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O discípulo
Pois haverá maior tolo do que o homem que obteve esse raro nascimento humano junto com a força corporal e mental e ainda assim não consegue, devido à ilusão, realizar o seu bem supremo?
Os homens podem recitar as escrituras e oferecer sacrifícios aos espíritos sagrados, podem executar rituais e adorar as divindades mas, enquanto não despertarem para o conhecimento de sua identidade com o Atman, jamais atingirão a libertação; não, nem mesmo ao cabo de muitas centenas de séculos.
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As escrituras declaram que a imortalidade não pode ser conquistada através do trabalho, nem da progênie, nem da riqueza, mas unicamente pela renúncia. Assim, fica claro que o trabalho não nos pode trazer a libertação.
Que o sábio, pois, renuncie à busca do prazer nas coisas exteriores e lute arduamente pela libertação. Que procure um mestre nobre e de alma elevada e se absorva de todo o coração na verdade que lhe é ensinada.
Pela devoção ao reto discernimento ele ascenderá à suprema união com Brahman. Pelo poder do Atman ele salvará a sua alma, que jaz imersa nas vastas águas do mundo.
Deixa que o sábio, que cresceu tranqüilo e que pratica a contemplação do Atman, se desligue de todas as atividades mundanas e se esforce para cortar os vínculos com o mundanismo.
A ação reta ajuda a purificar o coração, mas não nos dá a percepção direta da Realidade. A Realidade é atingida por meio do discernimento, mas não, nem no mais ínfimo grau, através de dez milhões de atos.
O discernimento correto revela-nos a verdadeira natureza de uma corda e remove o doloroso medo ocasionado pela nossa crença ilusória de ser ela uma enorme cobra.
Um certo conhecimento da Realidade só pode ser obtido através da meditação sobre o ensinamento correto, e não por meio de abluções sagradas, ou de esmolas, ou da prática de centenas de exercícios respiratórios.
O êxito em alcançar a meta depende sobretudo das qualificações daquele que busca. Tempo e lugar adequados e outras circunstâncias favoráveis constituem outras tantas ajudas para se atingir a meta.
Que aquele, pois, que deseja conhecer o Atman, que é a Realidade, pratique o discernimento. Mas antes deve aproximar-se de um mestre que seja um perfeito conhecedor de Brahman e cuja compaixão seja tão vasta como o próprio oceano.
O discípulo
O homem deve ser inteligente e sábio, com grande poder de compreensão e capaz de superar as dúvidas pelo exercício da razão. Quem possui essas qualificações está apto a adquirir o conhecimento do Atman.
Só pode ser considerado qualificado para buscar Brahman. o homem dotado de discernimento, cuja mente esteja afastada de todos os prazeres, o homem que possui a tranqüilidade e as virtudes afins e que aspira ardentemente à libertação.
Neste contexto, os sábios falaram de quatro qualificações que permitem alcançar a meta. Quando essas qualificações estiverem presentes, a devoção à Realidade se tomará completa. Se estiverem ausentes, ela fracassará.
A primeira é o discernimento entre o eterno e o não-eterno. Segue-se a renúncia ao gozo dos frutos da ação, nesta e na outra vida. Em seguida vêm os seis tesouros da virtude, a começar pela tranqüilidade. E, enfim, o anseio de libertação.
Brahman é real; o universo é irreal. A firme convicção dessa verdade denomina-se discernimento entre o eterno e o não-eterno.
A renúncia é o abandono de todos os prazeres dos olhos, dos ouvidos e dos demais sentidos, o abandono de todos os objetos de prazer transitório, o abandono do desejo de um corpo físico, assim como do tipo supremo de corpo-espírito de um deus.