#11 Newsletter ACES Espinho/Gaia - Resposta à pandemia por COVID-19

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NEWSLETTER ACES Espinho/Gaia Edição nº 11

Editorial A pandemia pelo COVID 19 exigiu a implementação de alterações e várias reorganizações no nosso dia-a-dia de forma a controlar a progressão do vírus SARS-CoV-2. Desta forma, o tema desta edição da Newsletter do ACeS Espinho-Gaia é dedicado à Resposta à Pandemia por COVID19. O Núcleo Editor da Newsletter desafiou todos os profissionais do ACeS a dar um testemunho de como estão a responder e enfrentar esta pandemia. A pandemia COVID 19 trouxe para todos os profissionais de saúde desafios e adaptações. Partilhamos a experiência de voluntariado de um médico de família e um artigo sobre o confinamento e a imunidade das crianças. Relativamente à resposta à pandemia por COVID 19, esta é abordada sob a perspetiva de uma Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) nas ERPI’s e do enfermeiro de família. No que respeita às atividades desenvolvidas destaca-se a abordagem à vítima em colapso, o programa de intervenção “+Ativo: corpo e mente” e o projeto “Respir’arte. Estamos muito gratos pelos contributos de todos. A COVID-19 provocou uma mudança grande na forma de agir, de estar e de pensar. Pôs em causa muito do que dávamos por adquirido! Obrigou-nos a ver a vida noutra perspetiva. Mas também nos está a dar a oportunidade de mostrarmos que estamos aqui!

O Núcleo Editor da Newsletter

Resposta à Pandemia por COVID -19 agosto - outubro 2021


Índice Editorial ....................................................................................................................................... 1 Índice ............................................................................................................................................ 2 Abordagem à vítima em colapso, em tempos Covid ........................................................ 3 Intervenção da UCC Carvalhos nas ERPI´s durante a pandemia por Covid-19 ........ 5 Mais um Desafio ........................................................................................................................ 6 Programa de intervenção “+ATIVO: Corpo e Mente” ..................................................... 9 Voluntariado em tempos de pandemia ............................................................................... 9 Projeto Respir´arte - Papel do enfermeiro de reabilitação na comunidade, em utentes com DPOC e o impacto da pandemia por Covid-19 .......................................11 Covid-19, confinamento e imunidade infantil – o lado mau de proteger demasiado ....................................................................................................................................................12 Enfermeiro de Família – Profissional de Proximidade na Pandemia por Covid 19 13 O Ensino Clínico de Enfermagem nos Cuidados de Saúde Primários em tempos de pandemia: experiência formativa na consulta de saúde materna na USF Além D’Ouro .......................................................................................................................................14 Ficha Técnica ............................................................................................................................16

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Abordagem à vítima em colapso, em tempos Covid À luz dos conhecimentos científicos existe um encadear e sucessão de ações que poderão alterar o resultado no socorro de uma vítima em paragem cardiorrespiratória (PCR). Surge assim o conceito de cadeia de sobrevivência, constituída pelos 4 elos:

Fig. 1 – Cadeia de sobrevivência. (Retirado de INEM https://www.inem.pt/2017/05/30/cadeia-de-sobrevivencia-2/)

A cadeia de sobrevivência leva-nos para um conjunto de procedimentos e atitudes que quando desencadeados de forma adequada e sequencial aumenta a probabilidade de sobrevivência de uma vítima em PCR. A pandemia pelo SARS-CoV-2, desde fevereiro de 2020, que exigiu a implementação de alterações e limitações no dia a dia da nossa sociedade, em várias áreas, no sentido de controlar a progressão do coronavírus. Ao nível do algoritmo do Suporte Básico de Vida (SBV), não pode ser diferente, e verificou-se a necessidade de implementar algumas adaptações em termos de atuação. As novas recomendações de SBV-DAE adaptado para COVID-19, quando realizado por profissionais de saúde treinados, referem algumas alterações, a saber: • Não realizar o “Ver”, “Ouvir”, “Sentir” (VOS). Devemos avaliar a respiração visualmente, não devemos abrir a via aérea nem aproximar do nariz e da boca da vítima. • Quando acionamos o pedido de ajuda, para assegurar assistência da equipa avançada, devemos informar sobre estado COVID-19 ou suspeita de. • Cobrir o nariz e a boca da vítima com uma máscara cirúrgica ou um pano. • Envergar equipamento de proteção individual (EPI) para transmissão por via aérea, antes de iniciar compressões torácicas. • Efetuar as 2 ventilações com máscara e insuflador (com filtro HEPA – High Efficiency Particulate Air - entre a máscara e o insuflador), usando a técnica de 2 reanimadores para garantir selagem da máscara. Caso a equipa não esteja confortável com a técnica, deve ser colocado uma máscara de oxigénio sobre a face da vítima, administrar oxigénio (100%) e efetuar reanimação apenas com compressões. • Se desfibrilhador automático externo (DAE) disponível e indicação para desfibrilhar, deve ser mantido selagem da máscara e desligada a fonte de oxigénio antes de desfibrilhar.

João Meireles Enfº - UCC Carvalhos jmeireles@arsnorte.min-saude.pt

Liliana Xavier Enfª - UCC Carvalhos lsxavier@arsnorte.min-saude.pt

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Um princípio básico da reanimação é a garantia de condições de segurança, não esquecendo, no entanto, quanto mais tempo permanecer uma vítima em PCR sem reanimação, menor a probabilidade de conseguirmos salvar a vida. Deve ser realizado investimento na formação dos profissionais de saúde, na área da reanimação, com o objetivo de garantir prestação de cuidados seguros, com qualidade e em tempo útil. O INEM defende que o conhecimento e domínio destes procedimentos, pela população, é fundamental para salvar vidas e devem ser incorporados desde cedo na vida dos nossos cidadãos. Uma estratégia que poderá facilitar a capacitação da população, e que vai de encontro com a resolução da Assembleia da República n.º 164/2019, é a inclusão do ensino do SBV nas escolas, onde as equipas de saúde escolar poderão apresentar um papel preponderante.

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Intervenção da UCC Carvalhos nas ERPI´s durante a pandemia por Covid-19 As alterações demográficas ocorridas nos últimos anos, que se traduziram na modificação das pirâmides etárias, refletem um aumento progressivo da população idosa. O envelhecimento populacional acarreta novos desafios e exigências à comunidade, sendo necessário a sua adaptação às novas necessidades da população. De forma a dar resposta ao aumento da população envelhecida, têm surgido inúmeras respostas sociais, tais como centros de dia, serviços de apoio domiciliário, estruturas residenciais para idosos (ERPI), entre outros. Durante o tempo de pandemia que atravessamos, os enfermeiros das Unidades de Cuidados na Comunidade do Agrupamento de Centros de Saúde de Espinho/Gaia, foram chamados a intervir em diversas ERPI’s presentes na área de abrangência, em colaboração direta com o GLPPCIRA e a Unidade de Saúde Pública. A UCC Carvalhos interveio em nove ERPI’s. Essa intervenção consistia numa visita de acompanhamento para verificação das condições da instituição que permitiam dar cumprimento às normas e orientações imanadas pela DGS. Estas visitas eram realizadas num contexto de colaboração, ensino e ajuda, no sentido de adequar a prestação de cuidados e o funcionamento das instituições à nova realidade. Durante a visita eram verificadas as condições físicas da instituição, funcionamento das visitas, cumprimento das normas básicas de controlo de infeção, existência de circuitos definidos para utentes, profissionais e lixos. Com os dados recolhidos era preenchida uma check-list que posteriormente era enviada à Unidade de Saúde Pública do ACeS Espinho/Gaia. No local, eram realizados ensinos pontuais e propostas alterações no sentido de corrigir procedimentos, sempre que se verificavam situações que pudessem resultar em inconformidades ou risco aumentado de transmissão e propagação da infeção. Sempre que necessário, ou solicitado, era realizada uma nova visita à instituição. Depois de efetuar uma análise aos relatórios de intervenção às instituições, concluímos que quase todas cumprem as orientações preconizadas pela DGS para as visitas, excetuando duas, que por força de terem casos positivos ainda não tinham definido um plano para visitas. No que diz respeito às normas de higienização de mãos, utilização correta de EPI’s e medidas de etiqueta respiratória, existem ainda algumas lacunas a colmatar, lacunas essas, verificadas em cerca de 60% das ERPI’s. O cumprimento dos 5 momentos de lavagem das mãos e a utilização correta de EPI’s, essencialmente em casos suspeitos ou confirmados foram as falhas mais detetadas. Dadas as condições físicas da maioria das ERPI’s, o distanciamento social entre os utentes é um aspeto que fica aquém do aconselhado.

João Meireles Enfº - UCC Carvalhos jmeireles@arsnorte.min-saude.pt

Patrícia Pinto Enfª - UCC Carvalhos pmpinto@arsnorte.min-saude.pt

Juliana Ferreira Enfª - ACeS Espinho/Gaia Juliana.ferreira@arsnorte.minsaude.pt

Raquel Soares Enfª - ACeS Espinho/Gaia rpsoares@arsnorte.min-saude.pt

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Uma outra falha transversal a praticamente todas as instituições, diz respeito à inexistência e incorreta identificação de circuitos de lixos. Como possíveis justificações para estas inconformidades temos a inexistência de formação em medidas de controlo de infeção, assumidas em 60% das ERPI’s, a não profissionalização do corpo de profissionais e a sobreposição de tarefas, onde cada profissional se dedica a tarefas tão diferentes como a prestação direta de cuidados, confeção de alimentos e limpeza e higienização dos espaços. Em jeito de conclusão é possível afirmar que muitas das lacunas verificadas nas instituições são passíveis de serem colmatadas através de atividades formativas aos profissionais que prestam cuidados aos utentes das ERPI´s. Lacunas essas verbalizadas pelos próprios e que devem ser corrigidas o mais precocemente possível, para assim reduzir o risco de disseminação de doenças. Não menos importante, gostaríamos de realçar a importância de profissionalizar os cuidados prestados neste tipo de instituições. A velhice é um fenómeno que embora não esteja associado à doença, pode conduzir a ela, pela vulnerabilidade e diminuição da resistência do indivíduo. Por este motivo, é de extrema importância que todos os profissionais deste tipo de instituições estejam corretamente habilitados para prestar cuidados personalizados aos utentes, tendo em conta os princípios básicos de controlo de infeção.

Rui Carvalho Enfº - USF Espinho Rui.carvalhos@arsnorte.minsaude.pt

Cleide Teles Enfª - UCC Carvalhos cvteles@arsnorte.min-saude.pt

Daniela Simões Enfª - UCC Carvalhos tdsimoes@arsnorte.min-saude.pt

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Mais um Desafio Em janeiro de 2020, Portugal iniciou a fase de preparação e alerta contra a epidemia provocada por um novo tipo de coronavírus oriundo da China, que cedo deu lugar a grande apreensão social. Quando os nossos vizinhos espanhóis estavam a ser massacrados com uma vaga gigantesca de infecções e mortes e surgiram em Portugal os primeiros casos, já a doença alastrava pelo mundo inteiro. O vírus foi denominado SARS-CoV-2 e a doença por ele provocada Covid 19. Apresentando sintomatologia multisistémica, a Covid 19 revela-se sobretudo pelos sintomas respiratórios e infecciosos, que podem evoluir para insuficiência respiratória aguda severa e morte. E adoptaram-se severas medidas de contenção da pandemia, que impactaram negativamente nas actividades do SNS. Consultas anuladas, estabelecimentos com acesso limitado, rastreios e outras actividades preventivas canceladas, activação dos protocolos de serviços mínimos, consultas telefónicas, inadaptação de utentes e profissionais às novas regras, etc. Nas nossas vidas profissionais é a primeira vez que nos acontece uma coisa destas e não faz parte da nossa experiência profissional a luta contra estas situações epidémicas e o ajustamento a elas. Recordo algumas fontes da literatura, livros que tive a oportunidade de ler, como A Peste de Albert Camus, romance memorável, onde a força de sobrevivência e de resiliência do ser humano é enaltecida, ou o Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, metáfora profética do que pode ser o comportamento do ser humano quando faltam a interajuda, a coesão e o controle social nestas situações de grave crise. Mas experiência, propriamente dita, não temos não senhor, isto foi para nós uma novidade.

Manuel Mário Sousa Presidente Conselho Clínica ACeS E/G mmfsousa@arsnorte.min -saude.pt

O que aconteceu nos Cuidados de Saúde Primários? Em março de 2020 vivíamos a fase de contenção alargada, com casos importados em Portugal ainda sem cadeias secundárias, embora estas cadeias secundárias de transmissão já existissem na Europa próxima de nós (Itália, França e Espanha eram fustigadas por uma vaga tremenda de infecções com milhares de mortos todos os dias). Ainda era fácil identificar as cadeias de contágio, detectar precocemente os novos casos de Covid 19 e de certa forma evitar a propagação e as cadeias secundárias. Surgiram as linhas telefónicas de atendimento Covid e as ADR, e os inquéritos epidemiológicos a cargo da USP aumentavam dia a dia. Numa etapa seguinte, 2 a 3 semanas depois, a transmissão comunitária da doença tornou-se incontrolável. Era a fase de mitigação, na qual a preocupação major era evitar as complicações e consequências da doença, que neste caso eram a pneumonia atípica, a severa insuficiência respiratória, o internamento em unidades de cuidados intensivos e a morte. Mesmo nos sobreviventes, as manifestações pós-Covid 19, denominadas Covid longa, eram fonte de preocupação. O encerramento de muitas empresas e serviços públicos, algumas a trabalhar sem presença física dos clientes e utentes, os isolamentos profiláticos, o distanciamento social e |7


familiar, afectaram o tecido económico, social, cultural e a psicologia colectiva, e introduziram um novo paradigma de vida até aqui desconhecido. Se na primeira fase pandémica, a contenção dos serviços de saúde foi compreendida e o esforço dos profissionais celebrados com palmas e elogios, rapidamente se evoluiu para uma postura menos compreensiva dos utentes, que afectados pelas suas morbilidades se viam incapazes de marcar consultas e aceder a medicações e tratamentos crónicos. O médico de família passa a estar integrado numa equipa que se organiza em espelho dentro da sua unidade e tratam os doentes uns dos outros, com níveis de interação e comunicação internas inferiores. O contacto do paciente com o seu médico de família é mais reduzido, em detrimento do contacto com alguém da mesma equipa mas que o doente eventualmente desconhece. Parte das competências nucleares do médico de família são seriamente afectadas, nomeadamente a continuidade dos cuidados, a abordagem abrangente dos problemas de saúde, os cuidados centrados na pessoa e a modelação holística. A relação médico-doente, pilar essencial do exercício profissional do médico de família é seriamente comprometida, originando aqui e além conflitos interpessoais indesejáveis. Agora que o número de casos activos da doença e a transmissão comunitária diminuíram, e que a vida começa a voltar ao normal, interessa recuperar das marcas e estragos que as várias vagas pandémicas deixaram nas nossas comunidades e nas nossas vidas. A vacinação contra a Covid 19 está em estadio avançado e à data em que sair esta newsletter teremos mais de 80 % de pessoas vacinadas, sendo a principal responsável pelo alívio da situação epidemiológica em Portugal, caso contrário teríamos pandemia até terminarem as obras de Santa Engrácia. Os serviços de saúde são chamados de novo a se reorganizarem e compatibilizarem a retoma das carteiras de serviços das instituições com a transmissão endémica do vírus, com novas contingências do futuro próximo como é o caso da gripe sazonal e com limitações dos recursos humanos, estafados que estão por 18 meses de trabalho sob condições adversas e em alguns casos perigosas. É isso que vamos fazer, recuperar dos estragos e repor aquilo que atrás foquei como perdas graves para a medicina geral e familiar: a preocupação com a continuidade dos cuidados, a atenção aos doentes crónicos e idosos, os rastreios oncológicos e não oncológicos, a abordagem abrangente dos problemas de saúde e a resolução destes não condicionada à ameaça da Covid 19 e ao pensamento de que tudo é Covid 19, e ainda os cuidados centrados na pessoa como um todo bio-psico-social, e a modelação holística da nossa prática. Eis o novo desafio. E é isto a vida, mais um desafio. Eles só terminam com a morte. Para os menos animados e resilientes, que no seu íntimo já pensam “lá vem ele com a história de mais um desafio”, sempre posso citar Sócrates, o filósofo grego da época clássica, que tem muito mais credibilidade do que eu, e que dizia “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. Opiniões. |8


Programa de intervenção “+ATIVO: Corpo e Mente” No âmbito do Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem Comunitária da Escola Superior de Santa Maria, foi realizado um estágio na USP Espinho/Gaia pertencente ao ACES Grande Porto VIII – Espinho/Gaia. O percurso académico teve início em plena pandemia por COVID-19 e, em todo o país, implementavam-se medidas de confinamento e distanciamento social como forma preventiva de propagação do vírus. A população idosa, sendo um dos grupos que apresenta um maior risco de desenvolver doença grave por COVID-19, são particularmente aconselhados a adotar medidas de prevenção como o isolamento profilático. As medidas de confinamento para minimizar a transmissão da COVID-19, podem ser um fator de risco para o agravamento do estado físico e mental dos idosos, quer naqueles que se encontram em contexto de domicílio, quer para os idosos institucionalizados. Neste contexto, o estudo incidiu sobre o Impacto do Confinamento nos idosos institucionalizados, teve como coordenadora a Enfermeira Catarina Simões (docente da Escola Superior de Santa Maria) e as Enfermeiras Cristina Lamelas e Helena Devezas (da Unidade de Saúde Publica). Foi realizado o Diagnóstico de Situação de Saúde em três Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, num total de 35 idosos e, foram identificados como principais problemas durante o período de confinamento, a redução da prática de exercício físico e o aumento da ansiedade. Para minimizar os problemas prioritários foi criado o Programa “+ ATIVO: Corpo e Mente” e respetivos projetos de intervenção: “Movimento é Saúde” e “Cuidar de Mim”. Foram realizadas diversas atividades em duas das instituições, como uma sessão de educação para a saúde sobre os benefícios do exercício físico, alongamentos e meditação para um envelhecimento ativo e saudável e, sessões de hortoterapia e skincare. Todas as atividades tiveram grande recetividade por parte dos idosos, com impacto positivo na sua qualidade de vida. Os resultados obtidos após a implementação de ambos os projetos, demonstrou a importância do papel do Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas enquanto educador, na promoção da saúde e prevenção da doença.

Monique Vieira Enfª Serviço Neurocirugia - CHSJ vieira.monique@gmail.com

Linda Zara Mendes Enfª Serviço Urgência - CHSJ lindazara.mendes@gmail.com

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Voluntariado em tempos de pandemia O voluntariado é uma atividade solidária, livre e inerente ao exercício de cidadania. Mas será que tem algum interesse? Sim! Mais do que nunca! A instabilidade económica, social e de saúde provocada pela pandemia veio pôr a descoberto algumas fragilidades pré-existentes, como o desemprego, pobreza, isolamento social e patologia do foro mental. É neste contexto que o voluntariado, como promotor de solidariedade e coesão social, procura colmatar algumas das insuficiências familiares e dos apoios estatais, escassos para suprir as necessidades essenciais de todos os indivíduos. Mas será que o voluntariado se coaduna com a atividade do médico de família? A sobrecarga a que temos sido sujeitos, com um acréscimo significativo de solicitações e tarefas, torna hercúlea a tarefa de arranjar um período semanal disponível para outras atividades. A conciliação com a vida laboral e familiar nem sempre é fácil. Contudo, quando existe vontade, lá se arranja um tempinho para fazermos algo de que gostamos. E os ganhos são muitos. O voluntariado permite-nos alargar horizontes e desenvolver competências como a comunicação, liderança, trabalho em equipa e capacidade de abordar situações de vulnerabilidade. Termino este texto partilhando a minha experiência enquanto voluntário. Após me informar com a Bolsa Local de Voluntariado do município onde resido, inscrevi-me num projeto da Câmara Municipal. A iniciativa baseia-se na disponibilização de algum tempo por parte dos voluntários para, semanalmente, conversarem, escutarem e identificarem as necessidades mais prementes dos idosos do concelho. A aferição do estado social, psicológico e de saúde da população geriátrica, tão fatigada desde o início da pandemia, é algo importante e que permite dar voz àqueles que nem sempre a conseguem expressar. A experiência tem sido enriquecedora. O reconhecimento e gratidão recebidos por quem nada espera de nós faz-nos ganhar o dia. Porque é sempre bom receber carinhosamente do outro lado um “Oh senhor…Fale comigo sempre que quiser. Obrigado por se ter lembrado de mim!”. Apesar de não ser o propósito do nosso ato, é sempre bom sentirmos o coração cheio e vermos as nossas ações reconhecidas. Com o avançar do tempo os laços vão-se estreitando, as conversas vão ficando mais longas e genuínas, permitindo-nos sentir realizados. O incremento do bemestar acaba por ter implicações positivas no modo como comunicamos com os outros, o que se repercute em benefícios nas relações estabelecidas tanto em contexto pessoal, como laboral. Se tiver vontade e curiosidade em enveredar por outras áreas, ajudando simultaneamente aqueles que mais precisam, não tenha medo de arriscar. Talvez seja positivamente surpreendido! E lembre-se: “O Médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe”.

Vitor Nogueira Rego Médico IFE MGF – USF Nova Via vrego@arsnorte.min-saude.pt

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Projeto Respir´arte - Papel do enfermeiro de reabilitação na comunidade, em utentes com DPOC e o impacto da pandemia por Covid-19 A UCC Carvalhos desenvolve um programa de Reabilitação Respiratória (RR) em articulação com a equipa multidisciplinar (Enfermeiros Especialistas em Reabilitação, Nutricionista, Assistente Social e Médico) baseado na evidência científica, destinado a pessoas com doenças respiratórias crónicas sintomáticas. Este programa visa controlar a doença e melhorar a sintomatologia, a tolerância ao exercício e a qualidade de vida dos doentes com doenças respiratórias crónicas e com limitação nas atividades de vida diárias. A RR está associada à melhoria da qualidade de vida e ao desempenho nas AVD´s (Machado, 2015). O projeto Respir’arte tem como missão intervir de uma forma abrangente melhorando a condição física e emocional de pessoas com doença respiratória crónica promovendo a adesão prolongada a comportamentos de saúde. O Projeto de RR é dirigido a todos os utentes das unidades funcionais de abrangência da UCC Carvalhos (freguesia da Lomba, União de freguesias de Pedroso/Seixezelo e União de freguesias Sandim/Olival/Lever/Crestuma com o diagnóstico de DPOC. O PRR contempla na sua abordagem uma componente educacional na gestão do regime terapêutico e/ou trabalho específico no controlo de sintomas. A referenciação para o PRR é feita junto do seu enfermeiro de família. Com o programa de RR os doentes são integrados num tratamento individualizado, que inclui exercícios de controlo ventilatório, fortalecimento e alongamento muscular e têm a duração mínima de 12 semanas. Cada sessão tem a duração de aproximadamente 1H30min / 3 x semana. Desenvolvem-se neste momento no domicílio do utente, atendendo às atuais restrições impostas, face ao contexto vivido pela Pandemia por COVID 19. Em Portugal, a percentagem de doentes com acesso a programas de RR está entre os 0,5 e os 2%, números já considerados muito preocupantes. No entanto, os efeitos da pandemia por covid-19 agravaram ainda mais a situação, pelo que, na atual conjuntura da emergência de saúde pública que vivemos, torna-se fundamental desenhar o sistema de saúde de forma a potenciar as competências e intervenções destes profissionais, sobretudo a pessoas vulneráveis e prevenir complicações associadas à doença.

Helena Raquel Cruz UCC Carvalhos hrcruz@arsnorte.min-saude.pt

Patrícia Margarida Pinto UCC Carvalhos pmpinto@arsnorte.min-saude.pt

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Covid-19, confinamento e imunidade infantil – o lado mau de proteger demasiado “É importante deixar as crianças brincar na terra” – certamente já todos ouvimos esta expressão. O fundamento tem algo de científico e foi descrito pela primeira vez em 1989 por David P. Strachan como a “hipótese da higiene”. Segundo esta, a exposição precoce na infância a microorganismos confere uma proteção futura contra doenças alérgicas e autoimunes; do mesmo modo, a falta de exposição leva a défices no estabelecimento da tolerância imunológica, e uma menor capacidade do organismo lidar com elementos exógenos. A teoria tem vindo a ser suportada ao longo do tempo por múltiplos estudos, tanto em animais como com humanos, e o conceito alargado para incluir a exposição a macroorganimos, medicamentos, vacinas e inúmeros outros estímulos ambientais. A evolução do ser humano e a progressiva melhoria das condições higienosanitárias têm vindo a conduzir a uma clara diminuição na incidência de doenças infeciosas. No entanto, por seu lado, o aumento dos estilos de vida urbanos, com consequente redução do contacto com animais, estabelecimento de famílias menos numerosas, massificação da utilização de antibióticos e vacinas e alteração dos padrões alimentares, tem vindo a contribuir para o aumento das doenças alérgicas e autoimunes, como a asma, dermatite atópica e doenças inflamatórias intestinais. A pandemia COVID-19 veio amplificar ainda mais esta tendência, limitando o contacto das crianças com ambientes e pessoas externas ao seu núcleo e, consequentemente, a sua exposição a alergénios e patogénios que anteriormente contribuíam para o desenvolvimento do seu sistema imunitário. Com o controlo da pandemia e a consequente diminuição das medidas restritivas, começam agora a surgir os primeiros indicadores de que o isolamento e distanciamento sociais possam estar a deixar a sua marca na imunidade das crianças. Antes da pandemia, as crianças tinham contacto com a maioria dos vírus respiratórios sazonais nos primeiros meses de vida. Contudo, as crianças nascidas desde então tiveram pouca exposição a estes agentes, apresentando tendencialmente quadros clínicos mais graves quando infetadas pela primeira vez com certos vírus, como por exemplo o RSV, particularmente preocupante pela inexistência de vacina. Além disso, os padrões de incidência de certas doenças têm vindo a alterar-se, passando a manifestar-se noutras alturas que não só o seu típico período de inverno. Outra das consequências negativas é o atraso na exposição a certos patogénios que na infância provocam doença ligeira, como o vírus EpsteinBaar (EBV) ou o Citomegalovíruvs (CMV), mas que têm tendência a ter uma evolução menos favorável se a infeção ocorrer mais tardiamente, dando origem por exemplo a mononucleose infecciosa, doença debilitante que se pode prolongar durante meses. Apesar de tudo, são inúmeros os fatores que influenciam a imunidade, sendo impossível para já determinar qual será o “saldo imunológico” da pandemia. A longo prazo veremos se existirá ou não um cluster de “juventude pandémica” com uma maior taxa de incidência de hipersensibilidades e doenças autoimunes.

Ana Cecília Chaves IFE Saúde Pública - USP Espinho/Gaia ana.chaves@arsnorte.min-saude.pt

Mais info sobre infeções RSV pós-pandemia: https://www.bbc.com/future/article/20210913-the-little-known-virus-that-surgedinchildren-this-summer

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Enfermeiro de Família – Profissional de Proximidade na Pandemia por Covid 19 Na história, o envolvimento da família faz parte da Enfermagem, mas nem sempre decorreu assim. Uma vez que a Enfermagem desenvolveu-se nas casas das pessoas, era natural que envolve-se todos os membros e o foco era a família. Com a transição da Enfermagem dos domicílios para as instituições hospitalares, durante a Depressão e a Segunda Guerra Mundial, as famílias foram excluídas não apenas do cuidado dos familiares, bem como de momentos notórios como o nascimento ou a morte. Hoje, a Enfermagem tende ser mais holística, salientando aqui o papel fulcral do Enfermeiro de Família, com ênfase no convite para que as famílias voltem a participar nos cuidados de saúde de todos os elementos que a constituem. De salientar que esse convite está a ser feito com mais conhecimento, sofisticação, respeito e colaboração, relativamente ao passado. Prova disso está na diminuição na taxa de utilização dos Serviços de Urgência, diminuição do tempo de tratamento de feridas / úlceras, diminuição no que concerne ao risco de queda, úlceras de pressão, entre outros mais indicadores que permitem uma leitura francamente positiva do trabalho realizado pelas equipas de saúde familiar. E são as famílias que mais necessitam de cuidados, que mais valorizam esta figura do Enfermeiro de Família, como foi possível verificar ao longo deste tempo onde a Pandemia por Covid 19, exigiu isolamento. Muitas famílias que já isoladas estavam, afirmaram que a equipa de Saúde Familiar, foram nestes dias difíceis a sua família! No decorrer da Pandemia, o Enfermeiro de Família foi por vezes a única pessoa que entrava em suas casas, com o intuito de prestar Cuidados e auxilio humano tão necessário, bem como demonstrou ser o elo tão importante de ligação quer à Equipa Multidisciplinar, quer aos restantes membros de família que estavam privados de prestar auxilio. Embora seja crucial o Enfermeiro em outras áreas de intervenção, cada vez mais cresce a importância do Enfermeiro de Família para dinamizar os fenómenos da família, identificando as suas forças e potencialidades. Felizmente a Pandemia que ainda vivenciamos, sob o ponto de vista geral, veio nutrir e fortalecer os vínculos entre Enfermeiro e Famílias.

Catarina Miranda

Sónia Cardoso

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O Ensino Clínico de Enfermagem nos Cuidados de Saúde Primários em tempos de pandemia: experiência formativa na consulta de saúde materna na USF Além D’Ouro Os ensinos clínicos de enfermagem e as Escolas Superiores de Enfermagem, com as instituições prestadoras de cuidados de saúde, têm grande responsabilidade em facilitar aos estudantes o desenvolvimento de capacidades para a prática de enfermagem, pois o ensino clínico “permite a consciencialização gradual dos diferentes papéis que o enfermeiro é chamado a desenvolver e das competências requeridas para o seu desempenho” (Matos, 1997:9). A integração de alunos de enfermagem nas equipas de cuidados de saúde primários em tempos de pandemia é uma medida bastante importante e muito relevante na nossa formação enquanto enfermeiros. A continuação dos estágios no contexto que estamos a vivenciar, que é difícil para todos, permite não só reforçar as equipas, mas também ajudar na nossa formação. O atendimento aos utentes na USF Além D´Ouro foi sempre de acordo com as normas da DGS em tempos de pandemia. No decurso deste ensino clínico constatamos que existiam determinadas condicionantes à adesão dos utentes às consultas na USF. O medo de entrar nas instalações de saúde, a dificuldade na comunicação (devido ao uso de máscara), impossibilidade de acompanhamento de familiares nas consultas (salvo exceções), o medo do contacto físico com os profissionais de saúde, entre outros. Foi efetuado um grande esforço / sensibilização dos utentes de forma a acabar com estas condicionantes. Muitos dos utentes perceberam rapidamente que a consulta é segura visto que é realizada num ambiente controlado e seguro. O ensino clínico na USF Além D’Ouro permitiu-nos ver a importância dos enfermeiros/equipa de saúde na prestação de cuidados, nomeadamente, na comunicação e relação empática com o utente/família e seus consequentes ganhos em saúde. Atualmente a comunicação sofreu algumas mudanças. As máscaras e o distanciamento conduziram ao aperfeiçoamento da interpretação das mensagens silenciosas que os utentes traziam no olhar e na sua postura contribuindo desta forma para a criação de uma relação interpessoal construtiva com vista ao atingimento da prática do cuidar.

Ana Luísa Castro Cunha – Enfermeira Especialista de Saúde Materna e Obstetrícia na USF Além D’Ouro Catarina Ferreira Lamas – Enfermeira do 3º ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Saúde Jean Piaget: Ensino Clínico em Saúde Materna e Obstetrícia Elsa Cristina Oliveira Mota – Enfermeira do 3º ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Saúde Jean Piaget: Ensino Clínico em Saúde Materna e Obstetrícia Maria de Fátima Cunha e Costa – Enfermeira Especialista de Saúde Materna e Obstetrícia na USF Além D’Ouro

O estágio de Saúde Materna e Obstétrica na USF Além D’Ouro permitiunos um contacto direto no acompanhamento/vigilância da grávida em contexto pandémico. A gravidez é um período muito especial e delicado na vida de uma mulher, mas para as grávidas durante este período de pandemia, a ansiedade, o medo e a incerteza ficam ampliados e, por vezes, condicionam um momento naturalmente feliz. | 14


Muitas grávidas têm receio de vir às consultas durante o período de isolamento e distanciamento. Foi nosso papel também acompanhar e desmistificar algumas questões relacionadas com esta temática. Há gravidezes mais ou menos tranquilas e há aquelas mais complicadas e que necessitam de um maior apoio e atenção. Na fase final da gravidez a ansiedade aumenta e a expectativa é muita, imaginando o parto e o recém-nascido e se tudo irá correr bem. O nascimento de um filho é um momento único e como tal deve ser recordado pelos melhores motivos. Assim, durante este ensino clínico procuramos sempre transmitir confiança à grávida e oferecer-lhe segurança, conforto, bem-estar, de forma a tornar este momento memorável. Também pudemos constatar que a consulta de saúde visa também minimizar os desafios que advêm da pandemia de Covid-19 e as suas implicações para o bem-estar das grávidas: alteração de rotinas e incertezas relativamente ao presente e ao futuro. Considerando a situação excecional que se vive no momento atual face à pandemia, é importante realçar o trabalho diário dos profissionais de saúde a par da sua capacidade de acolhimento/integração de alunos em contexto de formação.

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Ficha Técnica A Newsletter do ACES Espinho/Gaia pretende ser uma nova ferramenta de comunicação interna e externa do ACES, que pretende partilhar e divulgar os projetos e atividades realizadas nas várias unidades funcionais.

Submissão de artigos para a próxima edição: A próxima edição da Newsletter terá como tema central as Saúde da Mulher, não sendo, no entanto, excluídos artigos de outro âmbito. Todos os interessados deverão enviar os seus artigos (documento Word) para o e-mail scasantos@arsnorte.min-saude.pt até ao dia 27 de novembro, de acordo com a seguinte estrutura: 1. Título 2. Nome do(s) autor(es) da notícia, local de trabalho e contacto de e-mail; 3. Fotografia; 4. Texto, com máximo de 350 palavras.

Contamos com a vossa colaboração! Grupo de trabalho para Newsletter ACES Espinho/Gaia: • Ana Cecília Chaves, USP

• Carina Castro Silva, USP • Marta Guedes, ECSCP-EG • Maria João Paiva Teles, USF Boa Nova • Dália Santos, ECSCP- EG • Sandra Santos, CCS • Diogo Silva, USP Em caso de dúvida ou necessidade de contacto:

scasantos@arsnorte.min-saude.pt

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