Revista Ponto de Escambo #2
REVISTA PONTO DE ESCAMBO
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2 Editor Chefe Marcos Poubel
Equipe
Edição e Design Rafael de França Comunicação Isadora Ribeiro Relações Públicas Mateus França Equipe Editorial Paloma Dantas Carlos Souza
Uma Realização
Revista Ponto de Escambo #2
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Com o propósito maior de promover, divulgar e fazer o intercâmbio entre os diferentes ramos da arte, a Revista Ponto de Escambo não poderia deixar de falar daqueles que por muito tempo foram, e alguns ainda são, vistos como figuras marginais na arte.
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Editorial
As vezes o tom assusta, mas o sentido da palavra “marginal” nesse aspecto em que estamos abordando trata das artes que, historicamente, ficaram “à margem” dos padrões hegemônicos da sociedade. Manifestos populares artísticos que nasceram nas periferias, nas calçadas, em butecos e em lugares que a comunidade frequentemente se encontrava. Nessa edição, a magnificência da escrita é o berço das pautas. A arte literária que já foi proibida por muitos, restrita a alguns e regalia de poucos, se destaca pela versatilidade dos meios onde ela se pronuncia. De um cenário algumas vezes hostil, música, cordel, contos, poesia, fábulas, entre outros, rompem barreiras ganhando espaço dentro de uma realidade nem tão favorável, mas que podem ser aplaudidas de pé pela grandeza de sua qualidade. Vamos destacar movimentos que mudaram de status e hoje representam a força do cenário cultural carioca, assim como a realidade daqueles que acreditam, tentam e investem nessas produções artísticas com todas as dificuldade e obstáculos que possam aparecer. Isadora Ribeiro
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Sumรกrio
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Carolina Felizola*
A linguagem é uma capacidade humana tão fecunda que muitas vezes o tom de voz, a escolha certa das palavras e o ritmo que se emprega para tocar em um determinado assunto pode tanto nos ofender quanto nos emocionar. Assim como acontecimento banal, “nada demais, bobagem”, pode virar “babado forte, menina!” na boca de uma boa fofoqueira, na ficção um objeto ou espaço inanimado pode ganhar uma muitas almas dependendo do olhar que se deita sobre a matéria. Ler uma história pode prender a nossa atenção por horas, semanas ou meses. Alguns livros são devorados em apenas um dia, outros levam meses ou anos para que possamos chegar à sua última página. Não é difícil encontrar alguém que nunca tenha tido uma relação maluca com um livro que era carregado pra cima e pra baixo debaixo do braço, mas raros eram os momentos em que se conseguia realmente lê-lo, levando-o a ouvir aquela incansável pergunta “Pô, tu ainda não acabou esse livro?”, que, após a resposta negativa, sempre vinha junto daquele comentário “legal” do tipo “Nossa, nunca vi tanta lerdeza pra ler um livro fino desses!”. O texto ficcional pode motivar o leitor através de alguns ou todos os seus elementos. Quando precisamos desesperadamente
saber o que vai acontecer na história e “não dá pra parar de ler agora”, o elemento mais marcante da narrativa pode ser o enredo, “tão bem amarradinho que eu nunca ia adivinhar que o livro ia terminar dessa forma”. Se nos identificarmos ou criarmos ojeriza a um personagem, esse, sem dúvida, ganhou vida própria. Outras vezes, temas que falam de um e de todos, como a morte ou o amor, ou outros que parecem bobos podem ser abordados de uma forma tão peculiar que nos dá outra noção da realidade. Mas, se como dizemos no dia-a-dia, “o problema não é o que se fala, mas como se fala”. Quem é o cavalo ou o anjo que permite que todos esses elementos existam?
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Quem conta um conto, aumenta um ponto?
O narrador é o elemento ficcional que fica entre o leitor e os fatos, contando tudo à sua maneira. Ele pode ser bonzinho com o leitor e levá-lo pelo braço, guiando-o por toda a narrativa, até que lá pela centésima página o leitor consiga perceber o jogo de manipulação desse narrador peralta; pode mandar um “se vira” e meter o pé da história para que você, leitor, conheça mais profundamente o personagem ou esfregar tanto a verdade na sua cara que ela acaba se tornando uma mentira. E você, tem alguma mentira para nos contar?
*Carolina Felizola é professora de inglês, tem a literatura como melhor amiga e acredita que o texto literário está dentro de todos nós.
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Sons 6 Gentis
Verena Duarte*
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xistem forças operando neste mundo. Forças escusas, forças do coração, as quais devemos obediência. Elas espreitam à porta, batendo incessantemente. Primeiro, você se esconde até decidir que é capaz de expulsar o intruso. Você vai até o quintal, apanha uma pá e golpeia o portão até suas forças se extinguirem. Então, você adoece e o visitante finalmente força a entrada. Ele puxa o portão contra si para, em seguida, empreender o movimento contrário. Muitas vezes, o recuo constitui o melhor avanço, mas é muito tarde para que você perceba a elegância deste movimento. Aquele estranho renovado está olhando para você, enquanto gentilmente lhe carrega para a cama. Sua pele adquire a textura de um guardanapo virado em dobras. Ele aconchega você em meio às cobertas e diz que não irá embora até que você fale. O esforço anterior faz com que seus olhos involuntariamente se fechem. Ele diz que estará embaixo, preparando uma sopa, enquanto descanso.
Eu sonho com um teatro cheio, mas não estou na platéia. Estou no café, com um conhecido. Há um intenso burburinho e nos sentimos agraciados pela cobertura de tantas vozes. Ele mantém os olhos fechados e em algum ponto da conversa nos tornamos surdos. Contudo, ele parece anuir completamente às minhas ideias. Minha saliva parece vazar meus pensamentos e não tenho mais controle do que digo. Bebo um pouco d’água, acaricio as bordas do copo. Ele parece atingir o estágio R.E.M de inconsciência. Coloco meus dedos dentro do vasilhame, repito a carícia, digitais umedecidas, uma vez e outra... O copo emite algumas notas as quais ele não permanece imune. Algumas gotas se desprendem dos meus dedos e retornam à fonte. Me lembro de usar a expressão “liquefazer por baixo”. Ele absorve tais palavras com a presteza com que uma ideia implantada corresponde-se com um feitiço.
Então, chove sobre nossa mesa e o sonho começa a se descolar deste espaço-tempo até o ponto em que você se acha em sua cama, janela quebrada, quarto molhado, uma tigela de sopa na cabeceira, acompanhada de um bilhete:
*Verena Duarte é editora na Papeljos Editorial. Formada em Estudos de Mídia pela UFF e Letras – Português/ Literaturas pela UFRJ. Fascinada por contar histórias desde 1990.
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Anuncio Luana e Venom arts
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CONFRARIA DO `
CHA COM POESIA por Floriano Silva
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Criado no ano de 2014, o projeto “CHÁ COM POESIA” surge a partir da necessidade dos artistas anônimos da comunidade de Realengo e adjacências de dar asas a suas criações. Daí amigos sonhadores que vários anos atuam promovendo eventos que agreguem valores, juntaram-se para pensar e pôr em prática este projeto, simples e objetivo, porém elaborado com muito respeito a todos os envolvidos. Caminha para sua quarta edição, este evento que muito nos envaidece, uma vez que percebemos acertar mesmo sem mirar o alvo. Estamos convictos de que é isso que a comunidade gosta e é isso que a comunidade quer. A cada edição, o “CHÁ COM POESIA” revela artistas com potencialidades múltiplas. Ver o brilho nos olhos tanto daquele que faz quanto dos que consomem com muito gosto é motivo de or-
gulho. Percebemos que na comunidade a cultura fervilha, porém intramuro, devido à simplicidade destes artistas assim como a falta de espaços para suas apresentações. Recentemente este projeto disputou uma verba na Prefeitura do Estado do Rio de Janeiro pelos 450 (quatrocentos e cinquenta) anos da Cidade do Rio de Janeiro onde, embora não logrando êxito em receber a verba a “CONFRARIA DO CHÁ COM POESIA”, foi agraciada com a chancela, diploma que ratifica a ação e impulsiona a equipe a se esmerar em fazer sempre o seu melhor em busca de uma cultura justa e que dignifique a todos os envolvidos. O formato do evento é simples. Tem início sempre com uma mesa de chá com torradas e café para aqueles que gostam. Se-
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guindo o cronograma, uma roda de debates, para daí iniciar todas as apresentações previamente agendadas. O projeto vai onde o povo está. Residências e praças transformam-se em tribuna para este povo. Sempre que possível é permitido espaço para os visitantes.
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Contempla o espaço: A poesia; a dança; a música; as obras de arte e o teatro. Aos interessados em conhecer um pouco do nosso trabalho, basta acessar o site: culturanaszonas-com.webnode. com/, lá encontrarão fotos dos eventos realizados e como participar, dando sua contribuição para a cultura.
Idealizadores:
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“Venha você também juntar-se a esta equipe”.
Mestre Zelão do Berimbal figura sempre presente no Chá com Poesia Divulgação/Floriano Silva
Floriano Silva, formação: Pedagogia. silvaffloriando@gmail.com tel: 99433-1033 claro whatsapp. Robson do Chocolate, formação: Matemática. Contato: 96426-9861. Nextel.
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Nossa Senhora por Flávio Augusto Câmara*
De repente a morte pisou no meu parapeito. Vinha com os olhos de sempre, embora seu vestido hoje seja de um negro absurdo. Corria alegre uma algazarra no centro da sala Acendi um cigarro e tomei o cuidado de encher dois copos. Num dos seus intervalos, por um delicadíssimo acidente, a vida pôs uma capa azul sobre a clepsidra: a minha vizinha assobiava Noel Rosa, pondo água na plantinha da janela. Dançamos, eu e minha Senhora, atentos e fortes, ambos com a navalha e os dados no bolso. Fazia um sol sem data sobre os telhados abancado no canto da parede, entre a fumaça e os talheres, vejo-a quebrar a esquina, e ir fazer mira no fundo da casa, quieta e viva qual um bicho experimentado. Vejo-a, e sinto o corte das pancadas vindas dos ponteiros
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Vejo-a, escorregando nas bordas dos copos, deixados pela metade Vejo-a, com sua matemática, com seu urro de urso. Vejo-a sobretudo agora, que a mulher ao lado fechou as janelas E que na hora do viço eu nunca soube cantar
*Flávio Augusto Câmara Araújo é Professor de Literatura Brasileira, formado pela UFRJ. Quando criança, ouvia da mãe, Dona Helenice, que “quem lê sabe das coisas.” Passou a infância e a adolescência ouvindo Silas de Oliveira e Cidinho e Doca, Candeia e Bob Rum, Vinicius e Mano Brown, o burburinho dos butiquins e as salvas dos balões fogueteiros, além do som das balas e lágrimas a que parte dos amigos da sua primeira juventude foram submetidos. Hoje mora em Nova Iguaçu, lugar em que procura ver o mundo com os óculos da Baixada Fluminense. Militante engajado nas causas populares, continua participando de pré-vestibulares de cunho popular, movimento de minorias e grupos de democratização dos mídias. No momento lê Paulo Freire. Torce para o Flamengo e o fim do Capitalismo.
Marcos Poubel*
Nos dias 01 e 02 de agosto aconteceu o lançamento do Circuito Favela criativa na Vila Kennedy. Com diversos grupos de diferentes linguagens artísticas, o evento abriu espaço para grupos amadores e profissionais se apresentarem. A escolha destes grupos aconteceu por meio de seleção públicas. Na área da dança podemos destacar a Portus Cia de Dança que fez o lançamento do projeto Palavras na Rua, a JP Move que apresentou o espetáculo Que Se Funk e a Companhia In Off que apresentou uma parte do seu novo espetáculo que está em construção.
5 e 6 de setembro Complexo do Alemão/Penha Vila Olímpica Carlos Castilho 12 e 13 de setembro Grande Tijuca - Vila Olímpica do Salgueiro
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Circuito Favela Criativa
Mais Informações sobre programação encontram-se em: www.favelacriativa.rj.gov.br
A cultura maranhense, e a cultura nordestina em geral, essencial na formação da cultura e vibe das comunidades cariocas, estiveram presentes no evento com o Bumba Meu Boi Estrela de Gericinó, passeando em cortejo pela praça da Vila Kennedy. O Circuito vai acontecer em sete finais de semanas seguidos: 29 e 30 de agosto Região Portuária - Largo São Francisco da Prainha
*Marcos Poubel é agente cultural e atual presidente da Escambo Cultural.
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Escambo Literário
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por Rômulo Ferreira*
Comecei a escrever por volta de 1999, mas só passei a divulgar meus fanzines¹ e materiais independentes por volta de 2001, quando eu ainda morava em Ouro Preto, MG. Meu primeiro fanzine se chamava “Descontemplados Zine” eu o trocava via carta com muitas pessoas do Brasil todo. Em 2004 é que comecei mesmo a vender meus trabalhos, após ter contato com a obra de um poeta de Belo Horizonte (Rogério Salgado) e um outro de Brasília (Nicolas Bher). Estes dois foram fundamentais pra o meu processo criativo ir adiante. Claro que tive influência dos poetas da geração mimeógrafo e etc., mas com esses dois, o contato foi direto mesmo.
Toda essa trajetória contribuiu para que eu me veja como um “trabalhador dentro da cidade”, a cidade precisa de poesia, eu vou e dou, troco, empresto, colo nas paredes, “picho” nos muros, sei lá... É difícil se distanciar e explicar porque estou vivendo este momento bem agora e é quase impossível falar de uma cena ou coisa enquanto estamos dentro do olho do furacão. Eu saio de casa, vou para algum lugar onde sinta receptividade por parte das pessoas e começo a oferecer meus livros e livretos, quem quiser levar embora, para sempre, eu peço uma
nhecimentos adquiridos na vida. É coisa forte mesmo, de uma busca por auto entendimento. Formar opiniões, mostrar que existem saídas outras que não são tão convencionais para a vida. A arte sempre teve muito este papel de mostrar caminhos outros. De enganar a rotina, de ser o pavio do tonel de pólvora. Lá no Rio de Janeiro² o cenário da poesia na rua com que a gente tem mais contato é com a galera do circo voador, da geração mimeógrafo, a galera dos anos 70 mesmo, tanto por uma questão geográfica quanto por uma afinidade de vanguarda. A diferença do cenário daquela época para o dos dias de hoje é que, nós, os poetas de rua atuais, pagamos nossas contas, isto é, fazemos nossos dias em prol de uma forma de ganhar uma graninha pra viver colocando a poesia no centro da cena. Outra diferença marcante é a oralidade. Embora a galera dos anos 70 tenha ficado famosa por alguns livretos maravilhosos e impressos lindos demais de morrer, eles tinham uma função poética primordialmente ligada à oralidade, ao recital, ao palco, ao lado teatral mesmo da poesia, e isso contribui
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livre contribuição. Isso funciona legal! Muitas pessoas não acreditam que elas podem dar o quanto puderem por algo, creio que isso já causa uma quebra no dia do “ser poetizado”. Além disso, ir para a rua oferecer o material e dialogar com o público constitui o meu trabalho diário, levei anos e anos para chegar a determinado livro e, como me propus a viver disso, preciso vender meus livros e fanzines nas ruas. Acho justo demais as pessoas poderem escolher o preço por determinada coisa, acho uma grande afronta ao capitalismo cultural. Pois quebra a ideia de que tudo tem que ter um preço, as coisas tem sim que ter o seu valor, mas não somente o financeiro. Muita gente acaba levando de graça, em contrapartida, muita gente acaba dando uma força bem generosa, o que acaba servindo para que mais pessoas possam ter acesso a minha arte. Funciona mesmo como uma economia solidária, quem pode dá mais, quem não pode dá menos, quem não pode dar nada, leva também. E creio ser esta uma visão coletiva da coisa que estamos fazendo. A poesia na rua já existe desde que o homem se entende por ser pensante e atuante em seu espaço, a poesia sempre foi absorção e transformação dos co-
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muito para uma maior aceitação popular.
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Creio que atualmente o poeta esteja vivendo a onda do grafismo, da impressão no papel, a onda de repassar seu material e trocar... Criar! Essa fase, ou cena, está muito ligada ao movimento punk, que fortaleceu e expandiu demais o uso do fanzine como fonte de informação e disseminação cultural. A “parada” dos punks era mais musical e protesto, mas teve uma época (por
volta dos anos 90) que a coisa ficou muito na poesia. Eu peguei este final, foi o final dos anos 90. A quantidade de poema ruim que eu recebia me deixava louco, mas era tudo muito bem feito, as colagens primorosas de deixar qualquer artista plástico de formação com o queixo caído, a gente nem tinha acesso ainda a computadores e impressoras. Era tudo na colagem mesmo, colava e xerocava, xerocava novamente e cortava, depois ia e fazia uma nova cópia até chegar as resultado desejado. Um processo lindo e trabalhoso. Acho que este momento foi o maior “cut up”4 do mundo, todo mundo pegando coisas do outro e remodelando a seu gosto. Foi demais!
Mas eu só eu comecei a viver mesmo esta retomada da poesia de rua na cidade do Rio de Janeiro, a partir de 2007, quando vim passar umas férias de verão no Rio de Janeiro. Assim que voltei para a minha cidade, Ouro Preto, já tinha planos de retornar ao Rio de Janeiro e produzir mais, pois havia campo e gente para essa vazão de arte. Na época eu sentia que daria para se viver de minha poesia. Atualmente na cidade do Rio de Janeiro, temos uma lista bem ampla de saraus, recitais, intervenções em praças, etc., mas confesso que tenho lido pouco material das pessoas que estão à frente destes movimentos porque não vejo como uma coisa
notas:
¹ Fanzine; Abreviação de Fanatic Magazine, revista de fan... Segundo alguns, uma publicação independente e de fácil circulação, pode-se conter diversos assuntos dentro de um fanzine, sendo o mais comum o universo independente. ² Depoimento concedido via e-mail, de quando eu ainda estava em Turnê pelo Coletivo AMEOPOEMA³. Em Ouro Preto, MG.
palestras, mostras de fanzines, recitais em lugares nada convencionais, etc... Poetizando a cidade, a nosso modo. 4 - Cut Up: Colagens aleatórias de um texto ou imagem já registradas em outro momento... pode-se criar quantos Cut up’s se quiser, uma dica, pegue um poema do Drummond e corte as linhas ou as palavras, como quiser, depois vá colando aleatoriamente numa outra folha... Pronto! Eis o tal do Cut Up!
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que parta de escritores independentes, é mais uma inciativa (ótima por sinal) de produtores culturais independentes. Claro que temos vários escritores sim e nunca conseguiríamos comunicação com todos eles por diversos motivos, mas eu vejo que falta talvez audácia mesmo. Escrever, mostrar, criar de fato um movimento de poesia escrita independente. Aliás, criar nada, poesia sempre foi independente e sempre será! Somente fortalecer e colocar nossa cara nesta página da histérica história que estamos vivendo.
*Rômulo Ferreira (1982-2022) é autor independente e articulador de cultura, Nascido em MG, viveu num monte de lugares, mas se encontra agora ancorado na Bahia de Guanabara, onde tenta viver de sua poesia. Ama o poema, e escreve quando dá no Blog: www.romulopherreira.blogspot.com www.facebook.com/experimentalismos
³ AMEOPOEMA: Informativo literário que nasceu em 2010, pelas mãos de Bárbara Zul e Rômulo Ferreira, e que tinha o objetivo de divulgar autores independentes de forma impressa e com circulação nacional. Em 2013 em iniciativa do autor Conrado Gonçalves (facebook) criou-se o Sarau Delirante AMEOPOEMA, que juntou durante uns dois anos algumas dezenas de pessoas no beco dos Barbeiros (centro da cidade) uma vez ao mês. Este sarau colaborou de forma efetiva para a criação do Coletivo AMEOPOEMA, que veio de maneira muito orgânica se forjando nas entranhas da cidade. Hoje em dia o Coletivo atua de diversas formas poéticas dentro da veia da cidade, oferecendo oficinas de literatura, livros, intervenções,
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ilustração
Rodrigo Silva
rodsilva.carbonmade.com
Há menos tempo do que havia há
menos do que há menos
do q há pra comer
gente
o preço
sobe o trabalho sobe o pão
ao telhado
p não morrer de mofo esperando quem coma o jornal amarelado, s tempo
doente
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Há fome.
como eu espero sobre a prateleira q me
LEVE, PRÁTICO, FÁCIL DE USAR
pra ver kem se vende + rápido como trufas brancas e arroto na kra do pé rapado q c dane o resto do tpo
q m resta
poko tempo, tempo, tempo, tempo
como n há para ouvir a música
das crianças não é essa
a rima q escolhi nada nessa vida é por acaso
sonha quem tem fome de tempo? Jessé Castilho*
*Jessé Castilho é escritor, roteirista, ator e professor de literatura.
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A Festa Literária da Zona Oeste dá um Alô, alô Realengo homenageando os duzentos anos do bairro, na edição de 2015.
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por Binho Cultura A Zona Oeste é um oásis cultural, foi assim que Binho Cultura, fundador da Flizo apresentou seu projeto ao Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Na ocasião o prefeito não teve dúvidas de que a Festa Literária da Zona Oeste apontaria um holofote para a região mais atingida pelas desigualdades, onde suas maravilhas sequer eram reconhecidas pelos próprios moradores. Fato é que em 2013 a Zona Oeste foi notícia positiva nas principais mídias do país, a cultura e a arte colocaram em cena todo o arsenal e sofisticação dos produtores culturais e artistas de todos os segmentos, de Sepetiba à Barra da Tijuca, levando sua programação aos dez mais populosos bairros, a dezesseis
escolas municipais, dez universidades e a espaços culturais da região. A Flizo fez a Zona Oeste bombar e surpreender quem subestimava o potencial deste território que deixou de ser motivo de chacota e do “esquecimento” na hora dos investimentos públicos e privados. Homenageando o Grande e saudoso autor José Mauro Vasconcelos, a Flizo chamou para a Zona Oeste a responsabilidade sobre seus nobres nomes das artes, nivelando por cima a qualidade daqueles que nasceram ou cresceram na região e ganharam o mundo levando os nomes dos seus bairros, como foi também o caso do homenageado da segunda edição, Paulo Lins, em 2014.
deráveis. Falando mais de 2015, a edição da Flizo pretende surpreender seus visitantes ao apresentar um dos bairros mais importantes para a História do Brasil, os anfitriões estão animados, o Centro Cultural Arlindo Cruz será o palco das atrações, exposições, performances, etc. A Flizo convida os cariocas a comemorarem os 450 anos da cidade maravilhosa, juntamente com os 200 anos de Realengo, recebendo com “Aquele Abraço” famoso no mundo todo! Do dia 26 a 31 de outubro será possível conferir e participar da semana que terá tudo para ser inesquecível, os esforços não estão sendo poupados para presentear o público com uma programação eclética para todas as faixas etárias.
Divulgação`/Binho Cultura
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A Prefeitura do Rio de Janeiro é a que mais tem investido em cultura em todo o país, contudo, não bastasse ser a maior investidora, mas também vem, pela a primeira vez, priorizar o subúrbio carioca nos percentuais nos editais, de 2013 para 2015. O Fomento, Pontos de Cultura, Pontos de Leitura, Ações Locais, Territórios de Cultura e Viva a Cultura somam consideráveis valores que contemplam desde o grande produtor ao fazedor cultural independente e não institucionalizado. Estar no mapa da Cultura é uma conquista muito comemorada pelo idealizador da Flizo, que hoje assiste às pessoas se orgulharem da Zona Oeste, mesmo sabendo que há muito a ser feito. Porém, em curto prazo convém dizer que os avanços dada a parceria com a Prefeitura são bastante consi-
Mais informações em breve acessando o site www.flizo.org Patrocínio Secretaria Municipal de Cultura Apoio Cultural Sesi Cultural/Sistema Firjan Eixo Rio Realização: Bela Oeste Produções e Cambota Produções Divulgação`/Binho Cultura
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NO PRINCÍPIO Rafael Mendes
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No princípio, é somente o espanto. Com as coisas do mundo, que estalam alguma coisa nos dentros da gente e explodem na imaginação. Toda criança brincando não é um ficcionista em potencial? Daí que todo mundo é um ficcionista em potencial. O segundo espanto é com os mundos dos outros: a arte dos outros. A arte. Imagens, sons, palavras que soam tão perfeitos que nenhum homem poderia ter criado. Temos a impressão de que certos versos, canções e histórias são fenômenos naturais: existem desde sempre. Pertencem à natureza como o vento ou a grama verde. Assim parece que nos chegam as cantigas de roda, sambas antigos, mitos e lendas, ditados populares, alguns versos de Camões (“amor é fogo que arde sem se ver” desde que o mundo é mundo) ou versículos da Bíblia. Tudo obra de Deus? Diz a poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner: “Encontrei a poesia antes de saber que havia literatu-
ra. Pensava que os poemas não eram escritos por ninguém”. Eu mesmo passei anos com essa impressão mágica sobre a origem de tudo que ouvia. Em certa idade, porém, descobrimos as pessoas por trás dos versos, das canções, das histórias; as verdadeiras lendas. A partir daí, a cada nova descoberta, me espantava: “Então é possível alguém criar uma história assim! Então nem tudo vem do nada! Então é possível ser um pouco Deus”. E o passar dos anos foi trazendo estupefações mais complexas: “Então é possível alguém expressar sentimentos assim... Criar personagens assim... Frases assim... PALAVRAS assim!”. E aí, o potencial ficcionista dos meus dentros teve vontade de existir: nasceu. “As coisas do mundo podem vir de mim também”, descobri. Mas faltava alguma coisa. Para o crítico literário Antonio Candido, a literatura se articula numa tríade: autor, obra e público. Após me descobrir autor e começar a engatinhar minha obra, faltava público (a mãe coruja não bastava). Se tanta gente publica suas obras (tantas de gosto duvidoso)... Por que não eu? Ótimos livros me inspiraram a escrever; os péssimos me motivaram a publicar. Então se descobre: escrever é a parte fácil. O pior para o iniciante é conseguir boa realização gráfica, boa distribuição, boa
Divulgação/Editora Giostri
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Atualmente, são diversos os meios de editoração: a produção sob demanda, em que uma empresa prepara a edição do seu livro conforme você desejar, na tiragem que você quiser (mediante o pagamento do pacote que você escolher), e às vezes vende seu livro em site próprio, mas não divulga ou distribui em livrarias; a edição de e-books, mais barata; as editoras de pequeno ou médio porte (que talvez dividam os gastos de editoração com você – o que não te garante lucro), já mais comprometidas com divulgação e distribuição; e as grandes editoras, o Olimpo dos escritores (com que a maioria dos novatos apenas sonha). Ainda que consideremos que todo autor consagrado já foi iniciante antes de publicado por uma grande casa editorial, é preciso lembrar que editoras são empresas comerciais: almejam lucro; fazem investimentos – procurando os mais seguros possíveis. Daí que há muito mais best-sellers do que novas obras literárias no mercado; mais prosa do que poesia entre os best-sellers; mais
Alessandra Cruz
divulgação... Boa aceitação. Que editora vai apostar num autor novo, inédito, anônimo? Se considerarmos que todo autor já foi tudo isso, a conclusão é lógica: alguma vai!
best-sellers estrangeiros do que nacionais; daí que um autor de best-seller será, provavelmente, alguém que possui, além de uma boa escrita (eventualmente, nem isso), bons contatos ou um bom agente literário ou bom potencial de mercado (alguém famoso ou alinhado aos best-sellers estrangeiros) ou uma trajetória proeminente em editoras menores e até nas redes sociais. Às vezes é preciso ser um pouco Deus. Com muito custo (financeiro, inclusive) e sem poder divino, nasceu meu Desmoronaventos (contos, 2014). Se tudo isso espanta você, leitor-pretenso-escritor... Ótimo! Vá correndo pôr os seus dentros no papel. O espanto é o princípio de tudo, e pode ser a gênese de mais um mundo ficcional – o seu.
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22 Ocupa Paloma Dantas
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Além de apresentações de espetáculos de importantes companhias de dança, o evento conta ainda com conversas, cinema e espaço de experimentações para os novos artistas. Na abertura do Ocupa Cacilda! tivemos a apresentação do espetáculo Que se Funk, da Companhia JP MOVE. O grupo tem 17 anos de estrada e conta com a direção do dançarino Michel Cordeiro. Suas ações, até este momento, estavam voltadas para a formação do profissional a partir de um viés social, a fim de resgatar a autoestima do jovem da periferia. Que se Funk é o primeiro projeto da companhia. É praticamente impossível assistir ao espetáculo e não se envolver com a cena, seja pela música, seja pela sensação de transporte que os intérpretes nos proporcionam. Enquanto assistimos, somos levados para todas as entradas e saídas da comunidade: as re-
lações sociais, a luta do jovem em afirmar sua origem sem sentir vergonha, quebrando as formas estereotipadas que muitas vezes são afirmadas pela maioria da população. O funk como expressão social é a base para a construção cênica, mas também temos a compilação de outras danças urbanas que igualmente são marginalizadas como break, krumping, entre outras. Nas palavras de Michel Cordeiro, “o funk muda a corporeidade do carioca”. Essa linguagem faz parte da cultura do Rio de Janeiro, está presente na sua fala, no seu jeito de reagir às situações sociais, nas roupas. A possibilidade de ver o funk em cena e ao mesmo tempo se ver em cena. Por isso cantamos as músicas, nos emocionamos com as histórias e até mexemos os pés por baixo dos bancos, na tentativa de fazer parte do espetáculo. Que as próximas atrações do Ocupa Cacilda!, uma arte comprometida com as relações sociais e um desenvolvimento técnico impecável, sejam tão impactantes quanto a estreia. Parabéns aos organizadores do evento Ocupa Cacilda! e para a companhia JP MOVE.
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A Ocupa Cacilda! é uma proposta de trazer vida a um dos centros de referência da dança carioca. A programação começou no mês de agosto e vai até outubro, sempre com o foco nas danças sociais com perfil contemporâneo.
Felipe Boaventura*
Nesse mês de Setembro temos a Bienal do Livro. E fiz uma sugestão de roteiro pra dar uma luz se você está com dúvidas do que fazer nesse evento gigantesco. Nesse roteiro tentei ser plural pegando desde escritores de cunho empresarial (Alexandre Teixeira) até ficção científica - que é a literatura que mais tem atraídos jovens. E esse ano teremos mesas com pessoas vindas das comunidades do grande Rio e as marquei também. Em Setembro também, continuam os encontros da editora Mórula no restaurante Al Farabi na Rua do Rosário no Centro. Fique ligado na programação que já deve estar no site da editora. Entrada franca. E saiu o volume 3 do glorioso clube de prosa do Rio, o “Clube da Leitura do Sebo Baratos da Ribeiro”, do qual faço parte. O Clube se encontra às terças a cada quinze dias no sebo homônimo em Botafogo. No Circuito Favela Criativa, ministrei curso sobre escrita e edição de textos e livros. Em breve mais novidades sobre isso. Às segundas na Casa Porto acontece o Silêncio na Biblioteca, um evento que leva pessoas do mercado editorial e cultural à casa para uma conversa informal com o público. Também com entrada franca.
Sobre o projeto que falei na primeira edição, o Omoge, ele está sendo gerado, ainda que não no tempo que eu gostaria. Mas faz parte e em momentos assim é preciso manter a tranquilidade e aumentar a perseverança. Algumas coisas irão mudar no escopo do projeto porque acho importante que ele seja produzido. Serão cenas dos próximos capítulos.
Revista Ponto de Escambo #2
Bienal e algumas coisas
Termino com uma poesia em prosa que fiz esses dias enquanto andava pela Rua Acre, no Centro: Imersa em ar sob a tensão da gravidade, desliza seu corpo entre as cores da luz. Com o peso do acúmulo de si em queda, ausente de desejo ou caminho definido, desce de acordo com a força do vento. Ao tocar o calor do chão se espalha, entranha, penetra. Desfaz-se ao meio para refazer sua essência na volta aos céus. Sua vida é círculo e seu tempo é sempre. Até Novembro! Felipe Boaventura
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ERRATA Na edição da Revista Ponto de Escambo #1 Julho/Agosto na matéria do Guiadas Urbanas, a foto nas páginas 22 e 23 foi publicada sem nome. A autoria da foto é de Bruno Milet. Já na página 24, a foto do espetáculo Fuzuêzinho foi publicada equivocadamente. A autoria dessa foto pertence à fotógrafa Paula Eliane.
Revista Ponto de Escambo #2
Foto de Bruno Milet, escadaria da Igreja da Penha.
Foto de Paula Elaine do espetáculo Fuzuêzinho.
Revista Ponto de Escambo #2
Quem ĂŠ a Escambo Cultural?!
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Carlos Souza
26 Somos uma associação sem fins lucrativos e temos como objetivo não só difundir arte e cultura àqueles que não têm acesso, mas também promover aqueles que não têm oportunidades no meio artístico. Sabemos que a inclusão digital não é a realidade de todos, por isso, além da versão on-line, também fazemos questão de uma versão impressa da Revista Ponto de Escambo, que também pode ser utilizada como portfólio impresso para quem é colaborador, estreitando-se então os laços afetivos entre o artista, sua arte e o leitor. Entendemos que ainda fazemos parte de uma geração que é apegada ao simbolismo do papel como forma de orgulho, realização pessoal e credibilidade.
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Clayton Kashuba Revista Ponto de Escambo #2
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