ENS - Carta Mensal 269 - Novembro 1990

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RESUMO A linguagem que usamos quando falamos de nossa fé é a linguagem do cotidiano?

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Quem dirá ao mundo o que é o verdadeiro amor? Alvaro e Mercedes Go· mes-Ferrrer, da ERI , nos questionam . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Num dos trechos mais Importantes da Sollicitudo Rei Socialis, o Papa faz a distinção entre "ter" e "ser " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O colegiado ECIR/ Responsáveis Regionais se reuniu em São Paulo, em Se· tembro. A Carta Mensal esteve lá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O que a sexualidade, em todas as suas dimensões, tem a ver com a dlgnl·

dade e a integridade da pessoa humana? Um documento que os casais das ENS não podem Ignorar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Uma das propostas mais importantes da Segunda Inspiração diz respeito à unidade do casal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Numa resposta a um tema de estudos, um equlplsta se pergunta: "O que significa paar mim evangelizar a sexualidade? " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A Carta Mensal continun a publicação da sfntesel das respostas à consulta da CNBB sobre Pastoral Familiar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O Concílio Vaticano 11, no documento Gaudium et Spes, aborda o tema Amor e Sexualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Numa nova série de artigos, D. Raimundo Damasceno Assis estuda as lmpli· cações da Exortação Apostólica Christifideles Lalci para as Equipes de Nossa Senhora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A espiritualidade conjugal tem algo a ver com ... café com leite? . ... ~

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Como "Ministros da Vida", qual é a respOnsabilidade dos pais? . . . . . . . . . . .

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Um casal espanhol relembra Lourdes / 88 e se questiona sobre o por quê da Segunda Inspiração ................. . .... ... .

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Novembro é mês de balanço nas E.N.S. . .. . .......... .. ................ .

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Nestes quarenta anos de sua existência, as Equipes têm sido um dom de Deus para os casais . . . . . . .

......................... O que é o Reino de Deus para um jovem? E para um casal? . . . . . . . . . . . . . .

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A resenha dos boletins dos Setores nos apresenta uma série de testemu· nhos sobre a vida em equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O balanço financeiro do primeiro semestre de 1990 mostra um quadro alen-

tador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Noticias e informações dos Setores . .. . .

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Uma equipe reza pela preservação do verde . . .. ...... . .. . .

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Meditação e oração sugeridas para este mês .

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Vejam também, na última capa, a oração das equipes ao Espirito Santo.


PEGOU FOGO NO CIRCO . .. Era domingo. O circo, pobre, com a lona gasta, com seu velho leão, com seus acrobatas cansados, tinha se instalado na saída da cidadezinha. Todos estavam se aprontando para a sessão da tarde, quando de repente velo o grito angustiado: "Fogo! Está pegando fogo na lona! Fogo!·. O velho diretor, desesperado, olhou em volta. A fumaça já começava a aparecer, num dos cantos do circo. Ele viu o palhaço, já vestido para a sessão, todo maquilado, correndo de um lado para o outro, sem saber o que fazer. O diretor chamou: "Hei! Palhaço! Corre já para a cidade, vai procurar ajuda! Depressa! • O palhaço não se fez de rogado. Saiu em disparada, do jeito que estava, pela estradinha que levava à cidade. Logo passou as primeiras casas e chegou numa pracinha. Cidadezinha do interior, domingo à tarde, tinha bastante gente. O palhço subiu no primeiro banco da pracinha e, ofegante, começou a gritar: "Gente! Gente! Pegou fogo no circo! Fogo! Precisamos de ajuda! Ajudem-nos! • A praça toda se juntou em volta do banco. E, para desespero do palhaço, mais ele gritava e implorava por socorro, mais as pessoas riam, gargalhavam . . . Sua imagem, por causa de suas roupas, fazia rir. Todos riam ao ver o palhaço gritar porque, naturalmente, o que se espera de um palhaço, é que faça rir. E o circo. . . bem, o circo queimou . .. Nós, da equipe da Carta Mensal, perguntamo-nos freqüentemente se não somos parecidos com este palhaço. Se a Carta que chega todo mês às mãos dos equipistas já não vem matizada, caracterizada por um tipo de linguagem que todo mundo já espera , com a qual todos se acostumaram , que não tem mais nada de novo. De maneira que se quisermos levar algo de novo aos leitores, será logo jogado no mesmo saco . . . E o circo vai queimar ... A linguagem, entre os muitos problemas de comunicação que temos, é talvez o mais sério. Basta vocês folhearem qualquer Carta Mensal e vocês vão constatar conosco que a maioria dos artigos, mesmo escri· tos por leigos, têm o que pode ser chamado de linguagem "clerical". Parece que quando queremos falar de assuntos ligados à religião, sentimos a necessidade de vestir esse traje diferente, essa linguagem especial. Não estaria aí um resquício da separação que fazemos entre a vida cotidiana, o dia-a-dia e a vivência da religião, da fé? Entre a linguagem que se usa no domingo, na missa, e nos outros dias da semana, em casa, na rua, no trabalho? Gostaríamos, com este número, de pedi~ duas coisas a vocês: - quando (e se . .. ?!) vocês nos mandarem matérias, que seja na linguagem que vocês usam todos os dias, normalmente; - quando vocês acharem que a linguagem da Carta Mensal não é a que deveria ser, alertem-nos, puxem-nos a orelha! De coração, A EQUIPE DA CARTA MENSAL -

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EQUIPE RESPONSÁVEL INTERNACIONAL

UM

APELO

Trata-se de amar. E é mais fácil amar, quando nos reconhecemos pobres. Trata-se de redescobrir a dinâmica do amor, numa Igreja que precisa do testemunho do amor humano para dar credibilidade ao amor de Deus, ao plano de Deus sobre a sexualidade humana. Nossa Igreja quer ser fiel à mensagem de Cristo. Mas ela sente dificuldade para encontrar as palavras e a pedagogia necessárias para encaminhar os casais para uma sexualidade vivida em plenitude, segundo as leis de Deus. Infelizmente, neste campo, ela afasta cristãos e não-cristãos. Enunciados os princípios, faz-se o silêncio, ou ainda, o constrangimento, a confusão. Devemos trabalhar na Igreja, no serviço da Igreja e dos casais, mesmo no sofrimento, para comunicar o sentido positivo e profundo da sexualidade, o sentido do desígnio de Deus, que criou a humanidade à sua imagem. "Homem e mulher ele os criou", para serem "uma só carne". Devemos descobrir a dinâmica do amor num mundo que precisa do testemunho e da palavra. Sofrer com as situações de marginalidade e de pobreza no campo do amor conjugal, em nossa especificidade, naqt.ülp que somos. E sobretudo, "compadecer-nos", sofrermos junto, com os jovens casais que são como "ovelhas sem pastor". Quem lhes dirá que o amor não é somente um sentimento mas uma decisão, uma adesão profunda da vontade ao outro, deixando todo o resto para trás? Quem lhes dirá que o sacramento do matrimônio não é algo que vem de fora, que se recebe passivamente, mas que eles são "sacramento", sinal do amor de Deus, um para o outro e juntos, os dois, para seus filhos e para o mundo? Quem lhes dirá que a felicidade é possível, que ela não se encontra num jogo de fascinações incontroladas; que para conquistá-la é preciso aceitar a pedagogia do amor, que nos leva a passar por crises de crescimento para chegarmos a uma união mais profunda? Quem lhes dirá que a santidade" do casal consiste em ser comunhão de amor, à imagem da Santa Trindade; em dar-se ao outro sem cessar, sem querer recuperar o dom total que fizemos um dia; em acolher o outro porque sem ele reconhecemo-nos pobres; em perdoá-lo e curar a sua ferida; em olhá-lo com amor e jamais cansar de admirar o amor que ele tem para nós? Álvaro e Mercedes Gomez-Ferrer

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A PALAVRA DO PAPA

O "SER" E O "TER" "Ter" objetos e bens não aperfeiçoa, por si, a pessoa humana, se não contribuir para a maturação e para o enriquecimento do seu "ser", isto é, para a realização da vocação humana como tal. Certamente, a diferença entre "ser" e "ter" - perigo inerente a uma pura multiplicação ou mera substituição de coisas possuídas em relação com o valor do "ser" - não deve transformar-se necessariamente numa antinomia. Uma das maiores injustiças do mundo contemporâneo consiste precisamente nisto: que são relativamente poucos os que possuem muito e muitos os que não possuem quase nada. E a injustiça da má distribuição dos bens e dos serviços originariamente destinados a todos. E então, eis o quadro: há aqueles -

os poucos que possuem muito - que não conseguem verdadeiramente "ser", porque, devido a uma inversão da hierarquia dos valores, estão impedidos pelo culto do "ter"; e há aqueles - os muitos que possuem pouco ou nada - que não conseguem realizar a sua vocação humana fundamental porque estão privados dos bens indispensáveis. O mal não consiste no "ter" enquanto tal, mas no fato de se possuir sem respeitar a qualidade e a ordenada hierarquia dos bens que se possui. Qualidade e hierarquia que promanam da subordinação dos bens e das suas disponibilidades ao "ser" do homem e à sua verdadeira vocação.

(Da Encíclica "Sollicitudo Rei Socialis" n.o 28)

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ECIR/RR

REUNIÃO DO COLEGIADO ECIR/RESPONSÃVEIS REGIONAIS ' Nos dias 22 e 23 de setembro passado, reuniu-se em São Paulo, na Lareira São José, o colegiado formado pelo conjunto de Casais e o Conselheiro Espiritual da ECIR e pelos Casais Responsáveis Regionais de todo o Brasil. Novamente, e desta vez com experiência maior por parte de todos, o princípio e o processo de colegialidade puderam efetivamente ser aplicados entre nós, e os resultados da reunião comprovaram não só a validade mas as imensas possibilidades que o exercício do processo traz para o Movimento. Após muita oração e reflexão, conduzidas pelo Pe. José Carlos , e após percorrer o processo de discernimento já realizado pelo Movimento, o colegiado consolidou , em primeiro lugar, os objetivos do Movimento, no Brasil , para o período atual : GERAL: Convocar e desafiar os casais para participarem da construção do Reino de Deus, através da vivência do sacramento do matrimônio e da vida em comun idade proposta pelo Movimento das E.N.S. ESPEC(FICOS: Desafiar as equipes de base a irem ao encontro da realidade · (mundo, especialmente a realidade conjugal e familiar) . A realidade é que convoca à santidade e à ação. - Motivar os equipistas a viverem a comunhão com a Igreja (Diocese, CNBB , Vaticano) , não como consumidores mas como participantes. - Desencadear um processo de part icipação e corresponsabilidade dentro do Movimento (somos " continuadores " e não apenas seguidores) . - · Convocar os equipistas de base à vivência verdadeira dos métodos oferecidos pelas ENS (vida comunitária e Pontos Concretos de Esforço) como meios (e não fins) para plena realização do sacramento do matrimônio e conseqüente testemunho e ação . Depois, através de uma série de debates em grupos e em plenário, o colegiado resolveu eleger algumas propostas de ação prioritárias para pôr em prática esses objetivos . Essas propostas estão sendo levadas, nos dias 16, 17 e 18 deste mês de novembro, para o Encontro Nacional, onde serão debatidas pelos Casais da ECIR, os Responsáveis Regionais , os Responsáveis de Setor e de Coordenação e os Conselheiros Espirituais de Setor.

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QUESTDES ATUAIS

UM APELO A INTEGRIDADE DA PESSOA HUMANA Pelo interesse que revestem, também para além da nação de proveniência, são aqui publicados alguns trechos do documento emitido em novembro passado pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América (N.C.C.B.): "Called to Compassion and Responsability: A Response to the HIV I AIDS Crisis", dedicado aos aspectos pastorais que reveste a difusão da AIDS.

Na sua Encíclica "Dives in Misericordia", de 1980, o Papa João Paulo 11 diz que a compaixão e a misericórdia se baseiam no reconhecimento da dignidade e da integri· dade humana. A compaixão autêntica e a verdadeira misericórdia chamam-nos a "todo um estilo de vida. . . que consiste na descoberta constante e na prática perseverante do amor, como força que ao mesmo tempo unifica e eleva, não obstante todas as dificuldades de natureza psicológica ou social" (n. 14). Rogando ao Pai para que "todos sejam um só; como Tu, ó Pai, estás em mim e eu em Ti" (Jo. 17, 21), Jesus revelou-nos algo que jamais poderíamos ter conhecido por nós mesmos: existe uma semelhança entre a unidade das Pesosas divinas na Trindade e a unidade das pessoas humanas entre si. Na prática, do modelo da Trindade aprendemos que nos tomamos mais plenamente nós mesmos, quando nos doamos aos outros. Um abuso de si é, de certo modo, um ato de injustiça em relação aos demais; e, ao mesmo tempo, o abuso dos ou-

tros é um abuso de si e, portanto, um abuso da nossa relação com Deus, Criador e Pai de todos nós. Todos os seres humanos são criados à imagem de Deus e chamados ao mesmo fim, a saber, à vida eterna em comunhão com Deus entre si. Por esta razão, o maior mandamento é amar o Senhor com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente; e o segundo é semelhante ao primeiro: amar o próximo como a si mesmo. Para indivíduos que crescem, dia após dia, mais dependentes uns dos outros, e para um mundo em que a interdependência é cada vez mais necessária, esta é uma verdade de importância fundamental, porque dá uma base transcedente à busca de bons relacionamentos humanos. Deus é amor (I Jo. 4, 9). Isto significa que a íntima realidade de Deus é um mistério de relação. Mas Deus criou a humanidade para que ela participe da sua vida divina. (Gn. 1, 26-27). A bondade fundamental da humanidade é confirmada no Gênesis (1, 31): "Deus,

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vendo toda a Sua obra, considerou-a muito boa". O Papa Paulo VI, na sua Encíclica Humanae Vitae (1968) sublinhou a importância da "visão integral do homem" (n. 7).). Todavia, hoje, esta " visão integral" é muitas vezes posta de parte ou ignorada, para favorecer elementos ou aspectos particulares da pessoa e idéias limitadas de conquistas humanas . Fundamentalmente, somos chamados a agir segundo a bondade básica da nossa personalidade, tal como Deus a criou. Esta não é uma prerrogativa ou uma obrigação só para os cristãos. Todos, crentes e não crentes, são obrigados a respeitar a integridade da pessoa humana, respeitando-se a si mesmos e todos os outros . O significado da sexualidade e da personalidade só pode ser compreendido plenamente, no âmbito da integridade humana. No plano de Deus, tal como existia desde o início (Gen. 1, 1-17), encontramos o verdadeiro significado do nosso corpo: vemos que no mistério da criação o homem e a mulher foram criados para o dom recíproco. Com a sua existência, como homem e mulher, com a complementaridade da sua sexualidade e com o exercício responsável da própria liberdade, o homem e a mulher refletem a imagem divina gravada neles por Deus. A Igreja oferece um inestimável contributo à sociedade, ao sublinhar que o pleno significado da integridade humana se encontra no contexto da redenção e do seu apelo, em Cristo, a "caminhar numa

vida nova" (Rom. 6, 4). São Paulo recorda-nos que a redenção significa entre outras coisas que devemos " respeitar" o nosso corpo e os corpos dos outros, e devemos viver " em santidade e honra". Com o respeito de nós mesmos e o respeito recíproco, nós observamos o desígnio original de Deus. No início, Deus deu aos nossos corpos uma harmonia, de que São Paulo fala como de "uma mesma solicitude que os membros devem ter uns com os outros". Essa solicitude corresponde àquela autêntica "pureza de coração", graças à qual homem e mulher, "no início" eram capazes de se unir, como uma comunidade de pessoas. Agora, com a redenção, Jesus dá-nos a graça de uma nova dignidade : o Espírito Santo que habita em nós. Somos chamados a viver como templos do Espírito. Tudo isto exige que nos compreendamos a nós mesmos e não vivamos apenas de modo naturalista, isto é, como feixes de impulsos e instintos corporais, mas de modo que respeitemos a integridade da nossa pessoa, incluindo a sua dimensão espiritual. Isto pode ser feito mediante a graça do Espírito. A integridade humana exige a prática da castidade autêntica. Como castidade entende-se a virtude, graças à qual cada um completa a sua sexualidade segundo as exigências morais do próprio estado de vida. Isto pressupõe tanto o domínio de si mesmo como a abertura à vida e ao amor interpessoal, que vai para além do simples desejo de prazer físico. Em particular, o desejo de união com o outro não deve

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degenerar na ânsia de possuir e do· minar. A castidade chama-nos a afirmar e respeitar o valor da pes· soa em qualquer situação. Ainda que a castidade tenha um significado especial para os cristãos, ela não representa um valor só para eles. Todos, homens e mulheres, estão destinados a viver de maneira autêntica a vida humana integral. A castidade é uma expressão desta bondade moral na esfera sexual. Ela é também fonte daquela energia espiritual, graças à qual, superando o egoísmo e a agressividade, somos capazes de agir com ternura sob o impulso da emoção sexual. A castidade oferece um contributo fundamental a um autêntico apreço da dignidade humana. Hoje, muitos são os fatores que se opõem à prática da castidade. A nossa cultura tende a tolerar e até mesmo a promover a exploração da pessoa humana. Os indivíduos são solicitados a procurar o poder e o domínio, sobretudo sobre outras pessoas, ou então a procurar a auto-satisfação. A televisão, os filmes e a música popular difundem a mensagem de que "todos o fazem". Não é exagerado dizer que o impacto obtido por esses meios é enorme. Encontros sexuais ocasionais e relações temporâneas são postos no mesmo plano do compromisso permanente do matrimônio. I! dado por certo que a fidelidade e a continuidade não são valores estáveis, e podem até ser indesejáveis. O pecado torna-se fácil, porque é negada a realidade de tudo o que é pecaminoso. Que é o pecado? I! uma ação

motivada pela deliberada reJetçao de viver segundo o plano de Deus. I! uma ruptura, mais ou menos grave, da ordem que deve governar as nossas relações com Deus e com os outros. I! a causa fundamental da alienação e da desintegração dos indivíduos e da vida social. I! a negação prática da presença de Deus em nós e no nosso próximo. Os obstáculos à integridade humana de que falamos, são hoje particularmente graves para os jovens. No entanto, a Igreja vê neles a esperança do futuro. Como o Papa João Paulo 11 disse aos jovens reunidos em Los Angeles, em 1987: "O futuro do mundo brilha nos vossos olhos. Também agora estais a contribuir para modelar o futuro da sociedade". Isto sublinha quanto é necessário da nossa parte, ajudar os jovens a viverem uma vida casta e responsável. A juventude deveria ser a idade dos ideais. E a maior parte dos jovens quer fazer o que é justo. Os adultos, por sua vez, devem apoiar ativamente os jovens, em vez de se porem inutilmente de parte, enquanto os meios de comunicação sociais e outras influências sociais os inundam com mensagens amorais e imorais. A integridade e a castidade são virtudes que, por graça de Deus, podem ser praticadas por todos, homens e mulheres, de boa vontade, por pessoas de todas as religiões e até por aquele que não tem religião alguma. Mas a sua prática não pressupõe só uma criação que é boa - ela implica uma disponibilidade, por parte da sociedade, a

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criar e promover um ambiente social em que os indivíduos possam verdadeiramente conhecer e escolher o que é justo. Talvez a coisa mais importante, que os adultos podem fazer a respeito disso, seja a de eles mesmos serem modelos de vida reta. Os jovens ficam confusos pela contradição entre as exortações dos adultos, sobre os perigos das drogas e das bebidas alcoólicas, e a dependência dessas substâncias por parte deles; pelas mensagens dos adultos em tema de responsabilidade sexual e pelos seus modelos de irresponsabilidade extrema na esfera sexual. Esta espécie de duplo modelo tem um impacto debilitante sobre os jovens. A dimensão sexual de uma pessoa está ordenada para estabelecer e manter relações pessoais honestas e empenhativas. A "Declaração sobre algumas questões de ética sexual", publicada pela Santa Sé, afirma que a sexualidade não é só "um dos fatores que dão à vida de cada um os traços principais ... Do sexo, de fato, a pessoa recebe as características que, no plano biológico, psicológico e espiritual, a fazem homem ou mulher, regulando assim, em grande medida, o íter do seu desenvolvimento para a maturidade e a inserção na sociedade" (n. 1). A relação sexual é uma expressão de maturidade, que se alcança no âmbito do compromisso da relação matrimonial. Os adolescentes que têm relações sexuais, muitas vezes são induzidos erroneamente a pensar que já atingiram a maturidade: e, de fato, muitos são

impelidos a ter relações sexuais, precisamente para demonstrar que atingiram a idade adulta. Isto não representa apenas uma grande tentação para eles, mas, infelizmente, é também um falimento do exame da integridade humana. A relação sexual deve ser tanto exclusiva quanto empenhativa, e só assume estas características no matrimônio. Não deve nunca ser considerada como uma forma de conquista ou um meio para atrair a atenção. Um dos grandes males da relação sexual ocasional é que ela representa uma exploração de uma ou de ambas as partes. Além disso, o sexo antes do matrimônio não pode esclarecer se um parceiro potencial é, por exemplo, digno de confiança, de boa índole, capaz de amar e de ser amado , solícito, afetuoso, diligente, atencioso, fiel, sensível, equilibrado, disciplinado. E preciso tempo e uma variedade de amizades diversas, para encontrar o companheiro justo para o matrimônio. Durante a adolescência, os jovens deveriam estabelecer laços afetivos, e pô-los à prova com a amizade. Nesse processo a relação sexual não representa um instrumento de busca, para estabelecer se existe ou não compatibilidade. Ela, pelo contrário, está orientada para o matrimônio, a fim de exprimir e completar uma compatibilidade, cuja existência já foi confirmada por meios mais idôneos. A intimidade sexual, portanto, é sinal de um tipo especial de relação, que tem dois aspectos inseparáveis: é fator de união (as pessoas doam-se reciprocamente sem

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reservas, assumem uma responsabi· lidade pública e permanente de uma para com a outra, aceitando os ris· cos da vida em comum), e é pro· criadora (a saber, fundamentalmente ligada a conceber, gerar e educar filho). O ato sexual é a exp~essão desta especial relação conjugal. Só no contexto dessa relação é que os atos sexuais têm um pleno significado humano. ~ o matrimônio que confere ao ato o seu significado pleno.

Quando um homem e uma mulher se casam, eles iniciam um itinerário que é unicamente deles. A relação sexual faz parte daquele âm· bito em que eles crescem em amor e conhecimento recíprocos. As pa~ lavras do Papa João Paulo 11 na Familiaris Consortio, são de grande importância: "Testemunhar o valor inestimável da indissolubilidade e da fidelidade matrimonial é uma das tarefas mais preciosas e mais urgentes dos casais cristãos do nosso tempo" (n. 20).

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UNIDADE DO CASAL Uma proposta importante, da Segunda Inspiração, sem dúvida alguma, é a que diz respeito à UNIDADE DO CASAL. Ou seja, o chamado de Deus para uma profunda unidade entre o ser casal e o agir do casal na família, na Igreja e no mundo. Isto é, Deus nos está pedindo que sejamos seus profetas, seus discípulos do· casamento e do amor conjugal. Nos está pedindo que, nesta difícil e dura realidade, indiquemos os valores cristãos e a forma de vivê-los na família, como casais, como pais, como filhos, como irmãos. Nos está pedindo que caminhemos com ele para conquistar novos casais e fam ílias, principalmente aqueles casais e famílias mais empobrecidos, com mais dificuldades, mais excluídos. Enfim, Deus nos está enviando - em missão, a serviço, para sermos fermento de renovação da Igreja e da sociedade, através da nossa condição de casal. Nos está pedindo que tenhamos a maturidade e o discernimento dos seus discípulos, que participam ativamente da edificação do Corpo de Cristo, tornando presente entre nós o seu Reino de amor, de esperança, de fraternidade, de justiça, de unidade. Nós, enquanto casais e como parte da Igreja, temos que ser sinal e instrumento de comunhão entre os cristãos, para que a evangelização que propomos seja libertadora e transforme a todos em irmãos, filhos do mesmo Pai e Criador. Esta é a dupla dimensão da Igreja : comunhão e missão. Justamente esta comunhão é que é a origem da missão. Para · isto recebemos o chamado do Senhor: "Vem e segue-me", o mesmo convocador que diz vem (na perspectiva da Igreja comunhão) é o que diz vai (na perspectiva da Igreja missão). Cristo nunca disse vem e fica aqu i (no Movimento, na equipe). Ele diz vem e vai, porque é no ir que se pode entender o porque se veio. J: na missão que se pode entender a força da comunhão. E quem fica apenas na comunhão, sem ir para a missão, não terá entendido nada do chamado do Senhor, não terá entendido a razão do seu chamado. Este é o grande desafio que a SEGUNDA INSPIRAÇÃO nos coloca, ao lado da unidade do casal. J: a vivência desta unidade, em função do sacramento recebido, que provoca a missão, que leva o casal a participar ativa-

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mente do processo de transformação de todos os aspectos ou dimensões humanas. Aos leigos é dada uma missão, em função de sua vocação cristã. Aos leigos que pertencem aos movimentos familiares da Igreja está sendo solicitado um serviço responsável e consciente na pastoral familiar, porque dar frutos é uma exigência essencial da vida cristã e eclesial. Porque, diz o Senhor, quem não dá' fruto não permanece em mim, e será lançado fora. Que Nossa Senhora nos anime nesta caminhada e nos proteja nesta missão tão importante que temos pela frente como casais cristãos, envolvidos seriamente com as propostas do nosso Movimento. (Trechos de um Editorial do Boletim das Equipes de Brasília).

EVANGELIZAR A SEXUALIDADE "Evangelizar a sexualidade" é uma expressão usada no documento sobre a Segunda Inspiração. Um equipista questiona-se, diante de sua equipe: 'O que isto significa para mim?"

Estamos nesta terra para tomarmo-nos santos e, para nós, casados, este caminho de santidade é representado por nossa vida de casal e animado por nosso amor conjugal. Mas o que é ser um santo? Penso que temos uma excessiva tendência em equiparar este termo à palavra "perfeito". E de que forma podemos ser perfeitos, nós que não passamos de "pobres pecadores"? Trata-se, então, de sermos "justos"? Tampouco penso assim. Nenhum de nós é justo, somos simplesmente "justificados" por Jesus Cristo, que tomou sobre si todas as nossas faltas. Caminhar para a santidade, portanto, me parece simplesmente caminhar para a Vida, tomarmo-nos viventes, o que só nos é possível ao tomarmo-nos participantes da própria vida de Deus, às apalpadelas nesta terra, antes de nos beneficiarmos plenamente (conforme esperamos) na Vida eterna. Para avançarmos nesta caminhada freqüentemente difícil, precisamos de um combustível, que é o amor. Ora, o amor implica na presença de um outro, ou de vários outros e/ ou do Outro, o totalmente Outro, pois o amor só poderá ser o fruto de uma relação da qual extraímos o ser. Temos a sorte, nós que somos casados, de viver esta relação num contexto e com um ser privilegiado, ao qual estamos liga-

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dos por uma palavra, uma promessa, " sim, para sempre ", que pronunciamos diante de Deus, e que a transformou em sacramento, cujo sinal permanente é o amor de nosso cônjuge . Entretanto, o amor que é relação implica em comunicar-se, o que, no quadro da vida conjugal, leva a um intercâmbio entre um homem e uma mulher e, portanto, tem um caráter sexuado. Esta linguagem é múltipla. Em primeiro lugar é a palavra, mas é também a vida de cada dia e as coisas, grandes ou humildes, os gestos de ternura, que cada um faz pelo outro. E existe uma linguagem privilegiada que nos permite dizer-nos o nosso amor: a união dos corpos ou ato sexual, que pode expressar o quanto nos amamos . Mas para que isso aconteça, é preciso, primeiro, que esta linguagem seja evangelizada. Penso que por esta expressão que nos é proposta, devemos entender, acima de tudo, que seja marcada pela Verdade. O que não é assim tão natural, pois todas as linguagens podem ser fontes de mentira. Logo, isto significa que meu " sim" deve ser " sim" - o amor conjugal só pode ser fiel e único - e que o dom que faço de mim seja sem reserva, sem egoísmo, sem enganação, sem divisão. Assim, o amor que Deus tem por mim e que me transmite por meu cônjuge, poderá conduzir-me pelo caminho para a vida e pelo caminho para a felicidade (mesmo com períodos de sombras) , e poderei dizer a meu cônjuge, e por meio dele, a Deus: - "Você me ama, logo eu sou", o que deverei imediatamente completar dizendo: - " Eu te amo, para que você seja" , sem o que estaria me fechando numa exploração egoísta do amor do meu cônjuge só para meu aproveitamento pessoal. Pode parecer exquisito dizer isso a Deus, que se definiu pelo nome de " Eu Sou" , a não ser que, conforme a expressão de Varillon, Deus se tenha feito totalmente humilde, ao ponto de tornar-se dependente de sua criatura; - e também "Nós nos amamos para que eles sejam". Eles, os filhos, os outros, os nossos próximos. Senão, o nosso amor corre o risco de patinar, de se ressecar, deixando de ser um dos vínculos pelos quais o Amor de Deus pode se extender pela terra. Eis o que me parece significar " evangelizar a sexualidade", para torná-la um caminho de amor, de felicidade e de santidade. Para tanto, esse caminho precisa procurar ser uma volta à Fonte, em direção Àquele que nos diz: "Eu sou a Vida, a Verdade, o Amor, a Alegria". Roland Maraud (extraído da Carta Mensal francesa)

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QUESTOES ATUAIS

Continuamos aqui a publicação, iniciada em setembro, da síntese das resposta à consulta da CNBB.

RESPOSTAS A CONSULTA DA CNBB

sobre PASTORAL FAMILIAR 7.• Pergunta: - A evangelização da família precisa estar articulada à pastoral de conjunto da Igreja. Operacionalmente, como se faz ou como pode ser feito isso?

PONTOS CITADOS

COMENTÁRIOS

Criar um "órgão pensante" para análise do entrelaçamento das pastorais; - articulação dos movimentos familiares; - articulação das diversas pastorais. Há falta de informação das famílias a respeito das diversas pastorais. Há falta de informação das demais linhas de pastoral a respeito da pastoral da família. - Maior apoio do clero aos movimentos familiares. Maior inserção dos movimentos familiares nas diretrizes pastorais. - Integração; não marginalizar ou apenas tolerar a pastoral da família; levar as demais pastorais a se voltar para o matrimônio e a família; atenção prioritária da Igreja para a pastoral da família.

- E urgentíssimo que nos coloquemos em oração constante para compreendermos qual é a vontade de Deus na solução dos casos e como devemos agir para sermos instrumentos eficazes. - E preciso definir a funcionalidade da pastoral; buscar os objetivos que se quer alcançar. - Poucos sabem o que é a pastoral de conjunto da Igreja. Todos os cristãos devem receber mais informações a respeito. - E preciso inserir a pastoral familiar nas demais pastorais. Ou inserir a "questão familiar" nas diversas pastorais. - Se a família, qualquer que ela seja, não receber uma atenção prioritária da Igreja, todas as demais pastorais já partem de uma situação de evidente desvantagem e dificuldade.

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Pergunta: área pastoral?

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O que esperam os casais e as famílias da Igreja, nesta

Receber prioridades, definições, -

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Existem muitos leigos dispostos

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orientações, subsídios mais claros, para colaborar melhor. - "Ser Igreja", e não simples destinatários passivos. - Mais preocupação na formação de agentes de pastoral; não simplesmente delegar e mandar fazer. - Abertura maior da Igreja para crescer como cristãos adultos e responsáveis. - Mais unidade de pensamento e de ação na pastoral da família. - Maior valorização da família como "Igreja Doméstica". - Mais apoio para os movimentos familiares. Estímulo ao seu crescimento. - Maior ajuda espiritual conjugal e familiar . - Visão mais clara do casamento na perspectiva do amor, da felicidade e da santidade. - Revisão dos conceitos ligados à moral e à ética familiar. - Maior aprofundamento da antropologia do casal, levando a uma melhor vivência psico-sextial dos casais.

a colaborar, mas não sabem como nem onde. - A maior dificuldade de nossas famílias em viver os valores cristãos é a falta de firmeza com esses valores, porque o clero e muitos responsáveis por pastorais dão a impressão de um relativismo muito grande quanto à moral. - E preciso que haja orientações claras, de acordo com a realidade do tempo atual, sobre educação dos filhos, controle da natalidade, sexualidade. - A Igreja precisa ajudar mais os casais e a família a encontrar a sua própria identidade nos dias de hoje. -Nos movimentos familiares existem agentes pastorais que devem ser melhor aproveitados, valorizando assim, a partir deles, a família e a pastoral da família. - As pessoas, principalmente os casais, precisam ser sujeitos de transformação, a partir do conhecimento de seu papel e importância dentro da Igreja e como Igreja. - E preciso que a Igreja ajude os casais a ver com clareza o Plano de Deus sobre a família. - As mudanças estão sendo rápidas e contínuas. Começou a haver muito ativismo sem oração; muita humanidade sem mística; laicato sem catequese. - Urge catequizar com simplicidade; urge criar uma teologia que seja facilmente compreendida; urge falar dos lírios do campo; urge falar de Deus, de toda a sua sabedoria, de todo o seu amor, para que os homens possam melhor amá-lo e serví-lo. 14-


QUESTOES ATUAIS

AMOR E SEXUALIDADE A palavra de Deus convida repetidas vezes os noivos a alimentar e robustecer o seu noivado com um amor casto, e os esposos, a sua união com um amor indiviso. E também muitos dos nossos contemporâneos têm em grande apreço o verdadeiro amor entre marido e mulher, manifestado de diversas maneiras, de acordo com os honestos costumes dos povos e dos tempos. Esse amor, dado que é eminentemente humano - pois vai de pessoa a pessoa com um afeto voluntário compreende o bem de toda a pessoa e, por conseguinte, pode conferir especial dignidade às manifestações do corpo e do espírito, enobrecendo-as como elementos e sinais peculiares do amor conjugal. E o Senhor dignou-se sanar, aperfeiçoar e elevar este amor com um dom especial de graça e caridade. Unindo o humano e o divino, esse amor leva os esposos ao livre e recíproco dom de si mesmos, que se manifesta com a ternura do afeto e com as obras e penetra toda a sua vida e aperfeiçoa-se e aumenta pela sua própria generosa atuação. Ele transcende, por isso, imensamente a mera inclinação erótica, a qual, fomentada egoísticamente, rápida e miseravelmente se desvanece. Este amor tem a sua expressão e realização peculiar no ato próprio do matrimônio. São, portanto, honestos e dignos os atos pelos quais os esposos se unem em intimidade e pureza; realizados de modo autênticamente humano, exprimem e alimentam a mútua entrega pela qual se enriquecem um ao outro na alegria e gratidão. Esse amor, ratificado pela promessa de ambos e, sobretudo, sancionado pelo sacramento de Crísto, é indissoluvelmente fiel, de corpo e de espírito, na prosperidade e na adversidade; exclui, por isso, toda e qualquer espécie de adultério e divórcio. A unidade do matrimônio, confirmada pelo Senhor, manifesta-se também claramente na igual dignidade da mulher e do homem que se deve reconhecer no mútuo e pleno amor. Mas, para cumprir com perseverança os deveres desta vocação cristã, requer-se uma virtude notável; por este motivo, os esposos hão de, fortalecidos pela graça para levarem uma vida de santidade, cultivar assiduamente e impetrar com a oração a fortaleza do próprio amor, a magnanimidade e o espírito de sacrifício. (Gaudium et Spes, n.u 49)

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CAMINHANDO COM A IGREJA

CRITÉRIOS DE ECLESIALIDADE DOS MOVIMENTOS FAMILIARES Iniciamos aqui a publicação de um novo texto de D. Raimundo Damasceno Assis, de grande atualidade para as Equipes de Nossa Senhora.

Quais são os critérios para que possamos dizer que uma associação, um trabalho, um serviço associado ou solidário de cristãos pode merecer a denominação de eclesial? Quais são os critérios que devemos considerar para discernir então sobre a condição de eclesialidade de um movimento familiar? A Exortação Apostólica Christifideles Laici nos propõe diferentes critérios, que nos permitem fazer esta reflexão tão importante sobre as Equipes de Nossa Senhora. Até que ponto os casais equipistas estão agindo como Igreja, estão agindo solidariamente como Igreja? Consideremos os seguintes critérios. a)

O primado dado à vocação de cada cristão à santidade.

Os movimentos ou grupos católicos não constituem um fim em si mesmos. Devem levar seus integrantes à santidade. Devem ajudar no cumprimento da missão da Igreja no mundo. Os movimentos, portanto, como um trabalho apostólicos e pastoral, querem ajudar e se colocam na perpectiva de ajudar seus integrantes a cumprir a missão da Igreja no mundo. Nós não nos tornamos equipistas apenas para ser equipistas. As ENS não são um fim em si mesmas. As ENS, enquanto um movimento de Igreja, devem ajudar os casais a dar um testemunho de fé, um testemunho de que o sacramento do matrimônio é uma condição essencial para a santificação do casal, da família. As ENS devem ajudar para que a fé dos casais cristãos permeie toda a vida, permeie o dia-a-dia da vida conjugal e familiar, de tal modo que, seja qual for o lugar, os casais sejam testemunhas do Cristo, a prese.nça da Igreja. Em outras palavras, um movimento familiar apenas tem razão de ser quando ajuda os casais e as famílias a serem cada vez mais cristãos; isto é, serem cada vez mais santos . Ninguém pode se fechar dentro de um movimento, contentar-se apenas com o que é solicitado ou proposto pelo movimento como tal. -

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Se o movimento não está ajudando o casal a crescer espiritualmente, a ligar fé e vida, a ser uma presença mais viva da Igreja no mundo, na comunidade, na família, então está faltando alguma coisa a este movimento. Está faltando um critério de eclesialidade. Quem se associa a um clube esportivo, por exemplo, não tem por objetivo tomar-se melhor em sua missão apostólica, a crescer em santidade. Quem se filia a um sindicato terá por objetivo, acima de tudo, defender interesses de classe, defender-se contra certos prejuízos que as relações entre o capital e o trabalho produzem. cular e os casais como um todo a cumprir com sua missão na Igreja? O que se faz no movimento visa, sobretudo, a santidade do casal, da família? Será que o movimento das ENS está ajudando cada casal em partiIsto é que nos deve questionar como equipistas. Muitas vezes pertencemos a uma equipe porque gostamos, porque temos bons amigos, porque nos sentimos mais protegidos contra certos males do mundo, porque podemos nos auxiliar em momentos difíceis, porque em grupo nos fortalecemos e nos animamos. Tudo isto está bem! Mas, será que o movimento está ajudando os casais equipistas a crescer em santidade, a crescer na vida cristã, a cumprir melhor a missão da Igreja na sociedade como casal e como família? b)

A responsabilidade em professar a fé cat6lica.

Todos os movimentos de fiéis leigos devem ser um lugar de anúncio e de proposta da fé. Isto é, um lugar de anúncio do Evangelho e de proposta de educação na fé, de aprofundamento na fé, de respeito pelo seu conhecimento integral. Qual é a preocupação que existe com o estudo do tema nas ENS? E uma preocupação de aprofundar a fé, os conhecimentos dos casais. E isto tudo com o seguinte objetivo: ser anunciador da fé e professar esta mesma fé publicamente. Isto é muito importante. Será que os nossos movimentos familiares estão realmente ajudando os casais a crescer na fé? Será que o Evangelho está sendo anunciado dignamente? Será que estão sendo lugares privilegiados de acolhimento do anúncio de Cristo? Será que estão sendo uma oportunidade para educar os integrantes na fé? Isto porque a fé é um processo de crescimento e de aprofundamento contínuo. Então, será que as ENS estão realmente ajudando os casais a professar a fé católica com todas as suas exigências? Este é um outro sinal de eclesialidade. c)

Testemunho de uma comunhão s6lida e convicta, e relação filial com o Papa e com o Bispo.

O Papa é o princípio visível e o fundamento da unidade da Igreja. Da mesma forma que o Bispo na Igreja particular, isto é, na Diocese. -17-


Estes são elementos essenciais do apostolado cnstao. Por isto, só podemos entender um movimento como sendo de Igreja quando os seus integrantes ou participantes estão em comunhão sólida e convicta com o Papa e com o Bispo da Igreja local. Esta é outra característica importante de eclesialidade de um movimento. Se alguém não considera o Papa e o Bispo importantes, se alguém não quer saber deles, se alguém diz que eles não têm influência alguma na sua vida cristã, se alguém diz que eles não têm autoridade alguma e o que falam não tem importância para os fiéis cristãos, esta pessoa não participa ou não está em nenhum movimento da Igreja, porque não caminha como Igreja, porque não está em sintonia com ela. Esta pessoa pode participar de qualquer outro tipo de associação, menos de um movimento de Igreja. Isto porque a Igreja é uma comunhão orgânica, onde existe uma diversidade de membros e de funções, mas em completa unidade. Na Igreja não se discute quem é mais importante ou menos importante. Quem é mais digno ou menos digno. Deus não faz acepção de pessoas, porque todas são dignas perante Ele. Todas são criadas à Sua imagem e semelhança. Todas são herdeiras do Reino de Deus. Todas foram salvas por Jesus Cristo. Contudo, cada membro tem funções diferentes. Mas a dignidade é a mesma. No juízo, o Senhor não vai fazer acepção de pessoas. Apenas vai perguntar a cada um se cumpriu bem a sua função, se fez tudo por amor. A comunhão é importante, porque representa a cooperação dos diversos apostolados sob a coordenação dos pastores, mas conservando a índole própria de cada movimento, de cada serviço, de cada pastoral, de cada participante. Se a comunhão é orgânica, ela deve estar vinculada aos pastores ou coordenada pelos pastores. Não pode, por isto mesmo, haver disputa, competição entre os membros da Igreja, entre os movimentos. Não podemos brigar entre nós. Deve haver uma harmonia apostólica entre todas as funções. Se tiver que haver algum tipo de competição, esta competição deve ser quanto ao zelo apostólico, zelo missionário. A única disputa permitida é ao nível do amor, da caridade. Fora disso, seria discriminação. Já imaginaram o corpo humano funcionando na base da disputa, da competição entre si de cada membro? Todas as partes são igualmente importantes para esta tão necessária unidade harmoniosa. Basta a doença em algum dos órgãos do corpo humano para todo o resto ser atingido, por menor que seja o membro. Isto mostra que todas as partes são importantes. Este, pois, é outro critério de eclesialidade dos movimentos. (continua)

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ESPIRITUALIDADE CONJUGAL E CAFe COM LEITE

Se tivéssemos recebido, recentemente, algum prêmio de literatura, estaríamos cometendo uma ·barbaridade literária", porém, como pertencemos às ENS, sentimo-nos à vontade em dizer: "O que tem a ver o café com leite com a espiritualidade conjugal?" A expressividade do seu sentido não é nova, nem tampouco nossa. Num curso de "Comunidade e Diálogo", do Movimento por um Mundo Melhor, Cesáreo Pedrosa, aqui em Sevilha em 1976, explicou-nos e ficou muito claro para o grupo de 60 pessoas que éramos na ocasião. Por isto nós o acrescentamos às palestras que vimos dando por mais de 20 anos. O CAFt é um líquido quase negro, aromatizante, de grato sabor, e bioenergizante, somente para citar algumas de suas qualidades. O LEITE é outro líquido, nutritivo (o único alimento completo) e de agradável ingestão. Porém . . . o CAFt COM LEITE já não é somente uma coisa nem outra, mas trata-se, simplesmente de. . . CAFt COM LEITE! Neste sentido metafórico mas muito verdadeiro, o cristão que quer viver sua espiritualidade na unidade de seu matrimônio, tem que viver sua Fé e Compromisso, como o café com leite. Não pode ·decantar-se" e por um lado realizar-se em seu ambiente profissional, social e familiar de uma forma e por outro, com relação à sua Fé "cumprir fielmente" seus deveres religiosos de Eucaristia, exercícios espirituais, reunião de equipe, etc. Não, aqui não cabem ambiguidades ou ·religião sob medida para cada um". A Espiritualidade Conjugal não é somente· o casal ir à missa junto, o que aliás, é muito bom e deve ser praticado. A espiritualidade cristã do casal baseia-se em ser um só em amor e em agir, diariamente e a cada minuto, como Jesus faria se estivesse em nosso lugar. A espiritualidade não é feita de atos isolados como, por exemplo, participar de uma novena, mas sim uma atitude permanente; de forma constante de ser e de viver na única maneira e finalidade que tem um casaal unido pelo sacramento do matrimônio. Marido e mulher convergindo para esta meta comum (não olharem-se um ao outro individualmente, mas os dois olhando para a frente, para Deus), o cristão é ·café com leite" e não somente ·café" (que poderia ser sua dimensão religiosa) nem somente "léite" (sua atuação familiar, social, etc.) e, portanto, ambas as coisas.

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O cristão , pelo fato de sê-lo, tem seus deveres espirituais próprios, como se1l melhor em seu trabalho, preparar-se para fazê-lo cada vez melhor, ser um bom cidadão, respeitar a lei, agir com justiça, fazer-se solidário ao próximo e a seus companheiros , etc . Como cristão casado deve-se adicionar a esses deveres, ser um esposo(a) perfeito(a), desejar o melhor· para seu cônjuge , ser generosos e compreensivos e, se tiverem filhos, amá-los e educá-los na Fé, mais com seu testemunho de vida do que com "sermões ". Para ser bons cristãos ou casal comprometido em sua religiosidade terão que alimentá-la, prepará-la , impulsioná-la, formar-se, compreender-se para poder perdoar-se diariamente marido e mulher, ajudar-se na realização da vocação um do outro e tantas outras atitudes mais que todos conhecem (mesmo que não as cumpramos!) Para tudo isto temos o único que , em verdade , pode ajudar-nos a conseguí-lo: a ajuda de Deus que no Matrimônio e em seu Sacramento comprometeu-se a ser UM COM O CASAL. Deus nunca abandona o casal mas é este que, às vezes , Lhe dá as costas para "agir mais livremente " ou mais egoisticamente. ~ aqui , neste ponto, que o casal para manter-se em forma, necessita de meios de apoio para poder melhor comprometer sua vida cristã . A Eucaristia deve ser sacramento habitual do casal, até diário se possível. Não dizemos que se deixe o trabalho para freqüentar a Eucaristia, mas sim hierarquizar valores e planejar a vida da família para que " sobre um tempo" para isso. A Oração Conjugal , como tanto ins iste acertadamente o Movimento, ainda que seja curta . São maravilhosas as orações longas , interativas, porém a Deus, se o casal está muito sobrecarregado em seus afazeres , basta que o casal Lhe dirija algumas palavras juntos , ao deitar-se ou em qualquer outro momento, sejam de louvor, de perdão ou de pedidos do casal. A leitura das Escrituras, juntamente com os dois pontos anteriores, constitui-se na forma mais elementar de alimentar a nossa Fé. Acrescente-se a eles o que propõe as ENS em sua " Carta Fundadora" e na " Segunda Inspiração " e teremos um " programa completo" paar o casal progredir. Mas, por Deus , lembremo-nos do "Café com leite ". Não sejamos apenas uma coisa ou a outra, porém , cristãos autênticos que somos "café com leite ". Isto sim é que é a verdadeira espiritual idade conjugal . Enrique Romero (ENS de Sevilha-Espanha) (Traduzido da Carta Mensal espanhola , n.0 139, malo-junho/ 90)

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A PALAVRA DOS CONSELHEIROS ESPIRITUAIS

MINISTROS DA VIDA Como ministros da vida, os pais são os que geram no amor e por amor uma nova pessoa; um novo ser humano, que traz em si a vocação ao crescimento e ao desenvolvimento. Eis porque os pais assumem necessariamente o dever de ajudar, de maneira eficaz, os seus filhos a viver uma vida plenamente humana, São os pais os primeiros e principais educadores, depois de transmitirem a vida aos filhos. Esta educação pessoal e social dos filhos deve acontecer num ambiente animado pelo amor para com Deus, e, ao mesmo tempo, para com o próximo. O Papa João Paulo 11 chama a isso direito-dever dos pais e o qualifica de essencial, porque ligado à transmissão da vida. Qualifica também de insubstituível e inalienável. Acima de tudo quanto se possa pensar, está o elemento mais radical que é o amor paterno e materno, a qualificar o dever dos pais na educação dos filhos. Assim os pais realizam a sua missão de educadores, tornando pleno e perfeito o serviço à vida, da qual são eles os Ministros. Falando sobre a Missão da família cristã João Paulo 11 ensina que a educação dos filhos deve ser enriquecida com os valores seguintes: docilidade, bondade, serviço, desinteresse, espírito de sacrifício como frutos preciosos do amor. Além da educação para os valores essenciais da vida humana, "adotando um estilo de vida simples e austero", convencidos de que "o homem vale mais pelo que é do que pelo que tem", os pais cristãos recebem do sacramento do matrimônio a dignidade e a vocação de um verdadeiro e próprio "Ministério". da Igreja a serviço dos filhos. A propósito deste importante Ministério, é confortador lembrar o que Santo Tomás de Aquino já escrevera, comparando-o ao Ministério dos sacerdotes; "Alguns propagam e conservam a vida espiritual com um ministério unicamente espiritual: é a tarefa do sacramento da Ordem; outros fazem-no quanto à vida corporal e espiritual e é o que se realiza com o sacramento do Matrimônio, que une o homem e a mulher para que tenham descendência e a eduquem para o culto de Deus".

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Os pais cristãos precisam possuir esta consciência viva e atenta da missão recebida no sacramento do Matrimônio. Por quê? Para quê? Porque realmente são Ministros e para que possam dedicar-se com serenidade e confiança ao difícil serviço de educar bem os seus filhos, de maneira responsável diante de Deus por quem são chamados a edificar a Igreja nos filhos. Assim como a Igreja, também a Família torna-se a grande Mãe e Mestra pela Palavra e pelo Sacramento , oferecendo aos filhos todos os conteúdos necessários para o amadurecimento gradual da personalidade sob o ponto de vista cristão e eclesial, reforçando na alma destes o dom da graça divina . Tudo isso não é novidade, pois já está bem ensinado pelo Papa João Paulo 11 em sua preciosíssima Exortação Apostólica de 22 de novembro de 1981, sobre "A Missão da Família Cristã no Mundo de Hoje", onde os casais poderão aprender muito, principalmente porque a obra educativa deve ser realizada numa sociedade agitada e desagregada por tensões e conflitos em razão do violento choque entre os diversos individualismos e egoísmos dominantes nos dias atuais. PE . A. A . PADOVANI Conselheiro Espiritual da Equipe 09 Ribei rão Preto/SP

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O PORQUE DA SEGUNDA INSPIRAÇAO Sobre minha mesa de trabalho, uma pequena e simples imagem de Nossa Senhora de Lourdes recorda-me aqueles dias de Setembro de 1988 em que, convocados pelas Equipes de Nossa Senhora, um elevado número de casais e de conselheiros espirituais, acorremos ao sul da França, vindos de todas as partes do mundo. Ali nasceu a Segunda Inspiração, este segundo impulso de que nós, das ENS, estávamos necessitando para difundir melhor, a partir de nosso matrimônio, o gôzo e a luz de estarmos casados e de amarmos como Cristo ama a sua Igreja. Isto é, viver uma espiritualidade conjugal que, sustentada pela prática dos métodos e meios que nos são próprios, dê os frutos do seu apostolado. Ocorre-me, agora, indagar-me do que foi feito, desde aqueles dias, daqueles belos própósitos. Como estamos dando a conhecer o porque e o para que da 2.a Inspiração e como permanecem, em nossa lembrança, aquelas emoções vividas a "golpes de coração": a Procissão das Tochas, com o lindíssimo canta da Ave Maria ressoando na escuridão iluminada da noite; os veículos dos inválidos conduzidos por enfermeiras voluntárias que eram vistas por toda a parte com uma admirável doçura e serenidade em seus rostos, tendo já se realizado nos enfermos o grande milagre da aceitação e do oferecimento do seu sofrimento; as ruas de Lourdes, do outro lado do Rio Gave de Pau, todas elas com suas lojas cheias de lembranças, com nomes estranhos para os peregrinos:·· Rua da Gruta, Rua do Calvário, Avenida Bernardette. . . Logo, a moderna Basílica de São Pio X, escavada no subsolo, repleta e transbordante de casais e de conselheiros das Equipes, reunidos na alegria e na esperança da Fé; o dia em que fizemos a Via Sacra seguindo as quatorze estações e as impressionantes figuras que encimam o Monte do Calvário ... e a Gruta! Nela a paz, o silêncio e o amor. Uma paz que faz maior o sereno pulsar dos corações. Um silêncio que faz maior a oração apenas sussurrada. E um amor que adere no mais profundo da alma do peregrino. Não há palavras para descrever o que se sente alí, naquela atmosfera especial. Não vou sequer tentar. Somente posso dizer que se trata de um pequeno pedaço do Céu na Terra, onde a união com Maria, resulta tão simples e se sente tão profunda, tão doce e tão clara como o sereno murmúrio da água na gruta.

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Agora, lançamos nossa vista para trás, para aquele dia em que alguém , um bom amigo, nos propôs que viessemos a ingressar nas Equipes e se vê como crescemos em nossa espiritualidade conjugal. Cada um de nós percorreu, sem dar-se conta, um largo caminho. Sim , fomo-nos tornando mais sensíveis às coisas de Deus. Agora percebemos melhor que embora não tenhamos caminhado pouco, falta muito ainda a percorrer. A 2.8 Inspiração vem nos dizer que, através dos métodos e dos meios das ENS, chegou o grande momento do casal cristão no mundo. Basta, para certificar-se disto, lançar um olhar ao redor, contemplar a sociedade que nos envolve . Sabemos que existem casais esforçados e generosos que, roubando horas de seu merecido descanso, doam-se aos outros sem medida. Porém "a messe é tão grande e os operários tão poucos!". Estão faltando "pilotos " para equipes de casais e para equipes de jovens. As paróquias, os cursos de preparação para o casamento, a catequese , os colégios de nossos filhos nos esperam . Maria nos urge e temos que dizer SIM como ela , mesmo sem compreender, disse SIM a Deus. Não podemos, portanto, pretender estar muito bem preparados e nada fazer para nos prepararmos . Não podemos aguardar um pouco mais para começar a fazer as coisas . Deus proverá tudo o que nos falta , por muito que seja. Nossa oração conjugal, nosso dever de sentar-se, nossa regra de vida , nossos diversos encontros e reuniões de equipe, nossa prática dos Sacramentos hão de levar-nos ao compromisso. Porque as desculpas não são válidas para Deus. Ele não mede nossas ações com parâmetros humanos (saberei fazê-lo?; ficará bem?) . Tenhamos viva a esperança ; ponhamo-nos em marcha e confiemos. Para que não aconteça que, ao fim, o que nossos filhos aprenderão de nós será fechar-se numa couraça de comodismo e de egoísmo . Isto é algo do muito que a "Virgenzinha " de Lou rdes quis dizer a nós todos. Aos que estiveram ali e aos que não puderam ir. Para isto nos levou de todos os pontos do mundo até seu "pedaço do Céu na Terra ". Para dizer-nos que nos espera para ajudarmos Cristo a redimir o mundo. Quando nos cruzávamos pelas ruas de Lourdes, os casais de tantos países , com os lenços identificando nossas nacionalidades amarrados ao pescoço, os olhares e os sorrisos cordiais pareciam dizer: " estamos na mesma barca, os nossos métodos são os mesmos, a mesma é nossa vontade de sermos úteis". Não éramos estranhos mas, sim irmãos. Ainda que nunca mais venhamos a nos encontrar nesta Terra, o que isso importa? Através das montanhas imponentes , através das extensas planícies e dos mares, fomos regressando a nossas cidades, a nossos lares. Levavamos escondido no mais belo recôndito de nossos sentlments o que não pode ser descoberto por nenhuma alfândega : o desejo

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de servir, de bem utilizar os meios que Deus põe ao nosso alcance a cada dia. Esta foi a mensagem de Lourdes. Algo que já sabíamos mas em que, talvez não quiséssemos pensar. De sua gruta, no sul da França, Maria, a Imaculada Conceição disto nos recorda. Ela é, por que assim o proclamamos diariamente, NOSSA SENHORA DAS FAMrLIAS. Casal de La Hera Espanha (Traduzido da Carta Espanhola n.0 139, malo-junho/90)

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t HORA DE BALANÇO A cada ano somos convidados a .parar e refletir sobre nossa adesão às Equipes de Nossa Senhora. Vemo-nos diante da seguinte pergunta: Por que estamos, nós dois, nas Equipes de Nossa Senhora? Sabemos que a Equipe é uma comunidade cristã de casais onde se acolhe o amor que Cristo nos comunica para ser vivido e irradiado. Sabemos dessas e de tantas outras afirmações! Mas, o importante, aqui e agora, nesse tempo de balanço, não é simplesmente sabermos, mas procurarmos descobrir se estamos vivenciado esta proposta! Para viver e comunicar esse amor o Movimento nos apresenta os Pontos Concretos de Esforço para ajudar-nos a progredir no sentido de objetivo comum que nos propusemos. O que nós, equipistas, temos pela frente é o ideal de perfeição: fomos chamados a viver e testemunhar ao mundo, como casal, o amor de Deus. Se não damos à vivência dos Pontos Concretos de Esforço essa importância, nossa equipe pode ser um grupo amigo que se quer bem e tem prazer em estar juntos mas com certeza não é uma Equipe de Nossa Senhora. Se questionamos a validade da leitura do tema, o dever de sentar-se, o sentido da oração conjugal e familiar, se não sentimos necessidade de uma regra de vida, se não priorizamos a parada de 48 horas por ano para refletir sobre nossa vida num retiro espiritual, se nada disso para nós é vital e necessário, não existe razão em estarmos no Movimento. Aproveitemos esse tempo e, em profunda oração, roguemos a Jesus e a Maria que nos ajudem a descobrir nossa verdadeira vocação. Mergulhemos em nós mesmos e meditemos sobre nossa presença em equipe, se estamos contribuindo e se estamos caminhando. Analisemos se estamos e como estamos irrradiando esse amor como casal unido pelo Sacramento do Matrimônio. Regina Lucia e Cleber Rio de Janeiro - Eq. 60/1

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40 ANOS

AS ENS: DOM DE DEUS PARA OS CASAIS Neste ano, de 1990, comemoramos 40 anos de Movimento no Brasil, que coincide com toda essa vibração da Segunda Inspiração. As ENS representam um grande Dom de Deus para os casais equipistas e para toda a Igreja. O Movimento nos anima a vivermos, como casal, a graça do Sacramento do Matrimônio. Não podemos ser um casal que se basta a si mesmo, mas que trabalha para o reino de Deus. Que testemunha a vida, a alegria, a felicidade, a fidelidade ao matrimônio, a boa nova do Evangelho. Esta é uma forma de evangelizar o mundo. E aí cabe uma advertência: "Ai de mim se não evangelizar." Os casais equipistas, pela sua condição de cristãos batizados, são vocacionados e chamados para uma missão: através do casamento, colaborar na construção do Reino de Deus. Por isto, o carisma do movimento propõe aos casais viver uma espiritualidade própria em pequenas comunidades, buscando a santidade. Na sua pedagogia, usa os seguintes meios para alcançar os fins propostos: reunião de equipe, vivência dos pontos concretos de esforço (PCE) e a partilha. O movimento enquanto Igreja, quer suscitar uma vocação verdadeiramente missionárias nos casais equipistas, para que se coloquem a serviço dos outros casais e famílias, para que todos tenham vida plena. Esta vida plena, esta ânsia de felicidade é uma conquista diária, que se realiza: através de um profundo conhecimento do ser individual e do ser casal, que participa ativamente e com coragem na construção de um mundo melhor; através de uma vivência plena de cada momento da vida, como um momento novo; através de uma vivência do Deus que convida para uma "vida de abundância". As ENS nos propõem viver uma espiritualidade, que não é propriamente de grupos seletos ou minoritários, mas que representa uma maneira de estar no mundo, nos acontecimentos, deixando-se conduzir pelo Espírito Santo. A espiritualidade conjugal representa um buscar de viver a dois, como casal, a vontade de Deus em todos os aspectos da vida. Mas esta espiritualidade tem um objetivo: viver a santidade a dois, que significa esforçar-se para viver a Graça Santificante em todas as circunstâncias da vida. -27-


O lugar para se viver e encarnar esta santidade é na própria comunidade, no mundo. Para viver esta espiritualidade mais profundamente, o Movimento nos propõe os pontos concretos de esforço e a partilhar, por meio de três atitudes que devem nortear nossos atos, nossa vida de oração e de ação: A procura assídua da vontade de Deus; A procura da verdade; A vivência do encontro e comunhão. Madalena e João Baptista Casal Responsável do Setor de Limeira/SP

NOSSA BIBLIOTECA

Acaba de ser publicado, pelas Edições Loyola, o livro AMOR DE OUTONO- Encontros de Casais, que é a transcrição de um "Encontro de Outono" pregado no final de maio de 1987 pelo Pe. Paul-Eugene CHARBONNEAU. O livro vem apresentado pelo casal Martha e Carlos Rosman, equipistas da primeira hora do Rio de Janeiro e traz o testemunho do Pe. CORBEIL - também Conselheiro Espiritual dos primeiros de São Paulo - sobre o autor. O livro, como o Encontro, destina-se a casais com 25 anos ou mais de casados, aos quais o Pe. Charbonneau fala de "como envelhecer no amor, sem nos deixar ficar velhos". Apenas uma pequena ressalva. A página 50, o livro cita o Pe. Charbonneau dizendo que o Pe. Corbeil fundou o Movimento das ENS no Brasil. A inestimável contribuição que o Pe. Corbeil trouxe ao Movimento é bem conhecida dos equipistas mais antigos. Ele vem acompanhando, há quase 40 anos, uma mesma equipe em São Paulo. Mas o que o Pe. Crarbonneati esqueceu é que a primeira equipe, no Brasil, foi fundada em 1950 pelo casal Pedro e Nancy Moncau e contou com o Pe. Oscar Melanson, como primeiro Conselheiro Espiritual efetivo. O livro de D. Nancy - "Sentido de uma Vida" - descreve bem como tudo isto acontc:ceu. Quem sabe, numa próxima edição, uma notinha a este respeito poderá completar o valioso livro do Pe. Charbonneau .

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O REINO DE DEUS Temos aqui duas visões do Reino de Deus: a primeira, na palavra de uma jovem e a segunda, na resposta ao tema de um casal.

O reino de Deus não está na beleza dos templos; nem na grandeza das palavras, está dentro de nós. O reino de Deus está na harmonia das forças e na magnitude do céu; está na amizade sincera e desinteressada; está no perdão da ofensa recebida .. . O reino da Deus está na firmeza de nossos atos e na força de vontade; o reino de Deus está no coração das pessoas que se doam em troca de um simples "obrigado", mesmo que calado no fundo da alma . . . Ele está na criança que chora porque a vida não lhe dá felicidade; está no sorriso de um idoso que sorri agradecendo a vida. O reino de Deus está na natureza, que o homem ainda não poluiu, está na fé que colocamos no nosso trabalho em favor de nossos irmãos. O reino Deus está em nossas conversas com Ele. nossos irmãos. O reino de Deus esttá em nosas conversas com Ele. Enfim, o reino de Deus está em tudo o que construímos de bom. Basta tentar, basta querer, basta saber procurar . .. Lilian Virgínia de Abreu Belo Horizonte/MG

Nós nos detivemos muito sobre " o reino de Deus aqui e agora". Mesmo tendo já feito um Retiro· centrado no tema, a verdade é que temos a impressão que na prática nunca nos tínhamos dado conta de que esse Reino resume toda a missão e todo o legado de Jesus Cristo. E nunca é demais pensar que é meditando na mensagem de Jesus, e só nela, que a gente tem a chance de penetrar nos sentimentos de Deus a respeito do mundo que nos cerca, das pessoas e das coisas que recheiam nossa vida. Sem subestimar o Reino futuro (que também nos cutuca), nós dois batemos muito na tecla da conversão AGORA em função da construção do Reino de Deus AQUI em nossa casa, no trabalho,

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onde pudermos atuar. Achamos que sempre temos algo que mudar na direção dessa obra divina, lá onde os frutos do amor, compaixão, justiça e todos os valores de Deus seriam concreta e totalmente realizados . Primeiro, nós nos propomos mudar, com mais consciência e perseverança , da posição de comodismo e belas razões subjetivas, para o lugar dos outros. Os outros com quem vivemos e trabalhamos, os outros que sofrem e lutam, também os outros que praticam a injustiça e violam os direitos humanos. Os outros que comungam da nossa fé e também os que fazem da satisfação de seus desejos mundanos a único deus a quem prestam adoração. Depois, nós nos propomos combater o individualismo, "lendo os sinais dos tempos, aprendendo a criticar o mundo em que vivemos " e até cultivando com mais assiduidade~ o espírito de oração comunitário , a começar entre nós dois. Aos poucos vamos entendendo que o Reino de Deus' só será possível com o trabalho, o estudo e a oração em grupo, ainda que o grupo seja constituído apenas de marido e mulher. Cremos que é na família solidária também na oração, que está o germe, a tal semente do Reino de Deus . Dulce e Manuel Eq . 9-A - Rio I Obs .: Resposta ao tema de estudo · Espi ritual idade da Justiça e do Amor ·, Albert Nolan , OP (Edições Paulinas)

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TESTEMUNHO

UMA REUNIAO DE EQUIPE Sim ... a Equipe está reunida, somos sete casais ao redor da mesa guiados pela Bíblia, que nos indica o caminho que nos levará a nossa almejada meta: a santidade. Temos um padre que nos orienta, que abençoa os alimentos e seguimos um roteiro: todos os equipistas sabem disto. Existem reuniões que são verdadeiros mares bravios, tais os problemas que surgem e que quase sempre são resolvidos à luz da palavra de Dus, outras são calmas como lagos .sem vento, e esta a que nos referimos é uma reunião tranquila sem ondas e ventos. Olho para os rostos de meus amigos, realmente amigos de puras amizades que não esperam trocas, amizades Çlesinteressadas, alí uma palavra, acolá um aparte e a reunião se desenrola numa calma impressionante, esta é uma reunião realmente insólita. E nesse bem estar me perco num devaneio, que foi antecedido pela compreensão e pela espiritualidade do grupo. Ameaça chuva, o vento entreabre uma janela e ondula suavemente a cortina simples , um trovão estoura la fora e na minha mente, interrompe meu devaneio e me traz repentinamente uma frase. ONDE DOIS OU MAIS ESTIVEREM REUNIDOS EM MEU NOME EU ESTAREI ENTRE ELES . Estará entre nós? Claro que está entre nós, mas . . . e a Sua presença? Ah . . . aquela brisa que entreabriu a janela e ondulou suavemente a cortina simples . .. LINA e MARIO Equipe 01 - Piracicaba

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TESTEMUNHO

A ESCOLHA Sempre que lemos o Capítuld 15 de São João a emoção nos · invade. Nele, também, o Senhor afirma que nos diz aquilo que ouviu do Pai. Se pararmos para pensar e meditar especialmente sobre os versículos 16 e 17: "Não fostes vós que escolhestes, mas fui eu que vos escolhi" - sentiremos como é forte esta afirmação. Ora, a escolha do Pai é um privilégio, uma dádiva, um convite único e irrecusável para cooperarmos com a difusão e a prática de sua vontade. Mas, seus ensinamentos, tão ricos de lógica e amor, tão atuais, são ao mesmo tempo tão difíceis de serem seguidos. A fé que temos a graça de sentir nos estimula a fazermos de nossa vida uma prática constante daquilo que Ele nos pede. Ao convite do Criador, à essa escolha feita pelo Senhor do Céu e da Terra, não podemos responder com indiferença ou desânimo. Temos, antes , que nos revestir da coragem e da boa vontade do verdadeiro cristão. Podemos até fraquejar, recair no nosso comodismo, na nossa tristeza de atitudes para com os irmãos, com a Igreja e com Deus, mas levantarmos-nos, procurarmos a recuperação rápida e eficaz, conseguir uma elevação espiritual maior do que antes da queda, é nossa obrigação. Pensemos que somos sempre "os convidados do nosso próprio Criador" e que se O decepcionarmos não correspondendo 'à expectativa do Seu chamado, da -Sua escolha, estaremos perdendo nossos próprios valores mais elevados e, por conseguinte, candidatando-nos· a assistir a nossa própria dissolução como seres racionais e superiores da Natureza. Demos graças a Deus por Ele nos ter dado a fé e honremos a nossa condição de filhos escolhidos. Lúcia Helena e Fernando Eq. 9 - Recife/PE

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TESTEMUNHO

SEXUALIDADE Dia 25 de abril tivemos o prazer de assistir a uma palestra sobre sexualidade. Foi uma corajosa realização do Setor, visto que esse tema era um verdadeiro tabu dentro da Igreja e mesmo dentro das equipes, até que veio a Segunda Inspiração ... Hoje, sentimos que as equipes têm dificuldade para discutir esse tema, seja no EACRE (do qual participamos), seja nas reuniões mensais. Parece que sexualidade é sempre o último item da lista ... Ao mesmo tempo, negar ou esconder a sexualidade é negar uma parte importantíssima da expressão humana. Deixar de dis· cutir esse tema, talvez facilite o avanço abusivo das propagandas e dos programas de TV que substituem qualidade por • sex appeal" (onde a sexualidade vira um produto para ser consumido e o relacionamento sexual é posto acima do afetivo). Deixar de discutir esse tema certamente dificulta a educação dos nossos filhos, que crescem num ambiente diferente daquele que tivemos. Deixar de discutir esse tema dificulta também o entendimento do casar e o respeito mútuo. No meio de todo esse cenário surgiu a referida palestra, tra· zendo uma visão séria e bastante abrangente. Um dos pontos que mais nos chamou a atenção foi que a sexualidade só pode ser satisfatória na medida em que, no dia-a-dia do casal, houver o respeito mútuo nas pequenas coisas. Outro aspecto destacado consiste no fato da destrutividade conviver com o amor. Na maioria das vezes nos recusamos a perceber que estamos sendo destrutivos com a pessoa que amamos. E esta destrutividade inconsciente cria ressentimentos que distanciam o casal, tanto no aspecto emocional como no sexual. A nosso ver vários outros aspectos abordados mereciam ser refletidos por todo o movimento das ENS, por isso, na última reu· nião mensal, nossa equipe propôs realizar mais eventos como esse. Quem sabe, assim, mais casais poderão encarar esse tema de uma forma menos aftitiva, com a mente mais aberta para a Segunda e para novas Inspirações. Afinal. a vida é feita de incessantes sopros ... Ct:LIA e ERBIS Equipe 5· - São Paulo/SP 33-


TESTEMUNHO

.. REGRA DE VIDA" Entre os ·pontos concretos de esforço", método de aperfeiçoamento espiritual proposto pelas ENS, aí está um que, sem grandes dificuldades, podemos tocar para frente, com a animadora perspectiva de saldos sempre positivos: "Regra de Vida" . !:, sem dúvida, um ótimo investimento no sentido de auferir, a médio e longo prazo, bons dividendos quando, com paciência e determinação, desejamos extirpar, um a um, os nossos principais impedimentos ao progresso espiritual. Uma vez, porém, escolhido o ponto fraco a ser trabalhado, não podemos esquecê-lo nunca, nem negligenciar os nossos propósitos . Não raras vezes, temos que dar uma freiada brusca, para não cair no mesmo buraco ou, por vezes, morder a língua para ela não se soltar e dizer o que habitualmente dizia. Sentimo-nos bem quando notamos o progresso que nos anima a prosseguir. Começamos a nos convencer de que não é assim tão difícil modificar velhas estruturas, como a princípio imaginávamos: Damos os primeiros passos e logo descobrimos o caminho. Acontece, porém, que por vezes nos excedemos na própria confiança e assim cometemos erro de avaliação, pensando que podemos partir para outro porque "aquele problema" já foi superado; quando, de repente, o "joio", aquela graminha nociva, começa a vicejar no meio do "trigal". Eta barrinho fraco, esse de que somos feitos! Nem confiança ele merece. "Se eliminássemos um só dos nossos defeitos em cada ano, em breve atingiríamos a perfeição", disse Santo Tomás de Kempis. GRAZIELA e ELIAS Equipe 04 - Recife/PE (Transcrito do Nosso Mensageiro - Abril/90)

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TESTEMUNHO

O CRISTAO: SINAL E INSTRUMENTO DO AMOR DE DEUS !: firme nossa convicção que Deus ama a todos e a todos oferece a graça da salvação eterna. Escolheu grupos no Antigo Testamento e os cristãos no Novo com a finalidade de ser sinal e instrumento da vontade de Deus para a salvação de todos os homens. Somos, pois , portadores desse amor filial. Deus-Pai nos trata como a vinha de que fala lsaias (cap. 5,2) e o próprio Jesus como está escrito em Mateus (cap. 21 ,33), defendida com uma sebe e nutrida com o melhor humus. Mas esse privilégio é para que possamos mostrar aquilo que Deus intenciona para todos: o reino de Deus e a suprema felicidade de estarmos um dia na casa do Pai , juntos com todos os irmãos, reconciliados no seu amor. Mas, nós, cristãos nos tornamos cristãos-sinais na medida em que vivemos na realidade daquilo que pretendemos ser: Sinal do Amor que de Deus se antecipa no Reino para todos . Mas para que isso aconteça precisamos realmente viver na justiça, na verdade , honestidade e principalmente na solidariedade com os irmãos, pois todas essas coisas constituem os sinais da presença viva do Cristo-Ressuscitado entre nós. Não é suficiente sermos escolhidos ; é necessário que realmente vivamos em conformidade com o sinal que nos faz filhos de Deus, o batismo. Isto nos obriga a viver com maior intensidade uma vida de amor maior que os outros, mas para isso precisamos da força do Espírito Santo, que reforce em nós a unidade de vida e de missão, entre o sermos seguidores de Deus, comprometidos com tudo que é legitimamente humano. Somente com a graça do Espírito seremos aquilo a . que nos propomos: ser luz e sinal da misericórdia de Deus para com todos os irmãos, despojando-se de si mesmo, esvaziando-se do "eu" para melhor poder sintonizar com o " tu" e identificar-se com Ele. Só assim valerá a pena ser cristão, cultivando os mesmos sentimentos que foram de Jesus que nos fazem sair do homem velho para ser o homem novo, liberto e também libertador. OLGA e CL!:RICE Equipe 14 - São Carlos/SP

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BALANÇO FINANCEIRO Em vez de habitual apresentação da comparação entre Balanços anuais do Movimento, tendo em vista as mudanças do sistema das contribuições introduzida no início de 1990, resolvemos apresentar aqui um cotejo entre os primeiros semestres de 1989 e 1990. A demonstração é mais do que eloquente. Sensibilizados pelos inúmeros apelos feitos pelo Movimento e auxiliados pela nova sistemática das contribuições, os equipistas de todo o país resolveram ajustar sua participação financeira nas despesas. Destacamos aqui alguns pontos que se evidenciam na comparação. 1. Contribuição. Houve um crescimento real (em BTN's do 1.0 Semestre de 89 para o de 90 de 245%1 A participação da contribuição no total das receitas passou a representar quase 70%, em comparação com pouco mais de 50% no período anterior. A nível de contribuição por equipe por mês, o crescimento também foi expressivo: 241%. Isto significa que, em média, o casal equipista tinha, em junho de 1990, um rendimento mensal de Cr$ 51.516,00 em comparação com NCrl 596,86 em junho de 1989. Não cremos que os aumentos de salários fossem tão significativos, apesar da inflação. Parece-nos, isto sim, que as contribuições foram ajustadas à realidade ... 2. Despesas. Ao mesmo tempo, as despesas do Movimento só cresceram 165%, de um período para outro. E esta despesa já leva em consideração a publicação bem mais significativa de impressos doutrinários, em particular o livro dos documentos fundadores das E.N.S. 3. Fundo Patrimonial. Na Carta Mensal de Setembro de 1989, alertávamos sobre o constante decréscimo deste fundo, indispensável para a manutenção e o crescimento do Movimento e para a realização de seus projetos. No quadro demonstrativo constata-se que, pela primeira vez nos últimos anos, o fundo cresceu, e de forma substancial: 211%! Este crescimento está permitindo que todas as despesas decor· rentes do Encontro Nacional de Responsáveis, que se realiza neste mês de novembro em Itaici, sejam suportadas pelo Movimento e não mais pelos Setores, Regiões e Coordenações! Não pudíamos deixar de transmitir estas boas notícias aos equipistas nem de dar-lhes esta satisfação. Entretanto, não podemos esmorecer. O "jogo da verdade", neste campo como em todos os outros da vida de equipe, precisa continuar, nesta visão renovada que nos traz a Segunda Inspiração . -36-


EQUIPES DE NOSSA SENHORA -

BRASIL

Dados Financeiros Comparativos 0

1. Semestre 1989 x 1.0 Semestre 1990 Descrição

1.0 Semestre 89 Total BTN %

RECEITA Contribuição Recuperação Despesas ..... . Receita Patrimonial ....... . Total Receitas ....... .

42 197 2 366 36445 81 008

52% 3% 45% 100%

DESPESAS Encontros ............... . Carta Mensal ............ . lmpr. Doutrinários ....... . Salários e Encargos ...... . Despesas com a Sede ..... . Telefone ... ... ...... . ... . Correio e Fretes ......... . Material Expediente ...... . Diversos (*) ............. . Total Despesas ..... . .

13 594 8 689 2 959 9 204 4 324 939 3 122 1 367 1 609 45 808

30% 19% 6% 20% 9% 2% 7% 3% 4% 100%

FUNDO PATRIMONIAL Saldo Anterior ... ... ..... . ( +) Receitas . ........... . (-) Despesas .. .. ... .. . .. . (=) Saldo ... .. .. ..... . . . Contrib. I Eq'Qipe I Mês .. Dia Trabalho I Casal . ... · Sal. Médio I Casal I Mês Em NCr$ I Cr$ (3016) . .

14 770 81008 45 808 49970 11.08 15.34 460.33 596,86

1.0 Semestre 90 Total BTN %

Variação 90189

103 372 69% 11104 7% 36216 24% 150 692 100%

245% 469% 99% 186%

13 256 15 031 12 053 12605 6 279 1193 6 841 1 551 6 557 75 366 30 171 150 692 75 366 105 497 26.72 36.92 1 107.55 51 516,00

18% 20% 16% 17% 8% 2% 9% 2% 9% 100%

98% 173% 407% 137% 145% 127% 219% 113% 407% 165% 204% 186% 165% 211% 241% 241% 241% 8631%

Item Diversos inclui: Condução, Assinaturas, Contribuições a Outras Entidades, Medicamentos, Despesas financeiras. Utensflios. Biblioteca, Despesas Legais, Miscelânea. (*)

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NOTICIAS E INFORMAÇDES

Expansão -

São Carlos/SP

Coroando um ded icado trabalho de 8 meses de preparação conduzido por lzildinha/ Wander, Rosãngela/ Dirceu e Vânia/ João Vitor, foram lançadas três novas equipes : • Eq. 17 - N. S. do Perpétuo Socorro C. E.: Pe. Alcides Pinto da Silva C. P.: Cilene e Victório • Ep. 18- N. S. Mãe das Graças C. E. Pe. Roberto dos Santos Furtado C. P. Sôn ia e Milton • Eq . 19- N. S. Maria de Nazaré C. E. : Pe. Antonio Pinto C. P. Marilda e Hernani O Setor dá " graças a Deus por esta realização e vê, com muita alegria, sete filhos de equipistas e dois filhos de ex-equipistas integrando as equipes recém-lançadas o que vem testemunhar que, apesar das dificuldades encontradas, os jovens continuam acreditando naqueles que se empenham em transmitir-lhes, com multa fé e coragem, os verdadeiros valores do matrimônio cristão.

Volta ao Pai • Paulo de Pinho (da Llna), Eq . 08/C, Rio de Janeiro/RJ, em 07-07-90. • Yolanda Castelo Branco (do Renato), Eq. 13-A, Rio I, em 04-08-90. • Sebastião Ronaldo Reis (da Lourdes), Eq. 54-B, Taguatlnga/DF, em 12-07-90.

Mensagens -

Tramandai/RS

!rene e Venceslau, ao ensejo da comemoração de suas Bodas de Prata, em 31-07-90, celebrada por seu C. E. Frei Eduardo Reginato e com a presen-

ça de seus quatro filhos e de seu neto enviam-nos, tocante mensagem. Nela expressam sua felicidade e relembram o quanto foram ajudados em suas dificuldades, nestes anos em que participam do Movimento. -

Araçoiaba da Serra/SP

Recebemos carinhosa mensagem de Anchieta e Rita de Cássia da Equipe 01 , de Araçoiaba da Serra/ SP, que nos informam estar utilizando a Carta Mensal não apenas nas reuniões de equipe mas também para troca de idéias em Círculos Bíblicos.

Eventos Setor Leste/ Rio Grande do Sul Conscientes de sua missão de cont inuadores da obra de Cristo, reuniram-se em 26 de agosto último os casais do Setor com o Casal Regional num encontro de trabalho sobre Evangel ização. Setor C/Rio de Janeiro Iniciou-se em maio passado a visitação da Imagem de N. S. Aparecida aos lares equlplstas. Contam-nos Vera Regina e José (Eq. 68) que a experiência tem contribuido também para o congraçamento não só de equiplstas como também de seus familiares , amigos e vizinhos. Santarém/PA Em 11 e 12-09 últimos, Pe. José Carlos e Olguinha e Toninha da ECIA , tiveram um encontro multo proveitoso com os casais e Conselheiros Espiritua is das cinco equipes locais, levando a todos um novo alento em sua caminhada. Belém/PA De 14 a 16-09-90 realizou-se a 2.a Sessão de Formação de Quadros, com a participação de 31 casais equlpistas

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de Belém, Castanha! e São Miguel do Guamá, além de Conselheiros Espirituais. A responsabilidade geral do evento esteve a cargo de Mariola e Elizeu e a assistência espiritual do Pe. José Carlos (CE da ECIR). As palestras foram proferidas por Olguinha e Toninha e a coordenação do encontro esteve a cargo de Mariazlnha e Miguel (Eq. 1-A). Durante o evento os participantes foram visitados por D. Vicente Zico, Revmo. Arcebispo de Belém. Manaus/AM

Vinte e nove casais das ENS locais participaram, entre 06 e 09-09-90, da 2.a. Sessão de Formação do Setor de Manaus, assistidos espiritualmente por Pe. José Carlos Di Mambro. A temática geral enfocou a vocação e a missão dos casais equiplstas. As palestras foram consideradas muito esclarecedoras e os participantes sairam animados e fortalecidos a continuar sua ação pastoral de modo eficiente e eficaz.

Conselheiros Espirituais -

Aparecida/SP

Realizou-se em 01-07 passado a Sagração Episcopal de D. Francisco Batistela, Bispo de Bom Jesus da Lapa/

BA, sendo sagrante O. Geraldo Maria de Morais Penido, Arcebispo Metropolitano de Aparecida. D. Batlstela foi Pároco de Aparecida por cinco anos e também C. E. das ENS da Coordenação local acumulada com a missão de C. E. da Equipe 6. A comunidade de Aparecida esteve presente à Missa de Ação de Graças realizada na Matriz Basílica em 17-07-90 comemorativa dos 40 anos de sacerdócio do Pe. Brandão que, além de Vigário da Paróquia é C. E. da Equipe 2. -

Taguatinga/DF

Os membros da Equipe 42/B agradecem ao Pe. Silva que com grande dedicação foi seu Conselheiro Espiritual até julho pasado quando foi transferido para Fortaleza/CE.

Boas Vindas O Setor B de Brasília dá as boas vindas a seis novos casais que passam a integrar as equipes 42, 44, 54 e 55 de Taguatinga e de modo particular aos "veteranos" Veria e !:lio da Equipe 04 (ex-11) de Porto Alegre/AS durante 20 anos e que agora Integram a Equipe 30/B de Brasília.

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VLTIMA PAGINA

ORAÇÃO PELA PRESERVAÇÃO DO VERDE

SENHOR DEUS, CRIADOR DO UNIVERSO, FAZE/ COM QUE O SOL ILUMINE OS PENSAMENTOS, DAQUELES QUE DESTROEM O VERDE DE NOSSAS MATAS. PERMITA SENHOR, QUE A SENSIBILIDADE E O BOM SENSO REINEM ENTRE NóS, PARA QUE SEJAM EVITADOS NOVOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. QUE O CANTO DAS AVES, E AS RAPIDAS PASSADAS DOS ANIMAIS EM FUGA, SIRVAM DE ALERTA AOS PREDADORES. QUE A SABEDORIA DIVINA, CUBRA COM UM MANTO DE BONDADE, FE E PERSEVERANÇA, TODOS AQUELES QUE LUTAM NO ESCLARECIMENTO DE SEUS SEMELHANTES, QUANTO A NECESSIDADE DA PRESERVAÇÃO DO VERDE, PARA QUE PASSEMOS A VIVER EM PAZ COM A NATUREZA.

(Colaboração da Equipe 12, de São Caetano do Sul -

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Setor ABCD).


MEDITANDO EM EQUIPE Texto de meditação (Mt. 5, 1-12) Ao ver a multidão, subiu a um monte, e, depois de se ter sentado, aproximaram-se dele os discípulos. Tomando então a palavra, começou a ensiná-los, dizendo: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros .de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados de filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição, por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo disserem todo o gênero de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa nos céus, porque também assim perseguiram os profetas que vos precederam.

Oração Litúrgica Salve, o Mãe da esperança, da piedade e do perdão; ó Mãe de Deus e Mãe da graça. plena de santa exultação. Vale florindo toda a delícia De nossa dor ó Santa Mãe,

a flor da graça, flui de vós. compadecida, rogai por nós.

O Pai supremo vos criou, em vós o Filho se encarnou. Fostes fecunda pelo Espírito. Aos Três, a glória e o louvor.

Oremos: Santa Maria, sempre Virgem, Mãe de Deus, Senhora Nossa; sois o templo do Senhor, santuário do Espírito. Mais que todas agradastes a Jesus, nosso Senhor. Concedei-nos, ó Deus, pela intercessão da santa Virgem Maria, participar da plenitude da vossa graça. Por Nosso Senhor Jesus Cristo ... (Liturgia das Horas, festa da Apresentação de Nossa Senhora. 21 de novembro)


ORAÇÃO DAS EQUIPES AO ESPíRITO SANTO Espírito Santo. Vós sois o alento do Pai e do Filho na plenitude da eternidade. Vós nos fostes enviado por Jesus para nos fazer compreender o que ele nos disse e nos conduzir à verdade completa. Vós sois para nós sôpro de vida, sôpro criador, sôpro santificador. Vós sois quem renova todas as coisas. Vos pedimos humildemente que nos deis vida e que habiteis em cada um de nós, em cada um de nossos lares, e em cada uma de nossas equipes, Para que possamos viver o sacramento do matrimônio como um lugar de amor, um projeto de felicidade, e um caminho para a santidade. Amém .

EQU IPES DE NOSSA SEN HORA 01050 Rua João Adol fo.ll8- 9'- cj. 901-Tel. 34 ·8833 São Paulo - SP


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