Revista Entre Saberes - Volume IV, N° 6, JUN 2021

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Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares - SIEBE / SEDUC – PA Entre saberes / Secretaria de Estado de Educação. Cefor. - v. 04 .-- n. 06 .–Belém, PA : SEDUC, CEFOR, Junho 2021.

Semestral ISSN: 2596-0431 Revista de relatos de experiência em foco do Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (Cefor). 1. Educação – Ensino e Aprendizagem. 2. Metodologia. I. Secretaria de Estado de Educação do Pará. Cefor. CDD - 22. ed

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Expediente “Entre Saberes” é uma publicação online de periodiocidade semestral, destinada à publicação de experiências educacionais exitosas, concebidas e realizadas por professores das escolas da rede de Educação Básica do estado do Pará, com objetivo de valorização desse docente e de propiciar o efeito multiplicador dessas práticas na rede.

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ GOVERNADOR Helder Zahluth Barbalho

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO Elieth de Fátima Silva Braga

SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO (SAEN) Regina Lucia de Souza Pantoja

EQUIPE ENTRE SABERES AUTOR CORPORATIVO Centro de Formação dos Profissionais da Educação do Estado do Pará Endereço: Rua Gama Abreu, 256 - Bairro de Nazaré Belém – Pará CEP: 66.015-130 E-mail: ceforrevista@gmail.com Telefone: (091) 3230-4050 EDITORES Nádia Eliane Cortez Brasil Sandra Lúcia Paris CONSELHO EDITORIAL Esther Maria de Souza Braga Francisco Augusto Lima Paes Nádia Eliane Cortez Brasil Sandra Lúcia Paris DIAGRAMAÇÃO Paulo Roberto Sousa David

SECRETARIA ADJUNTA DE GESTÃO DE PESSOAS (SAGEP) Cleide Maria Amorim de Oliveira Martins

CENTRO DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ Francisco Augusto Lima Paes

CAPA Anderson Rodrigo C. dos Santos Periodicidade: semestral Endereço eletrônico: https://issuu.com/entresaberes PARECERISTAS AD HOC Prof. Me. Dionísio José da Costa Sá Profa. Ma. Esther Maria de Souza Braga Profa. Ma. Gláucia de Nazaré Baía e Silva Prof. Me. Ival Rabelo Barbosa Júnior Prof. Me. João Amaro Ferreira Neto Prof. Dr. Mauro Márcio Tavares da Silva Prof. Me. Ocimar Marcelo Souza de Carvalho Profa. Ma. Raimunda Nazaré Fernandes Profa. Dra. Sandra Lúcia Paris Profa. Ma. Salier Juliane dos Santos Castro

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Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................

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FILOSOFIA: EMPREENDEDORA DE CONHECIMENTO Anibal Neves da Silva

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O ENSINO DE MATEMÁTICA EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM TEMPOS DE PANDEMIA EM BELÉM DO PARÁ EM 2020 .................................................................................................................. Maurício de Moraes Fontes

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(RE)CONSTRUÇÃO DAS PRÁTICAS DE LEITURA: DA MEDIAÇÃO PRESENCIAL AOS AMBIENTES VIRTUAIS ..................................................................................................................... Francieli Sarturi, Gilma da Silva Pereira Rocha e Rosiane Maria da Silva Coelho

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(EN)CANTARES AMAZÔNICOS: POESIA AMAZÔNICA EM TEMPOS DE PANDEMIA .................... Francisco Hermeson Sampaio de Sousa

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O AUTOCONHECIMENTO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO: A RESSIGNIFICAÇÃO DO SER PARA O DESENVOLVIMENTO DO EQUILÍBRIO FÍSICO E MENTAL ....................................... Jacqueline Fernandes de Sá Xavier

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O FUNCIONAMENTO DE UM CLUBE DE CIÊNCIAS ESCOLAR EM TEMPOS DE PANDEMIA POR COVID-19 ..................................................................................................................................... Douglas Farley Barroso Pereira

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O ENSINO REMOTO EM CONTEXTO DE PANDEMIA NA ESCOLA MUNICIPAL FLORESTAN FERNANDES, BELÉM-PA .................................................................................................................... Cássio José de Sousa Silva, Aline Sueli Queiroz Albuquerque e Lucival Albuquerque Rodrigues Júnior O ENSINO REMOTO DA ARTE NA EJA EM TEMPOS DE PANDEMIA: UM OLHAR AFETUOSO A UM PÚBLICO SENSÍVEL ..................................................................................................................... Elaine Roseno Costa Cunha, Nelma Lima e Silva Campos LIVE: UMA ALTERNATIVA POSSÍVEL PARA SUPERAR DISTÂNCIAS ENTRE AS ESCOLAS DA UNIDADE SEDUC NA ESCOLA 08 E AS COMUNIDADES ................................................................. Évila Roseanne Silva da Anunciação e Silva, Geovania do Socorro Santos Paiva e Patrícia Oliveira de Oliveira

AULAS REMOTAS EM TEMPOS DE PANDEMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM AS TURMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS-EJA EM DUAS ESCOLAS PÚBLICAS NO PARÁ .......... Kemle Senhorinha Rocha Tuma

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EDUCAÇÃO E PANDEMIA: EXPERIÊNCIA COM A PLATAFORMA GOOGLE CLASSROOM E GOOGLE MEET NO ENSINO MÉDIO .................................................................................................. 108 Maria Leonice Andrade de Almeida e Rosana Maria Alencar Oliveira AULAS NÃO PRESENCIAIS NA QUARENTENA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO ................................................................................................................................................... 118 Sandra Regina Feiteiro

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Apresentação A Revista Entre Saberes chega ao seu sexto número, ratificando o compromisso da Secretaria Estadual de Educação do Pará (SEDUC-PA), por intermédio do Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR), no fomento à produção científica dos educadores do Estado. Nesta edição, temos relatos que apresentam significativa contribuição e profunda autorreflexão do fazer educativo em tempos de pandemia; uma tiragem especial em um momento delicado não só para os profissionais da educação, mas para toda a comunidade humana. Os relatos evidenciam uma imersão na cultura digital, o remar intenso nas águas turbulentas do ensino remoto - culminando na reinvenção de práticas pedagógicas –, além da ratificação da importância do profissional da educação. Assim, entre uns saberes e outros, apresentamos doze Relatos de Experiência que expressam o caminhar de alguns professores, mas representam andejar de todos nós. Abrindo a edição, o professor Aníbal Neves da Silva nos conduz pelo universo do pensamento com o relato “Filosofia: Empreendedora de Conhecimento”; projeto que levou seus alunos a perseverarem nos estudos e a terem esperança na educação como caminho seguro e promissor na construção de um futuro melhor; assim, eles tiveram contato com atividades dinâmicas, contextualizadas e significativas por meio de metodologias ativas, utilizando a filosofia como fonte para profundas reflexões. Já no campo da resolução de problemas, o professor Maurício de Moraes Fontes explica como “O ensino de Matemática em uma escola pública em tempos de pandemia em Belém do Pará em 2020” pode mudar a realidade dos alunos de uma instituição de ensino médio em Belém (PA); a pesquisa foi desenvolvida em três momentos: descrição do processo de aprendizagem, análise das dificuldades do professor de matemática e dificuldades apresentadas pelos alunos, constituindo-se um desafio para todos. Nesta edição, também temos relatos que tratam da importância da educação literária na

formação de leitores. Na Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará - EETEPA - Santarém, as professoras Francieli Sarturi, Gilma da Silva Pereira Rocha e Rosiane Maria da Silva Coelho desenvolveram um projeto com foco na “(Re)construção das práticas de leitura: da mediação presencial aos ambientes virtuais”; nele, as docentes nos convidam a refletir acerca das práticas de leitura do texto literário e como essas ações são fundamentais para a formação de leitores críticos, protagonistas de seu conhecimento e de sua história. O professor Francisco Hermeson Sampaio de Sousa nos encanta com o relato “(En) cantares amazônicos: poesia amazônica em tempos de pandemia”, em que apresenta sua experiência na Escola Estadual Irmã Dulce – município de Parauapebas (PA). Desenvolvido com

turmas da 1ª série do Ensino Médio, o projeto usa como fomento à leitura a obra Cantares Amazônicos de João de Jesus Paes Loureiro. Por meio das atividades, foram desenvolvidas as habilidades da estética receptiva dos alunos e a fruição da leitura literária. Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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Assim como a Literatura nos auxilia no processo de autodescoberta; o conhecimento do

corpo, em seus limites e potencialidades, pode nos ajudar em termos de qualidade de vida e bem-estar. Pensando nisso, a professora Jacqueline Fernandes de Sá Xavier traz “O Autoconhecimento como agente de transformação: a ressignificação do ser para o desenvolvimento do equilíbrio físico e mental” Ananindeua (PA). Nesse projeto de Educação Física, ela propôs o autoconhecimento como forma de desenvolvimento pessoal dos alunos do Ensino Médio da Escola Dr. José Cursino de Azevedo. De viés sociointeracionista, sua proposta de trabalho emprega a metodologia ativa sala de aula invertida. Depois das reflexões filosóficas, da lógica e da Arte, é hora de refletirmos acerca dos impactos da pandemia e o uso de ferramentas digitais em ações didáticas e seus impactos na

aprendizagem. Nesse sentido, os professores Douglas Farley Barroso Pereira e Tatiana Queiroz Sardinha apresentam “O funcionamento de um Clube de Ciências escolar em tempos de pandemia por Covid-19”. O relato esclarece acerca dos mecanismos de ensino adotados e orientação dos trabalhos de estudantes pertencentes a um Clube de Ciências em Oriximiná (PA); os dados apontaram que a dificuldade de conectividade e a pouca familiaridade em relação às ferramentas digitais são os principais entraves para realização das atividades remotas. E, em total imersão na cultura digital, os professores Cássio José de Sousa Silva, Aline Sueli Queiroz Albuquerque e Lucival Albuquerque Rodrigues Júnior trouxeram “O Ensino Remoto em contexto de pandemia na Escola Municipal Florestan Fernandes, Belém-PA”. No

relato, os educadores apresentam reflexões a respeito das estratégias didáticas adotadas durante o período pandêmico de 2020, privilegiando os significados de suas práticas; as atividades envolveram a Educação Geral, a Arte e a Língua Portuguesa, em uma ousada ação docente interdisciplinar que contou com o uso das tecnologias digitais para a reorganização curricular e pedagógica no contexto em que nos encontramos. E em meio a um contexto tão desafiador, precisamos não só de recursos tecnológicos, mas necessitamos exercitar o acolhimento e o afeto. Esse é o foco do relato das professoras Elaine Roseno Costa Cunha e Nelma Lima e Silva Campos, que falam sobre “O Ensino Remoto da Arte na EJA em tempos de pandemia: um olhar afetuoso a um público sensível”. Nas ações apresentadas, há significativas experiências sob o olhar da coordenação pedagógica e docente no que se refere ao Ensino da Arte para alunos de EJA na Escola São Geraldo. Ananindeua (PA). Arte, afeto, metodologias ativas e muita interação foram os elementos basilares que ajudaram na construção desse importante projeto. E, quando o assunto é afeto, é fundamental nas atividades remotas diluir a tela para superar distâncias e assim construir diálogos significativos, garantindo o engajamento e potencializando a aprendizagem. Pensando nisso, as professoras Évila Roseanne Silva da Anunciação e Silva, Geovania do Socorro Santos Paiva e Patrícia Oliveira de Oliveira apresentam o relato “Live: uma alternativa possível para superar distâncias entre as escolas da Unidade SEDUC na Escola - USE 8 e as comunidades”. Diante dos desafios encontrados nesse período pandêmico, elas empregaram a live como recurso para diminuir a evasão no ensino fundamental, reorganizando atividades e possibilitando, assim, a continuidade do processo de ensinoRevista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)


aprendizagem, além de atuar para o resgate/manutenção da inteligência emocional dos traba-

lhadores em educação e dos educandos atingidos pelo momento de distanciamento social. O uso de ferramentas digitais como recurso para potencializar a aprendizagem também foi o tema da professora Kemle Senhorinha Rocha Tuma, que em seu relato “Aulas remotas em tempos de pandemia: relato de experiência com as turmas de Educação de Jovens e Adultos - EJA em duas escolas públicas no Pará” Ananindeua (PA) faz uma avaliação a respeito das aulas remotas desenvolvidas no período de distanciamento social, as quais tiveram como objetivo a garantia do direito à educação para todos; apesar das dificuldades de acesso à internet, da falta de equipamentos tecnológicos e de local adequado para estudar, foi possível realizar o trabalho no município.

Além do uso de aplicativos e outras ferramentas, temos uma contribuição importante a respeito das plataformas de apoio à aprendizagem. Nesse sentido, as professoras Maria Leonice Andrade de Almeida e Rosana Maria Alencar Oliveira falam da “Educação e pandemia: experiência com a plataforma google classroom e google meet no ensino médio”; o estudo apresenta as estratégias empregadas por Maria e Rosana no ensino remoto na escola de Ensino Médio Ana Pontes Francez, localizada em Tucuruí (PA). Apesar das dificuldades, houve aprendizagem significativa e os alunos mantiveram o vínculo com o espaço escolar e continuaram seus estudos. Fechando os relatos a respeito das atividades remotas emergenciais e o ensino híbrido, temos a professora Sandra Regina Feiteiro com “Aulas não presenciais na quarentena – um relato de experiência no ensino médio”. O relato parte de uma experiência com alunos do Ensino Médio da Escola Padre Eduardo, ilha de Mosqueiro, e analisa o desenvolvimento da prática pedagógica no ensino híbrido e os impactos das atividades educacionais em regime de teletrabalho no desenvolvimento de habilidades e competências. Os projetos aqui apresentados são uma pequena (mas significativa) amostra do quanto o profissional da educação é essencial e consegue se reinventar e ressignificar a educação mesmo em contexto tão adverso e desafiador. As contribuições aqui expostas podem suscitar outros trabalhos ou sua continuidade, além de servir como fonte de inspiração para os demais professores que protagonizaram com seus alunos momentos ímpares nesse período pandêmico. A Revista Entre Saberes tem orgulho de difundir esses trabalhos cujos registros ficarão para nossa posteridade. Agradecemos a todos os professores relatores, ao corpo de pareceristas (internos e externos) e aos demais profissionais que tornaram possível esta edição. Esperamos que esses relatos sirvam de inspiração para a realização de atividades acolhedoras, significativas, contextualizadas, inovadoras que demonstram o quanto o fazer pedagógico é imprescindível e possível, mesmo em meio à adversidade. Comissão Editorial

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FILOSOFIA: EMPREENDEDORA DE CONHECIMENTO Anibal Neves da Silva

RESUMO - O projeto “Filosofia: Empreendedora de Conhecimento”, tem por finalidade implementar um trabalho de caráter epistêmico-pedagógico, cujos objetivos são: empreender nos alunos a perseverança nos estudos e a esperança na educação como um caminho seguro e promissor na construção de um futuro melhor, implementar na escola um trabalho pedagógico que suplantasse as adversidades impostas pela pandemia às atividades docentes, proporcionar aos alunos um aprendizado mais abrangente, dinâmico e atual, promover um ensino-aprendizado de maior qualidade didática. As metodologias utilizadas para elaboração, e aplicação do projeto foram: reflexão filosófica, análise empírica, investigação teórica e prática pedagógica, onde elas ocorreram em cinco etapas. Os referencias teóricos utilizados na construção deste projeto são as obras de: Maria Lúcia de Arruda, Maria Helena, Carlos Rodrigues Brandão, Selma Garrido Pimenta, Léa das Graças Camargo Anastasiou e Juarez Gomes Sofiste. O referido projeto pedagógico identificou que: houve a participação de alunos de todas as séries e de todos os turnos, os temas apresentados nos seminários ampliaram o conhecimento e a visão de mundo dos alunos, os seminários tiveram uma aceitação positiva de quase 100% dos alunos que participaram, os alunos aprovaram o projeto e solicitaram a continuação do mesmo. PALAVRAS-CHAVES: Educação. Filosofia. Aluno. Seminário. Aprendizado.

INTRODUÇÃO É notório que a partir do final do ano de 2019, o mundo foi acometido por um fenômeno que se instalou de forma pungente na vida de todos os povos do planeta, causando transtornos de todas as ordens no cotidiano da vida da população mundial. Tal fenômeno denominado de pandemia, provocou uma instabilidade nas convenções estabelecidas em todas as esferas sociais existentes, onde tal instabilidade trouxe como consequência a necessidade de adaptações, reconstruções, mudanças, transformações objetivando superar a impositiva desordem trazida pelo referido fenômeno.

Destarte, os efeitos da pandemia não foram diferentes no cotidiano da comunidade escolar da Escola Estadual Professor Santana Marques, localizada no Conjunto Panorama XXI, no bairro do mangueirão, onde trabalhamos como professor da disciplina de Filosofia para as turmas do Ensino Médio nos três turnos. Fomos inseridos de forma involuntária em uma situação problema que contraria de forma contundente a realidade que cotidianamente experimentamos antes, com as aulas presenciais. Em função de diversas dificuldades advindas da pandemia, fomos desafiados a reaprender conceitos, metodologias, práticas docentes, tecnologias, um novo formato de aula o online, para que os alunos não ficassem órfão do conhecimento, da educação, porquanto é um direito constitucional. É neste contexto de dificuldades, de adversidades, de no-

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Mestre em Educação pela Universidade Interamericana de Ciências Sociais - Paraguai. Especialista em docência do ensino superior pela Universidade Cândido Mendes - RJ. Licenciado Pleno em Filosofia pela Universidade Federal do Pará - UFPA. E-mail: anibal.nsilva@escola.seduc.pa.gov.br

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vos aprendizados é que foi apresentado o projeto pedagógico piloto “Filosofia: Empreendedora

de Conhecimento” aos moldes do que se convencionou como formato híbrido de ministrar aulas e aplicá-las em forma de seminário online, onde através destes seminários seriam tratados temas de Filosofia relevantes não só para empreender o conhecimento curricular da disciplina de Filosofia, mas relevantes também para empreender o conhecimento de vida para os alunos, visando contribuir propedeuticamente com as perspectivas e anseios que fazem parte da vida destes alunos. Com efeito, o referido projeto foi aplicado em duas frentes que são: as turmas iniciais e as turmas finais do Ensino Médio. Para as turmas iniciais, que são as do primeiro ano, seriam trabalhados temas de maior abrangência filosófica e para as turmas finais, que são as do tercei-

ro ano, temas filosóficos que mais foram requeridos nos últimos cinco anos nas provas do Enem. Quanto as turmas intermediárias que são as do segundo, foi dado a elas a opção de escolherem de qual frente gostariam de participar. Após essa idealização geral do projeto, seguimos no planejamento e aplicação do mesmo. Então selecionamos dois temas pilotos. Para o primeiro ano foi o tema Alegoria da Caverna e para o terceiro ano foi o tema Democracia e Cidadania. A partir da escolha dos temas, passamos para a organização e apresentação dos seminários com a produção dos slides, construção dos tópicos, escolhas de imagens e vídeos que fariam parte da apresentação dos temas. Finalizada esta parte construimos duas artes conceituais para a divulgar o mês, dia e hora dos seminários. Concluída as etapas de idealização, planejamento, organização e divulgação dos seminários, só faltava a aplicação deles. Os referidos seminários foram realizados no dia 21/04/2021. O primeiro foi realizado às 17 horas para as turmas do primeiro ano dos três turnos e o segundo foi realizado as 19 horas para os terceiros anos dos três turnos. OBJETIVO GERAL Empreender nos alunos a perseverança nos estudos, a confiança em si mesmo e a esperança na educação como um caminho seguro e promissor na construção de um futuro melhor para si.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS Implementar na escola um trabalho pedagógico que suplantasse as adversidades impostas pela pandemia às atividades docentes, aprimorar meu ofício docente diante das limitações consequentes da pandemia, proporcionar aos alunos uma oportunidade de aprendizado mais abrangente, dinâmico e atual à luz da Filosofia, promover um ensino aprendizado de maior qualidade didática. JUSTIFICATIVA O fenômeno pandemia atingiu diretamente toda a comunidade escolar que faz parte da Escola Estadual Professor Santana Marques. Todas as famílias da referida comunidade, como todos os profissionais que trabalham na Escola sofreram várias perdas provocadas por este fe-

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nômeno. Inúmeras famílias perderam suas fontes de rendas, outros tiveram suas rendas reduzi-

das consideravelmente, afetando diretamente o bem-estar social e humano delas e todos tiveram a pior das perdas que foram as vidas dos seus entes queridos. Por conseguinte, a vida dos alunos tornou-se mais difícil em função da escassez e carências causadas pela pandemia ampliando assim problemas de vários aspectos já existentes e acrescentando outros problemas como: o distanciamento do cotidiano escolar, a dificuldade de formar novas amizades, a dispersão do aprendizado das disciplinas, a dificuldade de aprendizado em função da impossibilidade das aulas presenciais, o comprometimento das aulas que preparam os alunos do terceiro ano para a prova do Enem, a desmotivação para os estudos e o aumento da evasão escolar, além de problemas de caráter emocional comum na fase da adolescência como: ansiedade, insegurança,

isolamento social, depressão, etc. Concomitantemente, todos os projetos pedagógicos de aplicação presencial na Escola tiveram que ser suspensos e a rotina de trabalho dos profissionais da educação da Escola sofreram significativas mudanças. Em síntese, o resultado de todas essas danosas consequências e mudanças provocadas pela pandemia, foi o comprometimento do processo ensino-aprendizagem. Esta emblemática realidade descrita, configurou-se como pano de fundo que se estabeleceu como causa primaz que muito nos incomodou e, por conseguinte nos instigou a realizarmos uma amiúde acentuada reflexão filosófica e pedagógica em nosso ofício propedêutico sobre: o que poderia ser feito com vistas a amenizar a situação problema e suplantar as dificuldades advindas dela? Foi mergulhado nesta intrínseca reflexão filosófica que emergiu a ideia de empreendermos um projeto piloto denominado “Filosofia: Empreendedora de Conhecimento”. Destarte, diante desta notória situação problema, é que consideramos a necessidade de aplicação do referido projeto, pois o objetivo pedagógico do mesmo corresponde em superar as dificuldades que se instalaram na aplicação do trabalho docente, como também fazer a diferença educacional para melhor na esfera estudantil da vida dos alunos, visando fomentar a perseverança nos estudos, a confiança em si mesmo e a esperança na educação como um caminho seguro e promissor na construção de um futuro melhor para si, o que refletirá positivamente no cotidiano das famílias que compõem a comunidade escolar. DISCUSSÃO TEÓRICA Ressaltamos que o referido projeto pedagógico teve, a partir de nossas reflexões filosóficas, dois tipos de vozes, onde as classificamos como prática e teórica. A voz prática veio de dentro da Escola em que trabalhamos ao compartilharmos o referido projeto com a direção, com alguns professores da área das Ciências Humanas e com os alunos das três séries do Ensino Médio dos três turnos que estudam na Escola, e veio também do professor pós-doutor que foi nosso orientador em nosso mestrado. A voz teórica veio a partir da leitura de alguns autores especialistas em educação e que contribuíram de forma acadêmica e pedagógica com o progresso do projeto supracitado, conforme destacamos a seguir começando pelo trabalho de Brandão onde ele destaca o seguinte:

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A educação está presente em casa, na rua, na igreja, nas mídias em geral e todos nos envolvemos com ela, seja para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver todos os dias misturamos avida com a educação. [...] Não há uma forma única ou um único modelo de educação; a escola não é o único lugar que ela acontece; o ensino escolar não é a única prática, e o professor profissional não é seu único praticante. (BRANDÃO. 1985, p. 8).

De acordo com a perspectiva abrangente que Brandão concebe sobre a educação, é tarefa da educação inserir crianças e jovens tanto no avanço civilizatório, para que dele usufruam, como na problemática do mundo atual, por intermédio da reflexão, do conhecimento, da análise, da compreensão, da contextualização, do desenvolvimento de habilidades e atitudes. Pimenta e Anastasiou (2002), possuem entendimento análogo ao de Brandão (1985) por considerarem que um dos propósitos primazes da educação é garantir aos estudantes se apro-

priarem do instrumental científico, técnico, tecnológico, de pensamento político, social e econômico, de desenvolvimento cultural para que sejam capazes de pensar intelectualmente e gestarem soluções, pois ao se apropriarem de todos esses conhecimentos de forma racional, estarão contribuindo para equacionar os problemas adversos ao avanço da civilização. Segundo Pimenta e Anastasiou (2002), é missão da educação formar seres humanos com aprimorado discernimento intelectual e com habilidades para criar e oferecer respostas eficazes aos complexos desafios que diferentes contextos históricos, políticos e sociais apresentam. Para eles, a educação, enquanto reflexo, retrata e reproduz a sociedade, porém possui a capacidade de produzir a sociedade que se planeja. Para isso, ela precisa fazer parte integrante do processo civilizatório e humano, considerando sua natureza pedagógica. De acordo com os Pcnem na parte IV incisos I, II, III e IV dos Pcnem, afirma que a filosofia tem relevantes contribuições para com as finalidades do Ensino Médio, onde se destaca a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, a preparação básica para o trabalho e a cidadania do estudante, o aprimoramento do desenvolvimento da autonomia intelectual, do pensamento crítico e o entendimento dos fundamentos científicotecnológicos dos processos produtivos. Sofiste (2007), destaca que essas contribuições da filosofia para com as finalidades do Ensino Médio, se efetivam a partir das seguintes capacidades

propostas pelos Pcnem para o Ensino Médio: Capacidade de abstração, do desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento. (Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Vol I. Brasília: MEC, 1999, p. 12. apud SOFISTE, 2007, p. 91).

Conforme as capacidades referidas, Sofiste ressalta que o Art. 36 da LDB, afirma que o Ensino Médio adquiri um caráter conclusivo da Educação Básica com o aprimoramento do estudante como pessoa humana ao assegurar a preparação básica para o trabalho e a cidadania. Destarte, essas duas vozes subsidiaram de forma empírica, acadêmica, filosófica e pedagógica a organização, planejamento e aplicabilidade do referido projeto.

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PERCURSO METODOLÓGICO

As metodologias utilizadas para elaboração, desenvolvimento e aplicação do projeto foram: a de reflexão filosófica, análise empírica, investigação teórica e prática pedagógica, onde elas ocorreram conforme as seguintes etapas. A primeira correspondeu em refletir filosoficamente sobre a situação problema que se instalou com a pandemia e de que maneira esta situação poderia ser superada. A segunda correspondeu em compartilhar as ideias emergidas das reflexões filosóficas com a direção e alguns da área das Ciências Humanas, com o professor pósdoutor que foi nosso orientador em nosso mestrado e ainda com os alunos das três séries do Ensino Médio dos três turnos que estudam na Escola supracitada, onde foram compartilhadas experiências de trabalhos docentes, projetos pedagógicos e do cotidiano dos referidos alunos,

onde todos consideraram que o projeto era bom e por isso, concordaram na realização do mesmo. A terceira etapa correspondeu na pesquisa teórica em literaturas que discorressem sobre a relevância da educação, da filosofia e da atuação docente, visando fazer a diferença no processo ensino-aprendizagem e na vida dos alunos. A quarta etapa correspondeu na construção pedagógica do projeto, levando em consideração: formato de aplicação, isto é, seminário, temas, conteúdo dos temas, recursos didáticos, meios de divulgação e de aplicação dos seminários. A quinta e última etapa correspondeu na realização dos seminários conforme dia e horários agendados. Os recursos técnicos-pedagógicos utilizados na aplicação dos seminários foram os seguintes: Para divulgação dos seminários o recurso utilizado foi o WhatsApp e para realização dos seminários os recursos pedagógicos e técnicos foram o programa powerpoint e o aplicativo google Meet. ANÁLISE DOS RESULTADOS Considerando que o atual cenário se apresenta complexo e com múltiplas dificuldades, é mister um projeto pedagógico que responda a altura dos desafios deste tempo de pandemia, ultrapassando os limites impostos pela mesma e que proporcione aos estudantes meios de supe-

rar tais limites e adversidades através de um ensino-aprendizagem dinâmico e atual. Com efeito, a aplicação do projeto pedagógico “Filosofia: Empreendedora de Conhecimento” mostrou-se proficiente no que tange a identificar e analisar uma situação problema instalada em função da pandemia, a alcançar todos os objetivos propostos, no empreendimento teórico, a suplantar as dificuldades decorridas na sua realização, na utilização dos recursos pedagógicos, na participação dos alunos e na boa receptividade pelos mesmos. Após a realização dos seminários os alunos responderam a um questionário organizado pelo aplicativo Formulário-Meet, avaliando os seminários, conforme demonstram os gráficos abaixo.

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Gráfico 1: Referente aos três turnos do Ensino Médio da Escola Estadual Professor Santana Marques

Fonte: Dados do questionário, (2021) Gráfico 2: Referente as turmas do Ensino Médio da Escola Estadual Profº Santana Marques

Fonte: Dados do questionário, (2021) Gráfico 3: Referente a avaliação dos alunos sobre os seminários que participaram

Fonte: Dados do questionário, (2021)

A partir dos dados demonstrados nos gráficos, destacamos o seguinte: Primeiro, apesar das dificuldades como baixa qualidade de conexão e de recursos tecnológicos, houve a partici-

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pação de alunos de todas as séries e turnos. Segundo, de todas as turmas do ensino médio dos

três turnos, a turma que mais teve alunos participando foi o segundo ano da manhã. Terceiro, dos 124 alunos que participaram dos seminários, apenas 7 não gostaram deles. Os demais 117 alunos gostaram do que se configura em 94,4% de aceitação dos seminários. Posteriormente nas aulas foi realizado um diálogo crítico-reflexivo com todas as turmas, objetivando uma avaliação dos seminários. Em síntese, o que os alunos consideraram negativo foi não disporem de um bom celular e de uma boa internet que possibilitasse melhor qualidade na transmissão online dos seminários. Outro ponto negativo foi que o tempo para tirar dúvidas sobre os temas não foi suficiente. O que eles consideraram positivo foram os temas, afirmando que através deles tiveram ampliados seus conhecimentos e visão de mundo. Outro ponto positi-

vo destacado foi a oportunidade em fazerem perguntas, tecerem comentários e exporem suas ideias. Nossa análise pedagógica dos seminários é que, por não terem sido aplicados de forma tão dinâmica e do pouco tempo destinado a tirar dúvidas e exposição de ideias, consideramos que o aprendizado dos alunos ficou um pouco comprometido. Observamos que para essas falhas serem corrigidas os seminários devem ser aplicados mais vezes na modalidade online, para que a cada aplicação haja o aprimoramento deles. Por fim, para nós o êxito deste projeto se evidencia na solicitação dos alunos em que ele continue sendo aplicado. CONCLUSÃO analisando os resultados obtidos deste projeto pedagógico gestado a partir das intempéries causadas pela pandemia, observamos que os objetivos propostos foram contemplados a contento, considerando o alcance proficiente do referido projeto. Observamos também que os resultados demonstraram o quanto é relevante a implementação de projetos pedagógicos para dinamizar as atividades extracurriculares na Escola, ampliando o aprendizado dos alunos e fomentando uma sinergia em todos os profissionais que trabalham na mesma, em prol de um bem humano que é a educação. Os referidos resultados demonstraram ainda a relevância da filosofia no desenvolvimento do pensamento cognitivo, no conhecimento e na educação dos alunos, co-

mo também corroborou na conscientização dos alunos sobre situações problemas que se instalam de forma impositiva no cotidiano da vida dos alunos. Portanto, consideramos que apesar deste projeto não ter mitigado todas as inseguranças e incertezas provenientes da pandemia, ele empreendeu uma perspectiva promissora na mente dos alunos, que foi a deles prosseguirem acreditando que a educação continua sendo um dos pouquíssimos caminhos mais seguros para se construir um futuro promissor.

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REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2016, São Paulo: Editora Moderna Ltda. BNCC: Base Nacional Comum Curricular – Etapa Ensino Médio. Disponível em http:// portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/base-nacional-comum-curricular-bncc-etapaensino-medio.html, acessado em 25 de abril de 2021. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. 1985, São Paulo: Editora Brasiliense. PIMENTA, Selma Garrido e ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no ensino superior. 2002, São Paulo: Editora Cortez. SOFISTE, Juarez Gomes. Sócrates e o ensino da filosofia: Investigação dialógica: uma pedago-

gia para a docência de filosofia. 2007, Rio de Janeiro: Editora Vozes.

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O ENSINO DE MATEMÁTICA EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM TEMPOS DE PANDEMIA EM BELÉM DO PARÁ EM 2020 Maurício de Moraes Fontes1 mauriciofontes@gmail.com SEDUC-PA RESUMO - A Trigonometria é uma parte da matemática muito importante para o desenvolvimento do discente em qualquer nível de ensino. Esse trabalho teve como propósito relatar como ocorreu o processo de aprendizagem de matemática em uma escola pública de ensino médio em Belém do Pará em 2020. A amostra foi intencional e constituída por treze alunos de uma turma do segundo ano do ensino médio. O processo de aprendizagem se desenvolveu em três momentos: o primeiro foi descrever o processo de aprendizagem nessa escola; o segundo, analisar as dificuldades apresentadas pelo professor de matemática; e o último, retratar as dificuldades apresentadas pelos alunos. Os resultados apontam que o processo de aprendizagem por meio de aulas remotas foi um desafio para todos os envolvidos. As dificuldades do professor foram muitas, desde organizar uma aula com ajuda do aplicativo Meet, como construir testes com a ajuda do Google formulários, como também dar o retorno das atividades postadas para os alunos etc. Quanto aos alunos, eles apresentaram dificuldades em postar os materiais, acessar a internet, não possuírem computador para acompanhar as aulas etc. Essa experiência foi válida, porque através dela percebeu-se que a maioria dos estudantes se empenhou participando das aulas, dos debates, enfim.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino. Remoto. Matemática. Trigonometria. Alunos.

1. INTRODUÇÃO O ano de 2020 ficou marcado para os brasileiros devido à pandemia de COVID-19, que se alastrou em nosso país provocando a morte de milhares de pessoas. Com isso, o processo de ensino e aprendizagem presencial ficou comprometido e as escolas tiveram de se adaptar a essa nova realidade. Muitos esforços foram feitos por parte de professores, alunos, coordenadores, pais e secretarias de ensino para não deixarem os estudantes sem aulas e perderem o ano letivo. Nesse

processo, muitos docentes tiveram de aprender a usar as ferramentas tecnológicas para poderem ensinar os educandos. Não foi fácil essa jornada, pois os professores passaram a trabalhar mais do que anteriormente no ensino presencial. Na maioria dos casos, os docentes passaram a trabalhar de segunda a segunda-feira com mensagens de pais e alunos que, em alguns casos, foram feitas pela madrugada. Essa nova realidade, que se instalou no ano de 2020, ninguém imaginava que ocorreria e isso levou muitos alunos e professores ao estresse. Para contornar esse momento, foram feitos ajustes na maneira de ensinar e aprender com apoio das tecnologias. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) são mais uma

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Licenciado em Matemática (UFPA), Especialista em Educação Matemática (UEPA) e Mestre em Educação (Universidade Católica Nuestra Señora de Asunción), Professor de Matemática da Escola Técnica Estadual Magalhães Barata.

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ferramenta utilizada para ajudar no processo de ensino e aprendizagem em qualquer nível de

ensino. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo relatar como ocorreu o processo de aprendizagem de matemática em uma escola pública de ensino médio em Belém do Pará em 2020. Para alcançar esse propósito, listamos as seguintes ações: descrever o processo de aprendizagem de matemática nessa escola de ensino médio, analisar as dificuldades apresentadas pelo professor nesse processo de aprendizagem de matemática e retratar as dificuldades apresentadas pelos estudantes durante o processo de aprendizagem de matemática nessa escola pública.

2. MARCO TEÓRICO 2.1 Ensino de Trigonometria A escolha pelo tópico de Trigonometria se dá pela sua importância no desenvolvimento das Ciências e da Matemática e por estar presente no currículo da turma analisada nesse relato. A Trigonometria é uma parte da matemática muito importante para o desenvolvimento do discente no Ensino Médio e suas aplicações estão no Cálculo, nos Números Complexos, na Geometria, em Exponencial, em Logaritmos etc. Além dessas aplicações dentro da Matemática, também há exemplos na Física: Como aprender o Movimento Harmônico Simples sem saber as funções básicas da Trigonometria? Na Astronomia também há uma rica aplicação da Trigonometria. A respeito da origem da Trigonometria, Pereira & Rêgo (2011, p. 1) afirmam que: “A Trigonometria é um dos mais antigos ramos da matemática, surgida na antiguidade para medir ângulos e distâncias com o objetivo de localizar pontos sobre a superfície terrestre a fim de resolver problemas oriundos das necessidades humanas”. A importância da Trigonometria para o desenvolvimento humano é apontada por Brighenti (2003, p. 35) “A trigonometria surgiu (século V. a. C.) para resolver problemas práticos oriundos das necessidades humanas como, por exemplo, solucionar questões ligadas ao transporte e à comunicação, exigindo do homem criatividade”.

A literatura demonstra que o processo de ensino e aprendizagem de trigonometria pode ser realizado por meio de: Resolução de Problemas, Modelagem Matemática, Jogos, TIC, entre outros. Neste relato, enfatizamos o uso das TIC, tendo em vista a necessidade de se aprender tal tópico em virtude da pandemia de COVID-19. A incorporação das TIC como ferramentas para aprender e ensinar esse tópico da matemática pode ser feita em qualquer nível de ensino. 2.2 As TIC nas aulas de Matemática Para Fontes & Fontes (2011): Nas últimas décadas, o Ensino de Matemática tem se pautado na concepção tradicional, em que o aluno é um mero expectador das exposições realizadas pelos professores. Nessa concepção, o professor é o dono do saber e desta forma ele é o centro das atenções. O aluno é um ser passivo, somente copia e presta atenção no que o docente expõe. (p. 1)

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Essa postura precisa mudar e precisamos pensar em formas de ensino em que o aluno

seja protagonista de sua aprendizagem, pois “as novas tecnologias estão oferecendo ferramentas de comunicação social poderosíssimas. A internet, representada principalmente pelas redes sociais, é um exemplo claro dessa transformação, não só pelas novas possibilidades de comunicação globalizada que produz, mas também pela nova cultura social concebida” (PIVA JR. 2013, p. 4) O uso das TIC no processo de ensino e aprendizagem são relevantes para colaborar com o andamento das atividades didáticas, principalmente nesse momento de pandemia, haja vista que: “As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) estão cada dia mais presentes no nosso cotidiano, constituindo-se num instrumento de trabalho essencial, razão pela qual exer-

cem um papel cada vez mais importante na educação, notadamente na Educação Matemática” (LOPES & ANDRADE, 2010, p.1). Essa importância é mencionada por Asinsten, Espiro & Asinsten que afirmam: No modelo atual de aulas virtuais, tentamos resgatar o papel orientador do professor no processo de aprendizagem, tal como ocorre na aula presencial. Este modelo inclui a mudança necessária do eixo de aprendizagem do discurso de exposição de ensino para a aprendizagem do aluno. Assim, as nossas aulas virtuais são o principal suporte (discursivo, orientador e prático) das atividades de aprendizagem que os professores propõem como ambiente adequado para os alunos. (2012, p. 25)

Esse suporte se faz necessário nesses tempos de pandemia, em que todo o processo

de estudo está ocorrendo de forma remota. 3. PERCURSO METODOLÓGICO Essa experiência foi vivenciada pelos alunos de uma turma de escola pública de ensino médio técnico em Belém do Pará no ano de 2020. Os educandos dessa turma não tinham experiência de ensino e aprendizagem com TIC. Esse fato também era a realidade de alguns docentes. Fato esse registrado e comentado nos grupos de discussão dos professores dessa escola. As dificuldades foram de ambos os lados. Com isso, todos tiveram de se adaptar a essa nova realidade. O professor de matemática dessa turma já havia participado do curso de formação Google Classroom em parceria com a SEDUC-PA. Mas mesmo assim, no início, foram muitas dificuldades encontradas para postar os materiais e obter o retorno dos educandos. Essas dificuldades ocorreram tanto em relação ao uso das TIC quanto à forma de ensinar, tendo as tecnologias como ferramenta de apoio, e por ser uma nova maneira de ensinar para esse docente. Lopes & Andrade (2010, p.1) afirmam que: “pesquisas sobre o uso das TIC em sala de aula ressaltam a sua relevância no ensino de matemática, assinalando que é de fundamental importância a sua presença na formação inicial dos professores”. Posso afirmar, pela experiência, que essa rele-

vância deve ser na fase inicial e continuada dos docentes. Alguns alunos não tinham acesso à internet; outros, na família, há apenas um celular (do pai ou da mãe) para comunicação familiar e à noite, quando seus responsáveis chegavam do Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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trabalho, era que o(a) aluno(a) ia fazer as atividades. Outros tinham acesso, porém, não sabiam

manusear a plataforma do Classroom, ainda que a coordenação pedagógica, juntamente com alguns professores, tentassem ajudar os educandos a acessar e manusear o programa. Aqueles alunos que estavam participando sempre procuravam dar uma resposta ao professor sobre as atividades trabalhadas, como, por exemplo: “Valeu, professor, pela aula”; “Professor, apesar das dificuldades, estou aprendendo.” etc. Em outros casos, o Governo prometeu o chip para os alunos, porém muitos desses equipamentos não funcionaram. E ainda tivemos o caso de discentes que iam buscar na escola as atividades impressas e depois devolviam resolvidas. Nesses casos, os professores iam buscar essas atividades para serem corrigidas e lançadas as notas na secretaria da escola.

Outra situação que tornou o processo dificultoso foi o fato de o docente postar atividade com data de início e fim, todavia alguns estudantes não entregaram na data combinada. Determinados alunos, entregaram as atividades com mais de um mês de atraso. Para a realização dessas tarefas, todos os alunos foram cadastrados na plataforma https://classroom.google.com/ e elas foram postadas nessa página para serem ativadas por eles, resolvidas e devolvidas para os docentes. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Para análise desse relato, comentar-se-ão as aulas de matemática relacionadas ao tópico de Trigonometria. Parte desse assunto já havia sido trabalhado no começo do ano, quando a pandemia ainda não havia interferido nas aulas presenciais. Na figura 1, temos uma demonstração de parte de uma das atividades trabalhadas com os alunos nesse tópico.

Figura 1: Atividade de matemática

A turma tem um total de vinte e oito alunos, todavia, participaram das atividades de forma efetiva somente treze alunos. Alguns, devido às dificuldades do ensino remoto, acabaram Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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abandonando o semestre. Foram feitas tentativas de inclusão deles para não perderem o se-

mestre, porém, em alguns casos, sem êxito. As atividades ocorreram entre os meses de novembro e dezembro de 2020 com aulas construídas no Powerpoint e em pdf. O aplicativo Meet do Gmail e o WhatsApp também foram usados como canais de apoio nesse processo. As atividades seguiram a seguinte sequência: •

Em princípio, foram feitos materiais para revisar o que fora trabalhado em sala de aula antes da pandemia. As aulas desse tópico resultaram num total de seis.

Posteriormente postava-se material de estudo em pdf e/ou em Powerpoint e os alunos estudavam. Eles poderiam, a qualquer momento, sanar suas dúvidas por meios

dos canais descritos anteriormente. Alguns discentes estavam sempre participando de forma ativa, com perguntas e discussões de certos tópicos da trigonometria. Outros, por nunca terem trabalhado de forma remota, ou seja, sempre dependendo das explicações do professor em aulas tradicionais, apresentaram inúmeras dificuldades. O docente sempre estava disposto a ajudá-los para que pudessem entender o assunto e realizar as atividades propostas. •

Após algumas aulas nesse formato, verificava-se a aprendizagem dos alunos por meio de testes com ajuda do Google formulários. Eles tinham um prazo para resolver e enviar para o professor. Depois de enviadas as respostas dos alunos, esse aplicativo gera automaticamente uma planilha no Excel com as notas de todos os participantes desse teste. Duas avaliações foram realizadas.

Depois de computadas as notas, se o estudante não alcançasse a média sete, teríamos a recuperação. Com isso, novo material foi postado e novas explicações foram dadas para ajudar na recuperação de notas desses alunos pendentes.

Nessas idas e vindas nesse processo, alguns alunos estavam preocupados se as atividades avaliativas haviam chegado ao professor e estavam sempre perguntando se elas chegaram, quando não, reenviavam novamente a mesma atividade.

O docente sempre dava o retorno para eles não ficarem preocupados com as suas atividades. Nesse sentido, observou-se que o fato de estar sempre em contato com eles gerava uma segurança para todos. Todos os alunos que participaram das atividades passaram de semestre, ou seja, apresentaram nota mínima de sete pontos. Neste estudo, não houve a necessidade de alterar a rota do trabalho proposto para os estudantes e não foi feita nenhuma análise de erros das atividades dos discentes, pois o semestre foi muito complicado devido às cobranças da Secretaria de Educação com relatórios e por isso os professores deveriam construir constantemente aulas para serem ministradas. Nessa nova situação do processo de ensino e aprendizagem em que nos encontramos com essa pandemia, o docente precisa se reinventar, pois “as novas tecnologias estão cada vez

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presentes e difundidas na sociedade, sendo usadas em muitas áreas todos os dias” (PIVA JR,

2013, p. 123), e com isso: a vida profissional de um professor é diretamente influenciada pelos seus credos, percepções, apreciações. Assim, segundo ele, não existe conhecimento que aponte uma única solução para determinado problema. O professor deve atuar sempre criando uma nova realidade, experimentando, inventando situações de forma que se adapte à necessidade daquela realidade (GÓMEZ, 1995 apud BRIGHENTI, 2003, p. 127)

Realidade essa conturbada devida à pandemia de COVID-19, o que ocasiona mudanças em todo o sistema de ensino. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse trabalho teve como propósito relatar como ocorreu o processo de aprendizagem de matemática em uma escola pública de ensino médio em Belém do Pará em 2020. Para isso, foram elencadas três ações. A primeira delas foi descrever como ocorreu o processo de aprendizagem da matemática nessa turma da escola pública de ensino médio. Essa ação foi registrada acima no relato de toda a atividade. A segunda ação foi analisar as dificuldades apresentadas pelo professor para conduzir essas aulas. Foram muitas as dificuldades, desde organizar uma aula com ajuda do aplicativo Meet do Gmail, como construir testes com a ajuda do Google formulários, até dar o retorno para os alunos das atividades postadas, entre outras. Durante o processo, o docente foi se acostu-

mando com a construção das atividades e com os mecanismos de funcionamento do sistema como um todo. A última ação foi retratar as dificuldades dos estudantes durante o processo de aprendizagem. As principais dificuldades relatadas foram: desconhecimento sobre como postar os materiais, problemas de acesso à internet, falta de computador e/ou celular para acompanhar as aulas, dúvida em saber se a atividade havia chegado no e-mail do professor e se era necessário entregar na escola também as atividades, entre outras. Essa experiência foi válida, porque através dela percebeu-se que a maioria dos estudantes se empenhou participando das aulas, dos debates, das dúvidas, das atividades avaliativas, enfim. Quanto ao professor dessa disciplina, essa experiência contribuiu muito para o seu crescimento profissional, pois devemos estar aprendendo sempre para que possamos contribuir cada vez mais com o nosso aprendizado e de nossos educandos. Nesse ano de 2021, estamos usando outras ferramentas no processo de ensino e aprendizagem como, por exemplo, o GeoGebra, as planilhas eletrônicas, entre outras para ajudar os

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educandos nesse momento tão difícil na construção do conhecimento matemático. REFERÊNCIAS ASINSTEN, G.; ESPIRO, M. S. & ASINSTEN, J. Construyendo la clase virtual. Métodos, estrategias y recursos tecnológicos para buenas prácticas docentes. Buenos Aires: Centro de publicaciones educativas y material didáctico, 2012. BRIGHENTI, M. J. L. Representações Gráficas: atividades para o ensino e a aprendizagem de conceitos trigonométricos. Bauru - SP: EDUSC, 2003. FONTES, M. M. & FONTES, D. J. S. Estudo diagnóstico de razões trigonométricas no triângulo retângulo. In: COLOQUIO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 3. Juiz de Fora – MG. Anais III

CEMA. UFJF, 2011. LOPES, M. M. & ANDRADE, J. A. C. Potencialidades do Software Geogebra na sala de aula de matemática: um exemplo com ensino e aprendizagem de Trigonometria. In: ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 10. Salvador –BA, Anais X ENEM. UCSal, 2010. PEREIRA, Cícero da Silva & RÊGO, Rômulo Marinho. Aprendizagem em trigonometria – contribuições da teoria da aprendizagem significativa. In: Conferência Interamericana de Educação Matemática, 13. Recife–PE, Anais XIII CIEM. UFPE, 2011. PIVA JÚNIOR, D. Sala de aula digital: uma introdução à cultura digital para educadores. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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(RE)CONSTRUÇÃO DAS PRÁTICAS DE LEITURA: DA MEDIAÇÃO PRESENCIAL AOS AMBIENTES VIRTUAIS Francieli Sarturi1 Gilma da Silva Pereira Rocha2 Rosiane Maria da Silva Coelho3 RESUMO - Este relato é um convite à reflexão a partir de vivências com práticas de leitura desenvolvidas como atividade complementar no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, do Ensino Médio Integrado, da Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará - EETEPA - Santarém. O objetivo deste trabalho é evidenciar a importância da escola em estimular o incentivo à leitura do texto literário e a formação de leitores juvenis, a fim de tornar o aluno protagonista de seu conhecimento e de sua história enquanto sujeito leitor. O percurso metodológico aconteceu a partir de atividades desenvolvidas de forma coletiva, buscando uma autorreflexão dos professores, gestores, coordenação pedagógica e dos educandos acerca da leitura como porta de entrada para a aquisição do seu conhecimento, tendo como parâmetro o viés da interdisciplinaridade. Os aportes teóricos desse relato estão embasados em autores que discutem a formação de leitores e leituras no ambiente escolar, como Cosson (2006), Silva (1999) e Ceccantini (2009). Portanto, constatou-se que as atividades de leituras literárias desenvolvidas evidenciam que o ensino-aprendizagem de forma colaborativa proporciona ao estudante tornar-se protagonista de seus conhecimentos e ao docente a ressignificação de suas práticas, contextualizando o processo de aprendizagem aos avanços da tecnologia no contexto de pandemia. PALAVRAS-CHAVE: Leitura literária. Tecnologia. Protagonismo juvenil. Ressignificação de práticas. Pandemia.

INTRODUÇÃO “A leitura é uma das habilidades fundamentais para o processo de desenvolvimento intelectual do ser humano (...)”, afirma Rocha (2013, p.01), uma vez que ela nos proporciona compreender o mundo em que estamos inseridos. A partir dessa reflexão nos propusemos experienciar as práticas de leituras literárias a partir da criação do Clube de leitura da Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará - EETEPA – Santarém. Primeiramente os encontros se davam em roda de conversa, contudo e após a situação pandêmica, partimos para o ambiente virtual, especificamente o Instagram como objetivo promover a leitura, a escrita e o compartilhamento de informações entre alunos e servidores da referida escola. Para vivenciar a interdisciplinaridade nas práticas de leituras literárias, a coordenação do clube de leitura é composta por professores

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Especialista em Educação, Pobreza e Desigualdade Social pela Universidade Federal do Pará. Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Pará. Professora de Língua Portuguesa da Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará-EETEPA-Santarém. Email: francieli.sarturi3913@escola.seduc.pa.gov.br. 2 Doutoranda em Educação pela Universidade Luterana do Brasil-Campus Canoas. Mestra em Educação pela Universidade Federal do Oeste do Pará. Especialista em Língua Portuguesa: uma abordagem textual. Professora de Língua Portuguesa da Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará-EETEPA-Santarém. Email: gilma.rocha@escola.seduc.pa.gov.br. 3 Mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Oeste do Pará.Especialista em Estudos da Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará.Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Pará. Integrante do Grupo de Estudos Linguísticos Texto Discurso e Ensino- GELTEDE- Universidade Federal do Pará. Professora de Língua Portuguesa da Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará-EETEPA-Santarém. Email: rosiane.coelho@escola.seduc.pa.gov.br.

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de diferentes disciplinas, como de Informática, Língua Portuguesa, Turismo, Meio Ambiente, Lo-

gística, Segurança do Trabalho, além da Bibliotecária, a Coordenadora Pedagógica e a Equipe gestora. Essa estrutura reverbera o rompimento da concepção de que práticas de leituras são de total responsabilidade do professor de Língua Portuguesa. Em relação às estratégias utilizadas na mediação com a leitura literária é válido destacar que, primeiramente, os encontros para a discussão das obras ocorreram presencialmente em rodas de leitura. Contudo, após a ocorrência da proliferação do COVID19, fomos desafiadas a por em prática novas formas para a interação entre o texto e os leitores. Foi, então, que criamos o grupo de leitura da EETEPA no WhatsApp e um perfil no Instagram. Os aportes teóricos que fundamentaram a construção deste relato são embasados em

Cosson (2006), Ezequiel Theodoro da Silva (1999) e Ceccantini (2009). Na construção desse percurso, optamos em dar voz às nossas experiências teóricas vivenciadas com a leitura na EETEPA-Santarém, a fim de salientar a práxis no ambiente educacional. Portanto, mais que relatar experiências, almejamos ressignificar a nossa prática com a leitura diante de um contexto de pandemia, em que fomos levadas a (re)construir caminhos para um ensino-aprendizagem mais significativo, isto é, construir práticas diferentes para que o jovem estudante se constitua como sujeito-leitor, no encontro com o texto, abandone a passividade e possa interagir na construção dos sentidos do texto. RESSIGNIFICANDO AS PRÁTICAS DE LEITURA Entrelaçadas em recordações de um tempo não longínquo escrevemos este relato com vivências ocorridas na Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (EETEPA), na cidade de Santarém, no período entre 2018 e 2021. Nesses pouco mais de dois anos, estamos a caminhar ora com êxito, ora com paradas obrigatórias para rever metas e rotas, contudo sempre rumo à construção de práticas mais significativas na mediação com o texto literário numa escola que, à primeira vista, por ser técnica, pode deixar a impressão de um ensino profissional que apresentaria limitações em relação às inovações metodológicas com a leitura. Mas, ao contrário disso,

vemos que, com a difusão da internet, o contexto escolar vem se (re)construindo, inclusive nas formações de leitores jovens, que estão na escola técnica, e que são nativos digitais. Em 2018, demos início a um percurso diferenciado à leitura literária na EETEPA de Santarém. Nosso itinerário, desde o princípio, tentou (e tenta) desvencilhar-se da leitura considerada, por alguns pesquisadores, como “animação” voltada exclusivamente para atividades lúdicas, recreativas; ou ainda de leituras de obras como obrigação e cumprimento de conteúdos programáticos. De fato, como bem destaca Cosson (2006, p.23): “é fundamental que se coloque como centro das práticas literárias na escola a leitura efetiva dos textos, e não as informações das disciplinas que ajudam a construir essas leituras”. Trabalhar com a leitura de fragmentos de obras das diferentes escolas literárias, verdadeiramente, não é o que objetivamos, pois nos embasamos em postulações como a de Ezequiel Theodoro (1999, p.05) para quem:

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Leitura é uma prática social e histórica sofrendo, por isso mesmo, transformações com o passar do tempo. Hoje, por exemplo, a leitura de textos virtuais, dispostos nas telas dos computadores, impõe novas reflexões e desafios ao ensino- aprendizagem da leitura.

A Sessão Literária (Fig. 01) experienciada, junto aos estudantes do Ensino Médio Integrado, pela professora de Língua Portuguesa Gilma Pereira Rocha, nos idos de 2018, marcam os primeiros passos da prática de leitura literária, em que os discentes liam os textos de acordo com os gêneros literários estudados, e após as leituras faziam as adaptações históricas, sociais e de linguagem para serem socializadas com os colegas de turma por meio teatro. Essas ações da professora já revelavam uma prática voltada para o letramento literário. Ou seja, o encontro com o texto literário pouco a pouco, desvinculou-se da leitura de trechos de obras no livro sagra-

do, aliás, no livro didático - ação pedagógica tão recorrente na leitura literária no Ensino Médio -, porque, no encontro literário, promovido pela docente entre estudantes e obras havia certa “liberdade”, autonomia na escolha do texto a ser lido. Dar liberdade ao discente para a escolha do livro é um passo importante na tentativa de agirmos diante do desafio constatado por Ceccantini, (2009, p.218): “um dos maiores problemas na formação de leitores é o de como dar continuidade às conquistas obtidas junto às crianças, à medida que vão crescendo, de tal modo que continuem sendo leitores fiéis e motivados”. Somos cônscias da limitação na prática daquela docente, isto é, não basta somente deixar os estudantes livres para a escolha dos livros. Por outro lado, reconhecemos que foi um passo essencial na construção da autonomia dos estudantes em suas escolhas, bem como, para aguçar a curiosidade de ler algumas obras apresentadas por colegas de turma.

Figura 1: Sessão Literária em 2018. Fonte: Acervo pessoal da profª Gilma Rocha

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É bem difícil manter e desenvolvermos atividades diferenciadas de leitura quando nos fal-

tam recursos. Na verdade, diferente de muitas escolas, nós temos biblioteca, porém nos faltavam o primordial, isto é, as obras literárias, pois os poucos livros que havia naquele espaço de leitura eram quase exclusivamente didáticos. Precisamos então mudar a trajetória, porque o que nos restava era utilizar aqueles livros. Como resolver o impasse da falta de livros literários? Além disso, a escola, no ano de 2019, passava por mudanças na gestão e no quadro de professores. Mudanças que causaram a alteração de diversos projetos em andamento, entre eles o do incentivo à leitura, que por momentos ficou mais restrita às práticas de sala de aula e iniciativas individuais dos próprios alunos que buscavam nos poucos livros da biblioteca escolar uma fonte de conhecimento e prazer. Frente a isso, o que nos restava era desistir da caminhada de incentivo

à leitura literária? Não. Foi necessário buscar outras alternativas, novas estradas. E diante dos obstáculos que se apresentavam, tivemos que nos reorganizar, sentar, planejar e decidir adentrar na era digital, ou seja, fazer adesão ao dispositivo móvel proibido, inclusive, de uso na escola, ou seja, o telefone celular. Assim, o passo dado, dessa vez, foi a criação de um grupo de leitura no WhatsApp onde aconteceram indicações de leitura de obras literárias aos (e pelos) educandos. É importante destacar que a utilização dessa tecnologia - uso do celular- gerou maior envolvimento entre professor e alunos. Essa aproximação do docente (migrante digital) ao universo dos estudantes (nativos digitais) nos remete às colocações de Palfrey e Gasser (2001, p.14): “Para estes jovens, as novas tecnologias digitais - computadores, telefones celulares, Sidekicks - são os principais mediadores das conexões humanos-com-humanos”. Participar do universo juvenil para dialogar com os estudantes, via WhatsApp tem seu lado positivo (motivação, integração) e negativos (baixa participação, algumas ausências), porém fazendo uma avaliação geral, chegamos à conclusão de que a interação naquele grupo foi uma experiência significativa para estimularmos o compartilhar de pontos de vista acerca de algumas obras literárias num meio onde os jovens se sentiam à vontade. Garantir o espaço de fala aos estudantes foi vital para o engajamento dos jovens leitores nas atividades promovidas pelas coordenadoras do Clube de Leitura.

Sabemos que ao chegar, no Ensino Médio, poucos são os educandos que têm e mantém o gosto de leitura, sobretudo, nesta era digital com tantos atrativos eletrônicos na internet, como por exemplo, bate-papos, jogos, vídeos musicais, entre outros, tudo a um toque na tela do celular, do tablet ou do computador. Mas também, temos ciência que a escola (principal agência de letramento) precisa garantir o direito à leitura, nesse caso, à literária. A escola tem papel importante para a aquisição da prática de leitura, pois nela é onde começa, logo nas séries iniciais, o hábito da leitura e, em grande parte do tempo, costuma ser a principal fonte de livros aos quais os alunos, especialmente os das classes mais baixas, têm acesso.

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Todos sabemos da importância da leitura e da literatura como fonte de entretenimento,

pois através da literatura conhecemos outras realidades, outros mundos, podemos viajar, conhecer personagens e lugares, nos apaixonar, ter empatia, entre tantas outras possibilidades; mas a leitura literária também é fonte de conhecimento necessário para a formação pessoal, social e também profissional. Ler é adentrar um espaço que por muito tempo foi restrito a uma pequena parcela da população, ler nos possibilita ter conhecimentos que nos humanizam e nos fazem interagir sensivelmente com os problemas do outro e do mundo. Sabendo disso, aumenta a nossa responsabilidade enquanto agentes da escola pública em garantir aos nossos educandos o acesso a práticas de leitura. Mas como então garantir o estímulo à leitura nesta nova realidade digital?

Caminhar não foi preciso, porém fundamental. E em busca de respostas, fomos pari passu reconstruindo nossas ações didáticas frente a uma situação atípica de pandemia do COVID19. Já estávamos no ano de 2020 que despontava com novos desafios a serem enfrentados. Iniciamos o ano com muitas expectativas: reunimos, escrevemos, planejamos e estávamos dando os primeiros passos na (re)criação do Clube de Leitura da EETEPA. Entre os nossos planos estava o de dar o protagonismo aos estudantes para que estes se tornassem leitores competentes, capazes de fazer suas escolhas literárias e a partir delas refletir sobre o texto, sobre si e sobre o mundo; quem também fossem capazes de, com suas experiências, compartilhar vivências e incentivar outros estudantes ao gosto pela leitura. A esta hora a pandemia ainda não havia chegado em Santarém e começamos a divulgação sobre a criação do Clube e a chamar estudantes e servidores da escola a participar do espaço. O evento inaugural do clube (Fig. 02) foi um bate-papo descontraído em que educadores, partícipes do grupo, partilharam experiências com a leitura na escola e na vida. Também os estudantes falaram sobre seus gostos literários e de que forma foram incentivados, ao longo da vida, ao hábito de ler. Combinamos a regularidade das reuniões, a metodologia, como seriam escolhidos os livros – naquele primeiro momento a coordenação do Clube indicaria uma obra, mas as demais deveriam ser escolhidas democraticamente a partir da indicação dos membros

do Clube. Para facilitar nossa comunicação e o envio das obras a serem lidas, todos os membros foram adicionados a um grupo do whatsApp. Através do grupo, indicamos a primeira obra a ser lida e posteriormente discutida: A estrutura da bolha de sabão e outras histórias, de Lygia Fagundes Telles. A obra da “dama da literatura brasileira” foi a primeira escolhida porque queríamos iniciar nossa leitura a partir de autoras mulheres, pois estávamos no mês de março e queríamos discutir também a presença feminina no mundo literário. Distribuímos uma cópia digital da obra e marcamos a data do nosso encontro para compartilhamento da leitura.

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Figura 2: Encontro presencial do Clube de Leitura em março de 2020. Fonte: Arquivo pessoal da Profª Edilzia Prata- coordenadora pedagógica da EETEPA-Santarém

Contudo, em virtude do agravamento da pandemia, foram suspensas as atividades presenciais com discentes na escola. Fomos obrigados a interromper nossas atividades; mas aquele que por vezes é o vilão da educação, passou a herói: o aparelho celular possibilitou a continuidade de interação com a maioria dos nossos estudantes de forma remota. Parar, naquele momento de pandemia, foi de extrema importância para reorganizarmos a nossa caminhada. O que inicialmente seriam quinze dias de suspensão de aulas se tornaram 30, depois 45 e assim nos vimos sem perspectiva de data de retorno. Tínhamos um grupo de estudantes ansiosos em fazer acontecer o Clube, mas sem quaisquer condições de fazer algo de forma presencial. Foi então que surgiu a ideia: aproveitar as redes sociais para levar a literatura até nossos estudantes. Criamos o Instagram do Clube de Leitura (Fig.03), em maio de 2020, como um chamado aos estudantes a utilizar a rede a qual eles têm tanta adesão para compartilhar seus gostos e leituras. Já a atividade coletiva que inaugurou o “insta” foi a publicação de vídeos-resenha, isto é, uma espécie de “resenha virtual” em que os estudantes gravaram um vídeo expondo um livro

literário importante para a construção de seus percursos enquanto leitores. Essa atividade, apesar de muito interessante, nos revelou inicialmente certas dificuldades dos nossos alunos, como por exemplo falar em público, em situação formal, tanto que poucas alunas (as estudantes formaram a maioria) se voluntariaram a participar, justamente por timidez e por medo da avaliação crítica dos colegas, mesmo que virtualmente. Mas diante de tal dificuldade, surge a ideia de transpor os muros da EETEPA-Santarém e fazer parceria com a Escola Estadual Fernando Guilhon, na cidade de Mojuí dos Campos, onde atuava a professora Rosiane Coelho que incentivou dois ex-alunos apaixonados pela leitura realizarem “resenha virtual” (Fig. 04); assim tivemos a contribuição de Breno George, que falou sobre a obra O caso dos exploradores de caverna e de

Ana Vitória, cuja obra escolhida foi O lado bom da vida. A estratégia de convidar discentes de outras escolas foi muito relevante para a interação entre os alunos. Os dois estudantes conseguiram incentivar estudantes da EETEPA a também gravarem seus vídeos contando suas expeRevista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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riências literárias. Entre os estudantes da escola que realizaram a atividade tivemos Luan Patrick

(A seleção), Elycia (Extraordinário) e Janice Paiva (O oposto de todo mundo). Embora com uma participação ainda tímida, o importante é que houve uma sensação de “Ninguém solta a mão de ninguém”, uma conexão invisível, um entrelaçar de mãos que encorajou outros jovens estudantes à produção e exposição de seus vídeos. Essas atitudes das discentes nos fizeram lembrar trechos da obra O Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos”.

Figura 3: Instagram do Clube de Leitura. Fonte: Acervo midiático da EETEPA-Santarém- Instagram do Clube de Leitura (@clubedeleituraeetepastm)

Outra ação realizada através do Clube em 2020 foi a mobilização de estudantes e servidores para homenagear a Escola em seu aniversário de 3 anos. Estudantes gravaram mensagens falando sobre a escola, do quanto estavam sentindo saudades, alguns escreveram poesi-

as; servidores gravaram um vídeo declamando uma poesia com uma mensagem de esperança. As mensagens foram publicadas nas redes do Clube de Leitura e da EETEPA Santarém e serviram como uma forma de manter/fortalecer o vínculo entre a comunidade escolar.

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Figura 4: Resenhas virtuais por estudantes da Escola Fernando Guilhon para o Instagram do Clube de Leitura. Fonte: Acervo midiático da EETEPA-Santarém- Instagram do Clube de Leitura (@clubedeleituraeetepastm)

Ademais, o Instagram do Clube tem sido usado constantemente para divulgação de obras e autores, e com isso incentivar as práticas de leitura. A ação mais recente do Clube foi homenagear diversas autoras mulheres durante o mês de março através de publicações de biografias e resenhas de obras; além de incentivar a participação feminina na literatura a partir do sorteio de três obras literárias produzidas por mulheres entre as mulheres seguidoras do Instagram do Clube. O último período letivo nos obrigou a sair da nossa zona de conforto: Encontros, reuniões, rodas de conversa, tudo passou a ser realizado de forma remota. Um novo contexto se instaurou. Não era simplesmente virar a página. Mas como se num clic, estivéssemos em outro mundo, o dos nativos digitais. Onde estaríamos mais como aprendizes do que ensinantes. Onde os jovens, mestres na arte de navegar, têm muito a partilhar conosco. E partilharam... aos seus modos, com suas linguagens, com suas personalidades, com suas atitudes, com suas vivências de leitores, obras que permitiam encontrar outros mundos, outras realidades, outros conflitos, tudo proporcionado por práticas de leitura (re)construídas e vivenciadas com estudantes jovens da

EETEPA de Santarém. Todo esse percurso nos permitiu refletir que, independente da modalidade de ensino, seja técnico, seja regular, a Escola é lugar de VIVER leituras, principalmente literárias. Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desconstruir práticas cristalizadas, trazidas de longos anos de docência, é ato complexo, difícil, porém não impossível. Frente a um contexto pandêmico, com inúmeros problemas (fome, mortes, desemprego, entre outros), nós, educadoras, fomos levadas a (re) construir - com certa urgência - nossas práticas pedagógicas com a mediação da leitura literária, agora, através da interação virtual. É tempo de travessia. Navegar é preciso, já dizia o escritor Fernando Pessoa, trilhar novos caminhos, na escola e no ensino, também foi preciso. O protagonismo e a colaboração entre estudantes e docentes foram de fundamental importância para seguirmos a caminhada rumo a uma mediação dialógica de leitura, oportunizando espaço de voz aos discentes na construção de novos sentidos na interação com o texto, tendo como ferramenta as redes sociais.

Podemos afirmar que os frutos dessas práticas de leituras já estão sendo colhidos, pois no ano de 2020 o aluno Luan Patrick Cardoso da Costa criou um perfil no Instagram @estantedoluan (Fig. 05), que em menos de um ano já possui mais de mil e quinhentos seguidores, que tem como objetivo indicar leituras, fazer resenhas de livros e incentivar o hábito da leitura tendo a interconexão como facilitadora na interatividade entre os leitores. Essa é uma prática que vem crescendo na atualidade digital, denominada Bookstagram, que são perfis criados no Instagram com o objetivo de divulgar conteúdos exclusivos sobre livros. Portanto, constatam-se evidências de que a leitura promove o protagonismo juvenil no ambiente escolar.

Figura 5: Instagram Estante do Luan. Fonte: Acervo midiático do Instagram @estantedoluan

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REFERÊNCIAS

CECCANTINI, J. L. Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura. In: SANTOS, F. dos; MARQUES NETO, J. C.; RÖSING, T. M. K. (Org.). Mediação de leitura: discussões e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global, 2009, p. 218. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. PALFREY, John, GASSER, Urs. Nascidos na era digital: Entendendo a primeira geração de nativos digitais; tradução: Magda França Lopes; revisão técnica: Paulo Gileno Cysneiros. Porto Alegre: GrupoA, 20011. ROCHA, Gilma da Silva Pereira. O ensino-aprendizagem de leitura literária para alunos surdos intermediada por filmes. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidad de Los Pueblos de

Europa-Malága-Espanã. Santarém-Pará, p.80. 2013 SILVA, Ezequiel Theodoro. Concepções de leitura e suas consequências no ensino. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/10708/10213 Acesso em 22 de março de 2021.

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(EN) CANTARES AMAZÔNICOS: POESIA AMAZÔNICA EM TEMPOS DE PANDEMIA Francisco Hermeson Sampaio de Sousa1 RESUMO - Este texto consiste no relato de uma experiência pedagógica desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Médio Irmã Dulce, escola localizada em Parauapebas no sudeste paraense que atende alunos do Ensino Médio Regular. As atividades foram desenvolvidas na disciplina Língua Portuguesa no ano letivo de 2021, através de um projeto de leitura desenvolvido pelo professor com turmas do primeiro ano do Ensino Médio, que consistia na leitura integral da obra Cantares Amazônicos do escritor paraense João de Jesus Paes Loureiro. Após a organização da biblioteca, observou-se vários volumes do livro ainda embalados para a distribuição, avaliou-se, naquele momento, que a acolhida socioemocional dos alunos recém-chegados do ensino fundamental dar-se-ia pela valorização e leitura de um escritor paraense com o gênero poema. Os livros foram distribuídos seguindo os protocolos sanitários para as três turmas da 1ª série do Ensino Médio do turno da manhã, rodas de leitura foram realizadas através do aplicativo MEET e atividades de interpretação. O objetivo foi desenvolver a habilidade da estética receptiva dos alunos e a fruição da leitura literária. PALAVRAS-CHAVE: Poesia. Amazônia. Literatura.

INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade pautada pelo imediatismo, rapidez das informações, digitalizada, informatizada, célere e visual, cenário que inviabiliza, na maioria das vezes, a formação leitora proficiente, atenuada, no atual momento, pela pandemia do COVID-19. Avaliei que a fruição da leitura literária não estava adequadamente inserida no contexto dos alunos na era digital e no atual e passageiro período pandêmico; o resultado foi obtido a partir de uma pesquisa quantitativa sobre o hábito de leitura dos estudantes da 1ª série do Ensino Médio sob minha tutela no ano letivo de 2021, através do questionário do Google Formulário. Para mitigar essa constatação, avaliei a possibilidade de integrá-los em um projeto de leitura, com o gênero poema, que trouxesse de maneira mais intensa, a realidade amazônica. Após a organização da biblioteca escolar, percebi vários volumes da obra “Cantares Amazônicos” do escritor paraense João de Jesus Paes Loureiro ainda embalados. Organizei a entrega dos livros a todos os alunos das minhas três turmas da 1ª série, seguindo os protocolos de segurança; logo após, iniciamos as rodas de leituras virtuais através do aplicativo MEET, atividades semanais de interpretação através do Google Formulário eram enviadas no intuito de aferir o senso crítico e interpretativo atrelado à realidade amazônica na estética poética. Produções escritas e deixadas na recepção da escola também eram constantes, para os alunos que não tinham acesso à internet.

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Professor da disciplina Língua Portuguesa na Escola Estadual de Ensino Médio Irmã Dulce, primeiro e segundo anos do Ensino Médio. Especialista em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa. E-mail: franciscosousa.cefor@escola.seduc.pa.gov.br

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A ausência da experiência estética que a literatura promove e a necessidade de formar

leitores literários e autônomos foram os elementos que impulsionaram este projeto. Uma vez que para Candido (2004) a Literatura é um direito humano que todos têm, mas avalio que poucos o utilizam por falta, possivelmente, de mediação e promoções de atividades e projetos. Possibilitar o acesso esse direito aos meus alunos foi fator determinante na escolha do gênero, do autor e da obra. O produto final do projeto foi a de apresentação de um webnário, onde os alunos expressaram oralmente, em grupos, as percepções interpretativas dos capítulos para o público escolar, isso permitiu desenvolver habilidades de oratória pública, alguns alunos, com dificuldades nesse ponto apresentaram muito bem, transpondo barreiras como a timidez, dicção, expressões e en-

tonação. A Escola Estadual Irmã Dulce, localizada no município de Parauapebas no Sudeste do Estado do Pará, atende alunos no Ensino Médio Regular em três turnos: manhã, tarde e noite. O projeto foi desenvolvido no turno da manhã com as turmas da Primeira Série do Ensino Médio. Os alunos deste turno caracterizam-se pela faixa etária entre 15 e 17 anos, oriundos de famílias de classe média e classe média baixa. Pela sua localização em uma área central e urbana, atende a comunidade de vários bairros em seu entorno. Ao todo são 1.345 matrículas ativas, destas 549 apenas no turno da manhã distribuídos em 32 salas de aulas. Dispõe de recursos tecnológicos como projetores e equipamentos de som, além de uma biblioteca com bons acervos de livros da literatura nacional e internacional. A maioria dos alunos vêm de escolas públicas municipais, porém, há os provenientes de escolas da rede particular de ensino, tive a possibilidade de conversar com alguns pais ou responsáveis por alunos que participaram do projeto, teceram elogios à escola, responsáveis por alunos que, inclusive moram distantes da unidade de ensino, mas que se deslocam diariamente, mesmo havendo outras escolas mais próximas. TEMA DO RELATO DE EXPERIÊNCIA

Cantares Amazônicos como objeto de estudo promove o desenvolvimento de competências que ajudam a compreender a língua como fenômeno histórico e social na medida em que o aluno-leitor é exposto a uma realidade poética da região em que vive, conhecendo a estilística conotativa da língua, a linguagem mitológica amazônica. As figuras de linguagem, como a metáfora e a metonímia, entre outras, são recorrentes a um eu lírico que vivencia da maneira mais profunda o imaginário figurado e real da região amazônica. O eu lírico, com uso da linguagem verossímil e ficcional, possui a capacidade de transportar os leitores a diferentes épocas e perspectivas, a percorrer o imaginário em busca do desconhecido, metafísico, existencial, filosófico, rios, florestas, mitos, onde o receptor da obra (re) cria um (en) cantares amazônicos. Com a leitura da obra de Paes Loureiro o estudante, pelo que avaliei cartografa a amazônica através de um mapeamento poético, uma reinvenção, uma recon-

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figuração da vivência amazônica. Com Paes Loureiro os alunos certamente interpretaram o “olho

de boto no fundo dos olhos de toda paisagem”2. Buscou-se, com o projeto, promover o gosto pela leitura literária com fruição estética, mediando pedagogicamente para que, com a recepção da obra, os alunos desenvolvessem autonomia e percebessem os contextos atuais presentes na interpretação de uma obra produzida em um contexto histórico e social atual e presente na região geográfica, cultural, social e humana em que vivem. A maioria não tinha lido ou ouvido informações Paes Loureiro, avaliei esse fator negativo quando se trata de um importante escritor paraense vivo, o que demonstra que ainda estamos

longe

de

dar

o

devido

reconhecimento

à

literatura

paraense.

Nesse sentido, já conhecedor do projeto que o enviei por e-mail, o próprio Paes Loureiro

enviou, via WhatsApp, um vídeo onde demonstrou alegria em ter o seu livro como objeto de estudo e ensino. Esse momento foi de grande emoção aos alunos, no que concerne a observar a face humana e presente de um autor cuja obra estão lendo e estudando. Cantares Amazônicos foi, nesse projeto, o rito iniciático de leituras de autores paraenses, promovendo uma compreensão da complexa tarefa de inserir a realidade real à prosa e poesia do verossímil e rico ecossistema literário amazônico, envolto de lendas, causos, mitos e assombrações, que na poética de Paes Loureiro através de uma sinestesia que desvela os enigmas da figuração do real, em consonância com o crítico Benedito Nunes: Cabe lamentar o que parece no vórtice da destruição e torna-lo matéria de canto. O seu juvenil compromisso político não desaparece, mas sofre uma metamorfose: transforma-se o valor afirmativo de resistência da palavra poética, o que pressupõe, como base da buscada visão amazônica do mundo que o sustenta, com a dimensão de um projeto existencial, não mais sancionado pela necessidade histórica, o engajamento do poeta e de sua obra à região – engajamento enquanto enraizamento, ou , segundo o mais forte termo de Mário de Andrade, enquanto radicação de ambos, obra e poeta, à terra. (NUNES, 2000, p.15).

Objetivo geral: Promover o contato com a obra Cantares Amazônicos de Paes Loureiro estimulando a apreciação e fruição estética da poesia amazônica. Objetivos Específicos: Compreender as relações entre a obra literária e o contexto social do momento de sua produção, situando, também, aspectos atuais. Reconhecer os valores intrínsecos e extrínsecos de uma obra literária. Conhecer o escritor Paes Loureiro e suas obras, em especial Cantares Amazônicos. Interpretar as figuras de linguagem na mitopoética amazônica. Apresentar um webnário sobre a obra lida.

2

Canção de Vital Lima e Nilson Chaves, ouvida em alguns encontros da roda de leitura virtual. Os estudantes, durante a leitura de alguns poemas, conseguiram traçar paralelos entre a letra da canção e as interpretações possíveis que vieram à tona durante as leituras expressivas

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JUSTIFICATIVA

A partir de uma pesquisa qualitativa em que os alunos responderam sobre as práticas de leituras, e o resultado demonstrou que poucos tinham alguma relação com o hábito de ler, a fim de mitigar esse dado, e com o intuito de oportunizar aos alunos a experiência com o texto literário para além de leituras pautadas em fichas avaliativas ou periodizações sobre a história da literatura, apresentei a proposta em fevereiro de 2021 por meio do aplicativo MEET em formato de slides sobre o autor, a obra, elementos da narrativa poética. Buscou-se a conformidade com a competência específica 4 da BNCC3: Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-as e vivenciando-as como formas de expressões identitárias, pessoais e coletivas, bem como respeitando as variedades linguísticas e agindo no enfrentamento de preconceitos de qualquer natureza. (Base Nacional Comum Curricular, Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. p. 490)

A contextualização histórica contou com a participação do professor de Geografia para explanar sobre a cartografia geográfica, ambiental e social da Amazônia em seus aspectos denotativos, suas mazelas e degradações, iniciando assim o estudo conotativo sob a perspectiva loureiriana. METODOLOGIA A idealização da implementação de um projeto de leitura que trouxesse à cena escritores

paraenses surgiu após encontrarmos vário volumes da obra Cantares Amazônicos de João de Jesus Paes Loureiro ainda embalados na biblioteca da escola. Imediatamente, segundo os protocolos de segurança, iniciamos a distribuição das obras nos dias 22, 23 e 24 de fevereiro para os alunos. No dia 01 de março de 2021, começamos a realização das rodas de leitura virtuais pelo aplicativo MEET, com as leituras expressivas das três partes do livro: Porantim, Deslendário e Altar em Chamas. Cabe ressaltar a celeuma ocasionada pelo cântico XIII Porantim: Solimões, solidões . Tocantins. Várzea. Varjão O rio comanda a morte? Marapatás – as ilhas flutuantes – São contas do rosário das enchentes Que o rio vem rezando [correnteza]

Entre salve-colonos, salve-pescadores 3

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR, essa competência descreve a parte específica das linguagens e suas tecnologias para o Ensino Médio.

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Ave-raimundas, ave arribação

Jaculatórias flutuam entre ucuubas Caruanas morreram afogadas Os tratores irrompem contra as quilhas Escamas saltam para o pescador Que incorpora guelras E respira O riomar cavoceano barítono Com sua voraz tração de violoncelos O rio desova o rio

E em ondas se descama Após perder o rio Pele de cobra, O rio mundia a selva E como estrada Engole a cauda E desencanta o rio Em seu destino móvel Linguagem náufraga da língua Escadarias de ondas Quilhas após quilhas Centopeia líquida O rio índio espreita Impede E vela O rio retarda as rodas O rio preserva as odes

O rio resguarda a selva Botos e uiaras Bastam-se Repastam-se Efêmeros Efêmeros A corrente da vida -riocorrente Após ter lido toda a obra antes de apresentá-la, lemos este poema em um “salto poético” de porantim direto ao cântico XIII. As primeiras inquietações, certamente, foram as expressões

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linguísticas utilizadas. A maioria não sabia o significado das palavras ali utilizadas como, por

exemplo, o nome da coletânea “porantim” que significa remo e memória. Assim, com a compreensão dos termos, muitos de origem indígena os alunos relatavam suas interpretações através de vídeos, áudios de WhatsApp e produções escritas deixadas na escola. Sobre o “Cântico XIII” as interpretações pautaram-se na preservação dos rios amazônicos, fonte de renda e “estrada” para muitos habitantes da região amazônica. Sobre a inquirição “o rio comanda a morte? ” Foram uníssonos em afirmar que os rios seguem os seus cursos ao mar, as populações tradicionais sabem de suas mudanças naturais, mas sabem que tudo pode piorar com a degradação dos rios (“Solimões, solidões, Tocantins). Um aluno relatou, emocionado, o tempo em que vivera às margens do Rio Tocantins em Marabá. Dos tempos das cheias e

como era difícil adaptar-se às intempéries naturais. Mas, todos tinham consciência que o rio não invadia

as

casas,

porém

as

casas

invadiam

o

ambiente

fluvial.

E era uma “ave-arribação, ave-maria, vamos embora, e depois a gente volta”. “O rio comanda da morte?” A cada leitura, a cada cântico, a cada deslendário, via-se no olhar, ainda que virtual, naquelas reuniões em que muitos sequer ligavam as câmeras, a compreensão da verossimilhança, das metáforas, das figuras de linguagem, das vivências do chão amazônico. Como o próprio autor afirma: Na sociedade amazônica é pelos sentidos atentos à natureza magnífica e exuberante que o homem se afirma no mundo objetivo e é por meio deles que aprofunda o conhecimento de si mesmo. Essa forma de vivência por sua vez, desenvolve e ativa a sensibilidade estética. Os objetos são percebidos na plenitude de sua forma concreto-sensível, forma de união do indivíduo com a realidade total da vida, numa experiência individual que se socializa pela mitologia, pela criação artística, pelas liturgias e pela visualidade. (PAES LOUREIRO, 2012, p.21)

Incluí um prefixo ao título da obra para tematizar e reforçar um dos objetivos a serem alcançados: encantar. “(En) cantares amazônicos”. Um encanto poético, próximo, verossímil, estético. Amazônico.

RESULTADOS ALCANÇADOS Aos alunos da primeira série do Ensino Médio da Escola Estadual Irmã Dulce estava a difícil tarefa de compreender que o ato de ler não é mais apenas um exercício de decodificação de palavras. A mim estava a tarefa de mediar o projeto de leitura. Os discentes, como leitores proficientes, deveriam lançar-se além das margens do livro, interpretando o significado da leitura, saindo do lugar-comum. A linguagem poética de Paes Loureiro, a princípio, muito complexa, vai se desvelando a cada leitura virtual, as interpretações da mitopoética amazônica vai se aproximando de cada leitor literário, e eles vão percebendo que todos aqueles poemas, sem forma fixa e fragmentada, revela a realidade social, geográfica, histórica da região onde vivem. Abaixo alguns registros do seminário4.

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Imagem 1 – A edição utilizada para o projeto.

Fonte: Acervo pessoal do professor Imagem 2- Aluna lê e interpreta Deslenda Virtual de Paes Loureiro.

Fonte: Acervo pessoal do professor. Imagem 3- Aluna explica o cântico XIII de Porantim

Fonte: Arquivo pessoal do professor.

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Os registros e fotos aqui alocadas representam uma ínfima parte do dossiê do projeto, cabe ressaltar que foram postadas apenas as imagens autorizadas por termo de responsabilidade dos responsáveis dos alunos.

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Imagem 4-Aluna declamando poema de cantares amazônicos

Fonte: Arquivo pessoal do professor. Imagem 4- O autor explanando sobre a obra em live com o professor.

Fonte: Arquivo pessoal do professor. Imagem 6- Roda de conversa com o autor Paes Loureiro pelo MEET

Fonte: Arquivo pessoal do professor.

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REFERÊNCIAS

Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/ UNDIME, 2017. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul., 2004. p. 174. LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cantares Amazônicos. 4. Ed. Belém, PA: Cultural Brasil, 2015. _____________. As fontes do olhar. In: Obras reunidas – Teatro e ensaios. São Paulo: Escrituras, 2000. p. 309 a 316. NUNES, Benedito. A recente poesia brasileira: expressão e forma. A clave do poético. São

Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 158-173.

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O AUTOCONHECIMENTO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO: A ressignificação do Ser para o desenvolvimento do equilíbrio físico e mental. Jacqueline Fernandes de Sá Xavier¹ RESUMO - Este trabalho foi realizado a partir do ano letivo de 2020 até o 1º bimestre do ano letivo de 2021, com o objetivo de propor o autoconhecimento como forma de desenvolvimento pessoal, com base na melhoria da qualidade de vida dos educandos. O público alvo contemplado foram oito turmas de alunos do Ensino Médio, da 1ª, 2ª e 3ª séries do turno noturno, da Escola Estadual do Ensino Médio Dr. José Cursino de Azevedo, na disciplina de Educação Física. Vale ressaltar, que as turmas envolvidas possuíam conteúdos comuns e conteúdos específicos a cada série. Para que a efetivação desta mediação ocorresse, buscou-se aliar conhecimentos do componente curricular de Educação Física, com áreas ligadas a psicologia, administração e tecnologias educacionais. A metodologia foi pautada na proposta sociointeracionista, contemplando aulas expositivas, imersões práticas e reflexivas, utilizando a perspectiva da sala de aula invertida. A base teórica utilizada foram conceitos da modernidade líquida de Zygmunt Bauman, e o sentido da vida de Viktor Emil Frankl. O resultado obtido com esta iniciativa perpassou pelo entendimento do propósito de vida dos educandos e a compreensão de planejar e gerir o projeto de vida, reconhecendo-se como protagonista no processo de escolhas, mesmo em cenários críticos de isolamento social. PALAVRAS CHAVE: Autoconhecimento. Protagonismo. Qualidade. Planejamento. Mídia.

INTRODUÇÃO: O estado de vazio existencial, observado em muitas pessoas, com o advento da pandemia, tem intensificado os casos de depressão e ansiedade, sendo um alerta para tomadas de ações que venham atenuar estes casos. Dentro do contexto escolar é perceptível o quanto este cenário atingiu em cheio os jovens, que já estavam imersos em um distanciamento das relações, devido ao estado relacional de modernidade líquida, que impulsionou esta condição de distanciamento, exacerbação da individualidade e frieza nas relações. A cultura da Modernidade líquida, tão bem explicitada pelo sociólogo Zygmunt Bauman

(2004), para definir o tempo da pós-modernidade, é caracterizada pela liquidez, volatilidade e fluidez nas relações, e contribui com a diminuição do sentimento de coletividade, com um olhar mais individualista, e elevada busca do ter em detrimento do ser. Assim pode-se inferir que, mesmo diante de um cenário anterior ao distanciamento social, já era percebido este sentimento de vazio existencial. A ausência da sala de aula física, foi sentida, pois professores e alunos não estavam preparados para esta nova situação, com isto as dinâmicas de aulas tiveram que ser adaptadas à custa de muitos esforços, tanto por parte dos educadores, que não tinham tanta proximidade com os formatos de aula online, ou modelos de metodologias ativas, como também grande parte dos estudantes, que não possuía muito conhe1

Jacqueline Fernandes de Sá Xavier. Licenciada em Educação Física-Uepa. Especialista em Educação Física/ Uepa. Especialista em Tecnologia da Educação- Puc /Rio. Graduando em Administração pela Universidade Leonardo da Vinci – UNIASSELVI.

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cimento do ambiente virtual, pelo menos com a finalidade de estudo educacional formal.

Ao pensar no desenho pedagógico a ser construído, percebi uma oportunidade mediadora de minimizar esse sentimento inóspito, constatado pelos alunos. Assim, comecei a refletir, como alinhar os estudos nesta área, partindo do conhecimento prévio que já possuía sobre questões existenciais, aliado ao conhecimento específico da disciplina de Educação Física: ginásticas holísticas, meditação e as técnicas de autoconhecimento do processo de coaching, tendo como bússola a escuta ativa e a construção individual de um projeto, pautado na qualidade de vida. A união destas questões, na perspectiva da Corporeidade, termo filosófico muito utilizado por pesquisadores da área da motricidade humana, que diz respeito à maneira do cérebro conectar-se ao corpo, como instrumento relacional com o mundo, foi muito importante para ampliar a visão

reducionista de um ser humano com competências cognitivas dentro de um espaço educacional. Todos os estudos que realizamos, enriquecem nosso currículo e nos proporcionam uma amplitude de conhecimentos, favorecendo a nós mesmos e aos que nos cercam. Percebo isto, devido a consciência que tenho que os estudos que empreendi anteriormente, tanto ligados às áreas das tecnologias educacionais, metodologias ativas e autoconhecimento, me deram respaldo e consolidaram as propostas que trilhei, evidenciando a necessidade de estudo e qualificação contínua. A exemplo disso posso citar a especialização que fiz na área da Psicologia e Coaching, a participação em imersões direcionadas para o autoconhecimento, cursos ligados à área da inteligência emocional e técnicas de ressignificação de crenças limitantes, além de cursos de Neurociência, Programação Neurolinguística – PNL e Logoterapia. Vale ressaltar que as novas descobertas sobre as questões da espiritualidade também se fizeram presentes nas abordagens realizadas, haja visto, que possuíam convergências filosóficas. Pensando no propósito da melhoria da qualidade de vida dos educandos, utilizei de leituras e reflexões sobre a descoberta do ponto de Deus em nosso cérebro, que é uma área da inteligência espiritual abordada no livro “QS Inteligência Espiritual”, onde a física e filósofa americana Danah Zohar (2012), teoriza sobre o Quociente Espiritual (QS), o chamado Ponto de Deus no cérebro, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas e a busca

de valores para a vida. Percebi que poderia aliar essas questões com o uso de ginásticas alternativas, como o yoga e a meditação. Pois a posição das mãos em oração e o olhar para o alto em momento de crise promovia um bem-estar nas pessoas, e que estes movimentos são frequentemente experimentados na realização de exercícios de ginásticas alternativas. Participar de cursos e simpósios sobre a força do protagonismo juvenil, enquanto fui professora referência em uma escola de ensino médio no programa Jovem de Futuro, me forneceu alguns elementos para entender como a mente juvenil atua, quando bem estimulada, e que para isto há necessidade de conhecer as expectativas, deste público, através de uma escuta ativa e estimular a autonomia destes, com momentos de acolhimento e construindo de forma colaborativa planos e metas que venham de encontro ao seus interesses e sonhos.

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Outro fator importante que merece esclarecimento, foi entender que nosso corpo colabora

em muito com o nosso equilíbrio físico e emocional, desde que conheçamos nossas potencialidades, de que tenhamos consciência do quão importante é nosso processo de escolha, sejam estas direcionadas para o que comer, que atividade física realizar, que hábitos cultivar, ou mesmo para consciência de que podemos melhorar em muito o humor, se soubermos como estimular os neurotransmissores, que são importantes moléculas presentes nos neurônios e que possuem efeitos benéficos tanto em nossas vidas, como na qualidade dos nossos relacionamentos, ou seja, somos uma grande teia de conexões, que extrapolam nossos limites corpóreos e atingimos a outros que nos cercam tanto física como mentalmente. A gestão de sala de aula também deve ser alvo da análise do profissional de educação,

que tenciona conduzir com maior assertividade suas ações, isto perpassa tanto pela otimização dos espaços, como também o formato metodológico mais adequado ao público ali inserido, assim como os recursos a serem utilizados. Este conhecimento tornou-se mais presente em minha jornada de educadora quando me propus a fazer uma graduação em Administração, e compreendi que a escola por mais que seja uma instituição pública, possui características comuns às instituições privadas, a exemplo disto, prestar serviço de qualidade. Então no que se refere a busca de qualidade, o produto que ela oferta deve visar a satisfação do cliente, que no caso da escola é o aluno, sendo eminentemente primordial que o mediador deste processo goste do que faz, e esteja motivado o suficiente para ser um agente de transformação. A comunidade onde este trabalho foi desenvolvido, está situada em um bairro da cidade de Marabá, as proximidades do rio Tocantins, ressaltando que esta cidade fica localizada no sudeste do Pará, boa parte do alunado é formado por pessoas de baixa renda, na faixa etária entre 16 a 25 anos, algum só estudam e outros estão vivendo a inserção no mercado de trabalho, estes dados foram retirados de relatos dos próprios alunos. Outro ponto observado foi o índice de depressão e de ansiedade, frequentemente apresentadas, agravadas em grande parte pelo distanciamento social, ocasionado pela chegada da covid-19. Partindo dos relatos dos alunos, buscou-se propor estudos e discussões sobre o projeto de

vida dos alunos, a importância de planejar ações para melhor direcionar este processo, estudar sobre as questões sociais que acometem a nossa qualidade de vida, realizar reflexões sobre o processo de modernidade líquida, sentido da vida, vazio existencial e o impacto destes condicionantes na vida das pessoas. Estas mediações foram contempladas no conteúdo programático desta disciplina, ligados a qualidade de vida, saúde mental e corporal, e atividades físicas e mentais alternativas, numa visão holística do ser humano. O objetivo geral desta iniciativa foi estimular o autoconhecimento dos educandos do turno noturno, como fator preponderante para construção do projeto de vida, na perspectiva da qualidade de vida. Os objetivos específicos foram: •

Refletir sobre o sentido da vida e da crise existencial;

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Estudar os níveis de inteligência emocional como fator para o gerenciamento de emo-

ções; •

Dar significado ao entendimento de qualidade de vida;

Compreender a linguagem corporal como fator de melhoria no relacionamento pessoal e interpessoal;

Tornar mais visíveis e significativos os conhecimentos registrados através de mapas mentais, como instrumento de visibilizar processos e assim melhor entender situações.

Este trabalho foi realizado durante o ano letivo de 2020 até o 1º bimestre do ano letivo de 2021, sendo que o mesmo possui subsídios para ser continuado posteriormente. Saliento, também, que anterior a pandemia, ainda no ano letivo de 2019, ocorreram algumas inferências liga-

das ao autoconhecimento, relacionamento interpessoal, pois sempre priorizei enquanto educadora física a melhoria da saúde, como fator de qualidade de vida. DISCUSSÃO TEÓRICA Para realizar o processo de mediação foi necessário um amplo estudo na área da inteligência emocional, inteligência espiritual, inteligências múltiplas, relações humanas, qualidade de vida, ginásticas alternativas e linguagem corporal, bem como, conhecimentos na área do coaching e psicologia, administração, tecnologias educacionais e mediação pedagógica. Do professor é solicitado um leque de constantes aprendizados, sendo necessário que este viva em frequente capacitação, além de que tenha também conhecimento sobre o universo humano, contido na escola, e as diversas necessidades dos educandos no que se refere aos aspectos humanos, afetivos, sociais, como também, acerca dos métodos mais adequados para utilizar nas suas práxis pedagógicas: Nossa sociedade vive momentos paradoxais do ponto de vista da aprendizagem. Por um lado, há cada vez mais pessoas com dificuldades para aprender aquilo que a sociedade exige delas, o que, em termos educacionais, costuma ser interpretado como um crescente fracasso escolar. Que professor, aluno ou simplesmente pai ou mãe nunca disse ou ouviu dizer que os alunos sabem cada vez menos, que estão menos preparados? Quem nunca se deparou com estatísticas preocupantes sobre baixos índices de leitura e de aprendizagem dos alunos? Contudo, ao mesmo tempo em que esse fracasso escolar cresce assustadoramente, também podemos afirmar que o tempo dedicado a aprender estende-se e prolonga-se cada vez mais na história pessoal e social, ampliando a educação obrigatória, impondo uma aprendizagem ao longo de toda a vida e, inclusive, levando a que muitos espaços de ócio sejam dedicados a organizar sistemas de aprendizagem informal. (SALGADO e AMARAL, Brasília, 2008, p.29)

A imagem profissional do educador tem um grande potencial para mobilizar o educando, assim como a metodologia escolhida e o conteúdo a ser mediado, sendo coerente ponderar as necessidades de aprendizagem dos alunos, ter clareza do ponto de partida e considerar aonde se quer chegar, sempre com vistas aos objetivos pleiteados e as metas a serem atingidas. [...] para fazer a mediação pedagógica, o professor precisa acompanhar o processo de aprendizagem do aluno, ou seja, entender seu caminho, seu universo cognitivo, bem como sua cultura, história e contexto de vida. Além disso, é fundamental que o professor tenha clareza da sua intencionalidade pedagógica para saber intervir no processo de aprendizagem do aluno, garantindo que os conceitos utilizados, intuitivamente ou não, na realização do projeto sejam compreendidos, sistematizados e formalizados pelo aluno. (SALGADO e AMARAL, Brasília, 2008, p.187)

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O distanciamento das relações humanas, criou barreiras, e compilou para um individualismo capitalista e desumano. Assim, houve o desenrolar de um processo de isolamento que ao meu ver é bastante prejudicial para um desenvolvimento pessoal. Muitos valores com isto foram descartados em prol de relacionamentos cada vez mais líquidos como bem dizia BAUMAN, (2004). Em grupos onde há altos níveis de estática social e emocional - seja por medo ou raiva, rivalidades ou ressentimentos - as pessoas não podem dar o melhor de si. Mas a harmonia permite a um grupo aproveitar ao máximo as capacidades mais criativas e talentosas de seus membros. (GOLEMAN, Inteligência Emocional. Rio de Janeiro, 1995, p.117)

Dessa forma, este trabalho perpassou por uma análise do conhecimento de relevância para

os alunos elencados através de observações e questionamentos realizados no decorrer do ano letivo de 2020 e 2021, sendo que estas mediações e escolhas dos conteúdos também levaram em consideração as intervenções anteriores a pandemia em aulas presenciais. Dentro desse contexto lancei mão de várias abordagens e técnicas estudadas e vivenciadas por mim enquanto estudante e professora. PERCURSO METODOLÓGICO Pensar no percurso metodológico requer um olhar direcionado para o processo de ensino aprendizagem. Entender o ponto de partida, saber onde se quer chegar e qual caminho percorrer, tendo como termômetro deste processo o feedback dos alunos. Assim, além do conhecimento do objeto a ser analisado, dos fatores que permeiam as interações, dos recursos disponibilizados, o professor necessita ter esse olhar, que é fruto de todas as suas vivências e saber fazer escolhas assertivas, que venham a colaborar com o processo de ensino aprendizagem. A sala de aula invertida, que é uma metodologia ativa contida na obra de Bacich e Moran (2018). E este formato de metodologia foi utilizado neste projeto, por possuir uma abordagem diferenciada, que acreditei ser a melhor opção para o momento de afastamento social que estávamos vivendo, e que poderia ser eficaz e significativa aos alunos envolvidos e a mim também

como profissional. Neste formato de aula

o processo de aprendizagem do aluno ocorreu tanto

antes do encontro coletivo em sala de aula, neste caso em aulas síncronas pelo google meet, como também em atividades pós aula, nesta perspectiva foram realizados questionamentos e experimentações, fazendo uso de induções e deduções. Como a proposta visava uma educação humanizada, considerou-se os aspectos cognitivos e emocionais. Apesar de termos metas e datas para realização das atividades propostas considerou-se o ritmo e o nível de aprendizagem dos envolvidos, para que não ocorressem generalização das ações, aqui abro espaço para sugerir a leitura do livro “Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora: Uma Abordagem Teórico-Prática”, Bacich e Moran (2018), que descreve a metodologia da sala de aula invertida, estes autores trazem a discussão o por que e para que usar metodologias ativas em sala de aula. Sendo de grande valia aos educadores que pensam e conhe-

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cem um pouco mais sobre esta proposta, salientando que o educador necessita beber de muitas

fontes, ser curioso e experimentar o novo, como algo a torná-lo melhor e não como algo a ser temido ou rejeitado. O movimento aqui trilhado levou em consideração o protagonismo juvenil, o design educacional e a cultura maker, a fim de estimular este dinamismo gerador do gosto por conhecer e construir conhecimento. Apesar de ser um processo demorado e minucioso, foi muito gratificante pois de acordo com as afirmações dos envolvidos foram momentos de muito aprendizado e autoconhecimento. A escolha desse formato metodológico deu-se por possuir uma dinâmica inovadora que inverte a lógica de organização do processo de aprendizagem, já que os alunos aprendem os con-

teúdos anteriormente e, em seguida, na sala de aula, podem elevar o processo de construção com seus pares. A utilização de mapas mentais, serviu para proporcionar maior visibilidade aos conceitos estudados, além de facilitar a aprendizagem dos alunos, pois os mesmos também construíram mapas mentais em algumas das atividades propostas. Esse formato tornou a experiência de construção do conhecimento mais criativa e significativa. As ações desenvolvidas neste relato envolveram oito turmas do ensino médio do turno noturno. Percurso metodológico das aulas das turmas das 1ª séries do ensino médio: 1º - Diagnóstico através da escuta ativa dos educandos; 2º - Estudos sobre espiritualidade, vazio existencial e modernidade líquida; 3º- Estudos sobre inteligência emocional com foco no autoconhecimento e relacionamento interpessoal; 4º - Estudos sobre a eficácia do relaxamento mental e corporal; 5º - Construção do projeto de vida; 6º - Vídeo explicativo retirado do YouTube, sobre a construção de um mapa mental; 7º - Produto Final: Construção de um mapa mental, baseado no projeto de vida desenvolvi-

do de forma artesanal ou através de aplicativo enviado a professora; 8º - Socialização do mapa mental do Projeto de vida, através das redes sociais dos alunos (Item facultativo). Passo a passo das abordagens realizadas nas turmas de 2ª séries do ensino médio: 1º - Diagnóstico através da escuta ativa dos educandos; 2º - Estudos sobre espiritualidade, vazio existencial e modernidade líquida; 3º - Estudos sobre inteligência emocional com foco no autoconhecimento e relacionamento interpessoal; 4º - Estudos sobre a eficácia do relaxamento mental e corporal; 5º - Estudos sobre os Hormônios da Felicidade; 6º - Estudos sobre a linguagem corporal e relato com o tema: Como você se enxerga? Pos-

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terior ao estudo da linguagem corporal realizado e em observação e autoanálise dos alunos.

7º - Vídeo explicativo retirado do YouTube, sobre a construção de um mapa mental; 8º - Produto Final: Construção de um mapa mental baseado no e relato com o tema Como você se enxerga? Ficando a escolha do aluno a forma de construção do mesmo se de forma artesanal ou através de aplicativo e enviado a professora; 9º - Socialização do mapa mental Como você se enxerga, através das redes sociais dos alunos. (Item facultativo) Passo a passo das aulas da 3ª série do ensino médio: 1º - Diagnóstico através da escuta ativa dos educandos; 2º - Estudos sobre espiritualidade, vazio existencial e modernidade líquida;

3º Estudos sobre inteligência emocional com foco no autoconhecimento e relacionamento interpessoal; 4º - Estudos sobre a eficácia do relaxamento mental e corporal; 5º - Estudos sobre Longevidade e qualidade de vida; 6º - Construção de um planejamento da longevidade com qualidade considerando os fatores de riscos de um idoso; 7º - Vídeo explicativo retirado do YouTube, sobre a construção de um mapa mental; 8º - Desenvolvimento de um plano de longevidade, pós 50 anos considerando os fatores de riscos; 9º - Produto Final: Construção de um mapa mental baseado na possibilidade de longevidade do aluno, ou seja, como ele planejaria viver após os 50 anos, esta atividade foi desenvolvida de forma artesanal ou através de aplicativo e posteriormente enviada para a professora; 10º - Socialização do mapa mental do planejamento da longevidade dos alunos realizado, através das redes sociais dos alunos. (Item facultativo). Assim, pode-se observar que em todas as séries houveram temas comuns e outros peculiares a cada turma. Técnicas e aplicativos utilizados:

Com relação a sala de aula invertida, antes dos conteúdos serem abordados se fazia alguns questionamentos ou perguntas problematizadoras, sobre o conhecimento dos alunos acerca da temática a ser ministrada, para que alunado pudesse ter uma maior participação, socializando seus achados em momentos de estudos com a turma. Nesta perspectiva houve a preocupação de aliar o conhecimento de mundo trazido pelo aluno e o conhecimento científico, trabalhado através de pesquisas e aulas expositivas. Assim foram utilizados os seguintes recursos: •

Ferramentas do Google, como o Google Forms, para aplicação de alguns questionamentos individuais;

Construção de textos coletivos utilizando a ferramenta docs do Google (https:// docs.google.com);

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Situações problemas, com questionamentos sobre o entendimento de espiritualidade,

vazio existencial, sentido para vida, relacionamentos líquidos; •

Brainstorming (tempestade de ideias), registro sobre as perguntas que serviram de base para as leituras e reflexões;

Meditação;

Estudos voltados para a inteligência emocional e qualidade de vida;

Mapa mental.

Técnicas do processo de autoconhecimento como roda da vida e Mandala Ikigai.

ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS:

O método de ensino utilizado neste projeto foi sociointeracionista, onde o professor através das mediações favorece ao aluno a interação e o conhecimento disponível no ambiente, deste processo de interação tanto pode haver modificação do ambiente, como o ser humano pode ser modificado por este. Após as perguntas problematizadoras foi solicitado que os alunos fizessem a chamada tempestade de ideias ou brainstorming, uma metodologia usada para estimular a capacidade criativa sem reservas de pensamento. Esta ação de certa forma antecedeu a todas as questões abordadas no decorrer deste projeto. A flipped classroom, em nossa língua denominada, sala de aula invertida, criada por volta de 2008, por dois professores de ensino médio norte-americanos, Bergmann e Sam, foi o formato de aula que percebi que tinham total compatibilidade ao modelo de ensino que que vivíamos atualmente, devido ao afastamento social, em que alguns alunos, seja por ausência de aparelho telefônico ou de internet nem sempre podem estar frequentando as aulas síncronas, e muitos professores para colaborarem com a efetivação das aulas, gravam estas ou disponibilizam material para que estes alunos possam estudar, em outro momento. Bergmann e Sams, gravaram vídeos com o conteúdo das suas aulas de química e disponibilizaram on-line para os alunos que não compareciam às aulas. Hoje o cenário não é o mesmo, porém possuem algumas situações

parecidas. A utilização do mapa mental, serviu para proporcionar maior visibilidade e significado aos conceitos estudados, além de facilitar a aprendizagem dos alunos, pois os mesmos também fizeram uso de mapas mentais, em algumas das atividades propostas. Este tipo de representação visual, foi sistematizada pelo psicólogo Tony Buzan (2019), e utilizado na gestão de informações, compreensão e solução de problemas. Alguns instrumentos e técnicas de coaching, foram utilizadas nas intervenções das aulas de Educação Física, a roda da vida, que identifica os pontos de sua vida que estão em harmonia, bem como os que precisam de atenção, este instrumento foi utilizado para fazer uma sondagem do estado atual dos alunos e nortear os caminhos que poderiam ser empreendidos no decorrer deste processo. Esta foi a forma encontrada para que os alunos pudessem aprofundar no

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autoconhecimento. Existem muitas obras direcionadas para o conhecimento da metodologia do

coaching, no livro “Aplicação do Coaching & Mentoring na Educação: Como alcançar resultados no meio educacional” (2017), existem várias propostas de como utilizar o processo do coaching na educação. Outro recurso utilizado para fazer uma análise da vida em vários aspectos e entender um pouco mais sobre a visão e a missão de cada um dos envolvidos foi o desenvolvimento da Mandala Ikigai com os alunos, este instrumento de autoconhecimento é composto de 4 círculos, com os seguintes questionamentos: O que você ama? O que você faz bem? O que o mundo precisa? O que você é pago para fazer? Esta mandala, foi utilizada para fornecer respostas para a razão de ser dos alunos, já que ela une aspectos ligados à vocação e ao propósito de vida.

No livro de García, Héctor Ikigai: os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz (2018), pode-se ter uma maior visibilidade dos segredos da longevidade dos japoneses e apresenta uma filosofia de vida que conversa com a necessidade dos seres humanos encontrarem um sentido para vida fazendo um mergulho na filosofia do Ikigai. Todas estas ações, métodos e técnicas foram de muita valia para os resultados obtidos, e a compreensão da necessidade de planejar e gerir o projeto de vida, levando os alunos a se reconhecerem protagonistas no processo de escolhas, mesmo em cenários críticos de isolamento social. A base teórica de Zygmunt Bauman acerca da modernidade líquida presente nas relações humanas atuais, conjuntamente com os conceitos da Logoterapia de Viktor Emil Frankl, pautado no sentimento da vida, foram questões que serviram de marco inicial para as perguntas problematizadoras. O percurso metodológico trilhado no decorrer deste projeto foi baseado na relevância de uma vida mais salutar, significativa e com qualidade, assim a avaliação que faço das socializações dos trabalhos aqui empreendidos e vividos pelos educandos é de que a meta aqui proposta foi atingida, em sua maioria e que os alunos que fizeram parte deste processo, tiveram uma oportunidade de despertar o olhar para a necessidade de fazer escolhas e planejar as suas

ações de acordo com o sentido e os objetivos de vida que os mesmos possuíam. Pode-se observar que foi gerado entre os alunos um olhar mais atento no que se refere ao autoconhecimento e o conhecimento do outro, como fator preponderante para saber lidar com as questões sociais que os acometem, como ansiedade e depressão advindo do processo de vazio existencial e dos processos de modernidade líquida, tão latentes em nossa sociedade. Esta experiência contemplou boa parte das competências da BNCC, como por exemplo: Trabalho e Projeto de Vida, Conhecimento, Cultura digital, Autoconhecimento e autocuidado, Empatia e cooperação, Argumentação, Repertório cultural. Como também garantiu a efetivação dos conteúdos de Educação Física propostos de forma integral e interligadas às necessidades dos educandos.

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CONCLUSÃO:

O ambiente educacional é muito mais que um espaço de construção de conhecimento, ou uma estrutura arquitetônica muitas vezes criticada como engessada ou estagnada, ele é construído de pessoas, com diversas formas de ser e sentir, vindos de lugares com valores e princípios distintos, com visões de mundo que em muitas ocasiões convergem ou divergem, é neste espaço diverso que vivemos muitas horas de nossas vidas, que algumas relações são construídas, que nos conhecemos e conhecemos o outro, que aprendemos a ser, a fazer e a conviver. Cabe à escola propor uma educação humanizada, que valoriza as pessoas e suas relações, que busque a compreensão das emoções e as particularidades de cada educando, que atenda o aluno de forma integral e não vise apenas o desempenho acadêmico, uma escola aco-

lhedora e que transmita segurança aqueles que dela façam parte. É interessante registrar que os alunos que participaram desta abordagem puderam sentir de perto o quanto ações pensadas e planejadas podem contribuir para a visão de mundo que desenvolvemos e a qualidade de vida que temos, como também a compreensão sobre as mudanças socioculturais possuírem grande influência em como enxergamos o mundo, e que nosso processo de escolha tem impactos positivos e negativos, tanto em nossas vidas como na vida daqueles que nos cercam. O objetivo de estimular o autoconhecimento dos educandos do ensino médio da escola Dr. José Cursino de Azevedo do turno noturno, foi alcançado, haja visto, que todos que se colocaram a viver este processo realmente deram maior significado a forma de se perceber diante do mundo, além de realizar o projeto de vida com base em uma vida mais equilibrada e de qualidade. Acredito que esta iniciativa necessita manter uma sequência, e deve ser multiplicada em outras unidades de ensino, pois muitos jovens e adultos encontram-se em crise existencial, e devido ao turbilhão de emoções muitos se perdem nesta caminhada, por não conseguirem encontrar saídas, nem respostas esperançosas em meio ao caos que estão inseridos. O atual quadro de pandemia tornou mais crítica esta situação, isto é preocupante pois atingir em cheio o as-

pecto psicológico das pessoas, e, por conseguinte, também nossa relação pessoal e interpessoal, constituindo-se em um problema de saúde, que acomete a muitos jovens, e que merece uma maior atenção das esferas educacionais e sociedade civil. A escola possui meios de promover acolhidas, através de escutas ativas, dinâmicas de grupos que desenvolvam a afetividade, o autoconhecimento, debates que despertem a busca do sentido da vida diante da crise existencial. Estas pequenas ações podem amenizar esta condição, que provoca tanta dor no nível físico e emocional, a exemplo disso o aumento notado em nossos dias da ansiedade e da depressão.

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O FUNCIONAMENTO DE UM CLUBE DE CIÊNCIAS ESCOLAR EM TEMPOS DE PANDEMIA POR COVID-19 Douglas Farley Barroso Pereira1 Tatiana Queiroz Sardinha2 RESUMO - O presente relato tem por objetivo esclarecer os mecanismos de ensino e orientação dos trabalhos de estudantes pertencentes a um Clube de Ciências de uma escola pública da rede estadual do município de Oriximiná - PA, apresentando como estes foram desenvolvidos durante os primeiros anos de pandemia causada pelo novo coronavírus. A pesquisa é descritiva e para ajudar a compor o relato, aplicou-se questionário on-line a quatro estudantes clubistas, bem como a análise do relatório do referido Clube do ano de 2020 e primeiro semestre de 2021. A análise dos dados apontou a dificuldade de acesso às ferramentas digitais por parte dos estudantes, a instabilidade de conexão com a internet na região e a pouca familiaridade com as ferramentas digitais, como principais entraves para realização das atividades de forma remota. Mas, revelou como alguns desses desafios foram superados, pelo estabelecimento de parcerias com centros de ciências locais, grupos de formação de professores e secretarias de saúde e educação do município, permitindo o desenvolvimento de projetos de investigação científica e possibilitando a participação dos estudantes em eventos científicos on- line que resultaram em premiações. PALAVRAS- CHAVE: Ensino remoto emergencial. Ensino de Ciências. Iniciação científica juvenil.

INTRODUÇÃO A pandemia causada pelo novo coronavírus SARS Cov-2 foi decretada no dia 11 de março de 2020 pela Organização Mundial de Saúde, provocando a suspensão temporária das atividades não essenciais no intuito de conter o avanço da Covid-19 e preservar vidas (OMS, 2020). Isso impactou significativamente diversos setores no mundo todo. No setor educacional, esses impactos provocaram a suspensão imediata das aulas presenciais e adoção de um novo modelo de ensino pautado nas tecnologias digitais, o que acabou gerando incertezas e insegurança devido à falta de estrutura e de familiaridade a essas tecnologias por grande parte dos educadores e estudantes. No caso específico dos professores lotados em espaços pedagógicos, como laboratórios multidisciplinares de ciências, a princípio surgiram várias inquietações sobre a lotação, metodologia e avaliação neste novo formato de ensino. Por outro lado, com o passar do tempo, essa inquietação foi diminuindo, através da formação continuada proporcionada por grupos de formação ligados a universidades e outros centros de formação continuada, bem como com a ajuda de colegas que possuíam maior familiaridade com o uso dessas ferramentas digitais. 1

Professor coordenador do Clube de Ciências da EEEM Padre José Nicolino de Oriximiná- PA. Mestre em Ciências Ambientais pela UFOPA (douglasfarley2009@gmail.com). 2 Professora Colaboradora do Clube de Ciências da Escola Nicolino. Bióloga pela UFPA (tati.sardinha2021@gmail.com).

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Dessa forma, o presente trabalho visa esclarecer os mecanismos de ensino e orientação

dos trabalhos de estudantes pertencentes a um Clube de Ciências de uma escola pública da rede estadual no município de Oriximiná- PA apresentando como estes foram desenvolvidos durante os primeiros anos de pandemia causada pelo novo coronavírus. DISCUSSÃO TEÓRICA A pandemia ocasionada pelo novo coronavírus que provocou milhares de mortes no mundo todo afetou significativamente o ensino de forma geral. A literatura tem relatado as percepções de professores e estudantes diante deste novo cenário. Silva et al. (2020) realizaram um estudo de caso qualitativo, no período de junho a julho

de 2020, que teve a participação de 144 estudantes mediante questionário on-line, no qual foi notado insatisfação, relacionados não só ao acesso à internet e equipamentos, à modalidade de ensino, afetando a qualidade do ensino e da aprendizagem. Vasconcelos et al. (2020) realizaram um estudo com 39 professores de instituições de Ensino Superior da cidade de Belém, Pará, no período de março a junho de 2020, sobre as experiências vivenciadas e os impactos no exercício da docência advindos da implementação do ensino remoto emergencial durante a pandemia de covid-19. Os resultados sinalizaram a percepção docente acerca da multiplicidade e diversidade de papéis que assumiram, e evidenciaram a grande e contínua capacidade de adaptação, criatividade e reinvenção desses profissionais da Educação. Lima e Morais (2020) analisaram quais as principais dificuldades enfrentadas por alunos e professores de ciências na realização do ensino remoto durante a pandemia por Covid-19. O estudo foi realizado a partir de revisão de literatura narrativa, através do levantamento bibliográfico de artigos, teses e dissertações publicados recentemente. Verificou- se que um dos desafios relatados pelos professores, foi traçar um plano para atendimento dos estudantes e promover esse acesso a esse atendimento. Afirmaram também, que o atual cenário pode trazer consequências negativas para o ensino de ciências, porém não há ainda respostas para sanar o problema, ne-

cessitando haver diversas discussões com todos os envolvidos na educação, de forma a se criar um processo educacional de qualidade para o pós-Covid-19. Constata-se que ainda há poucos trabalhos na literatura relacionados ao ensino de ciências em tempos de pandemia. E no caso de espaços alternativos de educação científica, como clube de ciências, estes registros são mais escassos ainda, daí a relevância do presente trabalho. PERCURSO METODOLÓGICO O município de Oriximiná- PA está localizado na Região Oeste do Pará, na mesorregião do Baixo Amazonas, com uma área de aproximadamente 107.602,99 Km 2 e uma população estimada em 71.078 habitantes (PMO, 2021).

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Figura 1 - Mapa do município de Oriximiná.

Fonte: SIPAM, 2009.

A Escola Estadual de Ensino Médio Padre José Nicolino de Souza está situada na zona urbana do município de Oriximiná e funciona nos três turnos com aproximadamente 1.440 estudantes regularmente matriculados, possui laboratório de informática, laboratório de matemática e laboratório multidisciplinar de ciências da natureza (SEDUC-PA, 2020). O Clube de Ciências da E.E.E.M. Padre José Nicolino de Souza é um projeto do Laboratório Multidisciplinar de Ciências da Natureza da escola, se constituindo em um espaço alternativo de educação em Ciências, tendo como finalidade a promoção da alfabetização científica na

escola tendo como abordagens que promovam a alfabetização científica de forma ampla (CHASSOT, 2000, LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001; SASSERON; CARVALHO, 2011) como o ensino de Ciências por investigação (CARVALHO, 2018; SASSERON, 2018) e o enfoque Ciência Tecnologia e Sociedade - CTS (AULER; BAZZO, 2001; LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001; SANTOS; MORTIMER, 2002). Inaugurado em 19 de junho de 2017, o Clube atende estudantes regularmente matriculados na escola e que manifestem interesse em participar através do preenchimento da ficha de inscrição (SARDINHA; PEREIRA, 2020; PEREIRA, 2021). No ano de 2020, a divulgação sobre o processo seletivo do Clube ocorreu no início de fevereiro de sala em sala e nos murais da escola. E a seleção foi realizada no início do mês de março e consistiu de prova escrita com questões da área de Ciências da Natureza, contendo também uma redação e posteriormente uma entrevista. No processo foram inscritos e aprovados 22 estudantes para participar das atividades do Clube de Ciências. Estes se juntaram a oito estudantes clubistas participantes do ano anterior. Promoveu-se nos dias 27 e 28 de fevereiro de 2020, um Curso de Formação de professores-orientadores e monitores para atuação no Clube de Ciências, o qual foi ministrado por um professor do Instituto de Ciências da Educação- ICED da Universidade Federal do Oeste do Pará- UFOPA- Campus de Santarém e realizado nas dependências da escola.

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Figura 2-Curso de formação para professores e monitores do Clube de Ciências.

Fonte: Arquivo pessoal.

No dia 15 de março ocorreu o primeiro e único encontro presencial da turma 2020. Neste encontro, o coordenador realizou o acolhimento da turma e monitores apresentaram o Clube de Ciências aos novos estudantes. Estes também puderam falar de suas expectativas e esclarecer dúvidas sobre as atividades que seriam desenvolvidas ao longo do ano. No entanto, no dia 17 de março as aulas da escola e consequentemente as atividades do clube foram suspensas devido à pandemia por SARS Cov-2. Somente, no mês de junho retomamos as atividades de forma remota com a realização de um evento alusivo ao 3º aniversário do Clube de Ciências da Escola via plataforma Zoom

Meeting. Este evento contou com a presença de estudantes clubistas e professores convidados pertencentes a dois outros Clubes de Ciências do estado: o da Universidade Federal do Oeste do Pará- Campus de Santarém e o da Universidade Federal do Pará- Campus de Castanhal. Apesar do contexto que estavam vivenciando com o auge da pandemia no estado, este evento contribuiu significativamente para continuidade das atividades do Clube. A partir daí, os membros do Clube de Ciências da escola continuaram se interagindo, as orientações dos projetos de iniciação científica dos bolsistas ocorriam de forma assíncrona, via grupos de Whatsapp e outras redes sociais, e também de forma síncrona por videoconferência do Google meet, as quais ocorriam pelo menos uma vez por mês. Alguns projetos dos estudantes bolsistas PIBIC Júnior, como o sobre a análise de água dos bebedouros da escola exigiram coletas de campo, as quais foram realizadas no mês de novembro de forma presencial, mas seguindo rigorosamente os protocolos sanitários estaduais e municipais. Dessa forma, foram desenvolvidos, submetidos e aprovados para apresentação na III FECITBA virtual quatro projetos: “Análise da Qualidade da água para consumo humano em uma escola pública do município de Oriximiná”, “Máquina de descascar castanha de caju”, “A utilização da energia solar como forma de calor para funcionamento de um motor Stirling” e “O desper-

tar da iniciação científica através do ensino da Astronomia” cada um destes projetos de investigação, eram compostos por uma equipe formada por três estudantes clubistas, um estudante

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monitor, um professor-orientador e um coorientador.

Através do ensino remoto emergencial mediado pelo professor-orientador, monitores e contando com apoio dos pais/responsáveis dos estudantes também foi possível à participação dos estudantes em eventos científicos on- line como a Olimpíada Nacional de Ciências- ONC 2020. Na qual todos os estudantes clubistas foram inscritos para participar da primeira fase que ocorreu no mês de agosto de 2020. Mas alguns estudantes relataram dificuldades de acesso durante a prova e outros devido à essa instabilidade de conexão com a internet e não puderam realizar a prova. Figura 3- Cartazes dos eventos científicos que o Clube de ciências da escola participou durante a pandemia.

Fonte: CPADC/ UFOPA, 2020.

Fonte: ONC, 2020.

No mês de dezembro o Clube de Ciências da Escola promoveu uma roda de conversa virtual, como forma de confraternização, a qual foi ministrada por uma professora do ICED da UFOPA de Santarém que conversou sobre: “A importância da alfabetização científica na escola” tendo como público- alvo não só professores e estudantes do Clube de Ciências da escola, como também de outras escolas de Oriximiná, de Santarém e acadêmicos da UFOPA- Campus de Santarém. Figura 4- Roda de conversa virtual de confraternização com a participação da Professora do ICED da UFOPA de Santarém em dezembro de 2020.

Fonte: Arquivo pessoal.

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Em fevereiro de 2021, os estudantes participaram da 3ª edição da FECITBA. Os estudan-

tes gravaram vídeos, editaram os mesmos, por meio de aplicativos e enviaram de seus projetos de investigação à coordenação da referida Feira de Ciências, os quais ficaram disponíveis na página do evento em estandes virtuais. Essa participação resultou em diversas premiações, tais como: uma medalha de 1ª lugar no concurso de desenho científico da categoria ensino médio, uma medalha de prata na área de Ciências Exatas, duas de bronze nas áreas de Engenharias e Ciências Biológicas, respectivamente. Além de uma menção honrosa na área de Ciências Exatas. Figura 5- Professor coordenador recebendo a premiação do Clube de Ciências da Escola Nicolino em Santarém-PA para entregar aos estudantes clubistas.

Fonte: Arquivo pessoal.

Neste ano de 2021, ainda pandêmico, iniciou com elevado número de mortes causadas pela nova variante brasileira do SARS Cov-2 e com medidas restritivas impostas à mesorregião do Baixo Amazonas. Por essa razão, a escola só iniciou o período letivo no mês de março. O Clube de Ciências também acompanhou o calendário escolar e iniciou as inscrições de forma on-line em março com divulgação pelas redes sociais em grupos de Whatsapp e facebook da escola. Utilizou-se o Google formulário para realizar as inscrições dos estudantes. Não houve processo seletivo, nem limite de vagas para os estudantes participarem do Clube de Ciências da Escola e as atividades continuaram sendo realizadas no formato remoto utilizando ferramentas digitais do G suite for education como: Google classroom. Além de outros aplicativos e simuladores como Mentimeter, Skyview, Stellarium, Celestia, PhET colorado, Tinkercad, Canva, que fossem gratuitos e interativos e que possibilitem alcançar os objetivos propostos. Criou-se mais um grupo de Whatsapp para os professores-orientadores e colaboradores

do Clube de Ciências da escola Nicolino o qual foi denominado “Brainstorming CCN” o qual servirá para planejamento e avaliação das atividades desenvolvidas pelo Clube.

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Figura 6-Sala de aula virtual do Clube de Ciências da escola.

Fonte: III FECITBA- PARÁ.

A aula magna foi realizada de forma virtual pelo Google Meet por um ex-aluno da escola que atualmente reside nos Estados Unidos da América e mediada por um professor da escola. No mês de maio foi realizada uma roda de conversa virtual falando sobre a importância da parceria universidade x escola, a qual foi ministrada pela diretora do Campus Universitário Local, a qual sobre os cursos ofertados, projetos de pesquisa e extensão. Na ocasião foi exibido um vídeo simulando uma visita virtual que costumávamos fazer de forma presencial pelos laboratórios da instituição. As sequências de ensino foram sendo construídas pelos professores e colaboradores de acordo com os temas de interesse dos estudantes, os materiais de apoio foram sendo inseridos na sala de aula do Google Classroom. No intuito de ajudar a compor o presente relato, foi consultado o relatório das atividades do Clube de Ciências escolar do ano de 2020 e do primeiro semestre de 2021, e aplicado questionários on- line utilizando o formulário do Google Forms com questões abertas a quatro estudantes clubistas participantes, escolhidos em razão da elevada frequência e participação nas atividades do Clube no período analisado. Por questões éticas, todos que concordaram em participar da pesquisa, assinaram um termo de consentimento livre esclarecido e como forma de preservar a identidade dos sujeitos se

optou no presente relato em utilizar pseudônimos de EC- para estudantes clubistas. ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS A análise dos questionários revelou os desafios enfrentados pelo Clube de Ciências da escola diante deste cenário pandêmico e as possibilidades que esta forma de ensino remoto proporcionou. “Mesmo com a pandemia, o clube teve uma ótima adaptação no formato remoto, apesar de nós clubistas termos sido acostumados com as aulas presenciais”- EC1. “O clube se reorganizou rapidamente aos meios digitais, tais como o ‘Google Classrom’ e ‘Google Meet’ que viabilizou a continuidade em período pandêmico”- EC2. “Estou sem celular, uso o da minha tia por conta da versão dos aplicativos. Mas, a internet às vezes se torna um problema”- EC3. “Meu único problema é com a internet instável”- EC4.

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Nos excertos acima, os estudantes EC1 e EC2 explicitam que a maioria dos desafios que

surgiram foram sendo contornados rapidamente pelos participantes, principalmente através do uso de ferramentas digitais que permitiu a realização das atividades síncronas e assíncronas. Apesar disso, alguns desafios ainda permanecem como nas falas do EC3 e EC4, que citam a falta de aparelhos celulares e a instabilidade da internet como empecilhos. Lima e Moraes (2020) também relataram essas dificuldades no uso das plataformas digitais, principalmente para alunos de escola pública, relacionados sobretudo ao uso de internet, o que prejudica o acompanhamento. Esses problemas requerem políticas públicas de inclusão digital e a diminuição das desigualdades socioeconômicas. E vem de encontro ao trabalho de ao estudo de Silva et al, (2020)

que concluíram que o ensino remoto emergencial ainda precisa ser baseado nas necessidades sociais, culturais, econômicas e psicológicas dos discentes, e não somente, em questões operacionais e teóricas. Os estudantes tiveram a oportunidade de participar da Olímpiada Nacional de Ciências que compreendeu duas fases, ambas no formato 100% online com questões de química, biologia, física, história e astronomia. Nesse evento, três estudantes passaram para a segunda fase e uma estudante clubista recebeu menção honrosa. No excerto seguinte a estudantes comenta sobre a participação no evento. “Eu achei ótima a participação na ONC, os clubistas tem conseguido realizar bem as provas on-line, e até conseguimos menção honrosa, foi uma grande experiência”- EC1. Outro evento virtual que os clubistas tiveram a oportunidade de participar foi a Feira de Ciências e Tecnologias Educacionais da Mesorregião do Baixo Amazonas promovida pela Universidade Federal do Pará de caráter estadual, o Clube de Ciências da escola conseguiu aprovar todos os quatro projetos de iniciação científica que foram submetidos e todos receberam premiações no evento. “A participação na III FECITBA foi excelente, com a continuidade dos projetos de forma remota, conseguimos ótimos resultados”- EC2. “Mesmo com todas as dificuldades e pandemia, conseguimos mais um ano de muitas conquistas e aprendizado para todos os membros do Clube”- EC3. “Foi uma experiência muito boa, principalmente pela dedicação de alunos e professores nas atividades”- EC4.

Assim como o EC1 avaliou a participação na III FECITBA, os EC2, EC3 e EC4 avaliaram a participação na ONC como exitosa, mesmo com todas as dificuldades anteriormente citadas. Um fator importante com esses tipos de eventos online é a flexibilidade de horário e a diminuição de gastos com viagens ou estadia, benefícios estes também citados no trabalho de Silva et al. (2020). Ressaltaram ainda o empenho de estudantes e professores nas atividades como fatores principais para os resultados alcançados, resultado semelhante ao encontrado por Vasconcelos et al. no qual evidenciaram a grande e contínua capacidade de adaptação, criatividade e reinvenção desses profissionais da Educação em tempos pandêmicos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A mudança do ensino presencial para o ensino remoto devido à pandemia de Covid-19 ocorreu de forma brusca; e a demora na elaboração de um plano para a realização deste tipo de ensino, especialmente a nível nacional, também ocasionou grandes dificuldades para comunidade escolar, principalmente no primeiro semestre de 2020. Fatores socioeconômicos que ocasionam, por exemplo, a falta de acesso a aparelhos de comunicação, somado a falta de qualidade da conexão com a internet na região, a falta de formação continuada em ferramentas digitais, se constituíram nos principais entraves para execução das atividades remotas e para uma maior participação de estudantes clubistas em eventos

científicos. O Clube de Ciências da escola teve que replanejar suas atividades para se adequar a esse novo contexto e tem conseguido desenvolvê-las com êxito, graças aos cursos que vêm sendo ofertados pela secretaria estadual de educação e as parcerias que estabeleceu com universidades locais, mas principalmente à resiliência dos professores, estudantes e apoio dos pais/ responsáveis dos alunos resultando em premiação nos eventos online. Espera-se também que o presente projeto possa contribuir através dos processos pensados e desenvolvidos para superar as dificuldades diante das circunstâncias em que as aulas se deram, produzindo assim reflexões a partir da prática vivenciada em um ambiente alternativo de ensino de ciências.

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REFERÊNCIAS

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O ENSINO REMOTO EM CONTEXTO DE PANDEMIA NA ESCOLA MUNICIPAL FLORESTAN FERNANDES, BELÉM-PA Cássio José de Sousa Silva1 Aline Sueli Queiroz Albuquerque2 Lucival Albuquerque Rodrigues Júnior3 RESUMO - O presente relato parte das experiências vivenciadas por três professores de uma escola da rede municipal de ensino de Belém-PA, tendo como objetivo apresentar as vivências pedagógicas desses professores na Escola Municipal Florestan Fernandes desenvolvidas durante o ano escolar de 2020. Para isso, utilizou-se de uma abordagem qualitativa, pois privilegia os significados desses professores sobre suas práticas, fundamentada nos debates atuais relacionados à situação da Educação brasileira diante da pandemia. A partir do relato dos três professores, um de Educação geral, outra de Artes e outro de Língua Portuguesa, aponta-se que a pandemia introduziu novas competências ao trabalho docente, exigindo cada vez mais uma formação para o uso das tecnologias digitais, assim como, implicou numa reorganização curricular e pedagógica necessária ao atual contexto. PALAVRAS CHAVES: Tecnologias Digitais. Pandemia. Ensino-aprendizagem. Trabalho Docente.

1 - INTRODUÇÃO

O presente relato parte das experiências vivenciadas por três professores de uma escola da rede municipal de ensino de Belém-PA. É fruto do trabalho desenvolvido com os alunos quando do início da pandemia do novo Coronavírus (Sars-cov2), anunciada mundialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020 e que se alonga até os dias atuais. Sabe-se que essa pandemia gerou inúmeros impactos nas diversas áreas da sociedade. Na Educação isso não foi diferente, na medida em que as aulas e a rotina escolar foram imediatamente impactadas. De um momento para o outro, os docentes se viram desafiados a encontrar novas formas de interação e reinventar sua prática pedagógica. Durante esse período de suspensão das aulas presenciais, secretarias em todo o Brasil se mobilizaram para orientar professores, pais e alunos sobre a continuidade das aulas (CUNHA, SILVA & SILVA, 2020)4. Dessa forma, ao longo deste relato de experiência se verá como esses três professores desenvolveram suas atividades pedagógicas no âmbito do Ensino Remoto Emergencial (ERE) com alunos de anos escolares diferenciados. 1

Professor da Rede Municipal de Ensino do município de Belém - PA. Pedagogo. Mestre em Letras pela UFPA. Email: cassiossousa2016@gmail.com 2 Professora de Artes da SEMEC e da Fundação Bosque em Belém-PA Licenciada em Artes Visuais pela UFPA. Especialista em Gestão Escolar. E-mail:alinesueliqueiroz@yahoo.com.br 3 Professor da Rede Municipal de Ensino do município de Belém – PA. Licenciado em Letras pela UEPA. Email:lucivalalbuquerquerodriguesjun@gmail.com 4 Os autores fazem um balanço sobre as principais medidas adotadas por cada uma das secretarias estaduais das 27 unidades da federação brasileira, e destacam que entre as principais medidas adotadas, prevaleceram, as transmissões de aula via TV aberta e rádio e a distribuição de materiais de estudo impresso.

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1.1 - Objetivos

Apresentar as atividades desenvolvidas via Ensino Remoto Emergencial, durante o ano escolar de 2020, aos alunos da Escola Municipal Florestan Fernandes por três professores de Educação Básica, a saber: um professor de Educação Geral, que atende alunos do 2º ano dos anos iniciais do ensino fundamental; uma professora de Artes; e um professor de Língua Portuguesa. Estes últimos atendendo alunos de variadas faixas etárias e anos escolares diferentes. Além disso, pretendeu-se apontar possibilidades metodológicas e didáticas que possam ser de interesse para o trabalho docente nesse período de extensão da pandemia da COVID-19. 1.2 - Justificativa

O relato de experiência se constitui num momento fundamental para o/a professor(a), seu saber e sua prática, pois essencialmente é um espaço de reflexão sobre si. A medida que reflete sobre sua prática e a realidade por ele/ela vivenciada, o/a professor(a) descristaliza seu olhar e escuta, abala suas certezas, tomando uma postura filosófica diante do mundo (STECANELA & WILLAMSON, 2013). Dessa forma, este relato é um encontro entre as experiências vivenciadas por três professores que pertencem a uma mesma escola, mas que experimentam cotidianamente, vivências e modos de ser e estar diferentes. Cada um dos professores possui trajetórias de vida e profissional que estão entrelaçadas com os desafios colocados pela profissão docente, conforme iremos perceber numa breve apresentação abaixo. A professora Aline Queiroz Albuquerque (34 anos) é professora de Artes na rede municipal há mais de 10 anos, e relata que quando iniciou sua carreira docente tinha acabado de se formar e não tinha nenhuma experiência com a sala de aula. Destaca que boa parte do seu conhecimento e expertise docente decorre das trocas com seus colegas e da lida diária como professora. Suas primeiras vivências foram com alunos do 1º ao 5º ano, e quando começou a trabalhar com turmas maiores, outros desafios também foram impostos. Já o professor Lucival Albuquerque (34 anos), professor de Língua Portuguesa, destaca o

seu desafio como docente diante do uso das novas tecnologias imposto pela pandemia para o desenvolvimento das atividades escolares. De acordo com o professor, se antes ele tinha a preocupação de compreender o/a aluno/a e seu contexto, hoje há também a necessidade de entender o processo de mediação por onde isso acontece, no caso as tecnologias, sejam aplicativos, plataformas digitais ou outras formas. O mesmo é dito pelo professor Cássio Sousa (31 anos) que teve que buscar formações mais específicas para entender essas ferramentas digitais durante a pandemia. O professor que já atua na Secretaria Municipal de Educação (SEMEC) desde 2014, onde atualmente trabalha com turmas do 3º ano do Ensino Fundamental, destaca que lidar com as novas tecnologias continua sendo um desafio constante para o trabalho docente, em especial no trabalho com alunos que estão em fase de alfabetização.

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De aporte dessas trajetórias, iremos adiante apresentar a escola na qual os professores

atuam, compreendendo sua história e o contexto na qual está situada. 1.3 – Lócus de Investigação O lócus de vivência das atividades pedagógicas relatadas neste trabalho, foram realizadas no âmbito da Escola Municipal Professor Florestan Fernandes e de sua Unidade Pedagógica que recebe o mesmo nome. Localizada na Passagem Sargento Getúlio, nº 70, no bairro do Parque Verde, zona urbana e periférica da cidade de Belém, a escola foi fundada em 31 de janeiro de 1999, fruto do processo de Orçamento Participativo implantado na gestão do então prefeito Edmilson Rodrigues

(1997-2005) e durante a pandemia passou, desde a sua construção, pela sua primeira reforma, conforme pode ser visto na Figura 01 abaixo. Figura 01 – Frente da escola após a sua reforma.

Fonte: Portal da Prefeitura de Belém, Dezembro de 2020.

A escola pertence ao Distrito Administrativo do Bengui (DABEN), já que a organização administrativa da Rede Pública Educacional do Município de Belém obedece a mesma estrutura administrativa estipulada pela Lei nº 7682 de 05 de janeiro de 1994. Desde o início das suas atividades, a escola já atendia um quantitativo elevado de alunos, sendo uma das maiores da região, atendendo, atualmente, aproximadamente mais de 930 alunos distribuídos desde a Educação Infantil até o 9º ano do Ensino Fundamental, incluindo os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Com uma ampla estrutura, que conta com refeitório, biblioteca, sala de informática e qua-

dra poliesportiva, a referida escola já participou de vários projetos e atividades, em parcerias com outras instituições, como exemplo, a realização do Projeto Mais Educomunicação que promove nas escolas públicas ações de empoderamento da juventude. Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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2 – ABORDAGEM TEÓRICA

Para fundamentar este relato, utilizou-se de reflexões mais atuais sobre a conjuntura da educação básica diante da pandemia e da emergência do ensino remoto como metodologia empregada pelas escolas. De acordo com Avelino e Mendes (2020) a escola precisou se reorganizar para atender uma demanda que já existia – a necessidade de preparar as escolas com recursos tecnológicos. Algo também pontuado no trabalho de Albuquerque, Gonçalves e Bandeira (2020) que destacam que há uma deficiência na formação dos novos professores na medida em que deste a formação inicial estes não são preparados para lidar com as novas tecnologias digitais. Outra questão apontada pelo trabalho de Cunha, Silva e Silva (2020) foi a expressiva de-

sigualdade que a pandemia reforçou entre a educação das classes mais abastadas em detrimento das classes mais populares. Aliada a essas discussões, relaciona-se também os dados de uma pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas (2020), com mais de 14 mil docentes da Educação Básica de todos os estados brasileiros que aponta para uma sobrecarga do trabalho docente, na medida em que o universo do profissional e do pessoal se mesclaram em decorrência do isolamento social. Em termos de orientações legais elaboradas pelos órgãos executivos da Educação no Brasil, o parecer nº 5 (28/04/2020) do Conselho Nacional de Educação, trata sobre a reorganização do calendário escolar, apresentando possíveis medidas que poderiam ser empregadas pelos sistemas de ensino no atendimento aos alunos nesse contexto de excepcionalidade, conforme pode ser visto abaixo: Assim sendo, as atividades pedagógicas não presenciais podem acontecer por meios digitais (videoaulas, conteúdos organizados em plataformas virtuais de ensino e aprendizagem, redes sociais, correio eletrônico, blogs, entre outros); por meio de programas de televisão ou rádio; pela adoção de material didático impresso com orientações pedagógicas distribuído aos alunos e seus pais ou responsáveis; e pela orientação de leituras, projetos, pesquisas, atividades e exercícios indicados nos materiais didáticos. A comunicação é essencial neste processo, assim como a elaboração de guias de orientação das rotinas de atividades educacionais não presenciais para orientar famílias e estudantes, sob a supervisão de professores e dirigentes escolares. (CNE, 2020, pp. 8-9)

O trecho do parecer é bem enfático na diversidade de metodologias que as escolas poderiam ter adotado para atender às necessidades educativas dos alunos. Conforme iremos verificar mais abaixo, algumas dessas estratégias foram adotadas na escola Florestan Fernandes. 3 – PERCURSO METODOLÓGICO Tomando como ponto de partida as reflexões sobre o trabalho docente e o desenvolvimento do Ensino Remoto Emergencial (ERE), e considerando a perspectiva dos três professores envolvidos nesse processo, foi utilizada uma abordagem qualitativa, pois ao refletir sobre suas práticas, estes professores produzem novas significações, avançando assim na compreensão de sua própria realidade (STECANELA & WILLIAMSON, 2013). Sendo assim, este relato está organizado da seguinte forma: 1) Apresentação da experi-

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ência do professor Lucival Albuquerque atuando no ensino da língua portuguesa nos anos finais

do ensino fundamental; 2) Em seguida apresentamos a experiência dos professores Cássio Sousa e Aline Queiroz numa turma de 2º ano dos anos iniciais do ensino fundamental, destacando o que priorizaram e quais foram os eixos norteadores de sua prática, assim como quais foram as atividades desenvolvidas, seus avanços e suas dificuldades. 3.1 - A experiência do Professor Lucival no ensino da Língua Portuguesa O professor Lucival Albuquerque atende alunos do 6º ao 9º ano da escola Florestan Fernandes. Durante esse período de suspensão das aulas, o professor teve uma certa resistência ao aprendizado das novas tecnologias em sala de aula, pois como ele mesmo afirma, veio de uma matriz tradicionalista.

Sendo assim, procurou ressignificar sua postura e seu papel em sala, percebendo outros e novos caminhos para a aprendizagem. Deu continuidade às suas aulas, entrando em contato inicialmente com os alunos através de redes sociais, como o facebook, tentando compreender a realidade e as dificuldades vivenciadas pelos alunos. Também durante esse período criou um canal no youtube que relacionava textos literários utilizados em suas aulas com a música, possibilitando com que os alunos pudessem ter acesso e compreender as intertextualidades presentes nos textos trabalhados. 5.2 - A experiência com os alunos do 2º ano do Ensino Fundamental O trabalho realizado pelos professores Cássio Sousa e Aline Queiroz na turma do 2º ano (ciclo I), com alunos entre 8 e 9 anos de idade, foi fruto de uma parceria entre os docentes e os responsáveis, indispensável no modelo de Educação defendida pela escola. Assim que as aulas foram suspensas em 18 de março de 2020, o professor regente Cássio Sousa potencializou a comunicação com a turma e os responsáveis através dos grupos de WhatsApp, anteriormente formados5, onde tudo era comunicado, conforme pode ser visto na figura 02 a seguir.

5

Nas turmas que compreendem os anos iniciais da Escola Florestan Fernandes, tornou-se prática os grupos de whatsApp como forma de mediar a comunicação e relação Escola-Família. Sendo assim, os grupos são criados e eles continuam ativos, mesmo com o avanço de escolaridade.

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Figura 02 – A comunicação pelos grupos de WhatsApp.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2020.

Buscando dar continuidade às aulas, esse professor organizou uma rotina com os alunos, mantendo em parte a mesma estrutura realizada em sala de aula de forma presencial. Num primeiro momento primou-se por estabelecer um horário para as aulas acontecerem, combinando

previamente com os responsáveis. No entanto, isso foi sendo alterado na medida em que os responsáveis foram colocando suas dificuldades, em especial a de acesso à internet. Como forma de contemplar os demais conhecimentos curriculares, o professor estabeleceu parceria com a professora de Artes, Aline Queiroz, que, ao menos uma vez por semana, enviava suas vídeo-aulas com atividades práticas para que os alunos pudessem realizar em casa com seus responsáveis (Figura 03). Figura 03 – As aulas de artes e a organização da rotina

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2020.

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Desse modo, as aulas eram pensadas a partir de alguns critérios (o conteúdo tinha que ser prático e que instigasse a curiosidade do aluno, usando materiais que pudessem ser encontrados dentro de casa). Sendo assim, eram escolhidos conteúdos mais simples – contagem de quantidades, medidas e grandezas, trabalho com rótulos e embalagens, entre outros, que eram mesclados com os conteúdos de Artes. Estes critérios serviram de eixo norteador do trabalho desenvolvido pelos professores. Assim, as vídeo-aulas eram elaboradas num formato mais curto (no máximo 5 min), abordando de forma simples e ilustrada o conteúdo com o aluno. As aulas eram realizadas para que os alunos pudessem de alguma forma envolver os adultos. Assim, os responsáveis, mais especi-

ficamente as mães, eram convidadas a produzirem um vídeo orientador sobre algo relacionado ao assunto abordado em aula (como lavar as mãos, um vídeo ensinando um artesanato, etc.). Enquanto isso, as crianças eram direcionadas a fazer a leitura do dia. Eram textos simples (parlendas, ditados populares, frases motivacionais, trecho do texto trabalhado) que eram enviadas no grupo através de vídeo ou áudio da leitura gravadas pelos responsáveis. 5 – ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS Uma das primeiras e mais evidentes marcas da pandemia no trabalho docente foi a reorganização pedagógica e curricular6. Isso não foi diferente com os professores da Escola Flores-

tan Fernandes: ali, de imediato, foi sugerida a criação de grupos de whatsApp para atender às demandas dos alunos e informar/orientar os responsáveis sobre a nova dinâmica. Como dito anteriormente, não houve a elaboração de uma diretriz sobre o ensino remoto por parte da SEMEC/Belém. Os três professores iniciaram a exposição de seu trabalho através de diferentes plataformas digitais (ver figura 04). Para a professora Aline Queiroz, tanto o canal no YouTube como o perfil no Instagram surgiram da necessidade de mostrar que o componente curricular de Arte estava em todo lugar e que com poucos recursos o aluno poderia construir desde um simples desenho até algo mais elaborado7. Através dessa dinâmica, apontam-se como pontos positivos da proposta: 1) Houve maior aproximação entre os pais e o aprendizado dos filhos/filhas, motivando estes a tirarem suas dúvidas pelo grupo ou com o professor, tornando o whatsapp o principal meio de interação entre as famílias e a escola; 2) As propostas pedagógicas mencionadas, possibilitaram com que as crianças vinculassem os conteúdos abordados com sua realidade, sentindo-se mais motivadas e envolvidas em seus aprendizados.

6

De acordo com a pesquisa da Fundação Carlos Chagas (2020), mais de 65% das respondentes afirmaram ter aumentado a demanda de trabalho, com destaque para as atividades que envolvem interface e/ou interação digital. 7 O trabalho desenvolvido pelos professores Cássio Sousa e Aline Queiroz na turma do 2º ano foi relatado em reportagem para o Portal de Comunicação e imprensa da Prefeitura de Belém. A mesma pode ser acessada através do seguinte link: https://redepara.com.br/Noticia/212377/professores-produzem-videoaulas-e-mantem-atendimentode-alunos-do-ensino-fundamental

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No entanto, em detrimento dos ganhos, houve também algumas dificuldades enfrentadas

para a continuidade das aulas: 1) uma parcela considerável das famílias relataram dificuldades de acesso à internet, o que dificultava o retorno do envio das atividades; 2) além disso, essa mesma parcela relatou possuir apenas um celular em casa, o que fazia com que as crianças realizassem as atividades no período noturno, momento no qual os pais regressavam do trabalho e então podiam ajudar as crianças a realizarem as tarefas, enviando-as no grupo. 3) outra dificuldade encontrada pelas famílias está relacionado ao acesso às aulas disponibilizadas pela secretaria de educação via canal de TV, já que muitos não conseguiam sintonizar o canal. Figura 04 – Os canais criados pelos professores.

Fonte: Plataforma digital YouTube, 2020.

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6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao observar as trajetórias dos três professores envolvidos nesse relato, percebemos como a profissão docente exige do profissional uma capacidade de atualização constante. Como sujeito aprendente, o professor é mobilizado diariamente a encontrar novas formas de lidar com a sua realidade (STECANELA & WILLAMSON, 2013). Além disso, apontou-se que, com a pandemia, novas exigências foram atribuídas à educação, permitindo a ampliação da expertise e das competências dos docentes envolvidos nesse relato, já que todos participaram de alguma formação complementar de forma on-line, ou aprenderam novas estratégias de ensino, como a criação de vídeo-aulas e o uso de plataformas digitais como repositório.

Cada um, ao seu modo, procurou ao longo desse processo conhecer e desenvolver habilidades que ajudaram de alguma forma a qualificar o fazer docente. Seja atuando com crianças do 2º ano do Ensino Fundamental, com idade entre 7 e 8 anos, seja lecionando a disciplina de Artes e/ou Língua Portuguesa, para alunos de faixas etárias diferenciadas e anos escolares distintos, cada um desses professores, aprenderam a aprender, exercitando com isso uma das principais dimensões do fazer docente: a curiosidade e a incessante busca pelo conhecimento.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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option=com_docman&view=download&alias=14511-pcp005-20&category_slud=marco-2020pdf&Itemid=30192 . Acesso em: 23 mar. 2021 CUNHA, Leonardo F. F; SILVA, Alcineia de S; SILVA, Aurênio P. O Ensino Remoto no Brasil em Tempos de Pandemia: diálogos acerca da qualidade e do direito e acesso à educação. Revista Com Censo, Brasília, DF, v. 7, n. 3, ago de 2020. FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Pesquisa: Educação Escolar em tempos de pandemia na visão de professoras/es da Educação Básica. Relatório de Pesquisa, São Paulo, SP, maio/ junho de 2020. Disponível em: < https://www.fcc.org.br/fcc/wp-content/uploads/2020/06/ educacao-pandemia-a4_16-06_final.pdf >. Acesso em: 27 mar 2021. STECANELA, Nilda; WILLIAMSON, Guillermo. A Educação Básica e a Pesquisa em Sala de Aula. Acta Scientiarum, Maringá-PR, v. 35, n.2, p.283-292, jul-dez, 2013.

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O ENSINO REMOTO DA ARTE NA EJA EM TEMPOS DE PANDEMIA UM OLHAR AFETUOSO A UM PÚBLICO SENSÍVEL Elaine Roseno Costa Cunha1 Nelma Lima e Silva Campos2 RESUMO - Este trabalho apresenta uma experiência significativa sob o olhar da coordenação pedagógica e docente acerca do ensino da Arte em turmas de Educação de Jovens e Adultos, na Escola São Geraldo, localizada em Ananindeua. O projeto pedagógico aqui relatado foi norteado pela seguinte questão problema: Como realizar o ensino da Arte nas turmas da EJA da Escola Estadual São Geraldo, em tempos de pandemia? Este projeto teve como objetivo geral identificar meios de realizar o ensino da Arte nas turmas da EJA da Escola Estadual São Geraldo, em tempos de pandemia; além disso, objetivou-se propor ações pedagógicas para o desenvolvimento de habilidades de Arte e elaborar estratégias metodológicas no modo remoto que não estejam desvinculadas da percepção da realidade do aluno da EJA. Tal relato transcende os momentos vividos de interação e troca de experiências do ensino remoto, via grupos de WhatsApp, no qual são expostos os anseios, os conflitos, os êxitos e as lutas diárias desse tipo de abordagem. A poética deste relato visa a expor algumas formas e instrumentos usados nas aulas de Arte, baseando-se na reflexão do alcance ao aluno da EJA, em tempos de isolamento, em virtude da pandemia de COVID-19, buscando perceber e vislumbrar os desdobramentos e resultados das atividades propostas. PALAVRAS-CHAVE: Arte. EJA. Ensino Remoto. Educação Pública.

INTRODUÇÃO O ensino na Educação de Jovens Adultos-EJA é um muito desafiador, pois, além das questões de ensino aprendizagem, tem-se a necessidade de incorporação das pluralidades trazidas pelos alunos, afinal, “são jovens e adultos com rosto, com histórias, com cor, com trajetórias sócio-étnico-raciais, do campo, da periferia (ARROYO, 2006); portanto, é necessário enxergar o aluno da EJA como cidadão e valorizar os saberes que eles agregam, principalmente no contexto atual da escola pública. A EJA constitui subjetividades andarilhas que são movidas pela fluidez da contempora-

neidade e se abrem para um novo eu, para um eu que vai viabilizar outras identidades, um outro modo de ser (FOUCAULT, 2004). Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 9394/96 (BRASIL, 1996), o público da EJA deve ter acesso a condições educacionais que melhorem sua vida pessoal e profissional, já que não tiveram oportunidade de concluir os seus estudos na idade regular; assim, em seu artigo 37º § 1º assevera que

1

Graduada em Licenciatura e Bacharelado em Artes Visuais Escola Superior Madre Celeste. Especialista em Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade Integrada de Araguatins Faiara. Professora Efetiva da disciplina Ensino da Arte na Rede Estadual e Municipal de Ananindeua-PA. E-mail: elaine.cunha4245@escola.seduc.pa.gov.br 2 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Pará – UEPA, Especialista em Gestão Escolar – UEPA. Mestra em Direito, Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional (PPGD/CESUPA), Mestra em Educação (PPEB/ UFPA), efetiva no cargo público de Especialista em Educação na rede estadual de ensino do estado do Pará.

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Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames (BRASIL, 1996, p. 13).

Considerando tais aspectos e a realidade vivida em decorrência da pandemia de COVID -19 que ocasionou a suspensão às aulas presenciais sem previsão de retorno, este relato traz as experiências compartilhadas com as sete turmas da EJA, no início do ano letivo de 2021 na disciplina de Arte. Com relação à Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio São Geraldo, em que foi desenvolvido o projeto, ela está localizada no município de Ananindeua, no bairro do Distrito Industrial e funciona ofertando o Ensino Fundamental (anos iniciais) com ensino regular no turno

da tarde e o Ensino Fundamental (anos finais) e Médio no turno da noite, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A comunidade escolar atendida no noturno se compõe em sua maioria por alunos e famílias de baixa renda que dependem principalmente de programas sociais, desempregados, profissionais autônomos ou que embora trabalhem não recebem altas remunerações. Mediante à realidade trazida pela pandemia e o perfil da comunidade escolar, grandes foram as preocupações para que se pudesse contribuir na garantia do ensino de qualidade e propor meios de viabilização do ensino-aprendizagem; e entre dificuldades, impasses e acertos, diversas medidas foram tomadas pela direção da escola, coordenação pedagógica e professores, tais como, construção de momentos de diálogos e compartilhamento de informações, materiais, palestras e divulgação de cursos que pudessem amenizar os efeitos da problemática vivenciada. Nesse sentido, A educação on-line não é compreendida exclusivamente pelas tecnologias digitais. Também é amparada pela interatividade, afetividade, colaboração, coautoria, aprendizagem significativa, avaliação adequada, mediação docente implicada, relação síncronoassíncrono, entre outros, buscando a visão de que aprendemos qualitativamente nas trocas e nas construções conjuntas. [...] (MARTINS; ALMEIDA, 2020, p. 222).

Conforme as autoras, a educação on-line não se limita às tecnologias digitais, assim,

nosso propósito foi tornar o ensino da Arte realmente significativo e, partindo do pressuposto de que a tomada de decisões tem caráter de urgência, assumimos o desafio do enfrentamento na perspectiva de alcançar o maior número possível de uma coletividade que é fundamental para todos nós da escola e da comunidade no entorno. Assim sendo, este projeto pedagógico foi norteado pelo seguinte problema: Como realizar o ensino da Arte nas turmas da EJA da Escola Estadual São Geraldo, em tempos de pandemia? O objetivo geral foi identificar meios de realizar o ensino da Arte nas turmas da EJA da Escola Estadual São Geraldo, em tempos de pandemia; e como objetivos específicos: a) propor ações pedagógicas para o desenvolvimento de habilidades de Arte; b) elaborar estratégias metodológicas no modo remoto que não estejam desvinculadas da percepção da realidade do aluno da EJA. Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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No intuito de compartilhar de forma clara as atividades desenvolvidas, organizamos o

texto situando o projeto e a escola, lócus do nosso trabalho, seguido das trilhas percorridas, das tessituras de saberes tomadas como suporte, dos fios condutores dessa tessitura e, por fim, das considerações a que chegamos após as incursões feitas durante todo o processo percorrido. TRILHAS PERCORRIDAS O ano letivo de 2021 iria começar, e embora tenha havido bastante divulgação a respeito da renovação de matrículas e abertura de vagas para novos alunos, a procura se mostrou aquém das expectativas, e entre as medidas adotadas, realizamos a divulgação da continuidade do ensino da EJA na Escola São Geraldo, via redes sociais, rádio e busca ativa dos alunos por

intermédio de ligações telefônicas, ainda no mês de janeiro e permanecendo até o fim do mês fevereiro (Figura 1).

Figura 1: Divulgação de matrículas nas redes sociais. Fonte: Acervo pessoal.

Após a definição do quantitativo de turmas formadas, realizou-se uma reunião pedagógica entre direção, coordenação e professores no intuito de tratar dos encaminhamentos necessários para o ano letivo, nessa reunião, por opção da maioria, foi decidida a criação de grupos de WhatsApp específicos para cada professor, pois essa abordagem estreita os laços entre docente e aluno, proporcionando maior comunicação e facilidade de acesso a informações e a conteúdos postados. Também, por orientação da coordenação pedagógica, cada grupo criado deveria apre-

sentar clara identificação de maneira a auxiliar a localização e participação nos grupos pelos alunos, possibilitando aos professores a padronização de seus grupos (Figuras 2).

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Figura 2: Padronização dos grupos de WhatsApp

Após a conclusão dessa etapa, iniciamos a acolhida dos alunos e, tendo em vista que o público da EJA é muito especial e diverso, são necessárias amplas formas de comunicação, uma vez que Na EJA, os jovens e adultos pouco ou não escolarizados – oriundos, portanto, de uma cultura não escolar –, ao ingressarem na escola, terão que se inserir e interagir com os modos de funcionamento particulares da instituição. Entretanto, o aprendizado desses sujeitos inicia-se muito antes de frequentarem a escola, uma vez que eles aprendem a lidar com as situações, as necessidades e as exigências cotidianas da sociedade contemporânea. Portanto, quando começam a estudar, já tiveram experiência com medidas, cálculos matemáticos, materiais impressos, língua materna falada, ferramentas de trabalho e equipamentos elétricos e/ou eletrônicos (VARGAS, GOMES, 2013, p. 453).

Podemos aferir que “na educação de uma sala EJA, os conhecimentos prévios, que mui-

tos já adquiriram em sua vida, facilitam o processo de ensino-aprendizagem, podendo resumir os monólogos ou transformá-los em diálogos” (MARTINS, 2013, p. 147). Dialogando com essas ideias, o ensino da Arte é rico em linguagens, emoções e formas de expressão, que ampliam os debates e reflexões. Outrossim, a Arte apresenta grande relevância no contexto de isolamento de uma feita que possibilitou subsídios para tornar o tempo mais prazeroso, pensando numa prática de trabalho com esse componente curricular de forma “leve”, mostrando, inclusive como ela é perceptível em nosso cotidiano e esse tem sido um dos aportes principais nesse primeiro bimestre de aulas remotas. [...] Levando informações provocando práticas cotidianas voltadas para o autocuidado, para a saúde e a segurança coletiva, a solidariedade, os direitos humanos, a empatia, ações criativas para lidar com as tensões psicológicas (agravadas pelo longo período de isolamento), estimulando a arte, ampliando o acesso à cultura, aos temas vitais da ecologia e tantas outras pautas importantes que se voltam aos objetivos educacionais mais amplos: a formação humana e a construção de uma sociedade justa e igual (PRETTO; BONILLA; SENA, 2020, p. 16).

O contato inicial com os alunos consiste em questionamentos sobre como eles estão, como foi o dia de trabalho, com uma linguagem afetuosa e acolhedora, pois a realidade da maioria deles é muito dura (Figuras 3).

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Figura 3: Falas compartilhadas no grupo de WhatsApp

Uma das formas de comunicação usadas são as figurinhas personalizadas, descontrai o grupo e torna a conversa mais fluída (Figura 4).

Figura - 4: Figurinhas compartilhadas no grupo de WhatsApp

Além de ser um momento, no qual eles se sentem à vontade e expõem muitas das suas dificuldades (Figura 5).

Figura 5: Relato feito pelo aluno da 2ª etapa

No contato com os alunos, mesmo no modo remoto, era possível perceber que a nossa prática pedagógica deveria ir além da apresentação do conhecimento teórico, pois nossa coletividade escolar é composta de individualidades, repletas de perspectivas, sonhos e dificuldades, apesar dos esforços na superação de obstáculos, conforme é retratado na figura 6.

Figura 6: Relato feito pela aluna da 4ª etapa

O ensino na EJA traz a necessidade de propor um olhar mais humanizado, construindo pontes para fortalecer o vínculo de afetividade e apoio aos nossos alunos (Figura 7).

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Figura 7: Relatos feito pela aluna da 3ª etapa

TESSITURAS DE SABERES

Compartilhando os saberes e dificuldades dos discentes e amparados no currículo continuum 2020/2021, desenvolvemos as aulas de Arte, com diversos meios de abordagem, pois o [...] processo de aprendizagem forçosamente passa pela estruturação do indivíduo tanto no sentido do aspecto da construção da sua objetividade quanto no da construção da sua subjetividade, marcando, assim, tanto o corpo daquele que ensina como daquele que aprende (DOWBOR, 2008, p. 62).

Desse modo, os fatos explicitados aqui estão relacionados aos alunos com acesso às aulas remotas, mesmo que, de forma ainda precária; quanto aos demais estudantes, foram atendidos por meio de material impresso entregue presencialmente e aos alunos com deficiência foram ofertados materiais adaptados (Figura 8).

Figura 8: Materiais adaptados

Embora todo esforço no atendimento tenha sido empregado, há aqueles que, infelizmente, ainda não foram alcançados, seja por não responder às mensagens, por usarem número de telefone de terceiros, pelo cansaço depois de horas de trabalho ou por achar indispensável às relações promovidas pelas aulas presenciais. De toda forma, as aulas de Arte foram disponibilizadas por meio de arquivos em PDF,

vídeos, imagens, Google forms (formulário com tutoriais de preenchimento), exemplificado na figura 9, além de pesquisas e atividades práticas. A maioria das atividades visava a despertar a análise, o senso crítico e estético dos alunos e a percepção da Arte no cotidiano, atendendo ao Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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que diz a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2018) no que tange ao ensino-

aprendizagem de Arte.

Figura 9: Uso do Google forms com tutoriais de preenchimento

A apropriação da linguagem visual utilizada tornou mais acessível a interação com os alunos e os textos ilustrados com palavras de fácil compreensão e criações práticas (fotografias, pinturas e desenhos) também tornaram o trabalho mais consistente e fluido. Obviamente, encontramos muitas dificuldades como problemas para baixar os vídeos maiores, atraso pra entrar on-line, complicação na leitura na tela do celular, muito tempo sem

estudar, condições familiares e de moradia, entretanto, ainda assim conseguimos avançar alguns passos no processo e os alunos amadureceram (Figura 10).

Figura 10: Fala do aluno da 1ª etapa B

Por intermédio de uma multiplicidade de instrumentos, procuramos ofertar um ensino de fato alcançasse os alunos e que fosse de fácil compreensão, esclarecendo as dúvidas e orientando naquilo que nos era solicitado acerva dos instrumentos utilizados e sobre o conhecimento compartilhado, fato que melhorou a participação, possibilitando inclusive, o que nos deu imensa satisfação pessoal e profissional. FIOS DA TESSITURA

A necessidade do ensino remoto tornou mais evidente as disparidades no cenário da educação brasileira, coube aos professores “reinventar” suas práticas e propostas; cientes da realidade que nos cerca no que se refere às desigualdades que sempre fizeram parte do cotidiaRevista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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no das escolas públicas, propomo-nos a realizar um trabalho que dirimissem essas problemáti-

cas. Assim, diante da alternativa que foi possível com o uso da modalidade remota neste período de distanciamento físico, encontramos forma na assertiva de Cortella (2020, apud DIAS; PRESTES, 2020, n.p.) “a educação não pode ficar secundarizada. Não é porque é difícil que não faremos”, e como fruto desse trabalho realizado, temos aqui alguns resultados das aulas de Arte (Figura 11), nomeados carinhosamente de “fios da tessitura”, pois, compõem uma pequena parte de todo esse processo de troca de conhecimento.

Figura 11: Atividades Teoria das Cores e Desenho

Na devolutiva das atividades, percebemos as variadas formas de “tecer os fios” que os alunos aplicaram no cotidiano (Figura 12).

Figura 12: Olhares sobre “Natureza morta”

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Obviamente não poderíamos esquecer que alguns alunos concluintes irão fazer vestibu-

lar, nesse contexto, também abordamos temáticas e estruturas de questões semelhantes as mais recorrentes em processos seletivos (Figura 13).

Figura 13: Atividades realizadas pelas turmas de 2ª etapa do Ensino Médio

No que tange ao planejamento inicial, ele consistiu em quatro períodos de atividades (fevereiro a abril) em que acreditávamos que ao final desse período já teríamos um cenário favorável ao retorno presencial das aulas, mesmo que escalonado, porém, nossas expectativas não se concretizaram. Nesse contexto, os alunos da 3ª etapa do ensino fundamental e os das 1ª e 2ª etapas do ensino médio foram desafiados a capturar imagens que representassem as mudanças nas nossas vidas em decorrência da pandemia de Covid-19. Esses registros irão compor a Mostra Virtual “Olhares da EJA sobre a pandemia” (Figura 14).

Figura 14: Registro dos alunos para Mostra Virtual “Olhares da EJA sobre a pandemia”

Durante o período vivenciado com os alunos da EJA da Escola São Geraldo, já foi possível perceber que o modo inicial de compreensão em relação ao componente curricular Arte é diferente do que concebem atualmente, pois adquiriram habilidades para identificar a Arte no seu cotidiano, superando ideias do senso comum e tornando significativo e contextualizado o seu ensino-aprendizagem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das percepções deste relato, podemos aferir que a educação de jovens e adultos permeia um panorama muito específico em relação à valorização pessoal, a critérios sociais e ou acesso ao ensino remoto, consequentemente, precisamos de um olhar afetuoso e sensível a essa modalidade de ensino. Em relação à resposta da questão problema a que tentamos responder quanto ao ensino da Arte nas turmas da EJA da Escola Estadual São Geraldo em tempos de pandemia, afirmamos que é indispensável nos acercarmos de uma multiplicidade de ferramentas e metodologias que possam abranger o maior número possível de alunos e que lhes permitam o empoderamento na sua formação educacional.

Quanto aos objetivos, cremos tê-los alcançados junto aos alunos participantes das aulas, mas sabemos que muito mais ainda há de ser feito para que o ensino se torne democrático de fato; no entanto, avançamos bastante e temos trilhando um caminho de sucesso tecendo fios de aprendizagem junto com os alunos. Como os discentes da EJA fazem parte da classe trabalhadora assalariada ou dependentes dela, que mesmo com o distanciamento físico, continuaram trabalhando para manter suas famílias; como eles têm pouco acesso aos recursos tecnológicos modernos para o ensino remoto e como possuem um perfil ímpar é indispensável à proposição de uma didática que contemple suas especificidades para que se sintam parte do processo de maneira inclusiva, procuramos realizar um trabalho de inclusão desses estudantes que, por uma infinidade de fatores, têm sido excluídos do processo de ensino-aprendizagem, o que os impediu de concluir seus estudos na idade escolar assegurada pelas normativas da educação. Considerando, ainda, as inúmeras dificuldades nesse processo em oposição à determinação desses alunos de participar das aulas mesmo diante desse cenário de pandemia, constata-se a necessidade de políticas públicas e de investimentos voltados a eles, pois merecem condições melhores de educação e de vida. Apesar dos entraves no caminho, o ensino da Arte foi acolhedor, inclusivo e formador de

opiniões, pois, no contexto do ensino remoto, amenizamos as dificuldades vivenciadas, para muitos dos nossos alunos, e criamos meios de alcançá-los nas suas especificidades, semeando possibilidades e alimentando anseios de um futuro digno, a partir da compreensão de que o que se aprende na escola diz respeito ao que está dentro e fora desta e que deve necessariamente contribuir para a formação de visão de mundo; o que nos impulsiona a refletir sobre os ensinos de Paulo Freire (1983), pois como ele, Entendemos que, para o homem, o mundo é uma realidade objetiva, independente dele, possível de ser conhecida, em que não apenas está, mas com a qual se confronta. Daí o ser de relações que ele é, não só de contatos. (...) Por isso mesmo o conceito de relações, da esfera puramente humana, guarda em si conotações de pluralidade, de criticidade, de consequência e de temporalidade (FREIRE, 1983, 99).

Cabe-nos, portanto, como educadores, possibilitar meios para que nossos alunos se percebam como capazes de agir e interferir nas múltiplas realidades as quais fazem parte. Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel González. Formar educadoras e educadores de jovens e adultos. Belo Horizonte:

Autêntica,

2006. Disponível

em:

http://forumeja.org.br/sites

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LIVE: UMA ALTERNATIVA POSSÍVEL PARA SUPERAR DISTÂNCIAS ENTRE AS ESCOLAS DA UNIDADE SEDUC NA ESCOLA 08 E AS COMUNIDADES Évila Roseanne Silva da Anunciação e Silva1 Geovania do Socorro Santos Paiva2 Patrícia Oliveira de Oliveira3 RESUMO - A Unidade Seduc na Escola 08, diante dos desafios encontrados na educação, destacou como foco para o trabalho no ano letivo de 2020 diminuir as disparidades nas taxas de abandono no ensino fundamental. O que já era desafiador tornou-se ainda mais quando a crise provocada pela pandemia da Covid-19 atingiu a sociedade mundial, modificando completamente o cenário educacional nas escolas jurisdicionadas. A vontade de superar obstáculos fez com que ocorresse uma reorganização das atividades, com objetivo de possibilitar a continuidade ao processo de ensino-aprendizagem, de resgatar e/ou manter a inteligência emocional dos trabalhadores em educação e dos educandos, ambos atingidos pelo momento de isolamento social, como também de reaproximar as comunidades afastadas do espaço físico das escolas, adotou-se a prática de “Lives”, que facilitaram a comunicação entre os sujeitos que fazem das escolas ambientes dinâmicos. A partir de opiniões, atitudes e comportamentos adotados com a implantação desta nova metodologia, fundamentada em documentos orientadores do ensino advindos da SEDUC, observou-se o crescente envolvimento nas ações, o aumento da participação das comunidades, seja ao vivo ou em compartilhamentos, e a retomada de processo de alfabetização. Tais resultados foram registrados por fotos, vídeos e levantamento de dados de participação. PALAVRAS-CHAVE: Ensino Remoto. Inteligência emocional. Live.

INTRODUÇÃO O ano de 2020 trouxe para a sociedade a necessidade de superar desafios na saúde, no convívio com o outro e consigo mesmo e na educação não foi diferente. Todo processo educacional está imbuído de afetividade: um professor e sua turma juntos em um ambiente escolar, cheios de trocas de experiências, falas, olhares, abraços, manipulação de objetos, construções coletivas, entre tantas outras práticas. Tudo aquilo que neste momento de pandemia do Covid19 foi orientado pela OMS a ser evitado. Sendo assim, a Rede Pública Estadual de Ensino teve suas atividades suspensas no mês de março, quando completaram apenas 29 dias de aulas. A partir de então ocorreu o afastamento dos profissionais idosos e os com comorbidades, a efetivação do trabalho remoto e com isso sentimentos de medo, angústia, desequilíbrio e desesperança abateram-se nas comunidades 1

Servidora pública na Secretaria de Educação do Estado do Pará; Especialista na Unidade SEDUC na escola 08; Licenciada Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará, Especialista em Currículo e Avaliação na Educação Básica pela Universidade do Estado do Pará. E-mail: evila.rsilva@escola.seduc.pa.gov.br 2 Servidora pública na Secretaria de Educação do Estado do Pará; Gestora na Unidade SEDUC na Escola 08; Licenciada Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará; Bacharel em Direito pela Escola Superior Madre Celeste; Licenciada Plena em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará; especialista em Educação Infantil pela Universidade do Estado do Pará; Especialista em Gestão Escolar pela Universidade da Amazônia; Especialista em Educação Global pela Faculdade de Desenvolvimento e Integração regional; Especialista em Educação Especial com habilitação em LIBRAS pelo Instituto de Educação Programus; E-mail: geovania.paiva@escola.seduc.pa.gov.br 3 Servidora pública na Secretaria de Educação do Estado do Pará; Especialista na Unidade SEDUC na escola 08; Licenciada Plena em Pedagogia pela Universidade da Amazônia; E-mail patricia.ooliveira@escola.seduc.pa.gov.br

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das escolas que compõem a Unidade SEDUC na Escola 08, a qual exerce a função de acompa-

nhamento das ações administrativa, financeira, e principalmente, pedagógica. Freire (1996, p.76) descreve: “(...) O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente. No mundo da História, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar”.

Partindo deste pensamento filosófico que nos leva a buscar a superação do papel de objeto da História e alcançar a posição de sujeito no mundo, a equipe de profissionais da USE 08 organizou um plano de reestruturação, pelo qual fosse possível superar os sentimentos oriundos

da pandemia e os consequentes problemas: evasão escolar, desinteresse dos educandos, entre tantos outros. Para este processo de transformação mobilizaram-se as gestões escolares das nove escolas que ofertam ensino fundamental do 1° ao 5° ano e 6° ao 9° ano nesta USE, sendo elas: E.E.E.F.M. Jarbas Passarinho, E.E.E.F. Ruth Passarinho, E.E.E.F. Casa Da Criança Santa Inês, E.E.E.F. Santa Terezinha, E.E.E.F. Nossa Senhora Conceição Aparecida, E.E.E.F. Santo Agostinho, E.E.E.F. Donatila Santana Lopes, E.E.E.F. Manoel De Jesus Moraes e E.E.E.F. Professora Anésia, com o objetivo de, coletivamente, buscar novas estratégias de comunicação e ensino para que os vínculos entre escola e famílias, seja de afetividade, de escuta, solidariedade e educação, não fossem perdidos. Portanto lançou-se o questionamento: quais ações podem ser desenvolvidas coletivamente para que possamos manter o vínculo entre alunos, famílias e escola? Diante deste problema, surge o projeto “O Pará não parou e a Educação ampliou suas salas de aula”. Este tem como ações estratégicas uso de compêndios, videoaulas, comunicações remotas, projetos de leitura e “lives”, as quais são objetos de nosso estudo. Figura 1 - Logotipo do projeto “O Pará não parou, e a educação ampliou suas salas de aula”

Fonte: MORAIS, Olga (2020).

“Live” é um termo vindo do inglês, que, traduzido de forma literal, significa “ao vivo”. Esta prática se tornou bastante popular no universo das redes sociais, principalmente em tempos de pandemia; uma transmissão ao vivo, para todo mundo, mas que busca alcançar o indivíduo e resgatar a interatividade. Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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Por esta definição, que contempla características tão latentes no dia a dia da escola, as

quais foram perdidas devido à pandemia da Covid-19, a equipe de profissionais da USE 08 e gestores escolares que atendem a alunos do ensino fundamental, com idade entre 5 a 14 anos, resolveu apostar no novo de forma coletiva, valorizando as habilidades de cada profissional. Aproximar as práticas escolares aos educandos e seus familiares, dando continuidade à formação escolar era o objetivo principal do novo desafio. Coletivamente, estruturou-se o planejamento de três lives: a primeira,, para desenvolver e fortalecer o emocional das comunidades, por meio de uma contação de história; a segunda, para celebrar o Dia Mundial da Alfabetização, cujo tema abordado foram as práticas pedagógicas de alfaletramento desenvolvidas nas escolas da USE 08; e a terceira marcou o Dia Nacional da Al-

fabetização e discutiu a alfabetização, a vida e evolução, subeixo da área de ciências da natureza, segundo a BNCC e a Proposta Curricular do Estado do Pará para a Educação. O isolamento social vivido pela população paraense, estabelecido pelo decreto do Governo do Estado, n°609, de 16 de março de 2020, necessário para diminuir a circulação do vírus da Covid-19, mudou a rotina da população, atingindo social e financeiramente as famílias, e, em especial, as crianças e jovens matriculados nas escolas da USE 08, pois suspendeu as aulas nas escolas estaduais. Por meio da portaria n° 696 de 19 de março de 2020, a Secretaria de Estado de Educação do Pará estabeleceu o trabalho remoto, trazendo incertezas de práticas pedagógicas desconhecidas neste momento. A BNCC (2017, p. 10) para a educação básica tem entre suas competências gerais para os educandos o objetivo de: “Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas”.

Buscando articular esta competência à formação de atitudes e valores capazes de auxiliar os educandos naquele momento que a sociedade paraense atravessava foi planejada a primeira live da USE 08, que teria um caráter de contação de história.

A arte de contar história está diretamente relacionada à História da humanidade. Contar histórias sempre foi usado para transmitir conhecimento, gerar identidades e, neste sentido, esta metodologia foi a mais adequada para o objetivo estabelecido. A live foi transmitida pelo aplicativo Facebook no dia 17 de abril de 2020, na qual a contadora de história e professora Cintia Tavares compartilhou a história: “O menino de todas as cores”, que contou com a interação de alunos, famílias e professores em geral. Este trabalho encontra-se disponível no endereço: https://www.facebook.com/use08/videos/697456191010094/. Após este momento, a professora relatou que “tudo foi muito novo, a sensação de descoberta de que poderia alcançar os alunos mesmo a distância através daquele recurso, contar uma

história, levar uma mensagem de respeito e diversidade, foi muito emocionante”.

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Contando com o envolvimento de novos profissionais, articulou-se a segunda live da USE

08, denominada “Alfaletramento na USE 08 em tempo de pandemia”, alusiva ao dia mundial da alfabetização, caracterizando-se como um espaço de debate e apresentação de ações desenvolvidas pelas comunidades escolares de modo remoto. Transmitida pelo canal do YouTube da CEINF,

encontra-se

disponível

no

endereço

https://www.youtube.com/watch?

v=bMET8rcTHC0&t=27s, tendo mais de 1.000 visualizações e 100 interações, apresentou uma troca de experiências sobre alfabetização entre as escolas da USE 08, contações de história, músicas, relatos e brincadeiras. A live contou com diversos profissionais, os quais se dividiram na seguinte programação: contação de história “o aniversário do Senhor Alfabeto”, apresentada pela professora e contadora de história Cintia Candido, da E.E.E.F. Santo Agostinho; o projeto “Vamos balançar na rede da leitura”, da E.E.E.F. Nossa Senhora Conceição Aparecida, que trouxe a história “Pé de Alfabeto”, contado pela professora Cláudia Mariana Ribeiro Torres; A E.E.E.F. Casa da Criança Santa Inês contribuiu com uma atração de músicas folclóricas, cantada pelo professor Diego Lima; a E.E.E.F. Professora Anésia apresentou com a professora Suellen da Silva Soares o Cordel do Coronavírus, com jogos de frases; a E.E.E.F. Donatila Santana Lopes apresentou um teatro de fantoches com o tema “hábitos de higiene em tempos de pandemia”; a E.E.E.E.F. Manoel de Jesus deu início aos relatos de experiências com a professora Tatiane Reis, que compartilhou sua prática com o projeto “Ler para mim”; e, encerrando a live, houve o relato de experiências do diretor Jacó Miranda Machado sobre a construção do livro “Ler é uma aventura”. Segundo a diretora da E.E.E.F. Santo Agostinho, Glorete Cristina Lima Oliveira, a Live em alusão ao Dia Mundial da Alfabetização conseguiu reunir o melhor da educação ofertada nas escolas da USE 08, e descreveu como sendo a “melhor aula”, porque foi coletiva e especial.

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Ao longo do ano, diversos debates ganharam destaque na sociedade, em especial o mo-

vimento antivacina, quando se discutia o uso da vacina no combate à Covid-19, tema que não poderia ser desconsiderado no planejamento da nova fase do projeto. E, então, a terceira transmissão ao vivo, alusiva ao Dia Nacional da Alfabetização, enfatizou o subeixo da área de ciências da natureza, vida e evolução, em todas as suas ações. A fim de impulsionar o pensamento das comunidades para a importância da manutenção da saúde, buscando na BNCC e na proposta curricular para educação no Pará habilidades indispensáveis neste debate, tais como “propor, a partir do conhecimento das formas de transmissão de alguns microrganismos (vírus, bactérias e protozoários), atitudes e medidas adequadas para prevenção de doenças a eles associadas”. Buscando a interdisciplinaridade estabeleceu-se o tema “Nosso Corpo, Nossa Casa” e, neste sentido, pudemos nos apropriar do tema higiene e saúde com a E.E.E.F.M. Jarbas Passarinho, por meio de uma roda de conversa; com a E.E.E.F. Ruth Passarinho aproveitamos uma leitura deleite com a história “Meu corpo limpo e saudável”. Já a E.E.E.F. Casa da Criança Santa Inês participou trazendo o tema “Alimentação saudável” com a prática pedagógica do sussurrofone. A E.E.E.F. Santa Terezinha colocou todos os telespectadores para exercitar movimentos corporais, para tratar o tema cuidados com o corpo ao longo da história, em especial o uso da máscara; a E.E.E.F. Professora Anésia também tratou sobre boas práticas de higiene com uma

contação de história. A E.E.E.F. Nossa Senhora Conceição Aparecida, participou mediante o gênero textual acróstico, enquanto a E.E.E.F. Santo Agostinho também explorou uma atividade de linguagem com adivinhas com o tema “Cuidar da mente para o corpo ficar bem”. A E.E.E.F. Donatila Santana Lopes tratou sobre a importância da vacina e, finalizando as apresentações para o ensino fundamental menor, recebemos a E.E.E.F. Manoel de Jesus, que discutiu a importância do apoio da família em tempos de pandemia. Para o ensino fundamental maior recebemos as E.E.E.F.M Manoel de Jesus Moraes, que tratou sobre dignidade humana e corpo saudável, a E.E.E.F. Ruth Passarinho, que discutiu sobre a importância das vacinas, e a E.E.E.F. Dom Pedro II trouxe a riqueza das lendas amazônicas para tratar sobre a alimentação saudável.

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Muitos desafios foram impostos ao longo deste trabalho: tecnológicos, epidemiológicos, emocionais. No entanto, para cada um deles, abriam-se alternativas e aglutinavam-se sujeitos dispostos a colaborar. As trocas de experiências em cada momento e o sentimento de entusiasmo geraram resultados para além dos objetivos desta ação. DISCUSSÃO TEÓRICA A partir do reconhecimento por parte da OMS da situação de pandemia do Covid-19, o Governo do Estado publica o decreto nº 609, de março de 2020, que, em seu artigo 4º §1º, define: “As aulas das escolas da Rede Estadual de ensino ficam suspensas (...)”.

Neste momento, as salas de aula ficaram vazias e a vida da comunidade escolar mudou. A necessidade primeira de cuidar da saúde isolou a todos, o que afetou psicossocial e financeiramente cada um de maneira subjetiva. Foram perdas repentinas, medo exacerbado, cuidados extremos, solidão, dificuldades, tantos sentimentos que se misturaram. Apesar do prazo estabelecido no decreto, muitos outros o sucederam, tornando-o indefinido. Para Paulo Freire (1997, p. 26), “cada homem é um ser no mundo, com o mundo, e com os outros” e, neste sentido, a escola precisou repensar suas práticas de forma coletiva para que pudessem, junto com todos os sujeitos que constituem a escola (educandos, educadores, famílias, funcionários) superar o contexto histórico da pandemia do Covid-19. A Secretaria Estadual de Educação – SEDUC, embasada na nota técnica do CEE/PA n° 01/2020, de 26/05/2020, alterada em 10/06/2020, sugere diretrizes para a retomada das atividades escolares, elencando alternativas de apoio virtual, entre elas o canal da SEDUC no YouTube para postagem de aulas ao vivo. Buscando aporte teórico nas competências da BNCC (2017) para a educação Básica, observamos a necessidade de: “Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva”.

E ainda:

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“Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” (BNCC, 2017).

Diante de todos estes documentos, a USE 08 lançou-se neste novo desafio e, por meio do processo dialogado de construção de novos práticas de ensino e aprendizagem avançou no projeto “O Pará não parou e a Educação ampliou suas salas de aula”, e desenvolveu como ações estratégicas a criação do canal no YouTube para a aplicabilidade das “lives”. Saviani (1985) destaca os deslocamentos, que: “Ocorreram da pedagogia tradicional para a pedagogia nova: do intelecto para o sentimento; do logico (a dimensão objetiva do conhecimento) para o psicológico (a dimensão subjetiva do conhecimento); dos conteúdos para os métodos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não diretivismo; da quantidade para a qualidade.”

Nesta perspectiva que o ensino se atualiza fundamentar esta prática pedagógica inovadora no planejamento e na organização é primordial para alcançar a aprendizagem no contexto escolar. Diante do cenário epidemiológico da Covid-19, ressalta-se, sobretudo, que as metodologias digitais se aproximam da comunidade estudantil, gerando a necessidade da formação da identidade e consciência crítica dos sujeitos, ou seja, a prática pedagógica deve cumprir a função social da escola, assim contribuindo para o desenvolvimento e transformação social. PERCURSO METODOLÓGICO A fim de contribuir com a educação do Estado do Pará no ensino fundamental, o projeto “O Pará não parou e a Educação ampliou suas salas de aula” traz como proposta de ação a prática de “lives”; tendo caráter qualitativo, partindo da escuta de opiniões, atitudes e comportamento adotados, tendo como campo de pesquisa as Escolas Estaduais de Ensino Fundamental que compõem a Unidade SEDUC na Escola 08 (USE 08) e fundamentado a partir da análise de documentos oficiais orientadores do ensino advindos da SEDUC e MEC, assessoramentos técni-

cos nas unidades escolares, formações específicas para a inserção na cultura digital (e-mails, ferramentas, canais de publicação), registros fotográficos, além da realização de busca bibliográfica de artigos, livros e outras fontes, as quais possam subsidiar as novas práticas educativas adotadas, em especial as “lives”.

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Segundo Sampieri (2013), o estudo qualitativo é, por si só, um desenho de pesquisa. Ou seja, não existem duas pesquisas qualitativas iguais ou equivalentes “são peças artesanais do conhecimento feitas à mão, na medida das circunstâncias” (p. 497). Partindo deste princípio é que destacamos o formato flexível desta pesquisa-ação, a qual está intrinsecamente relacionada às experiências vividas em tempos de pandemia da Covid-19. ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS

O projeto “O Pará não parou e a educação ampliou suas salas de aula”, com a ação das lives, destacou-se por estabelecer um movimento colaborativo, proporcionou desafios a serem superados com as novas tecnologias entre os profissionais da educação, as famílias e os discentes; todos os envolvidos se sentiram estimulados a participar ativamente das aulas e tornamse protagonista neste processo. O crescente envolvimento dos professores se destaca nos resultados estatísticos que apresentam crescimento deste processo de ensino-aprendizagem, demonstrando uma maior participação de todos os atores educacionais envolvidos e a aproximação da comunidade com a escola.

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GRÁFICO 1 - Dados Comparativos De Participação

Fonte: Plataformas Digitais Facebook E YouTube (25/05/2021)

CONCLUSÃO Em época de pandemia de coronavírus ficamos afastados, mas os direitos dos discentes continuam assegurados, pois a Constituição Brasileira afirma que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família”, e o ECA (Estatuto Da Criança E Do Adolescente) em seu artigo 4º define: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) em seu artigo 32, parágrafo 4º, define: “O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação

da aprendizagem ou em situações emergenciais”. Fundamentado pelas legislações acima, as escolas da USE 08, juntamente com a comunidade educacional e especificamente com cada professor (a), pesquisaram e organizaram as atividades para que os discentes não parassem de aprender e o objetivo de dar continuidade ao processo de ensino-aprendizagem ganhou um novo olhar, uma dinâmica moderna, inovadora, desafiadora, sempre buscando a interação. A internet foi usada como ferramenta de divulgação dos trabalhos que ocorriam na escola e que, devido à pandemia, espalhava-se vagarosamente entre as comunidades escolares. Com ela foi possível alcançar o maior número de pessoas com o menor tempo, dados passaram a ser vinculados na plataforma Facebook da USE 08 (https://www.facebook.com/use08/?ti=as). A interação alcançada demonstra que as ações despertam o interesse crescente do público-alvo, aumentando a interatividade entre as escolas e suas comunidades, as quais, a partir da transmissão das “lives”, puderam notar o movimento das escolas em relação à educação e todas as demais propostas que estavam em prática, além de trazer sentimentos positivos de euforia, satisfação, superação entre os profissionais da educação e os educandos. A resistência dos atores sociais, profissionais da educação básica, estabeleceu-se por meio do enfrentamento do desconhecido, que é essencial no processo educacional, um elemen-

to transformador na vida de todos (as). Este fez não apenas o pedagógico se transformar, mas também o psicossocial de cada envolvido que se aglutinava à proposta a cada nova ação.

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Sabemos que o acesso à internet e suas tecnologias ainda não alcança a totalidade das

comunidades escolares; para isso, precisamos caminhar com propostas de políticas públicas. No entanto, ofertar possibilidades utilizando esta ferramenta faz com que a função social da escola não seja totalmente abandonada neste momento difícil de pandemia. Acreditar na transformação é permitir a construção de um novo momento. Vencendo os medos e as incertezas, sairemos mais fortalecidos, reflexivos e humanos.

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REFERÊNCIAS

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AULAS REMOTAS EM TEMPOS DE PANDEMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM AS TURMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS-EJA EM DUAS ESCOLAS PÚBLICAS NO PARÁ. Kemle Senhorinha Rocha Tuma¹ RESUMO - Este relato de experiência tem como objetivo apresentar uma avaliação sobre a aplicação das aulas remotas com turmas da Educação de Jovens e Adultos- EJA, em duas escolas da Rede Estadual de Ensino no Pará. O calendário anual foi modificado devido às consequências da pandemia, o qual visou atender às necessidades emergentes devido à suspensão das aulas presenciais. O trabalho com esses alunos foi desenvolvido no período de isolamento social, com o qual as escolas buscaram alternativas para viabilizar o processo ensino aprendizagem, com a utilização de ferramentas digitais, a fim de garantir o direito à educação aos alunos. Com esse relato registrase um momento de se pensar a superação das dificuldades e desafios frente a esta nova proposta de ensino. Motivar os alunos a enfrentar as dificuldades e o acesso às ferramentas como estratégias metodológicas de ensino remoto em plataforma digital, foi o maior desafio das duas escolas. O plano de ensino foi conduzido e organizado na plataforma Google Classroom e no google forms, pelo de comunicação instantânea (WhatsApp) e pelo Google meet, os quais proporcionaram atividades síncronas e assíncronas. Os docentes participaram de formações pedagógicas para aprimorarem seus conhecimentos sobre as novas tecnologias e adaptar-se ao novo processo de ensino. O levantamento apontou, por meio das análises dos formulários aplicados aos 30 alunos participantes que a sala de aula virtual tornou-se o espaço que possibilitou realizar as aulas remotas, também na tentativa de estimular a interação e o diálogo com os educandos. Os resultados apontam que os alunos apresentaram muitas dificuldades relacionadas ao acesso à internet e aos equipamentos tecnológicos das plataformas digitais, porém já estão se adaptando a esta nova modalidade. Outros pontos relevantes sobre o ensino remoto em tempos de pandemia, é que para muitos além do desafio com a tecnologia, não tinham local adequado para estudar e dessa forma, consideraram o ensino remoto regular. PALAVRAS-CHAVE: Práticas Pedagógicas. Mídias Digitais. Aulas Remotas.

INTRODUÇÃO De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), declarado no dia 09 de março de 2020, a COVID-19 é uma doença infecciosa provocada por vírus que se propaga em huma-

nos, sobretudo a partir de gotículas quando uma pessoa contaminada espirra, fala ou tosse. Foi comunicado pela OMS que a COVID-19 se caracterizava como pandemia, devido aos mais de 118 mil infectados, em 114 territórios naquele momento, dos quais 4.291 pessoas vieram a óbito pelo Coronavírus (OMS, 2020). Assim passamos por momentos de grandes mudanças na vida de todos, o isolamento social surgiu como alternativa e enfrentamento à pandemia que afetou o mundo inteiro. Neste momento de grande impacto, principalmente para o enfrentamento das dificuldades na Educação do país, a Organização das Nações Unidas (UNESCO), no dia 18 de março de 2020, confirmou que 85 países fecharam totalmente as atividades presenciais para amenizar o

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Professora de Espanhol da rede estadual de ensino. Graduada em Letras, Pedagogia e Enfermagem. Doutora em Ciências da Educação pela Universidade Autónoma de Asunción e Especialista em Educação Inclusiva.

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contato com o novo coronavírus, atingindo 776,7 milhões de jovens e crianças. Neste momento

o ensino fica completamente distanciado, sendo uma decisão tomada após discussão online em evento com os governos de 73 países participaram virtualmente (UNESCO, 2020). A pandemia do novo Coronavírus tem ocasionado em grande parte da população mundial, dentre elas a população brasileira, quadros de ansiedade e aflorado diversos tipos de sentimentos e emoções, independente da classe social ou cultural que o indivíduo pertença” (BORBA, 2020, p.2). A solução tomada pelo governo do Estado e Secretaria Estadual de Educação foi interromper as aulas presenciais em todos os níveis e buscar a partir de tais dificuldades dar continuidade com o processo de estratégia de ensino remoto. As aulas foram interrompidas na Rede

Estadual de Ensino em todo estado do Pará em março de 2020, quando a doença se disseminou em grande parte da população. O corpo técnico da escola e direção ofereceram cursos e capacitações aos docentes, a fim de superarem os desafios ao uso das ferramentas digitais. Os professores participaram de encontros de formação virtual para trocarem experiências e adequarem suas práticas pedagógicas executadas, por meio de ferramentas, como a plataforma Google Classroom, no Google forms, Google meet, e Whatsapp Web. A partir desse movimento, os docentes realizaram um plano de trabalho para atender às exigências e condições de infraestrutura, tiveram acompanhamento com equipe especializada na escola para dar o suporte técnico. Pois para dar aulas remotas não basta entender sobre ferramentas digitais, mas foi necessária uma formação adequada e um bom acompanhamento pedagógico para uma didática virtual. A experiência a qual o docente deve obter está em saber mediar os educandos também ao acesso das plataformas, como ensinar e como será feita a avaliação sobre os objetivos do planejamento. O objetivo deste relato de experiência foi exatamente, descrever as práticas desenvolvidas durante o exercício da docência na sala virtual, realizada entre o período de fevereiro a abril

de 2021, com os estudantes da Educação de Jovens e Adultos das Escolas Estadual São Geraldo e Escola Estadual Zacharias de Assumpção. A socialização de experiências é relevante para subsidiar as práticas por meio do relato de experiência e assim mostrar os resultados. 1. AULAS REMOTAS NA REDE ESTADUAL DE ENSINO EM TEMPOS DE PANDEMIA 1.1 Relato de experiências com as turmas da EJA Diante deste novo cenário mundial, os profissionais da educação tiveram que se adequar aos novos modelos de ensino e aprendizagem na Rede Estadual de Educação do Pará e veio o ensino remoto como uma estratégia efetiva, feito em aulas ao vivo ou gravadas, por meio de videoconferência. A carga horária das aulas foi ajustada de acordo com as disciplinas, de modo que o docente mantém a frequência dos alunos e apresenta como referência o documento plani-

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ficado pela Secretaria de Educação-SEDUC com a respectiva carga horária a ser cumprida. Os

desafios e as mudanças acontecem e todos devem se adaptar a esta dinâmica do novo ambiente virtual. As aulas expositivas e as avaliações têm ocorrido em diferentes formatos de conteúdo e ambientes virtuais de aprendizagem. Docentes preenchem relatórios com todos os tópicos que estão trabalhando e conteúdos ministrados. Estes relatórios são enviados à Secretaria Estadual de Educação para o controle dos alunos que estão acessando e realizando suas atividades. Tanto as aulas remotas quanto a modalidade de ensino a distância são realizadas para oferecer aos alunos uma rotina de estudos. A utilização dos recursos disponíveis em ambientes digitais possibilitou com o uso de apli-

cativos e ferramentas, como a plataforma Google Classroom, o Google forms, como também do Whatsapp Web e Google meet, as aulas virtuais dos alunos e atender este novo contexto e propostas pedagógicas. Para esta nova proposta, os docentes participaram de cursos de formação para adequar às suas estratégias de ensino. As atribuições dos docentes da Escola Estadual São Geraldo e da Escola Zacharias de Assumpção foi de refletir sobre as metodologias com uso de estratégias de ensino remoto como: selecionar conteúdos curriculares, organizar, planejar, definir as atividades e serem desenvolvidas, definir os critérios avaliativos, acompanhar a aprendizagem e adequar os métodos de ensino e práticas. A gestão docente também trabalha envolvendo a ação metodológica do professor, incluindo o retorno das atividades e da participação dos alunos durante as aulas. O ensino presencial remoto exige uma maior autonomia do estudante, pois este deve estar organizado em seu ambiente virtual e criar seu tempo de estudo em casa, deve assumir a responsabilidade com as aulas e realizar as atividades propostas em datas estipuladas de entrega aos professores. É importante enfatizar aqui que dentro deste processo, há muitos alunos que ainda não dispõe de celular e internet, por meio destas dificuldades, o governo do estado ofereceu aos alunos um chip para acesso à internet, com um e-mail institucional para cada um estudante. Trata-

se das condições que cada aluno dispõe para adquirir equipamentos como uso de smartphones, tablets e notebooks para assim realizar as suas aulas virtuais. Essas medidas ajudam e são eficientes para reduzir a exclusão educacional, por contribuir na participação de estudantes nas aulas remotas. Tendo em vista o tempo emergencial de isolamento, as condições de aprendizagem que envolvem estratégias dinâmicas, uma preocupação para atingir resultados de êxito nas provas do ENEM e demais vestibulares. 2. SALA DE AULA VIRTUAL Como formação para a aprendizagem ao uso do Google Forms, os docentes tiveram cursos de formação ofertados pela escola, que trouxe um professor formador para dar o suporte necessário e atender as dúvidas. No primeiro momento, o encontro foi de forma presencial e no segundo momento foi por meio do aplicativo Zoom, no qual discutiram sobre os assuntos em Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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pauta das ferramentas para o acesso ao ambiente virtual. Ambas as escolas ofereceram o curso

de formação aos docentes. Cada docente dividiu em tópicos seus conteúdos de acordo com o plano de ensino e as atividades foram realizadas na plataforma e para os alunos que ainda não tinham acesso a celular e outro equipamento com internet, a escola disponibilizou cadernões com as atividades para os alunos. Para cada conteúdo foi ofertado vídeos temáticos, material para aulas síncronas, grupo de discussão em google forms, google meet e Whatsapp Web2 para dúvidas e questionamentos dos alunos. A carga horária para cada disciplina é especificada com as aulas previstas para a realização dos períodos e datas de cada bimestre, de acordo com carga horária que deve ser cumprida

seguindo as orientações pedagógicas da Secretaria de Estado de Educação e Secretaria Adjunta de Ensino, considerando a Portaria 010 da SEDUC, que regulamenta as aulas não presenciais3. As entregas das atividades avaliativas foram postadas todas as semanas, pois ficaram especificadas as datas das entregas para o cumprimento das planilhas e entrega dos relatórios devidamente preenchidos contendo todas as informações das aulas remotas. Os docentes gravavam as aulas em seu domicílio, todos tiveram que se adaptar ao seu novo ambiente de trabalho com seus próprios equipamentos, alguns tiveram de comprar computador ou notebook para ministrarem as aulas virtuais. Por meio das ferramentas digitais são conduzidas as aulas e explicam como devem ser realizadas as atividades com tutorial aos alunos na plataforma, através dos formulários. Embora pouco usada, a sala de aula virtual contempla toda a estrutura necessária para atender aos objetivos propostos e para a resolução de dúvidas. Essa experiência permite suporte para ampliar o aprendizado, facilitando o acesso e os conteúdos gravados para que os alunos possam assistir quantas vezes for necessário. A construção de práticas pedagógicas está em curso, os experimentos apresentaram em médio prazo múltiplas possibilidades de resultados quanto à aplicação de aulas remotas em tempo emergencial. Neste tempo de modos diversos, de fazeres e aprenderes, nos remete ao aprimoramento, à reinvenção da didática e à aprendizagem de uso das mídias digitais. É um novo processo de adaptação para professores, gestores, estudantes e familiares (ROTHEM, 2020, p. 106).

A sala de aula virtual (Google classroom) oferece formulários para as atividades, calendário, mural e espaço para mensagens, um suporte para mediação entre professor e aluno, estimulando o diálogo, e também através do Whatsapp Web, onde os alunos interagem com o docente para esclarecer suas dúvidas, tudo para que o aluno não se sinta só neste momento.

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Google forms é um serviço para formulários online, é usada para organizar eventos e realizar provas à distância. O google meet é um serviço de comunicação por vídeo, muito utilizado para reuniões em grupo. O whatsapp web possibilita utilizar os principais recursos de conversa no navegador, como enviar mensagens de texto, áudio, imagens, vídeos e arquivos. 3 Decreto 800, de abril de 2021, do Governo do estado, que estabelece as medidas restritivas, de embandeiramento e mantém a suspensão das aulas presenciais nas escolas da Rede Estadual de Ensino

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Estes espaços possibilitam o contato como nas aulas presenciais, porém é virtual, por is-

so chamada de acordo com Júnior e Monteiro (2020) de aulas síncronas, que são potenciais neste processo pedagógico para o ensino remoto, a presença virtual e interação são importantes e deve fazer parte para a relação interpessoal, para que o aluno se sinta acolhido e seguro diante desta nova era digital a qual ainda não fazia parte do seu cotidiano escolar. O ensino remoto passou a fazer parte de grande número das escolas da rede privada e também da rede estadual de ensino no Pará. 2.1 Participação dos alunos da EJA Em relação à participação dos alunos da EJA das duas escolas, observamos que alguns

não participaram devido às questões de suporte e equipamentos. Os 30 participantes, representam o número de alunos que têm acesso às ferramentas digitais e internet, assistem às aulas e dialogam com os docentes. Das 5 turmas da EJA das duas escolas, duas turmas não tiveram acesso à ferramenta digital, desta forma, a escola imprimiu os materiais e fez a entrega aos alunos para que realizassem suas atividades. A ausência nas aulas remotas de alguns alunos foi causada por dificuldades pessoais, como os alunos citaram como dificuldade de conciliar a rotina de estudos “virtuais” e as outras atividades que realizam em casa e no trabalho. As aulas virtuais são dinâmicas e as atividades propostas estimulam a pesquisa e participação, com experiências vivenciadas dentro do ambiente virtual de ensino e que estimulam o seu senso crítico. Os docentes faziam reuniões quinzenalmente para discutir as ações e novas possibilidades, sempre em busca de aprimorar o processo de ensino e aprendizagem para evitar a evasão escolar e sempre debater a exclusão. Buscar construir novos caminhos e estratégias de ensino para reduzir as perdas como a ausência de alunos por turma, que pode levar à evasão escolar e à perda de carga horária ao docente. Ainda estamos nos adaptando a este estilo de educação, buscar autonomia e solucionar ainda as questões de estrutura aos que não têm acesso às mí-

dias digitais. Na contextualização de conteúdos de estudo, buscamos ampliar as possibilidades de compreensão. Essa estratégia pôde ser usada no intuito de quebrar o paradigma de conteúdo de difícil compreensão para a maioria dos alunos, ao buscar uma abordagem mais lúdica que pudesse facilitar a construção de uma aprendizagem significativa. Através de videoaulas, material em arquivo multimídia, as mídias sociais como youtube, atividades com teste, fórum para perguntas em que os alunos possam tirar dúvidas e expressar opiniões da temática abordada. O fato do professor da EJA ter metodologias apropriadas a essa faixa etária foi essencial para garantir a permanência desses alunos na escola. Usando técnicas e recursos que os façam sentir parte desse novo mundo, o mundo de conhecimentos e oportunidades. Os docentes trabalham com a interdisciplinaridade que pode contribuir para esse objetivo, visto que relaciona os conhecimentos de áreas distintas de uma forma global (GIOVANETTI, 2000). Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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3. METODOLOGIA

Na intenção de descrever sobre a aplicação das aulas remotas neste momento de pandemia, ofertadas pelas escolas públicas no ensino da EJA, foi adotado como instrumento de coleta de dados, um formulário online semiestruturado cadastrados no Google Forms, o qual foi repassado aos alunos em abril de 2021. No formulário que foi direcionado aos 30 alunos da EJA, contendo 5 perguntas, em que foram discutidas questões sobre as aulas remotas em tempos de pandemia. A primeira seção apresentava perguntas para caracterização dos participantes, além de um cabeçalho contendo informações sobre os objetivos e a natureza da pesquisa, e a segunda seção com perguntas voltadas para o objetivo de estudo. A pesquisa contou com a participação

dos alunos que responderam ao formulário semiestruturado. As análises dos resultados foram realizadas em abril de 2021, após a coleta de dados e análises das respostas do formulário. A população do estudo foi composta de 30 alunos que estão regularmente matriculados na rede estadual de ensino, nas duas escolas da pesquisa, Escola Zacharias de Assumpção e Escola São Geraldo, uma está localizada na cidade de Belém-PA, a outra no município de Ananindeua-PA. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Após a aplicação do formulário e as análises dos resultados das respostas dos 30 alunos da EJA das duas escola públicas, foi observado que são alunos com idades entre 18 a 45 anos, sendo que todos são alunos do turno da noite nas duas escolas da pesquisa. No gráfico 1, quando perguntado sobre a qualidade de acesso à internet, 33% dos alunos responderam que é bom, 50% disse que o ambiente e as condições de acesso é regular e 17% respondeu que é insatisfatório. Gráfico 1: Acesso à internet

Fonte: Formulário da pesquisa

Percebeu-se que há alunos que possuem apenas em casa o acesso aos dados móveis, através do aparelho celular, não possuem rede própria de internet. Nem todos dispõem de internet do tipo fibra óptica, alguns acessam a internet com rede compartilhada com vizinhos, utilizando a senha de acesso em wifi.

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No gráfico 2, quando perguntado sobre o ambiente para realizar as aulas remotas, a mai-

or parte dos alunos, 67% disseram não ter lugar adequado para estudar e apenas 33% disseram ter um ambiente adequado para realizar as aulas remotas. Nesse ponto, o que se observou é que alguns estudam na cozinha, outros na sala e outros em seus quartos, referiram também a falta de iluminação adequada. Gráfico 2: Ambiente adequado para realizar as aulas remotas

Fonte: Formulário da pesquisa

No gráfico 3, sobre o ensino remoto, 50% destacaram como regular, 33% consideraram bom e 17% consideraram que é insatisfatório. Esta resposta pode ser devido às grandes dificuldades enfrentadas pelos alunos ainda em relação às tecnologias digitais e também à falta de

motivação para estudar em local adequado. Gráfico 3: Quanto ao Ensino remoto

Fonte: Formulário da pesquisa

Neste contexto, 20% dos alunos relataram que usam o celular do pai ou da mãe porque o seu apresentou defeitos durante as aulas, o uso de aplicativos também deixa o celular muito cheio no armazenamento, o que dificulta também para baixar os arquivos. Além desses pontos referidos no formulário, também foram citadas outras dificuldades como dificuldades em conteúdos mais complexos como nas aulas de matemática e física em decorrência dos estudantes não compreenderem os assuntos ministrados de forma remota, sentem a dificuldade por não ter o

contato direto com o professor.

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Gráfico 4: Dificuldades nas aulas remotas (acesso ao manuseio da plataforma)

Fonte: Formulário da pesquisa

Em relação às dificuldades de acesso e ao manuseio nas plataformas digitais, 60% dos alunos declararam que enfrentam grandes dificuldades enquanto ao uso e 40% referem não ter dificuldade no uso. Nessa perspectiva, é importante o envolvimento e a relação da família dentro desse novo contexto de aprendizagem, para auxiliar dando um suporte ao aluno em suas dificuldades. Cabe ao professor, corpo técnico pedagógico e gestores, estimular os alunos a reconhecerem a educação como ponte para a liberdade, para seu desenvolvimento intelectual perante a

sociedade e o aluno se sentir acolhido nesta nova fase da educação. O educador deve obter recursos didáticos adequados à realidade desses educandos, utilizando sua práxis. Gráfico 5: As disciplinas curriculares que os alunos apresentaram dificuldades nas aulas remotas

Fonte: dados da pesquisa

Essas dificuldades podem ser superadas na mediação entre professor e aluno durante as aulas e discutir os pontos e ações que podem facilitar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos da EJA, tirar dúvidas e oferecer suporte para que o educando possa enfrentar seus desafios.

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Finalizamos estes resultados e discussões abordando sobre o direito constitucional que é

assegurado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96), na qual a Educação de Jovens e Adultos passa a ser uma modalidade da educação básica, destinada àqueles que não tiveram acesso à escola na idade própria, abrangendo os níveis de ensino fundamental e médio. Ressalta-se que o termo modalidade significa que a EJA tem um perfil próprio, uma feição especial diante de um processo considerado como medida de referência” (BRASIL, 2002, p.26). CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência do ensino remoto deverá estar cada vez mais em evidência, pois professores e estudantes experimentaram uma dinâmica na relação ensino e aprendizagem totalmente

distinta do que era vivenciado na educação presencial. Sendo assim, é importante que as experiências e os novos planos pedagógicos colocados em prática sejam socializados e mostrem resultados, sejam eficientes ou não, para a efetivação da qualidade do ensino remoto nas escolas públicas. É preciso valorizar os educandos da EJA, seus saberes prévios, suas inteligências múltiplas, sua vontade de aprender, seus sonhos, necessidades e objetivos. E, para tanto, o professor tem um papel decisivo para fortalecer a autoestima dos educandos e impedir situações de fracasso escolar e evasão, principalmente em momentos como estes. Os resultados obtidos apontam que os alunos apresentam várias dificuldades relacionadas ao acesso à internet e aos equipamentos tecnológicos das plataformas digitais, porém já estão se adaptando a esta nova modalidade. A falta de equipamentos ainda é um fator preocupante neste momento e o apoio da família deve estar presente para superar as dificuldades ao acesso. A preocupação atual na educação da EJA é tentar minimizar as dificuldades dos alunos ao acesso às aulas remotas, analisar as metodologias e avaliar se estão superando a perspectiva destes desafios, tentando assim garantir o ensino com qualidade e direito à aprendizagem. Conclui-se aqui sobre a necessidade da atuação da família dentro deste processo, como também mais investimentos em recursos tecnológicos para os que não têm acesso à rede, den-

tre outros pontos, para que as consequências dessa modalidade de ensino, como as aulas remotas nas escolas públicas, não sejam adotadas de maneira emergencial e geram consequências negativas no processo de aprendizagem escolar.

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REFERÊNCIAS

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Disponível

em:

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option=com_docman&view=download&alias=31361-arecer-cne-ces-564--15pdf&category_slug=dezembro-2015-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 03 de Maio de 2021. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9.394 de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. Ministério da Educação. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/ bitstream/handle/id/70320/65.pdf. Acesso em 07 de Abril de 2021. BRASIL. Portaria Nº 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19. D.O.U 18/03/2020. Disponível em: Acesso em: 03 Maio de 2021. GADOTTI, M. Projeto político-pedagógico da escola: fundamentos para a sua realização. Romão, José E. (orgs.). Autonomia da escola: princípios e propostas. 3. ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2006. GIOVANETTI, M. A. Núcleo de Educação de Adultos: pesquisa e formação. Neja/UFMG. In: Educação em Revista, Belo Horizonte, 32, 197-207, 2000.

JUNIOR, V.B.S.; MONTEIRO, J.C.S. EDUCAÇÃO E COVID-19: As tecnologias digitais mediando a aprendizagem em tempos de pandemia. Education and covid-19: digital technologies mediating the learning process in times of a pandemic educación y covid-19: las tecnologías digitales mediando el aprendizaje en tiempos de pandemia .Revista Encantar - Educação, Cultura e Sociedade - Bom Jesus da Lapa, v. 2, p. 01-15, jan./dez. 2020 MINAYNO, M.C. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2011. ROTHEN, J. C.; SANTANA, A. C. M. (orgs.). Avaliação da educação: referências para uma primeira conversa. São Carlos: EDUFSCCAR, 2018.

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ROTHEN, J. C. AULAS REMOTAS EM TEMPO EMERGENTE: Relato de experiência com a

turma “Avaliação Institucional da Educação” na UFSCar. REMOTE LESSONS IN EMERGING TIMES: Experience report on the class “Institutional Assessment of Education” at UFSCar José Carlos Rothen. Cadernos da Pedagogia, v. 14, n. 29 (Edição Especial), p. 97-107, 2020. TRIVINOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. 1ª Ed.21. São Paulo: Atlas, 2012. UNESCO. Children With Disabilities, 2012.

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EDUCAÇÃO E PANDEMIA: EXPERIÊNCIA COM A PLATAFORMA GOOGLE CLASSROOM E GOOGLE MEET NO ENSINO MÉDIO Maria Leonice Andrade de Almeida1 Rosana Maria Alencar Oliveira2 RESUMO - Este estudo apresenta o ensino remoto colocado em prática no Ensino Médio no Município de Tucuruí/ PA em 2020, diante do contexto pandêmico. Trata-se de um Relato de Experiência que permitirá conhecer como a Escola Estadual de Ensino Médio Ana Pontes Francez, lócus dessa pesquisa, desenvolveu o ensino remoto com essas turmas, tendo como objetivo geral: apresentar a experiência com a plataforma Google Classroom (google sala de aula) e Google Meet; além disso, o estudo procurou identificar as estratégias utilizadas pela escola para ofertar o ensino remoto e os impactos dessa experiência no ensino e aprendizagem dos alunos atendidos durante o ano letivo de 2020. A metodologia que subsidiou a pesquisa foi o levantamento bibliográfico, tendo como base alguns autores como Bernini (2017) trazendo o uso das tecnologias da informação e comunicação no espaço escolar; Cortelazzo et al. (2018) com as Metodologias Ativas; Moran (2015) abordando a Educação Híbrida; e outros. A pesquisa descritiva de caráter qualitativo traz, assim, o relato das pesquisadoras enquanto Especialistas em Educação (Coordenadoras Pedagógicas) cujo resultado principal obtido, diante dos desafios impostos pela pandemia, foi um ensino remoto que proporcionou uma aprendizagem significativa e que buscou alternativas que atendessem às necessidades dos alunos por meio de ações que possibilitaram a eles manter o vínculo com o espaço escolar e a continuar seus estudos, tendo acesso ao conhecimento, mesmo diante do caos que se instalou no país e no mundo com a pandemia. PALAVRAS-CHAVE: Pandemia. Ensino Remoto. Ferramentas Digitais. Google Classroom. Google Meet.

1 INTRODUÇÃO Este estudo, relato de experiência trata sobre Educação e Pandemia no contexto brasileiro e, mais especificamente, no município de Tucuruí/Pará e teve por objetivo repensar metodologias e concepções do Ensino Remoto, assim como de contribuir para a análise e discussão sobre as práticas pedagógicas colocadas em prática no espaço escolar atendendo a nova realidade, imposta pelo panorama instalado pelo contágio da Covid-19 em 2020, à medida que, refle-

te sobre o que foi colocado em prática na escola para que de fato se alcançasse a aprendizagem dos alunos, mesmo com o panorama de contágio que se alastrou pelo país, fazendo com que as escolas paralisassem as aulas presenciais. Diante disso, a problemática de estudo esteve centrada na seguinte questão: Como foi implementado o Ensino Remoto na E.E.E.M Ana Pontes Francez, tendo como foco a experiência vivenciada com a plataforma Google Classroom e Google Meet? Além disso, tem por objetivo analisar a implementação do ensino remoto, no espaço escolar, diante da pandemia e como a

1

Graduada em Pedagogia e História (UFPA), Especialista em Administração Escolar, Supervisão e Orientação Escolar (Uniasselvi), atua como Docente na rede municipal e como Especialista em Educação na Rede Estadual, no Município de Tucuruí-PA, maria.lalmeida@escola.seduc,pa.gov.br 2 Graduada em Pedagogia (UFPA), Especialista em Administração Escolar, Supervisão e Orientação Escolar (Uniasselvi), atua como Especialista em Educação na Rede Estadual, no Município de Tucuruí-PA, rosana.oliveira@escola.seduc.pa.gov.br.

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escola buscou diante desse novo contexto colocar em prática um educar pautado na transforma-

ção. Quanto aos procedimentos metodológicos, realizamos um levantamento bibliográfico do que respaldou nosso trabalho aliado à nossa experiência como coordenadoras da escola, com a implantação das plataformas Google Classroom (google sala de aula) e Google Meet, no ano letivo de 2020 e, como o espaço escolar ressignificou sua prática pedagógica para atender aos alunos por meio do Ensino Remoto, necessário, diante da realidade imposta ao país e ao mundo com a contaminação do vírus da Covid-19. Não se pode deixar de frisar que a escola sempre buscou colocar em prática um ensino pautado em metodologias significativas para seus alunos, no entanto, frequentemente esbarrou

no modelo tradicional que tem predominado no contexto educativo e que, na maioria das vezes, impediu a abertura desse espaço para um educar mais humanizante, em que o aluno coloca em prática sua criatividade, sua vivência e se torna protagonista das experiências que lhe são possibilitadas e assim constrói seu conhecimento. Diante desse contexto, cabe ao professor repensar suas metodologias tendo em vista que, as tecnologias enquanto ferramentas de aprendizado “podem estimular e facilitar o processo de aprendizagem, e cabe ao professor ensinar ao aluno como utilizá-las de forma crítica e produtiva” (LIMA; MOURA, 2015, p. 91). Pensando assim, as ferramentas digitais como meio para ensinar de forma significativa sempre despontou como um método para difundir no espaço educativo a criatividade, o dinamismo e a autonomia do aluno na construção dos saberes, tal perspectiva se tornou ainda mais necessária frente à pandemia, exigindo assim do professor, uma postura inovadora, com base em metodologias que pudessem chegar mais perto do aluno, deparando-se assim com as ferramentas digitais. As metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos. Se queremos que os alunos sejam proativos, precisamos adotar metodologias nas quais eles se envolvam em atividades cada vez mais complexas, em que tenham de tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes. Se queremos que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa (MORAN, 2015, p. 34).

Portanto, as reflexões que aqui se fazem são relevantes, à medida que, discutem como a escola colocou em prática o Ensino Remoto e o que foi vivenciado com a implantação da Plataforma Google Classroom e Google Meet, na Escola Estadual de Ensino Médio Ana Pontes Francez, no Município de Tucuruí-Pa, por meio de metodologias e espaços abertos para esse novo contexto, possibilitando assim, que a aprendizagem e o acesso ao conhecimento fossem permanentes na escola, mesmo com os alunos longe do espaço escolar. 2 EDUCAÇÃO E PANDEMIA: AS PLATAFORMAS DO GOOGLE A Pandemia levou a escola a ressignificar suas práticas pedagógicas para assim atender aos alunos que devido ao contágio da Covid-19, passaram a ser privados do acesso presencial ao espaço escolar, ou seja, tiveram que ficar em casa e a escola passou a atendê-los de forma Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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não presencial, utilizando-se, portanto, do Ensino Remoto. Diante desse novo cenário, despon-

tou a necessidade urgente da utilização das Tecnologias Educacionais para atender a essas atividades. Tal necessidade estava latente há tempos, no entanto, devido a urgência e, diante do contexto, que se fez presente no mundo, diante da pandemia, coube a escola repensar estratégias para atender seus alunos mesmo que de forma remota, adotando metodologias, que vão desde materiais impressos ao uso das Ferramentas Digitais como os aplicativos disponíveis no G Suite for Education disponibilizados pelo Google. Tal panorama colocou em xeque o ensino expositivo, ensino este pautado na máxima, o professor fala, demonstra, para que o aluno observe, ouça e assim aprenda, desse modo, diante

do contexto pandêmico, utilizamos meios para que mesmo longe da escola, o aluno pudesse aprender, para tanto, ancoramos em metodologias que possibilitou ao aluno construir esse conhecimento, enquanto sujeito ativo no processo de aprendizagem. Pensando assim, recorremos a novos ambientes de aprendizagem, sendo que, nesses espaços, “o professor é aquele que promove uma aprendizagem mais colaborativa e ativa, não necessariamente se parecendo com uma sala de aula tradicional” (CORTELAZZO et al., 2018, p. 63). Outro cenário desafiador colocado em prática diante do contexto pandêmico foi a busca por metodologias que proporcionasse aprendizado aos alunos, deparamos assim com as metodologias ativas, que na verdade não trazem nada de novo e já vem sendo discutidas desde o final do século XIX com a Escola Nova, desse modo, destaca-se que, [...] “métodos ou metodologias ativas” são identificados como qualquer atividade onde os estudantes ficam envolvidos em fazer algo e pensar no que estão fazendo. São atividades que tiram o estudante da posição passiva apenas “recebedores” de informação, para uma posição mais ativa a\de “construtores” de sua própria aprendizagem (CORTELAZZO et al, 2018, p. 107).

Desse modo, com base no que tem sido vivenciado e diante do que seria possível de se colocar em prática muitas escolas, assim como a Escola Estadual de Ensino Médio Ana Pontes Francez, utilizaram o pacote G Suite for Education disponibilizado pelo Google, tendo em vista, a multiplicidade de aplicativos disponíveis e a fácil utilização, tanto por parte dos alunos quanto dos professores. Destaca-se diante desse panorama, o ambiente virtual de aprendizagem Google Classroom (google sala de aula), adotado pelas Escolas Estaduais no Estado do Pará, devido sua facilidade de acesso, sendo, pois, uma ferramenta auto instrutiva, na qual os alunos facilmente conseguem interagir, acessar materiais, comentários, tirar dúvidas. Algo relevante, nesse processo é a possibilidade de acesso a materiais como textos, vídeos, links, planilhas, uma vez que As tecnologias facilitam a aprendizagem colaborativa, entre colegas próximos e distantes. É cada vez mais importante a comunicação entre pares, entre iguais, dos alunos entre si, trocando informações, participando de atividades em conjunto, resolvendo desafios, realizando projetos, avaliando-se mutuamente. Fora da escola acontece o mesmo, na comunicação entre grupos, nas redes sociais, que compartilham interesses, vivências, pesquisas, aprendizagens. A educação se horizontaliza e se expressa em múltiplas interações grupais e personalizadas (MORAN, 2018 p. 47).

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Outro fator relevante ao usar o Google Classroom está relacionado ao processo avaliati-

vo, pois é possível utilizar Ferramentas Digitais variadas e sua aplicabilidade ocorre à medida que os alunos vão aprendendo os objetos do conhecimento, o que não seria possível, no contexto presencial, já que isso impossibilitaria a correção pelo professor das muitas atividades manuais em tempo hábil; mas, nesse contexto, as ferramentas como o formulário google (google forms), torna esse processo mais dinâmico e interativo entre o professor e o aluno; destacamos ainda, a possibilidade de criar avisos e atividades que permitem aos alunos editar textos e planilhas, desenvolvendo o seu protagonismo (BRASIL, 2018). Outrossim, a ferramenta google classroom possibilita o acesso via smartphone, aparelho que tem sido mal aproveitado em sala de aula cujo uso, em muitas instituições, é até proibido;

porém, com o uso dessa ferramenta, o aparelho celular se tornou indispensável, facilitando o acesso e tornando as aulas mais interessantes; ademais, tendo em vista que nem todos os nossos alunos da rede pública possuem computador, tablet ou notebook, a utilização do celular se dá de forma mais ativa, bastando apenas baixar o aplicativo por meio do e-mail institucional de cada um. A inovação também está presente na autoavaliação do docente, que realiza a reflexão de sua intervenção no desenvolvimento das aulas para perceber se conseguiu ser a ponte entre o estudante e o conhecimento, ou seja, se a partir dos métodos escolhidos conseguiu despertar o interesse dos estudantes pela busca do conhecimento, se não de todos quantos, e o motivo de não ter atingido a todos e como buscá-los (CORTELAZZO et al., 2018, p. 110).

Desse modo, podemos citar como vantagens da ferramenta: sua configuração, a facilidade na organização de materiais por meio de tópicos e subtópicos, a comunicação no ambiente por meio de comentários, o uso tanto em computador como em tablet, smartphone, iphones e a possibilidade de estabelecimento de prazos e horários para o acesso e entrega das atividades. Em contrapartida, observamos algumas desvantagens que a ferramenta traz, uma delas diz respeito à internet; para o acesso aos arquivos é necessário possuí-la e sua qualidade também é essencial; assim, essa se torna uma barreira, tendo em vista que nem todos os nossos alunos possuem Wi-Fi e a internet, via redes móveis deixa a desejar em alguns aspectos.

Com relação ao Google Meet, destaca-se que se trata de um aplicativo de acesso simples, com possibilidade de interação no chat, compartilhamento de tela, gravação, apresentação de vídeos e slides. Seu acesso, assim como o google sala de aula, se dá tanto no computador como no celular ou tablet. Diante do Ensino Remoto, os professores recorreram ao aplicativo Google Meet para as aulas síncronas, em que foi possível realizar palestras, rodas de conversa, seminários e debates. Essa ferramenta possibilitou a aproximação dos alunos à escola, por ter sido aproveitada pelos docentes, para explicar os objetos do conhecimento, para tirar dúvidas e repassar informações, isso tudo de modo a aproximar o que se vivenciava no presencial, para alcançar os objetivos traçados num espaço díspar, mas dinâmico e propicio ao aprendizado.

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“O uso da tecnologia é, portanto, um novo campo de possibilidades que poderá trazer so-

luções inovadoras para o ambiente da sala de aula e auxiliar na quebra do atual paradigma, abrindo as portas para o fantástico mundo da aprendizagem” (CORTELAZZO et al., 2018, p. 202); e embora o ensino remoto tenha sido imposto pela Pandemia, trouxe a oportunidade de repensar metodologias, utilizando-as de forma a tornar o aluno protagonista de seu aprendizado. 3 PERCURSO METODOLÓGICO O estudo se configurou tendo como base uma abordagem descritiva e qualitativa da pesquisa, em que buscou analisar os dados, refletindo o contexto histórico em que estão inseridos os sujeitos envolvidos nela, de uma feita que as pesquisas descritivas “têm como objetivo pri-

mordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2008, p. 28). Seguindo essa linha, o presente estudo teve como objetivo apresentar a experiência com a Plataforma Google Classroom e Google Meet, tendo como lócus, a Escola Estadual de Ensino Médio Ana Pontes Francez no Município de Tucuruí-Pa. A EEEM Ana Pontes Francez que está situada na zona urbana da cidade de Tucuruí-PA, pertencendo à esfera estadual, cujo funcionamento se dá por períodos: matutino, vespertino e noturno. A escola foi demolida em 2014, sendo construído um novo prédio e sua reinauguração ocorreu em agosto/2018. Atualmente, a Instituição atende a alunos do Ensino Médio (1ª, 2ª e 3ª séries), a Modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), ofertando também turmas do SEI 3, um total de aproximadamente 1050 (um mil e cinquenta) alunos matriculados no ano letivo de 2020 4. Assim, o relato traz nossa experiência como pesquisadoras Especialistas em Educação (coordenadoras pedagógicas), expondo parte das observações de nossas vivências no decorrer do ano letivo de 2020, momento em que a escola reestruturou o atendimento aos alunos, implantando o ensino remoto com a criação das salas virtuais por meio das ferramentas Google Classroom e Google Meet como forma de ampliar o atendimento aos alunos no período das atividades não presenciais. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS Ao analisar os resultados do trabalho executado, foi necessário que fizéssemos algumas reflexões acerca das atividades do corpo pedagógico da escola em questão no ano de 2020. No início do ano letivo, depois de realizadas as atividades de praxe: lotação, reuniões pedagógicas, 3

Sistema Educacional Interativo, implementado pelo governo do Estado do Pará para oferta do Ensino Médio as comunidades de difícil acesso (comunidades rurais) dos municípios paraenses com a mediação tecnológica e a interatividade, por meio de uma rede privada satelital. As aulas são presenciais regulares de segunda a sexta, com 4h diárias, a metodologia utilizada é a mediação tecnológica com aulas ao vivo, transmitidas pela televisão, tendo um professor ministrante no estúdio em Belém e o aluno assiste na sala de aula de uma escola em sua comunidade, sob a orientação de um professor articulador/mediador (presencial), a interação ocorre em tempo real utilizando a webcam. A Escola Estadual Ana Pontes Francez passou a ofertar o SEI em 2018 para as comunidades rurais do Município de Tucuruí/Pará. Informações fornecidas pela Direção da Escola. 4 Dados do Censo Escolar 2020 obtido na secretaria da escola.

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semana de planejamento pedagógico, organização de calendário do ano letivo, produção do ho-

rário de aula para cada turno, etc., fomos surpreendidos com a emergência sanitária imposta pela Pandemia. As atividades pedagógicas da escola seguiam seu curso dentro da normalidade até que no mês de março, houve a necessidade de parada por conta do alto nível de contágio que culminou com o Decreto Nº 609 de 16/3/2020 do Governo do Estado do Pará (PARÁ, 2020) em que deixava claro os motivos pelos quais foi obrigado a suspender as aulas presenciais em decorrência do crescimento de casos de Covid-19 e, naquele momento, sem vacinas e tendo a situação descontrolada, era mais seguro que ficássemos em casa. Sendo assim, a escola foi fechada, logo, todos os funcionários e alunos se recolheram e

aguardaram outras determinações do Governador e da Secretaria de Educação (Seduc/PA), para reiniciar novamente suas atividades presenciais. Assistíamos de casa um mundo inimaginável, ruas vazias e pessoas sem saber o que fazer a não ser aguardar. O mundo mudou, seguindo novos rumos, rumos esses, em que estava incluída a educação formal, a qual mudaria de maneira drástica e todos os envolvidos precisariam acompanhar tais mudanças. Mudar estava ligado ao fator sobrevivência, diante do caos que havia se tornado o mundo, com a disseminação da contaminação da covid-19. Nesse período, a equipe pedagógica da escola se debruçou para primeiramente tentar se amparar e logo depois compreender esse “Novo Tempo” que demandou novos olhares e novas metodologias educativas para uma nova realidade imposta a todos. Foi preciso que novas metodologias educativas contemplassem as necessidades dos alunos, naquele momento e justamente, esse foi o grande desafio detectado pela equipe pedagógica da escola. Desse modo, o primeiro passo dado foi a busca por qualificação, assim participamos inicialmente dos cursos propostos pela Seduc/PA, ressignificando a vida profissional de todos aqueles que se propuseram a protagonizar esse novo momento. A Escola Ana Pontes Francez sempre foi inovadora, e por ser a escola de Ensino Médio mais antiga do município, novamente, resolveu sair a frente, iniciou antecipadamente as experiências no ambiente virtual, implantou as-

sim, as salas virtuais, utilizando o google classroom (google sala de aula), interagindo inicialmente entre os professores, equipe gestora e pedagógica e depois inserindo os alunos. É importante enfatizar que, juntas com alguns professores, lotados na escola participamos do Curso: Ferramentas Digitais ofertados pelo Núcleo Tecnológico Educacional (NTE) 5, vinculado à Seduc/PA; tal formação contribuiu de maneira significativa para o que viria a seguir. Diante da participação no curso oferecido pelo NTE, destacamos que mesmo com essa formação os professores que participaram ainda demonstraram dificuldade em colocar em práti-

5

A Os Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) no Estado do Pará colocam em prática as diretrizes, critérios, orientações, normas e atribuições funcionais a todos os envolvidos com o uso e aplicação de tecnologias informáticas e outras mídias nas escolas públicas do Pará. Durante a pandemia em 2020 ofertou o Curso Ferramentas Digitais em parceria com o Centro de Formação da Seduc/PA (CEFOR) disponível em: http://www.seduc.pa.gov.br/site/ cefor.

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ca, tornando necessário o atendimento individual; sendo assim, os professores com maior difi-

culdade procuravam a escola para que a coordenação pedagógica os auxiliasse. Devido à dificuldade com as ferramentas, buscamos outros recursos que pudessem nos ajudar nessa qualificação, sendo assim, utilizamos tutoriais produzidos pela professora de Educação Física, concomitante às lives organizadas pela coordenação pedagógica, para auxiliar da melhor forma possível a utilização das ferramentas digitais. Além disso, os professores recorreram a tutoriais disponíveis na internet, principalmente no YouTube, para o uso do ambiente virtual. Com a chegada dos e-mails institucionais, fornecidos pela Seduc/Pará para cada aluno matriculado na rede estadual, demos início às interações entre escola e alunos nos grupos de

WhatsApp e, após isso, criamos as salas virtuais inserindo professores e alunos. Com o intuito de facilitar a utilização do Google Classroom, optamos por criar uma sala virtual para cada turma de 2020. A sala virtual contou com tópicos por disciplina e assim os professores disponibilizavam aos alunos: materiais didáticos, videoaulas, atividades e as avaliações do período. Para as avaliações optamos por utilizar o google forms com 10 questões objetivas, seguindo um calendário prévio com as datas da aplicação e as disciplinas para cada dia. As salas virtuais foram utilizadas de forma assíncrona, para que assim os alunos pudessem ter acesso ao material a ser estudado e as atividades disponíveis tanto no Google forms quanto no Google docs, de acordo com sua disponibilidade de horário e acesso à internet. Já as aulas síncronas ocorreram por meio de encontros diários de segunda à sexta-feira no Meet, conforme o calendário escolar 2020, com a participação dos professores e dos alunos das turmas concluintes (3ª série e 2ª série da EJA), seguindo um horário de aula com a mesma quantidade de aula do ensino presencial, no entanto, com a duração de 30 minutos cada aula. Optou-se pelas aulas nessa plataforma apenas com as turmas concluintes porque elas receberam da Seduc um chip com acesso à internet e, dessa forma, os alunos que não tinham acesso por meio do WiFi ou redes móveis puderam acompanhar esses momentos síncronos de forma mais ativa. Nesse sentido, as tecnologias da Informação e comunicação (TIC) tornam-se ferramentas com grande potencial de facilitadora do processo, possibilitando agilidade em viabilizar a comunicação, mapear processos, compartilhar informações, reduzir distância, aproximar a realidade, prover condições de execução, viabilização de projetos, simular fenômenos disponibilizar ao estudante acesso à toda e qualquer informação que possa contribuir com a atividade realizada (BERNINI, 2017, p. 107).

Diante desse contexto de transformação, durante a utilização das salas virtuais, percebemos que aos poucos os professores foram se sentindo à vontade na utilização das Ferramentas Digitais, ganhando, assim, autonomia e domínio. Foi nítida também a busca deles por formação continuada e aprimoramento, o que estimulou os demais profissionais que não participaram dos cursos ofertados pela Seduc a procurem implementar em suas práticas essas ferramentas, mas como não haviam tido formação, buscaram tutoriais e materiais na internet e ajuda para usar as novas metodologias e instrumentos para dinamizar suas aulas.

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Assim, como os professores, os alunos, principalmente da EJA, demonstraram certa re-

sistência na utilização do Google Classroom mesmo sendo nativos digitais; e por mais que estivessem acostumados a lidar com essas tecnologias no dia a dia, não tiveram segurança para seu uso como instrumento educacional; isso tem a ver com o fato de o aplicativo requerer um domínio de ações não vivenciadas antes por eles, assim, levou um tempo até que conseguissem dar significação para os conhecimentos que já traziam e fazerem um link com as atividades escolares, no entanto, aos poucos foram se acostumando com este formato e acompanhando de forma satisfatória as aulas e acessando a sala virtual. Dentre os aspectos negativos enfrentados durante o uso das salas virtuais no Google Classroom, além dos momentos no Google Meet, estão, principalmente, os aspectos ligados à

questão de acesso à internet que impede que a escola atenda a seus alunos de forma igualitária e inviabilizando um processo democrático; somado a isso, a maioria dos alunos, por não possuir computador ou tablet, usava o telefone celular, o que limita, de certa forma, o trabalho com as ferramentas. Apesar dos aspectos negativos enfrentados, foi perceptível no espaço escolar da EEEM Ana Pontes Francez o crescimento ocorrido com a utilização das Ferramentas Digitais nas aulas remotas, com aulas dinâmicas, trocas de experiência entre professores e alunos e, além disso, mantendo o contato constante com o aluno, por meio das aulas pelo meet, as quais foram primordiais para que o elo com a escola não se perdesse por completo. Para isso, a necessidade de mudança se fez presente em cada ação, quer seja por parte da coordenação pedagógica, assim como pelos professores e alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Pandemia originou a desconstrução da lógica humana dentro dos processos educacionais que estruturavam a práxis pedagógica em determinados tempos, espaços e relações entre os indivíduos e permitiu conhecer outra realidade, como a realidade difundida no espaço escolar da EEEM Ana Pontes Francez, com a utilização das Ferramentas Digitais: Google Classroom e

Google Meet. Com base na realidade vivenciada nessa escola, destacamos a importância da utilização das Ferramentas Digitais para atender aos alunos do Ensino Médio, durante as atividades não presenciais colocadas em prática no ano letivo de 2020 como forma de oportunizar momentos de experiências ímpares com a apropriação de novos conhecimentos e linguagens e de um rico vocabulário que mescla a língua portuguesa e inglesa, palavras tão comuns no dia a dia de um alunado nativo digital. Essas novas ferramentas e toda essa vivência com o novo proporcionaram a eles um aprendizado que irá reverberar na sua vida dentro e fora da escola. Entretanto, nem tudo foram “flores” nessa caminhada; destacarmos aqui a barreira enfrentada pela escola com relação à participação ativa dos alunos e seu protagonismo no processo, pois, inicialmente, eles se sentiram desmotivados e apresentaram muita dificuldade no acesso às ferramentas usadas. Isso se configurou um fator surpresa tanto para os professores quanto Revista “Entre Saberes” - Vol. IV, Nº 6 (jun.2021)

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para nós, pois como são nativos digitais e têm facilidade em interagir nas redes sociais e por

meio de jogos e aplicativos, não esperávamos que teriam dificuldade. De toda forma, entendemos que a relação estabelecida nesses ambientes diverge e muito dos utilizados no Ensino Remoto e a motivação, a intencionalidade, a funcionalidade, etc. são díspares, e, na nossa primeira acepção, não levamos em conta todas essas variantes, o que nos levou a esse equívoco. Percebemos também que, inicialmente, os alunos não viam prazer nessa interação e não se sentiam à vontade em participar, optando apenas pelo material impresso. Com base nessa realidade, entendemos que a escola precisa ampliar o atendimento aos alunos, principalmente os que não possuem acesso à internet e cujo atendimento ainda se faz apenas por meio de material impresso. A falta de equipamentos como notebook e tablet,

quer seja por alunos ou por professores, requer políticas educacionais para atender tal demanda e, assim, ampliar o acesso dos alunos as plataformas do google, assim como fornecer aos professores os equipamentos necessários para que assim a escola possa de fato utilizar as ferramentas digitais para um aprendizado dinâmico e inovador. Nesse sentido, por meio desse relato de experiência suscitamos um olhar atento ao Ensino Remoto, assim como destacamos a relevância do uso das metodologias ativas presentes no espaço escolar, tendo em vista que mesmo com a retomada às aulas presenciais, futuramente, as estratégias vivenciadas e colocadas em prática na pandemia farão parte do cotidiano escolar em um chamado “novo normal” que será instaurado em toda as esferas da sociedade. A metodologia que utilizamos na escola mostra que mesmo diante das dificuldades é possível propiciar ao aluno aprendizado significativo, tendo o aluno como protagonista no processo educativo, pois passou a desempenhar papel mais ativo quanto à sua formação uma vez que se tornou gerenciador do seu tempo de estudo, acessando aos materiais e às atividades disponíveis na sala virtual com base em uma organização própria. Tal ação refletiu no resultado acadêmico alcançado que, apesar das barreiras, foi profícuo e significativo não apenas para o aluno, mas para todos que participaram do processo e nesse exercício constante da docência e da gestão, a equipe escolar mostrou a importância do

seu papel na formação dos alunos e deixou latente para a sociedade o quão fundamental é o ato de educar de modo a tornar a escola uma instituição viva, humana e humanizante.

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REFERÊNCIAS

BERNINI, Denise Simões Dupont. Uso das Tics como ferramenta na Prática com Metodologias Ativas. In.: Dias, Simone Regina; Volpato, Arceloni Neusa (Orgs.). Práticas inovadoras em metodologias ativas. Florianópolis: Contexto Digital, 2017, p.102-118. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEF, 2018. CORTELAZZO; Angelo Luiz et al. Metodologias Ativas e Personalizadas de Aprendizagem: para refinar seu cardápio metodológico. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008. LIMA, Leandro Holanda Fernandes de; MOURA, Flavia Ribeiro de. O Professor no Ensino Híbri-

do. In.: BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello (Orgs.). Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação. Porto Alegre: Penso, 2015, p. 89-102. MORAN, José. Educação Híbrida: um conceito-chave para a educação, hoje. In: BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello (Orgs.). Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação. Porto Alegre: Penso, 2015, p. 27-45. ______. Metodologias Ativas para uma aprendizagem mais profunda. In.: BACICH, Lilian; MORAN, José (Orgs.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Penso, 2018, p. 40-50. PARÁ. 2020. Governo do Estado do Pará. SEMA. Decreto nº 609, de 16 de março de 2020, DOE Nº 34207, de 6/5/2020. Disponível em: https://www. Jusbrasil .com.br/diarios/DOEPA. Acesso em 12/3/2021.

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AULAS NÃO PRESENCIAIS NA QUARENTENA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO Sandra Regina Feiteiro1 RESUMO - Este relato apresenta uma experiência no ensino remoto com alunos do Ensino Médio no contexto da pandemia do Coronavírus, no ano letivo de 2020. O objetivo é analisar o desenvolvimento da prática pedagógica no ensino híbrido refletindo sobre os resultados das atividades educacionais em regime de teletrabalho na E.E.E.M.I. Padre Eduardo, na ilha de Mosqueiro. A metodologia teve por base a prática pedagógica planejada e desenvolvida por meio de uma sequência didática de leitura e produção de texto, das ferramentas do Google e de um ambiente virtual de aprendizagem do Google Drive e Google Meet como recursos educacionais. Os resultados indicam que, apesar de estarmos utilizando as ferramentas digitais no processo educacional, ainda há dificuldades para a eficácia do processo ensino e aprendizagem no ensino remoto. PALAVRAS-CHAVE: Língua Portuguesa. Ensino Remoto. Ferramentas Digitais.

INTRODUÇÃO Apresentamos o relato da experiência vivenciada com alunos do Ensino Médio na Esco-

la Estadual de Tempo Integral Padre Eduardo, na Ilha de Mosqueiro, Distrito de Belém/PA, no âmbito da disciplina Língua Portuguesa, com aulas não presenciais, remotas, cuja modalidade é mediada por meios digitais e internet em que alunos e professores, embora distanciados fisicamente, participaram do processo em um ambiente virtual de interação. Pretendemos mostrar uma prática pedagógica desenvolvida e registrada em relatório (FEITEIRO, 2020a) composta por estratégias para o ensino remoto, ressaltando, sobretudo, uma sequência didática de Língua Portuguesa durante o isolamento. Dessa forma, mostramos também como se deu o formato das aulas para os mais de 350 alunos matriculados na Escola Padre Eduardo que convivem com uma enorme carência quanto ao uso das tecnologias digitais. Os estudantes estruturam e organizam suas vidas e sociedade em função das águas que, na verdade, são os seus caminhos e “territorialidade” (MEDEIROS, 2009). A ilha, nesse sentido, é o lugar de morar, de viver, de lazer, de estudar, de produzir e de reproduzir socialmente. Em termo de memória coletiva, simbolicamente, a ilha, seu entorno e as águas significam e representam o seu lar. Assim, também, as águas se tornam caminhos, fazendo da ilha um espaço de isolamento e de reclusão. Justamente pela complexidade desse processo, no que diz respeito a atividades remotas, buscamos com este trabalho responder a alguns questionamentos: que estratégias de ensi-

no mediadas pela tecnologia podem ser utilizadas no processo avaliativo do ensino remoto? Co1

Mestra em Letras/Linguística (UFPA). Professora efetiva AD-4, Classe III - Secretaria de Estado de Educação PA. Lotada na Escola Estadual de Ensino Médio de Tempo Integral Padre Eduardo, USE 17.

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mo são trabalhadas as atividades de leitura e escrita em sala de aula virtual? Que estratégias

são utilizadas para a formação de um ambiente letrado em aulas não presenciais? Para isso, a metodologia é uma construção dialética entre nossa prática pedagógica e nossa revisão teórica, como autocrítica analisando nossa própria experiência em sala de aula durante o ensino remoto com a utilização de ambientes virtuais de aprendizagem do Google Meet e Google Drive com alunos do Ensino Médio. No que se refere ao objetivo geral do Relato, visamos a analisar o desenvolvimento da prática pedagógica no ensino híbrido refletindo sobre os resultados das atividades educacionais em regime de teletrabalho na E.E.E.M.I. Padre Eduardo, na ilha de Mosqueiro; além disso, não menos importantes, objetivos específicos estão relacionados à temática como: evidenciar a

aprendizagem no processo remoto por meio das ferramentas digitais; e refletir sobre as condições de isolamento social e alguns de seus impactos para o ensino e a aprendizagem em Língua Portuguesa. Quanto à justificativa da realização do projeto, entendemos que a pandemia da COVID19 trouxe modificações em nosso dia a dia por causa das medidas sanitárias e do distanciamento social. Um dos segmentos da sociedade bastante afetado pela pandemia foi o educacional, de maneira que as aulas presenciais foram suspensas e os órgãos competentes optaram pelo uso do ensino remoto para dar continuidade ao ano letivo. Foi preciso atender, emergencial e inesperadamente, a demanda pela gravação de aulas, uso de plataformas online e didática diferenciada para manter a atenção dos alunos à distância; além disso, houve a necessidade de nos apropriarmos de novas metodologias ativas, participando de cursos de formação na área das novas tecnologias educacionais, principalmente para aprender a utilizar ferramentas em gravações de aulas por conta da exigência primordial da elaboração de relatórios das aulas, como por exemplo Google Meet, Forms, Loom e Plataforma Moodle, Chats e Lives. As avaliações também tiveram de ser repensadas e substituídas por formatos remotos de trabalho, como veremos nos resultados. Em tempos de distanciamento físico, portanto, um tempo extraordinário, os saberes da

docência, adquiridos anteriormente, enquanto know-hall, foram fundamentais no planejamento e execução do ensino remoto. Podemos assim, definir tais saberes: os saberes acadêmicos, com a leitura de livros, realizações de cursos e estudos sobre os objetos do conhecimento exigidos pelo currículo escolar; os saberes adquiridos no dia a dia (experiência) em sala de aula no exercício da profissão como por exemplo, a realização de projetos de leitura com elaboração de livros de histórias confeccionados com tecido e formação de grupos de alunos contadores de histórias e; por fim, os saberes pedagógicos que dizem respeito ao desenvolvimento das atividades em minha didática, ou seja, as técnicas, métodos e ferramentas utilizadas para conduzir o ensino e a aprendizagem.

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Sem prescindir da concepção de linguagem exigida nos Parâmetros Curriculares Nacio-

nais - PCN (BRASIL, 1998) que se fundam no acontecimento, tornando essencial para a análise o processo de produção de discursos e, consequentemente, o uso social da linguagem que passa a ser objeto de estudo; sem abstrair igualmente da Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018) com seus fundamentos: o “protagonismo” que estimula o aluno a se comprometer e ter responsabilidade sobre seu próprio aprendizado; a “flexibilidade” de horários e locais alternativos para estudar; a “comodidade” para estudar em casa evitar o deslocamento até à escola, o que oferece mais segurança; a “disponibilidade” para estar conectado à internet já é uma realidade do aluno, assim ele pode estudar quando e onde quiser e o “aprofundamento dos conhecimentos” em que o aluno dispõe de maior acesso à informações e recursos digitais que

oferecem conteúdos mais interativos e estimula o desenvolvimento de habilidades tecnológicas. Vale ressaltar que a nossa prática pedagógica não poderia olvidar, por seu turno, as normativas emitidas pelas autoridades sanitárias e/ou governamentais; assim, nosso planejamento e toda nossa ação educacional se pautou num conjunto de decretos e informativos oficiais que justificaram sua execução (PARÁ, 2020a; 2020b; 2020c; 2020d; 2020e; 2020f). INTERFACES TEÓRICO-METODOLÓGICAS Tendo em vista os objetivos deste trabalho e as inquietações apresentadas na introdução, optamos por um estudo de natureza básica com revisão de nosso relatório de atividades (FEITEIRO, 2020a); assim, realizamos uma abordagem qualitativa, refletindo nossa própria ação pedagógica a partir da sequência didática em Língua portuguesa trabalhada durante o ensino remoto. Em relação às estratégias e aos recursos tecnológicos utilizados, tivemos como suporte para o trabalho videoconferências, aulas expositivas via plataformas online, produção de videoaulas gravadas pelo Loom, disponibilizadas em grupos do WhatsApp, tendo como principal recurso tecnológico o celular e o notebook de uso particular cedidos ao benefício público; também foram ofertadas atividades impressas para os discentes que não possuíam acesso aos recursos

tecnológicos a fim de que participassem do processo. No que se refere às ferramentas e plataformas digitais usadas para manter o contato e a comunicação com os alunos, servimo-nos das diversas redes sociais, como WhatsApp, Facebook, Instagram e as plataformas Google Meet, Classroom do G-Suíte, dentre outras. Tudo isso organizado e trabalhado para manter o contato com o aluno mesmo diante das dificuldades que foram observadas em relação às atividades propostas como falta de compromisso, desmotivação, demora nas devolutivas das atividades, ausência de acompanhamento dos pais e de organização dos horários de estudos, além da dificuldade de acesso à internet. Dessa forma, em reuniões com a equipe docente, coordenação pedagógica e direção da escola, foi decidido quais seriam os formatos das aulas, das atividades e das diferentes formas de se trabalhar os objetos de aprendizagem. Priorizamos, então, a sequência didática baseada

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na leitura, entendimento, produção e autoavaliação; embora tenha sido uma sequência didática

priorizada coletivamente, organizamos a nosso modo (Figura 1).

Figura – 1: Formato das aulas em sua sequência didática Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

Nesse formato, as aulas tinham como foco a redação do ENEM e na concepção sociointeracionista da linguagem e, portanto, na necessidade de uma nova prática para o ensino da leitura, baseada em estratégias metacognitivas de compreensão leitora e no desenvolvimento de ha-

bilidades linguísticas dos alunos, que lhes propiciassem a possibilidade de analisar criticamente a linguagem, chegando à construção de sentido de textos, especificamente de gêneros textuais do mundo jornalístico e do mundo literário, uma vez que a “concepção de linguagem como interação entre sujeitos em sociedade (sociointeracionista) implica uma crença na capacidade dos sujeitos sociais de criar ou construir contextos (construcionista), de forma sempre renovada, inovadora” (KLEIMAN, 2006, p. 25). Dessa forma, a primeira etapa, foi preparar slides no PowerPoint e depois gravar aulas com duração de cinco minutos cada, com uma linguagem clara e objetiva, trabalhando o objeto do conhecimento escolhido para iniciar o estudo sobre o tema gerador: “A redação no Enem 2020”. A segunda etapa teve por objetivo apresentar o tópico trabalhado na aula com explicações curtas, introduzindo o assunto e o objeto do conhecimento por meio de grupos de WhatsApp nos formatos Word e PDF. Na terceira etapa, foi indicado aos alunos assistirem a várias videoaulas, como por exemplo, a aula gravada no App. Loom, compartilhada com os alunos por intermédio de um link2 armazenado no Google Drive e previamente postado no Google Classroom. Após o momento em que o aluno poderia assistir às aulas quantas vezes fossem neces-

sárias, passamos para a quarta etapa que propunha aos alunos a realização de atividades de fixação pelo Google Forms. 2

Disponível em: https://www.loom.com/share/3c1021bdf697484bbba5778643b414d0.

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A quinta etapa consistiu em dispor aos alunos um tempo online para que trabalhassem

suas dúvidas e realizamos essa interação pelo App Loom, WhatsApp e discussões no Classroom. Na sexta e última etapa, realizamos atividades de fixação e avaliação formativa, incluindo simulados de redação como estratégia avaliativa e preparação para o Enem 2020. Com base no projeto de leitura, foi elaborada uma sequência de aulas de língua portuguesa “A redação no Enem” (FEITEIRO, 2020a) com o objetivo de favorecer uma boa preparação para esse processo seletivo e para entendimento das competências e habilidades exigidas na produção do texto dissertativo-argumentativo; nesse sentido, [...] um importante recurso para construir relações entre as práticas escolares e não escolares dos jovens e adolescentes é a elaboração do projeto da escola, quando se trata de projetos interdisciplinares que permitem a participação de todos os alunos. [...] permite a participação diferenciada dos alunos em práticas letradas (KLEIMAN, 2006, p. 30). Os recursos e ferramentas tecnológicas foram amplamente incorporados a essa prática pedagógica; os encontros aconteciam por meio da Google Meet, que é uma ferramenta de videoconferência favorecida pelo nosso e-mail institucional. Para postar as aulas gravadas e materiais diversos, foi usado também o e-mail e o Google Sala de Aula, em pastas específicas organizadas por disciplinas; e para as atividades de fixação e avaliação foi usado o Google Forms. Por fim, é importante destacar o Google Classroom como um ambiente de aprendizagem mais utilizado onde eram reunidos todos os materiais como as atividades, os links para submissão de tarefas e os fóruns de discussão dos alunos em que pudessem tirar as dúvidas que surgiam após as aulas online pelo Meet e pelo Loom de forma assíncrona. Além disso, em tempos de amplo distanciamento, o foco também foi na formação docente que, em regime de emergência, centrou-se basicamente em treinamentos para o uso de tecnologias digitais. Tudo acontecia ao mesmo tempo: formações do Centro de Formação dos Profissionais do Estado do Pará (CEFOR/SEDUC) sobre as ferramentas digitais e a utilização delas nas aulas online; desse modo, a prática profissional durante o ensino remoto de emergência fez

compreender como os cursos de formação contribuiriam para o enfrentamento dessa nova realidade (FEITEIRO, 2020a). Nesse sentido, nossa prática enquanto tarefa profissional se multiplicou. Nós, professores formadores, em tempos complexos, buscamos incansavelmente por superação dos desafios e pelo sonho de contribuir com reflexões sobre um ensino de qualidade. Nessa perspectiva, para o fortalecimento da prática docente, é relevante destacar que realizamos formações com o objetivo de estudar a Rubrica e o Portfólio 3 como ferramentas para avaliação de habilidades; também aprofundamos nossos estudos sobre as metodologias ativas para a educação básica, dessa foram, a sequência didática nos fez observar a continuidade de 3

Com objetivos de estudar “rubrica”, “portifólio” e “metodologias ativas”, ministramos duas formações nesse período: uma no dia 29 de outubro de 2020 para os colegas docentes na nossa unidade de ensino (FEITEIRO, 2020a, p. 31-32) e outra para professores da Escola Manoel Leite (CEMAL) – (FEITEIRO, 2020a, p. 33-34).

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nossa própria prática docente e, mais que isso, o conjunto dessas práticas num diálogo entre a

autoformação e a execução sequencial das atividades nos exigiram reflexões sobre o nosso fazer pedagógico. Assim, compreendemos que “a prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer” (FREIRE,1996, p. 38); de fato, a prática unida à reflexão possibilitou o aprofundamento e a produção de trabalhos científicos que foram publicados em periódicos4. RESULTADOS Surgiram muitas dificuldades para dar continuidade à aprendizagem de todos os alunos

em razão do distanciamento físico decorrente e das restrições a que fomos forçados, dada a pandemia do Novo Coronavírus, entretanto, o plano emergencial traçado para as aulas remotas demonstrou eficácia quanto à aprendizagem da maioria dos alunos, como mostra, por exemplo, a autoavaliação feita por meio do portfólio, como veremos mais adiante. Isso se deu em razão do plano de ação que auxiliou os alunos da forma mais real possível e que trabalhou as competências essenciais da Base Nacional Comum (BRASIL, 2018) já apontadas na justificativa deste relato. Nesses termos, apresentamos seis dos feedbacks com os comentários dos alunos quanto às aulas assistidas e gravadas pelo Loom (Figura 2).

Figura 2 – Quadro com feedbacks das aulas pelo Loom Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

4

Cf. Feiteiro, 2020b e 2020c.

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A seguir, uma pequena apresentação por meio de um gráfico da participação dos alunos

nas atividades remotas com as respectivas explicações (Figura 3).

Figura 3 - Gráfico da participação dos alunos nas atividades remotas Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Conforme a apresentação dos resultados, é necessário considerar que a utilização de ferramentas tecnológicas é um meio que ajuda a ampliar as atividades humanas, principalmente na educação, porém, em relação aos equipamentos tecnológicos usados para a obtenção dos materiais de estudos encaminhados, foi possível observar que a maioria dos estudantes faz uso,

principalmente, do celular tendo pouco acesso a outros equipamentos como computador de mesa, notebook e tablete e, nesse contexto, para lidar com tal problemática, as atividades desenvolvidas de forma remota foram disponibilizadas de formas virtuais e impressas. Como observados nos dados do gráfico, dos 81 alunos matriculados no 3º ano do Ensino Médio, somente 7% não conseguiram acompanhar as aulas remotas, o que significa um resultado muito bom levando em consideração às dificuldades de acesso à tecnologia referida anteriormente. O gráfico mostra ainda que as aulas gravadas pelo aplicativo Loom e os questionários realizados pelo Google Forms foram mais aceitos pelos alunos justamente pela flexibilidade no horário e por não acarretar peso na memória do aparelho celular, uma vez que são ferramentas online que não necessita de download. Analisando os resultados, percebe-se que o nível de participação foi bastante significativo, não obstante as inúmeras dificuldades apresentadas. Observamos nas imagens acima que os resultados apontam para maior ausência nas aulas online pelo Google Meet justamente por exigir uma boa rede de internet; isso pode ser comprovado pela opção de resolução das atividades dos cadernos impressos que foi bastante expressiva, especialmente quando o chip5 distribuído pelo governo do Estado foi cancelado.

5

O Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), distribuiu na quinta-feira, dia 1º de outubro de 2020, chips de internet para alunos do 3º ano do ensino médio da rede pública estadual de ensino, na Região Metropolitana de Belém (Cf. GUEDES, 2020).

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Quanto à satisfação do aluno, em relação ao seu aprendizado, apresentada nos feed-

backs, os alunos informaram ser regular ou até mesmo satisfatório. Isso se deu através das dificuldades relatadas como ausência de motivação, de um local adequado para estudar e a divisão de uso do mesmo aparelho celular, muitas vezes entre adultos e adolescentes da mesma família, ocasionando uma desordem quanto à compreensão e assimilação dos conteúdos; eles afirmam que [...] falta internet, é muito lenta e tenho que usar o aparelho da minha mãe. Mas estou tentando fazer as atividades do caderno, mas tem muito barulho aqui em casa [...]. Estou me virando com o que tenho, professora. Roubaram meu celular e o chip foi junto também, [...] quando chegar do trabalho vou tentar fazer pelo celular do papai, mas a internet não é boa, fica só rodando [...] (FEITEIRO, 2020a, p. 74).

Isso colocou em evidência um grande desafio que teríamos para além de ministrar aulas: a avaliação remota da aprendizagem porque esse processo mede a evolução de cada aluno e comprova a efetividade da metodologia de ensino adotada; nesse caso, de acordo com o feedback dos alunos principalmente, ficou comprovado ser mais eficaz do que a avaliação por nota. No decurso do ensino remoto, percebemos a avaliação formativa foi mais eficiente que as formações somativas e diagnóstica. Em suma, é importante destacar o número significativo de alunos aprovados no Enem para universidades públicas, mesmo com toda essa realidade adversa que ainda estamos vivendo (Figura 4).

Figura 4 – Painel fotográfico dos Calouros Padre Eduardo 2021 Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Das considerações acima, emergem igualmente dois resultados: é possível verificar que houve avaliação da aprendizagem dos alunos mesmo com aulas não presenciais e que no ensi-

no remoto aconteceram estratégias assertivas para o ensino e a aprendizagem da maioria dos alunos.

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CONCLUSÃO

Além das demandas de aprendizado e de convivência, o ensino remoto mostrou muitos problemas institucionais entre professores e escola, de modo inesperado. Sem poder questionar, fomos “empurrados” para o teletrabalho sob normativas exigentes que não consideraram a realidade tecnológica precária da maioria dos profissionais em educação, caminhando ao absurdo de atribuir-lhes os gastos do “empreendimento”, com a total responsabilidade de aquisição, manutenção e agilidade na utilização desses equipamentos tecnológicos, sem falar da sobrecarga de atividades numa barafunda entre home office e a vida familiar. Trouxe também, para o interior das nossas casas, grande parte da escola, muito mais do que já se trazia anteriormente com as provas, os trabalhos e os planejamentos, em razão do excesso de trabalho.

Entretanto, não poderia deixar de registrar que, mesmo diante de tanta dificuldade em razão do distanciamento social e, consequentemente, longe da sala de aula, fosse necessário buscar alternativas e estratégias para atender aos alunos e para preparar aulas dinâmicas e criativas visando à preparação para um bom resultado, sobretudo, nas provas do Enem e orientações para se tornarem vencedores do grande desafio que enfrentavam com o distanciamento físico e a exclusão digital. Em todo caso, impõe-se concluir que, o mais importante não era só conteúdo, mas sim manter o vínculo professor-aluno, escola-família. Grupos de WhatsApp foram criados e as postagens nas redes sociais foram maximizadas. O contato constante com os alunos de forma online foi muito importante, pois permitiu que mantivéssemos o vínculo da experiência diária na escola tão necessário nesse momento de isolamento social. Seguimos trabalhando com um currículo contínuo, porém as estratégias de ensino remoto, por mais imprescindíveis que sejam, possuem limitações e não atendem a todos os jovens de educação pública da Ilha. Continuamos trabalhando a partir de um plano que consolide tanto estratégias para combater essa desigualdade, quanto novas demandas que surgirão, como o acolhimento emocional dos alunos.

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REFERÊNCIAS

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