ENS - Carta Mensal 262 - Março 1990

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ORAÇÃO AO ESPfRITO SANTO Espírito Santo Vós sois o alento do Pai e do Filho na plenitude da eternidade. Vós nos fostes enviado J?Or Jesus para nos fazer compreender o que ele nos disse e nos conduzir à verdade completa. Vós sois para nós sôpro de vida, sôpro criador, sôpr.o santificador . . Vós sois quem renova todas as coisas. Vos pedimos humildemente que nos deis vida e que habiteis em cada um de nós, em cada um de nossos lares, e em cada uma de nosas equipes para que possamos viver o sacramento do matrimônio como um lugar de amor, um projeto de felicidade, e um caminho para a santidade. Amém.


UM MOMENTO COM A CARTA MENSAL

No início de cada ano, a gente se pergunta: qual é a função de nossa Carta Mensal? O que queremos que ela seja? O que os casais das Equipes esperam dela? Vale a pena gastarmos com ela perto de um terço dos recursos que as minguadas contribuições dos equipistas trazem para o Movimento? Refletindo sobre todas estas questões, e inseridos no espírito da Segunda Inspiração, ocorre-nos que também a respeito da Carta Mensal, valeria a pena remontar às origens e examinar qual era a intuição fundamental da criação de uma Carta Mensal, como também verificar de que forma, nas ENS, na Igreja e no mundo de hoje, esta Carta continua atendendo a esta finalidade. Desde os primeiros números - mimeografados - na França dos anos 40, a Carta continha três partes essenciais. Uma, formativa, encabeçada pelo Editorial do Padre Caffarel e contendo reproduções de palestras, trechos de livros, esclarecimentos sobre os métodos e a mística do Movimento e matérias de natureza catequética. A segunda parte, informativa, dava notícias sobre o que acontecia nas ENS, na Igreja e no mundo, principalmente no campo da espiritualidade conjugal. Pouco a pouco, foram sendo acrescentados a esta parte os testemunhos de vivência das equipes e dos equipistas, fazendo assim "circular a seiva" pelo corpo todo do Movimento. A terceira parte destinava-se a auxiliar as equipes nas orações e nas meditações das reuniões, oferecendo textos ligados ao tempo litúrgico, para bem marcar a vinculação entre o Movimento e a Igreja. Se olharmos be~ para essas diversas partes ou funções originais da Carta, veremos que correspondem aos principais momentos da vida de equipe, ou seja, o aprofundamento da espiritualidade através do estudo, o melhor conhecimento entre os membros para um maior auxílio mútuo, através da coparticipação e da partilha, a celebração da presença de Cristo, através d~ , meditação e da oração. Assim, além de servir de alimento para a vida da equipe na reunião, a Carta Mensal, desde o início, tem a finalidade de prolongar e de concretizar essa vida de equipe entre as reuniões. Mas se atentarmos bem ao conceito que a Segunda Inspiração nos traz da PARTILHA, ou seja, uma busca da vontade de Deus; um esforço de viver na verdade e uma experiência de encontro e de comunhão, perceberemos que a Carta Mensal é também um instrumento perma-1-


nente de partilha do Movimento como um todo. O que ela busca, é ajudar os casais das Equipes a viver plenamente este encontro e esta comunhão, através de uma constante comunicação entre todos, de uma melhor reflexão sobre a nossa verdade, dando a todos instrumentos mais eficazes para discernir a vontade de Deus. ~ isto que a Carta Mensal quer ser. Mas como bem sabemos, uma partilha só funciona se todos participam. Talvez esta busca de uma Segunda Inspiração seja um momento bem adequado para que cada um de nós se interrogue sobre a melhor maneira de não ser mais apenas um consumidor da Carta Mensal, mas um membro bem ativo nesta grande partilha de todo o Movimento. "Como, através da Carta Mensal, eu, o nosso casal, a minha equipe, a minha comunidade, poderemos ajudar nossos irmãos a caminhar para o grande objetivo da santidade?" "Como poderão eles nos ajudar?" Esta é a grande razão de ser da equipe. ~ a grande razão de ser da partilha. E também da Carta Mensal.

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O amor é uma eXIgencia ontológica e ética da pessoa. A pessoa deve ser amada, pois só o amor responde àquilo que é a pessoa. Assim se explica o mandamento do amor. Assim se explica também o primado do amor. Quando dizemos que a mulher é aquela que recebe amor para, por sua vez, amar, não entendemos só ou antes de tudo a relação conjugal específica do matrimônio. Entendemos algo mais universal, fundado no próprio fato de ser mulher no conjunto das relações interpessoais, que nas formas mais diversas estruturam a convivência e a colaboração entre as pessoas, homens e mulheres. Neste contexto, a mulher representa um valor particular como pessoa humana e, ao mesmo tempo, como pessoa concreta, pelo fato de sua feminilidade. Isto se refere a todas as mulheres e a cada uma delas, independentemente do contexto cultural em que cada uma se encontra e de suas características espirituais, psíquicas e físicas, como por exemplo a idade, a instrução, a saúde, o trabalho, o fato de ser casada ou solteira. (Da Carta Apostólica de João Paulo 11 sobre a "Dignidade e a Vocação da Mulher" , n. 0 29)

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EDITORIAL

MOLDAR O ROSTO DA IGREJA Estou voltando de um giro-maratona pelo Brasil. Em dez cidades, encontrei os Conselheiros espirituais e os equipistas. E pude fazer a mesma constatação que nos outros países que visitei recentemente, como a Síria, o Canadá, a Ilha Maurício, a Martinica. . . As Equipes são verdadeiramente um movimento de Igreja: um movimento que se situa realmente na Igreja e que trabalha pelo Reino de Deus. Isto significa que tudo o que fazemos para ajudar os casais a viver o seu matrimônio como verdadeiros cristãos ultrapassa o nosso caso pessoal, ultrapassa os limites do casal e da família. O fato de procurar viver plenamente o sacramento do matrimônio tem uma repercussão universal e, ousaria dizer, " eterna". Há uma coisa que me marcou fortemente no Concílio Vaticano 11 : o rosto da Igreja estava mudando. Até então, a Igreja tinha um pouco a aparência de uma matrona romana: toda a organização, todo o pensamento, toda a sensibilidade levavam uma forte marca latina e ocidental. E eis que povos novos, da África, da Ásia, da América faziam ouvir a sua voz, traziam a sua própria experiência, mostravam a sua liturgia, a sua maneira de orar e propunham também seus problemas específicos. E tudo isso, aos poucos, modificava o rosto da Igreja. como se diversos pintores viessem, cada um por sua vez, dar o seu toque peculiar no grande retrato da Igreja universal. Os seus traços iam se transformando e cada um desses povos começava a poder se reconhecer nela . . . Durante o Concílio, compreendi que a Igreja de Cristo só teria seu rosto verdadeiro, seu rosto para a eternidade, quando todos os povos do mundo e todas as culturas tivessem aportado seu traço peculiar. Mas ainda restam outros tipos de traços a serem gravados. Penso, por exemplo, que a mulher ainda não tem seu verdadeiro lugar na Igreja. E as mulheres representam mais da metade da humanidade . . . Quando elas tiverem realmente adquirido o seu lugar e o seu papel específico, os traços da Igreja estarão mudados. Um documento como a carta do Papa sobre a dignidade da mulher é um grande passo. Mas precisaria que houvesse, proximamente, um documento semelhante sobre o casal. Seria um acontecimento, no prolongamento e na

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evolução da Familiaris Consortio. Restam ainda progressos a serem feitos para assegurar ao casal cristão o seu verdadeiro lugar e o seu verdadeiro papel não só na organização eclesial mas no ministério do Reino de Deus. E justamente o que procuramos fazer nas Equipes de Nossa Senhora! Queremos melhor compreender e melhor viver a vocação cristã do casal. Queremos dar testemunho de sua or~entação fundamental voltada para o amor, a felicidade, a santidade. Procuramos, em uma palavra, moldar uma nova imagem do casal, conservando sempre na mente o símbolo ideal proposto por São Paulo: a união _de Cristo e da Igreja. E ao fazer isto, é o próprio rosto da Igreja que moldamos, para que aos poucos venha a se parecer com o que o Cristo espera dela, sua Esposa. O Gênesis nos mostra Adão exclamando, maravilhado, ao ver a esposa que Deus "moldou" para ele: "Esta é verdadeiramente carne da minha carne e osso dos meus ossos". Um dia, Cristo também poderá dizer, ao ver a sua Igreja: "Esta é verdadeiramente a Esposa que eu queria!" E este o trabalho que fazemos quando procuramos humildemente conseguir sermos casais como Deus quer. Conseguir cristãmente ser casal é um trabalho que nos leva longe .. . Nos leva até o Apocalipse, cujo capítulo 21 os convido a reler. "Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova ]erusalem, como uma esposa ornada para o esposo . .. O Anjo me disse: 'Vem, e mostrar-te-ei a noiva, a Esposa do Cordeiro'. Levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, revestida da glória de Deus . . . " . Fr. Bernard OLIVIER, o.p .

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EQUIPE RESPONSAVEL INTERNACIONAL

A DINÁMICA DAS EQUIPES Nos grandes encontros de responsáveis da Europa, em Bruxelas como em Saint-Ouen, Álvaro e M ercedes GOMES-FERRER, casal responsáVel da E .R .I., fizeram uma exposição. Álvaro apresentou as Equipes de Nossa Senhora no mundo. Mercedes falou da Segunda Inspiração. Eis a palestra dela. · I . Um apelo à renovação: "A Segunda Inspiração"

As Equipes de Nossa Senhora foram um dom do Espírito à sua Igreja, um carisma ao serviço do amor. B este mesmo Espírito que 'geme" em nós, nas equipes do mundo (fomos testemunhas disto em nossas viagens e encontros), para fazer um apelo para a renovação, a partir do que há de mais profundo neste carisma que Ele inspirou quarenta anos atrás. A "Segunda Inspiração" não é o documento que leva este nome. A "Segunda Inspiração" é este apelo, este desejo, este impulso de renovação que se fez sentir nos casais das Equipes, tanto na base, como em todos os escalões de responsabilidade, como na Equipe Responsável Internacional (E. R . I.). B na intenção, no desejo, na abertura a este apelo que está o mais importante. O documento intitulado "Segunda Inspiração" foi apenas a primeira explicitação, ao nível do Movimento todo, dessa resposta que já vinha sendo, há muito tempo, vida, caminho, aspiração. Esse documento é "pobre". Pobre, em relação ao desejo que o suscitou. Pobre, em relação a suas fontes: a reflexão da E . R. I., a escuta do Padre CAFFAREL, a oração ao Espírito S~_!lto. Pobre, porque os projetos humanos não conseguem satisfazer aos desejos inspirados pelo Espírito. ' Mas é um primeiro passo. Um primeiro passo que quer ser comum a todo o Movimento, um primeirÓ pas-so que nos encaminha, que foi apresentado como uma semente lançada aos pés da Virgem, em Lourdes. Um sinal de discernimento, é que as equipes, no mundo todo, o

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assumiram por unanimidade, mas de forma incompleta: o documento queria ser o início de uma resposta ao apelo do Espírito. Este desejo, o Movimento o gerou em Lourdes e o chamou de "Segunda Inspiração" (foi o Padre OLIVIER que o batizou). Mas ele só crescerá, só se transformará em árvore, só dará frutos, se estivermos enraizados nAquele que o inspirou, o Espírito de Deus. "Ele, cujo poder, agindo em nós, é capaz de fazer muito mais, infinitamente mais do que tudo o que podemos pedir ou imaginar" (Ef. 3,20). Com ele, apesar de nossas limitações e de nossos pecados, podemos, como Movimento, voltar-nos com esperança para o Futuro. Não se trata, tão somente, de "retomar fôlego", mas de caminhar para este "muito mais" com o entusiasmo da confiança. 11 . Por que o apelo à renovação?

Porque a idade nos leva a perder a generosidade da juventude. E temos, como Movimento, mais de quarenta anos de idade. Mais maduros, mais formados, mais experientes, mais conscientes, mas também mais cansados, mais rígidos, mais formais. Precisamos reencontrar a alegria, o amor de outrora que nos impele para a frente; as exigências de um verdadeiro amor. Porque a situação histórica da Igreja e do mundo se transformou. O carisma das Equipes de Nossa Senhora, seu duplo objetivo: a glória de Deus, o bem dos casais, continua válido hoje. Mas o discernimento é sempre necessário, para encarnar o carisma na história, para sempre melhor descobrir a vontade de Deus sobre o Movimento. O Cardeal DANNEELS, por ocasião dos quarenta anos da Carta, em 1987, como também outras vozes na Igreja, no-lo dizem: cabe a nós, casais, dar credibilidade à Igreja perante o mundo, tornar possível uma nova evangelização. 111 . De que renovação se trata?

O colegiado E. R. I . /Super-Regionais procurava orientações, para o "após-Lourdes". Houve unanimidade quanto às necessidades: - voltar a concentrar as atenções sobre o casal, sua antropologia, sua mística; revivificar a vida profunda das Equipes; - clarear: movimento de iniciação, movimento de aperfeiçoamento. Não se trata de preocupações dispersas. Elas se inserem na mesma dinâmica. Inscrevem-se no mesmo esforço de fidelidade e de criatividade.

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Não se deve voltar às fontes na imobilidade, na rigidez, para ali se fixar. Tampouco se trata de tudo repensar, de tudo recomeçar na estaca zero. E necessário, como diz o Padre CAFFAREL, "unir-se ao impulso interior". Essa expressão tem dois significados: uma idéia de caminhada, de encontro, de crescimento, de dinamismo uma imagem de aprofundamento, de mergulho, de concentração. "Unir-se ao impulso interior" é retirar todas as riquezas daquilo que se recebeu e vivê-las em plenitude. O fogo se acende, se alimenta a partir de seu centro, da lenha que queima. Quando se tem sede, quando se quer uma água mais pura, sobe-se em direção à fonte. Tira-se mais água de um poço em aprofundando-se, em descendo mais para o seu interior. Um filho se gera nas entranhas, seu crescimento se prepara na profundeza. Nosso filho, o carisma de nosso Movimento, é um carisma de amor. Devemos, com a ajuda do Espírito Santo que o gerou, fazê-lo "nascer de novo", fazê-lo crescer pelos impulsos de sua própria força interior. IV . Unir-se ao impulso interior

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Redescobrir a dinâmica do amor no seio do casal.

Redescobrir o mistério do homem e da mulher, a estrutura profunda do casal como novo ser, o que é essencial, o que decorre dessa estrutura encarnada, aquilo que não é cultural ou existencial mas universal. Participar da construção do Reino de Deus, a partir de uma renovação que provém do que é o coração do mundo: o amor conjugal. Redescobrir a especificidade do apelo para a santidade, próprio para o casal; a sua dinâmica. E uma busca na qual realismo e mística dão-se as mãos.

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Redescobrir a dinâmica do amor no seio da equipe

Em março/abril de 1973 o Padre CAFFAREL escreveu um Editorial: "Retomar fôlego". Tinham-lhe perguntado: qual é o assunto que o senhor gostaria de tratar pela última vez, antes de deixar os casais das Equipes de Nossa Senhora? Pensou longamente: espiritualidade conjugal, Estatututos, caridade, fé, missão das E. N. S. ? Não. "Se devesse morrer amanhã, eu decidiria falar do significado cristão de uma reunião de equipe, de sua substância sobrenatural, de seu mistério. Aí, no meio desses casais reunidos numa sala de apartamento, está a presença intensa do Ressuscitado, vivo, atento a todos, amando cada um como ele é, com o seu lado mal e o seu lado bom, e intento em ajudá-lo a tornar-se tal como ele o quer. Ele está aí, como após a Páscoa, naquela sala alta de Jerusalém, quando apareceu de repente aos olhos desses outros equipistas, os Apóstolos. Soprou sobre eles e disse: -7-


"Recebei o Espírito Santo". E tornaram-se homens novos. Jesus Cristo, no meio dos casais, não deixa de insuflar seu Espírito. E os que se abrem a este Sôpro - aprende-se aos poucos a abrir-se a ele - tornam-se os homens deste Sôpro. E a reunião desenrola-se, animada pelo Espírito" ... E chegamos à Partilha. Os pontos concretos de esforço e a partilha integram essa pedagogia do Espírito Santo. ~ a dinâmica do Espírito, que não é apenas voluntarista ou moralista. Ela é abertura, docilidade, mas também assiduidade no tempo, consagração da inteligência, adesão da vontade profunda. Os pontos concretos não são arbitrários. Possuém uma coerência interior que lhes dá unidade. Neles, encontram-se três finalidades: - a busca da vontade de Deus; - a capacidade de viver na verdade; - a experiência do encontro e da comunhão. Eles querem despertar atitudes em nós que levem a uma mudança de vida. São apelos para concretizar essa adesão de amor ao Cristo, como indivíduos e como casais, no ponto onde estamos, sem forçar as etapas e o ritmo, sem nos tornar culpáveis, no gradualismo e na personalização. Na Partilha, buscamos em comunidade estas três .finalidades. Não limitar à reunião o esforço de construção da espiritualidade pessoal e conjugal, mas construir-se durante toda a vida, é algo específico das Equipes. Ser um Movimento que nos co_nstrói de forma integral: o coração e a razão, o esforço e a espontaneidade, a vontade e a liberdade, é algo específico das Equipes. é:i' 'auxílio mútuo espiritual: partilhar com os outros casais esse dom de Deus em nós e enriquecer-nos desse mesmo dom que está nos outros, é algo ·específico das Equipes. Mutilamos as Equipes se esquecermos a Partilha. Mas também as mutilamos, se ~ fizermos limitando-nos à regra, se não procurarmos o seu espírito. ~ na Partilha que percebemos que o espiritual encarna-se em circunstâncias concretas de nossa vida. Descobrimos, igualmente, que as diferentes dimensões de nossa vida confrontam-se, e assumimo-las com humildade, convencidos de que, apesar de tudo, o Espírito sempre tra, balha em nós para o nosso bem. Na Partilha, com o auxílio espiritual dos demais casais, tentaremos uma reconciliação, uma unificação que só Deus pode realizar um dia em nós: o corpo com o espírito, o eu com o tu, o nós com o mundo, o desejo com o projeto, a criatura com o seu Criador .

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- Redescobrir a dinâmica do amor no seio do Movimento Não é com o moralismo que chegaremos à perfeição. Se fôssemos um movimento moral, nosso grande objetivo seria de obedecer e de dar o exemplo. Aí, tornamo-nos orgulhosos, afastamos os outros. Somos filhos de Deus. Nossa aspiração é sermos habitados pelo Espírito e movidos por ele. Nosso objetivo é a santidade. Poder dizer: "Não sou mais eu que vivo, é o Cristo que vive em mim". Não são tanto os resultados que importam, mas o fato de não parar. Movimento de iniciação, portanto. Mas a iniciação se faz tendo no horizonte o objetivo para o qual se caminha: a perfeição do amor de Cristo, a santidade. Movimento de perfeição também, para ser fermento na Igreja. A perfeição para a qual os "pobres" e os fracos são chamados, e não menos que os outros, pois trata-se de amar (que é a única medida). E amar é mais fácil quando nos reconhecemos pobres. - Redescobrir a dinâmica do amor no seio da Igreja, que precisa do testemunho do amor humano para dar credibilidade ao Amor de Deus sobre a sexualidade humana. Ela quer ser fiel à mensagem de Cristo. Mas ela tem dificuldade em encontrar as palavras e a pedagogia necessárias para encaminhar os casais para uma sexualidade vivida em plenitude, segundo as leis de Deus. Infelizmente, ela afasta cristãos e não-cristãos por causa deste assunto. E após a enunciação dos princípios, o silêncio se faz. Às vezes, a radicalização ou a confusão. Devemos trabalhar na Igreja, ao serviço da Igreja e dos casais, mesmo no sofrimento, para descobrir, para comunicar este sentido positivo e profundo da sexualidade, o sentido do desígnio de Deus que criou a humanidade à sua imagem - "homem e mulher ele os criou", para serem "uma s6 carne". Não iniciemos a nossa caminhada de forma leviana, nem com atitudes simplistas ou por demais emotivas. Sem intelectualismo, sem especulação, nem moralismo. A pesquisa sobre a sexualidade deve se fazer a partir da estrutura profunda do casal, a partir de uma antropologia cristã. Precisamos aplicar a inteligência do coração àquilo que vivemos, procurar o olhar de Deus sobre o nosso amor. Esta pesquisa, mais do que qualquer outra, deve ser feita na oração e na meditação, que abrirá aquela dimensão profunda do coração "que ultrapassa toda inteligência". Para comunicar, utilizemos palavras novas; apoiemo-nos na realidade; "paremos" com as imagens; inventemos parábolas. Tenhamos a criatividade do amor! 1 - Descobrir a dinâmica do amor no seio de um mundo que precisa do testemunho e da palavra. I! a abertura ao Espírito que nos comunicará "a dupla paixão de I

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Cristo: sua impaciência pela glória do Pai, sua ardente e suave misericórdia pelos homens", pelos casais (H. Caffarel). Compaixão vem da raiz latina que significa "sofrer junto". Sofrer com as situações de marginalidade e de pobreza no campo do amor conjugal, a partir de nossa especificidade, a partir do que somos. Sobretudo, "sofrer junto" com esses jovens casais que são como "ovelhas sem pastor". Quem lhes dirá que a felicidade é possível, que não reside num decisão, uma adesão da vontade profunda a um outro, com exclusividade? Quem lhes dirá que o sacramento do matrimônio não é algo de exterior, que se recebe passivamente, mas que eles são sacramento, sinal do Amor de Deus um para o outro, e juntos, para os seus filhos e para o mundo? Quem lhes dirá que a fecilidade é possível, que não reside num jogo de fascinação incontrolada; que para conquistá-la é preciso aceitar a pedagogia do amor, que nos faz passar por crises de crescimento para chegarmos a uma união mais profunda? Quem lhes dirá que a felicidade é possível, que não reside num munhão de amor à imagem da Santa Trindade que é dar-se um ao outro sem interrupção, sem querer rehaver o dom total que se fez um dia; que é acolher o outro porque sem ele reconhecemo-nos pobres; que é perdoar-lhe e curar a sua ferida; que é olhá-lo com amor e jamais cansar-se de admirar o amor que tem por nós?

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Redescobrir a dinâmica do amor na responsabilidade.

Caros amigos, responsáveis nas Equipes: nós fomos chamados para um amor maior; nós fomos chamados para servir. Esse também é um apelo para morrer um pouco pelos outros. Seja este serviço o centro de nossas vidas! Nossa missão é dupla: animar, ser rochedo. Animar é dar a vida, à imagem do Espírito Santo; olhar com amor os casais de nossas equipes, porque o olhar suscitará o que há neles de melhor; fazer um apelo a seu dom, no mais profundo de cada um, para que o partilhem; continuar a acreditar em cada casal, em cada pessoa; valorizar o que se faz; atrair pelo exemplo, pelo entusiasmo, pela persuasão, pelo convite. Ser rochedo. Confirmar na fé. Ser a razão de crer dos outros, seu ponto de apoio, recebendo suas preocupações e seus problemas, sem perder a visão do conjunto. Enraizados em Deus, para poder transmitir algo deste encontro pessoal. Ter a oração como princípio e força do serviço, para agir com firmeza. Conservar as Equipes numa mesma comunhão, num mesmo carisma, a começar por nossa equipe de base, na medida do nosso realismo, que assumimos na humildade e na verdade. Discernir os sinais dos tempos, -

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e discerní-los de forma colegiada, porque o Espírito não é um patrimônio exclusivo. Foi dado aos Apóstolos quando estavam reunidos. O Espírito de Deus, seu Sôpro, acompanha a história: "Estarei convosco até o fim". Mas ele nos pede que completemos a sua obra. O Espírito Santo não é cúmplice !los preguiçosos, dizia o Padre CAFFAREL. "Ele nos atinge na raiz de nossas faculdades, no mais íntimo do nosso ser". Ele nos atinge se trabalharmos, se procurarmos, se orarmos. A "Segunda Inspiração" somente levará as Equipes ao lugar onde o Senhor as espera, a partir da partilha dos nossos dons, da generosidade de nossa oferenda.

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A EC/R CONVERSA COM VOCES :

Caros amigos : Iniciemos nosso Ano Equipista com aquela vitalidade, aquela força, que a SEGUNDA INSPIRAÇÃO continua a nos transmitir. Temos ainda bem presente entre nós a figura serena do Pe. OLIVIER, em sua recente visita ao Brasil, a nos exortar a uma revitalização do nosso Movimento. J Complementando isto, teremos neste mês a realização dos EACRES, em todas as Regiões do Brasil, que também constituem uma fonte de reabastecimento para que caminhemos com coragem e decisão neste ano de 1990. Por outro lado, a Igreja rompe o ano litúrgico com a Campanha da Fraternidade, cujo tema, este ano, vem bem de encontro aos anseios das EQUIPES DE NOSSA SENHORA: " MULHER E HOMEM: IMAGEM DE DEUS" . O texto base nos propõe três objetivos : em primeiro lugar, quer conscientizar que mulher e homem, juntos, são imagem de Deus e que Deus entregou sua criação a ambos. Sabemos que, por tradição, a figura de Deus é sempre apresentada com características masculinas; entretanto, também a mulher é feita à sua imagem e semelhança, não são duas imagens distintas ou justapostas, mas ambos, juntos, são a única e verdadeira imagem de Deus. O segundo objetivo é ajudar a ver como, na realidade, a mulher não é reconhecida e tratada como igual ao homem. Conhecemos bem a discriminação de séculos e séculos que pesa sobre a mulher: ela sempre foi e ainda é, lamentavelmente, considerada inferior ao homem, frágil, indecisa, instável. Ficou sob a tutela do homem, tanto na sociedade como na Igreja. As sociedades se constroem a partir do ponto de vista masculino, sem a contribuição feminina, em nível de organização e decisão. Assim sendo, a posição da mulher dentro da sociedade se estrutura a partir do interesse do homem e a serviço dele. Esta ideologia já está tão introjetada nas nossas cabeças que muitas vezes a própria mulher aceita, inconscientemente, estes padrões, os assimila e os transmite às novas gerações, perpetuando assim esta situação. Na Igreja, a situação não é muito diferente. Também dentro dela, a posição da mulher é de inferioridade em relação ao homem. Ao mesmo tempo em que se exaltava as virtudes femininas como esposa e mãe, por -

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outro lado se introduziam interpretações e tratamento discriminatórios na exegese, na teoolgia e no Direito Canônico. Após estas considerações, o terceiro objetivo se toma bem claro: resgatar a vocação inicial do homem e da mulher, que é a de construir, juntos, uma nova sociedade, uma sociedade equilibrada e justa, onde não haja discriminações de qualquer lado; juntos, mulher e homem, devem também construir uma Igreja que reflita melhor o rosto matemo de Deus. Vejam, pois, que a Campanha da Fraternidade não é só dirigida às mulheres, é, igualmente, dirigida aos homens. O convite a uma "conversão", no que diz respeito à situação da mulher, é feito a ambos: Mulheres e homens, juntos, num esforço único, trabalhando para construir um mundo novo, onde haja mais amor, paz, justiça e vida, isto é, ajudando a instaurar, aqui e agora, o Reino de Deus. Sobre estas reflexões básicas trazidas no tema da Campanha da Fraternidade somos convidados a meditar e delas certamente sairão muitas outras, pois o tema é bastante rico e fascinante. Que todos nós reflitamos sobre a Campanha, saibamos aproveitar bem os nossos EACRES e mergulhemos em profundidade na Segunda Inspiração é o que deseja a sua ECIR . Um abraço fraterno de Therezinha e Thiago

"MULHER E HOMEM: IMAGEM DE DEUS" é um apelodesafio a todos para retomar a intenção original do nosso Deus. A Campanha da Fraternidade de 1990, diversamente das anteriores, não se refere apenas a um aspecto determinado da vida social. Nela, o convite à conversão se dirige ao próprio ser da mulher e do homem, naquilo que são em si mesmos e no que são um para o outro. Por isso mesmo, é de se esperar que as nossas Equipes estudem e vivam o tema em profundidade, em comunhão com a grande Igreja, unidas na busca de transformação do mundo.

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CAMINHANDO COM A IGREJA

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 1990 O objetivo geral desta vigésima sétima Campanha da Fraternidade é contribuir para realçar a dignidade da mulher na Igreja e na sociedade global e suscitar um novo relacionamento entre mulheres e homens. Não é uma campanha de mulheres para mulheres, mas sim, uma campanha para que homens e mulheres juntos possam descobrir a situação de pecado manifestada nas muitas formas de discriminação. A presente campanha tampouco se refere somente ao aspecto social da situação, pois o convite à conversão quaresma} se dirige ao próprio ser profundo da mulher e do homem.

MULHER E HOMEM: IMAGEM DE DEUS INTRODUÇÃO A . Objetivos. São três: 1 . Conscientizar que homem e mulher juntos são .a umca verdadeira imagem de Deus e que Deus entregou sua criação a ambos igualmente. 2. Ajudar a perceber como, na realidade, a mulher não é reconhecida e tratada como igual ao homem, tanto na sociedade civil como na Igreja. 3. Enfocar de maneira nova a vocação inicial da mulher e do homem: construir juntos uma nova sociedade. B. Ser mulher hoje. Afirma-se que mulher e homem são iguais como seres humanos. Mas essa igualdade não é reconhecida na prática. As caracterizações habituais de cada um (razão versus sensibilidade, energia versus doçura, etc.) dão um status inferior à mulher, tanto no plano emocional como intelectual. As diferenças são vividas como desigualdades, quando deveriam sê-lo como elementos complementares além de toda atitude de dominação. C . O despertar da mulher. Datam do meio do século XIX, na América do Norte, as primeiras associações femininas destinadas a lutar em prol de seus direitos, que aliás já tinham sido afirmados na revolução francesa de 1789. No Brasil, só recentemente é abertamente criticado o modelo vigente de sociedade androcêntrica. O "feminismo" deixou de ser uma teoria acadêmica para -

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se inscrever, ainda que timidamente, na realidade cotidiana. A Igreja Latino-Americana seguiu uma evolução paralela.

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PRIMEIRA PARTE : VER. A . A mulher em nossa sociedade . Em todos os estratos sociais ainda reina o machismo, que é afirmação da superioridade do homem sobre a mulher. No mundo do trabalho, a mulher não é tratada habitualmente como a igual do homem, às vezes ao arrepio da lei. Na vida familiar, ela é freqüentemente vítima de agressões físicas e sexuais. As Delegacias de Proteção à Mulher recebem as mais variadas - e numerosas - denúncif,ls: estupros, violências físicas, incestos, imposições de abortos e esterilizações, às vezes sem que a própria vítima o saiba no momento. Viúvas, divorciadas, separadas, mães solteiras, prostitutas são sistematicamente marginalizadas. B. A mulher na Igreja Católica. Na Igreja primitiva, a mulher participava ativamente da comunidade eclesial e da evangelização, junto com os homens. À diferença da circuncisão judáica, o batismo cristão igualava a todos, homens e mulheres. Os " ministérios" (serviços) são para todos: tanto os Atos dos Apóstolos como as Cartas de São Paulo são explícitas a este respeito, citando apóstolas, profetisas, missionárias, etc. Mas já aparecem, mesmo em São Paulo, elementos de discriminação. No século IV desapareceram as diáconas ordenadas e aos poucos as mulheres foram relegadas à situação de auxiliares dos homens. Recentemente, nos diversos movimentos da Ação Católica, as mulheres voltaram a tomar iniciativas. Atualmente no Brasil, 80% das duzentas mil comunidades eclesiais de base são lideradas por mulheres. Sua presença é também muito forte, e às vezes exclusiva, na Pastoral do Menor, da Mulher Marginalizada, da Mulher Encarcerada, da Criança, na catequese (são 500.000 catequistas no Brasil), nas comunidades paroquiais, no acompanhamento de retiros, na pesquisa teológica. Mas a nível de decisão, a participação da mulher na vida da Igreja é ainda fraquíssima . SEGUNDA PARTE: JULGAR. O povo do Antigo Testamento sendo habitualmente patriarcal, o lugar da mulher nele retrata essa situação, salvo algumas exceções, apesar de Deus se revelar como o defensor dos pobres, dos oprimidos, dos desprezados, entre os quais multidões de mulheres. A prática histórica de Jesus rompe com essa situação e inaugura uma nova maneira de organizar o Reino de Deus, colocando homens e mulheres num pé de abso-15-


luta igualdade. Ele recusa toda discriminação legal, religiosa, biológica ou social, resgata sua dignidade, convive com elas, louva sua coragem. faz delas apóstolas (p. ex. Maria de Magdala) , coloca sua Mãe no centro do mistério da encarnação. Cabe à Igreja nos tempos atuais avaliar qual deve ser a participação oficial das mulheres na sua vida, nos seus diversos níveis .

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TERCEIRA PARTE: AGIR. Para que a Campanha da Fraternidade atinja os seus três objetivos, convém incentivar e assegurar espaços para que as mulheres se reunam, tomem consciência e debatam as discriminações e as dominações das quais são vítimas, envolvendo os homens nestes debates. Daí: - promover grupos de estudo e mesas redondas para mulheres e homens juntos, a fim de tomarem consciência das exigências de uma sociedade verdadeiramente igualitária; - organizar palestras e debates a este respeito com sacerdotes, religiosos, agentes de pastoral e lideranças da Igreja; - criar aos poucos a consciência de igualdade radical do homem e da mulher que somente juntos são imagem de Deus, ao mesmo tempo que iguais em Cristo. Essa tomada de consciência ajudará a todos a viver a igualdade do ~ homem e da mulher tanto na sociedade civil como na Igreja e a construir juntos uma nova sociedade, o que supõe profundas mudanças de estrutura. Nenhuma revolução se torna vencedora sem a participação ativa das mulheres. Fr.

J.

P. Barruel de Lagenest, O .P.

oOo

"Não é o homem superior à mulher, nem a mulher superior ao homem. Mas também não é certo dizer que ambos são iguais em tudo. A realidade é mais bonita: A mulher possui qualidades especificamente femininas que, quando se unem às qualidades especificamente masculinas, permitem conseguir resultados maiores, mais expressivos e mais ricos que os que poderiam se alcançar, quando cada um dos sexos trabalha separadamente." D. Hélder Câmara -

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GRANDES ENCONTROS

Realizou-se nos dias 17, 18 e 19 de novembro de 1989, em Itaici, S.P., o grande Encontro de todos os quadros do Movimento no Brasil, reunindo a ECIR, os Responsáveis Regionais, de Setor e Coordenação de todo o país, e que contou também com a presença de um grande número de Conselheiros Espirituais. Seria impissível contar aqui tudo o que foi este Encontro, mas não podemos deixar de destacar alguns pontos de grande importância.

O Encontro contou com a presença do Frei Bernard OLIVIER, O.P., Conselheiro Espiritual da Equipe Responsável Internacional. Além de participar ativamente de todos os momentos do Encontro, com grande destaque, em particular, para os tempos fortes de oração e liturgia, Pe. OLIVIER surpreendeu a todos ao pronunciar, em português, importante palestra sobre o tema "EVANGELIZAR A SEXUALIDADE". Eis alguns dos principais trechos desa conferência. "( .. . ) A sexualidade foi por muito tempo 'tabú'. Na Igreja tradicional, era matéria suspeita. Mesmo nas Equipes de Nossa Senhora, tem-se falado muito pouco a respeito. Padre Caffarel, dirigindo-se aos responsáveis de equipes, dizia-lhes que uma das coisas que não foram bem compreendidas e percebidas no momento de fundação das Equipes é a importância da sexualidade. Não se aprofundou a questão do sentido humano e do sentido cristão da sexualidade, e é urgente fazê-lo. Quando falamos de evangelizar a sexualidade, trata-se de fazê-la plenamente humana: dominá-la, submetê-la, domesticá-la. Fazê-la realmente cristã e orientá-la na direção da santidade. :E. um trabalho considerável, não se pode negá-lo. Mas é principalmente nesse campo que devemos procurar a nossa Segunda Inspiração. ( .. . ) Admite-se, tradicionalmente que a sexualidade é uma coisa má e por conseguinte condenável. .. Hoje, devemos divulgar, ensinar idéias mais verdadeiras. Mas este esforço é anulado por um fenômeno curioso. . . Muitas vezes, estamos condicionados por "esquemas mentais" que são o resultado de bloqueios anteriores e que são causa de bloqueios novos. Eles nos impedem de julgar serena e objetivamente. -

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[Entre esses "esquemas mentais" ou bloqueios] podemos citar alguns: vínculo com a idéia de pecado; o casamento é a união que "legaliza" o ato sexual; para que o ato sexual seja "desculpabilizado", deve ser posto em relação direta com a procriação . . . Outro "esquema mental" é o da subordinação natural da mulher ao homem. Apesar de todos os discursos oficiais, de tudo o que afirmamos expressamente, no fundo de nós mesmos , não acreditamos verdadeiramente na igualdade entre homem e mulher, nem mesmo numa dignidade similar. Consideramos a mulher como sendo inferior ao homem, menos acabada, menos eficaz, menos autônoma, mais passiva. E isto acontece em todos os níveis, não apenas no plano da vida política ou social, mas também no plano do amor, no· plano da relação entre os sexos. ( . .. ) Os jovens de hoje rejeitaram os tabús. Eles fizeram uma "revolução sexual". Eles se "libertaram". Mas, com dizem os ingleses, junto com a água do banho, eles jogaram fora o bebê. Jogaram fora os tabús, mas jogaram junto os verdadeiros valores. Para eles também é preciso evangelizar a sexualidade. Quais as idéias novas, os novos esquemas mentais que devemos aprofundar? · -

A sexualidade é uma coisa natural. Foi Deus que a inventou:

"homem e mulher Ele os criou". A sexualidade é uma coisa boa : "Ele viu que tudo aquilo era

bom". A sexualidade emprega um instinto muito forte, que interessa ao equilíbrio e à harmonia da pessoa toda. ~. pois, imperioso controlá-la, submetê-la, domesticá-la. Como domesticar a sexualidade? P imeiro, restituindo à sexualidade a sua dimensão completa. Antes de mais nada, devemos evitar reduzir a sexualidade apenas à genitalidade, ao ato sexual. Este é somente um tempo, um ato pontual que é determinante, mas que não esgota toda a amplitude da vida sexual, porque é um fenômeno relativo à vida toda: somos totalmente homem ou mulher em todos os compartimentos da vida. Se no ser humano, a sexualidade se enraíza na carne, ela tem ressonância sobre toda a pessoa, até nos nossos comportamentos e atividades intelectuais e espirituais. ~ por isso que no casal humano, a sexualidade não está confinada aos atos necessários à reprodução. Ela interessa a toda a vida de relação do casal, ela marca uma comunhão interpessoal. E o ato

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sexual mesmo adquire uma significação humana e deve ser situado dentro do conjunto das relações. Depois, cultivando a sexualidade. Para cultivá-la positivamente, vou fazer duas recomendações. A primeira, especial para os jovens: respeitar as etapas, não queimar etapas. A segunda poderá parecer espantosa para muitos: reservar tempos de pausa, de continência. Estes períodos poderão ser momentos propícios para desenvolver outros aspectos da vida sexual, aos quais não estamos bastante atentos. Sermos namorados. Termos gestos de ternura bem simples, mas que têm uma grande importância. Enfim, fazendo do ato sexual um verd~lCleiro ato de amor. Parece evidente, mas nem sempre o é: a) Não se deve procurar exclusivamente o prazer. Esta procura, no entanto, não deve ser excluída ou condenada: ela é normal, boa e legftima. Muitos cristãos consideram que a virtude está somente nas coisas tristes e penosas. Há cruzes em nossas existência e temos que aceitá-la, mas não se deve ver e pôr cruzes em toda a parte. b) Não se trata apenas de cumprir o " dever conjugal ", como se fosse somente um dever de um cônjuge ao outro. c) Trata-se de alcançar uma verdadeira comunhão que comporte os dois aspectos do amor: o aspecto captativo, de possessão do ser amado em que se consume o desejo, e o aspecto oblativo ou dom de si ao ser amado. Esta comunhão carnal, dom recíproco e generoso, é sem dúvida o modo de comunhão mais íntimo e mais total entre dois seres. :e vértice na expressão de vida amorosa na sua totalidade: "a comunhão espiritual na carne de dois seres que se amam". ( ... ) Isto não se consegue facilmente: ousaria dizer que é uma graça que se deve pedir a Deus . d) Compreende-se então que tal comunhão tende a concretizar-se, a perpetuar-se, no fruto do amor: a criança. Portanto, em vez de considerar que o encontro deve estar necessariamente voltado para a procriação (para ser 'desculpabilizado'), é mais justo e mais lindo reconhecer que ele contém em si uma chamada à fecundidade . Para concluir, um passo a mais: o Vaticano 11 ensina uma doutrina que deveríamos aprofundar nas Equipes: o sacerdócio comum dos fiéis. Para os esposos, este sacerdócio se exerce no sacramento do matrimônio: "Pela virtude do sacramento do matrimônio que lhes permite ser o sinal do mistério da unidade e do amor fecundo entre Cristo e a Igreja, e de participar deste mistério, os esposos cristãos ajudam-se mutuamente a santificar-se na vida conjugal, no acolhimento e educação das suas crianças; assim, no seu estado de vida e na sua ordem, eles têm o seu dom próprio no povo de Deus" (L. G. n.0 t 1)". -

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Padre Olivier, dirigindo-se aos participantes, durante a Missa

Outro ponto alto do Encontro ·foi o painel formado por alguns casais da ECIR, que falaram sobre o DISCERNIMENTO, sob vários enfoques. Reproduzimos à pág. 23 as palavras de Cidinha, que considerou o discernimento sob o ângulo espiritual. Não podemos deixar de destacar aqui as principais mudanças nos quadros do Movimento, anunciadas .durante o Encontro de ltaicí. Por um lado, como já foi abordado na última Carta Mensal de 1989, Cidinha e lgar, deixaram a responsabilidade pela ECIR, e passaram a fazer parte da Equipe Responsável Internacional. Destaca-se o fato de que é a primeira vez que um casal não europeu é chamado a prestar serviço ao Movimento na ERI. Durante o Encontro, tomaram posse como novos responsáveis da ECIR, Beth e Romolo PROTA, casal equipista de Ribeirão Preto, S.P ., que há vários anos fazem parte da ECIR . -20-


Posse de Beth e Romolo como novos responsáveis da ECIR

Os casais Maria Regina e Carlos Eduardo HEISE, de Piracicaba, e Wilma e Orlando SANTOS MENDES; de Jundiaí, passaram a fazer parte da ECIR. O casal Rosinha e Anésio Polles, de São José do Rio Preto, assumiu a responsabilidade pela Região São Paulo/Norte. Durante a cerimônia de transmissão do cargo de casal responsável da ECIR, foi lida a carta enviada para a ocasião por D. Marcelo Pinto Carvalheira, bispo responsável pelo Setor Família na CNBB, que reproduzimos a seguir.

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A PALAVRA DE NOSSOS PASTORES

Brasília, 16 de novembro de 1989 . Estimados Cidinha e lgar, Neste momento, quando vocês deixam a coordenação nacional do Movimento das Equipes de Nossa Senhora, desejo transmitir-lhes, como Bispo Responsável pelo Setor Família da CNBB, minha bênção e reconhecimento pelo vosso empenho e realizações no campo da família. Vocês compreenderam e colocaram em prática o destaque FAMfLIA, escolhido pelos bispos brasileiros como prioridade pastoral para o conjunto da atividade da Igreja. Posso dizer-lhes que as Equipes de Nossa Senhora estão sendo reconhecidas cada vez mais, por isto mesmo, como um Movimento que se preocupa com a evangelização do matrimônio e da família , e vocês muito cooperaram, e continuam cooperando vigorosamente, para que esta missão de toda a Igreja e, portanto, de todos nós, seja sempre mais o caminho de renovação evangélica e de santificação da sociedade e do mundo. Dirigir, a nível nacional, um movimento de espiritualidade conjugal e familiar constitui, certamente, uma experiência muito valiosa e rica. Ainda mais, quando a preocupação é de "formar comunidades eclesiai&. maduras, onde a fé desabroche e realize todo o seu significado originário de adesão à pessoa de existência vivida na caridady e no serviço", como nos escreve João Paulo 11, na Christifideles Laici. Com estas palavras do Papa podemos sintetizar o que tem sido a preocupação e a natureza da ação missionária que vocês dirigiram nos vários anos que estiveram à frente do Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Com as graças e bênçãos de Deus, vocês puderam se preparar para responsabilidades ainda maiores dentro do Movimento e da Igreja, sempre dentro do campo da família . Nunca faltou, de vossa parte, esta identidade profunda, coerente e constante com a vocação e missão própria da Igreja. Por isto, neste momento, dirigindo-me especíalmente a vocês, Cidinha e Igar, quero convidar a todos os casais das Equipes de Nossa Senhora a participar, com convicção e crescente responsabilidade, pelo exercício de tarefas e deveres de casal e família cristã, nesta missão da Igreja, para que a família possa ser o sujeito ativo da nova evangelização e do projeto de salvação proposto por Cristo. Que o Espírito de Deus continue inspirando a todos os casais do

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Movimento, para que possam descobrir a vontade concreta do Senhor e estar inteiramente disponíveis ao Seu serviço, em todos os aspectos da vida eclesial, familiar, profissional, social e política. E, ao casal Beth e Rômolo, que agora está assumindo esta responsabilidade tão importante, desejo que busque no exemplo da Sagrada Família as energias e a esperança necessárias para conduzir o Movimento, para que ele assuma de forma crescente as exigências da vida cristã e eclesial, de dar frutos para a construção do Reino de Deus entre nós. D. Marcelo Pinto Carvalheira

-oOo-DISCERNIMENTO DO PONTO DE VISTA ESPIRITUAL O carisma confiado às Equipes de Nossa Senhora, há quarenta anos, implica em aprofundar, viver e fazer viver a espiritualidade conjugal, isto é, fazer do casamento um lugar de amor, um lugar de felicidade, um caminho de santidade. Isto significa que os casais das Equipes devem empenhar-se na realização de um discernimento evangélico do casamento, visto sob vários ângulos. Abordaremos aqui alguns pontos que nos parecem determinantes para o discernimento do ponto de vista espiritual. 1 . Conhecer a vontade de Deus para o casal

"Deus criou o homem à sua imagem, ( ... ) homem e mulher ele os criou". Deus criou-os macho e fêmea, com tudo o que isso implica: sua corporeidade, seus sentimentos, sua afetividade, sua capacidade de intimidade, sua maneira específica de viver a masculidade ou a feminilidade, sua capacidade de aperfeiçoar-se, de crescer, de santificar-se ... Por que Deus os criou macho e fêmea? Por que Deus lhes ordenou que deixassem pai e mãe e que se tornassem uma só carne? Criou-os macho e fêmea para formarem uma unidade. Mas a construção dessa unidade por um lado exige a construção de cada um como pessoa, forçando-o para sua própria intimidade e, por outro lado, exige que cada um saia de si mesmo em busca do conhecimento do outro. -23-


Nesse proces~o constante de interiorização e de abertura para o outro, cada um vaf conhecendo o outro, vai se conhecendo melhor, principalmente no confronto masculidade e feminilidade, os dois vão se construindo e ao mesmo tempo vai se estabelecendo entre ambos uma relação de amor. ~ através desse processo, realizado de forma consciente, em que se vai conhecendo e trabalhando os elementos constitutivos da complementariedade, que se vai construindo a unidade conjugal, a comunhão de amor à imagem da Santíssima Trindade. 2 . As graças do sacramento, do matrimônio

A construção da unidade conjugal não é tarefa a ser executada a dois, mas a "três": os cônjuges e Deus. Graça: dom concedido por Deus para a santificação de quem o recebe. Deus concede graças aos cônjuges através do sacramento do matrimônio. A graça é fecunda. Ela é princípio de tarnsformação e de ação e por isso ela exige uma constante colaboração de nossa parte. Como colaborar com a graça no matrimônio? • Pela decisão de amar até o fim . No que isso implica? • Pelo exercício do discernimento da vontade de Deus, através dos acontecimentos do dia a dia . Como realizá-lo? • Pela vida de oraÇão a dois. Como deve ser essa oração? 3 . Relação marido-esposa/ relação Cristo-Igreja

"Grande é este mistério. Quero referir-me a Cristo e sua Igre;a" (Ef. 5,32). Igualmente grande é o mistério na união do homem com a mulher, constituindo um ser novo, o casal, unidade do Corpo Místico de Cristo. O que é essencial e que está por trás da relação Cristo/Igreja? O que é essencial e que está por trás dessa relação marido-esposa? • Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Igualmente, os esposos devem se amar e se entregar um pelo outro. B preciso clarear, aprofundar as exigências desse amor. O que · significa entregar-se um pelo outro? • A Igreja é o sacramento do amor de Cristo para o mundo. Deve . viver em comunhão perfeita com Cristo. Nós, esposos, devemos ser o sacramento do amor de Cristo um para o outro e ambos para os filhos e para o mundo. O que significa isso? • A Igreja enquanto inspirada pelo Espírito de Cristo é santa, mas enquanto humana, é pecadora. Mas Cristo a perdoa e seu Espírito continua a edificá-la e santificá-la. -24-


Os cônjuges são chamados à santicÍ~de no matrimônio, mas, como humanos, falham com relação ao outro e com relação ao Cristo. Como Cristo perdoa sua Igreja e perdoa os cônjuges, assim também eles devem perdoar um ao outro, devem construir um ao outro, devem se ajudar a caminhar para a santidade. E preciso clarear a especificidade desse apelo à santidade própria do casal. • A Igreja deve discernir o pensamento de Cristo para expandir o Reino a partir de sua unidade com ele. _ Os cônjuges devem igualmente discernir o pensamento de Cristo sobre o matrimônio para colaborar na construção do Reino, a partir da unidade conjugal. Cidinha e lgar

ATUALIDADE

CARTA DO BISPO DE RORAIMA AO POVO DE BOA VISTA No dia 09 de janeiro, algumas dezenas de homens, insuflados pelo governador Romero Jucá Filho, outras autoridades e alguns meios de comunicação, tentaram invadir a Cúria Diocesana, exatamente no momento em que conversávamos com o superintendente do Departamento de Polícia Federal, delegado Romeu Tuma. De maneira intolerante, os invasores gritavam que o Bispo e a Igreja são contra os garimpeiros. Isto não é verdade. Não somos contra os garimpeiros. Defendemos o direi.to ao trabalho para todos. Os garimpeiros também precisam trabalhar, ganhar o .pão de cada dia. O que não podemos aceitar é que o ganha pão de uns resulte na destruição e morte de outros. Ao trabalhar em terras que a Constituição Federal garante para os índios Yanomami, os garimpeiros, além de rasgar a Lei, cometem o crime de genocídio. Isto é, criam uma situação tal que resulta na morte dos índios, seja pela violência, seja pela transmissão de doenças, seja pela desorganização de sua vida social, econômica e culturaL

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Os garimpeiros têm o direito de trabalhar. Mas não têm o direito de ocupar as -terras indígenas. Por isto .é que o juiz federal N ovely Vilanova da Silva Reis mandou que a FUNAI, a Polícia Federal, o Exército e a Aeronáutica fechassem as pistas clandestinas e retirassem os garimpeiros das terras dos Yanomami. O Governo Federal tem que cumprir estas ordens, o mais rapidamente possível. Do contrário estará cometendo os crimes de omissão e de desobediência de uma ordem judicial. O acordo que o governador Romero Jucá anunciou, visando a criação de três áreas de garimpagem no território Yanomami, não pode ser feito. Ele é ilegal, contraria a ordem de retirada dos garimpeiros e fere a Constituição Federal. :E: preciso ficar claro que o juiz federal ma-ndou os garimpeiros saírem de todo o território dos Yanomami, inclusive das chamadas "Florestas Nacionais", onde o governador pretende instalar as reservas garimpeiras. Se o presidente da República, como afirmou o Ministro da Justiça assinar um decreto criando estas reservas, ele poderá ser processado por crime de responsabilidade, de acordo com o ítem VII do artigo 85 da Constituição Federal. Ao finalizar, gostaríamos de repetir que não somos contra os garimpeiros. Estamos apenas defendendo o cumprimento da Constituição e das ordens da Justiça Federal. Estamos apenas defendendo o direito que os Yanomami têm de sobreviver à tragédia que estão enfrentando no momento. Esperamos que o povo desta Diocese - que é também vítima da atual situação, pelo custo de vida exagerado, pelo aumento assustador da violência, pela poluição do mercúrio nos rios e no ar, pelo desmatamento incontrolado que .prejudica o presente e o futuro do novo Estado e pela transmissão ampliada da malária - compreenda a posição desta Igreja. Esperamos também que o povo coopere, sem medo, para a salvação dos índios Yanomami, que constituem uma parte bem singular da nossa Diocese e são conhecidos em todo o mundo . Com uma bênção para todos, Dom Aldo Mongiano Bispo de Roraima .

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TESTEMUNHO

A RESPOSTA DOS .. INSPIRADOS" Não participamos da Peregrinação de Lourdes que as ENS realizaram em setembro de 1988 mas não nos foi difícil comungar do espírito e do clima que nossos Irmãos de Ideal respiraram nesse santuário. E não nos custou nada entender o sentido que , a partir dali, os casais dirigentes acharam por bem dar ao movimento quando conceberam a Segunda Inspiração - verdadeiro roteiro atualizado para os equipistas saberem se dirigir até onde se faz ouvir a Voz que os chama. Para mais, um casal da nossa equipe que esteve na peregrinação bateu na tecla, praticamente todo o ano seguinte, sem machucar os ouvidos de ninguém, nem esgotar todo o atrativo que se esconde nas dobras desse roteiro. Houve uma primeira inspiração em 1947, quando o padre Henri Caffarel e um grupo de casais lançaram na França o movimento para casados que desejassem ·aprofundar os conhecimentos religiosos e avaliar as exigências de Cristo a fim de conformar toda a sua vida com elas·. Volvidos 40 anos, quando o movimento já se espalhou por mais de 40 pafses e o mundo tem mais necessidade de cristãos conscientes e atuantes, vem a Segunda Inspiração. E, como esta, o apelo a um tríplice dever : conh~cer a vontade de Deus, buscar a Verdade, . viver em Comunhão. Entendemos que só na medida em que respondermos a esse apelo estaremos respondendo a nossa vocação de casais equiplstas. Para conhecer a vontade de Deus, a primeira inspiração já dava a receita : escuta a palavra d'Eie (meditação), dialoga com Ele (oração pelas ENS, oração a sós ou em família), vê qual o plano d'Eie para ti, teu cônjuge e tua família (dever de sentar-se) e tenta mergulhar cada vez mais no seu mistério (retiro). Ao convidar o equlplsta para a busca da Verdade, a Segunda Inspiração parece apenas mais precisa que a primeira. !: por amor à suprema Verdade - o próprio Deus - que deves tomar consciência do teu valor e dignidade, também das tuas limitações. Para não te deixares levar por meias-verdades, pelo preconceito, pelo diz-que-diz-que, pela falácia de argumentos em voga ou elaborados a partir do teu ego. E não te desvaneças por teus méritos e conjeturas que os outros fazem de ti. Uma olhadela no espelho da tua alma, uma correção fraterna bem aceita, uma boa regra de vida te ajudarão certamente a encontrares a verdade a teu respeito - e isso é meio caminho andado na tua realização. A rigor, a rigor, não há nenhuma novidade na Segunda Inspiração. Mas o movimento equipista bem que nos parecia precisado de uma orientação mais explícita na direção do mandamento novo : o amor do

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-· próximo. Os dirigentes Insistiam; sem dúvida, e multo, no amor dos esposos mas no dos filhos nem tanto e, menos ainda, no da comunidade em geral. Agora, a Segunda Inspiração vem recomendar que o equipista viva mais em comunhão. Com o seu Deus, sim, mas também com o seu cônjuge, os seus filhos, o seu próximo, quem quer que ele seja. Se queres pois viver em comunhão, trata de caminhar ·sempre mais em direção ao Outro e aos outros, com eles fazer a tua cam inhada. Sem deixares te esvaziar e de seres tu mesmo, adapta-te ao outro, começa, continua a doar-te ao outro, não em coisas que gostarias de. dar mas naquilo que ele precisa receber, não apenas quando ele te é simpático mas também quando te aborrece. Estão af os tr&s deveres para testar tua têmpera, tua sinceridade e perseverança. Três deveres, três chaves, três atitudes que tu, equipista, não podes ignorar se pretendes responder sim nesta hora ao chamado do movimento. Na respostà que deres, estará a prova da tua coerência, da fidelidade a ti mesmo, da delicadeza da tua consciência. Isso, certamente, exigirá de ti algum esforço para não seres apenas um número dentro do movimento. E esse esforço, tu o farás todo dia, com afinco e agrado, sem tensão, sem angústias nem escrúpulos mas também sem subterfúgios. Serás exigente contigo mesmo, mas saberás aceitar tuas próprias limitações. E saberás, ainda, aceitar o modo de ser do teu irmão aquipista, ainda que isso não te dispense de o ajudares, no que puderes, para que ele se sinta também • inspirado" com o mesmo objetivo e o mesmo propósito que animou aqueles que presidiram a Peregrinação de Lourdes. Como convém a todos que nos Incorporemos na caminhada rumo à santidade a que fomos chamados dentro das ENS . . Dulce e Manuel Equipe 9-A - Rio de Janeiro

-oOoSER CIDADAO, SER CRISTAO O que é ser cidadão? O dicionário diz: I! o indivíduo no gozo dos direitos civis e politicos de um estado. Assim, política não é uma coisa estranha a nossa vida, que diga respeito apenas aos políticos profissionais, mas está presente em tudo que fazemos, em todo nosso relacionamento, seja na família, na vizinhança, no trabalho, na comunidade. . . todo cidadão deve, pois, exercer a cidadania, exigitt esse direito, que não. se limita a ir às urnas e colocar seu voto para escolher um candidato do executivo ou do legislativo.

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Muitos então, se negam até a esse mínimo que durante tantos anos foi roubado: reclamam de TER QUE VOTAR, votam em branco, anulam o voto, justificam por comodismo. Nosso dever de cristãos nos chama a sermos cidadãos de verdade, prontos a exigir nossos direitos e, consequentemente, tendo maturidade e coragem para arcar com a responsabilidade que o exercício destes direitos acarreta. Como dissemos, nosso compromisso de cidadãos não se resume em ir votar e voltar para casa, passando os anos seguintes a lamenta~ o ~oto que demos, nos envergonhando do candidato que ajudamos a eleger, ou então, a criticar aqueles que nele votaram, dando graças a Deus por não o termos feito. Após a eleição para presidente há um acontecimento inédito entre nós e de importância enorme: a elaboração da Lei Orgânica dos nossos municípios. Todos precisamos atuar, participando unidos, não deixando comodamente para os outros mas, assumindo esse direito de cidadãos que pela primeira vez nos é dado. Vamos procurar participar de Comissões de Acompanhamento da Constituinte Municipal de nossa cidade. Agora é o momento, depois será tarde e inútil, reclamar de Leis Arbitrárias, que não visem os reais interesses do povo, que favoreçam a continuação desses arremedos de administração que há pelo Brasil afora, com todos seus absurdos: corrupção, injustiças, roubos, discriminações, opressões, jogo de interesses, etc . . . E depois, vamos cobrar de fato. Não poderemos, no futuro, perdoar-nos por omissão e inércia, por nos quedarmos a expectativas alienantes neste momento crucial de nossa história quando somos chamados a exercer nosso papel de cidadãos. O cristão que não procurar melhorar a realidade do país em que vive, participando com garra na transformação desta face do mal que temos para aquelá que Deus quer: do Amor, não deve se chamar cristão e menos ainda, estar num movimento que, como as ENS, quer nos ver coerentes, vivendo o Magnificat e não só balbuciando palavras vazias onde Maria colocou tanta força : demonstrando o poder de seu braço, dispersa os soberbos, abate os poderosos de seus tronos, eleva os humildes, sacia de bens os famintos, despede os ricos sem nada. Realizar isso, HOJE, cabe a nós. Neusa Camargo Machado Equipe 2 - Setor de B uru 29-


NOSSA BIBLIOTECA

Esta nova seção indicará cada mês alguns livros facilmente acessíveis, a fim de formar aos poucos uma pequena biblioteca sobre assuntos relativos à vida conjugal e familiar.

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Guy Durand: "Fé e sexualidade" (Ed. Loyola, 1989, 380 páginas).

Excelente apresentação crítica do ensino da Igreja Católica relativo à vida sexual humana. - Dr. Rui Mendes: "O drogado e a família" (Ed. Paulinas, 1989, 104 páginas). Analisa de maneira concreta, séria e humorística ao mesmo tempo, os problemas levantados pela presença de um drogado na família, e as interações provocadas por essa situação.

Comissão Regional Sul 1 de Pastoral Familiar: "Preparação para o Casamento e para a Vida Familiar" (Ed. Santuário, 1989, 221 págs). Elaborado por especialistas no assunto, sob a coordenação de D. Eusébio Oscar Scheid, bispo de S. José dos Campos, apresenta uma nova sistemática de preparação para o casamento e destina-se especialmente aos Agentes de Pastoral da Família e às Equipes de "Cursos de Noivos" .

-oOoNOTlCIAS BREVES

e Em sua edição de Maio-Junho de 1989, a "Lettera END", Carta das equipes italianas, reproduz, à página 12, o artigo de nossos colaboradores Mariola e Eliseu, de Brasília, sobre a realidade familiar brasileira, publicada em nossa Carta Mensal de Outubro/ 88. E a Partilha, a nível internacional . .. e A Pastoral da Paternidade Responsável foi o assunto de encontro realizado no México, de 24 a 27 de outubro de 1989, no qual o Brasil foi representado por D. Pedro Fedalto, de Curitiba, acompanhado pelo Assessor de Pastoral Familiar da CNBB, Mons. Pierre Primeau, C.E. de equipes em Brasília. No encontro, D. João Bosco Oliver de Faria, de Pouso Alegre, falou sobre "Moral Conjugal e Familiar". No Brasil, duas entidades dedicam-se com sucesso a esta Pastoral: CENPLAFAM (Centros de Planejamento Familiar) e Ação Familiar do Brasil. -30-


NOTICIAS E INFORMAÇOES

Expansão

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As ENS, com grande alegria e con· fiança no Senhor, iniciaram sua ação evangelizadora em Salvador/BA. Doze casais Iniciaram sua caminhada sob a proteção de N. S. do Perpétuo Socorro (Eq. n.0 1) e N. S. Educadora (Eq. n.0 2) e contando com o forte apolo de o. Lucas Moreira Neves, Cardeal Ar· cebispo local. A equipe 1 tem como Conselheiro Espiritual o .Pe. Gilson e a Equipe 2, o Pe. Lucas. Ambas foram informadas e estão sendo pilotadas por Olga e Angelo (Equipe 6, de Recife/PE). As orações de todos os aquipistas acompanham a chegada das ENS à terra de "Todos os Santos· . ..

Volta ao Pai - Ivo Ribeiro de Carvalho (da lsolina), da Equipe 32 do Rio de Janei· ro/RJ, em 09/09/89. - Maídia Matos dos Santos (do José Amadeu), da Equipe 4 de Limeira/SP, em 13/05/89. - Mons. Sylvestre Rossi, Conselheiro Espiritual da primeira equipe lançada em Llmeira/SP, em 28/03/89.

Mudanças nos Quadros - Juiz de Fora/MG Astrid e Ribeiro assumiram o Setor A, em substituição a Maria Inês e Clesson, em Missa de Ação de Graças celebrada em 26/11/89. Na mesma ocasião, Pe. Dragan assumiu a missão de C.E. do Setor. - Crlcluma/SC Cylésla e Helclo passaram a responsabilidade pelo Setor a Lourdes e Larcides Fabris. - São José do Rio Preto/SP Luiza e Darci Mazzonl assumiram como C.R. do Setor, em lugar de Roslnha e Anéslo Polles que, por sua vez, foram escolhidos como C.R. da Região São Paulo/Norte, sucedendo a Adelal· de e Timo.

Conselheiros Espirituais

Novas Equipes -

Guaplaçu/SP (Setor de São José do Rio Preto) Equipe 3 - N. S. Mãe da Divina Graça C.E.: Pe. João Zanzl C.P.: Célia e Adernar

Fortaleza/CE Equipe 10 - N. S. da Paz C.E.: Pe. Giovane C.P.: Regina e Jarbas Equipe 11 - N. S. do Carmo C.E. Pe. Fred Golon C.P.: Elba e Oscar Equipe 12 - N. S. das Graças C.E.: Pe. João Farias C.P.: Cleci e Nonato (Esas três equipes se originaram em ·Experiências Comunitárias")

- Pe. Jacó, Conselheiro Espiritual do Setor de Ribeirão Preto/SP, ceie· brou seus 20 anos de sacerdócio em 7 de pezembro último. - Em 15/12/89, Frei Almir, C.E. de equipes do Setor de Nlterói/RJ, comemorou, em Missa de Ação de Graças, 25 anos de ordenação sacerdotal. - Pe. Sylvlo Fernando Ferreira, C.E. do Setor de Catanduva/SP, celebrou seu jubileu de prata de ordenação sacerdotal, em 29/06/89.

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OLT!MA PÁGINA

NÃO RECEBI NADA DO QUE PEDI Pedi a Deus para ser forte A fim de executar projetos grandiosos E Ele me fez fraco Para conservar-me humilde. Pedi a Deus que me desse saúde Para realizar grandes empreendimentos, E Ele me deu a doença Para compreendê-Lo melhor. Pedi a Deus riqueza, para tudo possuir, E Ele deixou-me pobre para não ser egoísta. · Pedi a Deus poder, para que os homens Precisass~m de mim, E Ele deu-me humildade Para que d'Ele precisasse. Pedi a Deus tudo para gozar a vida, E Ele me deu a vida para gozar de tudo. Senhor, não recebi nada do que pedi, Mas deste-me tudo o de que eu precisava E, quase contra a minha vontade, As preces que não fiz foram ouvidas. Louvado seja o meu Deus! Entre todos os homens, NINGUÉM TEM MAIS DO QUE EU! (Oração de um atleta americano que, aos 24 anos, ficou paralítico e encontrou Deus no sofrimento)

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MEDITANDO EM EQUIPE

TEXTO DE MEDITAÇÃO (Me. 8, 34-38) Chamando a multidão, juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; Pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la. Com efeito,, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e arruinar a sua vida? Pois o que daria o homem em troca da sua vida? De fato, aquele que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com os santos anjos ." ORAÇÃO LITúRGICA

Nestes dias de salvação, peçamos pela vinda do Espírito Santo, que purifique e confirme nossos corações na caridade, e digamos: R. Dai-nos, Senhor, o vosso Espírito Santo! Concedei que nos saciemos de toda palavra que brota de vossos lábios. R. Dai-nos, Senhor, o vosso Espírito Santo! Dai-nos ter caridade não apenas nas grandes ocasiões, mas principalmente no cotidiano de nossas vidas. R. Dai-nos, Senhor, o vosso Espírito Santo! Concedei que saibamos renunciar ao supérfluo para podermos ir em auxílio dos irmãos necessitados. R. Dai-nos, Senhor, o vosso Espírito Santo! Dai-nos participar em nosso corpo da mortificação de vosso Filho , Vós que nos destes a vida em seu corpo. R. Dai-nos, Senhor, o vosso Espírito Santo! Oremos. Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa. Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém . (Liturgia das Horas; Tempo de Quaresma)


Um momento com a Carta Mensal ............................ . Editorial: Moldar o rosto da Igreja . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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E. R.I. : A Dlnimlca das Equipes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . .

5

A ECIR conversa com vocês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

12

Campanha da Fraternidade 1990 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

14

Grandes Encontros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

17

A Palavra de nossos Pastores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

22

Discernimento do ponto de vista espiritual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

23

Atualidade: Carta do Bispo de Roraima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

25

A resposta dos "Inspirados" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

27

Ser cldadio, ser crlstio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

28

Nossa Biblioteca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Notfclas e Informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

31

Nio recebi nada do que pedi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

32

Meditando em Equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

33

EQUIPES DE NOSSA SENHORA 01050 Rua João Adolfo.118 · Q• • cj. 901-Tel. 34 8833 São Paulo - SP


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