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Coluna Equilíbrio
Equilíbrio
CHERRINE CARDOSO
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URGÊNCIA DE VIVER
Se tem uma coisa que este período de quarentena despertou em mim foi um senso de urgência. Não que eu já não o tivesse antes, mas eu pude perceber que esta necessidade de não perder tempo aumentou.
Para mim viver é sinônimo de morrer. Muitos não acompanham minha linha de raciocínio e quando falo sobre isso torcem o nariz. Eu até entendo os motivos e respeito! Falar da morte não é algo simples e muito menos fácil para a maioria das pessoas. Mas fato é que se eu te explicar melhor, talvez você termine esta leitura concordando comigo.
Reflita por aí, todos os dias quando você acorda qual a sua frase: “Obrigado por mais um dia para viver” ou “Nossa, menos um dia na vida”? Eu sou das que falam a segunda frase. E não, não é pessimismo. É o tal do senso de urgência. Urgência de viver por entender que, na real, morremos um pouquinho todos os dias. Entende?!
Foi essa a morte à qual eu me referi. Diariamente estamos morrendo. Não a morte eterna, mas a morte para aquilo que não temos mais chances de fazer acontecer porque o tempo passou. E se tem algo que dói perder conforme vamos envelhecendo é o tempo. Tempo é o nosso maior presente e acredito que todos nós só nos damos conta dessa preciosidade quando os anos passam e percebemos o quanto gostaríamos de ter feito um monte de coisas, que agora parecem distantes ou já sem sentido. Como se fossem os “e se” que deixamos passar e que poderiam ter trazido alguma coisa diferente para o nosso viver.
Clóvis de Barros Filho diz que se nos ativermos a isso somente viveremos numa eterna paranoia, porque, afinal, a vida é feita de escolhas e o que vivemos é o resultado delas, ou seja, possibilidades haverá sempre, para o que pode dar certo e para o que pode não dar certo, e no fim, qualquer que tenha sido sua escolha, ela vem ao encontro do que você realmente tem que viver. Ainda que fique aquela sensação do que teria sido se eu tivesse escolhido diferente. Um eterno looping...
Mas o que eu digo com senso de urgência não tem tanto a ver com essa análise do Clóvis, e sim com o fato de que a maior parte do tempo evitamos agir. Colocamos tantos poréns em tudo o que queremos fazer que simplesmente não agimos. E nem tanto pelos “ses” e sim pelos medos mesmo! Medo de se frustrar, medo de se decepcionar, medo de se machucar, medo de fazer papel de bobo, medo de não atingir os resultados que gostaria. E daí deixar de agir por medo é uma grande perda de tempo também. Percebe?
A vida é essa eterna dualidade, mas o poder de escolher e se permitir experienciar coisas só depende de você. Uma permissão até mesmo para errar e ter como consequências resultados opostos aos que buscamos. Viver é um eterno morrer, mas vamos passar a vida esperando pela morte ou efetivamente desfrutando de cada novo despertar?
A frase clássica de que para morrer basta estar vivo já diz tudo! Esta nossa paralisação diante da Covid me trouxe ainda mais para esse sentido de urgência, porque muitas pessoas realmente se fecharam no medo de tal maneira que esqueceram que cada novo dia é um dia a menos e não um dia a mais.
Não faço aqui apologias a negligências, ok? Procuro respeitar o como cada um lida com seus desafios internos e entendo, é compreensível, que diante de algo nunca vivido por essas últimas gerações, se deparar com um desconhecido “mortal” é mesmo assustador, pode paralisar. Porém, ainda assim, coloco o mortal entre aspas,
ESPERO QUE MEU SENSO DE URGÊNCIA
DE VIVER TE CONTAMINE, PARA VOCÊ CORRER
CONTRA O TEMPO PARA FAZER TUDO
O QUE AINDA TEM VONTADE DE FAZER!
porque volto a dizer: a morte acontece diariamente. Alguns durante toda a quarentena morreram de inúmeras outras causas. Mortes inesperadas. E não foi pelo vírus, percebe? Quanto tempo deixamos de viver por termos nos fechado no medo?
E, caro leitor, assim como você eu também fiquei em casa enquanto foi obrigatório, tá bem? Não saí sem máscara. Não deixei de higienizar minhas compras. Saí sempre com meu álcool em gel e estive muito atenta a usá-lo todas as vezes em que toquei em alguma coisa. Mas em nenhum momento eu me deixei levar pelo medo.
Vivi a quarentena! Mas vivi fazendo coisas novas. Fiz dezenas de coisas que não fazia. Iniciei cursos novos. Hoje faço francês, toco ukulule, gravo um projeto de aulas de yoga online e ainda viajei para visitar amigos. Sim, viajei. Fui para o Rio de Janeiro, para Porto Alegre, para Pelotas. Percebe? Você não precisa se fechar em casa, deixar de encontrar pessoas, de se permitir até mesmo se envolver com alguém novo, somente por medo de se contaminar, afinal, a morte bate à porta todos os dias. A pergunta que fica é: vamos ficar esperando que ela chegue ou vamos viver intensamente o quanto pudermos até o dia em que sua visita seja inevitável?
Eu espero, honestamente, que meu senso de urgência de viver te contamine, te deixe com vontade de a partir de agora correr contra o tempo para fazer tudo o que ainda tem vontade de fazer! E se por acaso ainda ficar uma dúvida, olhe para o espelho e enxergue quem você vê refletido ali. Talvez o reflexo te diga o que eu reforcei no nosso texto todo: morremos um pouco todos os dias! Então corre, porque a vida são apenas instantes.
CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR E REINVENTE-SE: QUANTAS VIDAS SE VIVE EM UMA VIDA? WWW.AINCRIVELARTE.COM