1 minute read

Crónica de inverno

Next Article
Artigos - Opinón

Artigos - Opinón

Creacións www.eoiferrol.orgLiterarias

119

Advertisement

EOI Ferrol

Número 19 ANO 2021

Diálogo

À margem (a imitação de Carlos Casares)

Foi anteontem, a caminho da padaria, que neste tempo de contacto social limitado e sendo como é quase sempre, a única saída do dia, há que desfruta-la e apurá-la o mais que se possa; foi neste tempo esquisito em que uma pessoa até começa a fazer como os clássicos reformados, olhar para as obras… e essas coisas que eles fazem. Bom, que nós fazemos!

Como estava a dizer, anteontem quando ia à padaria vi uma turma de pedreiros e foi um deles que fez com que me lembrasse de um outro pedreiro que tinha conhecido há anos, por volta de dois mil e onze. Era do Mali e conheci-o quando foi com a sua família inscrever os filhos na escola.

Contou a sua estória; chegara do seu país de origem havia vários anos e finalmente acabou por conseguir um trabalho estável como pedreiro e, aliás, poupar o que precisava para pagar a viagem e trazer do Mali a sua mulher e os seus filhos. Uma mulher que tentava comunicar-se connosco em francês, uma menina de por volta de doze anos e um menino de sete. Nos seus olhos e no gesto via-se como ele estava orgulhoso por tê-lo conseguido.

Os meninos frequentaram a escola o que restava de ano letivo. Ele alegre, barulhento e com algum pendor a dar pancadas; como são muitos meninos da sua idade. Ela responsável, colaboradora e algo tímida; como são muitas meninas da sua idade.

No setembro seguinte veio despedir-se porque mudava de cidade por motivos de trabalho e portanto tinha de transferir os filhos para outra escola.

Depois chegou ou, melhor dizendo, invadiu-nos o dois mil e doze e a crise ruiu a economia do país e enviou ao desemprego a tantas pessoas, tantos pedreiros, e em alguma ocasião – porém cada vez mais de tarde em tarde, pois o tempo faz com que a memória se vá esvaindo – lembrei-me deles e perguntei-me o que lhes teria acontecido. Se continuará com aquele olhar e gesto orgulhosos, ou o tempo e a crise terão passado por cima deles como passou por cima de tantos.

José Carlos Cuadrado Barcia PO-C1-1

This article is from: