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A senda

Bhakti é a Ioga da devoção - devoção a lswara, o Deus pessoal, ou a um grande mestre: Cristo, Buda, Ramakrishna. Graças a essa devoção pessoal, a esse serviço amoroso consagrado a um ideal personificado, o devoto acabará transcendendo completamente sua personalidade. Esta é a ioga do ritual, da adoração, dos sacramentos religiosos. O ritual desempenha aqui um papel importante, o de uma ajuda física, para a concentração - pois os atos do ritual, como os atos da Karma Ioga, evitam que a mente se disperse em suas distrações e ajudam a reconduzi-la firmemente ao seu objeto. Para muitos, este é o caminho más fácil de trilhar.

A Jnana Ioga, por outro lado, é mais adequada para as pessoas cujos intelectos vigorosos e austeros desconfiam do fervor emocional da adoração. Esta é a ioga do puro discernimento. Não requer nenhum Iswara, nenhum altar, nenhuma imagem, nenhum ritual. Visa uma aproximação mais imediata do Brahman Impessoal. Esse caminho pode ser talvez mais direto, mas é também árduo e íngreme e só pode ser palmilhado por poucos.

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A Raja Ioga - a ioga da meditação - combina, até certo ponto, as três outras. Não exclui a Karma Ioga e utiliza tanto o método Bhakti quanto o Mana - já que a meditação é uma mistura de devoção e discernimento.

Por temperamento, Shankara propendia para a Jnana Ioga, o caminho do puro discernimento - embora, como este livro irá mostrar, também fosse capaz de grande devoção. Renúncia, discernimento, autocontrole - tais são as suas palavras-chaves. Alguns poderão achar sua austeridade demasiado severa, especialmente na primeira parte do diálogo; mas é precisamente essa austeridade que fornece um valioso corretivo para os perigos de um sentimentalismo fácil, um excesso de otimismo despreocupado, uma confusão da verdadeira devoção com a mera autoconiplacência emocional. Shankara não tinha ilusões quanto a este mundo de Maya; ele condena seus prazeres e deleites aparentes com brutal franqueza. Por isso mesmo era capaz de descrever tão expressivamente a completa transformação do universo que ocorre diante dos olhos do vidente iluminado. Quando se experimenta Brahman, quando todas as criaturas e objetos são vistos na sua verdadeira relação com o Absoluto, então este mundo é realmente um paraíso; ele nada mais é senão Brahman, senão consciência superior, conhecimento e paz. Depois de árduos esforços, o discípulo alcança essa realização no “Supremo Discernimento", e o livro de Shankara se fecha com a magnificente explosão de sua alegria.

III A Jóia Suprema do Discernimento

(Viveka-Chudamani)

Prostro-me diante de Govinda, o mestre perfeito, eternamente absorto no mais elevado estado de bemaventurança. Sua verdadeira natureza não pode ser conhecida nem pelos sentidos nem pela mente. Ela só é revelada através do conhecimento das escrituras.

A senda

É difícil para qualquer criatura viva realizar o nascimento numa forma humana. A força do corpo e a vontade são ainda mais difíceis de obter; a pureza, mais difícil ainda; mais difícil do que esses bens é o desejo de viver unia vida espiritual; e o mais difícil de tudo é a compreensão das escrituras. Quanto ao discernimento entre o Atman e o não-Atman, à percepção direta do próprio Atman, à união contínua com Brahman e à libertação final - tais coisas só podem ser alcançadas através dos méritos de cem bilhões de encarnações bem-vividas.

Só pela graça de Deus podemos obter esses três raros benefícios: o nascimento humano, a aspiração à libertação e o discipulado junto a um mestre iluminado.

Há, porém, aqueles que de algum modo conseguem obter esse raro nascimento humano junto com a força corporal e mental e com a compreensão das escrituras - e não obstante estão de tal forma iludidos que não lutam pela libertação. Esses homens são suicidas. Apegam-se ao irreal e destroem a si mesmos.

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