado".

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Vários inquéritos foram feitos nas Equipes sôbre a Regra de Vida. Das respostas recebidas, destacamos alguns tópicos, por vêzes mais extensos, que ilustram a forma como os casais das equipes reagiram em face da obrigação que lhes era pedida pelos Estatutos. Poderão ser de utilidade a titulo de orientação. Não no.s esqueçamos, porém, que se trata de experiências pessoais, ótimas talvez para aquêles que as puzeram em prática mas que nem se:Jl!Pre poderiam ser aplicadas por outros. Não se trata portanto de copiá-las nem de imitá-las. :E: apenas nosso desejo oferecer uma ajuda e mostrar a diversidade de esforços possíveis no campo da Regra de Vida.

Por ocasião de ?Wsso primeiro contacto com as Equipes, esta obrigação nos pareceu corresponder muito bem ao nosso desejo' de progredir. Elaboramos a nossa R. V., cada um de seu lado e verificamos logo que os nossos esforços davam resultado. Só bem mais tarde, porém, é que começamos a falar dela nosso Dever de sentar-se. Compreendemos então o quanto era importante que os cônjuges tivessem além da R. V. pessoal, uma parte também em comum.

1W

Concluímos que a nossa R. V. devia compreender: 1) uma orientação geral; 2) pontos bem determinados e fáceis de controlar; 3) um esfôrço comum muito simples e preciso para nos ajudar um ao outro a realizá-lo. Assim, além dos pontos de aplicação pessoal (oração, leitu-

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re espiritual. . . escolhemos como orientação geral de ambos, a caridade, Para mim, esta orientação se concretizou no seguinte: Ver e tratar os trabalhadores da empreza em que trabalho, não como "braços" mas como homens que têm uma alma que Deus crio'!\ e que t!:le ama como a minha. Para minha mulher: ter um semblante sorridente para todos os que entram em casa (mau grado as cinco crianças, a falta de empregada, etc.). Para ambos: não mais criticar constantemente os outros, como tínhamos a tendência de fazer . ..

Antes de cada reunião, examinamo-nos sôbre a observância da R. V., de modo a poder responder tão exatamente quanto possível, por ocasião da partilha. Na nossa equijpe, todos nós demos por escrito a nossa R. V. ao Assistente. 1l:le nos leu, numa reunião, tôdas elas, sem dar a conhecer os seus autores, e fêz alguns comentários. Ficamos espantados, por ocasião dessa leitura, com a diversidade de nossas escolhas. Isto foi há dois anos. Concordamos, então, que · aquela partilha tôda especial era um meio extraordinário de nos sustentarmos no esfôrço de progresso e, depois disto, todos os anos repetimos esta reunião especial. 1l: um barômetro que nos mostra bem se cada um, na equipe, está em período ascendente ou no de "deixar-se levar".

Na minha opinião, são necessários pontos bem demarcados, se quisermos que a R.V. seja eficaz. Se incluir na R.V. esta orientação geral: ser "mais generosa", "mais humilde", como avaliar a sua aplicação? Procurei, portanto, analizar quais as circunstâncias concretas em que podia ser mais desprendido ou devia dominar o amor-próprio.

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Para que as resoluções tomadas não caiam no esquecimento, fazemos com muita simplicidade a revisão de nossa R. V., por ocasião do Dever de Sentar-se. A princípio foi difícil, mas os resultados obtidos com êste auxílio mútuo, foram compensadores.

Para nós a R . V. é sobretudo uma espécie de boia de salvação que nos sustenta no turbilhão de vida fatigante de todos os dias, ajudando-nos a sermos fiel às resoluções tomadas. lt fácil, por ocasião de um retiro, por exemplo, reconhecer a necessidade imperiosa de alimentar-nos com ::nais frequência da Sagrada Comunhão. Serenamente concluímos que Deus pede ãe nós a participação a uma ou duas missas durante a semana. Mas. passado o fervor inicial, quando se trata de sair do leito mais cedo para ir à igreja, é bem provável que o cansaço mal refeito, o frio, a chuva ... tornem bem ::nenos luminosa aque:a necessidade tão clara no retiro. Se porém, adotei como R. V. uma missa em determinado dia da semana, naquela hora não discuto mais os "prós" ou os "contra "; a fidelidade à R. V . me sustenta, e isto é muito bom.

Ritmada pelas reuniões mensais, nossa vida espiritual conjugal e também pessoal, se desenrola verdadeiramente de um Dever de Sentar-se a outro. Coisa essencial de nosso D.S . é fazer um balanço de nossa R . V. . :t o momento em que se tomam de novo as notas assentadas no mês anterior e se procura ver os resultados obtidos. Cada um tenta dizer, em seguida, o que lhe parece que Deus espera do casal e de si mesmo nas semanas vindouras. :t quando se entrelaçam os liames mais profundos entre nós e entre Deus e nós. Em resumo, que dizemos nós a Deus? "Sei que esperais de mim que diga "sim" a vosso amor em todos os atos de minha vida cotidiana, mas para estar seguro de ser ao menos "entreaberto" a vosso apêlo, vou me aplicar em tal ou tal ponto, porque tenho certeza que isto é o

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que me pedis>'. A R. V. oferece entretanto um risco bem subtil, o de um certo farisaísmo. Se tudo vai bem nos pontos que nos fixamos, é fácil ficarmos satisfeitos conosco mesmos . Temos a tendência em cumprir estas poucas obrigações para podermos dizer com satisfação: "Apesar de tudo, sou formidável!". Fdcilmente chegamos a nos obrigar a observar a R. V. custe o que custar, a fim de poder dizer de si para si: "UI I agora está tudo em ordem; estou em dia com Deus!" Em suma, procuramos sentir-nos "justos", quer dizer, bem o contrário dos bem aventurados pobres em espírito. 1i: o farisaísmo em todo o seu esplendor . .. E podemos dizer, por experiência própria, que se chega bem depresa a êste ponto. É um perigo sôbre o qual é preciso estar alerta .

Nos primeiros tempos do meu casamento, tive, como muitas outras, certa dificuldade em adaptar a minha vida espiritual ao novo estado. Creio que eu fugia mais ou menos conscientemente à perspectiva de me impor uma disciplina, sob o pretexto bastante leviano de que a vida de uma mulher era feita de perpétuos imprevistos. Para que, então, impor-se uma regra que será necessàriamente desrespeitada na primeira oeasião. Nesta altura, entramos para as Equipes . Foi a ocasião de dar aquele passo à frente que tanto me repugnava. Pensei a princípio que seria a coisa mais fácil dêste mundo. Puro engano! Por muito tempo arrastei sucessivos projetos de R. V. que nunca chegava a concretizar. O tempo passava e cada vez se tomava mais urgente o eumprimento dessa obrigação. Até que veio o retiro. E com o auxílio do Assistente e as exortações de meu marido, acabei por alinhar numa fôlha de papel, aquilo que no meu íntimo eu sabia que devia fazer ...

Vários anos de vida de equipe, me ensinaram, após muito tactear, como proceder para organizar a minha Regra de Vida.


Exteriormente, não passa de um papel. Acho isto necessário para poder sempre relembrá-la. Mas êste papel é o fruto da refleão e da oração; em sí mesmo, nada é. Minha R .V. é curta sômente poucas obrigações podem ser controladas e uma R. V. sem controle nada representa. Minha R . V . abrange todos os setores. Assim é normal que nela figure a meditação e também a ginástica, a missa uma vez durante a semana e a natação ou esforços no plano profissional: responder às cartas dentro de 24 horas, por exemplo. Minha R. V. adapta-se às circunstâncias: férias, viagens, saúde dos membros da família. Mas, nêste ponto, há para mim um perigo: o relaxamento ... Sei portanto que é preciso conciliar adaptação e continuidade: por exemplo, que preciso me apegar à meditação em qualquer circunstância.

I,

Minha R. V. comporta pontos concretos e orientações gerais. Por exemplo, devo rezar todos os dias uma dezena do terço e, também, impregnar a minha vida daquela frase de S. Tiago: "Sêde prontos para escutar, lentos para falar, lentos a vos encolerizar, porque a cólera do homem não está de acôrdo com a vontade de Deus". Minha R . V . tem por objetivo, ora obrigações novas que devo incluir na minha vida de maneira permanente; ora obrigações que surgem conforme as circunstâncias (a missa cotidiana, por exemplo, que ainda não me parece popsivel o ano todo, mas que me obriigo a assistir durante a quaresma) ;ora obrigações antigas que volto a adotar, para vivificá-las, quando percebo que as prático de maneira rotineira. Depois de refletir sôbre cada um dêstes aspectos e consultar

o Senhor, determino quais os pontos que devo adotar para a R. V. e nêles me aplico.

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Por ocas1ao de nossa entrada nas Equipes, a questão da Regra de Vid!!> nos preocupou bastante. Não tínhamos evidentemente nenhuma objeção contra o seu princípio, mas não a viamos com muita clareza. O que nos esclareceu, a nós dois, foi descobrir que ela não devia ser uma série de observâncias, mas ter uma orientação geral determinada, uma grande idéia diretriz. A idéia nos empolgou e, cada um de seu lado, procuramos encontrar a orientação a dar à nossa vida. Eu não sabia como fazer i!Jara estabelecer mna R. V. que :n,; ajudasse a corrigir o que "não funcionava" na minha vida.

Foi então que combinamos, meu marido e eu, ir conversar com o Assistente de nossa equipe. A princípio pensamos em ir juntos, mas compreendemos que era preferível vê-lo s sparadamente. De :ninha parte, comecei por dizer ao Padre tudo o que não ia bem na minha vida, a idéia-fôrça em que eu pensava: "Viver plenamente o meu casamento", as dificuldades que tinha para pôr minha R.V. em dia. Tendo-me escutado. disse-me imediatamente: No fundo, o que lhe falta é disponibi!ilade. Dê maior largueza à idéia escolhida e adapte; Ser disponível". Retomei então, pouto por ponto, todos os aspectos de minha vida e a Regra de Vida se foi estabelecendo insensivelmente em torno desta idéia de disponibilidade. Disponibilidade para com Deus: acolher as dificuldades, os acontecimentos. Disponibilidade para com meu marido: acolhê-lo, interessar-se por suas ocupações, saber escutá-lo. Di®onibilidades para com meus filhos: paciência, saber esperar um instante antes de repreender consagrar, só para êles, o tempo necessário . -18-


Disponibilidade para com o próximo: acolher, escutar, co:npreender. E para que o Senhor venha à minha ajuda, para que eu adquira esta disponibilidade, ir buscá-Ia Nêle. Para isto: Cada dia: Leitura e meditação de uma passagem do Evangelho (aí procurar a disponibilidade do Cristo para c.om todos) . Recitação do terço (pedir à Virgem a sua disponibililade) . Exame de consciência cotidiano sôbre esta disponibilidade. Cada semana: Assistência à missa uma vez. Cada mês: confessar, com prévio exame de consciência sObre a disponibilidade para com Deus e para com os outros. Os resultados? Só o Senhor os conhece. Posso dizer que o fato de ter uma orientação geral muito me ajudou, chamou-me à ordem a todo instante: "Ser disponível. .. escutar ... acolher". isso valeu mais do que dizer: "Recitei hoje meu terço? e a missa da semana? etc ... "

Há se:n dúvida fracassos, fraquezas. . . e creio que em parte porque não contei bastante com o Senhor, não recorri a :ll:le suficientemente. não Lhe pedi, a :ll:le e a Nossa Senhora. esta disponibilidade que procuro. Penso também que uma fidelidade maior ao exame de consciência cotidiano sôbre êste ponto, ter-me-ia ajudado muito.

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